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Bioquímica da Carne Quando abatemos o animal para consumo, o músculo passa por uma série de reações químicas para poder se transformar em carne. Enquanto não houver essas transformações ainda é considerado músculo, não carne. Isso leva em média 24 horas. O músculo só é carne quando ocorre o final da terceira etapa de reações. Carne é diferente de músculo. Carne é o aspecto post mortem do músculo. Reflete natureza química e estrutural do músculo. Músculo após uma série de reações bioquímicas, iniciadas por ocasião da morte do animal. Órgãos operam em faixa estreita de condições fisiológicas - pH, temperatura. concentração de O²… Manutenção desse balanço - Homeostase. Permite a sobrevivência em condições adversas. Após abate Tentativa de manter a condição normal > Reações metabólicas que afetam a qualidade da carne. Sangria > parada circulatória > desencadeamento de várias mudanças no tecido muscular. Célula utiliza energia para manter a temperatura e a integridade das células contra um colapso. Glicólise post mortem - 1ª reação Morte > Cessa oxigênio, continuação metabolismo > Produção e consumo de ATP. Glicólise Anaeróbica: Utilização das reservas de glicogênio muscular. Músculo mantém capacidade de contrair e relaxar. Glicogênio é convertido em ácido lático. Piruvato quando não tem oxigênio é convertido em ácido lático. Ocorre acúmulo (falta de fluxo sanguíneo) > Queda do pH (porque o ácido lático está se acumulando no músculo) > Inativação das enzimas glicolíticas (após a queda do pH ser muito acentuada). Inibição da glicólise e cessão da produção de ATP. pH fisiológico do músculo (in vivo) = 7,0 Faixa de inativação das enzimas glicolíticas > em mamíferos 5,4 a 5,5 (pH normal da carne). pH final ocorre quando cessa sua queda > normalmente 24 horas. Conversão de glicogênio em ácido lático é a mesma no post mortem e in vivo. Diminui o suprimento do oxigênio para provimento de energia na fibra muscular. Conversão de glicogênio em ácido lático não ocorre se o animal não te reserva de glicogênio > inanição ou exercício antes do abate. Velocidade e extensão de queda de pH no músculo post mortem depende de: espécie (aves e suínos é mais rápido), tipo de músculo (tem mais ou menos glicogênio), variação individual, fatores genéticos e fatores pré-abate (elemento que mais interfere). Desnaturação protéica Músculo > Complexidade de organização entre as moléculas. Desnaturação Mudança na forma molecular; Diminuição da solubilidade; Diminuição da capacidade de retenção de água pela molécula de proteína. Mioglobina é a proteína que transporta oxigênio pelo músculo. Desnaturação devida à desestabilização da molécula de proteína: - Baixos níveis de pH; - Temperaturas acima de 25°C ou menores que 0°C; - Dessecação (pode ser devida altas concentrações de sal). Algumas espécies são mais sensíveis à desnaturação > Ex: peixes mais sensíveis que de mamíferos. Degradação das proteínas e acúmulo de seus metabólitos > Meio rico para bactérias. Rigor mortis - 2ª reação À medida que a glicólise post mortem ocorre, o músculo torna-se inextensível. Este endurecimento é denominado rigor mortis (rigidez cadavérica). Desaparecimento do ATP do músculo. ATP é responsável pela reabsorção de Cálcio que promove a contração entre a actina e a miosina. Manutenção das cadeias rígidas de actomiosina. Situação irreversível. Com a cessão da circulação ocorre encerramento do controle hormonal sobre o metabolismo dos tecidos > Queda da temperatura corporal. Quanto maior a temperatura muscular, mais rápido o estabelecimento do rigor mortis > Pela atividade metabólica e glicólise post mortem. Maturação da carne - 3ª etapa Maciez > Propriedade sensorial fundamental - Grande número de estudos recentes. Resolução do rigor mortis > amolecimento da carne. Processo iniciado pela atividade das enzimas pertencentes ao sistema denominado calpaínas > proteólise. Calpaínas: enzimas proteolíticas presentes no músculo - faz a proteólise das miofibrilas. Sistema constituído por duas enzimas: u-calpaína e m-calpaína - Ambas requerem cálcio para sua atividade. Textura/maciez da carne: proveniente de eventos bioquímicos dos componentes do arcabouço protéico miofibrilar. Proveniente da presença das proteínas do tecido conjuntivo - colágeno. Com o avanço da idade, há ganho de estabilidade das moléculas de colágeno através de suas pontes cruzadas - Isso deixa o tecido mais rígido. Carne maturada: resultado do processo que consiste em manter a carne refrigerada por um tempo. Torna amaciada e melhora outras propriedades organoleṕticas. O tempo para isso ocorrer é muito variável - indústria considera 1 dia. Ambas apresentam apresentam a propriedade de autólise > atuam sobre si mesmas em um mecanismos ainda desconhecido, inibindo a degradação excessiva das proteínas. Não atuam diretamente sobre miosina e actina - Atuam sobre a linha Z e digerem as proteínas desmina, titina, nebulina, tropomiosina, troponina e proteína C. Actina e miosina não são afetadas mesmo após longo período de maturação. Resumindo: Na maturação