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Transformação do músculo em carne DEFINIÇÕES A carne é o resultado da transformação das células musculares em produto comestível, o que ocorre após o abate do animal. A transformação do músculo em carne marca a transição do estado vivo do animal para um produto alimentício HOMEOSTASE: a maioria dos órgãos, incluindo os músculos, operam eficientemente numa faixa muito estreita de condições fisiológicas, como o pH, temperatura, concentração de oxigênio, produção de energia... Esse balanço permite que o organismo opere e sobreviva sob as mais adversas condições externas: variações de temperatura, falta de oxigênio, estresse fisiológico... TRANSFORMAÇÃO DO MÚSCULO EM CARNE: Para que ocorra a transformação do músculo em carne é preciso uma série de reações bioquímicas que causam alterações nas características físico-químicas do tecido muscular, e dependem dos processos de ante mortem, durante e após o abate e durante o armazenamento. METABOLISMO POST MORTEM Após o abate, o músculo é convertido em carne, e as principais mudanças que ocorre são: · Depleção das fontes de energia (ATP, ADP e fosfocreatina) · Depleção das reservas de glicogênio muscular · Produção e acúmulo de ácido lático · Diminuição do pH da carne · Queda na temperatura Que levam ao: RIGOR MORTIS Exigência de ATP para o relaxamento muscular e bombeamento de Ca+2 para dentro do retículo sarcoplasmático Queda do pH muscular Produção e acúmulo de ácido láctico do músculo As principais fontes de ATP são: · Fosfocreatina + ADP <-> creatina + ATP · 2 ADP <-> ATP + AMP · Glicogênio + 1 ATP > 2 ácido láctico + 3 ATP (anaeróbico) FATORES ANTE MORTEM QUE AFETA O POST MORTEM · Estresse: transporte/deslocamento, jejum prolongado, maus tratos, condições climáticas... isso diminui a reserva energética do animal (diminui o glicogênio dos músculos, que é necessária para um bom post mortem), por isso é recomendado que o animal chegue no frigorífico e fique no curral de matança por no mínimo 6h com água a vontade · O recomendado é que o animal esteja relaxado e bem alimentado! FATORES QUE PRECEDEM O SACRIFÍCIO E INFLUENCIAM NAS PROPRIEDADES DO MÚSCULO · Fatores ambientais (temperatura e ruído), estresse, hereditário (raça), sexo, idade, manejo (transporte) ABATE Após o abate, inicia uma série de processos que tem por objetivo a manutenção do status metabólico normal – homeostase – que é necessária para a manutenção da vida. Esses processos vão causar alterações que culminam na transformação do músculo em carne. Na sangria, remove-se cerca de 60% do sangue, e com essa falta de sangue cessa o suprimento de O2 que vai culminar na obtenção de energia pelo glicogênio dos músculos (via anaeróbia) > transformação do glicogênio em glicose (glicólise é anaeróbia) produz ácido lático > diminui pH e temperatura > cessa os processos contráteis – rigor mortis > proteólise QUEDA DO PH A taxa de declínio do pH é variável, dependendo de vários fatores. É um importante processo para a transformação de músculo em carne, causada pelo acúmulo de ácido lático. Ocorre no momento da sangria, onde a atividade mitocondrial cessa com a falta de oxigênio, e com isso o organismo busca ATP de outras formas, através do glicogênio muscular que entra em glicólise. No início do abate, o pH muscular é em torno de 7,2, e vai diminuindo progressivamente até 5,6 - 5,8 Varia conforme: · Espécie animal · Tipos de fibras (fibras brancas atingem o pH final mais rápido) · Tecnologia de processamento CURVA SOBRE PADRÕES DE QUEDA DE PH NO MÚSCULO DE BOVINOS, OVINOS, SUÍNOS E AVES Aves Suínos Ovinos Bovinos O tempo que leva entre a queda do pH e sua estabilidade é o que determina a qualidade da carne! RIGOR MORTIS É definido como o início da diminuição da elasticidade, e isto ocorre a +/- 20ºC, onde o pH atinge valores em torno de 5,9 e continuará até chega a 5,0 A medida que a glicólise post mortem ocorre, o músculo se torna inextensível, e esse endurecimento é o rigor mortis! Nas primeiras 7 horas pós abate não se tem variação na capacidade de extensão do músculo, ele está macio, mas ainda não é carne! Em termos moleculares, é a formação de ligações cruzadas entre actina e miosina, que forma o complexo actomiosina, resultando no encurtamento do sarcômero (área de deslizamento da actina e miosina) A formação desses complexos vai acontecendo à medida que as reservas de ATP vão se esgotando Por fim, a capacidade de extensão (maciez) diminui gradativamente até atingir a máxima inextensibilidade (inclusive em articulações >>> Rigidez cadavérica! FATORES QUE INTERFEREM NA VELOCIDADE DO RIGOR MORTIS · Estresse antes do abate · Reserva de glicogênio · Fatores ambientais: temperatura, luz e ruído, herança