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SUMÁRIO 1 NEUROCIÊNCIA NO CONTROLE MOTOR E PATOLOGIAS RELACIONADAS ............................................................................................................. 4 1.1 Áreas cerebrais e maturação na aprendizagem ...................................... 14 2 O DESENVOLVIMENTO MOTOR E A MATURAÇÃO .................................. 16 3 A ATENÇÃO, APRENDIZAGEM MOTORA E A MATURAÇÃO .................... 20 3.1 Teoria do Programa Motor ...................................................................... 25 3.2 Sentidos – Percepção – Decisão – Efetor = Feedback ........................... 27 3.3 Estimulo – Executivo – Efetor – Resposta ............................................... 27 4 CONTROLE MOTOR ..................................................................................... 27 4.1 Níveis de controle motor .......................................................................... 28 4.2 Movimento voluntário .............................................................................. 28 4.3 Movimento automático ............................................................................ 28 4.4 Movimento involuntário............................................................................ 31 4.5 Reflexo miotático ..................................................................................... 31 4.6 Reflexo miotático no desempenho físico ................................................. 32 4.7 Reflexo miotático inverso ........................................................................ 32 5 DOENÇAS NEUROLÓGICAS MAIS COMUNS ............................................. 32 5.1 Sistema nervoso central: ......................................................................... 32 6 DOENÇAS QUE AFETAM O SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO ............... 34 7 PATOLOGIAS RELACIONADAS AO CONTROLE MOTOR .......................... 35 7.1 Complicações .......................................................................................... 37 7.2 Prevenção do TCE .................................................................................. 37 7.3 Tipos de AVC .......................................................................................... 37 7.4 Sintomas de AVC .................................................................................... 38 7.5 Tratamento de AVC ................................................................................. 39 7.6 Sinais e sintomas da disfagia .................................................................. 40 7.7 Dicas simples para facilitar a deglutição (ato de engolir)......................... 40 7.8 Se não for possível comer pela boca ...................................................... 41 8 POLIOMIELITE AGUDA ................................................................................ 42 8.1 Tipos........................................................................................................ 43 8.2 Causas .................................................................................................... 43 8.3 Sintomas de Poliomielite ......................................................................... 43 8.4 Poliomielite não-paralítica ....................................................................... 44 8.5 Poliomielite paralítica............................................................................... 44 8.6 Diagnóstico de Poliomielite ..................................................................... 45 8.7 Tratamento de Poliomielite ...................................................................... 45 8.8 Complicações possíveis .......................................................................... 45 8.9 Sintomas ................................................................................................. 47 8.10 Diagnóstico .......................................................................................... 48 8.11 Tratamento ........................................................................................... 48 8.12 Recomendações .................................................................................. 49 8.13 Tipos .................................................................................................... 49 8.14 Diagnóstico .......................................................................................... 50 8.15 Causas ................................................................................................. 51 8.16 Tratamento ........................................................................................... 52 8.17 Sintomas .............................................................................................. 53 8.18 Diagnóstico .......................................................................................... 53 8.19 Tratamento ........................................................................................... 53 8.20 Recomendações .................................................................................. 54 8.21 Sintomas .............................................................................................. 55 8.22 Diagnóstico .......................................................................................... 56 8.23 Tratamento ........................................................................................... 57 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 58 1 NEUROCIÊNCIA NO CONTROLE MOTOR E PATOLOGIAS RELACIONADAS Fonte: www.ibccoaching.com.br A Neurociência é nova, ou seja, aproximadamente 150 anos, para ciência isso é muito pouco, mas mesmo jovem ela já nos brindou com informações preciosas em termos do funcionamento do cérebro, como ele se forma, se desenvolve e nos constrói com todas as nossas idiossincrasias. Apesar de sua juventude, a Neurociência avançou tanto que alguns teóricos já incluíram a taxonomia em seus estudos, pluralizando o termo (Neurociências) e classificando-a em: molecular, celular, sistêmica, comportamental e cognitiva, cada uma com seu foco específico. Neurociência Cognitiva, ou seja, versam sobre neuroplasticidade, inteligência, consciência, memória, motivação, atenção, concentração, emoção e tudo o mais que contribui para o processo de aprendizagem. Os estudos em Neurociência Cognitiva estão intimamente relacionados à teoria da neuroplasticidade. Há consenso entre os teóricos da neurociência de que nosso sistema nervoso é “plástico”, modificando-se no decorrer do nosso desenvolvimento, mas há dois momentos importantes: o primeiro é a época do nascimento, quando ocorre “um ajuste quanto ao número de neurônios que serão realmente utilizados nos circuitos necessários à execução das diversas funções neurais”; o segundo é a época. A neurociência compreende o estudo do sistema nervoso e suas ligações com toda a fisiologia do organismo, incluindo a relação entre cérebro e comportamento. O controle neural das funções vegetativas – digestão, circulação, respiração, homeostase, temperatura, das funções sensoriais e motoras, da locomoção, reprodução, alimentação e ingestão de água, os mecanismos da atenção e memória, aprendizagem, emoção, linguagem e comunicação, são temas de estudo da neurociência. Modelos computacionais que simulam as funções acima mencionadas, notadamente as funções locomotoras e sensoriais, a aprendizagem e a memória, são objeto de pesquisa em inteligência artificial e visão artificial. Ferramentas da informática são usadas para entender os sistemas biológicos e soluções inspiradas na biologia e na psicologia são desenvolvidas para aplicações que servem a diferentes ramos da engenharia, tais como sensoriamento remoto, controle de sistemas de produção industrial, linha de montagem de fábricas e muitas outras aplicações. A neurociência está em grandeexpansão, e foi eleita com destaque pelo Governo dos EUA como prioritária na década de 1990, que ficou conhecida como a ‘Década do Cérebro’. Muitos também consideram o século 21 o século do cérebro, no qual as grandes conquistas da humanidade estarão dirigidas para a compreensão das funções neurais humanas. Durante muito tempo, acreditou-se que o Sistema Nervoso Central (SNC), após seu desenvolvimento, tornava-se uma estrutura rígida, que não poderia ser modificada, e que lesões nele seriam permanentes, pois suas células não poderiam ser reconstituídas ou reorganizadas. Hoje, sabe-se que o SNC tem grande adaptabilidade e que, mesmo no cérebro adulto, há plasticidade na tentativa de regeneração. A plasticidade neural refere-se à capacidade que o SNC possui em modificar algumas das suas propriedades morfológicas e funcionais em resposta às alterações do ambiente. Na presença de lesões, o SNC utiliza-se desta capacidade na tentativa de recuperar funções perdidas e/ou, principalmente, fortalecer funções similares relacionadas às originais. A neurociência estuda também as doenças do sistema nervoso e seus reflexos em todas as funções do indivíduo, procurando métodos de diagnóstico, prevenção e tratamento, além da descoberta das causas e mecanismos. Desde uma dor de cabeça até a doença de Alzheimer, o custo social e econômico dessas afecções é imenso, e é também muito grande a parcela da economia dedicada ao desenvolvimento e à produção e comercialização de fármacos e de equipamentos de diagnóstico. O aprofundamento da pesquisa traz o reconhecimento de novas doenças, permitindo seu estudo e tratamento. São muitos os exemplos de novas descobertas. No século XIX, Freud descreveu a paralisia cerebral, tendo usado esse nome para distingui-la da paralisia infantil. Nas últimas décadas foi reconhecida a síndrome do pânico e há menos de 10 anos, a morte súbita, as graves