Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Rodrigo INTRODUÇÃO • Terminologia antiga → insuficiência renal aguda; lesão renal aguda. • Conceito: redução abrupta da função renal que se mantém por períodos variáveis, resultando na inabilidade dos rins em exercer suas funções básicas de excreção e manutenção da homeostase hidroeletrolítica e ácido-básica do organismo. Obs.: tempo de redução da função renal → 90 dias → doença renal crônica. EPIDEMIOLOGIA • Incidência: 61 até 1811 por milhão de habitantes. • IRA hospitalar: até 7% dos pacientes. • IRA na UTI: até 50% dos pacientes. • Setor de internação: 68% clínicos, 21% cirúrgicos e 11% obstétricos. • Mortalidade gira entre 20 a 40% podendo chegar até 70 a 80%. FATORES DE RISCO • Não modificáveis: idade avançada, DM, HAS, aterosclerose, doença renal crônica, IC, insuficiência hepática e câncer. • Modificáveis: sepse, hipovolemia/desidratação, IC, obstrução urinária, rabdomiólise, síndrome hepatorrenal, grandes cirurgias, síndrome compartimental abdominal, mieloma múltiplo, lise tumoral, contraste, AINH, antibióticos, quimioterápicos, animais e plantas venenosas, leptospirose, malária, diarreia e outras infecções. PONTOS IMPORTANTES NA IRA • Diagnóstico precoce. • Evolução para doença renal crônica. • Quanto maior o estágio da IRA, maior a taxa de mortalidade. CLASSIFICAÇÃO E ESTÁGIOS DA IRA Acute Kidney Injury Network (AKIN) FISIOPATOLOGIA • É comum a causa de IRA ser multifatorial. Vasconstricção arteriolar aferente: ↑ adenosina, endotelina (ET1), angiotensina II e tromboxano A2; ↓ de NO, PGE1 e PGI2. Liberação de renina depende da quantidade de sódio que passa na mácula densa. IECA: inibe a angiotensina II → vasodilatação da arteríola eferente → TFG diminui. Só suspende o IECA se aumentar em 30% a creatinina ou em situações de IRA. DIAGNÓSTICO • Vigilância dos pacientes com fatores de risco. • Biomarcadores: creatinina e ureia. • Volume da diurese. • Análise urinária. • Sintomas e sinais clínicos. BIOMARCADORES • Creatinina (113 Da): ✓ Desidratação não enzimática da creatina no fígado. ✓ 95% de toda creatina está no músculo. ✓ Marcador tardio na IRA. ✓ Fatores que influenciam: ↓ insuficiência hepática e massa muscular, idade avançada, raça branca, ↑ da água corporal total e trauma, febre e imobilização. 2 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Rodrigo • Ureia (60 Da): ✓ Catabolismo de aminoácidos e proteínas. ✓ Produzida no fígado. ✓ Também excretada pelo suor e degradada por bactérias intestinais. ✓ Fatores que aumentam a ureia: glicocorticoides, hormônios tireoidianos, catabolismo proteico aumentado, ingestão excessiva de proteínas, dieta parenteral, choque hipovolêmico, desidratação, ICC descompensada, absorção de grandes hemorragias, infecções maciças ou toxemias, uso de tetraciclina. NOVOS MARCADORES • Cystatin C. • Kidney injury molecule-1 (KIM-1). • Neutrophil gelatinase-associated lipocalin (NGAL). • Cysteine-rich protein 61 (Cry61). • Na+/H+ exchanger isoform 3 (NHE3). • N-acetyl-glucosaminidase (NAG). • Y-Glutamyl Transpeptidase. • Alfa-glutathione S-transferase. VOLUME URINÁRIO • É mais precoce e sensível. • Menos específico. • Oligúria (< 400ml/dia): produção de constituintes osmoticamente ativos é de 600mOsm/dia; capacidade máxima de concentração urinária é de 1.200mOsm/L. • É