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C R I A R E A P R E E N D E R C O M O A P R E N D I A D E S E N V O L V E R A C R I A T I V I D A D E N A C O N F E I T A R I A 4 15 6 16 8 17 9 18 11 19 14 APRESENTAÇÃO BISCOITINHO SABLÉ DE CACAU DO BRIGADEIRO AO CHOCOLATE BRIGADEIRO DE CAFÉ COM NOZES MAS, E AGORA, COMO CRIAR? GANACHE DE LIMÃO SICILIANO MEU MÉTODO DE ENSINO GANACHE DE PÃO DE MEL DE AVELÃ SABORIZANDO. POR ONDE COMEÇAR? OBRIGADA MÃO NA MASSA Í N D I C E Olá, meu nome é Renata Penido e é uma alegria muito grande estar aqui pra contar um pouquinho da minha história. A P R E S E N T A Ç Ã O Eu sempre gostei de cozinha. Gostava de fazer as sobremesas das festas de família. Lembro que, com uns 8 anos de idade, fui à farmácia perto de casa comprar um ingrediente que faltava na receita: “chá de bicarbonato”. Não tinha e eu não sabia mais onde ir, porque na receita pedia uma colher de chá de bicarbonato rs... acho que fiz a receita assim mesmo, sem o tal do chá... e só à noite fiquei sabendo que colheres de sopa, chá e café eram unidades de medida. Aos poucos, a paixão por doces foi virando minha fonte de renda. Em casa não ganhávamos mesada e meus pais estimulavam a mim e a meus irmãos a ganhar nosso próprio dinheiro. Pra mim foi uma libertação: todos me chamavam de desastrada e a minha maior liberdade foi poder comprar minhas coisas e poder quebrá-las sem querer, mas sem ninguém brigar comigo rs... Com 11 anos comecei a vender brigadeiros na escola. Meus irmãos também faziam doces, brigadeiros e palha italiana. Minha irmã havia criado uma promoção e decidi fazer o mesmo: dos 25 brigadeiros que eu levava todo dia, dentro de 5 havia MMs. Quem achasse o brigadeiro premiado ganhava outro. Antes mesmo do recreio acabar, já não tinha mais nenhum! Fui sendo conhecida como a menina dos doces por onde passava. Primeiro pelas escolas, depois na Faculdade de Psicologia. Era minha fonte de renda, mas quando falavam que seria minha profissão eu ria e dizia que era apenas uma brincadeira. D O B R I G A D E I R O A O C H O C O L A T E Comecei no mundo dos brigadeiros. Brincava, saborizava, colocava até halls de uva verde na massa, meu preferido. Mas, se me falassem em chocolate, já dava medo. Não sabia nem por onde começar. Foi através de uma tia muito querida que tive meu primeiro contato. Fui até a casa dela para ter minha primeira aula de chocolate. Ela falava de temperagem, coisas complicadas. E eu entendi que usar o chocolate não era só comprar e derreter. As coisas são muito menos complicadas do que parecem. E nada como o conhecimento e a prática para deixar as coisas mais leves. Depois da faculdade, decidi que o mundo do chocolate era o que eu queria. Comecei a estudar MUITO. Tudo que eu ganhava era, ou pra reinvestir na DoceRê, ou pra investir em aprendizado. Tenho estudado sem parar desde então, e sempre aprendo coisas novas! A temperagem foi meu medo por muito tempo, e uma grande alegria que tenho hoje é poder ensinar isso no curso de Chocolataria I, tanto no Ateliê (por onde já passaram mais de 700 alunos) quanto online. Por mais que eu estudasse, fizesse cursos, sempre me deparava com uma questão, um incômodo: como criar um sabor novo? Como fazer algo meu, sem copiar a receita de outra pessoa? Me sentia frustrada por apenas seguir receitas. Se você também se sente assim, não se preocupe! Hoje, compreendo que isso faz parte do processo de aprendizagem. Não sei por quê, mas eu achava que um dia iria acordar inspirada e sair criando as coisas, do zero, e que era assim que acontecia com as outras pessoas. Aos poucos, fui entendendo que era bem diferente disso. Para a gente criar é preciso