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Resumo da Malu – 2020.1 Vitamina A – Retinóides e Carotenoides Histórico → Egito Antigo: • Consumo de fígado de galinha para tratar indivíduos com baixa acuidade visual noturna → 1913: • McCollum e colaboradores – descobriram a vitamina A ao correlacionar a mesma com a manutenção do epitélio e do crescimento celular, e posteriormente, como um fator nutricional essencial para a visão → 1929: • Moore – mostrou que os carotenoides quando oxidados podem gerar vitamina A propriamente dita - Transformação de carotenoides em retinol → 1930: • Identificou-se a estrutura química do retinol → composto principal representante do grupo de compostos designado como vitamina A Características Químicas • É um conjunto de compostos com potencial para atividade dessa vitamina • Dentre eles: Retinóides e carotenóides • É lipossolúvel – ou seja, ambos são relativamente solúveis na maioria dos solventes orgânicos e insolúveis em água → Retinóides: • São compostos de vinte carbonos • Contém um anel beta-ionona + cadeia lateral de ligações duplas conjugadas • Existem diferentes retinóides com destaque o retinol • Retinol: - É o mais bioativo - Presente nos alimentos na forma de ésteres de retinol de cadeia longa (retinol-éster) • Éster de retinol: - É um álcool - Ao sofrer modificações químicas pode dar origem a uma serie de outros compostos, como o palmitato de retinol (retinal) e a tretinoina (ácido retinóico) - Apesar dessas alterações do retinol, a estrutura básica da molécula não se altera → as características básicas da vitamina A são mantidas → Carotenóides: • São pigmentos naturais derivados do isopreno • Constituídos por átomos de carbono dispostos em um sistema extensivo de ligações duplas conjugadas • Presentes nas formas de isômeros cis e trans (mais comuns e mais estáveis) • Conversão de carotenóides em retinol: • O beta-caroteno é o principal carotenóide com atividade de pró-vitamina A → pois a partir de uma molécula de beta-caroteno é possível produzir duas moléculas de retinol, enquanto os outros carotenóides geram apenas uma molécula de retinol ou nenhuma (não possuindo atividade de pró-vitamina A, como a luteína) • Atividade vitamínica de compostos retinóides: - Trans-retinol – apresenta 100% de atividade de vit. A - Ácido retinóico – apresenta 90% de atividade - 13-cis-retinol – apresenta 75% de atividade • Atividade vitamínica de compostos carotenóides: - Beta-caroteno – apresenta 16,7% de atividade Resumo da Malu – 2020.1 - Alfa-caroteno – apresenta 8,3% de atividade - Gama-caroteno – apresenta 8,3% de atividade • Dos carotenóides o beta-caroteno é o que possui melhor atividade de pró-vitamina A, porém comparado aos retinóides ainda sim é baixa • Para chegar à 1 mg de retinol é preciso de 6 mg de beta- caroteno e 12 mg de outros carotenóides Absorção, Transporte e Excreção • A vitamina A pré-formada, bem como os carotenóides são substancias lipossolúveis, e portanto, dependem da digestão concomitante de lipídios para que sejam adequadamente absorvidos • Primeiramente, ocorre a ruptura mecânica e enzimática da matriz alimentar na boca, estômago e duodeno, liberando as moléculas de ésteres de retinila ou carotenóides • Estes serão incorporados às gotículas de lipídios em emulsão no estômago • Com a ação das lipases gástricas e posteriormente das lipases pancreáticas e sais biliares secretados no duodeno, ocorre a formação de micelas mistas formadas por sais biliares e produtos da hidrolise de lipídios, que são responsáveis pela solubilização de nutrientes lipossolúveis no lúmen intestinal • Os ésteres de retinila então serão hidrolisados pelas lipases pancreáticas no duodeno, e pela fosfolipase B na superfície das células da mucosa intestinal • Importante dizer que a absorção de beta-caroteno será em torno de 20-40% de uma dose teste por exemplo, então sua biodisponibilidade é muito menor quando comparado aos retinóides → Absorção: • O retinol livre em concentrações fisiológicas é absorvido via difusão facilitada e em concentrações farmacológicas é absorvido por difusão simples • O beta-caroteno é absorvido por difusão simples via um transportador SR-B (Scavenger receptor B) • Uma vez no interior dos enterócitos, o retinol se liga à proteína ligante ao retinol celular (CRBP) e posteriormente será reesterificado por ação da enzima lecitina retinol acil-transferase • O beta-caroteno será hidrolisado no interior das células da mucosa intestinal pela beta-caroteno dioxigenase gerando o retinal, que será logo complexado pela CRBP • Tanto os ésteres de retinil, quanto os carotenóides, vão ser incorporados nos quilomícrons para o transporte na linfa e posteriormente na corrente sanguínea • Os remanescentes dos quilomícrons vão liberar ésteres de retinil para as células hepáticas • Importante enfatizar que a absorção de beta-caroteno será somente