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1 DISTÚRBIOS DA FALA E DA AUDIÇÃO AFASIAS – DISTÚRBIO DA FALA Afasia é um transtorno da linguagem. Os afásicos podem ter dificuldade na formulação da linguagem, na compreensão da linguagem ou em ambas. FISIOPATOLOGIA: Em mais de 99% dos indivíduos destros, a função da linguagem se relaciona com o hemisfério cerebral esquerdo. Nos indivíduos canhotos, a linguagem também está predominantemente localizada no hemisfério esquerdo, embora graus variados de dominância bilateral ou raramente dominância hemisférica direita possam ser vistos. O hemisfério envolvido na linguagem é chamado de hemisfério dominante. Diferenças anatômicas nos lobos temporal e parietal do hemisfério dominante em comparação com o outro hemisfério refletem sua especialização para a linguagem. Lesões nas áreas de associação auditiva do hemisfério dominante causam distúrbios na compreensão da linguagem. As regiões críticas se localizam no lobo temporal superior adjacente ao córtex auditivo primário e nos giros supramarginal e angular do lobo parietal inferior, e constituem a área de Wernicke. Lesões da porção posteroinferor lateral do lobo frontal do hemisfério dominante, a área de Broca, resultam em dificuldades na expressão da linguagem. Déficits na compreensão e expressão da linguagem oral resultam de lesões perissilvianas do hemisfério dominante, incluindo as regiões frontal posteroinferior lateral, parietal inferior, e os giros temporais superior e médio. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Os distúrbios de compreensão da linguagem em pessoas com afasia devem ser diferenciados de transtornos da audição, e as alterações da fala na afasia devem ser distinguidas de disartria. Os erros na expressão verbal em pessoas afásicas refletem a seleção alterada da palavra quanto ao seu significado e/ou dos fonemas que constituem a palavra a ser dita. TUTORIAL 09 2 Na afasia, a pronúncia errada de um fonema dentro de uma palavra pode ser seguida pela pronúncia perfeita do mesmo fonema em uma palavra diferente. Na disartria, os erros de articulação ou fonação são consistentes. Os três principais elementos que caracterizam a afasia são a compreensão verbal prejudicada, o distúrbio da expressão verbal e a dificuldade da nomeação. Transtornos da leitura, escrita e da repetição de palavras e sentenças são elementos adicionais da síndrome afásica. A dificuldade da compreensão verbal pode variar de profunda a leve. Quando intensa, os pacientes são incapazes de apreender o significado de palavras isoladas. Nas formas mais leves, os pacientes podem ser capazes de obedecer a comandos simples, mas não a comandos mais extensos. Usualmente, a dificuldade de compreensão envolve tanto a linguagem oral quanto a escrita, mas cada uma pode ser afetada separadamente. Anomia, que é a incapacidade de dizer os nomes de pessoas ou objetos, é comum em quase todas as síndromes afásicas. Nas síndromes afásicas expressivas, a escrita e a fala são frequentemente afetadas de modo similar. Nas afasias de expressão, a fala é laboriosa e não possui a melodia normal e variação de entonação que caracterizam a fala normal. A melodia e entonação são denominadas prosódia da fala. A fala com frequência é gramaticalmente empobrecida. O número de palavras por emissão é grandemente reduzido, conferindo à fala um caráter interrompido. Pode haver associação com apraxia da fala, um distúrbio na programação dos movimentos relacionados com a fala, o que piora a fluência. Afasia não fluente é o termo que traduz o número reduzido de palavras e a concisão da emissão verbal. Em algumas síndromes afásicas, a fala está frequentemente degradada por anomia e erros parafásicos (substituições de palavras ou sílabas), mesmo quando a fluência, melodia e entonação estão preservadas. 