Prévia do material em texto
Transtorno do espectro autista 1. Definir o Transtorno do Espectro Autista ● O transtorno do espectro autista, antes conhecido por transtornos globais do desenvolvimento, é um grupo fenotipicamente heterogêneo de síndromes neuroevolutivas, com hereditariedade poligênica ● Um consenso clínico recente mudou o conceito de transtorno do espectro autista para um modelo de transição gradual, em que a heterogeneidade dos sintomas é reconhecida como inerente ao transtorno, e os problemas diagnósticos básicos caíram em dois domínios: ○ deficiências na comunicação social ○ comportamentos restritos e repetitivos ■ É frequente que as crianças com transtorno do espectro autista mostrem algum interesse particularmente intenso em uma pequena faixa de atividades, resistam a mudanças e, de forma típica, não reajam ao ambiente social conforme seus pares. ● O desenvolvimento e uso da linguagem aberrante deixaram de ser considerados uma característica básica do transtorno do espectro autista. Não é mais uma característica definidora, porém uma particularidade associada em alguns indivíduos com esse transtorno ○ Embora os problemas linguísticos não sejam critérios diagnósticos primordiais, retardo linguístico acompanhado de uma retração no comportamento social é, com frequência, um sintoma preditor do transtorno de espectro autista. ● Via de regra, o transtorno do espectro autista se torna evidente no decorrer do segundo ano de vida, e, em alguns casos, se observa uma ausência de interesse evolutivo apropriado nas interações sociais, mesmo no primeiro ano de vida. ○ Alguns estudos sugerem a possibilidade de que ocorra um declínio na interação social entre o primeiro e o segundo ano de vida ○ Em casos mais brandos, deficiências básicas no transtorno do espectro autista talvez não sejam identificadas por muitos anos. 2. Elucidar etiologia, epidemiologia, fisiopatologia e diagnósticos diferenciais do TEA. ● Etiologia ● Fatores genéticos ○ contribuição hereditária significativa; entretanto, não parece ser completamente penetrante. Embora até 15% dos casos de transtorno do espectro autista pareçam estar associados a mutações genéticas conhecidas, na maior parte das situações sua expressão depende de múltiplos genes. ○ A heterogeneidade na expressão dos sintomas em famílias com o transtorno do espectro autista revela que há diversos padrões de transmissão genética. Alguns estudos indicam que tanto o aumento quanto a redução em determinados padrões genéticos podem ser fatores de risco para a condição. ○ Alguns estudos genéticos identificaram dois sistemas biológicos que são influenciados no autismo: a descoberta consistente de níveis elevados de serotonina plaquetária (5-HT) e do alvo mTOR (do inglês mammalian target of rapamycin), ou seja, mecanismos de plasticidade sináptica ligados ao alvo da rapamicina em mamíferos, que aparentemente se rompe no transtorno do espectro autista ○ Pesquisadores que rastrearam o DNA de mais de 150 pares de irmãos com transtorno do espectro autista encontraram evidências de duas regiões nos cromossomos 2 e 7 contendo genes que podem contribuir para a condição. Genes adicionais supostamente também envolvidos no transtorno foram encontrados nos cromossomos 16 e 17. ● Biomarcadores no transtorno do espectro autista ○ O transtorno do espectro autista está associado a diversos biomarcadores, potencialmente resultantes da interação de genes e de fatores ambientais, que influenciam a função neuronal e o desenvolvimento de dentritos, além de contribuírem para alterações no processamento das informações neuronais. ○ O primeiro biomarcador identificado no transtorno do espectro autista foi um nível elevado de serotonina no sangue total, quase apenas nas plaquetas. Considerando-se que o 5-HT está envolvido no desenvolvimento encefálico, é possível que as alterações em sua regulação resultem em alterações na migração neuronal e no crescimento do cérebro. ○ Alguns estudos de neuroimagens estruturais e funcionais sugeriram biomarcadores específicos associados ao transtorno do espectro autista, como circunferências neonatais da cabeça nos limites normais ou ligeiramente abaixo do normal. Entretanto, na idade de 5 anos, entre 15 a 20% das crianças com esse transtorno desenvolveram macrocefalia. No entanto, estudos de imagens por ressonância