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MEDICINA UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO @jujnamed Cirurgia geral Cardiopatias congênitas Revisão A) Circulação fetal 1- O sangue oxigenado sai da placenta através da veia umbilical 2- Metade do sangue proveniente da placenta que seguiu pela veia umbilical, vai para o fígado através dos sinusoides hepáticos enquanto o restante é desviado do fígado e segue pelo ducto venoso até a VCI 3- Seguindo pela VCI 5-10% do sangue penetra no átrio direito do coração (a maior parte do sangue que penetra no AD é dirigida pela crista dividens para o forame oval até o AE) 4- Uma outra parte do sangue da VCI é levado aos pulmões pelas artérias pulmonares e deles volta, sem ser oxigenado, até o AE 5- E o restante do sangue da VCI desvia para a aorta antes de alcançar os pulmões por meio do ducto arterial 6- No AE o sangue proveniente do pulmão e aquele desviado pelo forame oval se misturam e seguem para o VE e aorta ascendente * As artérias do coração, da cabeça, do pescoço e dos MS recebem o sangue com maior teor de oxigênio * Cerca de 40-50% do sangue da aorta descendente passam pelas artérias umbilicais e e retornam á placenta para reoxigenação. O restante supre as vísceras e a metade inferior do corpo Shunts Shunt 1 = ducto venoso (bipass pelo fígado) . Mecanismo de shunt 1: a placenta manda o sangue para a circulação através da veia umbilical -> uma parte passa pelo fígado e outra parte segue direto pelo ducto venoso e cai na VCI Shunt 2 = forame oval . Mecanismo shunt 2: o sangue chega no AD -> uma parte vai para o pulmão e outra parte segue direto para o AE através do forame oval Shunt 3 = canal arterial/ducto arterioso . Mecanismo shunt 3: o sangue chega no AD -> uma parte segue direto para a artéria aorta através do canal arterial/ducto arterioso -> o restante segue para o pulmão Características - A Circulação pulmonar fetal apresenta alta resistência, baixo fluxo e ausência de troca gasosa - A circulação sistêmica fetal (via placenta) apresenta baixa resistência e local de troca gasosa - O débito cardíaco direito é maior que o esquerdo - O ECG demostra deslocamento de eixo e sobrecarga de lado direito (pois a circulação pulmonar tem maior resistência) - Ocorre mistura (shunt) de sangue oxigenado e pouco oxigenado (quando o sangue está indo para o pulmão ele desvia e vai direto para a circulação sistêmica) - A saturação média de O2 é 70% B) Circulação após o nascimento 1- Com o nascimento corta-se o cordão umbilical e o ducto venoso se fecha e se transforma no ligamento redondo 2- A oclusão da circulação placentária provoca queda imediata da pressão sanguínea na VCI e no AD com isso o fluxo sanguíneo pulmonar aumenta e a pressão no interior do AE fica maior que a do AD resultando em fechamento do forame oval (o forame oval colaba e se MEDICINA UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO @jujnamed funde na parede do átrio, se transformando na fossa oval, fazendo com que o sangue passe a ir direto pro pulmão) 3- Ao ser ventilado e insuflado, o pulmão reduz expressivamente sua resistência vascular e a circulação no ducto arterioso/canal arterial é reduzida quase completamente, com isso ducto arterioso/canal arterial se oblitera e passa a constituir o ligamento arterioso fibroso (ligamento que prende a aorta com a artéria pulmonar) Características - O ducto arterioso se contrai ao nascimento e deixa de ser funcional nas primeiras 10-15h pós parto (exceto em prematuros e naqueles com hipóxia persistente) - Se não fechar o forame oval ocorre comunicação interatrial (se houver diferença de pressão o sangue vai do AE para o AD aumentando a quantidade de sangue que vai para o pulmão, resultando em hiperfluxo pulmonar e podendo levar ao aumento da pressão na circulação pulmonar) (ou, ocorre cianose se a pressão for maior no AD e o sangue seguir direto para o AE através da circulação interatrial) - Se não fechar o canal arterial o sangue da aorta vai para a circulação pulmonar aumentando a quantidade de sangue que vai para o pulmão, resultando em hiperfluxo pulmonar e podendo levar a aumento da pressão na circulação pulmonar * O coração fetal funciona como um bomba única, pois a oxigenação sanguínea se apresenta na placenta e os pulmões fetais não são funcionantes (ocorrendo shunt direito-esquerdo pelo forame oval e ducto arterial), assim o coração fetal atua apenas na circulação sistêmica. Por isso a grande maioria das malformações cardíacas é bem tolerada durante a vida intrauterina e só produz sintomas após o nascimento (ou seja, quando o coração passa a controlar 2 circulações) Cardiopatias congênitas Definição e características - Cardiopatia congênita é qualquer anormalidade na estrutura ou função do coração que surge nas primeiras 8 semanas de gestação (quando se forma o coração do bebê) - As manifestações clínicas da cardiopatia congênita ocorrem principalmente nos primeiros meses de vida, porém o diagnóstico da doença pode ser feito em qualquer fase da vida (tanto no período fetal como no paciente adulto) - Pode-se dizer que a cardiopatia congênita é uma doença da neonatologia pois dentre aqueles que são internados no primeiro ano de vida, grande parte dos casos ocorrem no primeiro mês de vida e dentro do primeiro MEDICINA UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO @jujnamed mês, ocorrem na primeira semana (as doenças mais prevalentes nesse período são dependentes do canal arterial, cujo fechamento agrava o quadro clínico) - As cardiopatias congênitas mais comuns incluem: . Alteração em alguma válvula cardíaca (que influencia no fluxo sanguíneo dificultando ou impedindo sua passagem) . Alterações nas paredes do coração (levando a comunicações cardíacas que não deveriam existir e mistura do sangue oxigenado com o não oxigenado) . Formação de um único ventrículo . Combinação de malformações * A cardiopatia congênita pode ser definida como uma alteração estrutural do coração ou dos grandes vasos da base que representa significante perda funcional real ou potencial Manifestações clínicas - As principais alterações clínicas de pacientes com cardiopatias congênitas são decorrentes de distúrbios hemodinâmicos e estão relacionados ás alterações no fluxo pulmonar - Dentre as mais comuns estão: Cianose . É do tipo central e quase sempre generalizada . Pode ser evidente nos membros inferiores e ausente nos membros superiores e nas mucosas (ou vice-versa, caracterizando uma cianose diferencial) . Pode ser leve ou ausente (como nos casos com fluxo pulmonar aumentado e grande mistura arteriovenosa) . É importante diferenciar a cianose de causa cardíaca da não cardíaca (o que pode ser feito através do ECO) . Causas = presença de uma lesão obstrutiva direita com shunt da direita para esquerda, conexão ventrículo-arterial discordante ou presença de uma mistura comum (como ocorre no ventrículo único) * A cianose não se refere diretamente á oxigenação sanguínea, mas á relação de hemoglobina oxidada em comparação á reduzida * O aparecimento da cianose ocorre quando a concentração da hemoglobina reduzida no sangue circulante é maior que 5 g/dL (por esse motivo ela pode estar ausente em crianças com anemia) Insuficiência cardíaca . Os dois fatores fundamentais para o desencadeamento da IC são: fechamento do canal arterial (que ocorre funcionalmente durante as primeiras horas ou dias iniciais de vida) e diminuição da resistência vascular pulmonar (que ocorre ao longo dos primeiros meses de idade) . O quadro clínico é caracterizado por taquipneia, cansaço, interrupções ás mamadas, sudorese, taquicardia, cardiomegalia e hepatomegalia . Causas = cardiopatias congênitas de hiperfluxo pulmonar com hipertensão MEDICINA UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO @jujnamed venocapilar pulmonar, doenças obstrutivas (nas quais predominam as obstruções esquerdas) e entre outras * Como o débito sistêmicoem doenças obstrutivas depende do fluxo da artéria pulmonar para a aorta através do canal arterial, ao fechar o canal, o fluxo sistêmico diminui abruptamente, ocorrendo IC e choque cardiogênico Sopro cardíaco . É o sinal clínico mais identificável . Quando ocorre em consulta de rotina, sem outros sintomas cardíacos associados, a cardiopatia normalmente é leve e de bom prognóstico . Causas = cardiopatias com shunt da esquerda para direita e cardiopatias obstrutivas isoladas Arritmia . É uma manifestação rara de cardiopatia congênita . Normalmente ocorre por bloqueio atrioventricular Outras . Dor preceordial . Tontura . Síncope Classificação Cardiopatias congênitas acianóticas • 1. Cardiopatias congênitas acianóticas com hiperfluxo pulmonar A) Comunicação interventricular (CIV) - É a cardiopatia mais frequente - Consiste num orifício/defeito no septo interventricular (SIV) que é responsável pela passagem de sangue entre os dois ventrículos - Pode ocorrer isoladamente ou associar-se a outras alterações condicionando uma cardiopatia mais complexa - O septo interventricular é dividido numa pequena porção membranosa e uma maior porção muscular, sendo que o muscular possui 3 componentes (entrada, trabecular/ muscular