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DISFUNÇÃO MICCIONAL Define-se como incontinência urinária a perda involuntária de urina em crianças acima de cinco anos. Estima-se que a IU afete de 1 a 10% das crianças. As principais formas de apresentação clínica das disfunções miccionais são a incontinência urinária diurna e a enurese noturna. Aos cinco anos, estima-se que 90-95% das crianças sejam continentes durante o dia, e 80-85% sejam continentes durante a noite. FISIOLOGIA DA MICÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA CONTINÊNCIA URINÁRIA O controle da micção/continência depende da integração de diversos componentes neurais: cérebro, ponte (centro pontino da micção/continência), medula, nervos periféricos somáticos, nervos periféricos autonômicos (simpático e parassimpático), músculos detrusor e músculos do assoalho pélvico. • Micção: contração do músculo detrusor e relaxamento do esfíncter uretral externo. São eventos do sistema parassimpático. • Continência: relaxamento do músculo detrusor, para permitir a acomodação do volume de urina dentro da bexiga e contração do esfíncter uretral externo. São eventos do sistema simpático. No recém-nascido, a micção ocorre por um reflexo medular, sem participação dos centros nervosos superiores; após atingir um determinado volume, a bexiga contrai para se esvaziar numa frequência média de 20x/dia. Após os seis meses de vida, a capacidade volumétrica da bexiga aumenta. A partir de dois anos, a criança começa a perceber a plenitude vesical e a iminência da diurese, e sua frequência miccional é de oito a dez vezes/ dia. A partir de três anos, a criança começa a ter o controle miccional diurno, e depois noturno. Geralmente, o controle de evacuação precede o controle miccional, e as meninas alcançam este controle antes dos meninos. De uma forma geral, não se recomenda o treinamento de toilette antes de dezoito meses, pois nesta fase o sistema nervoso ainda é imaturo e a criança poderá desenvolver tardiamente problemas de continência urinária e encoprese. INCONTINÊNCIA URINÁRIA DIURNA Etiologia - A queixa de Incontinência Urinária Diurna (IaUD) é um sintoma muito frequente na infância. A causa mais comum de IUD é a bexiga hiperativa. 1. BEXIGA HIPERATIVA • A bexiga é funcionalmente, mas não anatomicamente, menor que o habitual e exibe várias contrações não inibidas. • Clínica: frequente desejo para urinar, geralmente associado a manobras de contenção (cruzar as pernas, apertar a região genital com a mão) a fim de adiar a micção e evitar perda involuntária de urina. • Uretrocistografia miccional: estreitamento do colo vesical e uretra com dilatação proximal e estreitamento distal. • Prognóstico: resolução na adolescência. INVESTIGAÇÃO DIAGNÓSTICA • Durante o exame físico é importante avaliar sinais que sugiram etiologia orgânica para a incontinência urinária, tais como: baixa estatura, hipertensão arterial, rins aumentados, bexigoma, sigmoide palpável na fossa ilíaca esquerda (constipação), adesão de grandes lábios, anomalias de coluna vertebral lombossacra (lipoma, pilosidade, nevo), anormalidades de sensibilidade e reflexos perineais. • Diário das eliminações: mapa realizado durante dois dias no qual são anotados volume urinado, número de micções diurnas/noturnas, número de episódios de perda urinária, volume de água ingerido, número de evacuações e perdas fecais. • Dentre os exames complementares, destacam-se: EAS, urinocultura e ureia/creatinina séricas. A ultrassonografia dos rins e vias urinárias permite a avaliação anatômica do trato urinário superior e inferior, ao mesmo tempo que possibilita o estudo funcional da micção (espessura da parede vesical, enchimento