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VIOLÊNCIA FÍSICA E PSICOLÓGICA NAS ESCOLAS: BREVE ESTUDO SOBRE AS POSSIBILIDADES DE PREVENÇÃO E ENFRENTAMENTO Luiz Marcelo Ribeiro de Novaes1 Orientador: Raymundo de Lima2 Resumo: O presente trabalho expõe os estudos realizados no decorrer do ano de 2016 e a intervenção pedagógica implementada, no ano de 2017, com equipe diretiva e pedagógica do Colégio Estadual Presidente Afonso Camargo, da cidade de Loanda, Paraná. Tem como recorte temático a violência escolar, nas suas diversas formas de manifestação, especialmente a violência física e psicológica praticada por estudantes em face de outros estudantes, professores ou profissionais da educação, e relata, ainda, possíveis formas de prevenção e enfrentamento. Tal seleção se deve à percepção empírica, corroborada pela produção bibliográfica acerca do tema, de que os atos de violência afetam negativamente o processo educativo. Para fundamentar a produção e o trabalho prático, buscou-se apoio nos estudos realizados por autores como Bernard Charlot, Eric Debarbieux e Miriam Abramovay, bem como em dados estatísticos realizados por entidades públicas e privadas, como a rede midiática BBC e IBGE. Palavras-chave: Violência escolar. Prevenção. Enfrentamento. Cultura de paz. 1. INTRODUÇÃO Dentre características que distinguem a civilização humana do estado de barbárie, talvez a principal delas seja o primado da racionalidade e seu domínio sobre a força instintiva da agressividade, impedindo que esta se manifeste através da violência como método para a imposição do desejo individual ou coletivo. Nestas circunstâncias, a violência – nas suas diferentes formas de manifestação – se afigura hodiernamente como conduta desprezível e censurável, 1 Professor de História da Rede Estadual de Ensino do Paraná desde o ano de 2004, graduado pela Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí, Paraná (FAFIPA/UNESPAR), em 2001, lotado no Colégio Estadual Presidente Afonso Camargo, da cidade de Loanda, Paraná, circunscrito ao Núcleo Regional de Educação de Loanda, Paraná. Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional do Paraná (PDE), edição 2016/2017. E-mail: marcelonovaes@seed.pr.gov.br. 2 Graduado em Psicologia pela Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, no ano de 1980; Mestre em Psicologia pela Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, em 1985; Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo, São Paulo, em 2005. Professor do Departamento de Fundamentos da Educação (DFE), da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Paraná, desde 2016 é coordenador pedagógico do programa Universidade Aberta à Terceira Idade – UNATI, da Universidade Estadual de Maringá/PR. mailto:marcelonovaes@seed.pr.gov.br sendo justificada apenas quando utilizada, em casos específicos, para a preservação da vida ou da integridade física, própria ou de terceiros. A despeito disso, é forçoso reconhecer que o fenômeno da violência permanece existindo em nossa sociedade, especialmente em nações pobres ou emergentes3, havendo inclusive a impressão do agravamento da sua prática, bem como da intensidade dos atos danosos praticados, em razão da ampla repercussão dada pela mídia aos episódios violentos. Mesmo nos países considerados desenvolvidos, tidos por menos violentos, não se mostram raros os casos de violência praticada contra minorias, ataques em locais públicos por pessoas desequilibradas, e mesmo atentados terroristas realizados por grupos extremistas, o que evidencia a vulnerabilidade dos povos e reforça a já intensa sensação de insegurança. Nesse contexto, o estudo da violência praticada e sofrida no âmbito escolar pressupõe a compreensão de que a escola é um microcosmo da sociedade, e que, apesar de ter como função social a veiculação e a cognição dos saberes historicamente acumulados pela humanidade, que prima pela formação de sujeitos capazes de agir em prol do desenvolvimento da civilização humana, é também reprodutora de padrões sociais hegemônicos, muitos dos quais se opõem diametralmente aos conteúdos, princípios e valores ensinados. Considerando tal conjuntura, o presente artigo – resultado da participação e dos estudos realizados no Programa de Desenvolvimento Educacional do Paraná (biênio 2016/2017) – visa contribuir com o debate acerca da violência no âmbito escolar, tema de grande relevância para os educadores e teóricos da educação, haja vista os prejuízos que sua ocorrência causam no processo de ensino e aprendizagem. Importa ressalvar, oportunamente, que o prejuízo pedagógico é apenas um dos desdobramentos possíveis da violência escolar, sendo evidentes também, além deste, a diminuição da autoestima das pessoas subjugadas pela coerção física e/ou moral, seu (auto) afastamento do convívio social, bem como o desenvolvimento ou agravamento de estresse e doenças psicossomáticas, que podem ensejar até pensamentos suicidas e/ou de vingança. 3 O Global Peace Index (Índice Global da Paz), estudo anual produzido pelo Instituto de Economia e Paz (http://economicsandpeace.org) e que considera um amplo conjunto de critérios (critérios geográficos, demográficos, econômicos, sociais, militares, ambientais, entre outros), revela que todos os 50 países menos pacíficos do mundo, num rol de 163 nações estudadas, são pobres ou em desenvolvimento. A seleção do referido tema como objeto de estudo resulta da constatação, por parte do pesquisador, da recorrência de episódios violentos em Instituições de ensino básico, tanto públicas como privadas, promovidos principalmente por estudantes, tendo como vítimas outros estudantes, professores e demais profissionais da educação. Resulta, ainda, da percepção de que as obras que tratam sobre o tema são em regra desconhecidas pelos trabalhadores da educação, o que torna pouco frutíferos os debates e proposições realizadas nas reuniões pedagógicas, haja vista a falta de bases teóricas. Em se tratando de produção destinada a professores/as da Rede Estadual de Ensino do Paraná, o presente trabalho se propõe a apresentar algumas das principais produções teóricas relativas à violência escolar, oferecendo elementos introdutórios a respeito do tema, sem qualquer pretensão de promover seu esgotamento. Desse modo, intenta-se inicialmente conceituar as expressões violência e violência escolar, apresentando as definições contidas na bibliografia revisada. Busca- se, ainda, delimitar conceitos caros ao tema objeto de estudo, como violência, indisciplina, incivilidade, ato infracional, bullying, crimes amoks e barbárie. Para o desenvolvimento do trabalho, optou-se pela revisão bibliográfica, com a análise de obras escritas por diversos estudiosos do tema, dentre os quais, especialmente: Bernard Charlot, Cleo Fante, Eric Debarbieux e Miriam Abramovay. Com isso, espera-se que o presente trabalho se afigure como um contributo para os professores e profissionais da educação no processo de prevenção e enfrentamento à violência escolar, favorecendo a compreensão das principais expressões relacionadas ao tema; promovendo meios para a compreensão de que a violência escolar é violadora de direitos humanos; estimulando a pesquisa e a produção de dados estatísticos acerca das diversas formas de manifestação da violência escolar; contribuir com o debate entre os professores e demais profissionais da educação sobre a violência escolar, a partir da leitura de obras teóricas sobre o tema; promovendo um caminho possível para a compreensão da legislação que direta ou indiretamente se relaciona com o tema violência no âmbito escolar, entre outras coisas. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA (REVISÃO BIBLIOGRÁFICA) Com os recorrentes episódios de violência escolar no Brasil, principalmente a partir da década de 1990, observados em instituições de ensinopúblico e privadas, de localizações centrais e de periferia, de cidades grandes, médias ou pequenas, superou-se a ideia de que a violência infanto-juvenil era uma manifestação própria do processo de socialização durante a fase de desenvolvimento, resultante dos conflitos oriundos da experiência vivida no ambiente escolar. Nesse sentido, um número significativo de pesquisadores se empenhou em categorizar as diferentes formas de manifestação da violência no âmbito escolar, oferecendo subsídios aos profissionais da educação para sua prevenção e enfrentamento. Neste cenário, cumpre lançar mão de algumas dessas categorizações com vistas a subsidiar o presente documento, bem como o trabalho de intervenção pedagógica a ser realizado na escola. Em primeiro lugar, é importante esclarecer que a indisciplina “normal”, por ser própria das atitudes infanto-juvenis, não se enquadra no tema a ser aqui analisado, vez que não se manifesta como uma violência praticada por um sobre outrem (porque causa danos às pessoas e ao patrimônio); ou seja, trata-se de atitudes de recusa ou resistência à cooperação ao processo de ensino e aprendizagem até o desrespeito com os colegas, professores e funcionários, bem como a não observância das ordens e preceitos escolares. Seria, finalmente, a indisciplina, uma forma de desestabilização da ordem escolar por parte dos estudantes, por suas ações ou omissões. É o que defende Nerici (apud GIANCATERINO), que ao definir a disciplina, afirma que “...em sentido didático, representa a maneira de agir do educando, no sentido de cooperação no desenvolvimento das atividades escolares e respeito pelos colegas” (1989, p.25), proporciona um entendimento do que seja indisciplina. Já de acordo com Julio Groppa Aquino (1996), o conceito de indisciplina pode tomar várias formas, a depender de critérios subjetivos daqueles que o analisam. A este respeito, o autor esclarece que: O próprio conceito de indisciplina, como toda criação cultural, não é estático, uniforme, nem tampouco universal. Ele se relaciona com o conjunto de valores e expectativas que variam ao longo da história, entre as diferentes culturas e numa mesma sociedade: nas diversas classes sociais, nas diferentes instituições e até mesmo dentro de uma mesma camada social ou organismo. Também no plano individual a palavra indisciplina pode ter diferentes sentidos que dependerão das vivências de cada sujeito e do contexto em que forem aplicadas.(AQUINO, 1996, p.84). Capalbo (1979 apud DAMKE, GONÇALVES; SILVA, 2008, p.4) defende que as ações dos professores sofrem influências do mundo simbólico com o qual vivemos. Para a autora, como seres simbólicos que somos, construímos um mundo ao mesmo tempo que somos construídos por ele, de modo que nossas ações, crenças e pensamentos são reflexos da maneira como percebemos o mundo. Assim, o que é tido como indisciplina para uma pessoa ou grupo de pessoas, pode não ser para outra ou seu respectivo grupo. Isso quer dizer que, se a formação da própria consciência e personalidade depende da escolha que cada um faz no decorrer da vida, depende também, em boa medida, das influências externas, e principalmente, dos sentidos que cada um dá a tais influências, tendo ou não consciência deste processo. Desse modo, se para um/a professor/a (seja ele do ensino fundamental, médio ou superior) o estudante “conversador” é indisciplinado, para outro esta é apenas uma característica de alguém comunicativo, sendo possível extrair dessa característica algo positivo para o desenvolvimento escolar. Tecidos esses breves comentários, cumpre reiterar que este trabalho abordará de forma mais aprofundada a questão da violência no âmbito escolar, usando como base, essencialmente, autores como Bernard Charlot, Eric Debarbieux e Miriam Abramovay, sem prejuízo do estudo de outros que tratam sobre o tema objeto de estudo. Abordando o tema, Charlot (2008, p.432-443) esclarece que são três as variações, definindo como sendo violência à escola a que ocorre dentro do espaço físico escolar sem nenhuma relação ter com o ensino ou com as práticas escolares; violência na escola, que é aquela em que está ligada à natureza e à instituição escolar, que ocorre, por exemplo, quando os estudantes agridem os professores ou danificam o prédio escolar; e a violência da escola, que é aquela produzida e reproduzida pela instituição e seus agentes, vitimizando os próprios estudantes. Não evidencia, porém, onde se encaixa a violência praticada por estudantes contra outros estudantes, fazendo crer que se amolde ao que ele define como violência à escola, desde que não tenha relação específica com o ensino ou a atividade escolar. O autor apresenta também sua definição de agressividade, agressão e violência, contribuindo com a superação da ideia de que seria possível uma escola livre de agressões. Nas suas palavras: A agressividade é uma disposição biopsíquica reacional: a frustração (inevitável quando não podemos viver sob o princípio único do prazer), leva à angústia e à agressividade. A agressão é um ato que implica uma brutalidade física ou verbal (agredir é aproximar-se, abordar alguém, ataca- lo). A violência remete a uma característica desse ato, enfatiza o uso da força, do poder, da dominação. De certo modo, toda agressão é violência na medida em que usa a força. Mas parece pertinente distinguir a agressão que utiliza a força apenas de maneira instrumental, até mesmo que se limita a uma simples ameaça (como a extorsão para apossar-se, por exemplo, de tênis, bonés ou outro qualquer pertence pessoal de alguém: se a vítima resiste, não é ferida) e a agressão violenta, na qual a força é utilizada muito além do que é exigido pelo resultado, com uma espécie de prazer de causar mal, de destruir, de humilhar. (CHARLOT, 2008, p.432-443). Esta categorização proposta por Bernard Charlot permite problematizar as proposições teóricas que visam à supressão da agressividade no ambiente escolar. No seu ver, a agressividade sublimada, tão valorizada na sociedade (como nos esportes, nas