cerca de 20-50% de uma dose teste, logo sua biodisponibilidade é muito menor quando comparado aos retinóides → Transporte e Metabolismo Hepático: • Os quilomícrons remanescentes são captados por meio de receptores específicos pelas células do parênquima hepático, onde os ésteres de retinil são hidrolisados em retinol • O retinol se une á apo-RBP (proteína ligadora de retinol) para posteriormente ser secretado no sangue • Quando as reservas hepáticas da vitamina são adequadas a maior parte do retinol recém ingerido é armazenado como ésteres de retinila no fígado na ordem de 50-80% do total da vitamina no corpo • Normalmente, essa reserva é suficiente para vários meses • O retinol é liberado do fígado ligado à uma proteína RBP (proteína ligadora de retinol) que é a responsável pela manutenção da vitamina em solução aquosa, e também pelo transporte da vitamina para os tecidos periféricos • A RBP liga 1 mol de retinol/1 mol de proteína formando um complexo de 1:1 Resumo da Malu – 2020.1 • Esse complexo vai se ligar com a proteína transtirretina (pré-albumina ligante de tiroxina), e essa ligação serve como forma de proteção contra a perda pela urina, uma vez que o retinol ligado ao RBP seria filtrado pelos glomérulos • Receptores de superfície das células dos tecidos alvo captam o retinol do complexo RPB-transtirretina e remove o resíduo carboxiterminal de arginina da RBP, dessa forma tornando a proteína inativa • Como resultado a apo-RBP pode ser filtrada nos glomérulos, sendo uma pequena quantidade perdida na urina, mas a maioria é reabsorvida nos túbulos renais proximais → Excreção: • Ingestão moderada de retinol e reservas hepáticas abaixo de 70 𝜇mol/kg: - O ácido retinóico é o maior metabólito do retinol tanto no fígado quanto nos tecidos periféricos • Ingestão de retinol alta e concentração hepática atinge valores superiores a 70 𝜇mol/kg: - Vários metabólitos polares, incluindo o 4-hidroxirretinol, excretados na urina e na bile Funções Metabólicas → Ciclo Visual: • A vitamina A é o grupo prostético dos pigmentos visuais • O 11-cis-retinal é um componente dos pigmentos visuais de cones e bastonetes situados na retina, a porção dos olhos sensível à luz • Cones – responsáveis pela visão das cores em luminosidade intensa • Bastonetes – responsáveis pela visão em luminosidade baixa e no escuro • A rodopsina (pigmento visual dos bastonetes na retina) consiste de 11-cis-retinal ligado especificamente à proteína opsina • A reação fotoquímica da visão tem inicio quando um estimulo luminoso atinge a retina e a rodopsina é cindida em opsina (componente proteico) e retinal (componente não-proteico) • Na presença da luz ocorre alterações na configuração do retinal, que consiste na conversão de 11-cis-retinal a todo-trans-retinal acompanhados por uma mudança globalda molécula de rodopsina • Tais alterações funcionam como estímulo molecular para um impulso nas terminações do nervo óptico, que é transmitido ao cérebro, propiciando a visão em ambientes com pouca luz • A rodopsina requer altas concentrações de 11-cis-retinal para exercer a adaptação da visão com pouca luminosidade → Síntese de glicoproteínas hidrofóbicas: • Na síntese de glicoproteínas hidrofóbicas que contém manose, o retinil fosfato pode atuar como um carreador intermediário entre o UDP-manose e o aceptor de glicoproteína • O retinil fosfato manose parece estar envolvido especialmente na síntese de regiões hidrofóbicas de glicoproteínas • A deficiência em vitamina A pode comprometer essa função reduzindo a secreção de mucina e consequentemente levando a liquefação da córnea observada na xeroftalmia → Hormônio com ação nuclear: • A partir do momento que ela se liga aos seus receptores nucleares, irá promover: - Controle da proliferação e diferenciação celular através do estímulo à síntese de hormônio de crescimento, insulina e outros - Promove também o estímulo à produção de enzimas que participam da síntese de hormônios esteroides, álcool desidrogenase e outras • É uma vitamina capaz de estimular a expressão gênica nas células, interferindo em vários processos metabólicos • Dessa forma, a vitamina com ação hormonal em receptores nucleares vai interferir diretamente ou indiretamente na espermatogênese, no desenvolvimento fetal, na resposta imunológica, paladar, audição, apetite, crescimento, além de outras funções metabólicas 1. Controle da proliferação e diferenciação celular: ▪ Há duas famílias de receptores nucleares de retinóides ▪ RAR (receptores de ácido retinóico): - Promove a ligação do ácido retinóico - Presente nas formas alfa, beta e gama ▪ RXR (receptores de retinóides desconhecidos): - Não se sabe quando foi descoberta - São proteínas do tipo alfa, beta e gama ▪ Na ligação com o ácido retinóico ou retinol os receptores ligam-se aos elementos responsivos do DNA para a síntese de hormônios, enzimas, citocinas e outras