e de saída), fazendo com que a CIV possa ser divida em 4 tipos (de acordo com sua posição anatômica) MEDICINA UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO @jujnamed Fisiopatologia 1- Na vida fetal, as pressões nos ventrículos são iguais (por isso a passagem de sangue pela CIV é irrelevante) porém, após o nascimento, com o fechamento dos shunts fisiológicos (placenta, forame oval e canal arterial) ocorre queda da pressão pulmonar e aumento da pressão sistêmica com a passagem de sangue da esquerda para a direita 2- A quantidade de sangue que passa através da CIV aumenta gradualmente, à medida que diminui a resistência vascular pulmonar (o que pode ser limitado pelo tamanho do defeito) 3- Com isso, o fluxo aumentado na circulação pulmonar chega ao AE e ao VE, dilatando-os e elevando a pressão diastólica 4- Por conseguinte, ocorre um aumento da pressão capilar pulmonar (pressão venocapilar) retrogradamente e esse aumento é responsável pelos sintomas de taquipneia, dispneia aos esforços e interrupções às mamadas 5- A persistência crônica do fluxo pulmonar aumentado e da hipertensão venocapilar provoca uma reação nas arteríolas pulmonares (com espessamento e fibrose da média e aumento da pressão da artéria pulmonar e do ventrículo direito) 6- Se não houver uma correção da cardiopatia ocorre uma progressão dessa lesão arteriolar, com proliferação da íntima e obstrução total da luz (causando uma hiper resistência vascular pulmonar com consequente aumento da hipertensão pulmonar) 7- Resultando em shunt invertido pela CIV, da direita para esquerda, e aparecimento da cianose (estágio conhecido como síndrome de Eisenmenger, que impede definitivamente a correção do defeito) * Resumindo: a resistência vascular pulmonar e o tamanho do defeito ditam a repercussão hemodinâmica da CIV * Todas as cardiopatias com hiperfluxo pulmonar e aumento da pressão de átrio esquerdo apresentam esse mesmo mecanismo fisiopatológico Tipos de CIV CIV perimembranosa/membranosa . É o mais frequente . Nesta o septo membranoso é uma pequena área do SIV adjacente à válvula aórtica (lado esquerdo) e ao lado da válvula tricúspide (lado direito) CIV muscular/trabecular . É o menos frequente . É o defeito cuja margem é totalmente composta por tecido muscular (portanto, sem relação com as valvas cardíacas e o feixe de His) . Se subdivide em: apical (a mais comum), mesosseptal (central), anterior (superior) e posterior . Muitas vezes são múltiplas (SIV tipo “queijo suíço”) ou associadas a outros defeitos CIV duplamente relacionada (infundibular, subpulmonar ou subarterial) . Se localiza no septo de saída (sendo as suas margens constituídas pelo anel pulmonar e MEDICINA UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO @jujnamed aórtico), podendo haver prolapso de uma das válvulas da valva aórtica e regurgitação da mesma associada CIV justatricuspídea . É o defeito localizado abaixo da valva tricúspide, não relacionada com o septo membranoso (nesse caso, o feixe de His passa na borda anterior do defeito) . Suas margens são constituídas pelo anel da valva tricúspide e pelas bordas musculares do septo muscular da via de entrada do ventrículo direito Quadro clínico • Varia de acordo com o tamanho da CIV: CIV pequena . As crianças são assintomáticas e acianóticas, apresentando crescimento e desenvolvimento normal . É perceptível presença de sopro sistólico nas primeiras semanas de vida e a segunda bulha é normal, não havendo sopros diastólicos CIV moderada . É perceptível um atraso no crescimento e desenvolvimento, diminuição da tolerância ao exercício, infeções respiratórias de repetição e sinais de IC ocorrem durante a infância . Na ausculta cardíaca, observa-se uma 2ª bulha hiperfonética na área pulmonar e sopro sistólico de regurgitação (holossistólico) CIV grande . É perceptível um atraso no crescimento e desenvolvimento, diminuição da tolerância ao exercício, infeções respiratórias de repetição e sinais de IC ocorrem durante a infância . Observa-se também aumento do diâmetro anteroposterior do tórax, 2ª bulha intensa na área pulmonar e sopro sistólico de regurgitação presente * Na hipertensão pulmonar de longa duração podemos encontrar cianose central e generalizada, diminuição do nível de atividade física (Síndrome de Eisenmenger), presença de 2ª bulha intensa e palpável na área pulmonar e não se ausculta mais o sopro da CIV Diagnóstico CIV pequena . Raio X e ECG normal MEDICINA UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO @jujnamed CIV moderada . Raio X com cardiomegalia á custa das cavidades esquerdas . ECG mostrando sobrecarga ventricular esquerda CIV grande . Raio X demonstrando aumento da circulação pulmonar, com sinais de hiperfluxo, congestão venosa e cardiomegalia (com consequente do aumento das cavidades esquerdas, da artéria pulmonar e do ventrículo direito) . ECG mostrando sobrecarga biventricular Tratamento clínico Paciente com sinais de IC . É indicado uso de diuréticos Pacientes com sinais leves . É indicado uso de digitálicos Pacientes graves . É indicado uso de vasodilatadores + IECA Tratamento cirúrgico . É indicado para pacientes que mesmo com tratamento clínico mantém sinais de IC . Deve ser feito quando o Qp/Qs (relação fluxo pulmonar/fluxo sistêmico por meio do ecocardiograma) for maior que 1,5 (a partir do 10° mês de vida e até 2 anos) . Também é uma indicação importante quando a CIV se encontra na via de saída, com potencial de desenvolvimento de insuficiência aórtica * Considerações importantes: . Quando CIV muito próximo da valva aórtica há risco de insuficiência aórtica e é indicado usar agulhas e fios bem finos e pequenos para fazer o fechamento usando PET de pericárdio . Quando CIV muito próximo ao nó AV (sistema de condução) há risco de bloqueio AV total e a criança pode necessitar de um marca-passo definitivo B) Comunicação interatrial (CIA) - Pode se apresentar isoladamente ou associada a outras anomalias congênitas - É o tipo mais raro - É caracterizada pelo desvio do sangue do AE para o AD (sem sopro identificável) em virtude da maior capacidade de distensão das paredes do átrio direito, da menor resistência vascular pulmonar e da maior complacência do ventrículo direito (esse defeito se desenvolve em virtude do fechamento incompleto do forame oval e, por isso, é o resultado do fechamento incompleto do septum primum) - Pode ser classificada em 4 tipos anatômicos MEDICINA UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO @jujnamed Fisiopatologia 1- No RN esse shunt ainda é muito leve devido a elevadaresistência vascular pulmonar e menor complacência do ventrículo direito, porém conforme a pressão diminui e a complacência ventricular direita aumenta, o shunt aumenta 2- Por causa da passagem do sangue da esquerda para a direita pela CIA, há hiperfluxo pulmonar e retorno de sangue aumentado para o átrio esquerdo 3- Ocorre esvaziamento para o átrio direito mas a pressão do sistema venocapilar pulmonar não se eleva (por isso que os pacientes não apresentam sinais de taquipneia, dispneia aos esforços e interrupções ás mamadas) 4- Com o volume aumentado nas cavidades direitas, ocorre dilatação do AD, do VD e da artéria pulmonar, e um prolongamento no tempo de esvaziamento do ventrículo direito (denotado clinicamente pelo desdobramento fixo da 2ª bulha, que é o atraso no fechamento da valva pulmonar) 5- Se não houver correção da CIA, o paciente pode desenvolver em idade adulta: IC, arritmia e hipertensão pulmonar * Quando em casos de CIA há sopro, esse sopro se justifica por excesso de volume passando pela válvula pulmonar (sopro sistólico ejetivo em foco pulmonar), e não pela passagem do sangue pela CIA Tipos de CIA CIA ostium secundum (OS) . É o defeito mais comum . Ocorre na região da fossa oval (sendo, por isso, também conhecida como CIA tipo fossa oval) CIA ostium primum (OP) . É conhecida atualmente como defeito do septo atrioventricular parcial . Está localizada junto às valvas atrioventriculares . Quase sempre está associada a fenda no folheto anterior da valva mitral CIA seio venoso (SV) . Está localizada junto à desembocadura da veia cava superior . Em geral, está associada à drenagem anômala parcial de veias pulmonares direitas CIA seio coronário (SC) . É um defeito raro . É decorrente da presença de orifício no teto do seio coronário, permitindo passagem do átrio esquerdo para o átrio direito através do óstio do seio coronário MEDICINA UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO @jujnamed Quadro clínico • A maioria dos pacientes é assintomática, mas algumas vezes podem apresentar: . Fadiga . Infecções respiratórias de repetição . Palpitações . Palpação da a impulsão sistólica do ventrículo direito na borda esternal esquerda Diagnóstico . O raio-X demonstra cardiomegalia à custa do AD, VD e da artéria pulmonar . O padrão característico no ECG é a presença de complexo QRS tipo Rsr’ (distúrbio de condução do ramo direito) nas derivações precordiais direitas (por sobrecarga ventricular direita) e mudança na onda P (por aumento atrial direito), mas o exame pode ser normal no caso de CIA pequena . O ECO confirma o diagnóstico e caracteriza