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Síndrome da má absorção Gastroenterologia - 6° período Maria Geovana Teixeira Introdução Qualquer processo que leve à má assimilação ou aproveitamento inadequado de um ou mais elementos constitutivos da dieta: • Carboidratos; • Proteínas; • Lipídios; • Vitaminas; • Sais minerais. • Má digestão: Problemas concernentes à hidrólise (quebra) do conteúdo luminal (gástrico, intestinal). • Má absorção ou Disabsorção: O impedimento ao transporte através da mucosa. Nível celular - enterócitos Na prática, má digestão ou má absorção é usada para descrever o resultado final de ambos os processos. • Características do Intestino Delgado - adaptações morfofuncionais para a digestão e absorção Adaptações da mucosa intestinal (pregas, vilosidades e microvilosidades) amplificam a superfície de contato em 600 vezes entre o epitélio absortivo e os nutrientes. Vilosidades → aumenta área absortiva Existência de uma densa rede de capilares e vênulas que permeiam os vilos intestinais permitindo, assim, o aporte de substâncias e a drenagem dos nutrientes, água e eletrólitos absorvidos pelo epitélio intestinal. Classificação Sd de má absorção Pré-epitelial (luminal) - lúmen das vísceras ocas → enzimas Epitelial (enterocítica) - Epitélio colunar do intestino delgado → celular Pós-epitelial (pós enterocítica) - lâmina própria, vasos linfáticos e estruturas ganglionares periféricas → vasos Má digestão LUMINAL. ENTEROCÍTICA - Má digestão no enterócito . PÓS ENTEROCÍTICA - Má absorção das estruturas pós enterocítica. MÁ DIGESTÃO LUMINAL Também chamadas "pré epiteliais" ou “préenterócitos”. Impedimento da hidrólise dentro da luz gastrointestinal (secreções ácido biliopancreáticas deficientes). Pâncreas - pancreatite, obstrução de via biliar Estômago • Hiposecreção com Hipocloridria (vit B12) - baixa do pH gástrico • Hipersecreção gástrica (Síndrome de Zollinger-Ellison→hipergastrinemia e múltiplas úlceras) - aumento da secreção de ácido, reduz o pH intestinal e consequente desativação enzimática pancreática. • Anemia perniciosa (diminuição de fator intrínseco e ma-absorção de vitamina B12). • Síndrome de dumping (gastrectomia Billroth II) - esvaziamento gástrico acelerado e sobrecarga osmótica no Intestino delgado - sudorese, mal estar, sensação de hipoglicemia Pâncreas: Pancreatite aguda/crônica Deficiência de enzimas (tripsinogênio, lipase e amilase) - enzimas exócrinas Fibrose cística - (impedimento secreções enzimáticas e de bicarbonato) Fígado: Síndromes colestáticas - icterícia obstrutiva, doença hepática crônica. (impedimento secreções de sais biliares com deficiente formação de micelas). Má digestão de gordura Intestino: Supercrescimento bacteriano com consumo de nutrientes (Síndrome da alça cega; Síndrome do intestino curto; Pseudo obstrução intestinal). MÁ DIGESTÃO ENTEROCÍSTICA Má digestão no enterócito • Deficiência de enzimas dos microvilos - pode ser congênita (lactase) ou adquirida ou tardia; • Congênita (Má digestão do dissacarídeo específico com fermentação no cólon): (lactase, sacaraseisomaltase); • Adquirida ou tardia (perda da atividade enzimática por dano a mucosa ou envelhecimento): (lactase, sacarase-isomaltase e glicoamilase). • Doença por sensibilidade ao glúten ou Doença Celíaca (dano à superfície digestivo-absortiva); • Infecção/inflamação bacteriana (dano à superfície digestivo absortiva e motilidade anormal); • Doença de Crohn (dano celular) / Sida (dano à superfície digestiva absortiva e perda crônica de sangue - ação do vírus pp no intestino delgado). • Enteropatia diabética (Diabetes mellitus); • Hipotireoidismo e hipertireoidismo; • SIDA - Diarréia por agressão à mucosa pelo vírus e bactérias associadas à má absorção; • Infecções intestinais - ex: gastroenterite; • Giardíase e estrongiloidíase e outros parasitas – de localização alta e baixa. Quadro clínico Diarreia, borborigmos – Deficiência de Dissacaridase ou Infecção Intestinal. Distensão abdominal, cólicas, flatulência - Aumento na produção de H2/CO2/CH4. Perda de peso - Má absorção de nutrientes. Tetania, parestesias, fraturas patológicas - Deficiência de Vit. D, cálcio e magnésio. Sangramentos/ Equimoses - Deficiência de Vit.C e K. Glossite/quelite - Deficiência do complexo B , ácido fólico e ferro. Edema – Hipoalbuminemia; Amenorreia, diminuição da libido – Hipoproteinemia, deficiência da vit. E; Nictalopia (visão noturna comprometida) - Deficiência de vit. “A”; Acrodermite - Deficiência de ácido graxos essenciais e zinco; Fadiga, fraqueza - Anemia (deficiência de ferro) Hábito intestinal • Número aumentado de evacuações, ou volume das fezes, alimentos mal digeridos ou distensão, flatulência, fadiga e perda de peso. Questionar presença de sg, muco ou esteatorréia; questionar dor abdominal. Associar a sintomas sistêmicos • Na maioria dos casos há esteatorreia, mas pode-se apresentar com quadro leve de distensão, plenitude, meteorismos e flatulência. Sinais de Desnutrição • Glossite - lesões nas comissuras labiais; • Queilites; • Pele seca e descamativa; • Pele hiperpigmentada; • Cabelo seco e despigmentado; • Língua lisa; • Emagrecimento/ Hipotrofia muscular; • Anemia. Investigação diagnóstica Testes laboratoriais Hemograma; VSH; Ferro; Ferritina; TPA; Proteinemia; albuminemia; Protoparasitológico de fezes; PH fecal ( normal – 6,0 a 7,0)- Valores abaixo de 5,5 são indicativos de má absorção – fermentação dos hidratos de carbono Pesquisa de gordura fecal - qualitativo (Sudam III). Prova da D-Xilose (pentose não encontrada no organismo) - possui absorção passiva em duodeno e jejuno proximal, só dependendo da integridade da mucosa. Teste de tolerância a lactose e sacarose. Testes relacionados a absorção de proteínas – mais dirigidas às pesquisas devido as dificuldades técnicas. Testes laboratoriais - específicos Doença celíaca – Anticorpo anti gliadina, anti endomísio, anti transglutaminase tecidual; Diabetes Mellitus - perfil glicêmico; Tireoidopatia – TSH, T3 eT4; SIDA- Anti HIV; Infecções intestinais e síndrome da alça estagnante – Coprocultura; Giardíase e estrongiloidíase e outros parasitas – PF e pesquisa de parasitas em suco duodenal; Pancreatopatias - testes para estudo da função do órgão Exames de Imagem Trânsito Intestinal (doença de Cronh, Linfomas, Imunodeficiência, Tuberculose intestinal); Raio x simples de abdomen (calcificação na topografia do pâncreas); Ultrassonografia, tomografia e ressonância magnética (causas bilio-pancreáticas, massas ou aumento de linfonodos, complicações da Doença de Crohn); Raio x de tórax (linfomas, tuberculose, metástases, fibrose cística, tuberculose); Raio x de mãos e punhos para a idade óssea. Endoscopia; Cápsula endoscópica - avaliar mucosa de delgado, pp; Biópsia transendoscópica (Doença Celíaca, Doença de Crohn); Estudo histológico Intolerância a lactose Lactose Carboidrato encontrado no leite e seus derivados A lise acontece no intestino delgado Lactase - presente nos enterócitos A lactase normalmente está presente na porção distal do enterócito (borda em escova- qualquer pcs de infecção ou inflamação leva a perda da borda, acontecendo a perda da lactase- intolerância secundária e transitória) e sua maior expressão encontra-se no jejuno médio OBS: intolerância a lactose X alergia a proteína do leite Ptn do leite = caseína. Sintomas diferentes - processo mediado por IgE Classificação Congênita - galactosemia Primária - ao longo da vida Secundária Prevalência e incidência: • ~ 75% dos adultos; • No Brasil: ~ 35 a 40 milhões de adultos apresentam algum desconforto digestivo após a ingestão do leite de vaca Fisiopatologia: Lactose não digerida, fica íntegra no lúmen intestinal → é quebrada pela ação bacteriana, aparecendo gases (flatulência e borborigmos - “intestino mexendo” ), além do aparecimento de ac graxos. Quadro clínico: • Distensão abdominal; • Dor abdominal; • Diarreia; • Náuseas; • Aumento de flatulência. Muitas vezes, o pc não faz ligaçãodireta com queijo, leite, etc, mas é necessário pensar e orientar que pode aparecer ao longo da vida. Diagnóstico TESTE DE HIDROGÊNIO EXPIRADO Se houver