PTNs Obs: O ácido retinóico é inativo na manutenção da reprodução e no ciclo visual, mas promove crescimento e diferenciação celular Resumo da Malu – 2020.1 Obs: O retinol é essencial para a fertilidade de animais → Função antioxidante – carotenóides: • Além da atividade de pró-vitamina A possuem atividade antioxidante • Essa propriedade depende da estrutura química desses carotenoides → seu potencial aumenta quanto maior for o número de duplas ligações conjugadas, grupos cetona e presença de anéis de ciclopentano na sua estrutura • Geralmente, os radicais carotenóides são pouco reativos • No entanto, são vários os mecanismos pelos quais os carotenóides podem captar radicais livres, gerando uma significativa variedade de radicais carotenóides • Os radicais carotenóides excitados dissipam energia não prejudicial ao meio celular diferentemente dos radicais livres neutralizados por eles, e das espécies reativas de oxigênio • O licopeno é um carotenóide com um grande potencial antioxidante pois possui várias duplas ligações conjugadas e uma cadeia carbônica extensa, se apresentando como um potencial antioxidante • O beta-caroteno é outro carotenoide com potencial antioxidante, agindo principalmente na inativação do oxigênio singlet envolvido no ataque oxidativo aos ácidos nucleicos, aminoácidos, e ácidos graxos poliinsaturados • Além disso, o beta-caroteno também pode reagir com o radical peroxil, envolvido na peroxidação lipídica tornando ele inativo Fontes e Recomendações • A vitamina A pré-formada é encontrada em fontes de origem animal – fígado, gema de ovo, produtos lácteos • Os carotenóides são encontrados em alimentos de origem vegetal – vegetais de folhas verde-escuras, amarelados e alaranjados Hipovitaminose • Pode ser por deficiência primária ou secundária • Primária – ocorre por ingestão inadequada de vitamina A pré- formada ou de carotenóides com potencial de pró-vitamina A • Secundária – ocorre por uma má absorção da vitamina A consumida devido várias alterações no processo de digestão e absorção de lipídios, como gordura insuficiente, insuficiência biliar ou pancreática, hepatopatia e desnutrição proteico- calórica Hipervitaminose • Raros são os casos de hipervitaminose A em decorrência da ingestão alimentar de retinóides são descritos na literatura • Em relação a ingestão de carotenóides, eles possuem uma baixa toxicidade, porém, o consumo de altas doses de beta- caroteno estão associadas ao amarelamento da pele • Sintomas – dor nos ossos e fragilidade, hidrocefalia e vômito (lactantes e crianças), pele seca e fissurada, quebra de cabelo (alopecia), unhas quebradiças, gengivite, queilose, anorexia, irritabilidade, fadiga, ascite e hipertensão portal, função hepática anormal e hepatomegalia Análise Laboratorial → Avaliação da reserva hepática de vitamina A: • O retinol hepático expressa o nível das reservas hepáticas de retinol • Aceito como o indicador mais fidedigno do estado de vitamina A • Porém, requer amostras de tecido hepático em indivíduos vivos e isso se torna inviável pois seria uma análise muito invasiva → Dosagem de retinol sérico: • É simples de ser feita • Basta coletar o sangue, obter o soro e fazer a análise • É a mais empregada para avaliar o estado nutricional de vitamina A • Tem sido empregada na validação de outros indicadores do estado nutricional de vitamina A • Contudo, os níveis séricos de retinol não refletem diretamente a reserva hepática • Isso se dá em função da existência de um controle homeostático que mantem as concentrações plasmáticas adequadas mesmo quando as reservas se encontram insuficientes Resumo da Malu – 2020.1 → Avaliação indireta da reserva hepática de vitamina A: • Avalia a concentração de RBP no sangue • Essa analise apresenta uma excelente correlação com o retinol sérico, contudo, a sua interpretação precisa ser mediante o quadro clínico total sendo feita com cuidado • Isso, pois os níveis séricos de RBP podem estar diminuídos em casos de infecções, desnutrição proteica e energética • A resposta a uma dose relativa (RDR – relative dose response) é indicada como padrão ouro para avaliar a reserva hepática • É feita a dosagem do nível de retinol sérico do indivíduo em jejum e a seguir é administrada oralmente uma dose de vitamina A (na forma de éster de retinil 450 a 1000 mg) e cinco horas após a administração dessa dose, o nível de retinol sérico é medido novamente • Esse método parte do princípio que no caso de gestão inadequada crônica de vitamina A, as reservas hepáticas serão esgotadas progressivamente, contudo, a síntese da RBP é mantida, resultando em acúmulo no fígado de um pool de RBP pré-formada • Com a administração da dose de vitamina A os níveis de retinol sofrerão um aumento significativo após 5 horas • Importante ressaltar que existem algumas variações desse método
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