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Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 1 PROBLEMA 02 – A TEORIA NA PRÁTICA É OUTRA 1. Estudar a produção do leite, mecanismo da lactação, hormônios envolvidos, fatores que estimulam e inibem. Para iniciar a discussão sobre o aleitamento materno é preciso compreendermos como inicia seu desenvolvimento e maturação das glândulas mamárias para que o processo de produção de leite ocorra de forma normal. O crescimento dos seios, bem como as glândulas mamárias ocorre a partir do desenvolvimento feminino iniciado na puberdade com ação do estrógeno. Nesse período, esse hormônio permite o aumento da deposição de gordura, responsável por dar “massa” nas mamas, bem como o desenvolvimento dos alvéolos e ductos responsáveis na produção e ejeção do leite. Durante a gravidez o níveis de estrógenos estão aumentados o que permite a maturação e desenvolvimento da parte glandular das mamas. Sendo assim, o sistema de ductos das mamas cresce e se ramifica, ganhando massa com a deposição de gorduras. Nesse mesmo processo além da participação do estrógeno outros hormônios atuam como o hormônio do crescimento, prolactina, glicocorticoide adrenal e insulina. Todos os hormônios atuam no metabolismo de proteínas, aumentando sua disponibilidade para que possa haver o desenvolvimento das mamas. Um outro hormônio não menos importante é a progesterona que atua no desenvolvimento dos ductos na sua parte final. A progesterona atua juntamente com o estrógeno nesse processo. Quando nos referimos a lactação o primeiro hormônio que vem em mente é a prolactina, isso por que seu papel é bastante importante para esse mecanismo. Cabe salientar, que a prolactina sofre um feedback negativo em relação aos níveis de estrógeno e progesterona, mesmo esses hormônios sendo fundamentais no desenvolvimento e maturação da parte glandular mamária. A prolactina é secretada pela hipófise anterior materna e sua concentração no sangue aumenta desde da quinta mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 2 semana de gestação. Além disso, a placenta secreta um grande quantidade de somatomamotropina coriônica humana que apresenta atividade lactogênica, auxiliando o papel da prolactina. Cabe destacar que mesmo na presença da inibição exercida pelo estrógeno e progesterona poucos mililitros de líquido são secretados por dia até após o nascimento do bebê. Sendo assim, o primeiro leite que é excretado nas primeiras amamentações é denominado de colostro, ele apresenta pouco teor de gordura e uma boa concentração de proteínas e lactose. Logo após o nascimento do recém-nascido a secreção de estrógeno e progesterona apresentam uma queda subida, permitido os efeitos lactogênicos da prolactina. É importante ressaltar o papel dos demais hormônios citados acima, pois eles irão fornecer aminoácidos, ácidos graxos, glicose e cálcio, ingredientes fundamentais para síntese de leite. Outro fator importante que acontece após o nascimento do bebê é que os níveis de prolactina retorna aos níveis não gravídicos, sendo que a sua secreção e aumento na concentração sanguínea estarão relacionados com os estímulos neurais desencadeados pela sucção nos mamilos, fazendo com que sejam enviados sianis para o hipotálamo a fim de aumentar a secreção de leite. Dessa forma, a prolactina age nas glândulas mamárias secretando leita nos alvéolos. Se o pico de prolactina estiver ausente em decorrência de algum bloqueio que houve no hipotálamo ou hipófise, se a amamentação não prosseguir de forma regular a mãe pode apresentar a perda da capacidade de produzir leite. O controle da secreção da prolactina ocorre através do hipotálamo. Normalmente o hipotálamo secreta precursores que estimulam a liberação e secreção de uma grande gama de hormônios. No caso da prolactina o hipotálamo age de forma corntrária secretando o que se denomina de hormônio inibidor de prolactina. Esse fator de inibição como o próprio nome já diz, reduz a capacidade de secretar a prolactina que é fundamental para a síntese de leite. O leite secretado de forma contínua nos alvéolos não flui facilmente deles para os ductos, mesmo quando submetidos à sucção. O processo de decida inicial do leite é algo puramente hormonal, sendo a ocitocina o principal hormônio que comanda esse processo. Mesmo com a sucção no recém-nascido é preciso que esse leite já secretado nos alvéolos seja ejetado para os ductos, assim, completando o circuito da amamentação. A secreção desse hormônio incialmente depende da secreção desse hormônio na hipófise anterior, sendo que seu local de atuação é nas células mioepiteliais da glândula mamária, favorecendo a contração e ejeção de leite. Esse processo de descida ocorre naturalmente, mesmo em mães que não estão amamentado, período mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 3 de 3 a 4 dias após o parto. Após esse período a estimulação realizada pelo ato de sucção realizado pelo recém-nascido vai estimular de forma neuroendócrina todo esse mecanismo. Sendo assim, esse reflexo pode ser bloqueado pelo estresse, baixo estima medo e falta de apoio sentido pela mãe. A adrenalina comanda essa inibição do eixo hipotálamo-hipofisário. Uma observação importante é que a ocitocina produz um efeito importante na contração da musculatura lisa (Reflexo de Fergusson), sendo que o estímulo ao aleitamento materno na sala de parto diminui a incidência de hemorragias no pós-parto (fator importante para indicação desse processo). Composição do leite materno A composição do leite humano é perfeita para assegurar o crescimento e desenvolvimento adequado do recém-nascido, visto que esse pequeno ainda apresenta um trato gastrointestinal e sistema renal imaturo não devendo ser exposto a certo tipos de metabólitos. O leite humano apresenta um concentração de lactose maior, menor concentração de proteína, cálcio e outros minerais em relação a quantidade presente no leite de vaca. No auge da lactação uma mulher produz cerca de 1,5 litro de leite por dia, sendo que esse número pode ser até maior a depender da gemelaridade. O alto teor de lactose ou outros componentes, como a gordura, demanda uma alta quantidade de energia da mãe, sendo que em calorias pode variar de 650 a750 quilocalorias por litro de leite. A destinação de vários minerais, como cálcio e fosfato, na composição do leite pode alterar os depósitos naturais desses eletrólitos. Em específico do cálcio há uma ação das glândulas paratireoides para aumentar progressivamente descalcificação dos ossos. mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 4 Cabe salientar que o leite materno não apresenta apenas a função de nutrição, ele é fundamental para fomentar a proteção do recém-nascido. Isso por meio da passagem de anticorpos e agente anti-infecciosos (neutrófilos e macrófagos) a fim de assegurar a imunidade do bebê até o mesmo apresentar a capacidade de se proteger. Um ponto importante de ser comentado é o fato de uma boa alimentação para as mãe durante o período de lactente, sendo que essa alimentação será indispensável paraque ela possa produzir de forma adequado a demanda de leite. 