a CIA pela visualização direta (a repercussão pode ser medida pelo aumento das cavidades direitas e pelo fluxo pulmonar, com o cálculo de Qp/Qs) Tratamento cirúrgico . O fechamento da comunicação está indicado quando Qp/Qs > 1,5:1 e pode ser feito por cirurgia ou cateterismo . A correção cirúrgica eletiva tem que ser realizada por volta de 2 anos de idade, para evitar aumento crônico do átrio e do ventrículo direito (que são a causa de arritmia e de IC no adulto) * O fechamento da CIA com circulação extracorpórea deve ser feito através de aproximação simples ou usando um fragmento de pericárdio C) Persistência do canal arterial (PCA) - O canal arterial é uma estrutura fundamental na circulação fetal (é um vaso que conecta a artéria pulmonar á aorta descendente) - Após o nascimento, seu fechamento funcional ocorre normalmente entre 12-15 horas de vida e seu fechamento anatômico é completado entre o 5º e 7º dia de vida (prolongando-se, em alguns casos, até o 21º dia) - Está associado á rubéola na gestação - Porém, em alguns casos esse canal pode permanecer aberto MEDICINA UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO @jujnamed Fisiopatologia 1- Na circulação fetal, quase todo débito do ventrículo direito passa do canal arterial para a aorta descendente em direção ao membro inferior e à placenta, e somente uma pequena porção desse sangue vai para os pulmões. Enquanto que o débito do ventrículo esquerdo direciona-se principalmente ao cérebro 2- Com o nascimento, eliminam-se os shunts fisiológicos (placenta, forame oval e canal arterial) e a circulação torna-se em série 3- A pressão sistêmica se eleva e a pressão pulmonar diminui progressivamente, atingindo o padrão de adulto em torno de 6 meses de vida 4- Se houver a PCA, o shunt passa a se direcionar da esquerda para a direita, levando a um desequilíbrio hemodinâmico, com aumento do fluxo na circulação pulmonar e nas cavidades esquerdas 5- Assim, o aumento de volume nas cavidades esquerdas provoca aumento das pressões diastólicas e, consequentemente, da pressão capilar, desencadeando todo o processo fisiopatológico descrito na CIV 6- A repercussão hemodinâmica dependerá, portanto, do diâmetro do canal arterial e da resistência vascular pulmonar (nos prematuros, como a resistência vascular é muito baixa, o shunt da aorta para a artéria pulmonar pode ser precoce e acentuado, provocando um quadro clínico muito importante e diferente do que ocorre no recém-nascido a termo) 7- Assim como na CIV, a persistência crônica dessa doença é capaz de levar à síndrome de Eisenmenger Quadro clínico . É semelhante ao da CIV, porém com o desenvolvimento da hiperresistência vascular pulmonar (síndrome de Eisenmenger) há inversão do shunt no canal arterial, resultando no aparecimento de cianose em membros inferiores (cianose diferencial) . No exame físico é encontrado sopro na sístole (maior) e diástole (menor), com 2ª bulha hiperfonética e os pulsos periféricos são amplos . A PCA pode estar associada ao quadro da síndrome da angústia respiratória e piorar o padrão respiratório (aumentando a taquicardia, a taquipneia e desenvolvendo edema pulmonar) * Precórdio hiperdinâmico, pulsos amplos e sinais de edema pulmonar são significativos para o diagnóstico Diagnóstico . No raio-X o canal arterial pequeno é normal (mas quando há repercussão hemodinâmica, observa-se aumento da circulação pulmonar e da área cardíaca, à custa das cavidades esquerdas, da aorta e da artéria pulmonar) . O ECG é normal na PCA pequena e nos casos com grande shunt da esquerda para a direita observa-se sobrecarga ventricular esquerda . O ECO com Doppler é o exame-padrão para o diagnóstico dessa anomalia pois, além de visualização do canal, é possível medir o seu diâmetro, observar a direção do shunt, quantificar a repercussão hemodinâmica pelas dimensões das câmaras cardíacas e estimar a pressão na artéria pulmonar MEDICINA UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO @jujnamed . O cateterismo deve ser evitado para diagnóstico (mas em raros casos como na hipertensão pulmonar, a sua realização é importante) Tratamento clínico . Em prematuros, a 1ª opção para os casos que necessitam de fechamento da PCA é o tratamento medicamentoso, com a indometacina (inibidor de prostaglandina) e o ibuprofeno Tratamento cirúrgico . Todas as PCA evidentes ao exame físico devem ser fechadas, mesmo as pequenas (em razão do risco de endocardite infecciosa) . A cirurgia está indicada quando houver falência no fechamento medicamentoso, em condições em que o prematuro não possa receber a droga