artes, etc.) e os conflitos [sociais], considerados por Hegel o motor da História, são demonstrativos de que tais manifestações são parte inerente da conduta humana (CHARLOT, 2002, p.436). Já Debarbieux (2002, p.60-61), se perfilhando a um grande número de outros teóricos, entende violência escolar como um amplo espectro de atos de delinquência que não necessariamente são passíveis de punição, ou que, de qualquer forma, passam despercebidos pelo sistema jurídico. Neste sentido, defende que não é cabível aos estudiosos do tema restringirem a violência escolar a definições pré-estabelecidas, mas sim considerar a percepção dos estudantes sobre o que consideram atos de violência. Em suas palavras: A voz das vítimas deve ser levada em consideração na definição de violência, que diz respeito tanto a incidentes múltiplos e causadores de estresse que escapam à punição quanto à agressão brutal e caótica. (DEBARBIEUX, 2002, p.61). Mesmo ciente de que essa definição ampliativa de violência escolar poderá resultar diversas objeções, Debarbieux defende a viabilidade de sua aplicação, vez que possibilita o entendimento da violência escolar pela visão daquele que considera ter sido vítima dela. Abramovay, por sua vez, com entendimento semelhante ao de Debarbieux, considera ser difícil definir o conceito de violência (o qual é ponto de partida para o entendimento de violência escolar), haja vista a mutabilidade de seu entendimento. Para ela: [...] violência é um conceito relativo, histórico e mutável. Enquanto categoria, nomeia práticas que se inscrevem entre as diferentes formas de sociabilidade em um dado contexto sociocultural e, por isso, está sujeita a deslocamentos de sentidos (ABRAMOVAY, 2006, p.54). Partindo dessa constatação, a autora divide o estudo daviolência em três seções, quais sejam, a violência direta, a violência indireta e a violência simbólica. Para ela, a violência direta seria a violência física, da qual decorrem prejuízos à integridade física da vítima, causando-lhe lesões ou mesmo a morte. A violência indireta seria aquela ligada a ações coercitivas que impliquem em danos à integridade psicológica ou emocional. Já a violência simbólica é definida como o conjunto de ações e relações que afetam o indivíduo nas suas ações, pensamento ou consciência. No seu trabalho de definir as diferentes formas de manifestação da violência no âmbito escolar, a autora constata que se mostra imprescindível a superação de estratégias repressivas e punitivas como método para prevenção e enfrentamento da violência escolar, devendo sim serem desenvolvidas estratégias educativas, voltadas para os direitos humanos. Para a autora: [...] é fundamental atentar para o fato de que a diversidade e a complexidade da temática não permitem que se pense em sistemas de repressão, controle e castigo como instrumentos e estratégias capazes de controlar e/ou abolir as violências nas escolas. Considerando o enraizamento das violências no cotidiano da escola, afetando a convivência e as relações sociais, é necessário pensar em uma atuação voltada para os direitos humanos, de modo a possibilitar que a escola repense seus problemas estruturais, tais como a repetência, a evasão, a má qualidade do ensino e, até mesmo, o aumento das violências nas escolas. (ABRAMOVAY, 2006, p.375). A partir da breve análise da produção de 3 importantes pesquisadores da violência escolar, pode-se perceber que se trata de um tema sobremaneira complexo, que requer ampla investigação e profunda análise. No presente caso, longe de se ter a pretensão de esgotar o assunto, busca-se apenas introduzir o leitor à problemática tratada, levando ao conhecimento dos profissionais da educação, a quem se destina esta produção escrita, diferentes visões sobre violência e violência escolar. Pretende-se, com isso, a apresentação de um trabalho didático, de modo a estimular a ampliação do conhecimento acerca dos diferentes posicionamentos teóricos a respeito do tema. 3. METODOLOGIA O trabalho de implementação do projeto de intervenção na escola teve como público alvo a equipe diretiva e pedagógica da escola, sendo possível, entretanto, a participação de professores e demais profissionais da educação, lotados ou não no estabelecimento de ensino. A proposta inicial era distribuir o trabalho em 7 (sete) fases distintas, quais sejam: levantamento bibliográfico; entrevista com equipe diretiva, pedagógica e professores para a realização de levantamento estatístico; entrevista com alunos para levantamento estatístico; tabulação de dados; apresentação e planejamento de atividades; realização de atividades com equipe diretiva, equipe pedagógica e demais interessados; apresentação dos resultados e aos professores. Entretanto, nem todas as etapas foram fielmente cumpridas, conforme se verá adiante. Quanto à implementação (realização de atividades com os participantes), também não foi implementada conforme planejada. Inicialmente, optou-se pela realização de 4 (quatro) encontros de 4 (quatro) horas, com as atividades conduzidas pelo professor PDE, e 2 (dois) encontros de 8 (oito) horas, ocasião em que seriam realizadas as palestras ou minicursos com professores convidados de Instituições de Ensino Superior. Em razão da dificuldade de obter agenda favorável com os professores das IES, porém, reorganizou-se o planejamento para a realização de 8 (oito) etapas de 4 (quatro) horas cada, sendo 6 (seis) encontros presenciais e 2 (duas) atividades à distância, totalizando 32 (trinta e duas) horas. Iniciou-se em 18 de fevereiro de 2017, tendo findado em 22 de julho de 2017, sendo os encontros realizados aos sábados, nas dependências do Colégio Estadual Presidente Afonso Camargo, de Loanda, Paraná. No primeiro encontro, os participantes foram orientados a realizar pesquisas em repositórios acadêmicos acerca das causas endógenas e exógenas da violência escolar, com o agendamento da entrega do resultado da pesquisa para a data de 22 de abril de 2017, sendo esta a primeira atividade não presencial. Em seguida, com base no artigo “Das Incivilidades do dia a dia às violências nos estabelecimentos de ensino: calibragem dos termos usados e seus efeitos”, de Raymundo de Lima, foi realizado um estudo dirigido com vistas à conceituação da violência escolar e de seus termos correlatos (violência, indisciplina, agressividade, bullying, ato infracional, crimes amoks e barbárie). Para a realização desta atividade, os participantes foram instados a manifestar seus conhecimentos prévios acerca das expressões que seriam estudadas na ocasião. Como já era esperado, alguns termos não eram de conhecimento dos cursistas, bem como se evidenciou significativa a dificuldade de conceituação da violência escolar e da delimitação da zona limítrofe entre indisciplina e violência ou indisciplina e ato infracional. Após a leitura do texto, os participantes realizaram breve debate e ouviram uma explanação do professor