2. Compreender as orientações dietéticas e suplementares até os 3 anos de idade. Na faixa etária pediátrica a alimentação saudável deve possibilitar crescimento e desenvolvimento adequados, otimizando o funcionamento do órgãos, sistemas e aparelhos e atuando na prevenção de doenças em curto e longo prazo. É importante salientar que essa faixa etária apresenta uma característica especial conhecida como janela de oportunidades que permite a inserção de hábitos alimentares e estilo de vida saudável que causar repercussões até a fase adulta. Sendo assim, é importante se atentar quanto a alimentação. As alimentações nesses primeiros meses de vida são importantes, devido a imaturidade dos sistemas e aparelhos orgânicos o que demanda uma importante atenção quanto as orientações nutricionais fornecidas pelos profissionais de saúde. Estudos recentes vêm apontando os efeitos em longo prazo da alimentação nesse período, podendo ser benéficas ou maléficas. Um importante exemplo dessas manifestações em longo prazo é a relação entre alimentação no primeiro ano de vida e o desenvolvimento de obesidade. O aleitamento materno tem efeito protetor e dose- dependente na redução do risco de obesidade até a idade adulta. O aleitamento é a mais sábia estratégia natural de vínculo, afeto, proteção e nutrição para a criança, sendo importante intervenção natural para redução da morbimortalidade infantil. Os dados brasileiros acerca da alimentação são ruins: 12,7% das crianças de 6 a 59 memes consomem verduras de folhas; 21,8% consomem legumes e 44,6% consomem frutas diariamente. Por outro lado, 40,5% consome refrigerantes; 39,4% consomem mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 5 salgadinhos; 37,8% doces. E ainda pior 33,5% das crianças entre 5 e 9 anos atingem o excesso de peso para sua idade. No Brasil em 1999 foi criada a pirâmide alimentar brasileira por pesquisadores do departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. O seu objetivo era reunir conhecimentos científicos sobre ingestão alimentar em um instrumento que facilitasse a seleção e o consumo de todos os grupos de alimentos indispensáveis para uma alimentação saudável. Em 2013 essa pirâmide passou por uma melhor adaptação visto a alteração dos hábitos alimentares da população brasileira, instituindo um valor energético diário de 2000 kcal, dieta com seis porções diárias, incentivo à atividade física e inclusão de alimentos integrais, micronutrientes e óleos essenciais. Alimentação do lactente Aleitamento materno Como já foi dito acima amamentar é muito mais do que apenas nutrir uma criança é um processo complexo que envolve interação profunda entre a mãe e o filho que perpassa sobre o estado nutricional e emocional da criança. O leite humano, por sua complexidade biológica, é considerado uma fonte nutritiva essencial, além de exercer papel importante na proteção do recém-nascido e prevenção sobre doenças adultas em longo prazo. Tanto a Sociedade Brasileira de Pediatria, como o Ministério da Saúde recomendam o aleitamento materno por 2 anos ou mais, sendo de caráter exclusivo durante os primeiros 6 meses. Não há vantagens sobre o fato de iniciar a alimentação antes dos 6 meses, pelo contrário, essa atitude acarreta mais prejuízos do que benefícios à saúde do recém-nascido. O início do aleitamento deve ser algo natural, sob regime de demanda, sem a existência de horários pré-fixados, levando em consideração o estado de saúde da mãe, bem como do recém-nascido. Nos primeiros dias as mamas produzem o primeiro leite, denominado de colostro, o qual é rico em proteínas, minerais, fatores de crescimento e imunológicos. Durante as 2 primeiras semanas o colostro vem dando espaço para o leite maduro o qual é responsável por suprir todas as necessidades nutritivas do lactente até o 6° mês de vida. Alimentação complementar A partir dos 6 meses de idade é recomentado a inserção de alimentos complementares, visto que o aleitamento materno a partir desse tempo não é capaz de suprir sozinho todas as necessidades do bebê. Sendo assim, a proposta da inserção de uma alimentação complementar visa promover quantidade suficiente de água, energia, macro e micronutrientes, por meio de alimentos seguros, culturalmente aceitos e economicamente acessíveis. É importante salientar que esse momento inicial na introdução de alimentos é considerado de elevado risco para a criança pois a oferta de mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 6 alimentos desaconselháveis, manipulação e preparo inadequado favorece o aparecimento de doenças diarreicas, desnutrição e deficiência de micronutrientes. As crianças menores que 6 meses que receberam com exclusividade o leite materno começam a desenvolver a capacidade de autocontrole da ingestão muito cedo. Essa capacidade permite à criança assumir autocontrole sobre o volume de alimento que consome e os intervalos entre as refeições, segundo as suas necessidades. Posteriormente, esse autocontrole sofrerá influência de outros fatores, como cultural e social. A presença desse autocontrole permite que as introduções de alimentos não necessitem de esquema rígidos de alimentação como horários e quantidades fixadas. A papa principal (mistura múltipla) deve ser oferecida após a criança completar 6 meses nos horários referentes ao almoço ou a janta. Essa refeição deve conter cerais, tubérculos, leguminosas, carnes e hortaliças. Cabe ressaltar que não se deve adicionar sal aos alimentos. A papa deve ser amassada com o garfo ficando com a consistência de purê, não devendo ser nunca liquidificado ou peneirado. A introdução do papa é algo bastante difícil, pois normalmente as crianças reagem negativamente quando expostas a um alimento desconhecidos. Estudos mostram que necessitam de 8 a 10 exposições para que o alimento seja reconhecido e aceito pela criança. Nesse período é fundamental a participação de profissional de saúde a fim de tranquilizar os pais. A orientação é fundamental, pois estudos mostram que o Brasil sofre com a presença de carência por micronutrientes, sobretudo o ferro. Não devemos esquecer que o fornecimento de água potável é importante nesse período, bem como uma boa higiene dos utensílios, alimentos e da própria criança. A ingestão de sucos deve ser evitada, devido eles serem bastante calóricos e não proporcionarem o consumo de fibras presentes nas frutas. A frequência dessa alimentação deve ser de 2-3 refeições por dia dos 6-8 meses e 3-4 refeições por dia dos 9-24 meses. Após os 12 meses é recomendado a adição de lanches, sendo que a frequência das mamadas podem ser mantidas durante esse período. Alimentação para crianças não amamentadas Como já estamos discutindo ao longo desse problema durante os dois primeiros anos a alimentação adequada para o bebê é de fundamental importância para assegurar um bom crescimento e desenvolvimento. Sendo assim, é imprescindível que o profissional de saúde reflita sobre as questões socioeconômicas da família, pois a substituição do aleitamento materno por outro acarreta enormes riscos à saúde da criança. Dessa forma, o papel do profissional de saúde é importante para auxiliar nessa transição, lembrando que essa orientação deve ser de forma individualizada, analisando cada caso, pois além dos fatores econômicos