consequências de distúrbios do sono e os príons e seu possível envolvimento em patologias neurológicas e mentais. É surpreendente pensar que as doenças do sono, que sempre afligiram a humanidade, só tiveram reconhecimento muito recentemente. A neurociência visa, dentre seus objetivos, esclarecer os mecanismos das doenças neurológicas e mentais por meio do estudo do sistema nervoso normal e patológico. As funções do sistema nervoso podem ser alteradas por eventos ambientais como trauma, agentes infecciosos ou tóxicos; por tumores, mutações gênicas e defeitos congênitos; por eventos vasculares e deficiências nutricionais, e por muitos outros fatores. Muitas doenças do sistema nervoso são totalmente incapacitantes, outras provocam prejuízos de diferentes níveis de gravidade. Infelizmente, não temos acesso a dados de prevalência brasileiros. Para exemplificar alguns números mais relevantes são citadas a seguir informações dos EUA. A reabilitação do cérebro lesado pode promover reconexão de circuitos neuronais lesados. Quando há pequenas perdas de conectividade a tendência é que ocorra uma recuperação autônoma, enquanto que, grandes perdas poderão acarretar em perda permanente da função. Algumas lesões são potencialmente recuperáveis, mas para tanto, necessitam de tratamentos precisos, mantendo níveis adequados de estímulos facilitadores e inibidores. As mudanças organizacionais dependem das áreas lesadas e íntegras pré-existentes e da localização da lesão e são encontradas em ambos os hemisférios cerebrais. Até os anos 50, aproximadamente, acreditava-se na impossibilidade de se fazer algo quando conexões e neurônios eram perdidos, em consequência de lesão cerebral, devido a incapacidade dos neurônios se dividirem. Com o avanço das pesquisas e dos métodos de imagem foi possível adquirir uma nova visão do sistema nervoso, não como uma estrutura rígida e imutável, mas sim flexível, que modifica sua estrutura funcional sob diferentes circunstâncias, expressando assim uma capacidade plástica durante o processo de adaptação. O SNC possui uma rede neural complexa, com células altamente especializadas, que fazem milhares de conexões a todo momento e determinam a sensibilidade e as ações motoras, traduzindo-as em comportamento. Na presença de lesões, há um desarranjo nesta rede neural e o SNC inicia seus processos de reorganização e regeneração. Dados do National Institute of Health - mostram que, na população dos EUA, dentre as doenças neurológicas que em geral se instalam na infância: a epilepsia afeta cerca de 2,5 milhões de norte-americanos; a paralisia cerebral ocorre em 750.000 nascimentos; o autismo atinge 400.000 crianças; e os tumores cerebrais são a segunda causa de morte por câncer em crianças até 15 anos. Dentre as doenças que afetam adultos, causando anos de invalidez, perda de vida e impacto econômico, os dados do NIH indicam que: acima dos 60 anos, a demência do tipo Alzheimer, o acidente vascular encefálico e a doença de Parkinson são frequentes; os acidentes vasculares encefálicos (cerebrais) são a terceira entre todas as causas de morte e uma causa importante de invalidez (mais de 700.000 americanos são afetados); o trauma cerebral e as lesões medulares ocorrem principalmente antes dos 30 anos, sendo o trauma cerebral responsável por mais de 5,3 milhões de comprometimentos e mais de 50.000 óbitos; a esclerose múltipla começa por volta dos 30 anos de idade. Finalmente, a dor é a principal queixa para a procura de atendimento médico em geral. A prevalência de dor crônica é alta e suas causas difíceis de tratar. A neurociência contribui também para o esclarecimento das doenças mentais. O National Institute of Mental Health - NIMH (2002) define doenças mentais como aquelas em que há alteração no pensamento, humor ou comportamento (isoladamente ou combinados), acarretando sofrimento e/ou prejuízo funcional. Dados daquela agência mostram que durante um período de um ano, 22% da população americana adulta (44 milhões de pessoas) têm alguma doença mental diagnosticável por critérios confiáveis; dentre essas pessoas, 3% associam o abuso de drogas à doença mental. Fonte: www.anatomiadocorpo.com O prejuízo causado por uma patologia pode ser calculado de várias formas. O índice AVAI (Anos de Vida Ajustados por Incapacidade, do inglês Disability Adjusted Life Years - DALY) computa os anos de vida com saúde perdidos por causa da doença, seja por morte prematura ou incapacitação, e leva em conta a gravidade da incapacitação. Por exemplo, depressão profunda compara-se, no AVAI, à cegueira ou paraplegia, enquanto a psicose ativa na esquizofrenia equivale à tetraplegia. Dados da Organização Mundial da Saúde - OMS (do inglês World Health Organization – WHO; 2002). Dentre as patologias de maior prevalência, os prejuízos acarretados por doenças mentais são superiores aos das doenças cardiovasculares Além do sofrimento e incapacidade do indivíduo, essas doenças também representam custos diretos em recursos médicos e custos indiretos em perda de produtividade. As doenças do sistema nervoso são muito difíceis de serem tratadas, mas têm havido progressos notáveis nos últimos anos, decorrentes do grande esforço de pesquisa em neurociência. Os progressos mais significativos são destacados pelo NIH (2002), em sua justificativa orçamentária: melhores técnicas diagnósticas a partir da genética molecular e neuroimagem; tratamentos para acidente vascular encefálico e para lesões da medula espinhal; novas drogas para esclerose múltipla, epilepsia e doença de Parkinson; aparelhos eletromecânicos para deficiências sensoriais e motoras; prevenção de acidente vascular encefálico e defeitos neurológicos congênitos. São, ainda, listados pelo documento do NIH tratamentos promissores para doenças do sistema nervoso em estudo, incluindo drogas, vacinas, estimulação elétrica, transplantes celulares, fatores de crescimento naturais, próteses neurais,terapia gênica e intervenções comportamentais. Verifica-se, com esses progressos, que a área de neurociência é importante para a Psicologia, tanto na pesquisa básica como na atividade clínica. A neurociência é responsável pelo conjunto de disciplinas que compõem o estudo do sistema nervoso e originou-se da pesquisa das estruturas cerebrais da mente humana. No Brasil está representada, pela Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento, encontrando-se subdividida em três áreas principais: a neurofisiologia (funcionamento do sistema nervoso), a neuroanatomia (estrutura do sistema nervoso) e neuropsicologia (funcionamento neural com os fatores psicológicos). A neuropsicologia, uma das subdivisões da neurociência, é uma especialidade reconhecida pela Resolução 002/2004 do Conselho Federal de Psicologia. Tal resolução define que o profissional que atua nesta área deve ser efetivo principalmente no que diz respeito a avaliação (exame neuropsicológico) e ao tratamento (reabilitação neuropsicológica) das disfunções do Sistema Nervoso, como: transtornos do déficit de atenção, esquizofrenia, dislexia, acidente vascular cerebral e traumatismo cranioencefálico. Os campos desta ciência mais investigados no Brasil estão relacionados: a memória de humanos e animais; aos transtornos – ansiedade e depressão; as células-tronco; as patologias degenerativas; a epilepsia e aos transtornos mentais. O cérebro é estimado como um centro cognitivo de atividades mentais superiores, abrangendo sentimentos, criatividade e inteligência. Sendo anatomicamente separado por uma grande fissura que o divide em dois hemisférios cerebrais. Um efeito muito versado é a contralateralidade, onde o hemisfério esquerdo cerebral exerce o controle do lado direito do corpo e vice-versa. Essa troca de informação entre os dois hemisférios se dá em virtude, do corpo caloso. Os anatomistas geralmente agrupam os hemisférios em grandes áreas designadas lobos e classificam-nos em cinco: quatro perceptíveis externamente e um localizado no interior de um dos grandes sulcos do encéfalo, o sulco lateral que divide o lobo frontal do lobo temporal. Os quatro perceptíveis são: o frontal, o parietal, o temporal e o occipital. Já o lobo invisível é o lobo da ínsula, que só pode ser visualizado apenas quando se seciona o sulco lateral. Fonte:www.clinicacauchioli.com.br Ao estabelecer um paralelo entre o passado e o presente, nota-se que a tempos, o cérebro tem sido elemento de estudo e pesquisa desde a antiguidade, sabe-se que muitas perguntas ainda continuam sem respostas e em outras várias questões, não foram ainda decifradas onde o cérebro em algumas áreas continua uma incógnita para todos principalmente para aqueles que se propõe estudá-lo a nível científico. O desenvolvimento motor é uma contínua alteração no comportamento ao longo da vida que acontece por meio das necessidades de tarefa, da biologia do indivíduo e o ambiente em que vive. Ele é viabilizado tanto pelo processo evolutivo biológico quanto pelo social. Desta forma, considera-se que uma evolução neural proporciona uma evolução ou integração sensório-motora que acontece por meio do sistema nervoso central (SNC) em operações cada vez mais complexas. Em cada idade o movimento toma características significativas e a aquisição ou aparição de determinados comportamentos motores tem repercussões importantes no desenvolvimento da criança. Cada aquisição influencia na anterior, tanto no domínio mental como no motor, através da experiência e troca com o meio. Todo o comportamento envolve processos neurais específicos, que ocorrem desde a percepção do estímulo até a efetivação da resposta selecionada. Esses processos neurais possibilitam o comportamento e o aprendizado, que acontecem de maneiras diferentes no cérebro. Desde que nascemos, a maturação do sistema