acerca dos termos mais relevantes associados direta ou indiretamente à violência escolar, sendo o trabalho enriquecido por outras fontes teóricas e trechos de reportagens sobre fatos relacionados a cada uma das expressões abordadas. No segundo momento, e com a orientação do professor PDE, os participantes realizaram estudo sobre a categorização de violência escolar proposta por Bernard Charlot: a violência na escola, à escola e da escola. Para tanto, realizaram a leitura do artigo “A violência na escola: como os sociólogos franceses abordam essa questão”. Como resultado da atividade, os participantes compreenderam que a violência escolar pode ter três variações, segundo o referido autor, a depender dos agentes e das circunstâncias envolvidas. Para ele a violência à escola é aquela que, ocorrendo dentro do espaço físico escolar, não tem qualquer relação com o ensino ou com as práticas escolares; a violência na escola é aquela que, de fato, está ligada à escola; e a violência da escola, que é aquela que a escola, institucionalmente ou por seus agentes, praticam contra os estudantes. No terceiro encontro foi realizado estudo dirigido sobre a categorização da violência proposta por Miriam Abramovay em sua produção bibliográfica, bem como sua aplicação no contexto escolar. Para a autora, a violência é dividida em violência direta, violência indireta e violência simbólica. A violência direta seria aquela que envolve atos físicos, e que resulta em prejuízo deliberado à vida humana; a violência indireta abrange todos os tipos de ação coercitiva ou agressiva que ensejam prejuízos de ordem psicológica ou emocional; e a violência simbólica, que abrange relações de poder interpessoais ou institucionais que cerceiam a livre ação, pensamento e consciência dos indivíduos. No decorrer do trabalho, além da referência a outras produções teóricas que se perfilham ao entendimento da autora, buscou-se aplicar esta categorização aos episódios de violência ocorridos no Colégio Estadual Pres. Afonso Camargo, locus da implementação pedagógica, ou de fatos ocorridos em outras Instituições de Ensino, públicas ou privadas. No quarto encontro, inicialmente, reiterou-se sobre o curso do prazo iniciado em 23 de abril de 2017, com termo final em 24 de junho de 2017, para a realização da segunda atividade não presencial, consubstanciada em pesquisa bibliográfica acerca das possibilidades de enfrentamento à violência escolar e promoção da cultura da paz. Em seguida, foi proferida uma palestra sobre eventuais consequências jurídicas das condutas violentas no âmbito escolar, a partir da análise do Código Civil (Lei 10.406/2002), do Código Penal (Decreto-Lei 2848/1940)e do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/1990). Tal momento se mostrou relevante, pois consolidou entendimento já existente sobre medida protetiva, pedagógica e socioeducativa. Possibilitou, ainda, a compreensão acerca do instituto da responsabilidade civil, que prevê a obrigatoriedade da reparação do dano pelo agente causador, ou nos casos dos incapazes, por seus pais e/ou responsáveis. Por fim, já conhecedores da diferença entre indisciplina e ato infracional, puderam os participantes conhecer as medidas legais cabíveis em caso de serem vítimas de atos violentos no ambiente escolar. No quinto momento foi realizada palestra com o tema “A judicialização da violência escolar”, pela qual se buscou demonstrar a crescente busca do poder judiciário para a resolução dos conflitos surgidos nas instituições de ensino, dos quais resultaram episódios de violência. Para tanto, foram apresentados dados estatísticos relativos ao aumento do número de ações judiciais decorrentes de violências ocorridas no interior da escola, bem como se reforçou a ideia de que se trata de uma medida possível exigir a prestação jurisdicional para o caso de violências das quais resulte dano à integridade pessoal ou patrimonial. O ponto culminante da palestra, entretanto, foi a demonstração de que a escola é o ambiente destinado à formação intelectual do estudante, razão pela qual deve-se evitar o radicalismo, buscando-se sempre a adoção de medidas que resultem no aprendizado do agente agressor (estudante, pessoa da comunidade, pai, professor ou outro profissional da educação). O sexto e último encontro, por sua vez, foi destinado à realização de uma atividade prática pelos cursistas, com a sistematização e apresentação de propostas para a prevenção e o enfrentamento da violência escolar, e também para a promoção da cultura da paz. Foi o momento de maior relevância do curso ministrado, eis que a equipe diretiva e pedagógica do colégio, bem como os demais participantes, puderam demonstrar a grande evolução alcançada com o estudo do tema, bem como puderam propor medidas adequadas à prevenção da violência escolar, ao enfrentamento das formas mais corriqueiras de violência praticada no âmbito da escola, e ainda propor medidas de estímulo à formação de um ambiente harmonioso e aprazível, favorável ao aprendizado dos conteúdos relevantes pelos estudantes. 4. RESULTADOS Embora nem todas as etapas previstas para a implementação tenham sido integralmente cumpridas, é possível afirmar que os resultados da intervenção na Instituição de Ensino foram satisfatórios. Em primeiro lugar, há que se destacar que o excesso de atividades executadas pelos educadores, somado à diminuição da hora-atividade em 2017 (tempo destinado a atividades extraclasse, como estudo, preparação de aula, elaboração de atividades, elaboração e correção de provas, lançamento de notas, entre outras coisas), prejudicou sobremaneira o planejamento, impossibilitando a realização de entrevistas formais com os tais profissionais. Entre os estudantes, matriculados no 6º ano, 1º, 2º e 3º Anos do Ensino Médio, 90 responderam a um questionário com 10 perguntas simples, a seguir discriminadas: 1) O que é violência, no seu entendimento? 2) Você considera que existe violência no Colégio? 3) Na sua opinião, há violência no interior da sala de aula, durante as aulas? 4) Caso tenha respondido afirmativamente a pergunta 2, quais ações praticadas na escola você considera violência? 5) Caso tenha respondido afirmativamente a pergunta 3, quais ações praticadas na sala de aula você considera violência? 6) Caso tenha respondido afirmativamente as perguntas 2 e 3, quem mais pratica a violência na escola e/ou na sala de aula? 7) Caso tenha respondido afirmativamente as perguntas 2 e 3, quais as principais razões para a violência na escola e/ou na sala de aula? 8) Você considera que a violência existente na sociedade influencia a prática de violência na escola? 