3 AFASIA DE WERNICKE Na afasia de Wernicke, a compreensão da linguagem escrita e oral está sensivelmente prejudicada. Os pacientes com afasia de Wernicke têm dificuldade para compreender o significado de palavras isoladas e podem não ser capazes de obedecer a ordens mais extensas. Sua fala é fluente, mas prejudicada por parafasias e anomia. Os afásicos de Wernicke tendem a não ter percepção do grau das suas dificuldades de comunicação e frequentemente não notam que as palavras que estão emitindo são incompreensíveis. A lesão que tipicamente causa afasia de Wernicke se localiza no lobo temporal posterosuperior com extensão para o giro supramarginal inferior, do hemisfério dominante. AFASIA DE BROCA A afasia de Broca é uma síndrome na qual a linguagem expressiva está proeminentemente afetada. Os pacientes com afasia de Broca têm fala não fluente e hesitante. Eles têm compreensão fundamentalmente preservada, percepção das suas dificuldades e ficam frustrados com elas. Depressão é comum nos afásicos de Broca. A localização da lesão que tipicamente causa afasia de Broca é o lobo frontal poateroinferior dominante. AFASIA GLOBAL Na afasia global, déficits na compreensão e na produção da linguagem estão presentes. Ocorre muitas vezes agudamente após infarto extenso, hemorragia ou lesão cerebral traumática envolvendo o hemisfério dominante. ANOMIA A afasia anômica situa-se no extremo mais brando do espectro de transtornos da linguagem. A afasia de condução se caracteriza por fala relativamente fluente com presença de parafasias, compreensão bastante preservada e desproporcional dificuldade na repetição de palavras e sentenças. Existe controvérsia se a afasia de condução é secundária a uma desconexão entre os centros perissilvianos de compreensão e expressão verbais, ou se representa uma lesão em áreas corticais envolvidas com a memória auditiva imediata. APRAXIA IDEOMOTORA Apraxia ideomotora é a dificuldade na execução de movimentos orofaciais ou em membros decorrente da disfunção na programação motora dos mesmos. Os pacientes com apraxia ideomotora não apresentam déficits motores, como paresia, pois o transtorno se situa na elaboração do programa do movimento. São capazes de executar tarefas simples, mas há dificuldade em tarefas ou comandos mais complexos. Por exemplo, em uma mulher que é capaz de nomear um pente e usar sua mão direita para apontar partes do seu corpo, apraxia ideomotora pode ser demonstrada se ela for incapaz de indicar, por meio de suas ações, como usar o pente. 4 DIAGNÓSTICO: O diagnóstico de afasia é realizado pela análise da fala espontânea do paciente e da compreensão, nomeação, repetição, leitura e escrita, por meio de testes padronizados. Muitas vezes, o diagnóstico de afasia é feito durante a obtenção do histórico do paciente. É útil solicitar aos pacientes que falem sobre um tópico neutro, tal como o que comeram na última refeição ou o que fizeram no dia anterior. A fala espontânea permite ao examinador caracterizar sua fluência, o uso de formas gramaticais, articulação, melodia e entonação, bem como dificuldade no encontro de palavras, a presença de parafasias e o conteúdo global da informação. A compreensão deve ser avaliada solicitando ao paciente para executar tarefas; o enunciado da tarefa deve conter de um até pelo menos três comandos ditos em sequência. A nomeação pode ser testada pedindo ao paciente para dizer os nomes de objetos comuns, como caneta e relógio, ou de partes do corpo (p. ex., polegar, punho, cotovelo). Em geral, é mais fácil a nomeação de palavras de uso mais frequente, sendo as palavras infrequentes mais difíceis para o afásico. A leitura e escrita também devem ser testadas. O córtex cerebral perissilviano dominante pode ser lesionado por infarto, hemorragia, ou lesões expansivas, como tumores e abscessos. Afasia secundária a acidente vascular encefálico (AVE) tem início abrupto, com diferentes graus de melhora posterior. Recuperação da afasia após um AVE pode ocorrer à medida em que zonas isquemiadasem torno do infarto eventualmente retomam sua função. Na fase aguda do AVE, regiões distantes da área do infarto também podem ser sinapticamente deprimidas (“diasquise”) e