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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 3 2 INTRODUÇÃO A INSTRUÇÃO BILÍNGUE .................................................. 4 3 BILINGUISMO CONCEITO .......................................................................... 5 4 DEFIÃO DE EDUCAÇÃO BILÍNGUE ......................................................... 10 4.1 Classificação do ensino bilíngue.......................................................... 14 4.2 Tipos de educação bilíngue ................................................................. 15 4.3 Submersão .......................................................................................... 20 4.4 Bilinguismo transicional ....................................................................... 21 4.5 Duas línguas (Dual Language) ............................................................ 22 5 MODELOS E TIPOS DE PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO BILÍNGUE ....... 27 5.1 Programas de imersão ........................................................................ 33 6 O SISTEMA EDUCACIONAL E A LEGISLAÇÃO DAS ESCOLAS BILÍNGUES DE EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL ................................................ 37 7 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ........................................................... 42 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 INTRODUÇÃO A INSTRUÇÃO BILÍNGUE Fonte: revistaeducacao.com Em um mundo em que a palavra de ordem é “globalização”, a necessidade de se conhecer pelo menos duas línguas tem se tornado cada vez mais urgente. A procura por escolas bilíngues vem crescendo e reflete uma preocupação dos pais que desejam que seus filhos, desde a tenra idade, frequentem uma escola assim. O surgimento de novas instituições para o atendimento desse público tem feito com que os educadores e teóricos da educação pensem cada vez mais em como organizar a educação infantil de forma bilíngue: tempo e espaço para permitir que os alunos tenham mais e mais acesso a uma nova língua e consequentemente a uma nova cultura (FAVARO, 2009). De acordo com o autor, no Brasil, em especial, devido à grande expansão tecnológica e à velocidade de comunicação mundial, surge uma necessidade cada vez maior de se ter contato e domínio com diferentes línguas, em especial a língua inglesa. Devido a essa demanda social, de uma aprendizagem multicultural (de línguas e culturas), muitas escolas infantis brasileiras começaram a oferecer o chamado “ensino bilíngue”, através do qual uma segunda língua é utilizada como meio de comunicação no decorrer do processo de ensino-aprendizagem. 5 A proposta pedagógica das escolas bilíngues contempla uma maneira de educar que leva o aluno a interagir na prática com um contexto planetário, seguindo a tendência de globalização que espera da escola a formação de homens preparados para atuarem como cidadãos do mundo. O particular e o universal são trabalhados com bastante eficácia, inclusive, porque a barreira da língua já é ultrapassada no cotidiano de sala de aula (FAVARO, 2009). 3 BILINGUISMO CONCEITO Fonte:medium.com Bilinguismo é um assunto que tem sido bastante discutido, principalmente, na última década e existem vários teóricos que tratam o tema, em diversos campos de estudo, por vários motivos, sejam eles educacionais sociopolíticos, históricos, etc. Amplamente falando, Hamers & Blanc (1989) entendem essencialmente por bilinguismo a capacidade ou a competência de se fazer uso de duas línguas com um mínimo de proficiência. No entanto, esta definição minimalista se restringe a apenas um aspecto do bilinguismo, que não leva em consideração características que não se referem à comunicação na segunda língua. Existe outra definição de bilinguismo proposta por Weinreich (1953), de cunho sociológico, a qual afirma que se trata da 6 prática de alternadamente utilizar duas línguas e que o sujeito bilíngue é aquele que faz uso regularmente de duas ou mais línguas de forma sucessiva. Para Hamers & Blanc (1989), bilinguismo precisa ser visto como fenômeno multidimensional e, portanto, deve ser investigado como tal (FAVARO, 2009). De acordo com o autor, há vários fatores que permeiam sua natureza, tais como: a idade em que o indivíduo aprendeu as línguas, a competência em relação a elas, a utilização de cada uma, as representações sociais que o bilíngue tem sobre as línguas, sua identidade cultural e o contexto social. Baker (2006) utiliza uma analogia que ajuda a entender melhor o que significa ser bilíngue: desde que a bicicleta tem duas rodas e o binóculo é para dois olhos, parece ser simples o fato de que bilinguismo refere-se simplesmente a duas línguas e multilinguismo a três ou mais línguas. O propósito desta analogia é mostrar que ser capaz de se comunicar em uma ou mais línguas não é tão simples como ter duas rodas ou dois olhos. Isto ocorre, uma vez que se pode perguntar: alguns bilíngues são mais fluentes em uma língua e menos em outra? Alguns bilíngues utilizam menos a sua segunda língua? E, mesmo assim, podem ser considerados bilíngues? Para que se possa entender e responder a estas questões é necessário considerar e distinguir as diferenças entre bilinguismo como uma característica individual e bilinguismo em um grupo social, comunidade, região ou país. Esta diferenciação ocorre uma vez que o bilinguismo pode ser entendido como um fenômeno individual, relativo a apenas um sujeito pertencente a um grupo familiar bilíngue, em contato com duas línguas, ou múltiplo, comunitário, em que uma comunidade inteira (ou até mesmo um país) faz uso de duas línguas para comunicação, educação, desenvolvimento sociocultural, econômico e político (FAVARO, 2009). As dimensões do bilinguismo que, para Baker (2006: 03-04), definem uma pessoa bilíngue: • Habilidade linguística nas duas línguas; • Uso das línguas; • Idade de aquisição das línguas; • Cultura; 7 • Contexto. Para o autor, a língua não pode ser separada do contexto em que é utilizada, uma vez que a mesma nunca é produzida em um vácuo. Em outras palavras, uma comunicação entre duas ou mais pessoas inclui não somente a estrutura da língua, mas também quem está falando, o que se está falando, para quem e em que circunstâncias (FAVARO, 2009). Ressalta-se que para Baker (2006), atualmente podem ocorrer dois tipos de bilinguismo: Bilinguismo infantil (early development of bilingualism); Bilinguismo tardio (later development of bilingualism). Em seu texto, Baker (2006) diz que em relação à idade em que as línguas são aprendidas, ocorre a existência de dois tipos de bilíngues: simultâneo ou bilíngue infantil(crianças que aprendem duas línguas desde o nascimento) e consecutivo ou sequencial (crianças que aprendem outra língua após, mais ou menos,03 anos de idade (FAVARO, 2009). Segundo o autor, em outras palavras, bilinguismo infantil simultâneo se refere à criança adquirindo duas línguas ao mesmo tempo desde o nascimento, algumas vezes, chamado de bilinguismo infantil, aquisição bilíngue e bilíngue de aquisição de primeira língua. Por exemplo, quando um pai fala uma língua com a criança e o outro pai fala uma língua diferente, a criança provavelmente irá aprender as duas línguas simultaneamente [...] bilinguismo sequencial infantil acontece quando uma criança aprende uma língua em casa e depois vai à escola de educação infantil ou de ensino fundamental e aprende uma segunda língua [...]