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Delirium Definições Alteração aguda do conteúdo da consciência incluindo atenção, percepção, cognição, pensamento, memória, comportamento, emoção, ciclo sono-vigília Manifestação neuropsiquiátrica de doença orgânica, que acomete principalmente pacientes idosos (especialmente os hospitalizados) “Síndrome cerebral orgânica sem etiologia específica caracterizada pela presença simultânea de perturbações da consciência e de atenção, da percepção, do pensamento, da memória, do comportamento psicomotor, das emoções e do ritmo sono-vigília” O que pode estar afetado no delirium Distúrbio de cognição: memória, impaciência, desorientação Alteração do ciclo circadiano Desregulação emocional: irritabilidade, raiva, sentimento, ansiedade Distúrbio psicomotor: delirium fenótipo Alteração de consciência e atenção O delirium pode resultar em: Redução de funcionalidade Maior número de complicações Aumento de morbidade e mortalidade Maior custos e tempo de hospitalização Maior risco de hospitalização O fato de desenvolver um delirium, pode significar que a pessoa tem um prognostico pior durante a internação e tem uma reserva cognitiva menor que outro idoso Importância do delirium É subdiagnosticado na prática médica, apesar de ser uma das complicações mais frequentes entre idosos hospitalizados (56% dos idosos críticos até 80% dos pacientes com ventilação mecânica) Pode ser a única (ou a principal) forma de apresentação de uma doença orgânica Maior risco de quedas Maior risco de úlceras por pressão (provavelmente devido ao fato de serem pacientes que ficam a maior parte do tempo hospitalizados) Aumento do tempo de internação e custos inerentes a estes cuidados Maior morbimortalidade, incluindo maior taxa de institucionalização e prejuízo funcional É passível de prevenção e de tratamento Imediata identificação e o tratamento crucial para a diminuição de sua duração e gravidade Atenção: paciente o que dificulta o tratamento deve-se fazer restrição química (jamais restrição mecânica, como amarrar o paciente) Neuroanatomia Envolve estruturas neurológicas responsáveis pela atenção TONO (sistema ascendente reticular ativador) Córtex-seletividade: Neocórtex (rostro) Córtex: pré-frontal, parietal, posterior, temporal ventral Fisiopatologia Pouco compreendida Ocorre uma neuroinflamação e desequilíbrio dos neurotransmissores Deficiência de acetilcolina Aumentos dos níveis de dopamina Teorias Teoria mais aceita: resultado de um insulto em indivíduos predispostos Teoria neuroquímica: disfunção de neurotransmissores (dopamina, serotonina, noradrenalina) Teoria neuroinflamatória: o reconhecimento do estímulo inflamatório na barreira hematoencefálica (BHE) aumenta sua permeabilidade, levando a uma cascata de eventos com ativação de células da glia, com a formação de um ambiente inflamatório Qualquer afecção médica que comprometa a função cerebral pode resultar em delirium, pois é uma etiologia multifatorial. Causas comuns: Substâncias: álcool e hipnóticos/sedativos (intoxicação ou abstinência), antidepressivos, fármacos hipotensores, fármacos antiparkinsonianos, corticosteroides, digitálicos, bloqueadores H2, narcóticos, fenotiazinas Infecções: meningite, pneumonia, septicemia, pielonefrite Doenças cardíacas: arritmias, insuficiência cardíaca congestiva, infarto o miocárdio, insuficiência renal Transtornos do SNC: epilepsia, doença vascular Neoplasia: metástases cerebrais, tumores primários do cérebro Traumatismos: anestesia, queimaduras, fraturas (especialmente de fêmur), cirurgia Mudança de ambiente: hospitalização (especialmente em UTI) Fatores predisponentes/de risco Idade ≥ 65 anos Sexo masculino Etilismo Doença hepática Depressão Delirium pregresso Polifarmácia Déficit cognitivo prévio (2-5x mais) Déficit sensorial Doença grave (apache > 16) Uremia Doença aguda Privação do sono Desidratação Imobilidade Constipação intestinal Mudança de ambiente Cirurgia Drogas psicoativas Desnutrição Sonda vesical/enteral Iatrogenia Importante Fisiopatologia associada à reserva cognitiva Marcador significativo de estado cognitivo limítrofe Apesar de temporário, se não identificado e tratado adequadamente, o delirium pode causar sequelas permanentes Medicações associadas ao desenvolvimento de delirium Anticolinérgicos: anti-histamínicos, atropinam hioscina, difenidramina, tricíclicos Antimicrobianos: quinolonas, aciclovir, macrolídeos, sulfonamidas, cefalosporinas, aminoglicosídeos, anfotericina Analgésicos: opióides, AINE’s Corticoesteroides Agonistas dopaminérgicos: levodopna, pramipexol, bromocriptina, amantadina Anticonvulsivantes: ácido valproico, fenitoína, carbamazepina Antidepressivos: mirtazapina, inibidores de receptação de serotonina, tricícilos Sedativos: benzodiazepínicos, barbitúricos Relaxantes musculares Cardiovasculares: antiarrítmicos, betabloqueadores, metildopa, clonidina, diuréticos, digitálicos Gastrointestinais: bloqueadores H2, metoclopramida, loreramida, antiespasmódicos Outros: fitoterápicos, lítio, donepezil fenotiazinas Quadro clínico Largo espectro de disfunção cerebral Distúrbios de cognição, atenção e consciência Cognição: manifestação essencial, sendo o prejuízo do pensamento invariavelmente presente, sendo vago e fragmentado. A memória está afetada devido a associação com a atenção e o nível de consciência Atenção: dificuldade em mantê-la em determinado estímulo e mudar para o estímulo novo. O estado de alerta/vigília também é alterado Consciência: pode ocorrer um estado de hiperatividade (associada a intoxicação ou abstinência) ou hipoatividade (associada a distúrbios metabólitos ou processos infecciosos) Distúrbios no ciclo sono-vigília Distúrbios no comportamento psicomotor Início agudo e curso flutuante No paciente idosos: início dos sintomas pode ser relativamente insidioso, podendo ter tido início há alguns dias por manifestações prodrômicas (diminuição da concentração, irritabilidade, insônia, pesadelos, alucinação transitória) Característica marcante de delirium: flutuação dos sintomas Diagnóstico “Critérios diagnósticos presentes nas classificações psiquiátricas não refletem de forma integral as anormalidades neuropsiquiátricas do delirium e têm como finalidade estabelecer as diretrizes para realização do diagnóstico” CID-10 Há obnubilação de consciência, isto é, redução da claridade de percepção do ambiente, com capacidade reduzida de manter a atenção Perturbação de cognição é manifestada por ambos: Comprometimento das memórias imediata e recente, mas com memória remota relativamente intacta Desorientação temporal, espacial e pessoal Pelo menos uma das seguintes perturbações psicomotoras está presente: Mudanças rápidas e imprevisíveis de hipo e hiperatividade Tempo de reação aumentado Aumento ou diminuição do fluxo de fala Intensificação da reação de susto Há perturbação do sono ou do ciclo sono-vigília manifestada por pelo menos um dos seguintes: Insônia, a qual pode, em casos graves, envolver perda total de sono, com ou sem sonolência diurna, ou inversão do ciclo sono- vigília Piora noturna dos sintomas Sonhos perturbadores e pesadelos, os quais podem continuar como alucinações ou ilusões após o despertar Os sintomas têm início rápido e mostram flutuação ao longo do dia Há evidencia objetiva a partir da história, exame físico e neurológico e testes laboratoriais de uma doença cerebral ou sistêmica subjacente (outra que não relacionada a substânciapsicoativa) que possa ser presumida como responsável pelas manifestações clínicas nos critérios anteriores DSM-V Distúrbio de atenção (reduzida capacidade de direcionar, focar, manter e desviar a atenção) e consciência O distúrbio se desenvolve ao longo de um curto período de tempo (geralmente horas a dias), representa uma mudança ao habitual do paciente, e tende a flutuar durante o decorrer do dia Um distúrbio adicional na cognição (déficit de memória, desorientação, linguagem, habilidade visuo-espacial ou percepção) As alterações não são melhor explicadas por um transtorno neurocognitivo pré-existente, em evolução ou já estabelecido, e não ocorrem no contexto de um nível neurológico gravemente reduzido, como coma Há evidencias a partir da história, do exame físico ou de achados laboratoriais, de que o distúrbio é causado por uma condição médica, intoxicação ou retirada de substancia, ou efeito colateral de medicamentos Instrumentos de avaliação CAM: confusion assessment method Positivo: critérios 1 + 2 associados a 3 ou 4 Sensibilidade 94% e especificidade 89% Tipos de delirium Hiperativo 1/3 dos casos, sendo a forma mais facilmente reconhecida Aumento significativo da