recuperarem posteriormente a função. Finalmente, regiões no hemisfério não dominante podem tornar-se mais ativas ao longo da recuperação. Afasia de início gradual e lentamente progressiva ocorre nas síndromes de demência degenerativa da afasia progressiva primária não fluente e da demência semântica. TRATAMENTO: Terapia fonológica pode ser útil aos pacientes nos primeiros meses depois de uma lesão cerebral que causa afasia. DISTÚRBIOS DA AUDIÇÃO ANATOMIA E FISIOLOGIA DA AUDIÇÃO: Na audição normal, as ondas sonoras são transmitidas da membrana timpânica através de três ossículos da orelha média repleta de ar (condução aérea) até a janela oval e a membrana basilar da cóclea selada com líquido. Os ossículos aumentam o ganho do tímpano até a janela oval em cerca de 18 vezes, compensando a perda que as ondas sonoras sofrem quando se movem do ar para o líquido. Na ausência desse sistema, o som pode atingir a cóclea por vibração do osso temporal (condução óssea), mas com muito menos eficiência (uma perda de aproximadamente 60-dB). As células ciliadas, organizadas ao longo da membrana basilar da cóclea, detectam o movimento vibratório da membrana e transduzem a vibração em impulsos nervosos. Os impulsos nervosos são liberados por meio das células nervosas que fazem sinapse na base das células ciliadas e têm seus corpos no gânglio espiral ao núcleo coclear. 5 A cóclea analisa mecanicamente o conteúdo da frequência do som. Para tons de alta frequência, apenas as células sensoriais na região basilar são ativadas, enquanto para tons de baixa frequência todas ou quase todas as células sensoriais são ativadas. No tronco cerebral, os sinais auditivos ascendem dos núcleos cocleares ventral e dorsal para atingir os núcleos olivares superiores de ambos os lados. Portanto, lesões no sistema nervoso, centrais ao núcleo da cóclea, não causam perda auditiva monoaural e, pelo mesmo motivo, lesões centrais unilaterais não causam surdez. Dessas estruturas, a via se projeta por meio dos lemniscos laterais até os colículos inferiores. Cada colículo inferior transmite ao outro e ao seu corpo geniculadonmedial ipsolateral, que, por sua vez, envia a projeção final até o giro auditivo transverso que se localiza na porção superior do lobo temporal ipsolateral. A orelha normal pode detectar frequências sonoras que variam entre 20 e 20.000 Hz; o limite máximo cai muito rapidamente com o avançar da idade. A orelha é mais sensível entre 500 e 4.000 Hz, que praticamente corresponde à variação de frequências mais importantes para a compreensão da fala. LOCALIZAÇÃO DE LESÕES NAS VIAS AUDITIVAS: A perda auditiva de condução resulta de lesões que envolvem a orelha externa ou média. Tipicamente, é caracterizada por uma perda auditiva quase igual em todas as frequências e por uma discriminação da fala bem preservada quando o limiar para a audição é excedido. Os pacientes com perda auditiva de condução podem ouvir a fala em um ambiente ruidoso melhor do que em um ambiente silencioso porque eles podem entender o falar alto tão bem quanto qualquer outra pessoa. A perda auditiva neurossensorial resulta de lesões da cóclea e/ou da divisão auditiva do oitavo nervo craniano. Com a perda auditiva neurossensorial, os níveis de audição para diferentes frequências em geral não são iguais, tipicamente resultando na melhor audição para tons de baixa frequência do que para os de alta frequência. Pacientes com perda auditiva neurossensorial normalmente têm dificuldades de escutar a fala misturada com o ruído do ambiente e podem ser incomodados pelo falar alto. Três manifestações importantes de lesões neurossensoriais são a diplacusia, o recrutamento e o tone decay (fadiga do reflexo acústico). A diplacusia e o recrutamento são comuns com lesões cocleares; o tone decay em geral acompanha o envolvimento do oitavo nervo. 