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Reações químicas de carboidratos Hidrólise A hidrólise pode ocorrer tanto nos monossacarídeos quanto nos oligossacarídeos ou polissacarídeos. Porém, caso esta ocorra nos monossacarídeos, não haverá mais carboidrato. Quando a hidrólise ocorre em oligossacarídeos e polissacarídeos tem-se a formação de carboidratos de tamanhos menores. Esse tipo de reação sofre a influência do pH, temperatura, configuração anomérica, forma e tamanho do anel. Quanto a configuração anomérica, a alfa é mais estável que a beta; no caso do tamanho do anel, o anel pirano é mais estável do que o furano. Para que a hidrólise ocorra, as ligações glicosídicas devem ser rompidas, sendo que esse rompimento é elevado quando há meios considerados ácidos. Os meios ácidos vão promover o rompimento de ligações glicosídicas, podendo também ser usado algumas enzimas específicas, esse processo é chamado de hidrólise enzimática. Nesse caso pode- se utilizar a enzima invertase para promover a ruptura da ligação glicosídica. Exemplo: lactose um dissacarídeo encontrado livre no leite; pode-se promover o rompimento da ligação glicosídica entre a galactose e a glicose, formando os dois monossacarídeos separadamente. Também há a trealose, um dissacarídeo da glicose, onde se pode fazer a ruptura dessa ligação glicosídica e, por fim, há o dissacarídeo mais comum na alimentação, que é a sacarose. A sacarose é considerada um açúcar não redutor formado por uma molécula de glicose e uma de frutose, sendo que, através de um meio ácido ou da ação da enzima invertase, pode haver a formação desses monossacarídeos separados. A sacarose, quando em solução, geralmente apresenta uma rotação positiva, quando colocada em um polarímetro. Quando se tem a sacarose hidrolisada, tem-se o chamado açúcar invertido, ou seja, a sacarose passa a ter uma rotação negativa por conta da composição da glicose e da frutose. Com a hidrólise formando o açúcar invertido, tem-se que a sacarose, formada por glicose e frutose, possui uma rotação óptica de 66,5º. Porém, quando hidrolisada, libera a glicose para o meio, que possui uma rotação óptica positiva de 52,5º, e frutose. A frutose imediatamente se transforma na forma piranosídica, a mais estável com rotação óptica negativa de -94,2º, de forma que a rotação óptica inverte de positiva, na sacarose, para negativa, na sacarose hidrolisada. A hidrólise também pode ser realizada pela enzima invertase, os dois monossacarídeos que são obtidos a partir da ruptura das ligações glicosídicas apresentarão um sabor mais doce do que a sacarose, e também são mais uteis na indústria alimentícia, na produção de balas, sorvetes e refrigerantes. Comercialmente, a glicose é denominada dextrose e a frutose como levulose. Mutarrotação A mutarrotação é a primeira e mais simples alteração que ocorre nos açúcares, consiste na abertura do anel hemiacetálico. Supondo que haja os isômeros alfa e beta de monossacarídeos e oligossacarídeos redutores nas formas de cristais, eles se apresentarão de uma forma bem estável em relação à sua atividade óptica, o que não ocorre se esses cristais forem colocados em solução. Se houver uma solução recém-preparada de α-D-glicose, haverá uma rotação óptica de +112º, porém, após um tempo, esse valor tenderá a crescer lentamente até atingir +52,7º, permanecendo estável. Já em relação à uma solução recém-preparada de β-D-glicose, haverá uma rotação de +19º, crescendo lentamente até atingir 52,7º, permanecendo estável. Sendo assim, vai haver um equilíbrio entre esses dois isômeros quando em solução aquosa, independente do isômero existente na solução inicial, na qual a rotação óptica é de 52,7º, corresponde à 36% de α-D-glicose e 64% de β-D-glicose. Essa rotação é catalisada tanto por ácidos quanto por bases e todos os monossacarídeos e oligossacarídeos redutores vão sofrer esse fenômeno. A proporção de alfa e beta no ponto de equilíbrio irá variar de uma substância para a outra, e a reação tende a ser iniciada pela abertura do anel hemiacetálico, que depois se fecha novamente. Enolização Em relação à enolização, esta é muito semelhante a mutarrotação, porém é necessário concentrações maiores de ácidos ou de bases para produzir a mutarrotaçao de açúcares redutores, fazendo então com que ocorra efetivamente a catalise da enolização por base. Inicialmente o anel