nervoso possibilita o aprendizado progressivo de habilidades. À medida que uma determinada área cerebral amadurece, a pessoa exibe comportamentos correspondentes àquela área madura, desde que tal função seja estimulada. Desta forma, o desenvolvimento comportamental é restringido pela maturação das células cerebrais, como exemplo, considera-se que embora os bebês e as crianças sejam capazes de fazer movimentos complexos, os níveis de coordenação e controle motor fino só serão alcançados após o término da formação da mielina, na adolescência. A aprendizagem é a mudança de comportamento viabilizada pela plasticidade dos processos neurais cognitivos. Considerando que a aprendizagem motora é complexa e envolve praticamente todas as áreas corticais de associação, é necessário compreender o funcionamento neurofisiológico na maturação a fim de fornecer bases teóricas para a estruturação de um plano de ensino que considere as fases de desenvolvimento neural da criança, maximizando assim o aprendizado. A noção de maturação nervosa é uma das mais fundamentais para se explicar o processo de aprendizagem. Os psicólogos acreditam que os comportamentos não podem ser externados até que seu mecanismo neural tenha se desenvolvido. O conhecimento da célula nervosa é essencial para entender o funcionamento do sistema nervoso e seus processos maturacionais, pois os neurônios são dotados de extensa plasticidade e adaptabilidade, o que lhes permite serem os grandes responsáveis pelos sistemas de informação e comunicação dos seres vivos. Os neurônios são compostos por 3 partes: dendritos, axônio e corpo celular. Quando o corpo celular envia uma mensagem, cabe ao axônio conduzi-la até o dendrito do próximo neurônio para fazer a sinapse. Para que o axônio consiga transmitir a mensagem ele precisa estar maduro. Torna-se maduro quando é envolvida por uma camada de gordura e proteína denominada mielina. O processo de mielinização acontece no tempo, de modo que diferentes neurônios se mielinizam em épocas distintas do desenvolvimento do organismo. Esse fato fornece embasamento para a compreensão das teorias que descrevem as fases evolutivas da criança, como os estágios de Jean Piaget. Para melhor compreender a aprendizagem sob a ótica da maturação nervosa, é necessário saber como o comportamento acontece a fim de investigar os processos neurais de mudança dele. De maneira geral, existem duas abordagens básicas pra explicar o comportamento. A primeira é a abordagem comportamental, ou de estímulo resposta, desenvolvida por Skinner, que acredita ser possível a redução de todo comportamento a um modelo matemático de conexões de estímulo-resposta, de forma que conhecimento do estímulo permite predizer a resposta. Este modelo funciona com animais, mas com humanos parece muito simplista. Para suprir esta lacuna entre estimulo e resposta, se desenvolveu o "Modelo de processamento de informação" que envolve o estímulo, a percepção, o processamento central, a decisão da resposta e a sua efetivação (que é o comportamento). Pode-se encaixar outras variáveis como atenção, memória e ansiedade. Cada fase do processamento de informação depende de muitas variáveis, como da atenção e percepção do estímulo e do resgate da memória no processamento central, que é a busca das informações necessárias para a decisão da resposta. Muitos fatores podem influenciar no processamento de informações, entre eles a ansiedade. Esta é uma variável que atua prejudicando no resgate de informação, promovendo um aumento excessivo na ativação do sistema límbico, que é fundamental para um bom funcionamento da memória. Desta forma, outros problemas como déficit de atenção e distúrbios da ansiedade podem estar prejudicando o processamento de informação e consequentemente a aprendizagem motora de crianças em fase de desenvolvimento. Em um estudo com crianças com problemas de atenção, apenas 2 das 16 crianças diagnosticadas com déficit de atenção por hiperatividade já sabiam que apresentavamo distúrbio. Esse resultado alerta para a falta de cuidado dos pais e professores com relação ao comportamento da criança. Fonte:www.mundomulheres.com Ao desconhecer os problemas e as consequências do excesso de ansiedade e da falta de atenção apresentada por crianças hiperativas, corre-se o risco de ocorrerem falhas no aprendizado que poderiam ser resolvidas com o tratamento médico e com a adaptação das aulas e maior atenção para estas crianças pelos profissionais do ensino. Embora existam muitas crianças com falhas no aprendizado em função de transtornos de atenção, não se sabe ao certo quando elas realmente apresentam o problema. Ao compreender como a atenção se desenvolve dentro dos processos de maturação neural, pode-se verificar se o nível de atenção é normal ou não de acordo com a maturação da criança naquela faixa etária e também se a aula está adequada a capacidade e desenvolvimento cerebral da criança. Este estudo tem o objetivo de discutir a aprendizagem motora, sob a ótica dos processos neurais no processamento de informação viabilizado pela atenção nas diferentes etapas de desenvolvimento motor e maturação cerebral. 1.1 Áreas cerebrais e maturação na aprendizagem A aprendizagem resulta da recepção e da troca de informações entre o meio ambiente e os diferentes centros nervosos. Desta forma, a aprendizagem inicia com um estímulo de natureza físico-química advindo do ambiente que é transformado em impulso nervoso pelos órgãos dos sentidos. O impulso, transportado pela inervação sensitiva, passa pelo tronco cerebral, via tálamo, e chega até um centro nervoso do córtex cerebral correspondente a natureza do estímulo. Desta forma, o estímulo visual termina no lobo occipital, o auditivo no temporal, o táctil ou somestésico no lobo parietal. Estas áreas aonde chegam os estímulos são chamadas de "zonas de projeção" ou "primárias". O estímulo projetado nestas áreas primárias é chamado de "sensação", que se trata da informação na sua forma elementar e incompleta sem conhecimento nem elaboração de significado, constituindo-se de uma passagem obrigatória para a percepção. Ao estimular eletricamente as áreas primárias o sujeito vivencia sensações vagas como escutar um "zunido" ou ver estrelinhas, sentir um formigamento, sem identificação de significado. Por meio dos neurônios associativos, a informação que chegou a área primária é transmitida para a área secundária. A decodificação da informação na área secundária proporciona a "percepção" que consiste na formação de imagens sensoriais correspondentes ao estímulo. Na percepção, as imagens (auditivas, visuais e tácteis) recebem significados, de forma que permitem que a pessoa veja e reconheça, por exemplo, esse é o rosto de minha mãe, essa voz é do meu amigo, etc. A sensação é comum no recém nato, pois suas áreas secundárias ainda não amadureceram, no entanto, os adultos dificilmente vivenciam sensação devido a informação passar para as áreas mais complexas assim que chega, de forma que estamos sempre questionando: o que é isso? De quem é essa voz? O que está encostando-se a mim? A percepção requer um ótimo estado de atenção. Pense em uma pessoa acordando com o despertador. Primeiro ela escuta ruídos vagos e depois de um pequeno tempo identifica que é o despertador, que precisa desliga-lo e acordar. Das áreas secundárias ou de associação passa-se às terciárias ou de integração onde ocorre a adição e combinação de todos os aspectos do estímulo. Nas áreas terciárias o sujeito faz associações entre os sentidos, por exemplo, este é o meu amigo, cuja voz me é agradável, a pele é macia e tem um cheiro agradável. Todos esses processos acontecem no cérebro em milésimos de segundo e envolvem outras estruturas sub corticais que não foram mencionadas aqui. É importante lembrar que a divisão funcional de áreas primárias, secundárias e terciárias acontece no lobo occipital, parietal e temporal, não funcionando da mesma maneira para o lobo frontal. A linguagem e a memória tornam possível uma série de outros aprendizados, sendo que começam juntas, se desenvolvem juntas e uma sempre apoiará a outra. A linguagem é que fixa a aprendizagem (não a motora) e a memória trará à tona seus conteúdos através da fala. A primeira zona responsável pelo desenvolvimento da linguagem é a área de compreensão da fala, ou área de Weirnicke, localizada no lobo temporal (área da audição). Ligada a esta área está a área motora da fala (localizada no lobo frontal esquerdo) ou área de Broca. Esta área está relacionada a capacidade de emitir sons cada vez mais próximos daqueles percebidos. Assim como a linguagem, a aprendizagem motora depende de processos complexos. Como foi visto anteriormente, a maturação acontece progressivamente das áreas primárias até as terciárias. Na região frontal, que está diretamente associada ao planejamento, controle e execução dos movimentos voluntários, a maturação ocorre de forma um pouco diferente. Na região anterior do cérebro (lobos frontais) é que acontece o planejamento, organização e execução do movimento. Outras áreas também participam da ação motora, enviando mensagens, dosando a força, a agilidade, fornecendo feedback visual, táctil e auditivo, permitindo desta forma o ajuste constante do movimento. Na região frontal, o movimento se acontece da seguinte forma: primeiramente há uma intenção de movimento, um planejamento elaborado no córtex pré-frontal; em seguida essa informação passa para a área pré-motora (que fica entre o lobo pré-frontal e a área motora) que é responsável por organizar a sequência motora; posteriormente esta é projetada na área motora primária (que fica no giro pré-central) que enviará os impulsos (via medula) para a musculatura a fim de executar o movimento planejado. Esse processo é dosado por muitas outras estruturas que dosam a força, a velocidade, e dão feedback constante ao movimento. A primeira área mielinizada no lobo frontal é a área motora primária, que permite a execução de movimentos voluntários, sem muita elaboração. Após, há a maturação da área pré-motora que permite uma melhor organização do movimento. A última área a ser mielinizada na região frontal é o córtex pré-frontal que é necessário no planejamento do movimento. A região pré-frontal é conhecida como um centro executivo, responsável pelas nossas vontades e desejos e pelo comportamento social. É a região que permite a consciência do eu, a subjetividade, os valores, as motivações, ou seja, é a área mais humana do cérebro. Talvez por esses atributos, está seja a região que tem a sua maturação mais lenta, sendo que a mielinização completa desta área só aconteça por volta dos 18 anos de idade. 