da família é importante avaliar a condição de saúde do bebêe da mãe. Sabemos da existência dos Bancos de Leite Humanos que utilizam leite processado para ser destinado a crianças de risco internadas em Unidade de Terapia Intensiva. mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 7 Cabe ressaltar, que as mães HIV positivas podem receber fórmulas infantis para a alimentação o de seus filhos! Uma alternativa encontrada pelas famílias é a utilização de leite de vaca para as crianças que não são amamentadas. Como já foi dito o leite de vaca é muito diferente do leite humano quanto a quantidade e qualidade dos nutrientes. A Sociedade Brasileira de Pediatria não recomenda seu uso em crianças menores que 1 ano. Além de não ser nutricional mente adequado o leite de vaca é muito alergênico para crianças, pois seu consumo está muito associado com o desenvolvimento de atopia. Dessa forma, na impossibilidade de aleitamento materno, o leite de vaca não é recomendado para crianças pequenas e a fórmula infantil está economicamente distante da realidade econômica da maioria das famílias brasileiras. Nessa perspectiva o leite de vaca torna-se o único alimento disponível em alguns casos, sendo necessário a orientação correta para as mães inserir esse alimento na dieta do recém-nascido. Para tanto, os papéis dos profissionais de saúde são importantes para assegurar essa orientação, pois o preparo adequado com diluição e correção para alguns nutrientes que estão ausentes como ácido graxo (linoeico), vitamina C e ferro. A complementação do uso de leite de vaca deve ser realizada mais precocemente, sendo que deve iniciar após os 4 meses, devido as necessidades diárias desse bebê. Essas recomendações precisam ser adaptadas a cada caso e a cada criança, sendo que a introdução deve respeitar a aceitação da criança. Mesmo após a introdução de uma alimentação complementar o leite ainda é uma fonte importante de vitaminas e minerais. Fórmulas infantis Além da utilização de leite de vaca uma alternativa mais indicada é a utilização de fórmulasinfatis para lactentes que estão impossibilitados de receberem o aleitamento materno. Apesar dessas fórmulas serem elaboradas a base de leite de vaca, elas seguem as orientações quanto a quantidade de carboidrato, proteínas e vitaminas. Por outro lado, os fatores anti-infecciosos e bioativos encontrados no leite materno não são disponibilizados nas fórmulas infantis. A fórmula infantil deve ser preparada cuidadosamente seguindo as orientações presentes nos rótulos quanto as quantidades adequadas para o peso e idade da criança. Os profissionais de saúde deve orientar as mãe e cuidadores quanto à importância de seguir essas recomendações. A complementação alimentar de crianças que estão fazendo o uso de fórmulas infantis deve seguir a mesma lógica das crianças ques tão sendo amamentadas. mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 8 Alergias e intolerâncias alimentares Como foi dito acima a introdução de leite de vaca de forma precoce pode permitir o desenvolvimento de reações adversas causadas por mecanismos imunológicos (alergia) ou não imunológicos. A hipersensibilidade é causada por uma resposta imune anormal que é mediada por algumas imunoglobulinas. Normalmente, as reações alérgicas que surgem de forma precoce são derivadas da ingestão de leite de vaca. O seu diagnóstico é difícil e muitas das vezes é confundido como intolerância alimentar. Alimentação complementar (Segundo ano) As taxas de crescimento diminuem após o 1º ano, sendo que esse período pode ser marcado por uma falta de interesse da criança por determinados alimentos. Sendo assim, é importante que os pais sejam orientados quanto a essa fase, sendo fundamental evitar alimentação forçada. A atitude esperada pelos pais é tentar induzir a alimentação através de várias tentativas, somente depois disso os pais devem assumir a negação sobre aquele componente dietético. A alimentação balanceada e isenta de consumos prejudiciais é de suma importante nessa fase, pois é nela em que os hábitos e padrões alimentares são definidos. Nesse período é recomendado que a criança receba 3 refeições principais e 2 lanches. Os alimentos sólidos podem ser oferecidos no prato, com colher pequena. É importante que a criança manuseie os alimentos nessa fase. Os líquidos devem ser ofertados em copos ou xícaras de preferência de plástico para evitar que sejam quebrados. O treinamento para uso desses utensílios envolve o estimo à coordenação e à destreza, sendo importante para o desenvolvimento neuropsicomotor. mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 9 Em alguns casos é necessária a suplementação de algumas vitaminas. Por exemplo o ferro de uso profilático deve ocorrer para todos os lactentes a partir da interrupção do aleitamento materno exclusivo até 24 meses; a suplementação de vitamina K ocorre após o nascimento por via intramuscular ou oral; a suplementação de vitamina D profilática deve ocorrer a partir da primeira semana de vida até 12 meses. 3. Estudar as causas, sintomas, tratamento, prevenção e consequências da desnutrição. Desnutrição Energético-Proteica A desnutrição é um distúrbio da nutrição decorrente da falta concomitante de calorias e de proteínas em diferentes proporções. Ela se manifesta de duas formas: (1) decorrente de fatores ambientais, tais como carência alimentar (micro e macronutrientes), falta de acesso a condições sanitárias, falta de acesso aos serviços de saúde e falta de prática de cuidados infantis (vacinação e higiene pessoal); (2) provocado por doenças que aumentam as necessidades metabólicas, diminuiem a absorção intestinal ou levam à perda de nutrientes (por exemplo as síndromes disarbsortivas estudadas no módulo anterior). O período mais susceptível à desnutrição são os primeiros 1000 dias de vida (que compreendem um pouco mais do que 2 anos). Sendo assim, qualquer agravo nutricional nesse momento afeta o crescimento e desenvolvimento, trazendo consequências cognitivas futuras. É sabido que a desnutrição pode se manifestar logo após o nascimento com o baixo peso do RN (<2,500g) podendo está relacionado com retrição de crecimento intrauterino ou prematuridade. A avaliação do estado nutricional acontece através dos parâmetros antropométricos como peso (agravos agudos da desnutrição), estatura (agravos em longo prazo) e circunferência braquial. Essa avaliação é feita através da análise de gráficos que relacionam esses parâmetros citados, gerando uma análise sobre o estado nutricional do bebê. O diagnóstico de déficit ponderal ou desnutrição é feito com base nos percentis/escores Z das novas curvas da OMS. A curva peso/estatura reflete o efeito agudo da desnutrição na vida da criança, enquanto a curva estatura/idade reflete o efeito crônico da desnutrição. A compreensão acerca da desnutrição é bastante complexa, sendo que ela pode apresentar efeitos a curto e longo prazo. O efeito primordial a curto prazo é morte precoce do RN a qual se encontra elevada quando os índices de desnutrição estão acentuados. Por mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar matheDestacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 10 outro lado, as