considerado heterocíclico do açúcar se abrirá e produzirá um enol, por isso o nome reação de enolização. Esse enol é considerado uma substância bastante instável, então, conforme haja movimentação do par de elétrons da dupla ligação, pode-se haver a formação de um composto. Na molécula da D-glicose, se o par de elétrons se move para cima, haverá a formação da glicose e de seu epímero, manose. De forma semelhante, a frutose pode sofrer uma reação e produzir a glicose, seu epímero D-manose e ela mesma. Na faixa de pH de 3 e 4 a maioria dos açúcares redutores são considerados estáveis. Desidratação Por meio de uma sequência de reações de desidratação, as pentoses irão eliminar três moléculas de água, formando 2-furaldeído, ou furfural. Já as hexoses vão formar o 5-hidroximetil-2-furaldeído, ou também hidroximetilfurfural (HMF), sendo que essa reação ocorre em meios ácidos e, geralmente, sobre aquecimento. O principal mecanismo que ocorre na reação de desidratação é a beta eliminação e envolve também a enolização. O furaldeído é bastante volátil, enquanto o HMF não é. Sendo que o HMF é menos estável que o furfural e se decompõe, principalmente, em ácido levulínico e ácido fórmico, sendo que esses dois ácidos são produzidos em maior quantidade quando as soluções são bastante ácidas. A fragmentação da cadeia carbônica desses produtos principais da reação de desidratação (furfural e HMF) conduz à compostos não só como o ácido levulínico e fórmico, mas também a acetóina, diacetil ácido lático, ácido pirúvico e acético. Alguns desses produtos irão apresentar aromas pronunciados e sabores que podem ser desejáveis ou não. Escurecimento No caso da reação de escurecimento oxidativo ou enzimático, a reação ocorre entre o oxigênio e um substrato fenólico catalisado pela presença da enzima polifenol oxidase, e não envolve carboidratos. Em alimentos, quando se pensa em carboidratos, estão associados o aquecimento, o escurecimento não enzimático e também o processo de armazenamento. Essa reação de escurecimento não enzimático pode ser dividida em três mecanismos: o mecanismo da reação de Maillard, caramelização e oxidação de ácido ascórbico. Logo, é possível observar que esses mecanismos não precisam da presença de enzimas e apenas a oxidação do ácido ascórbico precisa de oxigênio. No caso da reação de Maillard, é necessário a presença do gruo amina, o pH ótimo para a reação é o pH alcalino e o produto final formado seria a melanoidina. Na caramelização, além da não necessidade da presença de oxigênio, também não é necessário a presença do grupo amino e o pH ótimo para que a reação aconteça pode ser tanto alcalino quanto ácido, o produto final é o caramelo. Por fim, na oxidação do ácido ascórbico, não há necessidade do grupo amino mas é necessária a presença de oxigênio, sendo que o pH ótimo seria um meio ligeiramente ácido com a produção final de melanoidina. Na reação de Maillard haverá a presença de açúcares redutores, já que são necessários para formarem a melanoidina, e, no caso da oxidação do ácido ascórbico, haverá a presença de um polihidroxiácido, que também é um açúcar (ácido ascórbico), levando a formação da melanoidina. Reação de Maillard A reação de Maillard é a principal causa do escurecimento desenvolvido durante o aquecimento e armazenamento prolongado de um alimento. Essa reação é dividida em três fases. Na fase inicial há a reação de condensação entre a proteína presente no alimento, mais precisamente o grupamento amina, juntamente com o açúcar redutor/grupo carbonila, como nocaso da glicose. Haverá então a eliminação de uma molécula de água e a formação da glicosilamina, e, através de várias reações, haverá então a obtenção de um produto com coloração escura, que são as melanoidinas. Na fase inicial ainda não há a formação de coloração e de aroma. Na fase intermediária a coloração passa a se tornar mais amarelada, ainda não tendo formação de aroma. Já na fase final haverá a formação do aroma e coloração mais intensa, devido principalmente a formação de polissacarídeos complexos. Os lipídios também podem participar das reações de Maillard, porque o requerimento principal é a presença de grupos redutores. Então, no caso dos monossacarídeos pode-se ter os grupos carbonilas, e no caso de lipídios pode-se ter aldeídos, peróxidos e epóxidos, formados principalmente durante a oxidação desses lipídios. Além