. Baker (2006) afirma que bilinguismo infantil pode ocorrer dentro de quatro categorias bem definidas e específicas: Uma pessoa –uma língua; Língua de casa é diferente da língua da sociedade em que vive; Língua misturada; Introdução atrasada da segunda língua. O autor ainda propõe outro tipo de bilinguismo, aquele em que o indivíduo, por si só e, por razões pessoais, resolve aprender outra língua. Ou seja, Baker (2006) aponta que o bilinguismo eletivo é uma característica de indivíduos que escolhem aprender/estudar uma língua. O autor afirma que “[...] bilíngues eletivos geralmente vêm de grupos falantes de língua majoritária [...]” (BAKER, 2006: 04 apud FAVARO, 2009). Pode-se destacar o bilinguismo social que considera o grande número de imigrantes que se estabelecem em países com alto nível de desenvolvimento 8 econômico e social, percebendo de que maneira esse grupo pode deslocar-se nos diversos contextos sociolinguísticos e também os indivíduos que provêm de famílias nas quais a língua materna não é aquela falada no país em que residem, ou seja, para que haja comunicação entre os membros da família e o grupo social com o qual interagem no dia-a-dia é necessário que possuam o domínio da língua local. Além do bilinguismo social, alguns autores, assim como Mello (1999), argumentam a existência do bilinguismo individual, aquele que tem como principal foco de estudo a fala do sujeito bilíngue. Outro tipo proposto por autores é o bilinguismo funcional, ou seja, aquele pelo qual um indivíduo restringe o uso da língua estrangeira a apenas algumas atividades de sua vida social ou profissional. Baker (2006) define que os bilíngues funcionais aprendem outra língua para funcionar efetivamente em uma sociedade. Por exemplo, no caso dos imigrantes, a língua materna é insuficiente para as demandas educacionais, políticas e de emprego (FAVARO, 2009). Segundo o autor, percebe-se, então, que a questão do bilinguismo é muito fluída e difícil de ser caracterizada, uma vez que definir exatamente quem é ou não um bilíngue é muito difícil ou praticamente impossível, já que cada pessoa pode apresentar uma utilização e uma proficiência de sua segunda ou terceira língua. Conforme argumentam Appel e Muysken (1987), o fato dos bilíngues usarem várias línguas em circunstancias diversificadas sugere que a sua competência geral em determinadas situações sociais é que deve ser comparada à competência dos monolíngues. Mello (1999) argumenta que o falar bilíngue está diretamente relacionado ao contexto sociolinguístico no qual ocorre a interação, em especial verbal, uma vez que as línguas são utilizadas pelos bilíngues em diversas maneiras (isoladas, alternadas ou mescladas), dependendo da situação, do tema da conversação, dos participantes do evento de fala e da interação do falante em comunicar sua mensagem. Nessa situação, encontram-se os bilíngues funcionais ou circunstanciais, conforme proposto por Baker (2006). Entre os pontos aqui discutidos, estão os tipos de pessoas bilíngues que podem existir, Baker (2006) afirma que o bilinguismo pode ser infantil (desde o nascimento), ou tardio (ocorre depois de alguns anos, às vezes, até na fase adulta). E, nessas duas grandes categorias, existem diversas razões (sociais 9 ou pessoais) e maneiras (na família, na escola, na comunidade/ sociedade ou no trabalho) para que este bilinguismo aconteça. De mesma forma, foram expostas as diferentes maneiras como as pessoas bilíngues utilizam as línguas que possuem, e como essa característica pode variar de acordo com a capacidade e competência linguística do falante, a situação em que se encontram, ou seja, a interação que está acontecendo entre as pessoas e até mesmo o tema que se está discutindo naquele ambiente (FAVARO, 2009). Bilinguismo no organograma apresentado a seguir: Fonte: FAVARO, 2009. 10 4 DEFINIÇÃO DE EDUCAÇÃO BILÍNGUE Fonte: youbilingue.com O bilinguismo não pode ser confundido com educação bilíngue, porque não é prerrogativa da escola. Pode ocorrer em uma variedade de situações sociais: em casa, na vizinhança, na igreja, na escola, no clube, no trabalho, em interações verbais entre pessoas com diferentes níveis de conhecimento sobre a língua. O produto final do processo de aquisição é o conhecimento linguístico – o conhecimento fonológico, lexical, gramatical, pragmático e sociolinguístico que pode permitir que os aprendizes falem e compreendam a nova língua em uma grande variedade de situações sociais e comunicativas. O que é necessário para adquirir esse tipo de conhecimento é exposição às informações linguísticas na forma de discursos situados produzido por falantes da língua em contextos de interação social que envolvam o aprendiz de uma forma ou outra (FILLMORE, 1998: 54 apud MOURA, 2009). A educação bilíngue apresenta-se como a possibilidade de desenvolvimento de uma segunda língua (Inglês, Alemão, etc.) além da primeira língua, neste caso, o Português. Importante salientar que a educação bilíngue não é ensino de idiomas, mas o uso de uma outra língua para se desenvolver saberes, o que a diferencia de institutos de idiomas. Uma escola bilíngue deve, antes de tudo, ser uma escola (HOEXTE, 2017). 11 Os modelos escolares de educação bilíngue, o bilinguismo é parte de um programa estruturado em uma escola, e a língua constitui meio de aprendizado e não apenas objeto de ensino. É importante deixar claro que, assim como educação não é sinônimo de escolarização, a educação bilíngue não é sinônimo de escola bilíngue, pois pode ocorrer em outros contextos, como vemos na definição de Fillmore acima (MOURA, 2009). É possível promover uma educação bilíngue fora de uma escola bilíngue, o que ocorre, por exemplo, em famílias que contratam ‘au pairs’ e preceptoras de outras nacionalidades para ensinar seus filhos a língua e a cultura de seus países. Hamers e Blanc (2000:189) descrevem educação bilíngue como “qualquer sistema de educação escolar no qual, em dado momento e período, simultânea ou consecutivamente, a instrução é planejada e ministrada em pelo menos duas línguas”. O ponto mais importante a destacar é que na educação bilíngue as línguas não são apenas objeto de estudo, mas também meios pelos quais os conteúdos das outras áreas de conhecimento são aprendidos. É possível que a língua seja também estudada em seus aspectos intrínsecos em programas de educação bilíngue para favorecer seu desenvolvimento e compreensão, mas deve ser meio de instrução para outras áreas como matemática, artes ou ciências por exemplo (MOURA, 2009). Assim, segundo o autor, programas escolares em que as línguas são ensinadas como uma disciplina, mesmo que em uma carga horária ampliada, não podem ser caracterizados como educação bilíngue. Os programas de educação bilíngue variam principalmente em relação ao status e aos objetivos de aquisição das línguas, que são sempre relacionados ao contexto social, político e econômico de cada lugar. Ferguson,Houghton e Wells levantam dez objetivos diferentes para a educação bilíngue segundo Moura (2009): • Assimilar indivíduos ou grupos na corrente predominante da sociedade; socializar pessoas para participação completa na comunidade. • Unificar uma sociedade multilíngue; trazer unidade a um estado diverso multietnicamente, ou linguisticamente multinacional. • Possibilitar que as pessoas se comuniquem com o mundo exterior. 12 • Prover habilidades linguísticas que são negociáveis, auxiliem na empregabilidade e no status. • Preservar identidade étnica e religiosa. • Reconciliar e mediar comunidades linguisticamente e politicamente diferentes. • Expandir o uso de uma língua de colonização, socializando uma população inteira a uma existência colonial. • Fortalecer grupos de elite e preservar sua posição na sociedade. • Dar status igual na lei a línguas de status desiguais na vida diária. • Aprofundar a compreensão de língua e cultura”. Vemos que os objetivos são muito diversos e por vezes antagônicos, e que os programas de educação bilíngue variam enormemente. Exemplos dessa variação podem ser encontrados nos programas de educação em Portugal nos quais imigrantes de Cabo Verde, falantes de crioulo, buscam manter língua materna e aprender ‘língua de acolhimento’, o que caracteriza um programa de bilinguismo de manutenção; ou imigrantes latino-americanos que são socializados em escolas públicas bilíngues nos Estados Unidos para que gradualmente se integrem ao sistema educacional local monolíngue, o que tem sido chamado de bilinguismo transicional, no qual a língua desprestigiada será gradualmente substituída pela língua de prestígio naquela sociedade, e o indivíduo passe a ser monolíngue. Como vemos, o status das línguas influencia grandemente as escolhas dos programas de educação bilíngue (MOURA, 2009). Apesar dessa variedade de contextos, há um consenso na literatura de que para ser considerado como educação bilíngue, um programa escolar deve ensinar às crianças as duas línguas e através das duas línguas, ou seja, as línguas são ao mesmo tempo objeto de ensino e meio de