atividade psicomotora Hipervigilância Risco de agressividade física e frequentes alucinações Hipoativo 2/3 dos casos, sendo a forma menos reconhecida e com pior prognóstico Retardo da atividade psicomotora: apatia, letargia, sonolência É mais prevalente em encefalopatias metabólicas Misto Alternância e/ou sobreposição dos caracteres acima listados Diagnóstico Envolve duas etapas: estabelecer o diagnóstico sindrômico + determinar sua etiologia Diagnóstico sindrômico: baseado na história, exame físico e aplicação dos critérios diagnósticos específicos (instrumentos de avaliação, como CAM) Diagnóstico etiológico: a partir de uma investigação clínica e laboratorial Rastreamento Rotina inicial Hemograma Proteína C reativa Função renal (Ur/Cr) Função tireoideana Marcadores hepáticos (TGO, TGP, bilirrubinas, amônia) Eletrólitos (Na, K, Ca, Mg) ECG e marcadores cardíacos Gasometria arterial Rastreio infeccioso (urina I, RX tórax, USG ou TC de abdome) Outros (a depender da suspeita diagnóstica pela anamnese e exame clínico) TC de crânio (não é obrigatória) Líquor Eletroencefalograma Sorologias Angiografia cerebral Diagnósticos diferenciais Quadros demenciais Quadros depressivos Transtornos psicóticos como esquizofrenia Acidente vascular encefálico Estado de mal não convulsivo (ENMC), sobretudo em UTI Prevenção Intervenções não farmacológicas Estratégia mais eficaz de prevenção Multidisciplinar Mobilização precoce Mobilização pós-operatória precoce Deambulação regular Dispositivos de auxílio (bengalas, andadores) Exercícios com movimento de maior amplitude Hidratação adequada Estimular ingesta oral Hidratação parenteral SN Suporte nutricional Objetivar manter metas nutricionais Avaliação com equipe de nutrição Adequar próteses dentárias Melhora do sono Evitar procedimentos médicos ou de enfermagem durante o sono Evitar administração de medicações no período noturno Reduzir barulho à noite Controle álgico Avaliar a dor, especialmente em pacientes com dificuldade de comunicação Uso de analgésicos, preferencialmente não opioides Controle infeccioso Vigilância infecciosa Evitar cateterismo desnecessário Implementar procedimentos de controle de infecção Protocolo de medicação psicoativa Revisar a lista e o número de medicamentos Evitar medicamentos associados à precipitação dilirium: opioides em altas doses, benzodiazepínicos, anti-histamínicos, anticolinérgicos, dihidropiridínicos Benzodiazepínicos não devem ser usadas como primeira linha de tratamento de agitação associada ao delirium Benzodiazepínicos e antipsicoticos devem ser evitados para tratamento de delirium hipoativo Protocolo de hipóxia: avaliar hipóxia e saturação de oxigênio Estratégia mais eficaz de prevenção multidisciplinar Orientação ao tempo e espaço Otimização sensorial (audição e visão) com aparelhos de suporte Atividades terapêuticas para estimulação cognitiva Consultoria de equipe geriátrica: efetividade depende de adesão de equipe de rotina Manejo pós operatório Controle glicêmico Correção de anemia Controle álgico Retirada precoce de dispositivos invasivos Vigilância infecciosa Intervenções farmacológicas Poucas evidências Risperidona e olanzapina (redução de delirium em pós-operatório) Melatonina Agonistas dos receptores de maltonina (agomelatina) Tratar a causa Sobre o tratamento farmacológico Pouca efetividade em melhora do delirium Controle de agitação exclusiva Neurolépticos/antipsicóticos: Haloperidol - Em baixas doses, EV (pouco efeito sedativo) - Dose: 0,25-0,5mg a cada 20-30min, até controle - Não exceder 5mg em 24h Quetiapina - 12,5 a 25mg VO (melhor efeito no ciclo sono vigília) - Risperidona: 0,5 a 1mg VO - Olanzapina 2,5 a 5mg VO ou IM Atenção: efeito antagônico (extra- piramidais: acatisia/distonia, risco de síndrome neuroepléptica maligna), pacientes com contra-indicação (Lewy, Parkinson) Controle de sono Melatonina 3-5mg antes de dormir Ramelteon: 8mg antes de dormir Mirtazapina e trazodona (antidepressivos): opções possíveis Questões 1) Em relação ao delirium, assinale a alternativa incorreta a) A presença do delirium está correlacionada a um agravamento do prognostico do paciente, ao aumento da morbidade em curto prazo e maiores taxas de mortalidade b) Idade acima de 65 anos, imobilidade e uso de drogas como anticolinérgicos, benzodiazepínicos e narcóticos são