genética, manejo, nutrição, temperatura post mortem · Pré rigor: 7H · Rigor mortis: 8-20h · Pós rigor: 24h PRÉ RIGOR É imediatamente pós o abate, o tecido ainda está macio. Interrompe-se a circulação sanguínea no momento da sangria, consequentemente cessa a respiração aeróbica, diminui a produção de ATP. O pH ainda está em 6,9 – 7,2 Ainda tem o transporte de cálcio para o retículo sarcoplasmático RIGOR MORTIS A sua duração está diretamente ligada com o valor do pH. Caracterizado pela perda da elasticidade, onde o músculo encontra-se em condição rígida e dura pela formação do complexo actomiosina Sua intensidade varia com os fatores ambientais, como temperatura, umidade, luz, espaço, ruído... por isso é importante que os animais descansem antes do abate, num ambiente adequado com aspersores de água, sem superlotação etc Pode ser afetado em animais em fadiga, com mal estado nutricional, dependendo a espécie se é susceptível a estresse, temperatura post mortem elevada, e também pela localização do músculo/tipo de fibra RESOLUÇÃO DO RIGOR MORTIS Consiste na manutenção da carne fresca à temperatura acima do ponto de congelamento, tornando-a sensorialmente aceitável. A alteração principal é o enfraquecimento e degradação gradual da linha Z em resultado da ação de sistemas proteolíticos – enzimas catepsinas que ativam a proteólise. A proteólise é mais intensa quanto maior o período após o abate. · CALPAINAS: Ativam a proteólise – maior maciez · CALPASTATINAS: inibem a proteólise – mais dura A proteólise varia conforme: · Raça · Sexo · Temperatura · teor de colágeno · solubilidade do colágeno · tipo e tamanho de fibra (as fibras brancas podem ter ação maior das calpastatina e podem não sofrer proteólise significativa) · Tecnologia do abate (manejo pré abate, abaixamento do pH) A extensão da proteólise depende de pH e temperatura · pH final 5,5 se tem grande extensão de proteólise, maior pH tem menor extensão · Temperatura menor (5ºC) tem maior proteólise se comparada a temperaturas maiores (37ºC) ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA: Para uma melhor conversão do músculo em carne e aumento da maciez pode ser utilizada a estimulação elétrica, que consiste em passar uma corrente elétrica na carcaça após a sangria ou após a esfola. Isso resulta em: · Maior contração muscular · Maior taxa de glicólise · Queda imediata do pH (0,7 unidades em 2 min) REDUZ O TEMPO DE INÍCIO DO RISGOR MORTIS E ACELERA GLICÓLISE!! PROBLEMAS NA QUEDA DO PH · Perda da capacidade de retenção de água · Aumento das perdas dos fluidos das fibras musculares · Alteração de coloração · Redução da solubilidade CARNES PSE Pale, soft and exsudative – pálida, mole e exsudativa É um problema para aves e suínos. Ocorrendo principalmente em animais submetidos a estresse e hipertermia. O glicogênio muscular se degrada rapidamente, fazendo com que o pH caia rapidamente para 5,8 A coloração da carne fica clara, de textura mole e tem pouca retenção de água Isso ocorre mais em músculos com grande quantidade de células glicolíticas A carne PSE pode ser utilizada para produzir produtos como salame e presuntos curados – NÃO pode fazer salsicha ou presuntos cozidos CAUSAS: alto potencial glicolítico da carne, estresse pré abate, em suínos pode estar associado ao gene rianodina/halotanoCausa problema em cortes frescos por rejeição dos consumidores. GENE RIANODINA / HALOTANO No suíno vivo esse gene provoca a síndrome do estresse porcino. Altera a função da proteína rianodina do canal liberados de cálcio para o reticulo sarcoplasmático. Exacerba o metabolismo, produz calor e tem rápida produção de ácido lático Isso tem sido melhorado em suínos atualmente pela deleção do gene nos programas de melhoramento genético CARNES DFD Dark, firm and dry – dura, firma e escura. Causada em animais que passaram por estresse prolongado, com esgotamento total do glicogênio, o que não permite que o músculo seja acidificado. Um problema em suínos e bovinos! As carnes DFD tem maior susceptibilidade ao desenvolvimento de microrganismo, além de causar rejeição aos consumidores. Pode ser utilizada para fazer salsicha e presunto cozido. NÃO pode fazer salame ou presuntos curados MATURAÇÃO DA CARNE Complementação da transformação do músculo em carne. É uma fase da acentuação do sabor e da maciez da carne · Temperatura próxima aos 15ºC, umidade controlada, por 2 – 3 dias. CARACTERÍSTICAS ORGANOLÉPTICAS COR DA CARNE Indicador de qualidade da carne. É determinada pela quantidade de pigmentos da carne (hemoglobina, mioglobina e citocromos) e pelo estado do ferro presente na mioglobina · A quantidade de mioglobina varia conforme idade, exercício ou tipo de músculo – composição das fibras Carne mais velha. O ferro da mioglobina oxidou. Marrom