9) Você já foi vítima de violência na escola e/ou na sala de aula? 10) No seu entendimento, é possível prevenir e/ou enfrentar a violência na escola? De que forma? Apesar de ter sido aplicado a apenas uma parte do corpo discente da Instituição de Ensino, as respostas contidas no questionário revelam um rico material de estudo, com grande variedade de interpretações acerca do que seja violência e violência escolar. Abordar no presente artigo as respostas obtidas, porém, demandaria aprofundado estudo e tornaria a produção demasiada extensa. Deste modo, as contribuições foram abordadas apenas na intervenção pedagógica, como um meio de se compreender a realidade do local a partir da análise objetiva das respostas, restando possível, porém, que tal metodologia e material coletado sejam retomados em pesquisas posteriores, especialmente em nossa eventual participação em cursos de especialização e/ou mestrado. Quanto à equipe diretiva e pedagógica, entrevistada em conjunto, há a percepção de que os conceitos de violência e violência escolar são abrangentes; que existe violência no interior da escola; que a violência escolar se manifesta de várias formas, sendo a mais corriqueira a violência psicológica (bullying, manifestações racistas, homofóbicas, ataques religiosos, entre outras coisas); e que a violência escolar afeta a psique das vítimas e prejudica o pleno sucesso no processo de ensino e aprendizagem. Tendo em vista a dinâmica do trabalho administrativo e pedagógico, porém, os entrevistados reconhecem que atualmente o trabalho de combate à violência escolar é pontual (conversa com os agressores; convocação dos pais/mães/responsáveis; contato com a patrulha escolar), e que não há o registro dos episódios de violência e sistematização das informações coletadas (característica dos agentes envolvidos, causas, horário, tipo de violência praticada/sofrida, etc.), o que possibilitaria tornar conhecidas as peculiaridades das violências praticadas no âmbito escolar, facilitando assim a elaboração de medidas de prevenção e enfrentamento. Apesar das dificuldades encontradas, é possível depreender, dos relatos dos professores participantes do curso de formação, que foram atingidos os resultados almejados. Inicialmente, porque estimulou, entre os cursistas, a pesquisa e a apropriação dos conceitos relativos ao tema objeto de estudo, bem como conscientizou a todos a respeito da importância do levantamento e sistematização de informações relativas à violência escolar no ambiente escolar, possibilitando uma ação planejada e metódica na prevenção e enfrentamento de todas as formas de manifestação da violência escolar. Do mesmo modo, fomentou a elaboração de medidas a serem adotadas pela instituição de ensino a partir do próximo ano letivo, das quais se destacam: a) A aplicação do questionário formulado pelo professor para todos/as os/as estudantes matriculados na instituição de ensino, com posterior tabulação dos resultados obtidos; b) A formalização de convite para docentes de Instituições de Ensino Superior para a realização de palestras ou eventos de formação com os profissionais lotados no Colégio, ocasião em que serão abordados diferentes aspectos da violência escolar (bullying, violência psicológica, violência contra o patrimônio, violência física, etc.); c) A organização e realização da “semana de prevenção à violência e promoção da cultura de paz”, evento a ser realizado até o fim do primeiro semestre do ano letivo de 2018, em que serão realizadas atividades que visem a prevenção e o enfrentamento a todas as formas de violência, bem como a promoção da cultura de paz; d) O fortalecimento da rede de proteção à criança e ao adolescente, com a intensificação das ações junto ao Conselho Tutelar, Patrulha Escolar, Ministério Público, Secretaria de Assistência Social, entre outros. Tais proposições revelamo engajamento dos cursistas em promover a melhoria do processo de ensino e aprendizagem a partir do combate à violência escolar e da promoção da cultura de paz, restando legitimada, desta forma, a seleção do referido objeto de estudo para o trabalho no Colégio Estadual Presidente Afonso Camargo. 5. REFLEXÕES SOBRE O GRUPO DE TRABALHO EM REDE O GTR (Grupo de Trabalho em Rede) constitui uma das atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional e tem como sua principal característica a interação virtual entre o professor tutor, participante do PDE, e os professores da rede pública estadual de ensino. A estrutura do GTR está composta por três módulos, a saber: Módulo 1 - Aprofundamento teórico; Módulo 2 - Projeto de intervenção pedagógica na escola e produção didático-pedagógica; Módulo 3 - Implementação do projeto de intervenção pedagógica na escola. Por meio do GTR foram realizados aprofundamentos de estudo acerca do recorte temático, debates acerca da ocorrência da violência na realidade escolar de cada um dos participantes, bem como avaliação individual e conjunta dos prejuízos decorrentes dos atos de violência praticados/sofridos na escola. Revelando a grande significância da temática, todas as 20 (vinte) vagas ofertadas para a participação no curso foram preenchidas. Do total de inscritos, porém, apenas 16 concluíram todas as atividades. Para identificação dos participantes sem a exposição de seu respectivo nome, optou-se por indica-los por letras e números, sendo C1 o primeiro cursista e C16 o último cursista, considerando a classificação alfabética de seus nomes reais. Como já previsto, o primeiro módulo foi dedicado ao aprofundamento teórico acerca do objeto de estudo, e foi realizado com o objetivo de dar suporte aos cursistas para que identifiquem as diversas formas de manifestação da violência no âmbito escolar, bem como possam atuar no seu enfrentamento. Para nortear os estudos, e considerando os materiais de leitura principais e complementares, pediu-se que os cursistas elegessem a definição de violência escolar com a qual mais se identificassem, bem como respondessem a seguinte pergunta: Definir um conceito de violência escolar é importante para conhecer a realidade de seu local de atuação, das violências que nele se manifestam, bem como para promover ações de promoção da cultura da paz? Algumas respostas obtidas: No texto se apresentam diferentes formas de violência. Uma delas é que a violência não se apresenta apenas como um ato, uma relação; fala-se também a localização geográfica, que significa dizer que ela pode ter inicio e causa do trajeto casa-escola, ou na própria casa ou local onde moram nossos alunos, decorrentes de problemas ou situações mal resolvidas; ainda que existe a violência virtual, hoje me plena era tecnológica por insultos, provocações, postagens de comentários mal-intencionados. E quando todas essas situações se juntam no interior da escola, fica difícil termos todos os mecanismos ou informações para promover o que se deseja: a cultura da Paz. Cada ser com sua formação familiar, seus valores que frequentando um mesmo ambiente não estão dando conta de que o respeito, os valores devem seguir as normas que a escola coloca como forma de se garantir um trabalho de formação do cidadão. (Excerto da professora C8, 09.04.2017). Dentre as leituras sobre violência pode-se