Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
LOMBALGIAS Lombalgia e suas sinonímias (dor lombar baixa; lumbago) descrevem um sintoma e não um quadro nosológico definido. Sendo determinado por uma dor que está localizada na região lombar. Quanto ao tempo, as lombalgias são divididas em: - aguda: 0 – 4 semanas, - subaguda: 4 – 12 semanas, - crônica: > 12 semanas EPIDEMIOLOGIA Estima-se que cerca de 60 – 80% das pessoas venham a sofrer com lombalgia durante a vida. Dessas, em torno de 2/3 terão recorrência e 1/3 vem a ficar incapacitado no período de um ano. De acordo com os dados globais 2010 do Global Burden os Disease, a dor lombar resulta em mais incapacidades que qualquer doença. A lombalgia constitui a principal causa de ausência no trabalho. O pico de prevalência da lombalgia está entre 45 – 60 anos, sendo mais recidivante em idades mais avançadas. FATORES DE RISCO Os fatores de risco são dependentes da causa. - Obesidade é um dos fatores mais estudados, sendo diversos os mecanismos causais relacionados, como: sobrecarga mecânica da coluna lombar, associação com inflamação sistêmica crônica, associação com discopatia degenerativa e alterações da placa vertebral. - Tabagismo, em especial nos pacientes mais jovens. - Outros riscos associados: nível de educação (pessoas com menos anos de educação formal estão mais sujeitas a desenvolver dor lombar); trabalhos envolvendo levantamento de peso; aspectos psicológicos (histeria, neurose; quadros conversivos e depressão). ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA Acredita-se que a maioria das lombalgias são de origem muscular, ocasionadas por contraturas musculares. O disco intervertebral, que é inervado em seu ânulo fibroso, podendo assim, ser fonte de dor lombar. Essa dor, chamada de axial ou discogênica, tem como principal teoria fisiopatológica a irritação das terminações nervosas livres por substâncias do núcleo pulposo, que com elas vem a entrar em contato por fissuras no ânulo fibroso quando o disco é submetido a carga axial constante. Os discos intervertebrais e o ligamento longitudinal têm seus impulsos dolorosos levados pelos nervos sinovertebrais até os gânglios simpáticos do tronco paravertebral e ascendem vários níveis até o gânglio de L2 através dos ramos comunicantes, adentrando na medula espinal. Já as articulações zigapofisárias, ou facetas, são inervadas pelo ramo medial do nervo dorsal primário, sendo responsáveis pela chamada dor facetaria. As alterações degenerativas das facetas articulares podem ocasionar dor por dois mecanismos: destruição da cartilagem articular, ou por hipertrofia facetaria gerando compressão do ramo medial dorsal. Por fim, outras possíveis origens para a dor lombar, são: ligamentos (interespinhoso); articulação sacroilíaca e irritação mecânica ou química da dura-máter. No geral, as etiologias podem ser classificadas em: mecânicas; inflamatórias; infecciosas; metabólicas; tumores e dor visceral referida. • Mecânicas: dentro das causas mecânicas, estão: anomalias congênitas (espinha bífida; sacralização); degenerativas (espondiloartrose); síndromes discogênicas (prolapso discal) e traumatismos. • Lombalgia mecânica comum: caracteriza-se por dor lombar baixa, normalmente unilateral, às vezes central, irradiando-se para a região sacral e nádegas. De maneira geral, a dor ocorre após esforço físico maior ou esforços repetidos em posições de estresse para a coluna. Nesses casos, a investigação laboratorial e radiológica costuma ser normal. • Espondilolistese e Espondilólise: A espondilolistese é o deslizamento parcial ou total de uma vértebra sobre a outra. Já a espondilólise é a fratura do pars interarticularis. Reumatologia Mariana Melo A espondilolistese pode ser classificada em: congênita, adquirida, traumática, iatrogênica, patológica e degenerativa. • Osteoartrite e discopatia: costumam surgir com o envelhecimento. Os pacientes sintomáticos apresentam dor mecânica, podendo ser observado um grau de rigidez matinal. • Inflamatórias: associadas com doenças que possuem manifestações sistêmicas, além do acometimento da coluna vertebral, como: espondilite anquilosante, artrite reumatoide e fibromialgia. • Infecciosas: são pouco frequentes. Diferentes agentes etiológicos podem estar relacionados com dor lombar, como Staphylococcus aureus. No geral, a infecção da vértebra ocorre por disseminação hematogênica de outro