2 O DESENVOLVIMENTO MOTOR E A MATURAÇÃO Em cada idade o movimento toma características significativas e a aquisição ou aparição de determinados comportamentos motores tem repercussões importantes no desenvolvimento da criança. Cada aquisição influencia na anterior, tanto no domínio mental como no motor, através da experiência e troca com o meio. Fonte:www.cliapsicologia.com.br O movimento observável pode ser dividido em 3 categorias: movimentos estabilizadores (equilíbrio e sustentação), movimentos locomotores (mudança de localização) e movimentos manipulativos (apreensão e recepção de objetos). De acordo com cada faixa etária, estes movimentos estarão em estágios e fases diferentes. As crianças da primeira infância, ou seja, de 2 a 6 anos, apresentam as habilidades percepto-motoras em pleno desenvolvimento, mas ainda confundem direção, esquema corporal, temporal e espacial. A variabilidade das habilidades fundamentais está se desenvolvendo, de forma que movimentos bilaterais, como pular, não apresentam tanta consistência as atividades unilaterais. O controle motor refinado ainda não está totalmente estabelecido, embora esteja desenvolvendo-serapidamente. Os olhos ainda não estão aptos a períodos extensos de trabalhos minuciosos. Para Piaget, nesta idade as crianças deveriam estar no período pré-operacional, ou seja, percepção aguçada, comportamento auto satisfatório e social rudimentar. Nesta fase, a maturação das áreas terciárias (de associação) ainda não está completa. Nas áreas executivas do cérebro (lobos frontais), a principal região envolvida com o planejamento e com a execução das tarefas ainda não está totalmente mielinizada, o que além de prejudicar na organização e no planejamento das tarefas também prejudica a capacidade de concentração (pois a área pré-frontal é importante para a atenção). A área pré-frontal imatura dificulta a manutenção da atenção de forma que não consegue realizar uma de suas funções principais que é a inibição de estímulos irrelevantes. Ao não conseguir inibir estímulos irrelevantes a criança acaba se tornando distraída. Na segunda infância, que é a faixa etária que vai dos 6 aos 10 anos, as crianças apresentam a preferência manual e os mecanismos perceptivos visuais firmemente estabelecidos. No início desta etapa do crescimento, o tempo de reação ainda é lento, o que causa dificuldades com a coordenação visuo-manual/pedal não estando aptas para extensos períodos de trabalho minucioso. Para Piaget, nesta idade as crianças estão na fase de operações concretas, onde as associações, a identidade, a razão dedutiva, os relacionamentos e as classificações já estão bem desenvolvidas. Nesta idade, a maioria das habilidades motoras fundamentais tem potencial para estarem bem definidas, mas as atividades que envolvem os olhos e os membros desenvolvem-se lentamente. Este período marca a transição do refinamento das habilidades motoras fundamentais para as refinadas que propiciam o estabelecimento de jogos de liderança e o desenvolvimento de habilidades atléticas. O desenvolvimento de habilidades motoras mais complexas é proporcionado nesta fase pelo aprendizado motor proporcionado pela maturação da área pré-frontal associado às experiências da criança. Nesta idade, há uma maturação progressiva da região pré- frontal, o que permite melhor planejamento do movimento, permitindo associar de forma consciente dois ou mais movimentos. Essa associação de movimentos, planejada no córtex pré-frontal se torna cada vez mais refinadas, e a estimulação de movimentos associados é essencial para o desenvolvimento normal das áreas corticais que possibilita uma aprendizagem motora mais eficiente. Embora a mielinização da área pré-frontal ocorra nesta fase, ela não é completa e continua a acontecer durante as próximas fases, até aproximadamente aos 18 anos. Na adolescência, idade compreendida entre os 10 até os 20 anos ou mais, o comportamento motor esperado é caracterizado pela fase de habilidades motoras especializadas. Depois que crianças alcançam o estágio maduro de um padrão motor fundamental, poucas alterações ocorrem. As mudanças ocorrem na precisão, na exatidão e no controle motor, porém não no padrão motor. O início da adolescência é marcado pela transição e a combinação dos padrões motores maduros. Nesta fase as crianças começam a enfatizar a precisão e a habilidade de desempenho em jogos e movimentos relacionados aos esportes. A habilidade e a competência são limitadas. A segunda fase da adolescência é marcada pela autoconsciência dos recursos físicos e pessoais e suas limitações, e por isso concentra-se em determinados esportes. A ênfase está na melhora da competência. A maturação progressiva da área pré-frontal continua a ocorrer. A região pré- frontal também está associada aos valores e significados que continuam a ser construídos durante todo o desenvolvimento humano. Considerando que a região que planeja o movimento, também é aquela que controla os comportamentos sociais e os valores pessoais, a intenção do movimento e o seu significado farão diferença na construção do gesto. A motivação e a intencionalidade farão com que o planejamento motor ocorra de maneira diferente e também que a reação a determinado estímulo seja diferente dependendo do significado pessoal atribuído a ele. Na terceira fase, ou seja, o estágio de utilização permanente das habilidades adquiridas, os indivíduos reduzem a área de suas buscas atléticas e há uma maior especialização no refinamento de habilidades. Neste período, onde provavelmente as áreas corticais estão mielinizadas, maduras, as mudanças no comportamento motor são decorrentes da modulação da atividade neural em função da experiência. As vivências motoras modularão a atividade neural tornando-a mais sincronizada e eficiente caracterizando a aprendizagem motora do indivíduo. A atenção continua sendo importante para a aprendizagem motora, porém, o significado do estímulo passa ter ser cada vez mais determinante do que este indivíduo vai ou não aprender com eficiência. Um estudo que investigou o tempo de reação neural (P300) a estímulos relevantes e irrelevantes com a utilização de nomes conhecidos ou não pelo indivíduo. Os resultados indicaram que ao escutar nomes conhecidos o cérebro reagia mais rápido, quando comparados a audição de nomes desconhecidos. 3 A ATENÇÃO, APRENDIZAGEM MOTORA E A MATURAÇÃO A atenção foi descrita como sendo a "focalização, concentração da consciência" e quando se refere ao desempenho humano é associada a atividades perceptivas, cognitivas e motoras de habilidades. É um dos requisitos básicos para a coordenação e o controle motor. A falta ou déficit de atenção implica em danos a aprendizagem da linguagem, da escrita e das habilidades motoras. Estudos com crianças portadoras de distúrbios leves no sistema nervoso central (déficit de atenção e/ou hiperatividade) e também com portadores de psicoses mais graves, (esquizofrenia), demonstram que a atenção afeta significativamente o desempenho motor de controle fino e global. A coordenação motora de um simples movimento de agarrar um objeto, levantá-lo e colocá-lo de volta a mesa pode representar um árduo trabalho do sistema nervoso central (SNC). É necessário a participação de diferentes centros nervosos motores e sensoriais para a organização de programas motores e para intervenção de diversas sensações oriundas dos receptores sensoriais, articulares e cutâneos do membro requerido. As atividades necessárias para a execução do movimento incluem "ler" as propriedades físicas do objeto, buscar antigas referências sobre ele, mandar impulsos para os músculos aplicarem uma força determinada, contrair os músculos, parar de contrair vagarosamente, soltar o objeto no momento certo para ele não cair nem bater com muita força na mesa. Na criança, o êxito das atividades coordenativas em cada uma de suas etapas varia conforme o nível de aprendizado e a evolução do seu desenvolvimento motor. Fonte:www.guprofdev.wordpress.com Falhas na comunicação, causadas tanto por estímulos externos concorrentes quanto por distúrbios neuroquímicos, dos neurônios ligados à aprendizagem e à memória de longa duração, são as principais causas para os distúrbios motores em crianças compulsivas obsessivas e hiperativas. Estas falhas de comunicação dos neurônios causadas por estímulos externos concorrentes sugerem que, desde o planejamento até a execução de uma habilidade motora, um alto grau de atenção é requerido para que não ocorram influências negativas na realização da tarefa. O controle motor fino está entre as habilidades que requerem mais atenção e concentração durante a execução, a precisão do movimento implica num aumento da preparação para o movimento. Prejuízo na prontidão contribui e fatores emocionais negativos interferem na resposta prejudicando o grau de atenção da pessoa. Crianças hiperativas