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Bruna Siqueira de Arruda - Medicina G�I��GÊNI�: sín�e�� � de���d�ção Em estado alimentado, a manutenção da glicemia se dá pelos carboidratos da dieta. Porém, em jejum, outros mecanismos para a obtenção de glicose são necessários. Há dois tipos de jejum, o jejum curto e o jejum prolongado (não existe um limiar entre os dois). Em ambos, hormônio normoglicemiante é o glucagon. Em jejum breve, o glicogênio é rapidamente mobilizado para normalizar a concentração de glicose sanguínea. Já em jejum prolongado, o glicogênio não é responsável por manter a glicemia, que é mantida por outro mecanismo. ——Es��ut��� �o g����gêni�—— ● É polímero de glicose, classificado como homopolissacarídeo ramificado. ● LIGAÇÕES GLICOSÍDICAS: ○ Na porção linear da molécula, a ligação glicosídicas é do tipo alfa 1 → 4 ○ Nos pontos de ramificação, a ligação glicosídica é do tipo alfa 1 → 6 (não na ramificação inteira; somente na molécula que “inicia” a ramificação). Obs. 1: Em média, após 8 a 10 resíduos glicosila (glicoses ligadas) há uma ramificação Obs. 2: A diferença entre as ligações da porção linear e da porção ramificada é a razão pela qual necessita-se de enzimas diferentes para sintetizar e degradar as ligações glicosídicas. ● Para que as moléculas sejam montadas, faz-se necessário um iniciador/primer. O primer de glicogênio é proteico, chamado de glicogenina. ● O glicogênio possui formato esférico e grande. No centro está localizada a proteína glicogenina e, em volta, as moléculas do glicogênio. O formato arredondado é uma vantagem, pois, assim, a molécula tem várias áreas de contato com as enzimas que a degradam, o que facilita a mobilização rápida de glicose quando necessária. 1 Bruna Siqueira de Arruda - Medicina ● POR QUE ARMAZENAMOS GLICOSE EM FORMA DE GLICOGÊNIO? Se a glicose fosse armazenada em forma de mono ou oligossacarídeo, a osmolaridade da célula seria aumentada (já que composto se dissolveria na água da célula), o que faria com que a célula necessitasse de muito mais água. Em formato de polissacarídeos, a osmolaridade quase não é alterada (se comparado com monossacarídeo) e, por isso, pode ser armazenada. Do ponto de vista osmótico da célula, o lipídeos é a melhor reserva energética (apolar, então, não interage com a água da célula). Além disso, os lipídios possuem maior rendimento energético, comparando a mesma quantidade de glicogênio. Estrutura do glicogênio ——Gli���êni� ��� te����s—— Em quase todos os tecidos há glicogênio, mas os 2 principais estoques são o tecido muscular esquelético (~ 1% a 2% da massa) e o tecido hepático (~ 10% da massa). — TECIDO HEPÁTICO — ● O glicogênio do fígado é responsável pela manutenção da glicemia, sendo a primeira e imediata fonte de glicose para o restabelecimento da normalidade. 2 Bruna Siqueira de Arruda - Medicina ● No jejum, o fígado não realiza glicólise e, por isso, não necessita da glicose (oriunda da quebra do glicogênio), sendo ela destinada ao sangue. — TECIDO MUSCULAR — ● O glicogênio muscular é utilizado somente para a síntese de ATP para o próprio músculo, durante contração muscular intensa. ● Em períodos curtos de jejum, o glicogênio muscular não é afetado e só diminui moderadamente em jejuns prolongados ou em ação de exercícios extenuantes. Obs. 1: O que difere a quebra de glicogênio no músculo e no fígado é a saída da glicose no caso do tecido hepático, dependente da enzima glicose-6-fosfatase, que será vista mais adiante. Acontece em situação pós prandial / hiperglicemia. Obs. 2: A reserva de glicogênio é reposta após a alimentação contendo carboidrato. ——Gli���êne��—— A glicogênese é o processo de síntese de glicogênio. Nele, as ligações glicosídicas alfa 1 → 4 e alfa 1 → 6 necessitam ser formadas. O início, na maioria das vezes, se dá por prolongamento de cadeia polissacarídica de uma molécula de glicogênio preexistente. A glicogênese acontece igual em todos os tecidos. Acontece em situação pós prandial / hiperglicemia. 