6 Os transtornos auditivos centrais resultam de lesões das vias auditivas centrais. Como regra, os pacientes com lesões centrais não têm comprometimento auditivo para tons puros e podem compreender a fala proferida de forma clara em um ambiente silencioso. Se a tarefa do ouvinte for tornada mais difícil, com introdução de ruído do ambiente ou mensagens competitivas, o desempenho deteriora-se de modo mais acentuado em pacientes com lesões centrais do que em indivíduos normais. DIAGNÓSTICO: Teste à Beira do Leito: Um teste rápido para perda auditiva no limite da fala é observar a resposta aos comandos falados em diferentes intensidades (sussurro, conversação, gritos). Os testes com diapasão permitem uma avaliação aproximada do nível auditivo para tons puros de frequência conhecida. O médico pode usar o seu próprio nível auditivo como um padrão de referência. No teste de Rinne, a condução aérea é comparada à condução óssea quando se pressiona um diapasão (preferivelmente 512 Hz) contra a porção mastóidea do osso temporal até que o som não possa mais ser ouvido. Em seguida, ele é colocado a uma distância de 2,5 cm da orelha e, em indivíduos normais, pode ser ouvido cerca de duas vezes mais tempo pelo ar do que pelo osso. Se a condução óssea for melhor do que a condução aérea, a perda auditiva é de condução, mas deve-se assegurar que a condução óssea não está sendo ouvida na orelha normal. No teste de Weber, o diapasão é colocado na fronte ou nos dentes superiores do paciente. Normalmente, este som é referido ao centro da cabeça. Se ele for referido para o lado da perda auditiva unilateral, a perda auditiva é de condução; se ele for referido para o outro lado, diferente da perda auditiva unilateral, a perda é neurossensorial. Audiometria: O teste de tons puros é a pedra fundamental da maioria dos exames auditivos. Os tons puros são frequências selecionadas apresentadas por fones de ouvido (condução aérea) ou por um vibrador pressionado contra a porção mastóidea do osso temporal (condução óssea), e o nível mínimo que o indivíduo pode ouvir (limiar) é determinado pela frequência. Dois testes da fala são comumente usados. 7 O limiar de recepção da fala (SRT) é a intensidade na qual o paciente pode repetir corretamente 50% das palavras apresentadas. O SRT é um teste da sensibilidade auditiva para fala e deve refletir o nível de audição para tons puros do limite da fala. O teste de discriminação da fala é uma medida da capacidade do paciente em compreender a fala quando ela é apresentada em um nível facilmente ouvido. Em pacientes com lesões do oitavo nervo, os escores da discriminação da fala podem estar gravemente reduzidos, mesmo quando os limiares de tons puros são normais ou quase normais; por comparação, em pacientes com lesões cocleares, a discriminação tende a ser proporcional à magnitude da perda auditiva. Respostas evocadas auditivas do tronco cerebral (BERA) podem ser registradas em eletrodos colocados no couro cabeludo em 0 a 10 ms (latência curta), 10 a 50 ms (latência média) e 50 a 500 ms (tardia) após um clique (estímulo de alta frequência). Os potenciais de latência curta refletem a atividade elétrica na cóclea, no oitavo nervo craniano e no tronco cerebral; os potenciais mais tardios refletem a atividade cortical. A computação da média das respostas a 1.000 a 2.000 cliques separa o potencial evocado do ruído do ambiente. As respostas evocadas de latência curta podem ser usadas para estimar a magnitude da perda auditiva e para diferenciar entre lesões na cóclea, no oitavo nervo e no tronco cerebral. PERDA AUDITIVA DE CONDUÇÃO A causa mais comum de perda auditiva de condução é a impactação de cerume no meato externo. Esta condição benigna geralmente é notada pela primeira vez após o banho ou natação, quando uma gotícula de água fechaa minúscula passagem remanescente. A causa grave mais comum de perda auditiva de condução é a inflamação do ouvido médio, a otite média ou infecciosa (supurativa) ou não infectada (serosa). O líquido se acumula no ouvido médio, comprometendo a condução do som transmitido por via aérea para a cóclea. Como a cavidade aérea da orelha média está em conexão