e em crianças não prematuras . O fechamento é indicado em qualquer idade quando houver IC congestiva * Considerações importantes: . O padrão-ouro de tratamento para a correção de canal arterial persistente é a cirurgia (a qual geralmente é executada por toracotomia esquerda e divisão, ligadura ou grampeamento do canal) . O procedimento cirúrgico consiste em: clipagem do canal (no coto aórtico, no coto pulmonar e no meio) -> ligar/amarrar com fios ou cortar o canal -> sutura dos cotos aórtico e pulmonar (visando interromper o fluxo) D) Defeito do septo atrioventricular total (DSAVT) - É uma anormalidadedo desenvolvimento dos coxins endocárdicos, resultando em uma comunicação interatrial (CIA), uma comunicação interventricular (CIV) e uma única valva - É muito grave (promove um alto grau de hiperfluxo pulmonar) - É frequente em paciente com síndrome de down - A alteração morfológica básica é a presença de uma junção atrioventricular comum (ou seja, uma valva comum entre as cavidades atriais e ventriculares) associada a uma comunicação atrial e a uma CIV Fisiopatologia 1- Defeito dos coxins endocárdico (brotos que migram e vão se diferenciar em valvas tricúspide e mitral) 2- Falha no fechamento da porção inferior do septo e falta de valvas bem definidas (valva AV única) * O shunt acontece da esquerda para a direita (seja no átrio ou no ventrículo), mas também MEDICINA UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO @jujnamed existe uma passagem de sangue do ventrículo esquerdo para o átrio direito (por causa da incompetência ou da anormalidade da valva atrioventricular) Formas de apresentação DSAVT total/completa . Consiste em CIA ostium primum + CIV + valva AV única (comum a ambos ventrículos) . Em geral, os pacientes se apresentam na infância com grandes shunts esquerda-direita, cardiomegalia e ICC . Sem tratamento cirúrgico, os pacientes manifestam importante deficiência de crescimento, suscetibilidade a infecções respiratórias graves e potencial para desenvolvimento precoce de doença vascular pulmonar . O tratamento consiste em fechamento com PET pericárdio bovino (para fechar o ostium primum -> fazer a divisão dos componentes das valvas em mitral e tricúspide -> e fazer o fechamento do óstio secundum) DSAVT parcial . Consiste em valvas tricúspide e mitral definidas com presença de fenda no folheto septal da mitral e CIA ostium primum . O tratamento consiste em fechar o cleft da valva mitral e corrigir a CIA com PET Quadro clínico . Dispneia . Baixo desenvolvimento pondero-estatural . Infecção respiratória de repetição . Achados do exame físico: sopro sistólico de regurgitação em borda esternal esquerda (presença de regurgitação importante da valva atrioventricular), 2ª bulha hiperfonética * Com o desenvolvimento de hipertensão pulmonar com hiperresistência vascular pulmonar, há o aparecimento de cianose generalizada, cuja alteração é mais precoce na síndrome de Down Diagnóstico . O raio-X é marcado por aumento da circulação pulmonar e da área cardíaca . O ECG é marcado por hemibloqueio anterior esquerdo . O ECO com Doppler é o padrão-ouro para o diagnóstico dessa lesão, pois mostra o tamanho da CIA, tamanho da CIV, tipo da valva atrioventricular, balanceamento dos ventrículos, via de saída do ventrículo direito, via de saída do ventrículo esquerdo, anomalias da valva atrioventricular e outras anomalias associadas . O cateterismo está indicado para o estudo das pressões MEDICINA UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO @jujnamed Tratamento . Sempre é cirúrgico e a correção definitiva deve ser feita em torno dos 6 meses de vida (principalmente nos pacientes com síndrome de Down) . Tem como objetivo o fechamento completo d CIA, da CIV e uso efetivo do tecido da valva AV (disponível para atingir a competência da valva) * Considerações importantes: . A bandagem da artéria pulmonar (abrir o pericárdio -> passar um fio no tronco da artéria pulmonar -> monitorar a saturação do paciente) está indicada em pacientes de baixa idade com IC refratária ao tratamento clínico, e em outras situações que não permitem a correção total (como o desbalanceamento dos ventrículos) • 2. Cardiopatias congênitas acianóticas com normofluxo pulmonar A) Coarctação da aorta - Consiste no estreitamento da artéria aorta - Pode ser localizada ou segmentar - Pode se apresentar nas regiões pré-ductal (entre a subclávia esquerda e o ducto arterioso), paraductal e pós-ductal Fisiopatologia . Quando há coarctação da aorta grave, o débito sanguíneo para o membro inferior do corpo é feito pelo canal