3 Bruna Siqueira de Arruda - Medicina — 1º ETAPA: ativação da glicose — (1) Glicose + ATP ⟶ Glicose 6-fosfato + ADP + H+ (hexoquinase/glicoquinase) (2) Glicose 6-fosfato ⇌ Glicose 1-fosfato (fosfoglicomutase) (3) Glicose 1-fosfato + UTP ⇌ UDP-glicose + PPi (UDP-glicose-pirofosforilase) (1) A síntese de glicogênio inicia com a fosforilação da glicose a glicose 6-fosfato pela enzima hexoquinase (tecidos extra-hepáticos) ou glicoquinase (tecido hepático). (2) Há a conversão de glicose 6-P a glicose 1-fosfato pela enzima fosfoglicomutase, que troca a posição do grupo fosfato. (3) A rota biossintética requer energia. Por isso, o fosfato rico em energia do UTP é utilizado para ativar os resíduos de glicosil em UDP-glicose, pela enzima UDP-glicose-pirofosforilase. A glicose ativada (glicose ligada a um nucleotídeo, UDP) entra na síntese de glicogênio. — 2º ETAPA: formação da cadeia linear — Cadeia de glicogênio já existente: O prolongamento da cadeia polissacarídica se dá por adição de resíduos glicosil a partir de UDP-glicose às extremidades, por ação catalítica da enzima glicogênio-sintase (marca-passo). A glicogênio-sintase não cria ramificação, SOMENTE promove ligações do tipo alfa 1 → 4. Quando essa cadeia fica grande o suficiente, outra enzima promove a ramificação. Sem cadeia de glicogênio já existente: Síntese de glicogênio em situação de depleção de glicogênio. A proteína glicogenina atua como aceptora de resíduos de glicose oriundos da UDP-glicose. A glicogenina glicosila-se (autoglicosilação) pela ligação do resíduo glicosil da UDP-glicose com um resíduo de tirosina (-OH livre). O crescimento acontece até que a enzima glicogênio-sintase possa prolongar a cadeia de glicogênio. 4 Bruna Siqueira de Arruda - Medicina — 3º ETAPA: ramificações — Quando a cadeia de resíduos de glicose atinge 11 resíduos em comprimento, um pedaço de 6 a 8 resíduos é quebrado pela enzima ramificadora (amilo-4:6-transferase) e religado a uma unidade de glicose (glicosil) por uma ligação alfa 1 → 6, formando uma ramificação. Ambas as cadeias continuam o prolongamento até que estejam longas o suficiente para produzirem outras ramificações. 5 Bruna Siqueira de Arruda - Medicina ——Gli����nóli��—— A glicogenólise é a degradação do glicogênio. Esse processo acontece igual em todos os tecidos até a molécula de glicose-6-P. — 1º ETAPA: enzima glicogênio-fosforilase — Para liberar a glicose que compõe o glicogênio é preciso que haja fosforilação desses resíduos de glicose. Então, a enzima glicogênio-fosforilase fosforila o carbono 1 do resíduo glicosil da extremidade, liberando glicose 1-P. Vale ressaltar que essa enzima depende do pirofosfato (cofator; originado da vitamina B6, piridoxina). Durante a degradação do glicogênio, várias glicogênio-fosforilases atuam ao mesmo tempo, em diferentes pontos da molécula de glicogênio, permitindo uma rápida mobilização para a normalização glicêmica. A glicogênio-fosforilase não pode agir sobre os quatro resíduos glicosil mais próximos de um ponto de ramificação. Para isso, faz-se necessária outra enzima. — 2º ETAPA: enzima desramificadora — A enzima desramificadora, responsável pela remoção dos quatro resíduos mais próximos à ramificação, possui duas ações catalíticas, sendo elas: ○ TRANSFERASE: remove três resíduos de glicose da ramificação que foi encurtada, desfazendo as ligações alfa 1 → 4, e liga esses resíduos a uma extremidade de uma cadeia mais longa por ligações alfa 1 → 4. ○ Promove a hidrólise da ligação alfa 1 → 6, liberando a glicose (sem ser fosforilada). 6 Bruna Siqueira de Arruda - Medicina — 3º ETAPA: enzima fosfoglicomutase — As glicoses liberadas pela desramificação estão em forma de glicose 1-P, exceto a glicose do início da ramificação. Então, a enzima fosfoglicomutase converte glicose-1-P a glicose-6-P, realizando uma troca da posição do grupo fosfato. Obs.: a reação catalisada pela fosfoglicomutase é reversível e o que define a direção da reação é a concentração deglicose 1-P ou de glicose 6-P. 7 Bruna Siqueira de Arruda - Medicina Glicose 1-fosfato ⇌ Glicose 6-fosfato (enzima fosfoglicomutase) TECIDO MUSCULAR A glicose 6-P é destinada para as vias energéticas quando o músculo estiver necessitar de ATP. TECIDO HEPÁTICO A glicose 6-P não pode sair da célula, já que o GLUT 2 não a transporta (somente glicose). A enzima glicose-6-fosfatase é responsável por converter glicose 6-P a glicose, para que possa sair do fígado para a corrente sanguínea. Em estado alimentado (hiperglicemia), a via glicolítica está ativa pela presença de insulina, tendo, assim, glicose 6-P presente no citosol. Nessa situação, a glicose-6-fosfatase não pode estar presente no citosol, se não a glicólise não seria viável. Ela é encontrada, então, na membrana do retículo endoplasmático, onde a glicose 6-P é desfosforilada. A glicose 6-P entra no RE pelo transportador de G6P e é convertida em glicose**, que sai para o citosol e, posteriormente, para o sangue. **A glicose que sai não entra em via glicolítica no tecido hepático nesse momento porque, em jejum, a enzima glicoquinase está no núcleo (sofre sequestro nuclear; por isso não acontece glicólise). 8 Bruna Siqueira de Arruda - Medicina Duração do glicogênio hepático: Quando o jejum é muito prolongado, a taxa de glicogenólise diminui para evitar depleção de glicogênio. Observe: 4h de jejum → taxa de glicogenólise está no máximo. Depois, a taxa reduz muito. 9 Bruna Siqueira de Arruda - Medicina ESQUEMA GERAL DA DEGRADAÇÃO E DA SÍNTESE DE GLICOGÊNIO NO FÍGADO: GLICOGÊNESE ● Momento metabólico: estado pós-prandial ou alimentado; hiperglicemia. ● Dependente de ATP/UTP, ou seja, acontece em momento de riqueza metabólica. ● Presença do hormônio normoglicemiante insulina GLICOGENÓLISE ● Momento metabólico: estado pré-prandial ou jejum; hipoglicemia. ● Não depende de ATP/UDP, ou seja, acontece em momento de pobreza metabólica. ● Presença do hormônio normoglicemiante glucagon 10 Bruna Siqueira de Arruda - Medicina ——Reg���ção �l���éri��—— TECIDO HEPÁTICO Enzima glicogênio-sintase (marcapasso) é: ● Ativada em presença de G6P, ou seja, glicose entrando dentro da célula e sofrendo fosforilação → GLICOGÊNESE Enzima glicogênio-fosforilase é: ● Inibida em riqueza energética (bastante ATP), em presença de G6P e de glicose → Não há glicogenólise MÚSCULO Enzima glicogênio-sintase (marcapasso) é: ● Ativada em presença de G6P → GLICOGÊNESE 11 Bruna Siqueira de Arruda - Medicina Enzima glicogênio-fosforilase é: ● Inibida em riqueza energética (bastante ATP), em presença de G6P e de glicose → Não há glicogenólise ● Ativada em presença de AMP (adenosina monofosfato) A AMP pode estar presente no músculo em contração muscular vigorosa (mesmo estando alimentado). ——Reg���ção h����na�—— As rotas de biossíntese e degradação do glicogênio são reguladas principalmente por alterações na razão insulina/glucagon e pela glicemia, que reflete a disponibilidade de glicose na dieta. Hormônio insulina agindo → enzima glicogênio-sintase ativa Hormônio glucagon agindo → enzima glicogênio-sintase inativa Além disso, a adrenalina elevada inibe a enzima glicogênio-sintase. A adrenalina é liberada em resposta a um exercício, à hipoglicemia e outras situações de estresse, nas quais a necessidade de glicose no sangue é imediata . ——Gli����no���—— Glicogenoses são doenças associadas ao metabolismo do glicogênio, pela redução ou ausência de alguma enzima. A mais comum é a glicogenose do tipo I ou Doença de Von Gierke. DOENÇA DE VON GIERKE ● Deficiência de enzima glicose-6-fosfatase, que desfosforila a G6P e libera glicose do fígado para o sangue em situação de jejum. ● Herança autossômica recessiva ● Sinais e sintomas: 12 Bruna Siqueira de Arruda - Medicina ○ Hipoglicemia após pequenos períodos de jejum → palidez, suor frio, convulsões ○ Hepatomegalia ○ Obesidade troncular ○ “Face de boneca” ● A doença é descrita nos primeiros 28 dias de vida (período neonatal) ● Observa-se acidose láctica: a presença de G6P em excesso no fígado aumenta a atividade da glicólise, resultando em piruvato em excesso, que é destinado ao metabolismo anaeróbico (fermentação láctica), pois não há oxigênio o suficiente para seguir a via aeróbica. ● O aumento dos produtos da via glicolítica, como NADH, fosfato, glicerol-3-fosfato, resulta em hiperlipidemia. ● O paciente deve receber glicose o tempo todo. É recomendado amido de milho cru. Frutose e sacarose não são recomendados. http://revistadepediatriasoperj.org.br/detalhe_artigo.asp?id=584 https://link.springer.com/article/10.1007/s00424-020-02439-5 13 http://revistadepediatriasoperj.org.br/detalhe_artigo.asp?id=584 https://link.springer.com/article/10.1007/s00424-020-02439-5
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