direta com as células aéreas da mastoide, a infecção pode disseminar-se pelo osso mastóideo e ocasionalmente pela cavidade intracraniana. A otite média crônica com perfuração da membrana timpânica pode resultar em uma invasão do ouvido médio e em outras áreas pneumatizadas do osso temporal por epitélio escamoso queratinizado (colesteatoma). Os colesteatomas podem produzir erosão dos ossículos e do labirinto ósseo, resultando em uma perda auditiva mista – neurossensorial e de condução. O barotrauma do ouvido médio se apresenta com otalgia e perda auditiva, associando-se também à efusão serosa e ao hemotímpano. Otosclerose comumente provoca perda condutiva por fixação do estribo com crescimento de osso novo anteroinferiormente à janela oval. A perda auditiva é tipicamente de condução, embora, em algumas pessoas, a cóclea possa ser invadida por focos de osso otosclerótico, produzindo uma perda auditiva neurossensorial adicional. Em geral, a otosclerose se estabiliza quando a perda auditiva atinge 50 a 60-dB e raramente progride para surdez. Outras causas comuns de perda auditiva de condução incluem traumatismo, malformação congênita das orelhas externa e média e tumores glômicos. 8 PERDA AUDITIVA NEUROSSENSORIAL Surdez Hereditária: A surdez geneticamente determinada, em geral, pela aplasia ou deterioração das células ciliadas, pode estar presente no nascimento ou pode se desenvolver na vida adulta. O diagnóstico repousa no achado de um histórico familiar positivo. As mutações na conexina 26, um componente-chave das junções gap no ouvido interno, são responsáveis pela maioria dos casos de surdez hereditária. Fatores intrauterinos que resultam em perda auditiva congênita incluem infecção (especialmente rubéola); transtornos metabólicos, tóxicos e endócrinos; e anoxia associada à incompatibilidade Rh e a partos difíceis. Dano Coclear: Geralmente, a surdez unilateral aguda tem uma base coclear. As infecções bacterianas ou virais do labirinto, traumatismo craniano com fratura ou hemorragia dentro da cóclea, ou oclusão vascular de um ramo terminal da artéria cerebelar inferior anterior podem causar danos extensos à cóclea e a suas células ciliadas. Uma perda auditiva unilateral idiopática aguda, frequentemente reversível, atinge adultos jovens e pode refletir uma infecção viral isolada da cóclea e das terminações do nervo auditivo. A perda auditiva unilateral súbita, muitas vezes associada à vertigem e ao zumbido, pode resultar de uma fístula perilinfática. Essas fístulas podem ser congênitas ou podem ocorrer após cirurgia do estribo ou traumatismo craniano. Medicamentos: Os medicamentos causam comprometimento auditivo bilateral agudo e subagudo. Os salicilatos, a furosemida e o ácido etacrínico têm o potencial de produzir surdez transitória quando usados em altas doses. Os agentes que comportam maior toxicidade sobre a cóclea são os antibióticos aminoglicosídeos (gentamicina, tobramicina, amicacina, canamicina, estreptomicina e neomicina). Esses agentes podem destruir as células ciliadas da cóclea em uma relação direta com suas concentrações séricas. Alguns agentes quimioterápicos antineoplásicos, particularmente a cisplatina, causam ototoxicidade grave. Doença de Ménière: A surdez coclear recorrente subaguda ocorre com a doença de Ménière, uma condição associada à perda auditiva flutuante e ao zumbido, a episódios recorrentes de vertigem súbita e frequentemente grave, e a uma sensação de plenitude ou pressão na orelha. A hipertensão endolinfática recorrente (hidropsia) parece causar os episódios. Patologicamente, o saco endolinfático está dilatado e suas células ciliadas, atrofiadas. A surdez resultante é sutil e reversível nos estágios iniciais, porém, em seguida, assume um caráter permanente e é caracterizada por diplacusia e recrutamento. Esse transtorno geralmente é unilateral, mas, em cerca de 20% a 40% dos pacientes ocorre envolvimento bilateral. Presbiacusia: A perda auditiva bilateral, progressiva, gradual, comumente associada ao avançar da idade, é denominada presbiacusia. Não é uma entidade patológica distinta, mas sim representa vários efeitos do envelhecimento sobre o sistema auditivo. Ela pode incluir disfunção de condução e central, embora o efeito mais consistente do envelhecimento seja sobre as células sensitivas e os neurônios da cóclea. 