manifestações em longo prazo desses dados são alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, capacidade cognitiva e desempenho acadêmico- laborativo. Pode haver também o aumento da chance de desenvolver doenças crônicas na vida adulta (diabetes mellitus tipo 2 e hipertensão). Fisiopatologia Para entendermos as manifestações clínicas resultantes da desnutrição é importante termos em mente que ela causa alterações neuroendócrinas importantes no organismo. Como foi dito inicialmente a desnutrição se manifesta com diminuição do ganho de peso e posteriormente na diminuição da estatura. A fisiologia hormonal do organismo se altera com o objetivo de captar energia por outras vias metabólicas. Sobre isso, é importante observar as alterações hormonais que compreendem os dois principais tipos de desnutrição: marasmo (forma não edematosa) e o kwashiorkor (forma edematosa). As razões nas quais uma criança desenvolve um tipo e outra desenvolve outro tipo ainda são desconhecidas. No entanto, tem-se o entendimento de que o excesso de carboidratos em uma dieta em detrimento da nutrição proteica resulta no consumo de proteínas corpóreas, diminuição de albumina e formação de edema periférico (kwashiorkor). Por outro lado, a elevação do cortisol está presente no marasmo. Sobre as alterações metabólicas e hormonais há de forma generalista uma redução do metabolismo com diminuição do gasto energético. Dado isso, os reservatórios energéticos (glicogênio, gorduras e proteínas) são alterados com aumento de glicólise, lipólise para geração de energia. O metabolismo cerebral sobrevive à custa do fornecimento de energia através do ácidos graxos e corpos cetônicos produzidos da lipólise, sendo estimulado pelo hormônio do crescimento e a epinefrina. A queda plasática de glicose e aminoácidos resulta no aumento do glucagon e da adrenalina. Elevam-se os níveis de GH, enquanto reduz os níveis de IGF-1. O cortisol aumenta como resposta a esse estresse com a tentativa de estimular a glicogenólise e gliconeogênese (consumo muscular). É possível notar a redução de T3 e T4 reduzindo a taxa do metabolismo basal e consequentemente a termogênese (redução do consumo de oxigênio). Como consequência da falta de ATP as bombas de sódio-potássio estão com sua ação bastante reduzia o que leva a redução dos níveis séricos de sódio (hiponatremia), os níveis de potássio intra e extracelular estão reduzidos (hipocalemia). mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 11 Quanto as alterações imunológicas são possíveis observar perda das defesas inespecíficas, celular e humoral. A imunidade inespecífica é reduzida com perda da integridade das barreiras epitelial e mucosa. A imunidade celular é reduzida com a diminuição da população de linfócitos T, de IL-1 e fatores complemento. Desse modo, o organismo apresenta menor capacidade de opsonização, fagocitose e quimiotaxia. A imunidade humoral está relativamente preservada com uma pequena deficiência funcional. Lembrar que não é contraindicada a vacinação. Quanto as alterações neurológicas são possíveis observar déficit no desenvolvimento neuropsicomotor (baixo quoeficiente de desenvolvimento e quoeficiente de inteligência). Essas alterações são resultados da redução da divisão celular, formação de sinapses, proliferação dendríticas e retardo na mielinização. Quanto as alterações gastrointestinais elas se assemelham a manifestações clínicas semelhantes a de uma síndrome disabsortiva, sem a presença de esteatorreia, pois a ingestão de gordura é rara. Há redução na secreção gástrica, pancreática e biliar com redução das enzimas digestivas. A diminuição da lactase pode induzir uma intolerância ao leite. Pode haver lesão nas microvilosidades o que leva a diminuição da absorção de nutrientes (nesses casos é possível utilizar triglicerídeos de cadeia média que não necessitam de modificação para serem absorvidos). Há perda de tônus das alças intestinais e diminuição da peristalse favorecendo proliferação bacteriana o que dificulta a absorção de eletrólitos, bem como a alteração no pool da microbiota. As alterações cardiovasculares e renais são déficit contrátil do miocárdio cardíaco com queda do débito cardíaco basal, bem como a redução da taxa de filtração glomerular com prejuízo da função de concentração e acidificação urinária. Manifestações clínicas Para identificar a presença de desnutrição energético proteica um componente fundamental é a avaliação da condição nutricional. Sendo assim, a pesquisa por fatores de risco: História gestacional e periparto; história patológica pregressa, história vacinal, anamnese alimentar (avaliação sistemática dos alimentos habitualmente consumindo, incluindo a frequência e a forma de armazenamento, preparo e administração; sinais e sintomas de DEP (alterações no cabelo e pele, musculatura, fácies senil, edema e hepatomegalia); história social (composição de núcleo familiar). Ao exame físico as medias antropométricas são importantes instrumentos diagnósticos (peso, comprimento/estatura, perímetro cefálico, circunferência do braço, prega cutânea). É sabido que o sinal clínico observado mais precocemente é a influência no crescimento, sendo que seu ganho ponderal torna-se comprometido. A avaliação desses dados requer o acompanhamento das curvas de peso e estatura nos gráficos próprios para idade e sexo, as quais se mostram estacionárias ou decrescentes em crianças com DEP. mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 12 A apresentação clínica de forma geral é uma manifestação apática, letárgica, com nível de atividade inferior para idade e diminuição da atividade física da criança. Um exame físico cuidadoso com a procura desses sinais pode ser realizado de forma sistemática. A classificação clínica de uma DEP grave é caracterizada com: (1) índices de peso ou estatura para idade abaixo de 3 DP da média; (2) circunferência braquial abaixo de 115 mm nas crianças entre 6 e 59 meses; (3) edema com cacifo bilateral. As principais síndromes de DEP são o marasmo (deficiência predominantemente de ingestão calórica total) e kwashiorkor (déficit de ingestão proteica). É importante o examinador ficar atento quanto ao meio termo entre essas duas síndromes que pode está presente no estágio intermediário em que há uma mistura nesses sinais clínicos. Desse modo, o diagnóstico precoce permite a interrupção da evolução dessa apresentação clínica. É importante dizer que a hipoalbuminemia está presente em ambas as formas de DEP grave. Cercade 99% das crianças desnutridas apresentam déficit de crescimento/desenvolvimento e apresentam maior propensão ao desenvolvimento de infecções. A baixa estatura é a principal queixa e o fator importante para que haja a procura de um profissional de saúde. mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 13 Marasmo Significa uma má nutrição que resulta na deficiência calórica total de energia e proteínas. A expressão marasmo significa “desgaste” que denota inanição. O déficit na ingestão global de nutrientes está associado ao agravamento por infecções intercorrentes. Esse tipo de manifestação clínica nutricional está presente em quase todos os países em desenvolvimento, normalmente, está relacionado