vesical, contrações involuntárias vesicais, resíduo pós-miccional). Outros exames mais específicos também podem ser solicitados, tais como uretrocistografia pós-miccional, ressonância de coluna e estudo urodinâmico. TRATAMENTO • Treinamento miccional: micção a cada duas a três horas. • Correção da postura no vaso sanitário. • Controle da ingesta hídrica. • Diminuição da ingestão de alimentos que contenham cafeína, pois irritam a mucosa vesical. • Tratamento da constipação. • Exercícios de contração/relaxamento do assoalho pélvico (exercícios de Kegel). • Medicamentos: Anticolinérgicos para diminuir a hiperatividade vesical: oxibutinina 5 mg VO duas a três vezes/dia; tolterodina. ENURESE NOTURNO Define-se enurese noturna como a perda urinária involuntária à noite em crianças acima de cinco anos. A enurese pode ser primária (75-90% dos casos) quando a criança nunca adquiriu continência noturna, ou secundária (10-25%), quando a criança adquiriu o controle miccional noturno por alguns meses, e então o perdeu. A grande maioria das crianças (75%) apresenta apenas enurese noturna, e uma minoria (25%) apresenta uma forma combinada de enurese noturna e incontinência urinária diurna. Nesta última forma, há maior probabilidade de causas orgânicas. ETIOPATOGÊNESE A enurese primária noturna apresenta uma patogênese multifatorial, com participação de diversos mecanismos, tais como: genética (cromossomas 12 e 13), atraso na maturação cortical do controle miccional voluntário, redução da produção do hormônio antidiurético à noite, desordens de sono, constipação, bexiga hiperativa, fatores psicológicos, dentre outros. O componente genético-familiar é comprovado através de estudos que revelam que, quando um dos pais foi enurético na infância, o risco da criança também ser é de 44%; e se ambos os pais foram enuréticos, este risco sobe para 77%. Geralmente, as causas secundárias provocam enurese noturna e incontinência urinária diurna. • Infecção do trato urinário; Constipação; Diabetes mellitus; Diabetes insipidus; Infestação por Enterobius vermicularis; Crises convulsivas; Anemia falciforme; Disrafismo espinhal; Hipertireoidismo; Doença renal crônica; Hipercalcemia; Hipocalemia e Fatores psicológicos: abuso sexual, divórcio dos pais, trauma escolar, hospitalização. INVESTIGAÇÃO DIAGNÓSTICA Em crianças com enurese noturna, além do exame físico completo, devem ser realizados um EAS e urinocultura, a fim de avaliar sinais de infecção (piúria, bacteriúria, nitrito positivo), diabetes mellitus (ex.: glicosúria) e diabetes insipidus (ex.: baixa osmolaridade). Se há enurese noturna e incontinência urinária diurna, outros exames complementares devem ser acrescentados à avaliação diagnóstica, conforme descrito acima. TRATAMENTO O principal aspecto é orientar os pais quanto à resolução espontânea da condição, e a não punição das crianças, pois o estresse e medo podem piorar o controle miccional. Algumas medidas podem auxiliar, tais como: • Limitar a ingestão de líquidos 3-4 horas antes de dormir ou após as 18 horas; • Evitar açúcar e cafeína após 16 horas; • Urinar antes de dormir; • Tratar a constipação e infestação parasitária se houver; • Fazer um calendário de noites “secas” e noites “molhadas”, e adotar estrelas nas noites secas para motivar a criança; • Encorajar a criança a lavar suas roupas íntimas molhadas; • Se as medidas acima falharem, pode ser adotado um sistema de alarme, que desperta 2-4 horas após o início do sono a fim de realizar um treinamento condicionado da micção no início da noite; • As medicações ficam restritas à segunda opção de tratamento. As opções são: a) DDAVP (desmopressina): spray nasal. É um análogo sintético da vasopressina (hormônio antidiurético) e tem por objetivo reduzir a produção de urina à noite; b) Oxibutinina: droga antimuscarínica, 5 mg VO antes de dormir; c) Imipramina: tem efeito anticolinérgico, 1 mg/kg/dose ou 25 mg duas horas antes de dormir. MALFORMAÇÕES URINÁRIAS HIPOSPÁDIA “XIXI NO CHÃO” ● Abertura uretral na superfície ventral do corpo do pênis ● Afeta 1 em cada 250 nascidos vivos do sexo masculino ● Comuns em gêmeos monozigóticos e filho de pais com hipospádia ● Classificação: ❏ Hipospádiasdistais (50%) ❏ Hipospádias penianas (30%) ❏ Hipospádias proximais (20%) ● Anomalias Associadas: ❏ Criptorquidia , Cisto de utrículo prostática, disgenesia gonadal TRATAMENTO ❏ Inicia-se no período neonatal (De preferência entre 6 - 12 meses de vida) ❏ Reparo por tubularização da placa uretral incisada ❏ Complicações (Fístula uretrocutânea, estenose meatal, curvatura residual) EPISPÁDIA “XIXI NO TETO” ● Abertura da uretra no dorso da glande, do corpo do pênis ou na junção peno-púbica (Meninos) ● Abertura da uretra entre o clítoris e os lábios ou no abdome (Meninas) ● Sinais e sintomas: ❏ Incontinência Urinária ❏ Infecções urinárias recorrentes ❏ Malformação do osso e musculatura do assoalho pélvico ● Tratamento cirúrgico (Uretroplastia) FIMOSE • Estreitamento que impede a redução do prepúcio, ou seja, dificuldade em retrair o prepúcio, permitindo a exposição completa da glande. CLASSIFICAÇÃO: ❏ Primária: presente desde o nascimento, devido aderências congênitas bálano-prepuciais. Resolve-se espontaneamente em mais de 90% dos casos em até 5 anos. ❏ Secundária: resultante de um processo de fibrose e dificuldade da abertura prepucial devido a condições como doenças dermatológicas, trauma prepucial, prostite e balanite xerótica obliterante. EPIDEMIOLOGIA ❏ Até 96% ao nascimento; ❏ Ao final do primeiro ano de vida, a retração do prepúcio para trás do sulco da glande é possível em apenas cerca de 50% dos meninos. ❏ 8% dos meninos de 6 a 7 anos; ❏ 6% nos meninos de 10 a 11 anos; ❏ 1% nos adolescentes de 16 a 17 anos. QUADRO CLÍNICO FIMOSE FISIOLÓGICA ❏ Na maioria dos casos é completamente assintomática. Ainda que o orifício prepucial pareça estreito, o jato urinário é normal; ❏ Postite: inflamação do prepúcio; ❏ Balanite: inflamação da glande; FIMOSE PATOLÓGICA ❏ Varia desde assintomática até evolução com complicações, como irritação ou sangramento ao nível do orifício prepucial, balanite, disúria ou retenção urinária, ereção dolorosa, parafimose e balanite xerótica obliterante. TRATAMENTO • Para todos os pacientes com fimose primária sem complicações recomendam-se cuidados gerais, que incluem: ❏ Evitar tração forçada do prepúcio; ❏ Tração gentil do prepúcio durante as trocas de fralda e/ou durante o banho; ❏ Enquanto o prepúcio vai sendo naturalmente retraído, lavar e secar a região exposta; ❏ Após a tração do prepúcio, sempre reduzir a tração (recobrir a glande) para evitar parafimose; ❏ Quando o menino vai ficando mais velho, ele deve ser instruído a fazer essa tração gentil no banho, higiene adequada e redução da tração. APÓS OS DOIS ANOS ESTÃO INDICADOS TRATAMENTOS: ❖ Conservador, a base de corticoide tópico, indicado nas causas primárias. ❖ Cirúrgico: ❏ Fimose secundária; ❏ ITU + malformação de TGU; ❏ Balanopostite de repetição; ❏ Sem resolução com tratamento conservador após 5 anos de idade. ➢ A tendência atual é a de limitar e postergar o tratamento cirúrgico da fimose, restringindo-o aos pacientes que apresentem balanopostites recorrentes, infecções recorrentes do trato urinário, ao adolescente que ainda não conseguiu expor completamente sua glande e aos casos de fimose patológica.
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