fatores de risco associados a delirium c) Eletroencefalograma normal, perda de memória de curta intenção, início insidioso e caráter flutuante são características típicas do delirium d) Permitir que o paciente possa deambular e que ele possa fazer o uso de suas lentes corretivas ou de aparelho de audição são medidas para prevenção de delirium 2) Considera-se o delirium como um transtorno mental de origem orgânica. Sobre essa patologia, pode-se afirmar que: a) É descrito como rebaixamento do nível de consciência b) Há prejuízo progressivo da memória de fixação c) Ocorre ideia delirante sistematizada d) A orientação espacial encontra-se conservada e) Cursa com alteração primária de humor 3) Quais os fatores de risco associados ao desenvolvimento do delirium em pacientes internados na UTI? a) História de demência, hipertensão arterial e/ou alcoolismo b) Trauma de crânio e politrauma c) Extremos de idade (idosos e neonatos) d) Choque hemorrágico e pós-operatório 4) Paciente idoso apresenta quadro de delirium durante internação hospitalar. Dentre os fatores predisponentes a essa condição clínica, cita-se: a) Uso de três ou mais medicações b) Distúrbio cognitivo prévio c) Sondagem vesical prolongada d) Paciente acamado e) Paciente com atibioticoterapia prolongada 5) Qual droga de escolha para tratar agitação psicomotora (delirium) em um idoso? a) Diazepam b) Haloperidol c) Clonazepam d) Mirtazapina 6) Paciente de 58 anos com antecendente de demência vascular e com dependência total para as ABVDs é trazido por familiares por quadro de não aceitação alimentar, alteração do ciclo sono-vigília e agitação psicomotora importante há 1 dia. No exame clínico, mostrava-se desidratado, corado, em maus estado geral e muito agitado, auscultacardíaca e pulmonar normais. O abdome estava distendido, muito doloroso à palpação, com ruídos hidroaéreos aumentados e fecaloma ao toque retal. Exames laboratoriais: Hb 13g/dL, leucócitos 18.000/mm³ com desvio até mielócitos, plaquetas 300.000/mm³, Creatinina 1,5mg/dL, Ureia 280mg/dL, Na 158mEq/L, K 4,2mEq/L, Urina I com nitrito positivo e 900.000 leucócitos/mL. Qual das alternativas não contempla possíveis causas ou fatores de risco para justificar o quadro de delirium hiperativo supracitado? a) Demência prévia e infecção urinária b) Fecaloma e uremia c) Idade e leucocitose d) Hipernatremia e desidratação e) Dor abdominal Caso clínico Homem de 78 anos é trazido por familiares ao hospital, sendo internado por fratura de fêmur. No 4º dia PO, o ortopedista pede sua avaliação clínica, pois ele vem evoluindo com sonolência progressiva, confusão mental e desorientação, há 2 dias, que melhora pelas manhãs. Filha informa (há que está difícil conversar com ele) que tem HAS (usa enalapril 20mg/dia) e arritmia cardíaca (ECG: fibrilação atrial), para a qual usava dicumarínico, que foi suspenso para a cirurgia. Informa ainda que ele tinha independência para as atividades habituais diárias, porém, como usa aparelho auditivo, dependia de sua vontade de usar, o que não era regra. Evolui com febre e bastante dor, o que determinou o acréscimo de analgésicos do grupo opióides aos analgésicos usados (dipirona + AINH). Vinha com ingesta VO adequada, porém nos últimos 2 dias não aceitou nem dieta e nem água. Ao exame físico: PA 148x90mmHg, FC 140bpm, glicemia capilar 86 mg/dL, sat O2 94% em ar ambiente. Desidratado ++/++++, corado, em ritmo de fibrilação atrial ao ECG. Muito sonolento, desperto ao estimulo vigoroso, porém responde de modo confuso, desorientado, sem déficit motor, exceto membro inferior direito (local da fratura). Curativo de incisão hiperemiado, edemaciado e com secreção amarelada. Questões 1) Diagnóstico? 2) Possíveis causas? 3) Tratamento? Respostas questões 1) C 2) A 3) A 4) B 5) B ou C (mais correta: C) 6) C Respostas questões 1) Delirium (alteração aguda de consciência flutuante pois melhorava pela manhã associada a alteração do ciclo sono-vigília) 2) Desidratação, infecção de ferida operatória, fibrilação atrial, taquicardia, cirurgia para fratura de fêmur, imobilidade ocasionada pela cirurgia, dor, imobilidade (fator de risco, não causa) 3) Não farmacológico (suspender opioide, aparelho auditivo e óculos) e farmacológico (haldol 0,25mg a 0,5mg – máximo de 5mg/dia)
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