com alto grau de desatenção sofrem maiores danos no controle motor fino que crianças com menor grau de desatenção, estas,apresentando maior déficit na motricidade global, o mesmo com os portadores de esquizofrenia comparados a um grupo controle. A sinestesia corporal, que é a noção do próprio corpo em relação ao ambiente, está diretamente ligada ao controle motor fino. No entanto, apesar das crianças hiperativas terem apresentado déficit geral nas habilidades motoras, não apresentaram diferenças sinestésicas significativas quando comparadas ao grupo controle. Foi sugerido com base nestes resultados que a atenção dificulta na execução das habilidades motoras mas não influencia na noção do corpo em relação ao ambiente. Ao analisar o resultado deste estudo, que foi realizado com crianças com idade entre 6 e 9 anos, sugere-se que o maior problema pode ter estar associado ao processo de maturação e ao distúrbio na área pré-frontal, pois os sistemas sensoriais não foram afetados, o que implicou em boa sinestesia, porém as crianças têm problemas de atenção e aprendizado motor que está relacionado a região frontal. Considerando que a noção espacial, o controle óculo-motor e a consciência corporal têm papel importante na elaboração do plano e na execução do movimento pelo SNC, a atenção pode influenciar no controle motor por estar associada ao estado de vigília e ao feedback constante do gesto. Desta forma, o déficit de atenção implica em insucessos e em respostas abaixo das esperadas. O comportamento antecipatório e a atenção para o movimento (preparação) são realizados pelos mesmos caminhos, enfatizando mais uma vez o papel da atenção no domínio motor. As habilidades de focalização nos estímulos sensoriais relevantes e de inibição daqueles irrelevantes ou interferentes são fatores críticos para a cognição. A atenção requer a habilidade de diferenciar entre estímulos relevantes e irrelevantes, de selecionar e focalizar apenas nas informações relevantes e de inibir as irrelevantes, dentro de determinado período de tempo. Estes aspectos da cognição melhoram com a idade. Desta forma, é necessário estudar a atenção sob dois aspectos: a atenção seletiva e a inibição de resposta. Estes aspectos fazem com que o indivíduo consiga focalizar sob o que interessa e ignorar os estímulos que não são relevantes, evitando assim distrair- se. Fonte:www.mundodastribos.com São definas atenção seletiva como uma alocação preferencial dos recursos limitados de processamento que se tornaram relevantes para o comportamento. O autor propõe um modelo neuro cognitivo para a atenção seletiva, onde três áreas corticais atuam em rede. O lobo parietal superior está envolvido na representação espacial exterior. O córtex pré-motor lateral atua nos movimentos de exploração e orientação (por exemplo, nos movimentos oculares). O giro cingulado anterior participa mais nos aspectos executivos da atenção seletiva, incluindo a monitoração da resposta (feedback). As falhas em responder apropriadamente aos estímulos podem resultar de um déficit de atenção sustentada, bem como o erro de inibir uma resposta potencial. O modelo neuro-cognitivo de inibição das respostas coloca 3 processos associados a 3 estruturas cerebrais. O primeiro processo diz respeito a inibição de uma resposta inicial pré-potencial, onde o córtex pré-frontal atua protegendo as representações de informações relevantes das interferências externas. O segundo processo é o de retenção de uma resposta potencial, onde há a participação dos gânglios basais provendo a inibição de comportamentos inadequados, sendo que o núcleo caudado e o putamen recebem os sinais do córtex frontal e os enviam a resposta de volta ao córtex via globo pálido e tálamo. Está rede, conhecida como "Rede fronto-estriada" modula a atividade na área motora suplementar que tem um papel primário no planejamento, iniciação e momento do movimento. As crianças não estão completamente maduras na atenção seletiva, na velocidade de processamento visual e nos processos de controle antes dos 12 anos. Com o objetivo de investigar o desenvolvimento da atenção seletiva, são comparadas as diferenças entre adultos e crianças no processamento de atenção por meio dos potenciais relacionados ao evento. A principal diferença observada foi que os adultos conseguiam manter a atenção por mais tempo que as crianças. Estas também se distraiam mais facilmente. Visando investigar se o problema de atenção das crianças está mais voltado ao sistema seletivo ou inibitório, foram investigadas as diferenças na atividade cerebral entre 12 crianças (idade entre 9 e 12 anos) e 12 adultos (idade entre 20 a 30 anos). A atividade cerebral foi investigada durante duas tarefas diferentes, uma que permitia a avaliação da atenção seletiva e outra que avaliava a inibição de estímulos. Os resultados indicaram poucas diferenças entre adultos e crianças na atenção seletiva. Porém, foram encontradas grandes diferenças na inibição de crianças e adultos, sendo que as crianças apresentaram maior ativação na região fronto estriada, incluindo o giro médio, cingulado e frontal. As grandes diferenças em resposta a tarefa de inibição são consistentes com a maturação demorada ou prolongada da região fronto estriatal. Considerando o papel essencial das emoções e da memória na atenção, e a importância da atenção na aprendizagem, destaca-se aqui a importância do significado no processo de aprendizagem. A memória está associada ao sistema límbico que está fortemente ligado as emoções. Tendemos a armazenar o que nos é emocionalmente relevante, ou importante para a sobrevivência. Pela associação do lobo límbico com o córtex pré-frontal, tendemos a programar e planejar baseados no que sentimos e no que nos foi passado, pois essa região frontal é responsável pela nossa subjetividade, valores e significados. Por isso melhor aprendemos o que nos é relevante e tem um significado. Construímos e planejamos o movimento baseados nas nossas motivações e valores e o aprendizado, desde a primeira reação ao estímulo, depende disto. Como o aprendizado depende da atenção, e esta está associada com aquilo que nos é importante, o significado influenciará no grau de atenção. Qualquer distúrbio que venha a modificar o funcionamento normal do sistema límbico pode prejudicar a atenção, um deles é a ansiedade. Um estudo encontrou relação entre a ansiedade e a aprendizagem motora. No caso da ansiedade traço, ou seja, a ansiedade que faz parte da personalidade da pessoa, ela foi relacionada como um dos indicadores para a eficiência da tarefa psicomotora. Também foi encontrado que a ansiedade-estado, ou seja, a ansiedade momentânea, tem um efeito negativo na coordenação óculo-manual numa tarefa de aprendizado. De acordo com a teoria social cognitiva desenvolvida, 4 processos governam o aprendizado: a atenção (seleção adequada), a retenção (representações cognitivas já existentes), a produção (escolha próxima ao modelo retido) e a motivação (regula a eficácia dos anteriores). As crenças de auto eficácia fornecem a maior base para a ação e podem influenciar na escolha da resposta, no esforço e na persistência para atingir os objetivos. Uma percepção de competência baixa e a autoestima abalada em crianças e adolescentes com déficit de coordenação também podem prejudicar a aprendizagem aumentando a ansiedade e reduzindo o estado de atenção. 3.1 Teoria do Programa Motor O programa motor é o conjunto de comandos motores que é pré-estruturado no nível executivo e que define os detalhes essenciais de uma ação habilidosa; análogo (semelhante) ao gerador central de padrão. Múltiplos músculos têm que ser estimulados para contrair e alguns para relaxar em uma sequência correta, com controle adicional da magnitude e da velocidade de desenvolvimento da força muscular. Em uma região localizada na camada externa do cérebro (córtex), anterior ao principal giro do cérebro, existe uma região chamada córtex motoressa região cortical é responsável pelo desenvolvimento de padrões neurais que consequentemente causam a contração muscular. A área tridimensional do córtex motor é dividida em regiões que são especificas para diferentes músculos do corpo. Quanto maior o número de unidades motora dos músculos e quanto mais complexo for o controle neural para uma dada contração muscular, maior será a área do córtex destinada a esse músculo. Fonte:www.beevoz.net Isso acontece por que os neurônios que deixam o córtex motor agrupam-se na altura do tronco encefálico e descem pela medula espinhal, formando o trato cortiço- espinhal (ou trato piramidal). Os neurônios do trato cortiço-espinhal cruzam na medula; assim o lado direito do córtex motor controla os movimentos do lado esquerdo do corpo e vice-versa. O cerebelo é importante para a preparação de padrões motores futuros e para armazenar a sequência correta de movimentos. Por exemplo, depois de um treino considerável de um movimento particular, a maioria dos detalhes do movimento pode ser estocado no cerebelo, necessitando menos do córtex motor. O controle de circuito fechado é o controle que envolve o uso de feedback e a atividades dos processos de detecção e correção de erros para manter a meta desejada; utilizada pelos indivíduos para controlar movimentos lentos e intencionais. 3.2 Sentidos – Percepção – Decisão – Efetor = Feedback O controle de circuito fechado é do tipo em que errando pode haver uma correção, colocar a isca no anzol, enrolar a linha tirar o peixe da rede. É um circuito onde a uma melhor correção. O controle de circuito aberto é o tipo de controle que envolve o uso de comandos centralmente determinados e pré-estruturados enviados para o sistema efetor e executado sem feedback; utilizado pelos indivíduos para controlar movimentos rápidos e discretos. 