ensino, o que pretende assegurar desenvolvimento de bilinguismo e biletramento (MOURA, 2009). Assim, pode-se distinguir as escolas que ensinam uma segunda língua e as escolas que ensinam através da segunda língua. Quando a língua estrangeira é ensinada como disciplina, assim como ocorre com história, química ou matemática, a escola não é considerada bilíngue. “Quando o aprendizado de língua deixa de ser um 13 objeto por si mesmo, passando a ser usado para ensinar conteúdos em outras áreas do currículo, então educação bilíngue pode ser o termo apropriado”. Alguns teóricos buscaram organizar os modelos de educação bilíngue em categorias de análise buscando uma melhor compreensão do bilinguismo na escola. Uma síntese das formas de bilinguismo na educação organizada a partir dos objetivos de cada programa é proposta por Baker e Jones (1993:153) conforme o quadro, mais adiante, que apresenta sinteticamente dez modelos de educação bilíngue, os quais Mackey desdobra em até 90 variedades. Segundo Moura (2009) os termos fortes ou fracos não têm relação com juízos de valor, mas expressam a população contemplada pelo modelo e seu objetivo final. As formas fracas relacionam-se a um programa que atende crianças bilíngues, mas que tem como objetivo o monolinguismo ou o bilinguismo limitado, e uma visão que busca assimilar as minorias linguísticas nas correntes sociais majoritárias. As formas fortes de bilinguismo objetivam formar para bilinguismo e biletramento, em uma visão de multiculturalismo e diversidade de línguas. As formas ‘fracas’ de educação para o bilinguismo têm em comum uma visão compensatória do ensino da língua, no qual a criança deve mudar da língua que fala em casa para a língua da escola e da sociedade onde a escola se insere. Questões como a crise da identidade cultural e a baixa autoestima dos alunos relacionam-se à percepção do baixo status da língua (e, por extensão, da comunidade falante da língua e do aluno). Esses modelos são geralmente encontrados em sociedades de imigrantes ou de falantes nativos como as sociedades indígenas, e predominaram durante muitos anos na educação bilíngue. Atualmente ainda há uma grande polêmica a respeito da educação bilíngue em alguns países como os Estados Unidos. Alguns setores da sociedade civil e seus representantes defendem a redução do financiamento para programas de educação bilíngue para minorias, como crianças hispano-falantes, advogando pela sua assimilação o mais rapidamente possível às crianças das escolas regulares (MOURA, 2009). Programas de “english-only” (apenas inglês) apresentam argumentos contra os programas de educação bilíngue que vão desde os custos com a contratação de 14 professores específicos, falantes de línguas minoritárias, e com a confecção de material didático para uma parcela da população, até sua suposta “dificuldade” de inserção no mercado de trabalho, de adaptação à cultura dominante. Claramente, os argumentos são mais ideológicos do que teóricos, uma vez que o baixo status atribuído a essas comunidades é estendido às suas línguas e culturas, que nesta visão, não seria necessário preservar (MOURA, 2009). A visão de educação através da língua majoritária é vista como compensatória (das supostas dificuldades ou déficits linguísticos, estendendo-se a aspectos cognitivos, sociais e afetivos - das crianças). Assim ocorre em programas de bilinguismo transicional, compensatório ou subtrativo, que têm uma duração limitada, para que a língua materna seja substituída o mais cedo possível pela língua majoritária, assimilando a criança à sociedade, língua e cultura dominantes. As quatro formas de educação bilíngue consideradas fortes têm em comum o fato de um status social relativamente alto das línguas utilizadas, além do objetivo de manter um bilinguismo com maior ou menor grau de equilíbrio entre as línguas. Ambas as línguas são utilizadas como meio de instrução, e a duração dos programas é estendida por vários anos escolares no intuito de promover bilinguismo e biletramento (MOURA, 2009). 4.1 Classificação do ensino bilíngue A classificação do ensino bilíngue é defendida por Megale (2005, p. 6-8), a partir da definição de pelo menos três pilares fundamentais: a intensidade de exposição ao novo idioma, o objetivo do ensino e o status dessa língua. No que se refere à intensidade de exposição ao idioma, a autora descreve quatro tipos de ensinos segundo Hoexter (2017): • Bilinguismo Transicional: A língua materna é iniciada como facilitador na transição para a segunda língua (L2); • Bilinguismo monoletrado: as duas línguas são utilizadas durante as atividades escolares cotidianas, mas a alfabetização ocorre apenas na segunda língua; 15 • Bilinguismo parcial biletrado: as duas línguas são utilizadas para escrita e para comunicação na vivência escolar. No que se refere ao ensino das disciplinas, a língua materna (L1) é utilizada em matérias culturais, e a L2 é a língua de escolha para as demais disciplinas; • Bilinguismo total biletrado: os dois idiomas são usados simultaneamente buscando desenvolver todas as habilidades em todos os domínios. Freeman (1998) afirma que a ideia básica da educação bilíngue é a utilização de duas línguas para a instrução dos aprendizes. Mejía (2002) relata que há grande diferenciação entre a educação bilíngue de fato e a intensificação no ensino do segundo idioma. Esta assertiva corrobora a visão defendida neste estudo, de que não basta que uma escola se intitule como bilíngue, é preciso que ela ofereça aos alunos a educação bilíngue de fato e não apenas a intensificação no ensino de um segundo idioma (HOEXTER,2017). 4.2 Tipos de educação bilíngue Existe ainda hoje uma considerável confusão e conflito em determinar o que significa educação bilíngue, para quem são os programas bilíngues, que objetivos eles têm, para que população alvo e se o programa é ou pode ser efetivo. Este mal- entendido ocorre, uma vez que educação bilíngue pressupõe conceitos distintos em países e contextos diferenciados em função de questões étnicas, dos próprios educadores e legisladores e de fatores sociopolíticos. Um dos pontos desse “descompasso” é a grande variação de um contexto educacional bilíngue para outro dentro de um mesmo país e, principalmente, de um país para outro (FAVARO, 2009). Em outras palavras, para Freeman (1998), o mesmo termo (educação bilíngue), contudo, é utilizado para se referir a uma extensão de programas que podem variar em termos ideológicos, linguísticos e culturais, população alvo diferente e diferentes objetivos para estas populações [...]. Como resultado o que significa educação bilíngue e se o programa é efetivo tem sido e continua a ser uma fonte de confusão e conflito em nível político, na prática educativa e na imprensa popular (p.03) 16 Baker (2006) afirma que educação bilíngue é “um rótulo simples para um fenômeno complexo” (p.213) uma vez que esse mesmo termo é utilizado para descrever programas que promovem duas línguas, programas relativamente monolíngues para crianças com língua minoritária e escolas em que o alvo é somente a língua e, para tanto, aumentam o número de horas de instrução da língua estrangeira (BAKER, 2006 apud FAVARO, 2009). Ainda que diferentes modalidades de instituições, que utilizam outra língua como meio de instrução, se denominam escolas de educação bilíngue. Ou seja, escolas no Reino Unido nas quais metade das matérias escolares são ensinadas em inglês são denominadas escolas bilíngues. Escolas na União Soviética em que todas as matérias, exceto o Russo, são ensinadas em Georgiano são denominadas bilíngues. Escolas nos Estados Unidos nas quais o Inglês é ensinado como segunda língua são chamadas escolas bilíngues. Percebe-se, consequentemente, que o conceito de escola bilíngue tem sido utilizado sem qualificação para cobrir tamanha variedade de usos de duas línguas na educação (FAVARO, 2009). Tecnicamente, segundo Freeman (1998), educação bilíngue significa, em termos gerais, utilizar duas línguas para instrução. Na mesma linha, Brisk (2005) define a educação bilíngue como sendo aquela que: “[...] utiliza duas línguas como meio de instrução [...] educação bilíngue aparece em diferentes “formas ‟influenciadas por circunstâncias particulares, necessidades