do escurecimento, a ração de Maillard ocasiona: Redução na digestabilidade de proteinas; → ocorre justamente por causa da formação da glicosilamina, que não é reconhecida pelas enzimas digestivas. Inibição da ação de enzimas digestivas; Destruição de nutrientes como aminoácidos essenciais (ex.: lisina, arginina e histidina) e ácido ascórbico. Interferência no metabolismo de minerais (complexação). → pode ocorrer a complexação dos minerais com o produto da reação. Benefícios da reação de Maillard: Alteração desejável da cor; Alteração do flavor em certos produtos; Formação de substâncias antioxidantes no decorrer das reações. Quando a reação de Maillard é não desejável, pode-se utilizar agentes químicos, como o sulfito, alterar o teor de água/atividade de água, o pH e a temperatura do meio, além de remover substâncias consideradas reativas. Exemplo: produtos alimentícios em pó que contenham glicose, adiciona-se a enzima glicose-oxidase, gerando ácido glucônico. Com a presença do ácido glucônico, o mesmo será responsável por fazer com que não haja o escurecimento não enzimático ou não vai promover o escurecimento do produto pela reação de Maillard. Fatores que afetam a reação de Maillard A temperatura é considerada um fator, visto que a reação de Maillard tende a acontecer quando a temperatura se encontra maior do que 70ºC. Porém, durante o armazenamento não se tem temperaturas tão elevadas, mas a reação pode continuar acontecendo. Quando há um acréscimo de 10ºC da temperatura, em relação ao processamento ou armazenamento, é aumentado em 3 vezes a velocidade de escurecimento do produto alimentício. O efeito do pH também é um fator, visto que a reação tende a ocorrer em uma faixa de pH de 3 a 8. Em relação ao escurecimento ocorrer em uma faixa de pH entre 9 e 10, isto ocorre pois é necessário o grupo amino, o açúcar redutor e de um pH mais alcalino para que o par de elétrons do nitrogênio do aminoácido esteja livre, e isso ocorre com a elevação do pH. Já em pH baixo, o íon do grupo amina vai protonar, assim não há elétrons livres e com isso não será formado o complexo glicosilamina, que então haverá outras reações até chegar na formação da melanoidina. Na figura do lado esquerdo tem-se um pH menor que o ponto isoelétrico, com isso há o aminoácido ou a proteína sendo representada junto aos grupamentos carboxílicos. Já em pH maior que o ponto isoelétrico da proteína ou do aminoácido, tem-se que o grupo carboxílico irá perder o hidrogênio, como mostrado na figura do lado direito. Em pH menor que 5 e na presença do ácido ascórbico e não do açúcar redutor ocorre também o escurecimento, porém não será provocado pela reação de Maillard, mas sim pela oxidação do ácido ascórbico. Os tipos de aminas e os açúcares presentes também influenciam na reação de Maillard. A reatividade em relação aos aminoácidos envolvidos será diferente dependendo do tipo do aminoácido, sendo que a lisina é considerada o aminoácido mais reativo. Logo, nesse caso, entra a questão do pH e do ponto isoelétrico de cada aminoácido. A reação pode ocorrer na presença de monossacarídeos ou dissacarídeos, mas ambos precisam ser redutores. Para haver uma maior intensidade/força da reação de Maillard, deve-se agrupar alguns carboidratos. Sendo que, se houver a presença de uma pentose, a reação será mais intensa quando comparado com uma hexose, sendo que a reação será mais intensa com essa última quando em comparação com dissacarídeos redutores. pentose > hexose > dissacarídeo Em relação ao teor de umidade, a taxa de escurecimento tende a ser zero em valores extremos. Ou seja, vai ser zero em valores muito baixos ou muito altos, sendo que aumentará em valores intermediários de aw, entre 0.5 e 0.8. Isso ocorre pois, quando há uma alta aw, os reagentes do alimento vão estar mais diluídos, dificultando o encontro dos reagentes/substâncias. Se há uma aw muito baixa no alimento, também não será promovido o encontro desses componentes para que haja a formação do produto. Logo, é preciso que haja um equilíbrio na atividade de água para que ocorra o escurecimento. No caso de produtos desidratados, se houver um aumento na atividade de água, o equilíbrio da reação vai ser deslocado no sentido da formação do pigmento. Em relação ao sulfito/dióxido de enxofre, este é eficiente não só no controle da reação de Maillard, como também no escurecimento