CONHECIMENTO. É preciso estudar, conhecer o porquê das coisas e, principalmente, não ter medo de brincar com sabores e arriscar. Olha, demorou bastante para eu entender isso, viu? E vejo a mesma angústia nos meus alunos. Por isso este ebook. Quero ajudar você a pensar em novas possibilidades. E não importa se você não trabalha com chocolate. As dicas que eu darei aqui servem para qualquer área da confeitaria. M A S , E A G O R A , C O M O C R I A R ? Pouco tempo atrás me pediram pra que eu definisse meu processo em um passo a passo. Fiquei impressionada de perceber que eu tinha um passo a passo, só nunca o havia “colocado no papel”. M E U M É T O D O D E E N S I N O 1BUSCAR 2OUVIR 3OBSERVAR 4EXECUTAR 5PRATICAR 6EXPERIMENTAR 7CRIAR 8TRANSFORMAR Para iniciar o processo de aprendizado começamos B U S C A N D O , claro, o que queremos e com quem queremos aprender. A partir daí, O U V I M O S , O B S E R V A M O S , tomamos notas daquilo que nos é apresentado. Após isso, E X E C U T A M O S . Nem sempre sai bom – na verdade, na grande maioria das vezes não dá muito certo – mas a persistência, através da P R Á T I C A , é o que transforma o medo, a insegurança, em uma competência verdadeira. Ótimo! Agora você já entende um pouco mais o porquê das coisas, e sabe executá-las. Como criar? E X P E R I M E N T A N D O . Fazendo da sua cozinha o seu laboratório. Mas é necessário partir de algum ponto, certo? Por isso, procure referencias de receitas que você provou e gostou. Pense em algo que você quer fazer. Por exemplo: digamos que você seja apaixonado por chás, como eu. E quer fazer um recheio com gostinho de chá. Procure, seja nas apostilas dos cursos que você já fez, seja em livros, seja no Google, receitas que levem diversos tipos de chá. Analise essas receitas e tente identificar o que elas têm em comum. Escolha a que você mais gosta e comece o seu teste. Divida essa receita. Não faça ela inteira, porque a chance de dar errado é grande, acredite, e sabemos o quanto nos custa cada ingrediente. Normalmente, eu divido as receitas em 5 ou em 10, depende do tamanho. Gosto de trabalhar com algo aproximado a 100 gramas. Logo, se a receita possui 1kg, divido por 10 e sei que vou produzir 100g daquela receita. Compreenda qual o método utilizado para saborizar a receita que você escolheu e o imite usando o ingrediente que você quer. Veja se deu certo. Se não deu, bola pra frente! Vá mudando um pouquinho as quantidades, mas sempre anotando, para que você consiga repetir depois. Já perdi muitas boas criações por não ter anotado meu passo a passo. Esse é o meu método de “experimentos”. Me ajuda a criar sem que eu desperdice matéria-prima e me sinta mais frustrada. A partir da experimentação, dou espaço ao meu P O T E N C I A L C R I A T I V O , sempre baseado no que já aprendi e nas receitas que escolhi como base. Nem sempre estamos superinspirados. Quando as coisas não estão dando certo, saia da cozinha, vá espairecer, tomar um banho, um chá ou café. Tenho certeza que você voltará outra pessoa. Entendendo um pouquinho mais sobre como funciona o seu processo criativo é possível começar a transformar a sua cozinha! Deixá-la com a sua cara, com os sabores e aromas que você quer. A cozinha vai virando seu espaço de poesia, de arte. Seu espaço de transformação no mundo. Agora que falei um pouquinho do que acredito ser um bom método de enxergar o aprendizado criativo, imagino que você já esteja com vontade de iniciar seus experimentos. Não tem nem ideia de por onde começar? Não se preocupe. Nesse ebook vou passar algumas opções para você ter de onde partir =) Pra gente começar a pensar em saborização é importante saber qual