constatar que alguns autores consideram violência como sendo um conceito que abrange tanto a violência simbólica, quanto a violência institucional e física, outros subdividem a violência em infração à lei que considera as transgressões as normas do estabelecimento, incivilidade, que considera as contrariedades às regras de boa convivência, agressividade e agressão. A definição a qual mais me identifico é a que diz que violência é um conceito relativo, histórico e mutável, ou seja, cada caso deve ser analisado de forma singular, levando em consideração diversos aspectos, como citado por Abramovay (2002) “A noção de violência é, por princípio, ambígua. Não existe uma única percepção do que seja violência, mas multiplicidade de atos violentos, cujas significações devem ser analisadas a partir das normas, das condições e dos contextos sociais, variando de um período histórico a outro”. Dentro das escolas nos deparamos com diversos tipos de violência e torna- se fundamental analisarmos qual é a origem destes atos para poder realizar ações que promovam a cultura da paz. Na escola onde atuo dentre diversas ações temos o projeto resgate de valores, onde todos os meses as turmas trabalham um tema sobre valores que muitas vezes não são exercidos em suas casas. (Excerto da professora C2, 11.04.2017). Acredito ser possível termos uma noção do que é Violência Escolar, mas não um conceito preciso. Digo isto porque vejo que a violência se manifesta no ambiente escolar de algumas formas específicas, mas não surgiu primeiramente nele. A violência é inerente à história do ser humano e em qualquer ambiente em que hajam relações humanas existem conflitos. No ambiente escolar, a violência se manifesta tanto de forma mais fisicamente destrutiva, tal como em agressões físicas, brigas e dilapidação do patrimônio público quanto nas formas não físicas, sutis ou mais veladas (porém não menos destrutivas ...) tais como nas ofensas verbais, nos sarcasmos, calúnias, difamações, depreciações, coerções, ameaças e gozações, entre as quais, o bullying e o cyberbullying. Há ainda a tensão que está implícita nas relações de poder entre Professores e Alunos e entre os próprios Alunos. Há nessas relações de poder algo de coerção, às vezes dirigida e necessária (quando por exemplo o Professor precisa que um grupo de Alunos avesso à organização se prepare para fazer um avaliação escrita dentro da sala de aula) e às vezes desnecessária e injusta ( quando, por exemplo, um grupo de Alunos ou um Aluno mais forte fisicamente quer forçar um outro Aluno a compartilhar o lanche contra a sua vontade). Vejo pois que podemos ter como noção de violência escolar, as ações e tensões provocadas intencionalmente com objetivo de agredir e que resultem em dor física ou sofrimento psicológico ao outro, dentro das instituições escolares, protagonizadas principalmente por Alunos, mas também, às vezes, resultantes de algumas ações de Professores, Funcionários, Pedagogos e Direção. Há também a dilapidação do patrimônio público escolar, quando isso é feito de forma intencional. Acredito que essa noção de violência escolar seja importante para a nossa atuação, enquanto Educadores, dentro das instituições escolares onde trabalhamos, pois nos permite ter discernimento sobre os conflitos que aí surgem resultantes das relações humanas e sobre quem são seus principais protagonistas e também permite discernimento para promovermos ações que possam amenizar ou minimizar seus efeitos no sentido de organizar um ambiente escolar menos conflituoso. (Excerto do professor C9, 16.04.2017). Como se pode verificar dessa amostragem, que traz uma boa visão da totalidade das contribuições, foram adotadas distintas definições de violência escolar pelos participantes, utilizando-se ou não dos subsídios oferecidos no Grupo de Trabalho em Rede. Mesmo não havendo consonância acerca da “melhor” definição de violência escolar, os cursistas demonstram a compreensão de que promover uma definição de violência escolar é importante para o conhecimento da realidade escolar, das violências que se manifestam neste espaço, das causas e origens dos atos de violência, bem como para a escolha de medidas a serem tomadas no enfrentamento desse mal. No segundo módulo, foram apresentados aos cursistas o Projeto de Intervenção Pedagógica e a Produção Didático Pedagógica, ampliando as discussões iniciadas sobre o tema, de modo a enriquecer a implementação na escola. Para contribuir com o debate, solicitou-seo/a cursista que identificassem, nos textos disponibilizados, um motivo que justificasse a proposição da violência escolar como objeto de estudo no PDE, bem como a influência dessa questão nos processos pedagógicos, considerando tanto a realidade escolar do Estado quanto a da própria escola. Algumas das contribuições foram: O projeto de intervenção pedagógica, tema deste GTR e intitulado “Violência física e psicológica nas escolas” tem grande relevância no cenário escolar na atualidade, pois aborda possibilidades de prevenção e enfrentamento a um problema que aflige grande parte das escolas em nosso país. Direção, equipe pedagógica, professores e alunos convivem diariamente com problemas decorrentes da violência em suas diversas formas de manifestação, em especial a física e psicológica. Este debate nos trás alicerce e propõe alternativas para o enfrentamento da violência escolar que é um dos maiores obstáculos para o sucesso do processo de ensino-aprendizagem. E eu ressalto a questão das conseqüências da violência que acarreta o prejuízo pedagógico, a diminuição da autoestima das pessoas vítimas de violência, o (auto)afastamento do convívio social, o desenvolvimento ou agravamento de estresse e doenças psicossomáticas. Para tanto, considero fundamental a retomada do texto "Reflexões sobre o conceito de violência escolar e a busca por uma definição abrangente". (contribuição do professor C4, 12.05.2017). O projeto de intervenção traz um assunto relacionado ao contexto que vivemos na atualidade com tantos episódios de violência dentro dos muros da escola e as consequências de fato que acontecem fora dela e repercutem dentro. Charlot refere-se de uma maneira bem clara sobre a violência presentes na escola e violência da escola, onde a que mais se evidencia e demanda de reflexos futuros é a violência psicológica, uma situação velada em que podem acarretar a vida de um ser humano pelo resto da vida. E ainda percebo que pais acentuam esse problema quando ao ser chamado na escola alega que na casa é um bom filho(a), que o problema deve estar ocorrendo só dentro da escola, ou seja, a violência é da escola. Outros momentos também são profissionais que não querem se indispor com alunos que dão problema para evitar constrangimento ou responder um processo e ficarem marcados pelos alunos ou pais. (Excerto da professora C8, 15.05.2017). De maneira geral, os professores cursistas consideraram bastante pertinente a