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Fonte: BAGHERI, Shahrokh et al. Terapias atuais em cirurgia bucomaxilofacial. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. OBS: FMM= FIXAÇÃO MAXILOMANDIBULAR Podem ocorrer como resultado de um trauma de alta ou baixa intensidade. Há casos em que o trauma pode não ser percebido pelo paciente como quando há presença de atrofia pronunciada da mandíbula secundária a perda dentaria ou patologia intraóssea (por exemplo cistos e tumores). A avaliação e o manejo do paciente devem sempre ser realizada dentro do contexto dos princípios do suporte avançado de vida no trauma (ATLS). Quando a mandíbula é fraturada, os músculos que agem nela são capazes de deslocar os fragmentos num plano horizontal e/ou vertical. Qualquer sensação alterada na função do nervo alveolar inferior deve ser notada no momento do exame inicial. A oclusão dos dentes inferiores com os superiores deve ser usada como guia para reduzir as fraturas. Além disso, os dentes podem ser usados como fonte de fixação. Na mandíbula do paciente pediátrico, a presença de dentes não erupcionados pode limitar a colocação da fixação rígida e os dentes não erupcionados podem agir como áreas de fragilidade predispostas a fratura. Isso é particularmente observado com os terceiros molares não erupcionados. Assim, com a perda dentária, pode ocorrer atrofia do processo alveolar. Caso seja extrema, pode inclusive reduzir drasticamente o volume ósseo da mandíbula tornando-a suscetível a fratura com mínimo trauma e difícil de aplicar a fixação. A posição dos ramos do nervo facial deve ser avaliada, caso seja considerada uma abordagem transcutânea para reparo. A realização do exame clínico é a base do diagnóstico. Assim, o paciente deverá ser avaliado quanto a presença de desarranjo oclusal, sensação alterada da função do nervo alveolar inferior e degraus na dentição. Quanto ao exame radiográfico, a tomografia computadorizada é o padrão ouro, entretanto pode ser visualizada nas radiografias panorâmicas, posteriores (PA) e as radiografias de Towne reversa pode auxiliar no diagnóstico de lesões condilares. FRATURAS MANDIBULARES ETIOPATOGÊNESE ANATOMIA PATOLÓGICA DIAGNÓSTICO Além disso, a lesão na coluna cervical pode estar associada, dessa forma radiografias da coluna cervical devem ser considerada nos pacientes com história de alteração da consciência ou traumas confusos. 1. Restauração da oclusão pré-lesão 2. Retorno precoce a função 3. Estética aceitável Redução das fraturas pode ser aberta ou fechada. Na redução fechada, a oclusão é utilizada como guia direto para adequação da redução. A fixação geralmente é necessária e pode ser EXTERNA (barras em arco com FMM, Arco de Risdon com FMM, Anéis de Ivy, ligaduras de Ernst com FMM e fixador externo) ou INTERNA (semirrigida: Miniplacas, parafusos compressivos e parafusos posicionais bicorticais; rígida: Placa de reconstrução com parafusos bicorticais e placas de reconstrução de travamento com parafusos bicorticais). OBS: Ponto importante na fixação interna: OSTEOSSÍNTESE DE CARGA COMPARTILHADA (LOAD- SHARING) VERSUS CARGA SUPORTADA (LOAD-BEARING) - Na osteossíntese de compartilhamento de carga, a adaptação interfragmentária das extremidades da fratura permite alguma justaposição da carga funcional através da fratura, e a fixação semirrigida apropriadamente colocada resistirá ao movimento por meio da fratura e permitirá que a cicatrização óssea ocorra. Na osteossintese de carga suportada, há pouca ou até mesmo nenhuma justaposição possível por meio da fratura, e o dispositivo de fixação deve fornecer fixação suficientemente rígida das extremidades da fratura para prevenir o movimento e fornecer um meio adequado para que a cicatrização na fratura ocorra. Essa situação surge nas fraturas cominutivas, infectadas, patológicas, defeituosas ou da mandíbula edêntula atrófica. A falha em reconhecer a necessidade da osteossintese de carga suportada é uma causa comum de insucesso do tratamento. As placas de carga suportada utilizam parafusos bicorticais para assegurar fixação máxima. Idealmente, 3 parafusos devem ou não ser de travamento. As placas de travamento possuem rosca que travam os parafusos da placa e fornecem estabilidade adicional. O travamento da placa significa que um contorno menos perfeito da placa não resulta em deslocamento das extremidades da fratura conforme os parafusos são apertados. Os