ingrediente será usado. Se são plantas, ingredientes em pó, cascas de frutas. Cada um pode ter uma aplicação diferente. Um método de saborização que utilizo muito é o da infusão a quente. A I N F U S Ã O A Q U E N T E ocorre quando fervemos um líquido e adicionamos o ingrediente do qual queremos extrair o sabor/ aroma. Tampamos o recipiente e deixamos por alguns minutos. É o mesmo processo de quando fazemos um chá, mas, no caso da confeitaria ou culinária em geral,a infusão deve ser mais longa, uma vez que ela será misturada com outros ingredientes. Depende muito do que estamos infusionando, mas normalmente deixo cerca de 20 minutos, coo e utilizo o líquido. Podemos fazer essa infusão em qualquer fonte líquida. S A B O R I Z A N D O P O R O N D E C O M E Ç A R ? Água, leite, creme de leite, manteiga, manteiga de cacau. Tudo que for líquido pode absorver sabor no método de infusão. Outro tipo de infusão que gosto muito é a I N F U S Ã O A F R I O. Você só precisa colocar o ingrediente selecionado dentro do líquido escolhido e deixar por um tempo. O aconselhável é pelo menos um dia. O extrato de baunilha, por exemplo, em que deixamos meses a fava sendo infusionada em álcool, é um tipo de infusão a frio. Aqueles azeites com alecrim que vemos em muitos restaurantes, também. Demora um pouco, mas vale a pena! Na infusão a frio temos um aroma que não é modificado a partir do aquecimento, da fervura do líquido. Por ser um processo que demanda um pouquinho mais de tempo, o exemplo de infusão que eu darei nas receitas do próximo capítulo será apenas a quente. A D I Ç Ã O D I R E TA D O I N G R E D I E N T E também é uma outra possibilidade. Ingredientes secos em geral, seja em pedacinhos, seja em pó como cravo, canela, pimentas moídas, podem ser adicionados diretamente para saborizar, no início, no meio ou no final da preparação. Podemos adicionar também ingredientes líquidos, como bebidas alcoólicas e sucos de frutas. Mas é importante estar atento ao balanceamento da receita para que isso não interfira no resultado, deixando a preparação muito líquida. Esses são os principais métodos que uso. Minha intenção aqui não é esgotar o assunto e as possibilidades, porque elas são infinitas. Mas, sim, apresentar um caminho que tive que ir aprendendo com bastante dificuldade, e que hoje me ajuda muito na minha produção e processo de criação. No próximo capítulo, vou dar de presente pra você algumas receitas que exemplificam esses processos, e algumas possíveis variações. Gosto sempre de falar em aula que receitas podemos encontrar em qualquer lugar, o importante é entender aquela receita e aqueles processos envolvidos. É muito comum, quando estou dando cursos e ensino algum recheio, uma trufa de laranja, por exemplo, me perguntarem se eu posso fazer o mesmo recheio sem a laranja, ou só com o suco, ou só com as raspas, ou trocar laranja por café, ou fazer de laranja com café. A resposta é SIM para todas as perguntas anteriores. Como você pode ver, as possibilidades são muitas. Outra pergunta comum é: e qual a quantidade que eu coloco?” Aí, voltamos ao nosso laboratório. Se for um ingrediente semelhante, trocar laranja por limão ou mexerica, por exemplo, há uma grande probabilidade de você apenas substituir o ingrediente, usando as mesmas medidas. Se for um ingrediente com características diferentes é interessante voltar ao capítulo anterior e analisar em qual tipo de saborização ele se encaixaria melhor. Por isso o sistema de laboratório criativo explicado é tão importante: pra que você tenha certeza que deu certo. Neste capítulo, vou passar algumas receitas com saborizações, para que você as use de modelo. VAMOS COMEÇAR? M