aumento da quantidade de hidrogênio expirado > 20, considera-se intolerância a lactose TESTE DE TOLERÂNCIA ORAL A LACTOSE Glicemia em jejum → pc ingere 50g de lactose → dosagem da glicemia 30, 60 e 90’ No pc normal: quebra em glicose e galactose e absorção da glicose, com aumento da glicose sérica Intolerante: não quebra, não absorve. Se <20, sugere quebra inadequada e baixa absorção da glicose. OBSERVAR EM AMBOS: pc sintomático aos testes → distensão abdominal, diarreia, dor. Tratamento: • Suspensão / redução da ingestão de leite ou derivados; • Deve ser individualizada; • Reposição de enzima lactase. É UMA CONDIÇÃO BENIGNA, QUE NÃO LEVA A CONDIÇÕES MAIS GRAVES. O QUE PODE ACONTECER É UMA DISBIOSE, RELACIONADA ÀS BACTÉRIAS NO LÚMEN INTESTINAL. Doença celíaca Glúten • Uma proteína formada pela união de duas outras proteínas: Prolaminas + Gluteninas • Presentes nos cereais: trigo, centeio, cevada e aveia (não contém glúten, mas é processada em locais que se processa o glúten) • A proteína variável de cada cereal são as prolaminas: gliadina, secalina, hordeína e avenina. Doença sistêmica caracterizada por uma inflamação crônica autoimune, que afeta o intestino delgado em indivíduos geneticamente susceptíveis e desencadeada pela ingestão do glúten • Manifestações intestinais e extraintestinais. • Quando não tratada reduz a qualidade de vida e aumenta a morbidade. • Mortalidade aumentada devido a doença maligna linfoproliferativa, sepse e doença refratária. Quadro clínico Apresentação na infância: • Esteatorreia; • Vômitos; • Dor abdominal; • Deficiência no desenvolvimento; • Deficiências nutricionais. OBS: o quadro pode se apresentar ao longo da vida e não apenas cç. Apresentação na vida adulta: • Esteatorreia; • Diarreia; • Flatulência; • Perda de peso; • Mal estar, fraqueza e fadiga; • Estufamento/empachamento abdominal; • Estomatite aftosa recorrente. Características extraintestinais: • Anemia; • Osteopenia; • Ataxias de marcha e membros; • Amenorreia; • Infertilidade ; • Abortos espontâneos recorrentes; • Dermatite herpetiforme - lesões vesipapulares em região de extensoras; • Níveis elevados nos testes bioquímicos hepáticos - transaminases; • Retardo do crescimento. Sempre atentar nas seguintes situações • DM tipo 1 • Síndrome de Down • Histórico familiar: Gêmeos homozigóticos – 70 a 75% Gêmeos dizigóticos – 10 a 20% Parentes de 1º grau – 13% Parentes de 2º grau – 6% Doenças associadas a DC: Dçs autoimunes • Diabetes mellitus tipo 1 • Lupus eritematoso sistêmico • Sd de Sjogren • Hipotireoidismo • Dermatite herpetiforme - todos os pc com dermatite h. tem DC, mas nem todos os celíacos tem a dermatite. Diagnóstico • Sorologias Anti transglutaminase tecidual IgA; Anti endomisio IgA; Anti gliadina IgA* → apenas em cçs OBS: alguns pc não tem IgA • Histologia – EDA com biópsia de 1ª e 2ª porção duodenal→ se Ac + Aumento de linfócitos intraepiteliais (>/= 25 por 100 enterócitos); Hiperplasia de criptas; Atrofia de vilosidades. atrofia = atapetamento → fase irreversível • Testes genéticos HLA DQ2 HLA DQ8 *Se negativos → exclui a doença *Não devem ser utilizados rotineiramente → pc com dúvida diagnóstica, com dois exames controversos; Sd down,; dç refratária. Para realização do diagnóstico, é fundamental que o paciente esteja ingerindo glúten! Tratamento Exclusão permanente do glúten da dieta Trigo, cevada, centeio, aveia (se for contaminada - contaminação cruzada) *Terapia efetiva *A aderência produz os melhores resultados *Redução do risco de complicação a longo prazo (neoplasias). Pode conter glúten: balas, conservantes, molhos, batom, enxaguante bucal, pasta de dente, etc. Correção de deficiências nutricionais: Vit. D Vit. B12 Ferro Ácido fólico *Fazer reposição até restituição do intestino. Seguimento Dieta isenta de glúten → reavaliação em 6 meses com Ac → remissão clínica e negativação sorológica Se Ac persistentes: contaminação cruzada, dieta feita incorretamente. OBS: Sensibilidade ao glúten não celíaca *Condição benigna
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