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Material Teórico Direito Penal Militar – Parte Especial Da Aliciação, do Incitamento, da Violência contra Superior ou Militar de Serviço e outros Prof. Ms. Cícero Robson Coimbra Neves cod PMilEspCDS1901_a03 2 Aliciação para Motim ou Revolta Art. 154. Aliciar militar ou assemelhado para a prática de qualquer dos crimes previstos no capítulo anterior: Pena - reclusão, de dois a quatro anos. • Objetividade jurídica: Disciplina e autoridade militares. • Sujeitos do delito: O sujeito ativo é qualquer pessoa, civil ou militar. O sujeito passivo, titular dos bens jurídicos aviltados é o Estado, pela própria Instituição Militar. • Elementos objetivos: Aliciar é atrair, seduzir, envolver, convencer o militar a praticar um dos crimes previstos no Capítulo que trata do Motim e da Revolta Revolta (motim, revolta, organização de grupo para a prática de violência etc.).. A atitude de convencimento do sujeito ativo deve recair sobre militar ou sobre assemelhado, que segundo nossa compreensão não mais existe nas forças militares. A exigência típica não recai sobre o convencimento de dois ou mais militares, mas apenas de um. Dessa forma, ainda que o sujeito ativo interaja apenas com um militar, independentemente da adesão posterior de outro (s), estaria caracterizado o delito. 3 • Elemento subjetivo: Só admite o dolo, a intenção, a vontade livre e consciente de cooptar alguém para a prática de delitos capitulados nos art. 149 a 152 do CPM. • Consumação: O delito se consuma quando o receptor do chamamento para os delitos do capítulo de motim e revolta (militar) se deixa seduzir e concorda com o autor. Não é necessário que o militar aliciado pratique qualquer conduta, pois o mero acatamento do discurso que visa atrair militares para o ato delituoso já perturba a disciplina e consuma o presente delito. É, portanto, crime formal, significando a execução do motim, por exemplo, por parte daquele que foi aliciado o mero exaurimento do delito. • Tentativa: É discutível pela doutrina. Entendemos ser possível quando o autor discursa, escreve ou de qualquer forma envia mensagem ao militar, mas não o convence. • Crime impropriamente militar • Ação Penal: A ação penal deste delito é pública incondicionada. 4 Incitamento Art. 155. Incitar à desobediência, à indisciplina ou à prática de crime militar: Pena - reclusão, de dois a quatro anos. Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem introduz, afixa ou distribui, em lugar sujeito à administração militar, impressos, manuscritos ou material mimeografado, fotocopiado ou gravado, em que se contenha incitamento à prática dos atos previstos no artigo. • Objetividade Jurídica: Disciplina e autoridades militares. • Sujeitos do delito: O Sujeito ativo é qualquer pessoa, civil ou militar. O sujeito passivo, titular dos bens jurídicos aviltados, continua sendo o Estado, pela Instituição Militar. • Elementos objetivos: Incitar significa impelir, mover, instigar, estimular alguém a realizar alguma coisa, no caso em específico do tipo significa empurrar à prática que caracterize desobediência, indisciplina ou crime militar. A ideia é pré-existente, sendo reforçada, encorajada pelo agente. Antes da Lei n. 13.491/17, dizíamos que se o delito que se esteja incitando tenha a natureza comum, não resvalando em uma desobediência ou em uma indisciplina, o incitamento configuraria crime comum capitulado no art. 286 do Código Penal comum. Mas 5 essa possibilidade já era remota porque aquele que incita um militar à prática de ilícito penal comum, estará incitando à indisciplina, porquanto, em regra, os regulamentos disciplinares militares consideram o respeito e acatamento às leis como uma manifestação essencial da disciplina. Na atualidade, com a incorporação de tipos penais outrora comuns aos crimes militares, pode-se ter a construção de que o incitamento, ao recair sobre um delito tipificado na legislação penal comum, poderá significar instigação de um crime militar, sob a premissa de que os crimes da legislação penal comum podem ser crimes militares, o que possibilitaria a subsunção da conduta neste crime. Em outra linha, o próprio art. 286 do CP pode ser crime militar, se praticado, por exemplo, contra a ordem administrativa militar (art. 9º, II, “e”, CPM). O parágrafo único do tipo estudado descreve uma das formas de execução do incitamento, a saber, a introdução, afixação ou distribuição de material impresso, manuscrito ou mimeografado, fotocopiado ou gravado, em que se contenha incitamento à prática