dos alunos e recursos” (BRISK, 2005 p.08 apud FAVARO, 2009). Ainda segundo os autores, as línguas escolhidas para esse tipo de educação serão as “majoritárias” do mundo, ou seja, Inglês, Francês, Espanhol, Alemão, italiano entre outras, assim como há muito tempo foram o Latim e o Grego. Uma importante distinção entre educação bilíngue e intensificação. A autora afirma que os dois termos são, em muitos casos, confundidos, já que em ambas as situações o objetivo educacional é o ensino de uma segunda língua. Mejía (2002) diz ainda que muitas escolas se denominam como escolas de educação bilíngue quando, na verdade, o 17 ensino desse segundo idioma se refere à intensificação. Na educação bilíngue, o idioma é ensinado como segunda língua (L2), ou seja, conteúdos escolares são ensinados através deste idioma e na intensificação, o idioma é ensinado como língua estrangeira (LE), há um acréscimo no número de horas de ensino de língua estrangeira (FAVARO, 2009). A autora exemplifica citando os programas de intensificação na Colômbia em que o número de horas de aulas de língua estrangeira chega a 10-15 horas semanais em comparação com as usuais 2-3 horas na semana nas escolas que não adotam esse modelo de ensino. Os programas de intensificação têm como foco o ensino- aprendizagem de aspectos linguísticos da língua estrangeira, ou seja, gramática, vocabulários, ortografia entre outros. Já que a língua estrangeira é o objeto de estudo e não instrumento de comunicação das áreas de conhecimento, mesmo que textos de outras áreas sejam utilizados (Ciências, Geografia, História etc.), o objetivo do trabalho são os aspectos linguísticos e não as questões conceituais da Geografia ou da História. No caso da educação bilíngue tanto a língua materna como a segunda língua, são os meios de ensino-aprendizagem, não apenas dos aspectos linguísticos, mas com igual importância dos conteúdos conceituais das áreas do conhecimento (Ciências, Matemática, Geografia etc.) (FAVARO, 2009). O foco na aprendizagem da língua está associado aos aspectos acadêmicos dentro da instituição escolar e, nesse contexto, o ensino-aprendizagem da língua é objeto e instrumento do ensino. Lyle French (2007) afirma que um ponto muito importante para diferenciar escolas brasileiras com aula de Inglês (língua-alvo) e escolas de educação bilíngue é que, no segundo caso, matérias do currículo são ensinadas na segunda língua e, no primeiro, as crianças aprendem a língua, o Inglês (FAVARO, 2009). Alguns autores diferenciam a educação bilíngue em três grandes modelos que podem na prática, se desdobrar em vários tipos de educação. Esses modelos são definidos em termos do seu planejamento de língua, seus objetivos, orientações ideológicas e diversidade cultural existente na sociedade; os tipos de programa são 18 definidos em termos de contexto específico e de características estruturais (FAVARO, 2009). Fonte: FAVARO, 2009. O primeiro, de transição, é um programa de educação no qual a língua-alvo (língua dominante) é o objetivo principal e a língua materna é um problema a ser contornado. Em outras palavras, procura ou objetiva que a criança passe da língua da família minoritária para uma língua dominante, ou seja, majoritária. O segundo, de manutenção, tambémobjetiva a língua dominante e tem a língua da comunidade como um direito e uma ponte de transição para a língua-alvo (FAVARO, 2009). No modelo de manutenção, os programas encorajam as crianças provenientes de famílias de língua minoritária a manter sua língua materna, enraizando suaidentidade cultural e afirmando seus direitos civis na sociedade em que vivem e somente aprendendo uma segunda língua, sem “custo” da sua língua materna. Esses dois modelos estão orientados para a inclusão de grupos étnicos ou de imigrantes em comunidades onde a língua materna não é a falada ou dominante.No último modelo, o de enriquecimento, tanto pessoas de comunidades minoritárias quanto aqueles que fazem parte da sociedade dominante utilizam a língua como recurso de comunicação em programas variados, como os de imersão em línguas estrangeiras e imersão bilíngue, entre outros.Tipos de programa são categorias mais concretas que os modelos (transição, manutenção e enriquecimento) anteriormente descritos (FAVARO, 2009). 19 Para Hornberger (1991), somente a análise específica do contexto e de características de estruturas permitea diferenciação de um programa bilíngue de outro ntes de apontar as características de cada tipo de educação bilíngue. Da mesma forma que Hornberger (1991) e Baker (2006) apresentam programas de educação bilíngue que são considerados eficazes, Mejía (2002) discute também vários modelos de educação em que se utilizaa língua materna e a segunda língua concomitantemente (FAVARO, 2009). 20 Notas: L2 = segunda língua (língua – alvo); L1= língua materna; LE = língua estrangeira; Lga = língua; Fonte: FAVARO, 2009. 4.3 Submersão O programa de submersão surgiu a partir da idéia de que quando crianças de grupos minoritários são colocadas em escolas de grupos majoritáriosrecebem o apelido de “submersion”. Portanto, submersão é um rótulo utilizado para descrever a educação oferecida para crianças de grupos de língua minoritária e que estudam em escolas regulares de educação. Nenhuma escola, contudo, se denomina “Escola de Submersão” (BAKER, 2006 apud FAVARO, 2009). Para demonstrar e caracterizar os programas de submersão, faz uma analogia como se as crianças de língua minoritária fossem jogadas em um lago fundo e se esperasse que elas aprendessem a nadar o mais rápido possível, sem a ajuda de bóias e aulas especiais de natação. Submersão de classes sociais diferentes já o tipo submersão de classes sociais diferentes existe em países onde ocorreu muita imigração e há uma procura para assimilar esses grupos minoritários (FAVARO, 2009). A educação do tipo regular pode ocorrer com ou sem aulas específicas para ensinar a língua majoritária. Assim, Baker (2006) afirma que crianças de língua minoritária podem ser “encaminhadas” para aulas compensatórias na língua majoritária. Este tipo de programa pode ser “fraco” ou “forte” e o que diferencia é que no tipo “fraco”, existem aulas de língua estrangeira para que os grupos minoritários sejam capazes de “acompanhar” as aulas ministradas em língua majoritária e no tipo 21 “forte”, utilizam-se duas línguas majoritárias diferentes para instrução. Ou seja, Baker (2006) afirma que nesses casos, a educação bilíngue se compromete com a utilização de duas ou mais línguas majoritárias para instrução escolar. Segregacionista Educação segregacionista (Segregationist Education) é um tipo de educação para grupos sociais minoritários e ocorre em países em que esses grupos minoritários são proibidos de estudar em programas ou escolas que atendem unicamente o grupo majoritário. Separatista Nesta mesma linha de pensamento, a educação separatista (Separatist Education) acontece em lugares onde pessoas de grupos minoritários procuram se desvencilhar dos grupos majoritários e perpetuar sua existência independente. Surge com o intuito de proteger os grupos minoritários de serem sobrepostos pelo grupo de língua majoritária, em sua política, religião, cultura entre outras coisas (FAVARO, 2009). 4.4 Bilinguismo transicional O tipo de educação bilíngue de transição (Transitional Bilingual Education) é o tipo mais comum nos Estados Unidos da América. Nesse tipo de educação, estudantes tiveram que ter uma transição rápida de suas línguas maternas para o Inglês. Para que esse objetivo seja alcançado, Freeman (1998) coloca que a língua é vista como “língua como problema” uma vez que a língua nativa é utilizada somente até o aluno adquirir Inglês suficiente para se transferir para as classes de falantes de Língua Inglesa em que as matérias curriculares são ensinadas somente naquele idioma. Em outras palavras, após um pequeno período de bilinguismo (língua materna e Inglês), os estudantes dos programas de transição dos Estados Unidos da América passam para o monolinguismo em Inglês. Manutenção ou educação bilíngue de enriquecimento (FAVARO, 2009). 