da carne é o sistema calpaína/calpastatina que atua. Degradação da tropomiosina e troponina > Facilitação da desnaturação e liberação da actina (liberar a extremidade da miofibrila que contém actina). Degradação da proteína C > Facilitação da desestruturação e liberação da miosina (a outra extremidade da miofibrila). Desmina, titina e nebulina > Função reforçar a estrutura miofibrilar - Degradação > enfraquecimento dessa estrutura. A calpaína “ataca” por vários pontos para resolver o rigor mortis e haver a maturação da carne. Surgimento de polipeptídeos de menores pesos moleculares > aumento da maciez. Sistema calpaínas é composto também por outras proteínas denominadas calpastatinas - Propriedade de inibir a atividade enzimática das calpaínas (para evitar a degradação excessiva). Proporção das atividades do componentes do sistema calpaínas parece influenciar na textura da carne de diferentes espécies ou dentro de uma mesma espécie. Bovinos: relação calpastatinas e calpaína 2:1 (relação maior em zebus) Ovinos: 1,2:2 Suínos: 0,7:1 Seleção de animais com baixo teor de calpastatina. Temperatura ótima das calpaínas > 10 a 25° e pH neutro. Período de maturação: 8 dias a 3 semanas a 4° C - Quanto maior a temperatura, mais ação enzimática, mas maior crescimento microbiano. Embalagem a vácuo > impedir crescimento microbiano. Raças europeias, efeito de maturação com 14 dias, indianas com 21 dias. Mioglobina: proteína sarcoplasmática também sujeita à desnaturação - confere pigmento à carne. Hemoglobina traz o O² para os capilares na superfície muscular. A partir desse momento o transporte de O² para o interior da fibra é realizado pela mioglobina. Retém O² no tecido muscular. Átomos de ferro junto à mioglobina > reação com O² > cor avermelhada. Alterações bioquímicas nas moléculas de proteína causam diferentes reações - Forma e estado de excitação de elétrons do ferro > diferentes tipos de absorbância e reflexão de luz > Variação das cores. Mioglobina (vermelho púrpura) + O² (oxigenação) > Oximioglobina (vermelho brilhante) > Oxidação > Metamioglobina (vermelho marrom). Animal vivo, fornecimento adequado de oxigênio > cor vermelho vivo. Em músculos post mortem, na ausência de oxigênio, a cor é vermelho púrpura Quando a carne é cortada, e a superfície é exposta por alguns minutos, mioglobina é oxigenada e se torna vermelho vivo. Desnaturação > cozimentos, degradação microbiana > oxidação . cor vermelho marrom. Condição DFD - Dark, firm, dry (carne escura, dura e seca) Fatores ambientais pré abate - Exercício exaustivo (ou estresse), esgotamento do glicogênio muscular. Pouco glicogênio = Pouco ácido lático > pH não cai o suficiente. Não há glicogênio suficiente para glicólise post mortem > não há a queda depH > pH final é alto. Capacidade de retenção de água é máxima. Na carne fresca Carne fica escura > não há água na superfície da carne. Carne fica dura > excesso de água no músculo (rija). Carne fica seca > não há líquido na superfície (está todo internalizado). É toda carne que tem pH maior que 5,9 pH final alto > crescimento bacteriano. Alguns estudos afirmam que há recuperação do glicogênio se houver descanso antes do abate, outros afirmam que não. Outros fatores: animais mais jovens, frio > também relacionado a estresse ou perda de energia. Condição PSE - Pale, soft, exudative (carne, pálida, mole e exsudativa - libera água) Fatores genéticos associados ao estresse ante mortem - Rápida glicólise post mortem > carne PSE. Suínos > Suscetibilidade ao estresse. PSS = porcine stress syndrome = síndrome do estresse suína (hipertermia maligna) − Síndrome que promove aceleração da glicólise post mortem → Leva ao surgimento da carne PSE. Maior contração muscular (rigidez muscular) > maior consumo do oxigênio que ainda chega às fibras e consequentemente do ATP. Mais rápido a célula passa do metabolismo oxidativo para o glicolítico (rápido desdobramento do glicogênio). Também maior liberação de calor (hipertermia). Mais rápida ocorre a glicólise post mortem (antecipação) > abaixamento de pH com alta temperatura da carcaça = desnaturação protéica. Capacidade de retenção de água é mínima - porque as miofibrilas são desnaturadas e não conseguem mais reter a água. Na carne fresca Carne pálida > grande quantidade de líquido livre presente na superfície. Carne mole > pouca água no músculo (pouca rigidez). Carne exsudativa > perda de retenção de água pelas fibras musculares. PSS = associada a uma mutação do gene que codifica a proteína receptora de rianodina dos canais de cálcio (proteína reguladora da liberação de cálcio). Em animais com PSS, o receptor promove liberação de cálcio com menor estimulação e maior rapidez. Quando sujeito ao estresse, favorecimento da liberação rápida de cálcio > passa a haver alta concentração de cálcio. Carnes alteradas PSR: maiores perdas ao cozimento, menor maciez após cozimento, menor aceitação pela palidez. DFD: menores perdas ao cozimento, grande maciez após o cozimento, menor vida de prateleira (pH), menor aceitação pela coloração escura.
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