com a retirada precoce do aleitamento materno, havendo substituição por fórmulas caloricamente deficientes (busca de reduzir os gastos da família). Todos esses fatores combinados com a ignorância sobre higiene e atrasos costumeiros na administração de vacinas leva o desenvolvimento de infecções gastrointestinais preveníeis. Geralmente a criança que sofre por marasmo é internada não pela desnutrição, mas sim pela intercorrência infecciosa. Os aspctos clínicos observados nessa síndrome são déficit de peso e estatura, atrofia muscular intensa, emagrecimento acentuado com pobreza de tecido subcutâneo, em alguns casos, o apetite está preservado (diferentemente do que acontece com kwashiorkor), a anemia e a diarreia são comuns e com frequência as crianças apresentam o abdômen volumoso. Kwaskiorkor Essa síndrome é caracterizada pela deficiência dietética de proteínas. A carência proteica impede a adaptação do organismo à desnutrição. Sua instalação é mais rápida do que o marasmo. Na literatura essa síndrome era caracterizada como “doença do primeiro filho quando nasce o segundo”, pois seu surgimento era descrito em lactentes desmamados subitamente, devido a superstição de que a amamentação poderia “evenenar” o feto. O edema é o sinal clínico bastante comum nessa síndrome, sabendo que ele pode se manifestar em vários lugares do corpo, sendo mais comum nos pés e pernas. Alterações metais/comportamentais estão presentes como o comportamento apático, hipoativo, anorexia e desinteresse pelos fatos. Nesse tipo pode haver um grau de gordura subcutânea a qual é analisada para avaliar o grau de deficiência calórica. Dermatoses podem ser presentes, sobretudo em regiões de grande atrito como região inguinal e períneo. Uma outra manifestação bastante comum são as alterações presentes nos mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 14 cabelos o que pode se caracterizado com um “sinal de bandeira” em que o cabelo apresenta faixas, traduzindo os períodos alternados de pior e melhor nutrição. Como foi dito acima a hipoalbuminemia e a redução de proteína sérica total estão presentes. Além disso, um sinal importante nessa síndrome é a hepatomegalia (esteatose). Tratamento O tratamento das crianças que sofrem por desnutrição energético protreica é realizada em três fases: (1) estabilização – 1-7 dias com identificação das alterações e condições ameaçadoras à vida, tais como hipoglicemia, hipotermia, distúrbios hidroeletrolítcos, desidratação, infecção e anemia. (2) fase de reabilitação – 2ª a 6ª semana – com a alimentação intensiva a fim de recuperar a maior parte do peso. (3) fase de acompanhamento – 7ª a 26ª semana – a fim de prevenir uma recaída e assegurar a continuidade do tratamento. Durante todo o tratamento é importante o acompanhamento especial tanto da criança, quanto da família com o objetivo de assegurar uma eficácia e continuidade. É importante que a equipe seja composta de forma multiprofissional com médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais, dentistas e pedagogos. mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 15 Fase inicial (1 a 7 dias) Nessa fase é importante a correção dos distúrbios apresentados pelo paciente. 1. Hipoglicemia pode surgir em pacientes desnutridos (glicose sanguínea <54 mg/dl) sendo importante causa de morte nos primeiros dias de tratamento. Sua causa pode ser derivada por uma infecção sistêmica ou a não nutrição da criança nas últimas 4-6 horas. Os sinais presentes na hipoglicemia é a baixa temperatura corporal (<36,5°C), letargia, incoordenação e perda consciência. Normalmente o único sinal presente antes de levar ao óbito é sonolência, sendo assim quando existe a suspeita de hipoglicemia deve-se iniciar o tratamento imediatamente sem a necessidade de confirmação laboratorial. A correção pode ser feita quando a criança estar consciente com a administração de 50 mL de glicose ou sacarose a 10%. Em casos mais graves pode utilizar açúcar embaixo da língua. Deve também alimentar a criança de 2/2 horas no primeiro dia e utilizar antibióticos de amplo espectro. Em casos de crianças inconsciente é importante utilizar soro glicosado a 10% com dosagem 5mL/Kg IV. 2. A hipotermia pode estar presente em crianças menores que 12 meses portadores de marasmo ou com grandes áreas de pele lesada. A confirmação da hipotermia pode ser através da temperatura retal menor que 35,5°C ou TAX 35°C. Para tanto, é importante manter a criança aquecida longe de janelas e correntes de ar, lavá- la somente quando necessário e em alguns casos utilizar a técnica canguru colocando a mãe pele a pele com a criança e coberta com um cobertor aquecido. 3. A desidratação pode estar presente, bem como o choque séptico, sendo bastante difícil de diferenciá-los. Os sinais de hipovolemia estão presente nas duas manifestações sendo importante reidratar a criança desnutrida, sobretudo por via oral. Em caso de impossibilidade de utilizar a via oral, por exemplo na presença de choque, é necessário a utilização da via endovenosa. 4. Infecções podem estar presentes nesses casos, sendo necessário o tratamento com antibióticos de amplo espectro. Devemos considerar uma criança desnutrida como imunodeprimida, não requerendo sinais incipientes de infecção para que possamos iniciar a terapia. Sendo assim as crianças sem sinais aparentes de infecção deve ser utilizado amoxicilina VO 25m/kg/dose 12/12 horas durante 5 dias, enquanto crianças com sinais aparentes devem utilizar ampicilina 50m/kg IM ou IV a cada 6h por 2 dias e seguido por amoxicilina, ou Gentamicina 7,5mg/kg IM ou IV uma vez ao dia durante 7 dias, 5. A dieta da criança deve ser balanceada, não podendo extrapolar e aumentar sua quantidade. A via oral é a via preferencial, sendo a nasogástria restrita apenas em algumas condições específicas (como a não aceitação do volume mínimo estipulado). 6. A reposição de micronutrientes é importante para suprir as deficiências nutricionais, sobretudo a vitamina A, ácido fólico, zinco e cobre. 7. O monitoramento da anemia deve ser feito, sendo que níveis menores que Segunda fase (duração: 2 a 6 semanas) Essa fase é chamada de reabilitação e seu objetivo é a recuperação nutricional através da administração de dieta hiperproteica, hipercalórica,com reposição de Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 16 vitaminas e micronutrientes até atingir um peso alto 10-15 g/kg/dia, de modo a evitar insuficiência cardíaca provocada por uma superalimentação. É importante destacar que uma criança que esteja sendo alimentada por sonda nasogástrica não é considerada apta para entrar na fase de reabilitação. A criança deve receber alimentos suficientes para repor seus déficits e retomar o crescimento. É importante garantir o aporte necessário de calorias e outros nutrientes por intermédio de uma dieta de alta concentração calórica e progressivamente variada, respeitando a aceitação da criança. Terceira fase (duração: 7 a 26 semanas) Essa fase é importante manter o acompanhamento da criança e sua família a fim de prevenir uma recaída e assegurar a continuidade do densenvolvimento emocional, físico e mental da criança. A evolução da criança com ganho de peso satisfatoriamente permite que ela seja conduzida a um centro de reabilitação nutricional em que há uma equipe treinada em reabilitação em crianças desnutridas. Em cidades que não possuem esses centros especializados a criança deve continuar internada no próprio hospital. Após todo esse tempo a criança pode receber alta e com isso passa a receber visitas domiciares na tentativa de complementar o tratamento (1 semana, 2 semanas, 1 mês, 3 meses e 6 meses). 