de atos de desobediência, à indisciplina ou à prática de crime militar, isso em lugar sujeito à administração militar. O elemento espacial (lugar sujeito à administração militar) é exigido na modalidade do parágrafo único, mas não na modalidade do caput. • Elemento subjetivo: Só admite o dolo, a intenção, a vontade livre e consciente. • Consumação: O delito se consuma com a concordância do receptor (militar) da mensagem que caracteriza o incitamento, a instigação para a prática de atitudes de indisciplina, desobediência ou de crime militar. • Tentativa: É possível quando o autor envia mensagem ao militar alvo e ela é interceptada ou não surte o efeito de excitar a idéia preexistente. 6 • Crime impropriamente militar • Ação Penal A ação penal deste delito é pública incondicionada. Apologia a Fato Criminoso ou do seu Autor Art. 156. Fazer apologia de fato que a lei militar considera crime, ou do autor do mesmo, em lugar sujeito à administração militar: Pena - detenção, de seis meses a um ano. • Objetividade Jurídica: Disciplina e autoridade militares. • Sujeitos do delito: O sujeito ativo é qualquer pessoa, civil ou militar. O sujeito passivo, titular dos bens jurídicos aviltados é o Estado, pela própria Instituição Militar. • Elementos objetivos: Fazer apologia é exaltar, elogiar, enaltecer, engrandecer fato delituoso (conduta tipificada como crime militar), o que pode fazer com que seja, para alguém, exemplo ou meta a ser seguida ou alcançada, explicando-se, pois, a nocividade da conduta. Lembremo- nos de que, após a Lei nº 13.491/17, todos os crimes da legislação penal comum podem ser considerados crimes militares, o que pode alargar a interpretação deste delito, como ocorreu no delito anterior. A apologia pode ainda ser de autor de delito militar, mas só haverá crime se o enaltecido for engrandecido pelo seu desvio de conduta. 7 O engrandecimento de qualquer qualidade pessoal do autor de delito, a solidariedade e a sua defesa não serão, por si só, delituosos. Se assim o fosse, o autor de um crime militar nunca mais poderia ser elogiado por alguma virtude pessoal ou por bem que tenha feito. O elemento espacial “em lugar sujeito à administração militar”, é exigido para as duas modalidades, ou seja, o enaltecimento do crime militar ou de seu autor, para se configurarem em delito, hão de ser em espaço sob a Administração Militar. Caso o façam fora desse limite, o delito será comum, salvo se puder ser combinado o art. 287 com a alínea “e” do inciso II do art. 9º do CPM. • Elemento subjetivo: Só admite o dolo. • Consumação: O delito se consuma quando o autor promove o elogio, o enaltecimento, o destaque ao fato ou a seu autor. • Tentativa: Possível somente na modalidade escrita quando interceptada antes de chegar a seu destino. • Crime impropriamente militar • Ação Penal: A ação penal deste delito é pública incondicionada. Violência Contra Superior Art. 157. Praticar violência contra superior: Pena - detenção, de três meses a dois anos. Formas qualificadas § 1º Seo superior é comandante da Unidade a que pertence o agente, ou oficial general: Pena - reclusão, de três a nove anos. § 2º Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada de um terço. 8 § 3º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da pena da violência, a do crime contra a pessoa. § 4º Se da violência resulta morte: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. § 5º A pena é aumentada da sexta parte, se o crime ocorre em serviço. • Objetividade Jurídica: Autoridade militar (na pessoa do superior atingido) e a disciplina militar. • Sujeitos do delito: O sujeito ativo é o inferior hierárquico ou funcional. O hierárquico deve ser compreendido de acordo com a sobreposição na escala hierárquica de uma graduação (Praça) em relação a outra (Praça), entre esta (Praça) e um posto (Oficial) ou de um posto (Oficial) em relação ao outro (Oficial), presente em cada instituição militar. Por exemplo, o Segundo-Tenente é inferior hierárquico do Primeiro-Tenente. Não prevalece a antiguidade para a aferição de superioridade hierárquica. Já o superior funcional deve ser compreendido à luz do art. 24 do Código Penal Militar, segundo o qual o “militar que, em virtude da função, exerce autoridade sobre outro de igual posto ou graduação, considera-se superior, para efeito da aplicação da lei penal militar”. Note-se que a superioridade funcional pressupõe igualdade hierárquica, pois esta sempre prevalecerá. Como o tipo penal não utiliza da palavra “militar”, abre-se a sujeição ativa também para militar inativo, ainda que haja discordância doutrinária a esse respeito, como a de Célio Lobão (2004, p. 183). O sujeito passivo, titular dos bens jurídicos aviltados é o Estado (pela própria Instituição Militar) e, como sujeito passivo mediato, o próprio superior agredido. 