22 A educação do tipo Manutenção (Maintenance ou Heritage Language) é o programa menos comum de transição nos Estados Unidos da América. A abordagem está em encorajar a língua materna, fortalecendo a identidade cultural da criança e suas raízes para então desenvolver a aprendizagem da segunda língua. Nessa perspectiva, “[...] crianças de língua minoritária utilizam suas línguas nativa, étnica, de casa ou de herança na escola como meio de instrução com o objetivo do bilinguismo completo” (BAKER, 2006: 238 apud FAVARO, 2009). Esse modelo de ensino objetiva o pluralismo cultural e a diversidade linguística em que se mantêm a língua materna e a cultura de cada criança, acrescentando a segunda língua. Nos programas chamados Heritage Language Programa são atendidas crianças de língua majoritária e minoritária o que os caracteriza como recursos nacionais e individuais. 4.5 Duas línguas (Dual Language) Os programas de Dual Language são os programas mais comuns e difundidos nos Estados Unidos e também no Canadá. Para alguns autores, como Freeman (1998), esses programas recebem o nome de Two-way Bilingual, Bilingual Immersion, Two- way Immersion ou Developmental Bilingual. Enquanto nos programas de Dual Language coexistem alunos de língua majoritária e minoritária, os programas de imersão são destinados à elite e, portanto, não atendem crianças de língua minoritária. 23 Fonte: FAVARO, 2009. Vale ressaltar, que o modelo 90:10, para Freeman (1998),também pode ocorrer em currículos que utilizam, nas primeiras séries, 90% do tempo a língua materna e 10% a língua-alvo. Aos poucos, a língua-alvo vai ganhando mais espaço até chegar ao modelo 50:50. Fonte: FAVARO, 2009. 24 Algumas escolas utilizam modelos intermediários a estes mostrados aqui, ou seja, 80:20, 70:30 ou outras proporções.O programa “Duas Línguas”deve ser desenhado de maneira que as línguas sejam separadas todo o tempo de instrução. A maneira de separação diferede programa para programa: alternando os dias, metade do dia para cada língua ou professores diferentes. Esta divisão de línguas depende da série do aluno, dos objetivos instrucionais e de outros fatores (FAVARO, 2009). De acordo com o autor, as mais comuns são a divisão de dias alternados ou dividir o dia ao meio(metade do dia para cada língua).Vale ressaltar queoprograma“Duas Línguas” objetiva mais que aaquisição dalíngua;de fato, buscao enriquecimento educacional dos alunos e, para que este seja alcançado, a instrução em duas línguas é a única maneira de se conseguireste objetivo. Programas de imersão Esse tipo de programa de imersão deriva de uma experiência educacional canadense nos anos 60. Lindholm-Leary (2006) define oprograma como sendo o método de instrução da língua estrangeira em que o currículo regular das escolas é ensinado através da segunda língua. Para essa autora,existem formas alternativas dos programas de imersão. Dois fatores servem para diferenciar as variações possíveis destes programas: A quantidade de instrução fornecida na segunda língua (imersão total ou parcial); A série em que a imersão começa (imersão cedo, tardia ou atrasada). Programas de imersão é um termo “guarda-chuva”, ou seja, abriga muitos tipos diferentes de educação, que se diferenciam de acordo com a idade em que as crianças entram na escola e com o tempo de exposição à língua-alvo (nos programas de imersão total, usualmente utiliza-se a língua-alvo em 100% do tempo) (FAVARO, 2009). 25 Fonte: FAVARO, 2009. Nos Estados Unidos da América,a imersão em duas línguas ocorre nas escolas em que há classes tanto de alunos que falam língua minoritária (Espanhol) quanto de alunos de língua majoritária (Inglês). Nesse modelo, as duas línguassão utilizadas para o ensino-aprendizagem dos conteúdos escolares e o status da língua materna e da língua-alvoé o mesmo. Baker (2006) afirma que inicialmente a língua-alvo é ensinada como objeto de estudo, mas logo passa a ser também o instrumento para ensinar conteúdos de outras áreas do conhecimento (FAVARO, 2009). Para Baker (2006) apud Favaro (2009), nos programas de imersão podem ocorrer dois tipos de bilinguismo distintos: bilinguismo aditivo e bilinguismo subtrativo. Para ele e para Lindholm-Leary (2006),bilinguismo aditivo se refere ao resultado positivo cognitivo do bilinguismo individual em que todos os estudantes têm a oportunidade de adquirir a segunda língua sem custo desua língua materna e de sua cultura. Mejía (2002) assegura que este tipo de educação bilíngue está, geralmente, relacionado à aquisição e aprendizagem de línguas de prestígios mundiais (línguas majoritárias) que são encaradas comosendo úteis para oportunidades futuras. Já no 26 caso do bilinguismo subtrativo,a aquisição de uma segunda língua substitui a língua materna já que esta geralmente é uma língua majoritária. Gradualmente, delimita-se até se extinguir o uso da língua materna que é vista como língua minoritária e de menos prestígiosocial e econômico. Para Lindholm-Leary (2006),os alunos são forçados a deixar de lado a língua de casa (língua materna) por uma língua mais necessária, útil e de prestígio nacional e internacional.Em seu texto, Mejía (2002) diz que o bilinguismo de elite está sempre associado ao bilinguismo aditivo que representa, definitivamente, uma vantagem social e econômica para as pessoas que acabam a escolarização dominandomais de uma língua. Geralmente, a população alvo desses programas necessitam ter fluência em mais de uma língua devido aseu estilo de vida, oportunidades de emprego e de educação.Para a autora, muitas das famílias que optam por colocar seus filhos em escolas internacionais ou bilíngues de elite acabam mudandode país devido a oportunidades profissionais e financeiras (FAVARO, 2009). Os programas de imersão, em sua maioria buscam com que as crianças aprendam as duas línguas (língua materna e língua-alvo) de maneira igual e, dessa forma, se tornem proficientes em ambas as línguas. Para isto, algumas modificações podem ser realizadas e,na maioria dos casos, a língua materna é pouco utilizada para instrução, principalmente nas primeiras séries, sendo o professor encorajado a responder na língua-alvomesmo que seu aluno tenha lhe falado na língua materna (FAVARO, 2009). 27 5 MODELOS E TIPOS DE PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO BILÍNGUE Fonte: sk.com Os modelos são definidos em termos dos objetivos dos planejamentos linguísticos e educacionais e das orientações ideológicas em relação à diversidade linguística e cultural na sociedade; já os tipos de programas são norteados pelas características contextuais e estruturais específicas. Por orientações, Hornberger (1991) entende a maneira como as línguas são vistas na sociedade, isto é, o valor, o status e as funções que elas têm na sociedade e as atitudes das pessoas em relação às línguas e aos seus falantes. Por características contextuais, ela quer dizer a natureza da população de alunos (nativos, imigrantes ou nativos em situação minoritária, número, status socioeconômico, L1, etc.) (MELLO, 2010). De acordo como autor características estruturais, designa a situação do programa na escola (se atinge toda a população de alunos ou se é destinado apenas a uma parcela), a distribuição das línguas no currículo (pela proporção do tempo de instrução, por períodos, por disciplinas) e os padrões de uso das línguas na escola (quais línguas são usadas para quais finalidades na sala de aula ou na escola como um todo). Essa distinção é importante porque permite compreender as diferenças entre os vários programas de ensino bilíngue –como e por que variam, suas orientações, suas características contextuais e estruturais específicas. 