influenciado por: desidratação, reposição parenteral, diuréticos e tipo de IRA. • IRA isquêmica. • Depleção de volume. • Volume sanguíneo efetivo diminuído: ICC, cirrose, síndrome nefrótica e sepse. • Vasoconstricção renal: síndrome hepatorrenal, hipercalcemia, AINH e ciclosporina. APRESENTAÇÃO CLÍNICA • História: ✓ Perda de volume (diarreia, sangramento). ✓ Doença cardíaca. ✓ Doença hepática. ✓ Evidência de infecção. ✓ Uso de diurético. ✓ Sede. ✓ Sintomas ortostáticos. • Exame físico: PA e pulso, mudanças ortostáticas da PA, turgor da pele, hidratação das mucosas e axila, turgência das veias do pescoço, exame cardiopulmonar e edema periférico. ✓ PAS < 20 mmHg ou PAD < 10 mmHg → hipotensão postural. • Tratamento: correção do déficit de volume, descontinuar causas que influenciam a hemodinâmica renal (AINH, diuréticos e IECA) e otimizar a função cardíaca. • Obstrução do trato urinário: ✓ Nível da obstrução: alta (ureteral) ou baixa (bexiga ou uretra). ✓ Grau da obstrução: parcial ou completa. APRESENTAÇÃO CLÍNICA • Obstrução alta: ✓ Intrínseca: nefrolitíase, necrose papilar, coágulo e carcinoma urotelial. ✓ Extrínseca: câncer retroperitoneal ou da pelve, câncer de colo de útero, fibrose retroperitoneal, endometriose e aneurisma de aorta abdominal. • Obstrução baixa: HPB, câncer de próstata, estenose urotelial, cálculo vesical, coágulo, bexiga neurogênica e câncer de colo de útero. • História: ✓ Sintomas de obstrução vesical (urgência miccional, nictúria, jato fraco, frequência urinária aumentada, resíduo urinário, anúria). ✓ Dor lombar. ✓ Hematúria. ✓ Câncer pélvico. • Exame físico: ✓ Massa supra-púbica. ✓ Massa pélvica. ✓ Aumento da próstata. ✓ Adenopatia inguinal. • Estudo de imagem: ✓ Ultrassom: - Volume residual (>100mL é consistente com disfunção da bexiga). - Bexiga com parede espessada. - Sinal de dilatação pielocalicial e ureteral (ureterohidronefrose). ✓ TC sem contraste USG mostrando Hidronefrose 3 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Rodrigo • Necrose Tubular Aguda (NTA). • Nefrite Intersticial Aguda (NIA). • Glomerulonefrite aguda (GNA). • Síndromes vasculares agudas. • Obstrução intratubular. • Nefrotoxicidade por drogas. NECROSE TUBULAR AGUDA • Curso clínico clássico: ✓ Fase inicial: período de exposição à lesão. ✓ Fase oligúrica: diurese < 500ml / 24h (10 a 14 dias). ✓ Fase poliúrica: diurese > 2500ml / 24h. ✓ Fase de recuperação: até 30% dos pacientes podem continuar em diálise após a alta. • Isquêmica: IRA pré-renal prolongada, hipotensão, choque hipovolêmico, PCR e grandes cirurgias. • Sepse • Nefrotóxica ✓ Induzido por drogas: radiocontraste, aminoglicosídeos, anfotericina B, ciclosporina, cisplatina e paracetamol. ✓ Nefropatia por pigmento: hemoglobina e mioglobina. NEFRITE INTERSTICIAL AGUDA • Insuficiência renal aguda devido à infiltração linfocítica no interstício. • Tríade clássica: febre + rash cutâneo + eosinofilia. • Súmario rico. • Induzido por drogas: penicilinas, cefalosporinas, sulfonamidas, rifampicina, fenitoína, furosemida e AINH. • Malignidade • Idiopática • Infecção: bacteriana, viral, ricketsia e tuberculose. • Doenças sistêmicas: LES, sarcoidose, síndrome de Sjögren e nefrite túbulo-intersticial com uveíte. GLOMERULONEFRITE AGUDA • Apresentação nefrítica: proteinúria, hematúria e cilindros hemáticos. • Biópsia