9 • Elementos objetivos: O tipo diz praticar violência contra superior. Violência consiste na força física empregada, no caso, contra o corpo do superior. Trata-se da vis corporalis, quando o agente utiliza o próprio corpo, ou da vis physica, quando o agente se utiliza de um instrumento para praticar a violência. Não há que se falar na ocorrência do delito quando a violência é praticada contra coisa, como por exemplo atingir o veículo no qual se encontra o superior ou a ele pertencente, salvo, claro, se a ação foi dirigida a atingir o superior e, por exemplo, por erro, atinge-se o objeto. Não se configura violência contra superior o ato de cuspir sobre o superior (cf. LOBÃO, 2004 p. 187), conduta que poderá caracterizar outros delitos, como o desrespeito a superior (art. 160 do CPM) ou mesmo o desacato a superior (art. 298 do CPM). Não se exige o resultado lesão corporal, mas em ele ocorrendo, o crime poderá ingressar naquilo que a lei intitulou, equivocadamente, de formas qualificadas. A primeira delas, grafada no § 1º, consiste em uma forma qualificada, em que o superior agredido é o Comandante da Unidade Militar a que pertence o autor do fato. Unidade, na compreensão penal militar, deve ser entendida como a fração de tropa com autonomia de emprego em nível de Batalhão, no mínimo (ou equivalente como Regimento de Cavalaria, Grupamento de Bombeiros, Grupo de Artilharia etc.). Por força do art. 23 do CPM, equipara-se ao comandante, para o efeito da aplicação da lei penal militar, toda autoridade com função de direção, o que estende a compreensão acima para os Diretores 10 de Órgãos de Apoio ou de Serviços, desde que possuam autonomia mínima de emprego. Outro motivo para qualificar o delito, ainda no § 1º, é o fato de o superior atingido ser Oficial General, não se exigindo, neste caso, que seja comandante do agressor. Nas Forças Armadas, esse é o maior círculo. Os Oficiais generais, em tempo de paz e em ordem crescente, são: na Marinha de Guerra do Brasil o Contra-Almirante, o Vice-Almirante e o Almirante-de-Esquadra; no Exército Brasileiro o General-de-Brigada, o General-de-Divisão e o General-de-Exército; na Força Aérea Brasileira o Brigadeiro, o Major-Brigadeiro e o Tenente-Brigadeiro. Em tempo de guerra ainda há a possibilidade de postos superiores aos consignados: na Marinha, o Almirante; no Exército, o Marechal; na Aeronáutica, o Marechal-do-ar. A outra espécie das chamadas “formas qualificadas”, prevista no § 2º, é, em verdade, uma majorante ou causa especial de aumento de pena. Segundo ela, a pena será aumentada de um terço se houver o uso de arma. A arma aqui, de se notar, pode ser própria ou imprópria, mas deverá ser utilizada na prática da violência, não bastando que o militar agressor a porte ou a utilize como objeto potencializador de uma grave ameaça, como ocorre no crime de revolta. A razão para essa majorante é simples e repousa no fato de que a arma aumentar o potencial ofensivo do autor em desfavor do ofendido, acentuando-se, pois, a reprovação da conduta. Conforme inteligência do § 3º do art. 157, a pena será afetada também no caso de lesão corporal resultar da violência. Em verdade trata-se de uma regra que objetiva o concurso formal dos crimes de violência contra superior e o de lesão corporal, vez que a ação atinge bens jurídicos diversos tutelados por dispositivos diferentes. A exemplo do que ocorre com o art. 153, aqui também parece haver uma regra própria, diversa daquela estipulada pelo art. 79 do CPM, impondo sempre o cúmulo material, ainda que se tratem de espécies 11 diversas, o que deflui da análise da palavra “além”, que indica soma, afastando-se, pois, a exasperação. A morte resultante da violência também qualifica o delito, nos termos do § 4º, elevando os limites, mínimo e máximo, para os mesmos cominados para o homicídio qualificado (art. 205, § 2º do CPM). Não se trata de regra de concurso de crimes, mas de qualificadora. Interessante notar que não se fala aqui, como aliás também no caso do resultado “lesão corporal”, em crime preterdoloso, cuja possibilidade será estudada quando da análise do art. 159 do CPM. Há, sim, dolo no antecedente e dolo no consequente, descrevendo, pois, uma progressão criminosa em que o agente, primeiro, desejou meramente agredir o superior