28 Três modelos de educação bilíngue: transicional, de manutenção e de enriquecimento. O modelo transicional caracteriza-se pelos seus objetivos assimilacionistas, por encorajarem os alunos das minorias linguísticas a assimilar a língua e as normas culturais da sociedade majoritária em detrimento das línguas étnicas. Os programas educacionais que adotam esse modelo valorizam a proficiência das crianças na língua dominante da escola (L2 para as minorias linguísticas) para que elas possam funcionar linguística e academicamente nas salas de ensino regular. A L1 é usada como meio de instrução durante uma fase temporária da escolarização, até que as crianças possam fazer a transição para a L2. Em muitos casos a assimilação (por exemplo, nos contextos em que as línguas concorrem de maneira bastante assimétrica, nos casos em que o uso da língua está decrescendo ou quando há um enfraquecimento da identidade cultural) pode significar a perda da língua e da cultura minoritária porque as crianças deixam de usar a L1 à medida que são pressionadas a usar a língua majoritária (MELLO, 2010). Em síntese de acordo com o autor: o objetivo principal desses programas não é o bilinguismo, mas o monolinguismo na língua majoritária. Os modelos transicionais concebem a língua como um problema e, por isso, a L1 só é usada até que a criança supere esse problema, isto é, a “deficiência” na língua majoritária. Na perspectiva de Lambert (1987), essa é uma orientação subtrativa de línguas. O modelo de manutenção, também denominado desenvolvimental, é caracterizado pelos seus objetivos pluralísticos, pelo encorajamento da manutenção da língua minoritária e pela reafirmação da identidade cultural e dos direitos civis dos grupos minoritários na sociedade nacional. Os programas que seguem essa orientação têm dois objetivos quanto ao planejamento linguístico: desenvolver a L1 e proporcionar a aquisição da L2 (MELLO, 2010). Assim como nos programas transicionais, nos de manutenção os alunos também são segregados em salas especiais (pull-out classe)para que recebam instrução por meio da L1, porém por um período maior do que os primeiros, para que eles tenham a oportunidade de desenvolver linguística e academicamente a língua minoritária enquanto adquirem a majoritária. Os programas que seguem esse modelo veem a 29 língua como um direito, incentivam a manutenção da língua minoritária e têm, portanto, uma orientação aditiva de porque não pressionam os alunos a usar apenas a língua majoritária, mas, ao contrário, esperam que eles sejam proficientes na L1 e L2 (MELLO, 2010). Segundo o autor, o modelo de enriquecimento é também caracterizado pelos seus objetivos pluralísticos e pela sua orientação aditiva de línguas, porém com a diferença de que, em termos de planejamento linguístico, os programas que seguem essa orientação são destinados tanto à população minoritária quanto à majoritária. A língua nesses programas é vista como um recurso tanto para os alunos das minorias linguísticas como para os do grupo majoritário. Espera-se que a língua minoritária não seja apenas preservada, mas, sobretudo, desenvolvida e usada como um recurso tanto para o indivíduo quanto para a sociedade nacional. Ela é mais do que um direito para os seus falantes, ela é um recurso potencial para os falantes da língua majoritária. De acordo com o autor, a estratégia usada nesses programas é a da não- segregação dos alunos em salas especiais, diferentemente do que ocorre em relação aos programas anteriores. Acredita-se que os alunos auxiliam-se mutuamente e juntos constroem o conhecimento linguístico (nas duas línguas) ou conteudístico (nas diversas disciplinas). Ao invés da separação dos alunos segundo as diferentes línguas, os programas que seguem o modelo de enriquecimento usam as duas línguas como meio de instrução e as distribuem no currículo de forma variada –por áreas do conhecimento, por períodos diários ou dias da semana, pela proporção do tempo alocado para cada língua ou por uma combinação desses critérios. Apesar de os programas de transição e manutenção também utilizarem a língua minoritária como meio de instrução para as crianças dos grupos minoritários, Freeman (1998) salienta que a diferença fundamental está no valor que é dado à língua minoritária. Nos programas que seguem o modelo de enriquecimento, a língua minoritária é oficialmente um meio legítimo de instrução não só para esses grupos, mas também para os alunos que falam a língua majoritária. Isso serve, segundo essa autora, para elevar o status da língua minoritária no contexto da escola e da comunidade nacional, 30 ao mesmo tempo em que estabelece uma política linguística multilínguede fato (MELLO, 2010). Modelos de educação bilíngue (adaptado de Hornberger (1991, p. 223). Fonte: MELLO, 2010. Essa classificação sugere que esses modelos podem dar origem a diferentes tipos de programas de ensino bilíngue, assim como qualquer tipo de programa pode ter orientações do tipo transicional, de manutenção ou de enriquecimento. Isso significa que um programa do tipo de imersão pode ser incluído em qualquer um desses modelos, dependendo de suas orientações, objetivos e características. Hornberger (1991) espera com essa tipologia oferecer critérios paralelos entre os programas no que concerne às suas características estruturais, contextuais e às orientações que fundamentam o planejamento linguístico da escola (MELLO, 2010). Os programas que se enquadram na categoria transicional são aqueles que têm recebido o maior número de críticas na literatura da área porque têm uma orientação subtrativa de línguas e, principalmente, porque classificam os alunos que falam a língua minoritária em termos de suas “deficiências”, estigmatizando-os aos olhos dos demais (MELLO, 2010). Os modelos de manutenção e de enriquecimento também têm seus opositores, que alegam que nos contextos multilíngues nem sempre se pode proporcionar instrução em todas as línguas faladas como L1 pela população de alunos, em virtude da falta de professores qualificados na língua minoritária, da falta de material didático adequado, da grande diversidade étnica numa mesma sala de aula,etc. Por essas razões, a escola acaba escolhendo uma ou duas entre várias línguas minoritárias. Outra alegação é a de que a instrução na L1 reduz o tempo de exposição dos alunos 31 à L2 (princípio da exposição máxima), prejudicando, assim, o desenvolvimento da proficiência na L2. Cummins (1996) apresenta uma discussão bastante esclarecedora acerca dos argumentos favoráveis e contrários aos modelos transicionais e de enriquecimento. Grosso modo, esse autor sugere que há aqueles que acreditam que as crianças não podem aprender numa língua que não compreendem. Para elas, a instrução na L1 é necessária para minimizar os efeitos negativos do descompasso entre a língua da escola e a língua da casa. Em oposição a essa abordagem, há aqueles que consideram ilógico pensar que uma menor exposição à L2 leva a um maior desenvolvimento nessa língua (MELLO, 2010). Para o autor parece fazer mais sentido proporcionar aos aprendizes exposição máxima à L2. Apesar da aparente plausibilidade de cada uma dessas posições, Cummins (1996) argumenta que essas duas hipóteses são inadequadas, pois a resposta para essas duas suposições estaria no princípio da interdependência linguística, isto é, a proficiência na L1 e a na L2 seriam interdependentes. Por essa razão, esse autor acredita que os modelos de enriquecimento são mais adequados quando o objetivo é o desenvolvimento de uma proficiência bilíngue de fato.Tomando como parâmetro a população-alvo, esse autor relaciona quatro tipos de programas de educação bilíngue. Os programas do Tipo I segundo Mello (2010) são aqueles destinados às populações indígenas–que foram conquistadas ou colonizadas em algummomento no passado –para reavivar ou resgatar o prestígio das línguas indígenas, a maioria delas sob ameaça de extinção. A exemplo do que ocorreu no Brasil e em muitos outros países, a maioria desses programas, no passado, tinha por objetivo ensinar a língua do colonizador e, dessa forma, promover a assimilação dos indígenas à sociedade dominante. Os programas do Tipo II visam à manutenção e revitalização de uma língua minoritária nacional, a exemplo do que ocorre no Canadá. A língua minoritária, nesse caso, tem –ou já teve –algum prestígio social ou é oficialmente reconhecida. A maioria desses programas é do tipo de imersão na língua-alvo ou de duas línguas. Os programas do Tipo III envolvem as línguas minoritárias internacionais, geralmente 32 aquelas usadas por imigrantes no país que os recebeu. A maioria dos programas bilíngues dos Estados Unidos se enquadra nessa categoria e tem como população- alvo as crianças que falam em casa uma língua diferente da língua da escola. Muitos são do tipo transicional e se propõem a facilitar a aquisição de conhecimentos e o desenvolvimento acadêmico dos alunos (MELLO, 2010). Segundo o autor os programas do Tipo IV, destinados ao grupo linguístico majoritário, têm por objetivo adicionar uma segunda língua ao repertório linguístico dos alunos. É o caso, por exemplo, tanto dos programas de duas línguas no Canadá quanto dos de imersão na língua-alvo oferecidos pelas escolas internacionais no Brasil, estes últimos referidos como programas bilíngues de elite oubilinguismo de escolha (CAVALCANTI,1999 apud MELLO, 2010). Essa classificação não é estática. Em algumas situações, alguns programas podem ser classificados tanto como Tipo I ou II, a exemplo da comunidade Quéchua no Peru,que é vista como população indígena. Em outras situações, os programas do Tipo II e III são convergentes, ou melhor, sobrepõem-se como no caso dos programas bilíngues americanos (inglês-espanhol) que atendem às comunidades hispânicas nativas e aos grupos de imigrantes hispânicos recentes. Os programas de duas línguas (Tipo IV) também podem ser considerados como Tipo II e III porque também servem às minorias linguísticas em alguns contextos (MELLO, 2010). Tipos de programas bilíngues(elaborado com base em Cummins (1996). Fonte: MELLO, 2010. 