parafusos devem, contudo, ser colocados paralelos as roscas para que eles possam travar. A maioria dessas fraturas precisam de anestesia geral, logo a intubação nasal é a via de escolha. Caso ela não seja possível, pode realizar intubação submentual ou traqueostomia. Além disso, pode ser possível encontrar um espaço atras do último dente para um tubo oral aramado ser colocado e preso aos dentes superiores e permitir que os dentes sejam colocados em oclusão. OBJETIVOS DO TRATAMENTO/RECONSTRUÇÃO TRATAMENRO ESPECÍFICO E TECNICAS Técnicas: AS FRATURAS PARASSINFISÁRIA SIMPLES podem ser tratadas de modo fechado com 4-6 semanas de FMM ou com placas monocorticais e parafusos colocados ao longo das linhas de osteossintese ideal descritas por Champy. As duas placas são usadas para resistir as forças de torção, porem se uma barra em arco for colocada, ela pode agir como uma banda de tensão e o parafuso superior é omitido. Uma fixação rígida maior de tais fraturas é necessária se houver uma segunda fratura, como fratura condilar ou do ângulo, pois a fixação monocortical não é rígida suficiente para evitar o deslocamento da cortical lingual da fratura devido a tração muscular que pode levar ao alargamento mandibular. Caso A FRATURA OCORRA PRÓXIMO A LINHA MÉDIA, o uso da técnica do parafuso compressivo pode fornecer ótima fixação. A compressão por meio da fratura fornecida pelos parafusos evita efetivamente o alargamento mandibular. A exposição transoral adequada é necessária para a colocação de parafusos compressivos ou placas de reconstrução, pois é preciso ver a borda inferior da mandibular. Pode ser preciso dissecar o nervo mentual para que se retraia adequadamente e coloque a fixação. A maioria das fraturas parassinfisária não cominutivas pode ser abordada transoralmente. A incisão realizada deve possibilitar um retalho muscular mucoso que permita o fechamento hermético com ressuspensão do músculo mentual. Se houver dificuldade em restaurar a oclusão e reduzir a fratura deve ser considerado a presença de fratura dentoalveolar oculta na região incisal, pois é ocasional de não redução. As FRATURAS DE CORPO MANDIBULAR podem ser tratadas de modo aberto ou fechado. As não cominutivas podem ser abordadas transoralmente. Se for planejada fixação semirrigida, as placas de carga são usadas, uma única placa como banda de tensão pode ser colocada ao longo da linha de osteossíntese ideal. Cuidado para assegurar que quando os parafusos forem colocados, eles não lesionem as raízes dos dentes ou o canal alveolar inferior. A broca deve ter um obstáculo (stop) de 6-8mm para limitar a profundidade da perfuração. Caso seja necessária uma placa de suporte de carga, ela pode ser colocada transoralmente abaixo do nível do canal alveolar inferior, porém um trocarte transbucal é necessário para impedir que os parafusos bicorticais sejam colocados perpendicularmente ao orifício do parafuso. FRATURAS OBLÍQUAS DO CORPO pode ser adequada para fixação com parafusos compressivos usando um trocarte transbucal. FRATURAS DO ÂNGULO DA MANDIBULA são raramente adequadas para tratamento usando a redução fechada com FMM, a não ser que elas não sejam deslocadas ou justapostas pelo dente siso não erupcionado. As fraturas SIMPLES do ângulo podem ser abordadas e ficadas transoralmente, colocando uma placa na borda superior de modo monocortical como uma banda de tensão. Caso a placa seja colocada na face lateral da borda superior, osparafusos geralmente necessitaram ser colocados utilizando um trocarte transbucal. Usualmente são usados uma placa e parafusos de 2mm, porem o estudo de ELLIS mostrou um melhor resultado usando placas menores. Quanto ao manejo do siso é controverso, independente da extração ao não do dente a taxa de subsequente remoção da placa é de 20%. OBS: Usualmente o dente ajuda justapor a fratura, e a remoção do dente pode dar origem a uma fratura defeituosa. A remoção do osso para retirar o dente pode gerar um problema e reduzir a disponibilidade de osso para a colocação de parafuso. ABORDAGEM PARA O DENTE SISO NA LINHA DE FRATURA: considerar extrai-lo se ele tiver infectado, fraturado, impedindo a redução da fratura e fácil de extrair sem nenhuma remoção óssea adicional. Se não tiver na linha de fratura deve-se reter o dente siso informando o paciente que a remoção do dente e do material de fixação será retirado como procedimento secundário, após a cicatrização do