e, posteriormente, decidiu dar cabo de sua vida. Haverá, por fim, causa especial de aumento de pena e não qualificadora, segundo o § 5º do artigo estudado, se o crime ocorrer em serviço. Serviço, aqui, deve ser entendido de forma ampla, segundo a qual estará em serviço o militar que esteja desempenhando funções em sua Instituição, ainda que em caráter precário sem escala de serviço mas por adesão, em face de uma situação repentina que o chame a atuar. Para o tipo penal, tanto faz estar em serviço o autor, o ofendido ou ambos, pois o fato em questão prejudicará o serviço em qualquer dessas hipóteses, sem contar a eventual presença de outros militares, o que faria a repercussão do evento ser maior, promovendo danos mais sensíveis à disciplina e à autoridade. • Elemento subjetivo: O tipo penal em estudo só admite o dolo. A condição de superior deve ser conhecida pelo agente ou, de outra forma, não haverá conformação típica subjetiva, desconstituindo-se esta infração, por ausência do elemento subjetivo (inciso I do Art. 47 do CPM). 12 O mesmo art. 47 do CPM possui outra causa excludente do elemento subjetivo, especificamente em seu inciso II que dispõe não se configurar em elementar do tipo a qualidade de superior ou a de inferior, a de oficial de dia, de serviço ou de quarto, ou a de sentinela, vigia, ou plantão, quando a ação é praticada em repulsa a agressão. Não há que se reconhecer também o elemento subjetivo quando o agressor busca atingir a pessoa e não a figura do superior. Assim, por exemplo, inexiste dolo de violência contra superior no ato de o pai, Soldado PM, agrediro filho, Aspirante a Oficial PM, com ânimo de correção; da mesma forma, na agressão entre cônjuges, onde, por motivos afetos à relação conjugal, o subordinado (marido) agride o superior (esposa). Obviamente, nestes casos, a conduta poderá configurar crime diverso. A embriaguez voluntária não afasta o elemento subjetivo do tipo em estudo. • Consumação: O delito se consuma quando o autor atinge fisicamente o superior, seja direta ou indiretamente. • Tentativa: É possível no caso em que o agente investe contra a vítima, mas circunstâncias alheias a sua vontade o impedem de atingi-la. • Crime propriamente militar • Ação Penal: A ação penal deste delito é pública incondicionada. 13 Violência Contra Militar de Serviço Art. 158. Praticar violência contra oficial de dia, de serviço, ou de quarto, ou contra sentinela, vigia ou plantão: Pena - reclusão, de três a oito anos. Formas qualificadas § 1º Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada de um terço. § 2º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da pena da violência, a do crime contra a pessoa. § 3º Se da violência resulta morte: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. • Objetividade Jurídica: Autoridade e a disciplina militares. • Sujeitos do delito: O sujeito ativo poderá ser qualquer pessoa. O sujeito passivo, titular dos bens jurídicos aviltados, é o Estado, pela Instituição Militar, e o próprio militar, nas funções enumeradas pelo tipo, agredido que é vítima secundária (ofendido) ou ainda sujeito passivo mediato. • Elementos objetivos: No tipo ora estudado, qualquer pessoa pode praticar a conduta nuclear que, mais uma vez, refere-se à violência, sendo, portanto, válidas as construções consignadas no art. 157 do CPM. A conduta violenta é direcionada contra o militar de serviço, nas funções grafadas no tipo penal, ou seja, contra oficial de dia, de serviço, ou de quarto, ou contra sentinela, vigia ou plantão. 14 Por Oficial de Dia deve-se compreender o Oficial que desempenhe a função de gerenciamento de uma Unidade militar, mormente fora de horários de expediente, em que dito Oficial personifica o próprio Comandante da Unidade. É ele, em suma, responsável pela manutenção das atividades cotidianas de um quartel no que concerne a segurança, arranchamento, recebimento de gêneros, controle de acesso de pessoas à Unidade etc. Por Oficial de Serviço deve-se compreender toda e qualquer função do serviço da caserna conferida a Oficial, a exemplo de Oficial de Comunicação Social, mormente em ações cívico-sociais, o Comandante de Linha de Fogo em exercício de tiro, o Oficial de Comunicações, o Comandante de Força Patrulha (conhecido por CFP) no serviço de policiamento ostensivo das Polícias Militares, o Oficial de Área na nobre atividade de extinção de incêndios dos Corpos de Bombeiros Militares, o Comandante de Subunidade (Companhia), o Médico de Dia etc. Também consigna o tipo penal a figura, como ofendido, do Oficial