3.3 Estimulo – Executivo – Efetor – Resposta Concluí-se da seguinte forma: Se o movimento a ser produzido for muito lento, o controle será dominado pelos processos de operação de feedback. Se o movimento for muito rápido, o controle, será predominantemente, governado pela operação de processos de circuito aberto. 4 CONTROLE MOTOR O sistema nervoso possui motoneurônios que controlam os músculos para a realização de movimentos. Uma unidade motora é constituída por um motoneurônio e as fibras musculares inervadas por ele. Assim, grupamentos musculares que possuem grandes unidades motoras (um motoneurônio inervando muitas células) proporcionam gestos motores com menor precisão, como o quadríceps. Já músculos que possuem pequenas unidades motoras (um motoneurônio inervando poucas células) proporcionam movimentos com maior precisão. 4.1 Níveis de controle motor O controle motor pode ser divido em três níveis: voluntário, automático e involuntário. 4.2 Movimento voluntário Esse tipo de movimento, no qual a produção e a execução do movimento são planejadas de forma consciente e controlada, é dividido em três níveis: planejamento, tático e execução. A ativação da zona pré-motora, que planeja o gesto, desencadeia um potencial de ação para o córtex sensório-motor que envia o comando para o tálamo, daí para os núcleos da base, onde há divergência do sinal para o cerebelo e para o tronco cerebral, seguindo para a medula, de onde parte para o músculo, via motoneurônio, iniciando a contração muscular. Posteriormente, estímulos sensoriais chegam ao cerebelo, informando sobre a execução do movimento. No cerebelo, há encontro de informações sobre a ação motora idealizada e a realizada. É feita uma comparação entre elas e o resultado é enviado para o córtex sensório-motor, que corrige o movimento, a fim de torná-lo mais preciso. Para executar um gesto são realizadas milhares de correções, e a precisão das correções aumenta com a experiência na execução do gesto. Em indivíduos com lesão cerebelar, essa capacidade de comparação e correção dos movimentos é perdida, fazendo com que esses indivíduos realizem gestos erráticos, com força excessiva ou insuficiente, e mudanças indesejadas de direção. 4.3 Movimento automático Tal movimento é coordenado a partir da área motora e ocorre quando os movimentos já foram muito aperfeiçoados, não necessitando de planejamento para serem realizados. Por exemplo, a marcha do bebê, inicialmente, é voluntária, depois se torna automática e sofisticada. O mesmo acontece com a fala e com a escrita. Quando o gesto motor é estruturado e automatizado, constitui um programa motor ou engrama: uma via neuromuscular que, uma vez estimulada, se repete automaticamente. Assim, sempre que o indivíduo desejar realizar essa ação motora, ela será reproduzida da mesma forma. Um exemplo é o ato de escrever – depois que aprende a escrever, não consegue mudar a forma da escrita porque criou um programa motor e o usa sistematicamente. Se o indivíduo tentar mudar o ato do programa motor, esse ato deixa de ser automático e passa a ser voluntário. Depois de instalado o engrama, ele se torna dominante e não pode ser mudado ou corrigido, apenas substituído por outro engrama que irá predominar sobre o já existente, criando uma espécie de competição. Assim, ao longo do processo ensino-aprendizagem de crianças e adultos, bem como em casos de reabilitações na área da fisioterapia, é imprescindível o treino do padrão correto do movimento. Quanto mais experiências e habilidades motoras o indivíduo possuir, maior será seu vocabulário motor, sendo mais rápido e fácil seu processo de aprendizagem de gestos ou de esportes. O cerebelo compara o resultado do movimento que foi idealizado com o movimento que foi executado. A diferença gerada pelas variáveis ambientais faz o cerebelo enviar ao córtex sensório-motor as correções necessárias ao mesmo tempo em que o movimento acontece. Indivíduos que sofrem de doenças neurodegenerativas têm menor controle sobre o movimento que será executado; deste modo, as diferenças geradas entre o que foi idealizado e o que foi executado serão maiores. Essa correção entre movimentos realizada pelo cerebelo ocorre também quando aprendemos algo novo, como tocar instrumentos e praticar um esporte novo, por exemplo. Por outro lado, movimentos repetidos frequentemente não necessitam mais de planejamento para executá-los; estes movimentos são os chamados automáticos; como, por exemplo, a fala e a escrita. Fonte:www.belezaesaude.com Movimentos realizados ao longo do tempo tornam-se engramas ou programas motores. O programa motor é criado sempre que praticamos uma habilidade. A memória de tentativas anteriores é usada para repetir fisicamente a ação. Com prática, uma memória clara e precisa da habilidade é formada. Como dizia aquele ditado: você nunca se esquece de andar de bicicleta. Uma vez estabelecidos, correções nestes movimentos se tornarão mais difíceis, isto é, o tempo utilizado para alterar o movimento de origem, por anos repetidos, será maior do que o tempo utilizado para aprender um novo movimento. Em situações que o indivíduo perca o padrão motor adquirido, como ocorre no acidente vascular encefálico, este engrama terá de ser substituído por um novo. Outro fato importante em relação ao movimento automático é que indivíduos que apresentam maior experiência motora (vocabulário ou repertório motor) apresentarão uma maior capacidade de improvisação do que indivíduos restritos às situações rotineiras. Em relação ao movimento motor involuntário, discutiremos sobre o reflexo de retirada, o reflexo miotático e o reflexo miotático inverso: O reflexo de retirada será estimulado por fatores nociceptivos. Este estímulo desencadeará potenciais de ação que estimularão o motoneurônio do músculo flexor e uma sinapse com um interneurônio inibitório do músculo extensor, ou seja, haverá a contração do segmento agredido e uma inibição de contraçãocom simultâneo relaxamento do músculo extensor. Ao mesmo em que isso ocorre, o potencial de ação realiza o processo inverso do outro lado; mecanismo herdado geneticamente da época em que éramos quadrúpedes e necessitávamos de um apoio inverso para o equilíbrio. 4.4 Movimento involuntário Este movimento, diferente dos outros, não necessita de controle cortical, pois ocorre ao nível medular. São movimentos reflexos, divididos em três tipos: reflexo miotático, reflexo miotático inverso e reflexo flexor ou de retirada. 4.5 Reflexo miotático Depende de um órgão sensorial chamado fuso muscular, sensível ao estiramento do músculo, e que é uma célula muscular modificada, localizada em paralelo às outras células musculares no ventre muscular. Os sarcômeros do fuso muscular ficam localizados em suas extremidades, e são inervados pela fibra gama ou fusimotora, que provoca a contração dos sarcômeros, estirando o órgão sensorial. Quando um músculo é estirado, o fuso envia potenciais de ação por uma fibra sensorial até o H medular, onde ela faz uma única sinapse que ativa o motoneurônio alfa que inerva o músculo estirado, provocando sua contração. O controle tônico postural é mantido pelo reflexo miotático, já que as variações posturais ativam grupos musculares de forma compensatória, para manter a postura. Reflexo patelar: a percussão do tendão patelar gera um pequeno estiramento do quadríceps, ativando o fuso muscular desse músculo, que provoca sua contração. Esse teste é um índice de atividade reflexa miotática e pode ser usado como diagnóstico de hipotonia – não responde à percussão – ou hipertonia – tem uma resposta exacerbada. 4.6 Reflexo miotático no desempenho físico Realizar uma ação contra movimento, antes do gesto que se deseja executar, provoca o estiramento dos grupamentos musculares que serão utilizados para o gesto, ativando o reflexo miotático. Assim, através do somatório dos estímulos involuntário e voluntário, o recrutamento de células musculares aumenta, bem como a geração de força no gesto. Agachar-se antes de saltar ou flexionar o cotovelo antes de lançar um objeto são exemplos de ações contra movimento. 4.7 Reflexo miotático inverso Depende do Órgão Tendinoso de Golgi (OTG), uma terminação nervosa livre encapsulada, localizada no tendão do músculo e sensível à tensão muscular. Quando ativado pela tensão muscular, o OTG, que emite um potencial de ação por uma fibra sensorial até o H medular, realiza duas sinapses: uma com um interneurônio inibitório, que irá inibir o motoneurônio alfa, que inerva o músculo tensionado (agonista); e outra com um interneurônio excitatório, que irá excitar o motoneurônio alfa que inerva o músculo antagonista. Dessa forma, ocorre um relaxamento do agonista - para protegê-lo de possíveis lesões - e uma contração do antagonista. Um exemplo para esse tipo de reflexo é a queda de braço: quando certo grau de tensão muscular é atingido, os músculos agonistas relaxam e os antagonistas contraem, provocando a queda do braço do indivíduo derrotado. 