seleção da violência escolar como objeto de estudo do Programa de Desenvolvimento Educacional, tendo em vista a recorrência das mais diversas formas de manifestação da violência escolar em ambiente escolar (com especial destaque para a violência psicológica relacionada ou não ao bulliyng), tanto na escola de atuação quanto nas demais instituições de ensino do Estado do Paraná. Consideram os cursistas, ainda, que os resultados dos estudos e debates realizados poderão contribuir para a tomada de medidas de capazes de minorar a ocorrência dos atos de violência na escola, bem como para a promoção da cultura de paz nas instituições educacionais. O terceiro e último módulo foi destinado à análise, pelos participantes, da implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica pelo professor PDE. Na ocasião, os cursistas avaliaram em que medida os procedimentos previstos no Projeto foram concretizados no ambiente escolar. Frisa-se que o Projeto de Intervenção Pedagógica visava contribuir com o incremento da formação teórica dos profissionais da educação do colégio de atuação do professor PDE, considerando sua realidade e as possibilidades de atuação. De forma unânime, os participantes julgaram que o Projeto de Intervenção Pedagógica foi integralmente implementado na Instituição de Ensino, sendo satisfatórios os resultados descritos pelo professor PDE: apropriação, por parte dos envolvidos na implementação, dos conceitos mais importantes relacionados ao tema; conscientização acerca da importância do levantamento e sistematização de informações relativas aos atos de violência ocorridos na escola; a elaboração de ações de combate uma ação planejada e metódica na prevenção e enfrentamento de todas as formas de manifestação da violência escolar. Como um dos pontos de culminância do Grupo de Trabalho em Rede, a atividade nº 8 propõe ao cursista que, a partir dos estudos realizados e da própria experiência de trabalho, elabore um plano de ação que tenha como objetivo abordar a violência escolar (em suas diversas formas de manifestação ou em apenas uma de suas manifestações), bem como a apresentação de maneiras de enfrentar o problema apresentado. A partir do roteiro apresentado, todos os 16 participantes concluintes ofereceram suas contribuições, das quais se destacam as que seguem: PLANO DE AÇÃO INSTITUIÇÃO: omitido ANO LETIVO: 2017 TURMAS: 7º Ano do Ensino Fundamental RESPONSÁVEIS: Equipe Pedagógica, Direção, Professores e Família CRONOGRAMA: 2º Semestre de 2017. TÓPICO : Família e Escola: juntos contra a violência 1.1 Situação-problema: Diante de várias situações vivenciadas por mim e por colegas, constata-se que a violência está cada vez mais presente na escola. Muitos adolescentes fazem da escola um campo de batalha, usam o espaço escolar para se autopromoverem como lideranças negativas. Reproduzem o que vivenciam fora da escola. Agridem, seja por meio da fala ou por atos, a todos os envolvidos (direção, professores, agentes educacionais, alunos). Desrespeitam as regras impostas pela escola e sociedade. As pessoas que mais sofrem com os atos de violência na escola, sem dúvida, são os professores que têm que lidar com essa situação todos os dias na sala de aula. Pois ora a violência é com eles, ora são com os colegas da turma. 1.2 Estratégia de ação: Sabendo que a falta de respeito e a agressividade são fatores que estão presentes na sala de aula continuamente, e que muitas vezes é o reflexo do que este adolescente vive em casa, pretende-se fazer reuniões estratégicas com professores e pais de alunos e propor metas para acabar com a violência na escola. Durante a reunião propor uma construção de um Plano de Ação contra a violência com ajuda dos educandos, pais ou responsáveis, ou seja, pedir que façam contribuições de como seria possível acabar com os atos violentos na Escola. A família é peça fundamental para que o plano de ação seja colocado em prática, ela precisa estar em consonância com a escola. Pedir aos pais, alunos e professores que juntos realizem esse exercício é conhecer melhor o aluno e suas dificuldades de interação com o outro. É proporcionar que os envolvidos sejam ouvidos e que procurem melhorar suas potencialidades. 1.3 Resultados esperados e/ou alcançados: Com esta atividade espera-se que escola e família possam construir um espaço de aprendizagem e de interação, minimizando a violência na escola. (Contribuição da professora C13, em 04.06.2017) PLANO DE AÇÃO INSTITUIÇÃO: Omitido ANO LETIVO: 2017 TURMAS: 8ºs e 9ºs Anos do Ensino Fundamental RESPONSÁVEIS: DIREÇÃO/ EQUIPE PEDAGÓGICA/ PROFESSORES CRONOGRAMA: 2º Semestre de 2017. TÓPICO: VIOLÊNCIA ESCOLAR – DIAGNÓSTICO DE REALIDADE SITUAÇÃO PROBLEMA: Tendo como referência o contexto da Escola Estadual omitido, percebe-se que a exacerbação dos conflitos que ocorrem entre os Alunos de algumas Turmas e entre esses, Professores e membros da Equipe Pedagógica vem ganhando uma dimensão que tem comprometido o êxito da relação ensino aprendizagem, bem como levando também os Professores a um ponto de saturação quanto à carga de estresse que os mesmos suportam. Levando em consideração a necessidade de reversão dessa situação, faz- se necessário elaborar um diagnóstico mais pormenorizado da realidade que forneça subsídios para traçar estratégias pedagógicas de enfrentamento mais específicas. Esse diagnóstico deve, pois, ser capaz de responder aos seguintes questionamentos:quais os tipos de violências mais frequentes que ocorrem nesse ambiente? Como é possível diferenciá-las? Quais suas especificidades? Quais os indivíduos envolvidos? Quais seus papéis em meio às situações conflitivas? É possível enfrentá-las a partir de uma única estratégia pedagógica? ESTRATÉGIAS DE AÇÃO: Para um diagnóstico mais pormenorizado da situação propõe-se que a Direção, Equipe Pedagógica e Professores elaborem um MAPA CONCEITUAL DA VIOLÊNCIA tendo como referência o organograma que segue abaixo e o texto “Reflexões sobre o conceito de violência escolar e a busca por uma definição abrangente”, de Ana Carina Stelko-Pereira e Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams: RESULTADOS ESPERADOS: Espera-se que ao final da elaboração do MAPA CONCEITUAL sobre a Violência Escolar no ambiente dessa Instituição seja possível elaborar um diagnóstico mais pormenorizado da ocorrência desses conflitos, com a identificação dos tipos de violências que mais ocorrem, suas categorias específicas, os locais em que mais ocorrem, os indivíduos envolvidos, quais seus papéis, a tipologia dos episódios violentos, sua gravidade e frequência e suas caracterizações quanto à delituosidade. Espera-se também que a elaboração desse Mapa Conceitual sirva de subsídio para a construção de estratégias pedagógicas de enfrentamento à violência no ambiente escolar, que contemplem o enfrentamento às diferentes situações conflitivas que ocorrem. REFERÊNCIAS: _MAPA CONCEITUAL - Violência Escolar Fonte: Link: http://pepsic.bvsalud.org/img/revistas/tp/v18n1/a05fig01.jpg Data de acesso: 03/06/2017 _STELKO-PEREIRA, Ana Carina; WILLIAMS, Lúcia Cavalcanti de Albuquerque. Reflexões sobre o conceito de violência escolar e a busca por uma definição abrangente. Fonte/Link: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/tp/v18n1/v18n1a05.pdf Data de acesso: 03/06/2017 (Contribuição do professor C9, 03.06.2017) 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em que pese não se tratar de um problema novo, a violência escolar tem atraído cada vez mais a atenção dos estudiosos da educação, haja vista o crescente número de casos, muitos deles graves, e os prejuízos que causam ao processo de ensino e aprendizagem tanto de conteúdos programáticos como a aprendizagem para a convivência civilizada na sociedade. Dentre os próprios frequentadores das instituições de ensino (estudantes, professores e demais profissionais da educação), a sensação de vulnerabilidade e insegurança causada pela experiência traumática da vitimização em episódios de violência, ou mesmo o conhecimento de casos emblemáticos relacionados ao tema, tem levado ao debate sobre formas de prevenção e enfrentamento a este mal social. Nesse contexto, é importante ter em mente que as ações necessárias à promoção da cultura de paz nas escolas devem ter como sustentáculo as obras de referência escritas sobre o tema, bem como ações planejadas e com base em profundo conhecimento da realidade escolar. Caso contrário, seriam realizadas nas escolas ações superficiais e/ou paliativas, que não atingiriam resultados satisfatórios. Com tal perspectiva, os trabalhos atinentes ao Programa de Desenvolvimento Educacional realizador por este professor objetivaram contribuir com o processo de formação daqueles que de forma presencial ou virtual tiveram contato com os materiais produzidos, estimulando-os a buscar referenciais teóricos e a elaborar http://pepsic.bvsalud.org/img/revistas/tp/v18n1/a05fig01.jpg http://pepsic.bvsalud.org/pdf/tp/v18n1/v18n1a05.pdf dados estatísticos que possibilitassem um trabalho com vistas à obtenção de resultados expressivos. Desse modo, acreditando-se ter sido atingida a pretensão inicial, buscou-se oferecer aos cursistas do Projeto de Intervenção Pedagógica e do Grupo de Trabalho em Rede, para melhor conhecimento do tema, definições de diferentes estudiosos a respeito da violência e da violência escolar, bem como das expressões a elas relacionadas, como indisciplina, ato infracional, bullying, crimes amok, entre outros. Noutra perspectiva, reconhece-se a pouca oferta de subsídios para a elaboração de entrevistas e questionários a serem aplicados aos membros da comunidade escolar, especialmente aos estudantes matriculados nas diferentes instituições de ensino, da mesma forma como não foram oferecidas orientações suficientes sobre a forma como devem ser tabuladas e utilizadas as informações obtidas no planejamento e na implementação de ações estratégicas no combate à violência escolar. Há de se registrar, todavia, que não foram raras as manifestações dos participantes dos cursos oferecidos quanto ao reconhecimento da importância do trabalho de coleta e sistematização de dados que revelam a realidade escolar no que tange ao tema em questão. Por último, revelou-se bastante significativo o anseio dos cursistas em propor medidas que visam a educação e orientação dos estudantes acerca dos males da violência praticada/sofrida na escola ou fora dela, bem como a promoção da cultura de paz. É bem verdade que os conhecimentos abordados durante a intervenção na escola ou no GTR são apenas introdutórios, não sendo suficientes para a realização de ações de grande impacto. Apesar disso, é inegável o avanço consubstanciado na implementação de ações em instituições onde sequer era debatida a necessidade de sua realização, mesmo sendo reconhecida a existência e a gravidade do problema. Por derradeiro, ante todo o processo de formação e ações implementadas no decorrer do biênio 2016/2017, é possível concluir que, se germinadas, as várias sementes lançadas durante o PDE possibilitarão o reconhecimento da violência escolar como violadora de direitos humanos (ainda que tal violência esteja disfarçada em “brincadeiras” e “piadas” ofensivas, como é no bullying); é imprescindível a discussão coletiva acerca da interferência da violência relacionada a vida escolar, especialmente quando esta está associada ao processo de ensino e aprendizagem; que urge a implementação de medidas de prevenção e enfrentamento às diversas formas de violência escolar, bem como de promoção à cultura de paz, e que tais medidas devem estar apoiadas em produções teóricas de referência. 7. REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, Miriam. et al. Escola e violência. Brasília: UNESCO, 2002 ABRAMOVAY, Miriam; RUA, Maria das Graças. Violência nas escolas. Brasília: UNESCO, 2002. ABRAMOVAY. Cotidiano das escolas: entre violências. Brasília: UNESCO; Observatório de Violência; Ministério da Educação, 2006. AQUINO, Julio Groppa (Org.). Indisciplina: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996. AQUINO, Julio Groppa (Org.) A violência escolar e a crise da autoridade docente. Cadernos Cedes, Campinas, v. 19, n.47, p.7-19, dez. 1998. CHARLOT, B. A violência na escola: como os sociólogos franceses abordam essa questão. Revista Sociologias, ano 4, n. 8, p 432-443, jul./dez. 2002. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/soc/n8/n8a16> Acesso em 05.06.2016. FANTE, Cleo. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Campinas: Verus, 2005. FANTE, Cleo; PEDRA, José Augusto; BEZERRA, Ênio Otávio Freire. Bullying escolar: perguntas e respostas. Porto Alegre: Artmed, 2008. GIANCATERINO, Roberto. Escola, professor, aluno: os participantes do processo educacional. São Paulo: Madros, 1989. IBGE. Programa Nacional de Saúde do Escolar: 2009. Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. 140p. Disponível em: < IBGE. Programa Nacional de Saúde do Escolar: 2012. Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. 200 p. Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv64436.pdf> Acesso em: 05.07.2016. http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/pense/comentarios.pdf>. Acesso em 05/07/2016. LIMA, Raymundo de. Das Incivilidades do dia a dia às violências nos estabelecimentos de ensino: calibragem dos termosusados e seus efeitos. In: VERALDO, Ivana (org.). Tensões no Espaço Escolar: violência, bullying, indisciplina e homofobia. Maringá: Eduem, 2014. p.35-74. http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/pense/comentarios.pdf%3e.%20Acesso%20em%2005.07.2016 http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/pense/comentarios.pdf%3e.%20Acesso%20em%2005.07.2016 NAGEL, Lizia Helena. Combate à Violência nas Escolas: possibilidades e impossibilidades. In: VERALDO, Ivana (org.). 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