ocorrido. Caso seja usada uma abordagem transbucal, o dente siso deve ser avaliado para certificar que ele não irá traumatizar o retalho mucoso mandibular. Caso seja provável o trauma, deve ser considerado a extração do dente como prevenção. A colocação dos parafusos proximais primeiros permite que a placa seja usada como JOYSTICK para manipular o fragmento proximal para a posição ideal. O masseter deve ser retraído apenas o suficiente para permitir a redução e possibilitar a colocação da fixação. A ruptura excessiva da alça pterigomassatérica reduz a compressão na borda inferior e pode permitir abertura excessiva da borda inferior. OBS: Uma pequena quantidade de abertura na borda inferior na imagem pós-operatória é para ser esperada e ela fechará durante o período da cicatrização, conforme a alça pterigomassetérica gerar área de compressão na borda inferior. Qualquer cominuição das fraturas das fraturas no ângulo impedirá o manejo bem-sucesso usando fixação semirrigida, e a fixação rígida com suporte de carga será necessária. Isso ocorre por conta da área relativamente pequena de contato ósseo disponível na região do ângulo, tal cominuição deve ser cuidadosamente observada na imagem pré e transoperatória. A possível necessidade para conversão para a abordagem transcutânea deve ser explicada ao paciente no pré-operatório. FRATURAS EM CRIANÇAS: Podem ser tratadas com curtos período de FMM, por volta de 2-3 semanas. Devido a sua coroa clínica curta dos dentes decíduos ou até mesmo ausente e parcialmente erupcionados, a colocação de barras ou anéis de Ivy torna-se difícil. Nesses casos a aplicação de arcos de Risdon pode ser útil. As fraturas sagitais podem ser reduzidas e mantidas em posição com os fios circum-mandibulares. A redução perfeita não é necessária, pois ocorrem crescimento e remodelação consideráveis, e isso corrigirá irregularidades oclusais mínimas. Caso seja necessário a fixação rígida, a remoção do material de fixação deve ser planejada após 3-6 meses quando tiver ocorrido a cicatrização, pois o crescimento aposicional do osso pode fazer com que a placa fique embutida no osso. Embora o efeito disso no crescimento mandibular seja debatido, tais placas embutidas podem tornar mais complicados procedimentos subsequentes, como a cirurgia ortognática. Como prevenção da necessidade de remoção da placa, alguns cirurgiões optam por fixação com placa e parafuso reabsorvível. As placas podem ser difíceis de modelar e fornecem somente fixação semirrigida (compartilhamento de carga). OBS: Independe do método de tratamento para crianças, o controle pós-operatorio a longo prazo é essencial para checar quaisquer distúrbios do crescimento. FRATURAS DA MANDÍBULA EDENTULA ATRÓFICA: São melhor abordadas em acesso transcutâneo para permitir a colocação de fixação rígida com placa de reconstrução grande e travamento. Tal fixação rígida é necessária para superar a ação dos depressores supra-hioides da mandíbula, os quais podem gerar deslocamento significativo. A fixação adequada para fratura de mandíbula atrófica necessita de ampla exposição, de modo que as regiões de sínfise e do ângulo, locais de suporte ósseo, sejam capazes de acomodar parafusos bicorticais sem fragmentação. Deve-se pensar em realizar enxerto ósseo primário das fraturas atróficas no momento da fixação rígida, pois isso fornece fonte de células osteoprogenitoras e melhora o volume ósseo para a restauração secundária com implantes. Outras técnicas como a aplicação de fixação externa, FMM usando goteiras ou dentaduras modificadas, foram usadas, mas o tratamento pode terminar sendo muito prolongado e não previsível. Em idosos, a FMM pode reduzir a reserva respiratória e levar a morbidade excessiva ou até a morte. Na mandíbula não cominutiva e não atrófica, >20mm de espessura, a fixação semirrigida colocada trasnoralmente pode ser considerada. FRATURAS COMINUTIVAS precisam de osteossintese de suporte de carga, geralmente por meio de uma abordagem transcutânea. A FMM foi previamente usada como única modalidade de tratamento, mas na pratica contemporânea o principal uso da FMM nas fraturas cominutivas é a manutenção da relação oclusal enquanto a fixação rígida é aplicada. Tendo exposto as fraturas e restabelecido a oclusão, ela pode ser útil para simplificar as fraturas, fixando pelo menos alguns dos fragmentos cominuídos com miniplacas e então abrangendo a área da cominuição com placa