enzimático e no crescimento de microrganismos. Também é possível usar o sulfito na adição das uvas esmagadas para a produção do vinho, o que tende a diminuir, principalmente, o crescimento dos microrganismos não interessantes para a produção do vinho, deixando somente aqueles importantes, as leveduras. O sulfito pode promover o bloqueio da carbonila do açúcar redutor, formando então sulfonatos, prevenindo a condensação entre a glicose e o grupo amino. Caramelização A reação de caramelização é outra reação de escurecimento, sendo que essa envolve a degradação de açúcares em ausência de aminoácidos ou proteínas. Geralmente se dá pelo aquecimento do açúcar em temperaturas mais elevadas do que as necessárias para que haja a reação de Maillard, ou seja, temperaturas maiores que 120ºC. Essas temperaturas elevadas promovem a pirólise do açúcar, tendo como produtos os caramelos, de alto peso molecular. A reação de caramelização se deve a introdução de dupla ligação na glicose e eliminação de moléculas de água até que ocorra a formação das melanoidinas. Logo, se tem a desidratação do açúcar redutor junto ao rompimento das ligações glicosídicas. Essa reação é do tipo iônica, pode ser catalisadas por ácidos em pH entre 2 a 4, e pode também ser catalisada por bases em pH de 9 a 10, onde neste caso haverá uma maior velocidade. O caramelo é bastante empregado na indústria de alimentos, pois ele tem a função de corante e flavorizante. Quando há o aquecimento do açúcar em temperaturas de 200 a 240ºC, haverá uma baixa intensidade de cor, sendo então estes caramelos mais usados como flavorizantes. Quando há temperaturas mais reduzidas, como por exemplo de 130 a 200ºC, na presença de catalisadores haverá formação de caramelos com alta intensidade de cor que vão ser mais empregados como corantes. Peculiaridades Em leites e derivados há a presença de lactose na composição junto a proteínas termosensíveis. Logo, a reação de Maillard tende a acontecer bastante nesses tipos de produto, principalmente durante o tratamento térmico, podendo haver a alteração da cor e destruição de aminoácidos, como a lisina. Dependendo do processo de tratamento térmico e o tempo de aquecimento do leite, haverá uma maior ou uma menor perda de nutrientes, principalmente no que diz respeito aos aminoácidos essenciais. Então leites pasteurizados podem ter uma perda de 3% de aminoácidos essenciais, sendo que nos leites esterilizados há uma perda de 8 a 12%, e nos leites secos pode haver a perda de até 30% desses aminoácidos. No caso de carnes e derivados, estes são mais resistentes à reações de escurecimento, principalmente a reação de escurecimentode Maillard, devido a acidez natural e o baixo teor de açúcares reativos, ou seja, de açúcares redutores. Nos peixes, essa carne diferenciada possuirá um alto teor de ribose e também é promovido um aumento de pH após a pesca, favorecendo a reação de escurecimento. Vegetais e derivados poderão sofrer reações de deterioração ou de escurecimento, sendo importantes em produtos que passam por uma modificação, como os produtos concentrados e desidratados que são levemente transformados, principalmente no caso de vegetais não ácidos e ricos em açúcares e aminoácidos. O controle do processo é crítico para a qualidade do produto final, sendo que, nesse caso, o escurecimento será máximo em atividade de água intermediário (0,53-0,55). No caso das frutas enlatadas, o escurecimento não é muito significativo, principalmente porque essas frutas enlatadas se encontram em meio ácido e não em meio básico, o que não favorece a reação de escurecimento de Maillard. No caso de cereais e derivados, haverá reações durante o processamento que resultarão na destruição de aminoácidos essenciais, principalmente a lisina. Porém, há a formação de flavor e colorações desejáveis, como a reação de Maillard e a caramelização. Então essas reações favoráveis podem acontecer pela adição de açúcar redutor ou pela hidrólise do amido. Sendo que essa hidrólise ocorre com a presença da enzima α-amilase, fazendo com que o polissacarídeo amido seja clivado em dissacarídeo maltose redutora. Essa maltose dará a coloração, o sabor e o aroma desejável para o produto em questão, melhorando a maciez e a textura da massa, como pães e bolos e outros produtos que contenham cereais e seus derivados.
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