4. Determinar os parâmetros e métodos utilizados para avaliação do crescimento da criança (medidas antropométricas, correlação com gráficos e score Z) Fisiologia do crescimento O crescimento é do ponto de vista biológico uma alteração no tamanho e função celular. Ele está presente desde o resultado da fecundação até a morte, visto que em todo esse período há crescimento celular (proliferação). Para a clínica pediátrica o crescimento que apresenta relevância é o crescimento somático que ocorre após o nascimento e vai até a adolescência. Logo, crescimento consiste em aumento físico, aumento de massa corporal, hiperplasia e hipertrofia celular. Sua análise é realizada através do peso e altura da criança ao longo do tempo. Como é sabido ocrescimento é um indicador importante para a avaliação da saúde. O crescimento sobre influência de fatores intrínsecos e extrínsecos. O primeiro consiste no potencial genético do indivíduo e fatores metabólitos que auxiliam nesse mecanismo. O segundo compreende o ambiente, a alimentação, a higiene, as condições de habitação e cuidados com a criança. É importante termos em mente que esses fatores atuam concomitantemente, sendo que a sua junção permite o crescimento adequado da criança. mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 17 Sobre os fatores que atuam no crescimento pontuarei dois de extrema relevância (sistema neuroendócrino e meio ambiente). O sistema neuroendócrino é bastante complexo pois envolve mecanismo que regulam os processos de crescimento através da regulação hormonal. O eixo principal envolvido nesse controle é o GH-sistema IGF. O aumento da estatura do indivíduo, por exemplo, acontece, devido uma série de processos coordenados e combinados que permitem a junção de cartilagem, a interação de fatores de crescimento, a disponibilidade de nutrientes e enzimas necessários. Para tanto, o GH é responsável pelo recrutamento de células especializadas para o mecanismo, enquanto o IGF determina a hiperplasia e hipertrofia das células recrutadas. Cabe ressaltar que os hormônios tireoidianos são necessários para o crescimento, atuando na produção e secreção de GH e na síntese de IGF-1. Por outro lado, o meio ambiente interfere no crescimento do ser humano desde quando ele está na vida intrauterina. Caso não haja a oferta de nutrientes adequados nesse período é possível que haja um retardo de crescimento. Após o nascimento o fator extrínseco preponderante é o meio ambiente, pois ele atua de forma decisiva para “moldar” a criança. Para ter ideia os fatores genéticos só sobrepõe os fatores ambientais quando a criança já está maior e durante a adolescência. Ainda sobre o crescimento na primeira infância é importante que os pediatras tenham em mente que nesse período pode haver alterações na velocidade de crescimento. Isso é algo puramente normal, pois esse mecanismo é fundamental para que a criança estabeleça um canal de crescimento adequado a de seus pais. Basta ver que quando uma criança nasce muito grande e ela é filha de pais pequenos é esperado que o ritmo de crescimento reduza sua velocidade. Avaliação do crescimento A avaliação do crescimento e análise de alguns parâmetros são de suma importância para interpretar a saúde do recém-nascido. Para tal, devemos lembrar que o crescimento se traduz em um aumento de peso e estatura ao longo de um tempo. Os pediatras normalmente acompanham o peso, estatura, medidas de seguimento superior e inferior e perímetro cefálico. Sabemos que o peso pode sofrer influência de vários fatores por isso ele é considerado um indicador mais sensível, embora seja menos específico, por outro lado, a estatura é um indicador mais confiável, sendo menos sensível e mais específico. a) Peso: é um parâmetro que muda constantemente, sobretudo nos primeiros meses de vida. Sua avaliação se dá pela pesagem, para tanto é importante lembrar que crianças de até 2 anos ou até 16 kg deverão ser pesadas na posição deitada ou sentada na balança mecânica pediátrica. Por outro lado, crianças maiores que 2 anos e adultos são pesados de forma ereta na balança tipo plataforma. Fórmula do peso até 11 anos. mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 18 b) Estatura: o termo comprimento é usado para determinar o crescimento linear das crianças até dois anos. Após esse período esse termo es substituído por altura. Até dois anos a criança deverá ser avaliada em decúbito dorsal com a medição do vértice da cabeça até a planta dos pés em 90°. Após esse período, ela deverá ser avaliada de forma ereta. Fórmula da altura até 11 anos. c) Perímetro cefálico: um parâmetro bastante útil nos primeiros meses de vida para avaliar possíveis desvios do desenvolvimento neurológico. Sua medição utiliza como parâmetros a elevação occipital e a glabela. Referenciais antropométricos De forma isolada todos os indicadores de crescimento não apresentam valor diagnóstico, sendo importante interpretá-los a partir de gráficos que os relacionam. Por meio da comparação com populações de referência é que podemos avaliar o crescimento do nosso paciente. Percentil A distribuição por percentil são valores obtidos para todos os indicadores de crescimento que foram estudados. Esses valores são dispostos em gráficos, de forma crescimento, o que permite a análise da situação de cada paciente. De forma bem genérica podemos compreender que esse gráfico dispõe de uma lista crescente de alturas para uma determinada idade, caso um paciente encontra-se no percentil 40, traduz essa colocação em porcentagem, sendo que 60% daquela população apresenta uma estatura maior. Dessa forma, indivíduos que se encontram no percentil 50 estão dentro da médica para aquela população. A interpretação desses dados é realizada através de gráficos elaborados pela OMS, sendo que os percentis destacados são 3, 15, 50, 85 e 97. A análise realizada por esse parâmetro é menos criteriosa e utiliza dados próximos da média o que permite a avaliação em evolução de cada paciente. Sendoassim, ele é considerado mais sensível em relação ao escore Z. Escore Z O escore Z é uma outra forma de comparar os indicadores de crescimento estudados acima. Ele mede a distância em desvio-padrão que a medida do paciente se encontra da média da população da mesma idade e sexo. Um escore Z positivo se traduz em um indivíduo acima da média, por outro lado, um escore Z negativo significa que o paciente mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 19 está abaixo da média. E por fim um escore Z zerado significa que o paciente está na média. A análise realizada por esse parâmetro é mais criteriosa, pois utiliza dados mais extremos, podendo gerar falsos negativos. Sendo assim, ele é considerado mais específico em relação ao percentil. Curvas de crescimento de