9 O audiograma típico da presbiacusia é uma perda auditiva simétrica de alta frequência, cuja curva gradualmente forma um traçado descendente com o aumento da frequência. A patologia mais consistentemente associada à presbiacusia é a degeneração das células sensitivas e das fibras nervosas na base da cóclea. Ruído: O trauma recorrente da perda auditiva induzida por ruídos afeta aproximadamente a mesma região na base da cóclea e é também muito comum, sobretudo entre aqueles que se expõem a ruídos explosivos ou industriais altos. A música moderna estridente e alta tornou-se um ofensor recente. A perda quase sempre começa em 4.000 Hz e não afeta a discriminação da fala até uma fase tardia no processo da doença. Com uma exposição breve apenas a um ruído elevado (horas a dias) pode ocorrer apenas um desvio temporário do limiar, mas a exposição continuada dá início à injúria permanente. A duração e a intensidade da exposição determinam o grau da lesão permanente. Neuroma do Acústico: Perda progressiva da audição unilateral, que surge de forma insidiosa, inicialmente nas frequências altas, e piora a graus quase imperceptíveis é característica de neoplasia benigna do ângulo pontocerebelar, mais comumente neuromas acústicos. Em cerca de 10% dos casos, a perda auditiva pode ser aguda, aparentemente devida à hemorragia no tumor ou à compressão da vascularização do labirinto. A ressonância magnética contrastada identifica com confiança pequenos neuromas do acústico. Perda Auditiva Central: A perda auditiva central é unilateral apenas se resultar de dano aos núcleos cocleares pontinos de um lado do tronco cerebral por condições como infarto isquêmico do tronco cerebral lateral (p. ex., oclusão da artéria cerebelar inferior anterior), uma placa de esclerose múltipla ou, raramente, invasão ou compressão da ponte lateral por neoplasia ou hematoma. A degeneração bilateral dos núcleos cocleares acompanha alguns raros transtornos hereditários recessivos da infância. Como já citado, a perda auditiva unilateral clinicamente importante nunca resulta de doença neurológica, surgindo rostralmente ao núcleo coclear. Embora a perda auditiva bilateral possa, em teoria, resultar da destruição bilateral de vias auditivas centrais, na prática, isso raramente ocorre, porque o envolvimento de estruturas vizinhas no tronco cerebral ou no hemisfério cerebral em geral produz incapacidade neurológica maciça. TRATAMENTO GERAL: Se o transtorno subjacente ainda não tiver destruído o sistema auditivo e puder ser melhorado clínica ou cirurgicamente, a audição pode ser melhorada ou preservada. A maioria dos pacientes com otosclerose responde à estapedectomia. O fechamento de uma fístula perilinfática pode melhorar a audição. O tratamento com antibióticos e descongestionantes para otite média deve prevenir a perda auditiva permanente. 10 Um breve curso de esteroides em altas doses seguidos por redução gradual rápida é comumente utilizado para pacientes com surdez neurossensorial unilateral súbita idiopática, mas evidências para embasar essa abordagem são limitadas. As dietas hipossódica e diuréticasão eficazes em alguns casos de doença de Ménière. A suplementação de ácido fólico em idosos pode reduzir a taxa de perda de audição. Próteses auditivas amplificam o som, na maioria das vezes com o objetivo de tornar a fala inteligível. Os pacientes com perda auditiva de condução demandam amplificação simples, porém aqueles com perda auditiva neurossensorial normalmente precisam de amplificação seletiva de frequência para que as próteses auditivas sejam úteis. Os audiogramas seriados em pacientes com exposição a ruído ou medicamentos ototóxicos são