5 DOENÇAS NEUROLÓGICAS MAIS COMUNS 5.1 Sistema nervoso central: Parkinson: doença degenerativa caracterizada pela tríade tremor, rigidez e lentidão que acomete cerca de 1% dos pacientes acima de 65 anos. Tremor essencial: nem todo paciente com tremor tem doença de Parkinson. Na verdade, a maior causa de tremor no mundo é o tremor essencial, uma entidade na maioria das vezes benigna e de padrão familiar. Outros distúrbios do movimento: Coréia, distonia, mioclonias, balismos têm características peculiares e podem ser consequência de causas vasculares, degenerativas ou infecciosas. Convulsões: são movimentos bruscos e involuntários de todo o corpo resultantes de descargas elétricas anormais no cérebro. Podem ser benignas quando relacionadas à febre, ao uso de substâncias ou na epilepsia da infância - ou malignas quando resultantes de tumores cerebrais de rápida evolução. Alzheimer: é a doença neurodegenerativa mais comum no mundo, afetando cerca de 15% dos idosos acima dos 65 anos. O quadro típico é a desorientação temporal- espacial que não deve ser confundida com os lapsos normais do idoso. A progressão da doença é inexorável, mas variável, dependente de fatores genéticos e uso precoce de medicamentos específicos. Derrame cerebral (AVC): causa mais comum de morte e incapacidade, resulta da oclusão aguda de vasos cerebrais, geralmente nos idosos, hipertensos, diabéticos, fumantes e com colesterol alto. O reconhecimento dos sintomas é fundamental para a minimização de sequelas, já que o tratamento de desobstrução do coágulo deve ser feito nas primeiras 4.5 horas. Dores de cabeça: existem dezenas de causas, mas as duas mais comum são a enxaqueca e a cefaleia tensional, ambas de caráter benigno. Às vezes podem coincidir. As náuseas é a marca registrada da enxaqueca enquanto a dor em faixa sobre a testa é tipicamente tensional. Atividade física regular é a principal arma contra qualquer tipo de dor. Meningite: é a infecção das camadas mais externas do cérebro que provoca dor de cabeça lancinante, febre e rigidez de nuca. Quando há alteração de consciência ou convulsões muda de nome: meningoencefalite. Os germes causadores dependem da idade e do estado imunológico. É uma emergência médica. Esclerose Múltipla: é uma doença autoimune que afeta a substância branca do cérebro podendo gerar uma série de sintomas, alguns muito parecidos com um derrame. Afeta pacientes jovens e hoje conta com uma ampla gama de opções terapêuticas bastante eficazes. Doenças da medula espinhal: ou mielopatias. Podem ser agudas ou crônicas. São afecções neurológicas caracterizadas por lesões da medula espinal em consequência de processos infecciosos, doenças autoimunes, doenças sistêmicas com repercussão neurológica ou entidades idiopáticas isoladas. Os principais sintomas são paralisias das pernas, perda de sensibilidade e do controle esfincteriano. Na maioria das vezes o prognóstico é bom. Doenças neurológicas FUNCIONAIS: tratam-se de manifestações neurológicas variadas (dor, tonturas, paralisias, desmaios sensações anormais na pele etc.) onde o problema reside na má conexão ou funcionamento entre neurônios, mas SEM lesão neurológica demonstrável. 6 DOENÇAS QUE AFETAM O SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO Doenças do neurônio motor (“mielopatias” puramente motoras): As doenças do neurônio motor são um grupo de enfermidades neurobiológicas que afetam seletivamente neurônios motores da porção anterior da medula ou do tronco cerebral, as células que controlam a atividade muscular voluntária, incluindo a fala, o caminhar, a respiração, a deglutição e o movimento geral do corpo. A principal representante deste grupo é a esclerose lateral amiotrófica, de prognóstico variável, geralmente reservado. Doenças dos nervos e das raízes: ou polineuropatia. É um distúrbio neurológico que ocorre quando simultaneamente muitos nervos periféricos por todo o corpo começam a não funcionar corretamente. Pode ser aguda (síndrome de Guillain-Barré) e aparecer sem nenhum aviso, ou pode ser crônica (diabetes, deficiência de vitamina B12 etc.) e se desenvolver gradualmente ao longo do tempo. Muitas polineuropatias possuem envolvimento motor e sensorial, e outras possuem disfunção autonômica. Outras situações comuns são as compressões focais de nervo, onde a síndrome do túnel do carpo (nervo mediano no punho) é a de longe a mais frequente na prática clínica. Doenças da junção do nervo com o músculo (placa motora): a miastenia grave ou miastenia gravis é o principal representante. Trata-se de uma doença que causa fraqueza e fadiga anormalmente rápida dos músculos voluntários. A fraqueza é causada por um defeito na transmissão dos impulsos dos nervos para os músculos. A doença raramente é fatal, mas pode ameaçar a vida quando atinge os músculos da deglutiçãoe da respiração. Doenças do músculo: ou miopatias = afecções que acometem as fibras musculares, resultando principalmente em fraqueza, Cãibras musculares, rigidez, espasmo, tetania entre outros. Causas múltiplas, até medicamentosas. O diagnóstico é baseado na clínica, dosagem de enzimas musculares e exame do DNA. Embora não haja um tratamento específico, o uso de tratamento sintomáticos têm tido resultados satisfatórios. Dor neuropática: A Dor Neuropática é definida como dor causada por lesão ou disfunção do sistema nervoso, como resultado da ativação anormal da via nociceptiva (fibras de pequeno calibre e trato espinotalâmico na medula e cérebro). As principais causas desta síndrome são: diabetes melito, neuralgia pós-herpética, neuralgia trigeminal, dor regional complexa, acidente vascular encefálico, esclerose múltipla, lesão medular, entre outros. 7 PATOLOGIAS RELACIONADAS AO CONTROLE MOTOR TCE traumatismo cranioencefálico: O traumatismo cranioencefálico (TCE) é uma agressão ao cérebro causada por agressão física externa, que pode produzir alteração no nível de consciência e resultar em comprometimento das habilidades cognitivas, físicas e comportamentais. O TCE constitui qualquer agressão que acarrete lesão anatômica ou comprometimento funcional do couro cabeludo, crânio, meninges ou cérebro. As lesões do TCE dependerão da relação entre a capacidade de complacência cerebral (capacidade de suportar a agressão) e as alterações no fluxo sanguíneo cerebral. As lesões cerebrais podem ser primária ou secundária. Lesão encefálica primária: ocorre no momento do trauma e corresponde principalmente à contusão cerebral e à lesão axonal difusa (LAD). Lesão secundária: é determinada por processos iniciados no momento do trauma, mas clinicamente evidentes algum tempo depois. Exemplos: hematomas intracranianos, a tumefação cerebral, a lesão cerebral secundária ao aumento da pressão intracraniana, lesão cerebral por diminuição ou falta de oxigênio, queda na pressão sanguínea, dificuldades na respiração, diminuição ou falta de sangue, febre, aumento do açúcar no sangue, alterações do sódio, infeção generalizada alterações na coagulação do sangue. Fonte: www.superinteligente.club A incidência de TCE é maior nos homens do que nas mulheres em mais de 2:1 (dois homens para cada mulher). Mais de 50% dos pacientes com TCE está entre as idades de 15 e 24 anos. O TCE é causa comum de morte em crianças, estando entre 10-13%. Quanto mais grave for o TCE, maior será a mortalidade. As causas mais comuns de TCE são acidentes de automóveis, traumas esportivos e quedas. Os traumas que ocorrem ao nascimento podem provocar fraturas de crânio, cefalohematoma, hematoma subdural e epidural, síndrome do Bebê Sacudido (shaken baby) e os cistos leptomeningeos (ou fratura em crescimento). O TCE pode ser classificado em: Fechado – quando não há exposição de estruturas do crânio. Ocorre em acidentes automobilísticos, quedas e agressões. Aberto ou penetrante – quando há exposição de estruturas do crânio. Ocorre em ferimentos por arma de fogo e lesões por instrumentos perfurantes. 7.1 Complicações Os pacientes vítimas de TCE podem apresentar sequelas físicas, neuropsicomotoras, epilepsia, hidrocefalia e estética (defeitos cranianos). Em geral, quanto mais grave for o trauma, maior a chance de sequelas. 7.2 Prevenção do TCE Como foi visto acima, o TCE pode levar a morte ou mesmo a sequelas graves e permanentes. Além disso, mais de 50% dos pacientes com TCE tem entre 15 e 24 anos, ou seja, a faixa produtiva da vida. O TCE atinge os jovens com a vida toda pela frente. É muito importante prevenir o TCE. As crianças como se encontram em fase de crescimento e desenvolvimento, estão sujeitas às diferentes formas de trauma craniano. Traumas que vão desde traumas ocorridos durante o parto até acidentes automobilísticos. As crianças menores, muitas vezes, são vítimas dos maus tratos e negligência causados até pelos próprios familiares. AVC/AVE: O acidente vascular cerebral, ou derrame cerebral, ocorre quando há um entupimento ou o rompimento dos vasos que levam sangue ao cérebro provocando a paralisia da área cerebral que ficou sem circulação sanguínea adequada. O AVC também é chamado de Acidente Vascular Encefálico (AVE). 7.3 Tipos de AVC AVC Isquêmico: entupimento dos vasos que levam sangue ao cérebro AVC Hemorrágico: rompimento do vaso provocando sangramento no cérebro. Fonte: www.diariodaregiao.com.br 7.4 Sintomas de AVC Diminuição ou perda súbita da força na face, braço ou perna de um lado do corpo Alteração súbita da sensibilidade com sensação de formigamento na face, braço ou perna de um lado do corpo Perda súbita de visão num olho ou nos dois olhos Alteração aguda da fala, incluindo dificuldade para articular, expressar ou para compreender a linguagem Dor de cabeça súbita e intensa sem causa aparente Instabilidade, vertigem súbita intensa e desequilíbrio associado a náuseas ou vômitos. 