33 5.1 Programas de imersão Os programas de imersão do tipo canadense são, segundo Genesee (1987, p. 1), “uma forma de educação bilíngue na qual os alunos que falama língua da maioria da população recebem uma parte de sua instrução por meio de uma segunda língua e outra parte por meio de sua primeira língua” (Tipo IV na classificação de Cummins). A distribuição das línguas no programa é feita, geralmente, com base no número de horas de instrução e nas disciplinas do currículo ou nos períodos de instrução (diários ou semanais). Por exemplo, L1 e L2 são usadas numa proporção de 10-90% ou 40-60%, respectivamente, do tempo total de instrução; ou a L1 é usada para ministrar matemática e ciências, enquanto a L2 é usada para geografia e história, além da instrução das línguas propriamente ditas (francês-inglês, por exemplo); ou a L1 é usada no período da manhã e a L2 no período da tarde; ou ainda de acordo com os dias da semana (segunda, quarta e sexta-feira: francês; terça e quinta-feira: inglês) (MELLO, 2010). De acordo com o autor o tipo mais comum é o de imersão total. Geralmente, nesse tipo de programa, a L2 é a única língua de instrução durante os primeiros anos escolares da criança ( jardim-de-infância até o 2ºano do ensino fundamental ); posteriormente, a L1 vai sendo introduzida no currículo numa proporção que pode variar de 10% a 50% do total das horas de instrução. Como o objetivo desses programas é a proficiência nas duas línguas, uma de suas características marcantes é o uso da L2 para a instrução de conteúdos variados em classes mistas, isto é, que reúnem alunos dos grupos minorizadose majoritário. Espera-se, assim, que a aprendizagem da L2 seja acidental e ocorra naturalmente no convívio com falantes nativos das duas línguas, ao invés de formal e puramente centradas no ensino das estruturas da língua (MELLO, 2010). Ainda segundo o autor os programas americanos de imersão têm, geralmente, orientações e objetivos diferentes. Alguns são também conhecidos como programas de submersão(sink or swim), que, são aqueles nos quais as crianças dos grupos minorizados são colocadas nas classes regulares ministradas apenas em inglês, sem 34 que a escola ofereça qualquer tipo de apoio formal para que os alunos adquiram a língua-alvo. Cabe à professora daquele ano,que em geral não é proficiente na L1 das crianças, lidar com os problemas que elas possam ter. Para os adeptos desses programas as crianças adquirem rápida e facilmente a línguaestrangeira quando interagem naturalmente com falantes nativos. Por isso, acreditam que quanto mais cedo elas se integram na sociedade receptora, maiores são as chances de sucesso acadêmico. Na verdade, os programas de submersão não são bilíngues, a não ser pelo fato de que atendem uma população que fala uma língua diferente da língua da escola. Os programas americanos de imersão mais comuns (Tipo III na classificação de Cummins), por sua vez, incluem a instrução na L1 das crianças durante os primeiros anos de escolarização, até que elas possam participar linguística e academicamente das classes regulares. Em geral, essa instrução ocorre em salas especiais ou de ESL. As aulas de ESL têm por objetivo acelerar o desenvolvimento da competência em inglês e são, geralmente, centradas na instrução da língua. Esses programas pressupõem que a instrução formal na L2 é benéfica para o desenvolvimento da proficiência linguística dos alunos e, por isso, segregam os alunos em salas especiais. Uma das críticas a esses programas é que, por terem uma orientação transicional, a diversidade linguística é vista como um problema a ser superado pelas crianças que falam uma língua diferente da língua da escola e, dessa forma, elas correo risco de serem consideradas linguística eacademicamente deficientes.Outras variações dos programas de imersão são aqueles denominados imersão em duas-línguas, ou imersão deduas-vias, imersão bilíngue, programas deenriquecimento, entre outras (MELLO, 2010). Esses programas são cada vez mais comuns no Canadá e Estados Unidos e diferem dos anteriores, principalmente, quanto à orientação, objetivos e estrutura. São mais conhecidos como programas de enriquecimento porque têm uma orientação aditiva de línguas, isto é, as línguas minoritária e majoritária são vistas como um recurso para toda a população de alunos. Na prática, isso significa que os alunos dos grupos minorizadosaprendem a língua majoritária, enquanto os alunos do grupo majoritário aprendem a língua minorizada. Dessa forma, espera-se que ambas as 35 línguas tenham prestígio dentro da escola e que os alunos desenvolvam atitudes positivas em relação às línguas e aos seus falantes, independentemente de pertencerem aos grupos minorizadoou majoritário (MELLO, 2010). As variações para os programas de imersão não se esgotam por aí, pois estão condicionadas às variáveis contextuais e estruturais, conforme já foi mencionado. A partir das tipologias sugeridas por Hornberger (1991), Cummins (1996) e Genesee (1987) pode-se perceberque várias são as combinações possíveis em relação aos tipos de educação bilíngue. Variações dos programas de imersão(elaborado com base em Hornberger (1991), Cummins (1996) e Genesee (1987). 36 Fonte: MELLO, 2010. Portanto, para compreender como um programa funciona é necessário que se saiba como ele se relaciona com os múltiplos níveis do contexto em que está situado, incluindo a sociedade maior, a comunidade local, a escola e a sala de aula. Freeman (1998) chama a atenção para a complexidade do processo de planejamento e implementação de um programa de educação bilíngue, pois é preciso que se leve em conta o que significa educar uma população linguística e culturalmente diferente, em termos ideológicos e práticos, e como a escola e a comunidade juntas podem estabelecer objetivos e meios. Trata-se, portanto, de uma tarefa complexa, mas viável e desafiadora, como todo e qualquer empreendimento educacional (MELLO, 2010). 37 6 O SISTEMA EDUCACIONAL E A LEGISLAÇÃO DAS ESCOLAS BILÍNGUES DE EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL Fonte: simpleeducation.com A educação bilíngue consiste na aprendizagem de duas línguas. Entretanto, algumas escolas promovem apenas a intensificação de um segundo idioma, nos moldes de língua estrangeira como fim, e não como meio, e não a aprendizagem efetiva por parte dos alunos (HOEXTE, 2017). Segundo autor, muitas escolas que se denominam bilíngues apenas enfatizam o ensino do segundo idioma. Mas, isto não é suficiente para caracterizar uma educação bilíngue. Nesse mesmo sentido, Cozendey et al. (2013) afirmaram que a educação bilíngue deve associar os mais diversos conteúdos didáticos ao trabalho com a língua. A segunda língua tem que ser considerada como uma ferramenta para o estudo de outros conteúdos. O desenvolvimento do bilinguismo no Brasil é resultado direto de uma maior demanda mercadológica, que em grande parte se deve à pressão exercida por pais de alunos de escolas regulares. Segundo os padrões de ensino praticados no Brasil, o autor afirma que o aluno bilíngue formado em escolas dessa modalidade no país terá “algum nível de proficiência nas quatro habilidades”, ou seja, conseguirá falar, ler, ouvir e interpretar em graus variados o segundo idioma (HOEXTE, 2017). 