arterial e com o fechamento do canal há um súbito aumento no retorno venoso pulmonar e na pós-carga do ventrículo esquerdo (gerando a falência do ventrículo esquerdo com sinais de IC grave) . Uma coarctação não crítica evolui com hipertrofia do ventrículo esquerdo e hipertensão arterial na parte superior do corpo, podendo ainda desenvolver circulação colateral (se a obstrução for desenvolvida gradualmente) Quadro clínico . O RN com coarctação grave desenvolve clínica de IC com pulsos ausentes nos membros inferiores, pode ocorrer também choque cardiogênico na 2ª ou 3ª semana de vida . Crianças maiores podem ser assintomáticas, e a suspeita diagnóstica é feita pela diferença de pulsos entre os membros superiores e os inferiores e achado de hipertensão arterial * Queixas frequentes: fadiga, cefaleia, epistaxe, dor em membros inferiores Diagnóstico No RN . No Raio-X do RN com IC, há cardiomegalia com congestão pulmonar . O ECG mostra, na maioria dos casos, sobrecarga ventricular direita MEDICINA UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO @jujnamed Em escolares e adolescentes . O Raio-X pode ser normal com dilatação da aorta ascendente ou pode-se observar o “sinal de 3” + erosões nas superfícies inferiores das costelas . O ECG apresenta-se normal ou com sobrecarga ventricular esquerda . O ECO com Doppler é um exame importante no auxílio diagnóstico, pois há necessidade de demonstrar a coarctação já que o gradiente de pressão pode estar ausente ou subdimensionado nas coarctações graves . A ressonância magnética ou a tomografia helicoidal são exames que demonstram com mais clareza o tipo de lesão . Em alguns pacientes, o cateterismo pode ser necessário para confirmação diagnóstica ou para esclarecer outras anomalias associadas Tratamento . Em RN com choque cardiogênico, a conduta inicial é o uso de prostaglandina . A indicação para tratamento invasivo (dilatação ou cirurgia) deve ser feita em todos os pacientes sintomáticos e nos pacientes assintomáticos que apresentarem hipertensão arterial ou sinais de repercussão hemodinâmica nos exames complementares . O tratamento cirúrgico é feito através de toracotomia esquerda *RESUMINDO* Cardiopatias congênitas cianóticas • 1. Cardiopatias congênitas cianóticas com hipofluxo pulmonar A) Tetralogia de fallot - É um conjunto de anormalidades (CIV + estenose pulmonar + dextroposição da aorta + hipertrofia do ventrículo direito) que fazem o sangue circular pelo corpo sem oxigênio suficiente MEDICINA UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO @jujnamed Fisiopatologia 1- Ocorre quando há uma alteração aguda no estado inotrópico cardíaco (muitas vezes no contexto de agitação e desidratação) 2- Desencadeando um shunt de sangue venoso sistêmico dessaturado através do DSV para se misturar com o débito cardíaco sistêmico * A quantidade de sangue desviado do ventrículo direito para a circulação sistêmica depende do tamanho da estenose pulmonar (ou seja, quanto mais estenose mais cianose) * A estenose infundibular piora e os pacientes tornam-se profundamente dessaturados, quadro que pode ser extremamente grave e levar ao dano cerebral ou à morte * Nos casos de RN em que há uma obstrução grave na via de saída do ventrículo direito (cianose grave desde o nascimento) a circulação pulmonar pode ser dependente da persistência de um canal arterial Quadro clínico . Crianças maiores podem apresentar baqueteamento digital e adotar a posição de cócoras para melhora da hipóxia . A crise de hipóxia geralmente ocorre pela manhã (precipitada por atividade como defecar ou chorar) e nessa situação o paciente apresenta cianose intensa, acompanhada por taquipneia e alterações de consciência . No exame físico não se observa hiperatividade do precórdio e pode não haver frêmito . Na ausculta cardíaca primeira bulha tem intensidade normalou pouco aumentada, a segunda bulha é única e o sopro varia de intensidade e duração de acordo com o grau da estenose pulmonar * É válido pontuar que os sinais de IC raramente estão presentes * Crises de hipóxia são mais frequentes em lactentes entra 2 e 6 meses Diagnóstico . É obtido intraútero na maioria dos casos . Após o nascimento o ECO é o exame mais eficiente para detecção dessa condição . O Raio-X pode nos mostrar uma área cardíaca normal ou aumentada, mas principalmente o chamado “coração bota” . O ECG evidencia alterações elétricas que justificam a hipertrofia ventricular direita Tratamento Clínico 1- Fornecer oxigênio 2- Morfina para supressão de centro respiratório e evitar taquipneia; 3- Posição joelho-tórax e uso de