7.5 Tratamento de AVC O tratamento e a reabilitação da pessoa vitimada por um AVC dependerá sempre das particularidades que envolvam cada caso. Há recursos terapêuticos que podem auxiliar na restauração das funções afetadas. Para que o paciente possa ter uma melhor recuperação e qualidade de vida, é fundamental que ele seja analisado e tratado por uma equipe multidisciplinar de profissionais da saúde, fisioterapeutas, médicos, psicólogos e demais profissionais. Seja qual for o tipo do acidente, as consequências são bastante danosas. Além de estar entre as principais causas de morte mundiais, o AVC é uma das patologias que mais incapacitam para a realização das atividades cotidianas. Conforme a região cerebral atingida, bem como de acordo com a extensão das lesões, o AVC pode oscilar entre dois opostos. Os de menor intensidade praticamente não deixam sequelas. Os mais graves, todavia, podem levar as pessoas à morte ou a um estado de absoluta dependência, sem condições, por vezes, de nem mesmo sair da cama. A pessoa pode sofrer diversas complicações, como alterações comportamentais e cognitivas, dificuldades na fala, dificuldade para se alimentar, constipação intestinal, epilepsia vascular, depressão e outras implicações decorrentes da imobilidade e pelo acometimento muscular. Um dos fatores determinantes para os tipos de consequências provocadas é o tempo decorrido entre o início do AVC e o recebimento do tratamento necessário. Para que o risco de sequelas seja significativamente reduzido, o correto é que a vítima seja levada imediatamente ao hospital. Os danos são consideravelmente maiores quando o atendimento demora mais de 3 horas para ser iniciado. Disfagia pós- AVC: Mais da metade das pessoas que tiveram um AVC poderão ter dificuldades de comer ou beber. Essa dificuldade é chamada de disfagia e é causada pelo dano de alguns nervos e músculos usados para mastigar e engolir. Na disfagia, ocorre um desvio do alimento ou da saliva, obstruindo parcialmente ou completamente as vias respiratórias. Fonte: www.fonolarbh.com 7.6 Sinais e sintomas da disfagia Tosse e engasgos quando a pessoa tenta engolir alimentos ou líquidos; Sensação de alimento parado na garganta; Sialorreia (babar); Tempo de refeição muito prolongado; Rouquidão ou cansaço depois de comer ou beber; Restos de comida na boca após engolir; Se os alimentos ou bebidas desviarem pela via respiratória, o “caminho errado”, você pode desenvolver uma infecção no pulmão, com dificuldade de respirar e febre. 7.7 Dicas simples para facilitar a deglutição (ato de engolir) O paciente deve estar alerta (bem acordado) e compreendendo ordens simples. O ambiente de alimentação deve ser calmo e com o mínimo de distrações. Nunca oferte comida à pessoa deitada, salvo em caso de orientaçõesespecíficas. Em caso de má adaptação das próteses dentárias, retire-as. Oferte colheradas menores e não misture comida e bebida na boca ao mesmo tempo. Ofereça os alimentos sem pressa. Não permita que a pessoa fale com a comida na boca. Evite que a pessoa coma com a cabeça inclinada para trás, salvo com orientação profissional. Incentive a pessoa a mastigar bem os alimentos. Verifique se a boca está vazia, antes de ofertar outro gole ou colherada. Evite oferecer alimentos difíceis de engolir, como alimentos duros e secos. Não use canudos, a menos que um fonoaudiólogo o recomende. Peça ao médico para prescrever os medicamentos do paciente em calda ou na forma líquida. Verifique com o médico ou farmacêutico se existe possibilidade de esmagar os comprimidos sem perda do efeito do medicamento. Caso necessário, ofereça alimentos mais pastosos e líquidos engrossados, pois o engasgo com alimento líquido é o mais frequente. Deixe a pessoa que teve um AVC sentada por meia hora após as refeições, para ajudar a digestão. 7.8 Se não for possível comer pela boca Se a pessoa não consegue engolir qualquer alimento por via oral, ela vai precisar de alimentação por sonda nasoenteral (SNE) ou via gastrostomia. A nutricionista irá prescrever uma dieta equilibrada, líquida, especificamente adaptada às necessidades nutricionais diárias e isso vai ser gotejado lentamente, através da sonda. É importante manter a cabeceira da cama bem elevada quando estiver sendo alimentado por sonda, para facilitar a digestão e evitar retorno de alimento. Não se deve esquecer de realizar a higiene oral com cuidado: fazer a limpeza 4 vezes ao dia e não realizar bochecho, devido ao maior risco de engasgo. Solicite à equipe orientação adequada. Fonte: www.biologiacolegioserrano.blogspot.com.br 8 POLIOMIELITE AGUDA Poliomielite é uma doença viral que pode afetar os nervos e levar à paralisia parcial ou total. Apesar de também ser chamada de paralisia infantil, a doença pode afetar tanto crianças quanto adultos. A poliomielite foi praticamente erradicada em países industrializados com a vacinação de crianças, inclusive no Brasil, onde a vacina contra a doença foi incorporada à caderneta de vacinas obrigatórios. Mas o vírus causador, no entanto, ainda pode ser encontrado em países da África e da Ásia. 8.1 Tipos A infecção pelo poliovírus não leva, necessariamente, à paralisia infantil. Existem dois tipos principais da doença: Poliomielite paralítica Poliomielite não-paralítica 8.2 Causas A poliomielite é uma doença causada pela infecção do poliovírus, que se espalha por contato direto pessoa a pessoa e também por contato com muco, catarro ou fezes infectadas. O vírus entra por meio da boca e do nariz e se multiplica na garganta e no trato intestinal. Dali, alcança a corrente sanguínea e pode atingir o cérebro. Quando a infecção ataca o sistema nervoso, destrói os neurônios motores e provoca paralisia nos membros inferiores. A pólio pode, inclusive, levar o indivíduo à morte se forem infectadas as células nervosas que controlam os músculos respiratórios e de deglutição. O período de incubação do vírus, ou seja, tempo que leva entre a infecção e surgimento dos primeiros sintomas, varia de cinco a 35 dias, mas a média é de uma a duas semanas. O poliovírus pode ser transmitido por meio de água e alimentos contaminados ou pelo contato direto com uma pessoa infectada. A doença é tão contagiosa que pode ser pega no ar, principalmente por pessoas que convivem com portadores do vírus. Quem tem poliomielite pode transmitir a doença semanas após a infecção. 8.3 Sintomas de Poliomielite Embora a poliomielite possa causar paralisia e até mesmo a morte, a maioria das pessoas infectadas com o poliovírus não fica doente e não manifesta sintomas, de modo que a doença passa muitas vezes despercebida. 8.4 Poliomielite não-paralítica A maior parte das pessoas que foram infectadas pelo poliovírus apresenta o tipo não-paralítico da doença. Muitas vezes a pessoa não manifesta nenhum sintoma, e quando os sinais da doença aparecem, eles geralmente são muito similares aos sintomas da gripe e de outras doenças virais leves ou moderadas. Os sinais e sintomas, que costumam durar de um a dez dias, incluem: Febre Garganta inflamada Dor de cabeça Vômitos Fadiga Dor nas costas ou rigidez muscular Dor de garganta Dor ou rigidez nos braços e nas pernas Fraqueza muscular ou sensibilidade Meningite. 8.5 Poliomielite paralítica Em casos raros, a infecção pelo poliovírus leva à poliomielite paralítica, a forma mais grave da doença. Poliomielite abortiva, como também é chamada, recebe diferentes nomes dependendo da parte do corpo afetada: a medula espinhal (poliomielite espinhal), o tronco cerebral (poliomielite bulbar) ou ambos (poliomielite bulbospinal). Sinais da poliomielite paralítica, como febre e dor de cabeça iniciais, muitas vezes imitam os da poliomielite não-paralítica. Dentro de uma semana, no entanto, os sintomas específicos de poliomielite paralítica aparecem, incluindo: Perda dos reflexos Dores musculares graves ou fraqueza Membros soltos e flácidos, muitas vezes pior em um lado do corpo. 8.6 Diagnóstico de Poliomielite Os médicos muitas vezes conseguem reconhecer poliomielite por meio da observação dos sintomas, tais como dor e rigidez no pescoço, reflexos anormais, lentos ou inexistentes e dificuldade de deglutição e respiração. Para confirmar o diagnóstico, uma amostra de secreções da garganta, fezes ou líquido cefalorraquidiano - um líquido incolor que envolve o cérebro e a medula espinhal - é enviada para análise laboratorial, em que é confirmada a presença do poliovírus ou não. 8.7 Tratamento de Poliomielite Não existe cura para poliomielite, por isso o foco do tratamento reside em diminuir a sensação de desconforto, acelerar a recuperação e garantir a qualidade de vida do paciente. O tratamento deve ser iniciado o quanto antes para evitar complicações, mesmo porque, se uma pessoa infectada com o vírus não for atendida ao primeiro sinal da doença, ela estará sob risco aumentado de morte. Cuidados caseiros e acompanhados pelo médico podem ajudar na recuperação do paciente com pólio. 8.8 Complicações possíveis Poliomielite paralítica pode levar à paralisia muscular temporária ou permanente, incapacidade e deformidades dos quadris, tornozelos e pés. Embora muitas deformidades possam ser corrigidas com cirurgia e fisioterapia, esses tratamentos podem não ser opções em algumas partes do globo, especialmente países não industrializados, onde a pólio ainda é comum. Como resultado, as crianças que sobrevivem à poliomielite pode passar a vida com deficiências graves. Fonte:www.onu.org.br O prognóstico depende do tipo de poliomielite e do local afetado pelo vírus. Se a medula espinhal e o cérebro não estiverem envolvidos, o que acontece em mais de 90% das vezes, a recuperação completa é bastante possível. O envolvimento do cérebro ou da medula espinhal é uma emergência médica que pode resultar em paralisia temporária ou permanente e até mesmo em morte (normalmente por dificuldades respiratórias). A paralisia é uma consequência mais comum que a morte. A infecção em uma parte alta da medula espinhal ou no cérebro aumenta o risco de problemas respiratórios. Síndrome pós-pólio: A síndrome pós–pólio é uma desordem neurológica que acomete pessoas por volta dos 40 anos que, pelo menos 15 anos antes, foram infectadas pelo vírus da poliomielite e desenvolveram uma forma aguda ou inaparente da doença. A principal característica da síndrome é a perda das funções musculares que tinham permanecido estabilizadas no intervalo entre a recuperação e o aparecimento dos novos sintomas. O quadro não é provocado pela reativação do vírus da poliomielite,
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