magnética estruturais (IRMe) de crianças afetadas pelo transtorno, com idades entre 5 e 16 anos, não encontraram os valores médios do volume total do cérebro aumentados. ■ O processo dinâmico do volume cerebral total atípico e em alteração, observado em crianças com o transtorno do espectro autista, dá suporte à hipótese abrangente de que há períodos sensíveis ou ”períodos críticos” na plasticidade cerebral que poderão ser rompidos de modo que contribuam para o surgimento do transtorno do espectro autista. ○ O foco principal dos estudos de imagens por ressonância magnética funcionais (IRMf) é a identificação de biomarcadores, isto é, correlatos cerebrais funcionais de vários sintomas encontrados no transtorno do espectro autista. ■ Em resposta a alguns estímulos socialmente relevantes, os pesquisadores concluíram que esses indivíduos apresentam maior estimulação da amígdala. ■ No que diz respeito à “teoria da mente”, isto é, a capacidade para atribuir estados emocionais a outras pessoas e a si próprios, os estudos encontraram diferenças na ativação de regiões do cérebro, tais como o lobo temporal direito, e de outras áreas que reconhecidamente são ativadas em controles durante a execução de tarefas envolvendo a teoria da mente. ■ Padrões atípicos de ativação do lobo central foram encontrados em diversos estudos do transtorno do espectro autista durante as tarefas de processamento da face, indicando que essa área do cérebro é de extrema importância na percepção social e no raciocínio emocional. Pesquisadores elaboraram a hipótese de que os indivíduos com esse transtorno utilizam mais as estratégias visuais durante o processamento da linguagem do que aqueles do grupo-controle ● Fatores imunológicos ○ Há diversos relatos sugerindo que a incompatibilidade imunológica (i.e., anticorpos maternos direcionados ao feto) pode contribuir para o transtorno do espectro autista. Os linfócitos de algumas crianças autistas com anticorpos maternos permitem pensar que os tecidos neurais embrionários tenham sido lesionados durante a gestação. ● Fatores pré-natais e perinatais ○ Os fatores pré-natais mais significativos são idade materna e paterna avançada no momento do nascimento do bebê, hemorragia gestacional materna, diabetes gestacional e bebê primogênito. ○ Os fatores de risco perinatais incluem complicações no cordão umbilical, trauma no nascimento, desconforto fetal, feto pequeno para a idade gestacional, peso baixo ao nascer, baixo índice de Apgar no quinto minuto, malformação congênita, incompatibilidade do grupo sanguíneo ABO ou do fator Rh e hiperbilirrubinemia. ○ Muitas das complicações obstétricas relacionadas ao risco do transtorno também são fatores de risco para hipoxia que, em si mesma, pode ser um fator de risco subjacente. ● Transtornos neurológicos comórbidos ○ Em torno de 4 a 32% dos indivíduos afetados têm convulsões de grand mal em algum momento, e 20 a 25% apresentam aumento no volume ventricular nas varreduras por tomografia computadorizada (TC). ○ Diversas anormalidades eletrencefalográficas (EEG) são encontradas em 10 a 83% das crianças com definição prévia de transtorno do espectro autista e, embora nenhuma das descobertas eletrencefalográficas sejam específicas desse transtorno, há algumas indicações de lateralização cerebral. ○ Existe um consenso atual considerando o transtorno do espectro autista um conjunto de síndromes comportamentais causadas por uma multiplicidade de fatores que agem no sistema nervoso central. ● Epidemiologia ● Acredita-se que, com base nos critérios do DSM-IV-TR, o transtorno do autismo ocorra a uma taxa de 8 casos em cada 10 mil crianças ● Por definição, o início desse transtorno ocorrena fase inicial do desenvolvimento, ainda que alguns casos não sejam identificados até que a criança esteja bem mais velha. Em virtude disso, as taxas de prevalência aumentam com a idade nos casos de crianças mais jovens. ● Diagnosticado com uma frequência quatro vezes maior em meninos do que em meninas. É que há uma probabilidade bem menor de identificar, encaminhar clinicamente e diagnosticar meninas com esse transtorno sem incapacidade intelectual. ● Diagnósticos diferenciais ● Os transtornos a serem considerados no diagnóstico diferencial de transtorno do espectro autista incluem os da comunicação social (pragmática); da comunicação, descrito recentemente no DSM-5; esquizofrenia com início na infância; surdez congênita ou distúrbio auditivo grave; e privação psicossocial. ● O diagnóstico de transtorno do espectro autista também é muito difícil devido à sobreposição potencial dos sintomas com esquizofrenia da infância, síndromes de capacidade intelectual com sintomas comportamentais e transtornos da linguagem. 