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PSICOSE E APM INTRODUÇÃO CONCEITOS IMPORTANTES Psicose: rompimento com a realidade. Comportamento sem sentido (apragmatismo), podendo ter delírio e alucinações. De modo geral, é um distúrbio facilmente identificado, mas pode ter quadros mais sutis e difíceis de acessar. Neurose: o paciente está dentro da realidade. Comum em ansiosos, depressivos. Esquizofrenia: doença que é o protótipo da psicose. É a doença que mais cursa com psicose (delírio e alucinação). Surto psicótico: esquizofrenia. Um exemplo ilustrativo de uma psicose é a personagem Alice que atravessa o espelho e vê um local onde os animais falam, as plantas cantam, come cogumelo e cresce, tomar uma bebida e diminui; bastante fora da realidade. SINTOMAS DA PSICOSE Delírios: ideias, pensamentos fora da realidade Exemplos: minha família quer me matar, meu vizinho está me vigiando com um drone, estou grávida de um cachorro. Alucinações: percepções sensoriais sem estímulo Exemplos: ouvir vozes, ver vultos, sentindo insetos subindo pela perna CASO CLÍNICO 1 Robnelson, sexo masculino, 21 anos. Sem história prévia de adoecimento psíquico até essa idade, começou a apresentar mudança de comportamento, com introspecção, sensação de “estranheza” do mundo (desrealização) e de si próprio (despersonalização), e risos imotivados. Iniciou acompanhamento num CAPS, onde foi diagnosticado com uma síndrome psicótica. Após alguns meses, Robnelson evoluiu com solilóquios (falando sozinho) e episódios de mutismo (parou de falar). Depois, começou a ficar mais desconfiado, introspectivo, irritado e reativo. Possíveis causas: esquizofrenia, abuso de substâncias psicoativas, TCE, traumas psicossociais (luto, desemprego, guerra), causas orgânicas (síndrome paraneoplásica, tireotoxicose, infecções do SNC, hipovitaminoses, depressão psicótica). ESQUIZOFRENIA Doença crônica caracterizada por quebra do senso de realidade (psicose). Se inicia, normalmente, na juventude. Tem prevalência < 1% da população geral, mas afeta muito a vida do paciente e de seus familiares. Cursam com sintomas psicóticos: Delírios Alucinações CAUSAS Algumas são fatores de risco, enquanto outras atuam como fator causal: Doenças mentais (endógenas e primárias) Fatores genéticos Fatores hormonais Doenças orgânicas (hipovitaminoses, etc) Traumas psicológicos TCE Uso de substâncias psicoativas Uso de medicamentos (corticoide, isotretinoína) SURTO PSICÓTICO E APM São delírios/alucinações que motivam alguns comportamentos específicos relacionados com a psicomotricidade, como: Heteroagressividade; ~emergencias psiquiatricas~ Frangofilia (“quebrar tudo”); Aceleração extrema da psicomotricidade; Fuga. A APM geralmente está atrelada à psicose, mas não é algo exclusivo dela. Uma paciente com borderline pode também ter APM sem, necessariamente, ter psicose. CASO CLÍNICO 2 Robneide, 32 anos, chega na emergência contida com cordas, trazida por familiares (genitora, irmão – Robnelson - e primo). Grita com eles, a todo momento: “vocês querem me matar! Mas vocês não vão conseguir, eu vou matar vocês primeiro!”. Genitora chorando, traz relatório do CAPS, informando diagnóstico prévio de esquizofrenia. Paciente se soltando da contenção. Ao exame, paciente agitada, alerta, contida em mãos e pés, aparência mal cuidada, odor ruim, vestes sujas, pouco abordável, muito irritada e ameaçadora. Hipervigil, hipotenaz. Sem comportamento alucinatório no momento. Pensamento: organizado, acelerado e convicção delirante (delírio persecutório). Importante lembrar que o irmão Robnelson tem uma psicose a esclarecer, o que demonstra um padrão familiar/genético importante. A primeira conduta: chamar a equipe para conter a paciente na maca. A ordem deve ser o seguinte: 1. Chamar a equipe para conter a paciente na maca; 2. Afastar a família da paciente; 3. Saber histórico de medicamentos (alergias); 4. Exames físico e psíquico breves do paciente; 5. Medicar a paciente; 6. Colher história completa da paciente. Medicar é importante, mas antes disso é preciso saber o histórico da paciente (especialmente alergias), especialmente haldol e fenergan, que pode fazer impregnação/intoxicação. Além disso, para que consiga fazer a injeção intramuscular (IM), é necessário que a paciente esteja devidamente contida. Ou seja, antes de medicar será necessário conter o paciente. A história completa vai ser coletada depois. Importante estar atento que para intoxicação alcoólica não é possível utilizar benzodiazepínicos (BZDs). Na emergência psiquiátrica geralmente é realizado a seguinte conduta para pacientes em APM: 2H1F1M (haldol, fenergan e midazolam). Por isso é importante saber se está intoxicada por álcool, uma vez que o midazolam pode fazer depressão respiratória. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO – APM HALOPERIDOL (Haldol) Antipsicótico típico (1ª geração), antagonista da dopamina, fazendo sua queda. Essa queda traz alguns efeitos colaterais, como a impregnação: Marcha robótica Rigidez articular Tremores Sialorreia Síndrome Extrapiramidal (SEP) Hiperprolactinemia Formulações: comprimido 1mg e 5mg (mais usual); ampola 5mg (1ml); solução 2mg/ml. 2mg/ml 1ml = 20 gotas 20 gotas = 2mg 1 gota = 0,1mg Vias: VO, IM, EV (evitar EV devido a risco de taquiarritmias). Costuma ser utilizado via oral/sublingual, mas na realidade da emergência o ideal é que seja feito IM. Manutenção em Casa: Haldol 5mg, VO, 1-0-1. Obs: para idosos deve ser feito o start low, go slow. Ou seja, começar com baixas doses e aumentar gradualmente. Exemplo: começar com 5mg ½-0/½ Existe, também, o haldol decanoato que é uma medicação de depósito, sendo liberada aos poucos (ao longo de 20 a 30 dias). Garante uma certa estabilidade, uma vez que ainda que o paciente não tome nenhum comprimido VO, vai ter uma certa dose sendo liberada ao longo dos dias. A ampola do haldol decanoato tem 50mg. É uma boa alternativa para pacientes que não aderem ao tratamento. Existem outras medicações de depósito como: flufenazina (flufenan depot) e paliperidona (invega sustenna). PROMETAZINA (Fenergan) Anti-histamínico, usado para evitar SEP (síndrome extra-piramidal) dos antipsicóticos e acalmar o paciente. Tem um bom efeito sedativo, apesar de não ser um medicamento psiquiátrico Formulações: comprimido (25mg), ampola 50mg (2ml) ou solução (raro). Vias: VO, IM. Não faz EV. Não faz sentido ser usado de forma isolada/sozinho. Não é obrigatório ser utilizado sempre que for usado o haldol. Em idosos, inclusive, não deve ser feito o fenergan devido a possibilidade de precipitar quadros de delirium. CLORPROMAZINA (Amplictil) Antipsicótico típico, porém mais fraco para tirar o paciente do quadro psicótico. Possui grande ação sedativa. Formulações: comprimido (25mg ou 100mg), ampola 25mg (5ml) ou solução (40mg/ml) Doses leves (até +- 600mg): ação sedativa Doses elevadas (> 600): ação antipsicótica (não é uma ação expressiva) Vias: VO, IM (risco de hipotensão) Geralmente é a escolha quando o paciente não pode fazer haldol por impregnação ou BZDs por idade, hepatopatas, delirium, dentre outros. Devido a sua baixa ação antipsicótica, costuma ser a segunda escolha de modo geral. Se o objetivo é deixar o paciente mais sedado, pode ser feito da seguinte maneira: 2-2-2 / 1-1-2. 40mg/ml 1ml = 20 gotas 20 gotas = 40mg 10 gotas = 20mg 1 gota = 2mg A quantidade em mg/ml é a quantidade em 20 gotas. A solução possui um gosto bastante amargo, uma boa alternativa em gotas ao Amplictil é a risperidona: 1mg/ml, VO, 2ml-0-2ml. QUETIAPINA Antipsicótico atípico de ação serotoninérgica (5HT-2A). Algumas formulações de quetiapina são de liberação prolongada (XR), comose lentificasse sua liberação e, consequentemente, seu efeito. Formulações: comprimido (25mg, 100mg, 50mg XR, 200mg ou 300mg) É usado em várias doses com efeitos diferentes: 25 – 100mg: ansiolítico, sedativo, hipnótico 200 – 400mg: potencializa a ação dos antidepressivos 400 – 600mg: estabilizador de humor 600 – 800mg: antipsicótico Via oral exclusiva. Costuma ser uma boa opção para pacientes depressivos com ansiedade, associando com algum outro medicamento (como o escitalopram). Bom medicamento para sintomas de insônia. OLANZAPINA Antipsicótico atípico de ação serotoninérgica (5HT-2A). É um bom medicamento para as crises, uma vez que possui ação antipsicótica boa, assim como sedativa, relaxando o paciente. Como a grande maioria dos antipsicóticos atípicos (salvos a aripiprazol e ziprasidona), o grande problema da Olanzapina são os efeitos metabólicos: Ganho de peso Resistência periférica a insulina Dislipidemia Formulações: comprimido 5mg e 10mg Via oral exclusiva. MIDAZOLAM – Dormonid É um benzodiazepínico de ação ansiolítica. Possui ação bastante rápida. Cuidado com a dependência. Formulações: comprimido 15mg, ampola 15mg. Vias: VO, IM, EV (a EV não deve ser utilizada devido a possibilidade de depressão respiratória). Retomando o caso de Robneide, as possíveis condutas para esse caso poderiam ser: Haldol 5mg, 02 ampolas, IM + Fenergan 50mg, 01 ampola, IM + Dormonid 15mg, 01 ampola, IM Haldol 5mg, 02 ampolas, IM + Fenergan 50mg, IM Teria indicação para internar se a família falasse que a paciente fica nesse estado com muita frequência e/ou se medicar e ela continuar agitada.
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