Carne das gandulas – com oxigênio vermelho cereja Carne a vácuo – sem oxigênio Vermelho mais escuro CORES TÍPICAS DA CARNE · Bovinos: vermelho cereja brilhante · Equino: vermelho escuro · Ovino: vermelho pálido a vermelho ladrilho · Suíno: rosa acinzentado · Aves: branco cinza a vermelho pálido FATORES QUE PODEM AFETAS AS CORES DA CARNE · Estresse · Queda do ph · pH final da carne COLORAÇÃO VERDE A cor verde na superfície da carne geralmente é resultado de contaminação microbiana. Os pigmentos sulfomioglobina é resultado de bactéria que produz água oxigenada ex: Pseudomonas menphitica, e a coleglobina das que produzem sulfeto de hidrogênio. · A cor verde também pode ser queimadura pelo frio, exposta ao ar por muito tempo. A concentração de sair na superfície favorece a formação de metamioglobina. Para diferenciar de carne contaminada utiliza-se o olfato e textura MACIEZ DA CARNE Também chamada de textura, é a manifestação dos elementos estruturais da carne relacionados à aparência, mastigação e resistência a aplicação de uma força. · Força de cisalhamento: avalia o tempo que demora para realizar a quebra das fibras na mastigação. Quanto menor tempo, mais macia é a carne. FATORES QUE AFETAM A MACIEZ · Quantidade e maturidade de colágeno · Diâmetro da fibra muscular · Estrutura física da célula · Comprimento do sarcômero – se for mais comprida é mais macia · Atividade das enzimas proteolíticas · Grau de marmoreito Esses fatores podem ter duas origens: · Ante mortem: idade, sexo, nutrição, exercício, estresse... · Post morte: estimulação elétrica, rigor mortis, esfriamento da carcaça, temperatura de cozimento, pH final SUCULÊNCIA DA CARNE É a sensação de umidade nos primeiros movimentos de mastigação devida a rápida liberação de líquido da carne, e também a gordura que estimula a salivação · Gordura intermuscular: barreira contra a perda do suco muscular durante o cozimento, aumenta a retenção de água da carne e maior suculência · Gordura intramuscular: maior sensação de suculência da carne · Fazer a maturação da carne a 0OC por 14-21 dias aumenta a suculência da carne devido o aumento da capacidade de retenção de água – é o DRY AGED · A suculência também depende da temperatura de cozimento. Temperatura de 80ºC perde mais água que 60ºC MASTIGABILIDADE E AROMA&SABOR DA CARNE A mastigabilidade é um atributo secundário da textura que é avaliado pelo número de mastigadas necessárias para deixar a carne em condições a ser deglutida. Alta correlação positiva com maciez. O aroma e sabor podem ser determinado por fatores antes do abate, como a espécie, idade, sexo, raça, manejo e alimentação, e também por outros fatores como pH final do músculo, condições de resfriamento, procedimento culinário.... OXIDAÇÃO LIPÍDICA É o principal processo pelo qual ocorre a perda da qualidade da carne e de seus produtos, ocorre pela degeneração microbiana. Para resolver, utiliza-se de remover o oxigênio, a embalagem a vácuo, além de armazenar em baixas temperaturas e ainda adicionar antioxidantes.. MICROBIOLOGIA DA CARNE Pode ser endógeno As fontes de contaminação são: · Microrganismos da pele · Os MO psicotróficos – provenientes do solo e água · Pseudomonas, Morazela e Acinetobacter (água) · Brochothrix thermosphacta (solo e fezes) · Salmonella thyphimurium, S. enteritidis. · Espécie animal · Tecnologia empregada · Ambiente e manipulador · Manejos anteriores Por isso SEMPRE ESTERELIZAR EQUIPAMENTOS – A 85,2º C, manter HIGIENE ADEQUADA · A carne é susceptível ao crescimento bacteriano devido sua composição química, as características intrínsecas do alimento, condições de abate, atmosfera e temperatura. TIPOS DE DETERIORAÇÃO Por aerobiose · RANCIFICAÇÃO: ocorre oxidação ou lipólise. Pelas Pseudomonas, Bacillus, bolores e leveduras. Causa sabor e odor estranho · LIMONOSIDADE SUPERFICIAL: é influenciada pelo teor de água e temperatura do ambiente. Pseudomonar em refrigeração. Salsicha e linguiças (micrococus e leveduras), e bolores e alimentos com baixa atividade de água PIGMENTOS VERDES: Lactobacillus viridensis e bactérias produtoras de peróxido de hidrogênio PIGMENTOS VERMELHOS Serratia spp PIGMENTOS AZULADOS Pseudomonas spp. TIPOS DE DETERIORAÇÃO Por anaerobiose · ACIDIFICAÇÃO: Acúmulos de ácidos durante a degradação enzimática bacteriana – coliformes e Clostridium · PUTREFAÇÃO: decomposição de proteínas e liberação de odores – indol, sulfeto de hidrogênio e cadaveriana – Clostridium · ALTERAÇÃO DE ODOR E SABOR: Dependente da atmosfera e temperatura, composição do produto COMO EVITAR A CONTAMINAÇÃO? Com a implementação de medidas de higiene na indústria, lavagem de mãos, esterilização de equipamentos, refrigeração da carne...
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