de reconstrução. Deve ser observado que as miniplacas estão sendo usadas para auxiliar na redução das fraturas e não estão contribuindo para a fixação. Em circunstâncias selecionadas, a fixação externa pode ser usada para o manejo das fraturas cominutivas. FRATURAS COM PERDA DE SUBSTÂNCIA: precisam de fixação rígida, sendo a restituição do osso perdido quase sempre necessária, pois mesmo as placas de reconstrução rígida, elas podem ser fraturadas com a função prolongada. O osso perdido pode ser substituído com enxertos osseos ou retalhos ósseos ou retalhos ósseos, dependendo do tamanho do defeito e da qualidade do envelope de tecido mole. Se for usado enxertos corticais em bloco ou retalhos osseos, estes devem ser fixados rigidamente para permitir a consolidação ao longo da interface com a mandíbula nativa. A fixação adequada é essencial e o objetivo deve ser a colocação de no mínimo 3 parafusos bicorticais em cada lado da fratura. Fixadores externos podem ser usados para estabilização da fratura e prevenção da contração do tecido mole no paciente instável, mas no reparo definitivo com substituição óssea será finalmente necessário. A cobertura adequada de tecido mole dos enxertos ósseos é essencial e pode ser necessário utilizar retalho de tecido mole. FRATURAS INFECTADAS: Geralmente é o resultado de atrasos no tratamento ou de fixação inadequada, além disso fatores próprios do individuo está relacionado como diabetes descontrolada e desnutrição. Na maioria dos casos a infecção secundária na área de osteíte é recorrente da mobilidade da fratura com as extremidades/fragmentos ósseos agindo como corpo estranho. A osteomielite verdadeira na área da fratura é muito rara. Tendo excluído osteomielite e otimizando o paciente, a fratura infectada é mais bem manejada através da fixação interna rígida e sustentada com antibióticos trans e pós-operatório. A remoção do osso infectado e não vital pode dar origem a fratura defeituosa, logo o enxerto ósseo primário de tais defeitos mostra-se bem-sucedido. CUIDADOS POS OPERATORIO Se a FMM for mantida no final do procedimento, o profissional deve estar atento à sua localização e como removê-la, caso o paciente apresente nausea/vômito significativo ou comprometimento da via aérea. Independentemente da forma de fixação utilizada, os pacientes devem ser lembrados de manter dieta líquido-pastosa por diversas semanas conforme a fratura cicatriza e ganha força. Deve ser mantidahigiene oral excelente para per a cicatrização das feridas sem intercorrências e evitar a cicatrização por segunda intenção. Embora isso possa ser realizado com medidas mecânicas simples, como escovação dentária, o uso de enxaguatório bucal como o gliconato de clorexidina é comumente prescrito para reduzir a quantidade de placa até que os pacientes estejam confortáveis para reassumir as medidas adequadas de higiene oral. Embora rotineiramente usado por muitos cirurgiões, a base de evidências para o uso de antibiótico no pós-operatório é escassa. DICAS E ARMADILHAS • Se a FMM for necessária somente para possibilitar a aplicação da fixação interna e a oclusão for óbvia, com bons contatos entre os dentes adjacentes, a oclusão pode ser mantida rapidamente e com segurança com fios interdentais colocados entre os contatos dos dentes inferiores adjacentes de vestibular para lingual e de palatino para vestibular entre os dentes superiores adjacentes (• Se for planejado o tratamento conservador da fratura, é necessário controle cuidadoso, pois o deslocamento pode ocorrer 7-10 dias após a lesão e a osteólise pós-inflamatória pode levar à perda da adaptação interfragmentária e de movimento mesmo durante a função mínima. Uma dieta líquido-pastosa deve ser estritamente seguida para evitar o insucesso do tratamento. • Se houver fraturas simples múltiplas, deve-se considerar colocar mais fixação rígida em uma das fraturas, tipicamente a fratura mais anterior porque pode ocorrer alargamento da mandíbula devido à maior concentração de forças de torsão da mandíbula durante a função na região anterior. Isso pode ocorrer mesmo se a FMM estiver no lugar, e leva a um cenário em que a oclu são parece satisfatória, mas a mandíbula parece alargada ou edemaciada. • Ao tratar fraturas múltiplas, as fraturas na região com suporte dentário devem ser reparadas primeiro para permitir a restauração da função (de modo normal) do arco mandibular e da relação oclusal.