renal. • Etiologia: ✓ Glomerulonefrite pós-estreptocócica. ✓ Glomerulonefrite pós-infecciosa. ✓ Endocardite. ✓ Vasculites. ✓ Microangiopatia trombótica: - Síndrome hemolítica urêmica. - Púrpura trombótica trombocitopênica. ✓ Glomerulonefrite rapidamente progressiva. SÍNDROMES VASCULARES AGUDAS • Tromboembolismo de artérias renais. • Dissecção de artérias renais. • Trombose de veias renais. • Doença ateroembólica. Doença ateroembólica OBSTRUÇÃO INTRATUBULAR • Depósito intratubular de cristais ✓ Síndrome de lise tumoral: - Nefropatia aguda por urato. ✓ Toxicidade por Etilenoglicol: - Depósito de oxalato de cálcio. • Depósito intratubular de proteína ✓ Mieloma múltiplo: - Proteína de Bence-Jones. • Depósito de pimentos ✓ Mioglobina. 4 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Rodrigo ✓ Bilirrubina. MANIFESTAÇÕES DA IRA • Balanço positivo de água. • Balanço positivo de Na. • Balanço positivo de K. • Hipocalcemia e hiperfosfatemia. • Complicações infecciosas.• Hemorragia digestiva. • Insuficiência cardíaca, arritmia, pericardite. • Encefalopatia urêmica. MANEJO E TRATAMENTO DA IRA • IRA pré-renal ✓ Repleção de volume. ✓ Suporte inotrópico. ✓ Suporte pressórico. ✓ Descontinuar diuréticos. • IRA renal ou intrínseca ✓ Tratamento específico (uso de corticóide ou imunossupressores, hidratação vigorosa se hipovolemia, alopurinol, antibiótico). ✓ Suporte geral: - Manejo de fluidos e otimização hemodinâmica. - Diuréticos. - Controle do potássio. - Controle da água corporal e sódio. - Ajuste das drogas. - Nutrição. • IRA pós-renal ✓ Cateterismo vesical. ✓ Nefrostomia ou cateterização dos ureteres. ✓ Reposição de fluídos após desobstrução. • Tratamento dialítico ✓ Utilizado quando todas as medidas clínicas falharam e o paciente apresentar azotemia e sinais e sintomas graves de insuficiência renal. ✓ Oligúria ou anúria. ✓ Hipercalemia (>6,5 mEq/L) ou hipermagnesemia (>4 mg/dl). ✓ Sobrecarga de volume. ✓ Acidose refratária (pH <7,1). ✓ Sintomas urêmicos. ✓ Hipertermia. ✓ Intoxicação exógena. ✓ Valor de creatinina e ureia? ✓ Hemodiálise convencional. ✓ SLED. ✓ Terapias contínuas (SCUF, CVVHD, CVVH, CVVHDF). ✓ Diálise peritoneal. NEFROTOXICIDADE • Tipos de lesão: 1. Glomerular. 2. Intersticial. 3. Tubular. 4. Litíase. • Objetivos: ✓ Identificar as drogas nefrotóxicas como causa de IRA. ✓ Identificar as drogas que necessitam de ajuste da dose na IRA ou DRC. ✓ Saber fazer o ajuste das drogas. • Principais fármacos: aminoglicosídeos (gentamicina, amicacina), AINH, aciclovir, ciclosporina, cisplatina, ifosfamida, IECA/BRA, lithium, inibidores da protease (atazanavir, indinavir), IBPs, polimixina, rifampicina, sulfametoxazol-trimetoprim, teicoplanina, tenofovir e vancomicina. NEFROPATIA POR CONTRASTE ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO RECOMENDAÇÕES • TFG > 60 ml/min/1,73m² 1. Suspender metformina, drogas nefrotóxicas, IECA ou BRA. • TFG 30-59 ml/min/1,73m² 1. Suspender metformina, drogas nefrotóxicas, ECA ou BRA. 2. SF 0,9% 1ml/kg/h 12h antes do procedimento e 12h após. 3. Contraste de baixa osmolalidade ou iso-osmolar (DM e IC). • TFG < 30 ml/min/1,73m² 1. Suspender metformina, drogas nefrotóxicas, IECA ou BRA. 2. SF 0,9% 1ml/kg/h 12h antes e 12h após. 3. Contraste iso-osmolar. 4. Discutir sobre diálise e controle da creatinina.
Compartilhar