foco, geralmente geniturinário, cutâneo ou respiratório. Outras etiologias possíveis são a tuberculose, cursando com o chamado Mal de Pott e a brucelose, que é mais rara, sendo mais observada nos trabalhadores que manipulam carne e derivados. • Metabólicas: as mais frequentes são: Osteoporose; Osteomalácia e Hiperparatireoidismo. Ademais, a presença de calcificações discais nos exames de imagem, devem alertar quanto a possibilidade de doenças metabólicas subjacentes, como: ocronose, hemocromatose e a doença por depósito de pirofosfato de cálcio. • Tumores de coluna: são relativamente raros. Os tumores benignos da coluna geralmente produzem dor localizada, enquanto as neoplasias malignas produzem dor mais difusa, às vezes associada a manifestações sistêmicas. As metástases são mais frequentes do que os tumores primários na coluna. Os principais sítios responsáveis são: neoplasias de mama, pulmão, próstata, rim, tireoide, bexiga e cólon. • Dor visceral referida: diversas patologias viscerais podem causar dor referida na região lombossacra. A lombalgia raramente é o único sintoma nesses casos, porém, dor com ritmo próprio que não melhora ao repouso deve levar à suspeita de dor referida. Exemplos: aneurisma de aorta; endometriose; gravidez tubária; pancreatite. DIAGNÓSTICO Para a avaliação inicial de um paciente com dor lombar, Deyo e Weinstein propõem um questionário simples de 3 perguntas: 1– Há alguma doença sistêmica causando a dor? 2– Há alguma questão social ou psicológica que posa estar amplificando ou prolongando a dor? 3– Há algum comprometimento neurológico que exija intervenção cirúrgica? Durante a exame clínico, deve-se procurar por sinais de alerta que sugiram condições clínicas mais graves, como tumores ou infecções. Além dos sinais clássicos, sugere-se investigação adicional para indivíduos com dor que não respondem a 4 a 6 semanas de tratamento conservador. Alguns dados da história clínica podem sugerir doenças fora da coluna vertebral causando a dor lombar. Nesse sentido, o histórico de doença arterial ou cardíaca deve alertar para aneurismas da aorta abdominal; infecções urinárias de repetição aumento o risco de pielonefrite e sintomas gastrointestinais podem sugerir espondiloartropatias soronegativas. Ademais, vale lembrar que dores lombares ou radiculares causadas por alterações em articulações coxofemorais ou sacroilíacas, também devem fazer parte dos possíveis diagnósticos diferenciais. Nesse sentido, os sinais de Patrick são úteis para a tentativa de diferenciação clínica. Existem algumas características da dor que possibilitam o direcionamento diagnóstico, como: • Dor discal – é tipicamente uma dor lombar baixa que se exacerba com a posição ereta mantida e, principalmente, sentada, podendo piorar com a flexão (Dor axial), acometendo pacientes mais jovens, entre a terceira e quintas décadas de vida; Reumatologia Mariana Melo • Dor facetaria – costuma apresentar piora com movimentos de extensão. Normalmente acomete pacientes com idades mais avançadas, da sexta década em diante. • Dores relacionadas com neoplasias – as dores noturnas ou que não melhoram com repouso devem alertar para neoplasias. EXAME FÍSICO: Deve ser iniciado com a análise da marcha. Porém, a parte mais importante do exame é a palpação, podendo relevar pontos dolorosos miofasciais paramedianos com a sensibilidade anormal durante pressão do espaço interespinhoso na linha mediana, sinal que tende a ser indicativo de doença discal ou instabilidade segmentar. Além disso, é fundamental a identificação, durante a anamnese, de dores não orgânicas. Existem alguns sinais clássicos que sugerem isso, sendo que com a presença de 3 ou mais, a chancede o sintoma não ser orgânico aumenta, como: 1– Sensibilidade superficial: desconforto na pele durante a palpação superficial; 2– Sensibilidade não anatômica: quando cruza os limites anatômicos; 3– Dor à carga axial simulada: dor ao pressionar o alto da cabeça; 4– Dor à rotação simulada: girar o ombro e o quadril em bloco não deve gerar dor; 5– Distração da manobra de elevação do membro inferior estendido: o sinal de Laségue é positivo, porém, se sentado, a extensão do membro inferior não é dolorosa; 6– Regionalização da sensibilidade: perda de sensibilidade que não segue dermátomo; 7– Regionalização da força: fraqueza sem resistência; 8– Super-ação: resposta dolorosa exagerada a um estímulo que, quanto