fundamentais para a prevenção da perda auditiva permanente. ZUMBIDO Diagnóstico A avaliação das causas comuns de zumbido, ou tinido, começa com um histórico cuidadoso para identificar medicamentos ofensores comuns. Zumbido Objetivo: É quando o paciente escuta um som que surge externamente ao sistema auditivo, um som que pode em geral ser ouvido pelo examinador com um estetoscópio. O zumbido objetivo normalmente tem causas benignas como ruído de articulações temporomandibulares, abertura das tubas auditivas ou contrações musculares repetitivas. Algumas vezes, em um ambiente silencioso, o paciente pode ouvir um fluxo pulsátil na artéria carótida ou um murmúrio contínuo do fluxo venoso normal através da veia jugular. Este último pode ser obliterado por compressão da veia jugular ou rotação lateral extrema do pescoço. O zumbido objetivo patológico ocorre quando os pacientes ouvem o fluxo turbulento em anomalias ou tumores vasculares (tumor do glomo jugular). O zumbido objetivo também pode ser um sinal precoce de hipertensão intracraniana. Esse zumbido, que provavelmente surge por fluxo turbulento através de estruturas venosas comprimidas na base do cérebro, em geral é encoberto por outras anormalidades neurológicas. Zumbido Subjetivo: Pode surgir de locais em qualquer ponto do sistema auditivo. Os sons mais frequentemente relatados são campainhas metálicas, buzina, apitos, sopros, estrondos ou, menos frequentemente, batimentos estranhos, “pipocantes” ou não rítmicos. O zumbido ouvido como uma campainha de volume moderadamente alto pode ser observado por qualquer pessoa que concentra a atenção nos eventos auditivos em um ambiente silencioso. O zumbido mais alto sustentado, acompanhado de evidências audiométricas de surdez, ocorre em associação a perdas auditivas tanto de condução quanto neurossensoriais. 11 O zumbido observado com otosclerose tende a apresentar uma qualidade tipo estrondo ou silvo, enquanto o zumbido associado à doença de Ménière em geral produz sons que variam amplamente de intensidade quanto a tempo e qualidade, algumas vezes incluindo estrondo ou sinos. O zumbido associado a lesões do nervo auditivo tende a ser ouvido como uma campainha e tem volume mais alto. O BERA pode ajudar a distinguir entre as lesões que envolvem o aparelho condutor, a cóclea e o nervo auditivo. O zumbido sem surdez observada aparece de forma esporádica e por períodos variáveis de tempo em muitas pessoas sem outras evidências de processo patológico em curso. TRATAMENTO GERAL: A maioria dos pacientes com zumbido pode ser ajudada por uma avaliação cuidadosa para excluir condições subjacentes graves e por uma subsequente tranquilização do paciente quando apropriada. Com frequência, fatores exacerbantes como ansiedade e depressão crônicas devem ser tratados. Em pacientes com perda auditiva e zumbido, uma prótese auditiva pode melhorar o zumbido porque a amplificação do som ambiente, efetivamente, pode mascará-lo. Este mecanismo provavelmente explica a frequente observação de que a remoção de cerume do meato auditivo externo para melhorar a audição ambiente também melhora o zumbido. Além disso, quando o cerume está aderido à membrana timpânica, o zumbido pode resultar de efeitos mecânicos locais sobre o sistema de condução. Para o paciente que acha ser o zumbido mais perceptível quando tenta dormir, um rádio relógio FM à cabeceira do leito, sintonizado entre estações, pode oferecer um som mascarador efetivo; alguns rádios podem ser programados para desligar após o paciente adormecer. Um histórico detalhado sobre ingestão de medicamentos deve ser colhido e um período de teste sem medicamento deve ser considerado quando possível. Os benzodiazepínicos (p. ex., diazepam, 2 a 5 mg a cada oito horas) ou aminas tricíclicas (p. ex., amitriptilina, 25 a 75 mg ao deitar) podem aliviar temporariamente os sintomas do zumbido, mas a terapia comportamental cognitiva é uma abordagem mais efetiva em longo prazo.
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