3. Entender o tratamento farmacológico e não farmacológico (com foco nas condutas utilizadas no BR). ● As metas principais dos tratamentos de crianças com transtorno do espectro autista são focar comportamentos básicos para melhorar as interações sociais e a comunicação; ampliar as estratégias de integração escolar; desenvolver relacionamentos significativos com os pares; e aumentar as habilidades para viver uma vida independente no longo prazo 4. Discutir os critérios diagnósticos utilizados (DSM-V), evolução e prognóstico do TEA. ● Quadro clínico - (3 ou mais do critério de Deficiências persistentes na comunicação e interação social e 2 ou mais do critério de Padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades) ● Cabe ressaltar que, de acordo com o DSM-IV-TR, a síndrome ou transtorno Rett parece ocorrer exclusivamente em mulheres e se caracteriza pelo desenvolvimento normal durante pelo menos 6 meses, seguido por movimentos estereotipados das mãos, perda de movimentos intencionais, redução no compromisso social, descoordenação e redução no uso da linguagem. ● Na antiga denominação de transtorno desintegrativo da infância, há um progresso normal no desenvolvimento durante cerca de 2 anos e, a partir de então, a criança começa a perder as habilidades previamente adquiridas em duas ou mais entre as seguintes áreas: uso da linguagem, responsividade social, brincadeiras, habilidades motoras e controle da bexiga ou dos intestinos. ● O antigo transtorno de Asperger caracteriza-se por problemas no relacionamento social e por um padrão repetitivo e estereotipado de comportamento sem retardo ou aberração marcante no uso e no desenvolvimento da linguagem. No transtorno de Asperger, as capacidades cognitivas e as habilidades adaptativas mais importantes são compatíveis com a idade, embora existam problemas na comunicação social. SINTOMAS CENTRAIS DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA ❖ Deficiências persistentes na comunicação e interação social ● Não se adaptam ao nível esperado de habilidades sociais recíprocas e de interações sociais não verbais espontâneas. ● Os lactentes com esse transtorno possivelmente não desenvolvem sorrisos sociais e, mais tarde, como bebês mais velhos podem não ter a postura antecipatória de serem colocados no colo de uma cuidadora. ● Contato com os olhos menos frequente e mais fraco é comum durante a infância e a adolescência. ● É possível que essas crianças não reconheçam ou diferenciem explicitamente as pessoas mais importantes em suas vidas – pais, irmãos e professores –, e, no entanto, é provável que não reajam de forma tão intensa quando são deixadas com uma pessoa estranha ● Sentem e demonstram uma ansiedade extrema quando sua rotina normal é interrompida. ● Muitas vezes, o comportamento social de crianças com autismo pode ser inadequado porque se caracteriza pela timidez. ● Sob o ponto de vista cognitivo, frequentemente crianças com esse transtorno têm mais habilidade nas tarefas visuais do que nas que exigem raciocínio verbal. ● Deficiência na capacidade de perceber os sentimentos ou o estado emocional das pessoas ao seu redor. Ou seja, indivíduos com o transtorno não conseguem atribuir motivações ou intenções a outras pessoas (fato também conhecido como “teoria da mente”) e, por isso, sentem dificuldades para desenvolver empatia. ❖ Padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades. ● Essas crianças não usam brinquedos ou objetos da maneira habitual ● As crianças autistas não apresentam o nível de brincadeiras imitativas ou de pantomima abstrata exibido pelas outras da mesma idade. As atividades e brincadeiras parecem ser mais rígidas, repetitivas e monótonas 5. Revisar os marcos do Desenvolvimento Neuropsicomotor normais. ● marcos diferentes no autismo ○ hiperreatividade ao som (localiza o som) ○ lalação (mama, papa) dificultada ○ passar o objeto de uma mão para a outra ○ sorriso social ○ não estranha pessoas aos 9 meses