38 Na classificação realizada por Marcelino, os bilíngues simultâneos, que “crescem em contato com as duas línguas desde a primeira infância” terão maior êxito na aprendizagem do segundo idioma. É com base nesta teoria que o referido autor acredita que a cada dia mais pais buscam o ensino bilíngue no país, já na Educação Infantil. Ao optar por inserir os filhos no contexto bilíngue, os pais “[...]veem nas escolas bilíngues a comodidade perfeita para se conseguir duas funções tão importantes e necessárias na educação de seus filhos: uma educação de qualidade e o ensino de um idioma.” (MARCELINO, 2009., p.2 apud HOEXTE, 2017). Muitos pais acreditam que a escola bilíngue pode oferecer uma formação mais completa do que a ofertada pelas escolas tradicionais, pois a criança estaria imersa em um segundo idioma e, consequentemente, em uma segunda cultura. Levando-se em conta que o conhecimento do idioma inglês, por exemplo, tem se tornado cada vez mais importante para as relações sociais e de trabalho, a aquisição de um segundo idioma já na infância traria vantagens para a criança na vida adulta. Gresele et. al. (2013) afirmam que existem dois tipos fundamentais de bilinguismo, o simultâneo, ou seja, em que há exposição precoce do indivíduo a duas línguas e em diferentes ambientes e o sucessivo, em que a aquisição da segunda língua se processa mais tardiamente, após o domínio da língua materna. Os autores relatam ainda que por muitos anos o bilinguismo foi considerado “prejudicial ao desenvolvimento cognitivo, linguístico e educacional”. Os defensores de tal ideia afirmavam que o contraste entre diferentes regras semânticas, pronúncias e pormenores linguísticos acabava por influenciar negativamente o desenvolvimento neurolinguístico. Contudo, com o avanço tecnológico e a realização de novos estudos, verificou- se que os sujeitos bilíngues apresentam uma série de vantagens quando comparados aos monolíngues, como melhores habilidades verbais e não verbais, benefícios relacionados às tarefas metalinguísticas, melhor capacidade cognitiva, maior memória e atenção, além de “possíveis alterações cerebrais estruturais, funcionais e de lateralização” (GRESELE et. al., 2013 apud HOEXTE, 2017). No Brasil, as escolas de Educação Infantil bilíngue, mesmo que afirmem optar, por exemplo, pelo sistema de imersão, o fazem de formas diversas. Um estudo realizado por Hoexter (2015) com quatro gestores de escolas bilíngues, com aprendizagem do Inglês como segunda língua, de Educação Infantil no município de 39 São Paulo, no ano de 2015, possibilitou a elaboração do quadro, no qual é possível observar o panorama metodológico adotado pelas escolas bilíngues no Brasil e idade de início de ensino das mesmas (HOEXTE, 2017). Metodologiasde ensino bilingue. Gestor Início do ensino Metodologia Particularidades G1 18 meses de idade Imersão Até 4 anos imersão L. Inglesa. Após 4 anos imersão L. Portuguesa + 2horas diárias de inglês. G2 18 meses de idade Contato Intensivo Educação Infantil: contato intensivo L. Inglesa. Ensino Fundamental e médio: conteúdos e disciplinas em inglês + preparação para exames de Cambridge. G3 2 anos de idade Imersão Até 4 anos imersão L. Inglesa. Após 4 anos, maior contato com a L. Portuguesa. G4 18 meses de idade Imersão Imersão L. Inglesa até 3 anos. Formalização da leitura e escrita nos dois idiomas Fonte: HOEXTER, 2017. De acordo com o autor, gestores participantes da referida pesquisa afirmaram que as crianças permanecem por um período imersasapenas na língua inglesa e, posteriormente, passam a ter contato com a língua portuguesa. Isso ocorre por uma exigência do Ministério da Educação de que a língua portuguesa, a partir da Educação Infantil, deve ser de pelo menos 60%, enquanto a segunda língua deve ser no mínimo 25%. Uma das dificuldades em trabalhar apenas com a língua inglesa é que as famílias 40 das crianças nem sempre são bilíngues. As escolas participantes das pesquisas são escolas bilíngues de Inglês, mas a situação mais típica em sala de aula para as crianças é que suas famílias não são bilíngues e o idioma inglês não é praticado em casa. As crianças compartilham o idioma inglês na escola, na interação com outras crianças e com os professores. Deste modo, a criança vive uma realidade na escola – falando apenas um idioma, a segunda língua – e outra em sua casa, falando apenas o idioma português. Esse é um dos motivos que leva o Ministério da Educação a exigir que se trabalhe os dois idiomas, o Português (língua mãe) e o segundo idioma, devendo a escola bilíngue trabalhar com, no máximo, 50% de cada idioma. Mesmo sendo uma escola bilíngue, é preciso seguir o currículo do Ministério da Educação, com as disciplinas apresentadas em idioma português (HOEXTE, 2017). Não existe no Brasil uma regulamentação específica para o ensino bilíngue, de modo que cada escola possui o seu próprio projeto pedagógico, contudo, esse projeto deve seguir as orientações do Ministério da Educação para a educação formal – Ensino Infantil, Ensino Fundamental ou Ensino Médio, conforme a caracterização da escola Atualmente, com os avanços das tecnologias da informação e comunicação, ocorre uma mistura de culturas e línguas que impacta na vida social. O bilinguismo se tornou importante, uma vez que muitas pessoas são capazes de compreender, falar ou escrever em mais de um idioma. Como resultado, um dos efeitos dessa mudança de paradigma é o crescimento da educação bilíngue e ensino de línguas no Brasil (HOEXTE, 2017). Para atuar em uma escola bilíngue, ainda que seja apenas de Educação Infantil, os professores precisam ter formação em Pedagogia e ser especializados nesse idioma, ou seja, precisam ser formados em Letras com especialização em língua inglesa. A linguagem deve ser acessível e aceita como um instrumento prático para os professores usarem em sua rotina em sala de aula. Sobre a teoria de Vygotsky no ensino da segunda língua, a linguagem constitui uma ferramenta social para a comunicação. A importância da construção de sentido no ato da aprendizagem é um tema fundamental para as escolas bilíngues. Os alunos aumentam suas competências em uma segunda língua quando conseguem dominar as habilidades do idioma. Porém, 41 demasiada concentração apenas em habilidades poderia privar os alunos de se envolverem com os aspectos da alfabetização, construção de sentidos, competências, fluência e flexibilidade para lidar com textos de uma segunda língua como leitores e escritores. Porém, este é um aspecto que os dados obtidos com esta pesquisa não têm como iluminar. Portanto, nas escolas bilíngues, o ensino da segunda língua deve visar ao desenvolvimento de competências dos alunos para a fala, a leitura e a escrita desse idioma estrangeiro (HOEXTE, 2017). A regulamentação existente para as escolas bilíngues ainda possibilita que elas atuem de formas variadas, portanto, não existe um projeto pedagógico com parâmetros específicos para estas escolas, possibilitando uma ampla gama de métodos pedagógicos para a educação bilíngue. É necessário que seja estabelecida uma regulamentação por parte do Ministério da Educação, com parâmetros mínimos para a classificação e avaliação da qualidade de uma escola bilíngue no Brasil. É preciso ainda maiores informações sobre o bilinguismo, e o esclarecimento de que o ensino bilíngue constitui o conhecimento de um segundo idioma de fato e não apenas uma intensificação com uma segunda língua (HOEXTE, 2017). 42 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ABREU-TARDELLI, O trabalho do professor em EAD na lente da legislação. IN: MACHADO, Anna Rachel (org). O Ensino como trabalho. Uma abordagem sócio discursiva. Londrina: Eduel, 2004. ADELE W. MICCIO, A. W., HAMMER, C. S. E TORIBIO, A. J. Linguistics and speech- language pathology: Combining research efforts toward improved interventions for bilingual children. The Pennsylvania State University, University Park, 2000. ANGELIS, G. Third or additional language acquisition. Clevedon, Buffalo, Toronto: Multilingual Matters, 2007. 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