repetido, não tem a mesma reação. Yellow flags: Recuperação lenta que pode resultar de fatores psicossociais não detectados ou não relevantes; Culpabilização de determinadas tarefas e atividades; Aversão ao trabalho. Red flags: Início gradual; idade < 20 ou > 50; Dorsalgia associada; duração > 6 semanas; história de trauma; febre, calafrios e suor noturno; perda de peso; piora com o repouso; analgesia ineficaz; história de neoplasia; imunossupressão; procedimentos – bacteremia; uso de drogas EV; hipotensão; palidez; hipertensão extrema; massa abdominal pulsátil; sensibilidade das apófises espinhosas; sinais neurológicos focais; retenção urinária aguda. Um indivíduo com um primeiro episódio de lombalgia não requer investigação complementar, exceto nas condições em que há presença de sinais de alerta. Iniciar com RX. A tomografia computadorizada é considerada o melhor exame para a investigação de doenças ósseas, seu papel na investigação de lombalgia é secundário, tanto pela maior dificuldade de se identificar situações específicas quando comparada com a ressonância magnética, como pela emissão de radiação ionizante. Porém, tem boa utilidade para situação específicas, como: estenose do canal lombar, alterações tróficas facetarias e em situações que que a ressonância (RM) não pode ser realizada. Já a RM é o exame de escolha na suspeição de diagnósticos etiológicos específicos de lombalgia. A discografia com teste provocativo consiste na injeção de contraste radiopaco intradiscal sob pressão menor que 50 psi e análise das características da ruptura anelar e, mais importante, avaliação da dor causada pela injeção. Ademais, injeções intra-articulares podem ser utilizadas no auxílio diagnóstico de dores facetarias e sacroilíacas. Quando os exames de imagem devem ser solicitados? Nos casos de doentes com lesão neurológica; diante suspeita clínica de uma lombalgia específica; sintomatologia arrastada e nos casos de tratamento ineficaz. TRATAMENTO • Terapia não farmacológica: é baseada em mudanças comportamentais, como perda de peso, prática de exercício físico, fisioterapia e medidas terapêuticas como: terapia cognitivo-comportamental, acupuntura e outas. O repouso deve ser desencorajado, e os pacientes devem ser orientados a manter suas atividades rotineiras, o que leva a recuperação mais rápida e menor incapacidade a longo prazo. • Terapia medicamentosa: cerca de 90% das lombalgias melhoram espontaneamente sem qualquer intervenção, em um período de 30 dias. Reumatologia Mariana Melo Na prática, é comum a prescrição de medicamentos, sendo os mais comuns: anti-inflamatórios não esteroidais. Sendo a lombalgia um sintoma relacionado a dor, o tratamento “sintomático” deve seguir a escala de dor, sendo o tratamento escalonado. Ademais, o tratamento deve ser dirigido à etiologia, logo, causas infecciosas devem ser tratadas com uso de antibióticos, as inflamatórias podem receber corticoides e as sistêmicas serão tratadas segundo suas recomendações. Os antidepressivos (geralmente os tricíclicos) estão entre as medicações mais utilizadas no tratamento lombalgia crônica inespecífica, associada ou não a depressão. As injeções intrarticulares (facetarias ou sacrilíacas), embora sejam muito utilizadas como testes diagnósticos, são úteis no curto prazo para o controle da dor. • Tratamento cirúrgico: é secundário (ou até terciário), a maioria dos pacientes melhoram antes de se pensar em qualquer terapia mais agressiva. Uma vez considerado o diagnóstico de dor facetaria, procedimento de neurotomia do ramo medial pode ser proposto. Considerando-se as terminações nervosas livres do ânulo fibroso como fontes de dor, terapias intradiscais com esse alvo foram desenvolvidas. - Terapia eletrotérmica intradiscal, que consistem na termoablação do ânulo fibroso através de colocação do eletrodo guiada por radioscopia. O procedimento para o tratamento cirúrgico da lombalgia por degeneração discal é a artrodese do segmento envolvido. O racional para esse tratamento seria a remoção de toda a origem da dor, por meio de uma discectomia ampla, associada a substituição anatômica do disco e estabilização do segmento vertebral. Uma das preocupações em se realizar uma fusão segmentar na coluna lombar é o desenvolvimento de sobrecarga dos segmentos adjacentes com consequente sintomatologia de incapacidade com seguimento de longo prazo. Reumatologia Mariana Melo
Compartilhar