de Quarto, que traduz-se por aquele que possui uma incumbência específica de vigilância, ainda que não esteja na função de Oficial de Dia, ou em qualquer outra função de serviço, que o caracterize como Oficial de Serviço. Buscou a lei tutelar algumas funções desempenhadas por Praças, especificamente aquelas dotadas de certa autoridade, vez que é ela a autoridade militar, uma faceta do escopo protetor da norma estudada. Assim, também haverá o delito se houver prática de violência contra sentinela, vigia ou plantão. Sentinela é aquele militar que guarda determinado local com ou sem arma, em posto fixo ou móvel. A principal sentinela é aquela alocada no portão de entrada das Unidades, local denominado Portão das Armas, o que gerou a designação dessa sentinela como Sentinela 15 das Armas. As demais sentinelas são denominadas Sentinelas Cobertas. Vigia exerce uma função de proteção, porém, não de um local, podendo ser fixo ou móvel, mas de uma situação que pode se desdobrar em um único ambiente ou ganhar outras locações. Também em função de vigilância, o Plantão compõe a segurança das Subunidades incorporadas a uma Unidade (não destacada e não independente), sem a limitação de postos, porém com a restrição às instalações de uma Companhia, Esquadrão, Sub-grupamento de Bombeiros etc. O delito em estudo, como no crime anterior, sob a rubrica equivocada de “formas qualificadas”, prevê uma forma qualificada, outra causa especial de aumento de pena e uma regra expressa para o concurso de crimes. Faremos breves anotações acerca das “formas qualificadas”, rogando ao estudioso que verifique os comentários apostos no art. 157. O § 1º traz a mesma majorante do § 2º do art. 157, segundo a qual a pena será aumentada de um terço se houver o uso de arma (própria ou imprópria), que deverá ser efetivamente utilizada na prática da violência. Qual o § 3º do art. 157, o § 2º do art. 158 dispõe que haverá concurso formal de crimes no caso de lesão corporal resultar da violência, exigindo-se também o cúmulo material de penas. Por fim, resultando a morte do ofendido em razão da violência, havendo dolo em ambos, prática da violência e o atingimento do resultado letal, o delito será, nos termos do § 3º, qualificado, com pena de reclusão de doze a trinta anos. 16 • Elemento subjetivo: Da mesma forma que no delito anterior, o tipo penal estudado só admite o dolo. A condição do militar de serviço deve ser conhecida pelo agente (art. 47, I, CPM). A exclusão do elemento subjetivo prevista no art. 47, inciso II também se aplica, de forma expressa, ao tipo penal militar em estudo. Também aqui, a agressão que não vise a figura do militar de serviço (Oficial de Dia, Sentinela etc.), não preencherá a tipicidade subjetiva do delito, podendo haver, todavia, subsunção em outro delito. Por fim, também com muito acerto, tem se decidido que a embriaguez voluntária não afasta o elemento subjetivo do tipo em estudo. • Consumação: O delito se consuma quando o autor atinge fisicamente o ofendido, seja direta ou indiretamente, pela utilização de objetos. • Tentativa: É possível no caso em que o agente investe contra o ofendido, mas circunstâncias alheias a sua vontade o impedem de atingí-lo. • Crime impropriamente militar • Ação Penal: A ação penal deste delito é pública incondicionada. 17 Forma Preterdolosa dos Delitos de Violência Contra Superior ou Militar de Serviço Art. 159. Quando da violência resulta morte ou lesão corporal e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena do crime contra a pessoa é diminuída de metade. • Comentários: Aqui se abranda o rigor da punição daquele que tinha, sim, a intenção de agredir, o dolo de atacar fisicamente o superior hierárquico ou o militar em serviço, entretanto, a apuração demonstra que ele, autor, não queria o resultado lesão corporal ou morte (dolo direto) e nem assumiu o risco de produzi-lo (dolo eventual). Dessa forma, como reconhecimento de que o dolo do agente se restringiu à investida e não ao resultado, o legislador concedeu a aplicação da pena do crime contra a pessoa diminuída pela metade. Um ponto que merece detida atenção é a definição de qual pena deve ser diminuída de metade, a pena do crime (homicídio ou lesão corporal) doloso ou culposo. Haverá, por imposição legal das figuras precedentes, o concurso formal com o cúmulo material de penas, ainda que de espécie diferentes. Ocorre que a pena do crime resultante da violência deverá ser diminuída da metade, sendo coerente que se entenda correta a redução do preceito secundário dos tipos dolosos.