vasoconstritores (epinefrina) para aumentar a resistência vascular periférica 4- Bicarbonato de sódio intravenoso 5- Betabloqueadores para relaxamento de musculatura infundibular (propranolol) 6- Cetamina para sedar e aumentar a resistência vascular periférica MEDICINA UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO @jujnamed Cirúrgico -> Cirurgia de correção total . Vem sendo realizada em pacientes até o primeiro ano de vida . Consiste no fechamento da CIV e na ampliação da via de saída do VD . Procedimento: ampliação da via de saída do VD e tronco pulmonar -> ampliação dos ramos pulmonares -> ressecção da hipertrofia infundibular -> fechamento da CIV -> Cirurgia paliativa (blalock-taussig) . É uma anastomose sistêmico pulmonar . Consiste na suplência do fluxo pulmonar através da criação de um shunt • 2. Cardiopatias congênitas cianóticas com normofluxo e hiperfluxo pulmonar A) Transposição das grandes artérias (TGA) - É a cardiopatia cianótica mais comum em RN - Pode ser de 2 tipos: . d-TGA = uma variação mais comum na qual a aorta é posicionada à direita e na frente da artéria pulmonar, originando-se do ventrículo direito em vez do esquerdo . l-TGA = uma variação menos comum na qual a aorta é posicionada à esquerda e na frente da artéria pulmonar Fisiopatologia 1- O sangue venoso sistêmico que chega ao átrio direito passa para o ventrículo direito e dele para a aorta, levando sangue insaturado para a circulação sistêmica 2- Paralelamente, no lado esquerdo, o sangue oxigenado que chega ao átrio esquerdo passa para o ventrículo esquerdo e retorna para a circulação pulmonar * O paciente ainda nasce vivo com essa condição devido á existência de um forame oval patente, ou comunicação interventricular (CIV), ou canal arterial persistente, que comunica os corações defeituosos (direito e esquerdo) e possibilita uma mistura do sangue saturado com o não saturado Classificação TGA com CIV . É uma cardiopatia congênita com hiperfluxo pulmonar . O fluxo pulmonar está aumentado e clínica é de IC com cianose leve . Nesse caso não ocorre hipóxia progressiva pois há uma manutenção constante da mistura de sangue MEDICINA UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO @jujnamed Quadro clínico . É possível observar cianose leve que piora ao choro ou a mamada, sem outros sinais clínicos . Após a primeira semana de vida, quando há diminuição da resistência vascular pulmonar (hipofluxo pulmonar), o paciente pode desenvolver IC . Há sinais de aumento da área cardíaca com impulsões sistólicas na borda esternal esquerda, a segundo bulha é alta e não se ausculta sopro Diagnóstico . No Raio-X a área cardíaca e a circulação pulmonar se encontram aumentadas TGA simples (com forame oval) . É uma cardiopatia congênita com normofluxo pulmonar . O fluxo pulmonar é normal ou discretamente aumentado, e a clínica predominante é de cianose . Nesse caso, se houver fechamento fisiológico do canal arterial e do forame oval, inicia-se um processo de hipóxia progressiva (em função de falta de sangue oxigenado) e o paciente morre Quadro clínico . O RN pode se apresentar bem ao nascimento por possuir o forame oval patente (mas pode evoluir com cianose leve ou discreta, piorando de forma progressiva e acentuada à medida que ocorre o fechamento do canal arterial, gerando posteriormente hipóxia e acidose metabólica) . A hipóxia e a acidose metabólica resultam em disfunção miocárdica e por isso começam a surgir os sinais de IC (taquipneia, cansaço às mamadas, gemência e palidez cutânea) . Não se ausculta sopro e a segunda bulha é única e alta (em virtude da posição anterior da aorta) Diagnóstico . No Raio-X a área cardíaca geralmente é normal, porém podemos ver leve cardiomegalia, e a circulação pulmonar é normal ou discretamente aumentada, o mediastino superior é estreitado em virtude da posição das grandes artérias e podemos ver o coração como se fosse um ’’ovo deitado’’ Tratamento clínico . Infusão de Prostaglandina E1(que retarda o fechamento do canal arterial) . Oxigenioterapia . Atriosseptostomia de Rashkind com cateter balão (é um procedimento paliativo feito para criar uma comunicação com os átrios para dar tempo de fazer a cirurgia de correção total) . Corrigir distúrbios acidobásicos e/ou hidroeletrolítico . Digoxina e diuréticos caso haja IC Tratamento cirúrgico . Cirurgia de jatene (conecta a artéria pulmonar no VD e a aorta no VE e faz um re- implante das coronárias) MEDICINA UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO @jujnamed * RESUMINDO *
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