referência As curvas são gráficos elaborados pela OMS para que possamos interpretar os dados de nossos pacientes. Desse modo, por muito anos o MS utilizava as curvas padrões disponibilizadas por esse órgão. Devido muitos questionamentos acerca da etnia e nutrição das crianças ditas como “padrão”, o Brasil, em 2006, passou a ser o valor de referência na América Latina. A partir de então a OMS recomenda os gráficos de 2006 como referência na análise dos dados antropométricos, podendo analisar crianças até 19 anos. Site com as curvas: https://www.sbp.com.br/departamentos- cientificos/endocrinologia/graficos-de-crescimento/ O acompanhamento sistemático do crescimento da criança é um dos eixos primordiais das consultas pediátricas. É possível extrairmos alguma informação sobre a avaliação e interpretação da gravidade aponta pelos dados. Várias medidas de crescimento de uma criança são colocadas nos gráficos a cada consulta, assim, é possível analisar o padrão de crescimento e comparar com a média. Um crescimento adequado tente seguir em paralelo com a linha verde (linha média). Qualquer alteração tanto para cima quanto para baixo deve ser investigada para determinar sua causa e realizar a conduta adequada. Um traçado horizontal significa que a criança não está crescendo, necessitando de uma investigação sobre a causa. Quanto a interpretação dos percentis uma criança que se encontra entre o p3 e p15 requer uma atenção especial do profissional de saúde e dos cuidadores da criança, pois essa faixa é importante para a vigilância do baixo peso. 5. Compreender o desenvolvimento da criança até a primeira infância (pesquisa de reflexos, possíveis alterações...). Desenvolvimento se traduz em ganho de função, sejam habilidade motoras ou neuropsíquicas durante os primeiros meses de vida, sejam as funções reprodutivas que se apresentam durante a puberdade. O desenvolvimento é análise desses parâmetros qualitativos que ocorre durante toda a vida do ser humano. Chamamos de desenvolvimento neuropsicomorotr o conjunto de todas as reações das crianças, todo o seu comportamento que evolui progressivamente ao longo do tempo sob a forma de funções e habilidades cada vez mais específicas. Desse modo, nos primeiros meses de vida é possível observar reações reflexas e estereotipadas as https://www.sbp.com.br/departamentos-cientificos/endocrinologia/graficos-de-crescimento/ https://www.sbp.com.br/departamentos-cientificos/endocrinologia/graficos-de-crescimento/ mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 20 quais denominamos de reflexos primitivos que vão desaparecendo com o tempo e tornando-se reações voluntárias. As bases fisiológicas que explicam esse mecanismo de evolução são o crescimento somático e desenvolvimento (mielinização e formação de novas sinapses) das vias motoras, sensitivas, sensoriais, linguagem, raciocínio e memória. O estudo do desenvolvimento está compreendido em cinco áreas: 1) Conduta adaptativa: é considerada uma conduta percussora da inteligência, pois nela é avaliada a capacidade da criança em “resolver” problemas e apresentar a partir de novas experiências. Por exemplo, ao mostrar um objetivo para um lactente de 4 meses é esperado que ele estenda a mão para busca-lo para poder leva-lo a boca para iniciar a exploração. 2) Conduta motora fina: consiste na habilidade cada vez específica na utilização das mãos e dedos no auxílio da exploração dos objetos por parte dos lactentes. Por exemplo, é esperado que um lactente de 4 meses realize a pega palmar, aos 7 meses realize a pega radial e aos 12 meses realize a pega em pinça. 3) Conduta motora grosseira: habilidade motora geral como sustentar a cabeça, tronco, sentar, rolar, engatinha e andar. Ela demanda a interação das vias motoras centrais e periféricas, bem como a participação dos sentidos e vias de equilíbrio. 4) Conduta de linguagem: consiste na capacidade da criança em compreender e exprimir sensações e pensamentos. Essa comunicação pode ser verbal e não verbal. 5) Conduta pessoal-social: reações da criança frente às pessoas, como a mãe e parentes, e frente situações da vida diária, como alimentação. mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar mathe Destacar Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 21 A sequência do desenvolvimento neuropsicomotor ocorre no sentido céfalo-caldal e proximal-distal. O lactente adquire primeiro controle da cabeça, para depois adquirir o controle do tronco, o sentar o engatinhar e o andar. Os reflexos primitivos neonatais são respostas motoras deflagradas por um estímulo externo do examinador. É chamado de primitivos porque não são voluntárias, sendo assim, estão sobre controle de centros subcorticais, tronco encefálico e medula. Lembrar que esses reflexos tem um caráter transitório, pois apresentam um período para desaparecerem. 1. Reflexo de preensão plantar: o bebê está em posição supina e o examinador comprime o polegar sobre a face plantar. A resposta esperada é a flexão dos dedos. Esse reflexo desaparece aos 15 meses. 2. Reflexo de Galant: o examinador coloca o bebê em posição prona, apoiando-o com o braço. Com o dedo contralateral ele realiza um movimento linear paralelo à coluna vertebral, indo do ombro as nádegas. A resposta esperada é uma flexão do tronco, com a concavidade virada para o lado estimulado. Desaparece aos 4 meses. 3. Reflexo extensor suprapúbico: o examinador coloca o bebê em posição supina e realiza uma pressão acima do púbis. A resposta esperada é a extensão de ambos os membros inferiores. Esse reflexo desaparece em 1 mês. mathe Destacar mathe Destacar Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 22 Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 23 6. Definir o SISVAN e sua importância. É um sistema de informação que visa descrever e predizer de maneira contínua, tendências das condições de nutrição e alimentação de uma população, e seus fatores determinantes, com fins ao planejamento e avaliação dos efeitos de políticas, programas e intervenções. O SISVAN tem como objetivos: descrever o estado nutricional da população com particular referência a subgrupos que são identificados como estando sob-risco, permitindo o conhecimento do problema nutricional; prover informação que irá contribuir para a analise das causas e fatores associados possibilitando uma seleção de medidas preventivas e/ou educativas que poderão ser ou não nutricionais; permitir predições a serem feitas com base na consolidação e análise dos dados a fim de indicar a evolução provável dos problemas nutricionais; acompanhar e monitorar o estado nutricional da população atendida em Unidades Básica de Saúde e/ou Programa Saúde da Família; monitorar programas e políticaspúblicas no contexto da alimentação e nutrição, e avaliar sua efetividade. No contexto do setor saúde, o SISVAN contempla quatro eixos interligados: Padronização de atividades, isto é, tarefas organizadas de receber, tratar, analisarem dados e informações para devolvê-los à rede do Sistema Único de Saúde (SUS) e à sociedade, retro alimentando os setores responsáveis pelo planejamento, gestão e controle social dos programas e políticas públicas. : Engloba quaisquer atividades rotineiras e contínua de coleta, processando, análise e interpretação dos dados: recomendação de medidas de controle apropriadas: promoções das ações de controle indicadas; avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas; e divulgação de informações pertinentes. : Envolve os aspectos relativos à promoção de práticas alimentares saudáveis e à prevenção e ao controle dos distúrbios alimentares e de doenças associadas à alimentação. NUTRICIONAL: Considera o estado nutricional de coletividades como resultante do equilíbrio entre o consumo alimentar e a utilização biológico e sua estreita relação com o estado de saúde Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 24 7. Descrever o atendimento à puérpera. É recomendado pelo MS uma visita domiciliar à gestante e a criança na primeira semana pós-parto. Nesta visita é fundamental que o profissional de saúde saiba identificar sinais de perigo à saúde da criança. Isso porque, as crianças menores de 2 meses podem adoecer e morrer em um curto espaço de tempo por infecções bacterianas graves. A primeira consulta do RN deverá ocorrer na sua primeira semana de vida, que constitui um momento propicio para estimular e auxiliar a família nas dificuldades do aleitamento materno exclusivo, para orientar sobre as imunizações, para verificar a realização da triagem neonatal (teste do pezinho) e para estabelecer ou reforçar a rede de apoio. A partir da anamnese procura-se identificar as condições de nascimento da criança (tipo de parto, local de parto, peso ao nascer, índice de Apgar, intercorrências clinicas na gestação e parto). Já o exame físico deve ser completo, avaliando peso – lembrando, que se considera normal uma perda de peso de até 10% ao nascer, devendo ser recuperado até o 15º dia de vida - comprimento, perímetro cefálico, estado geral, face, pele, fontanelas, reflexos. Além disso, é importante verificar se o RN recebeu a 1ª dose da vacina contra hepatite B e da BCG na maternidade e se será necessário indicar a aplicação dessas vacinas na unidade de saúde. O MS recomenda sete consultas de rotina no primeiro ano e vida (1ª semana, 1º mês, 2º mês, 4º mês, 6º mês, 9º mês e 12º mês) além das duas consultas no 2 ano de vida (18º e no 24º mês), e a partir do 2 ano de vida, consultas anuais. Essas faixas são selecionadas porque representam momentos de oferta de imunizações. Ressaltar os aspectos emocionais envolvidos durante o nascimento, sobretudo nos casos em que a mãe é primigesta. O papel da equipe multiprofissional é ressaltar o papel no núcleo familiar (não só responsabilizar a mãe) na ação de acolher e suprir as necessidades demandas por um recém-nascido. É um período bastante conturbado e delicado esses primeiros meses, ainda mais pela extrema dependência do bebê com a mãe. 7. Abordar a importância do ECA (maus tratos à criança). Os maus-tratos contra a criança e ao adolescente podem ser praticados pela omissão, pela supressão ou pela transgressão dos seus direitos, definidos por convenções legais ou normas culturais. Classicamente os maus-tratos são divididos nos seguintes tipos: Maus-tratos físicos: uso da força física de forma intencional, não-acidental, praticada por pais, responsáveis, familiares ou pessoas próximas da criança ou adolescente, com o Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 25 objetivo de ferir, danificar ou destruir esta criança ou adolescente, deixando ou não marcas evidentes. Síndrome de Munchausen por procuração: é definida como a situação na qual a criança é trazida para cuidados médicos devido a sintomas e/ ou sinais inventados ou provocados pelos seus responsáveis. Abuso sexual: é todo ato ou jogo sexual, relação heterossexual ou homossexual cujo agressor está em estágio de desenvolvimento psicossexual mais adiantado que a criança ou o adolescente. Maus-tratos psicológicos: são toda forma de rejeição, depreciação, discriminação, desrespeito, cobrança ou punição exageradas e utilização da criança ou do adolescente para atender às necessidades psíquicas dos adultos. Negligência: é ato de omissão do responsável pela criança ou adolescente em prover as necessidades básicas para o seu desenvolvimento. O abandono é considerado uma forma extrema de negligência. A negligência pode significar omissão em termos de cuidados básicos como a privação de medicamentos; cuidados necessários à saúde; higiene; ausência de proteção contra as inclemências do meio (frio, calor); não prover estímulo e condições para a frequência à escola. A suspeita de maus-tratos contra crianças e adolescentes surge, geralmente, no momento em que se procede a anamnese ou no decorrer do exame físico do paciente. Cabe ressaltar que, na maioria das vezes, as vítimas não possuem evidências físicas de maus-tratos. Sendo assim, a anamnese ocupa lugar relevante no esclarecimento dos casos, não apenas pelo relato da ocorrência da violência em si, como também de sintomas sugestivos de que a criança possa estar sendo vitimizada. Sempre que possível, é importante que a avaliação seja feita por equipe multiprofissional, na qual estejam incluídos, além do médico, psicólogo e assistente social. A ATITUDE DO PROFISSIONAL A entrevista inicial tem como objetivo estabelecer uma relação entre o médico e os pais ou responsáveis, além de se ouvirem as queixas apresentadas. É em nome deste relacionamento que o profissional da saúde deve manter uma atitude de isenção, Marcela Oliveira – Medicina 4º semestre 2020 22 mesmo que haja suspeita de que um dos pais ou o responsável seja o abusador. As perguntas devem ser isentas de qualquer conotação de acusação ou de censura, embora as intenções de esclarecer a suspeita ou confirmação dos maus-tratos e de proteger a criança de novas agressões devam estar sempre presentes. Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 26 Diante de qualquer tipo de maus-tratos, todos os dados obtidos a respeito da criança (relatos sobre o episódio de maus-tratos, exame físico e exames complementares) devem ser cuidadosamente registrados no prontuário, uma vez que a Justiça pode solicitar cópias da documentação da unidade de saúde. Segundo o ECA, os profissionais da saúde são obrigados a notificar os maus-tratos cometidos contra crianças e adolescentes. Para que este preceito legal seja cumprido, é preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da área para o problema; fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado às vítimas desses agravos; disponibilizar informação e capacitação para o diagnóstico e a intervenção; promover medidas preventivas; e aperfeiçoar o sistema de informação sobre o perfil de morbimortalidade por violência. O cumprimento dos direitos garantidos pelo ECA é amparado pelo Conselho Tutelar, que é um órgão permanente e autônomo, mantido com recursos públicos. Por este motivo, o profissional de saúde deve notificar ao Conselho Tutelar, estabelecendo uma parceria fundamental para a proteção da criança e o apoio à família. O campo de atuação do Conselho Tutelar é diferente e mais amplo que o de uma unidade de saúde e o profissional passa a ter um parceiro para compartilhar o atendimento e dividir responsabilidades.
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