Ã O N A M A S S A Ingredientes 150g de manteiga sem sal 100g de açúcar refinado 30g de farinha de amêndoas 50g de gemas 25g de cacau 240g de farinha de trigo 3g de sal Modo de preparo Bata a manteiga com o açúcar. Acrescente a farinha de amêndoas e as gemas. Por último, adicione a farinha de trigo e o sal. Leve a massa para esfriar. Abra a massa, corte os discos e asse a 160°C por, aproximadamente, 12 minutos. Possíveis substituições para o seu laboratório experimental: Caso queira fazer um biscoito que não leve cacau, substitua os 25g da receita por 25g de farinha de amêndoas. Você também pode usar farinhas de outras oleaginosas, como avelãs, castanha-do-pará ou de caju. Adicione baunilha, raspinhas de casca de limão, laranja ou mexerica. O céu é o limite! B I S C O I T I N H O S A B L É D E C A C A U Ingredientes 395g de leite condensado 200g de creme de leite 20g de grãos de café triturados grosseiramente 40g de glucose 30g de chocolate ao leite 50g de nozes picadinhas Modo de preparo Em uma panela, ferva o creme de leite. Adicione os grãos de café e cubra com plástico filme. Deixe infusionando por 20 minutos. Coe a infusão e pese-a. Adicione leite até que o peso da infusão seja de 200g. Fazemos isso porque na fervura do creme de leite se perde água e precisamos da medida certinha da infusão para que o resultado da receita seja sempre igual. Em uma panela, adicione o leite condensado, a glucose e a infusão de creme de leite. Leve ao fogo até dar ponto de brigadeiro. Com o fogo desligado, adicione as nozes. Misture um pouco e leve para esfriar. Possíveis substituições para o seu laboratório experimental: Sou apaixonada por esse brigadeiro! Acho o sabor dele extremamente sofisticado. Faço ele tanto para enrolar quanto para comer de colher. A diferença é o ponto que se tira do fogão. Gosto sempre de colocar as oleaginosas no final. O calor do brigadeiro faz com que seus óleos saiam, mas como o fogo não está mais ligado, evita que ressequem. Você pode trocar as nozes por qualquer oleaginosa, como pistache e amendoim. Nessa receita também temos uma infusão a quente. Esse método pode ser utilizado com cafés, chás, folhas, raspas de casca de fruta. Você pode fazer brigadeiro de capim- cidreira, laranja, chá verde. O que você quiser. Uma opção que eu amo é brigadeiro de hortelã. Experimente fazer e adicionar coco ralado. Fica uma delícia! B R I G A D E I R O D E C A F É C O M N O Z E S Ingredientes 550g de chocolate branco 170g de creme de leite 30g de manteiga Raspas e suco de 1 limão siciliano (75g no total). 40g de glucose Modo de preparo Esquente o creme de leite e a glucose até 60 graus. Verta sobre o chocolate. Misture até incorporar tudo. Ferva o suco de limão e deixe esfriar. Incorpore o suco e as raspas de limão na ganache. Esfrie a 35 graus e adicione a manteiga. Deixe cristalizar de um dia para o outro. Esse recheio pode ser boleado em forma de uma trufa ou utilizado em bolos e macarons. Possíveis substituições para o seu laboratório experimental: Nessa receita adicionamos suco e raspas de fruta. Aproveite para brincar com outras frutas cítricas. Laranja, limão thaiti e mexerica são algumas opções. G A N A C H E D E L I M Ã O S I C I L I A N O Ingredientes 360g de chocolate ao leite 40g de pasta de avelã 170g de creme de leite 50g de mel 3g de canela em pó 2g de cravo em pó 2g de nós-moscada em pó 30g de manteiga Modo de preparo Esquente o creme de leite, o mel e as especiarias até 80 graus. Verta sobre o chocolate. Misture até incorporar tudo. Adicione a pasta de avelã. A 35 graus adicione a manteiga. Deixe estabilizar de um dia para o outro. Possíveis substituições para o seu laboratório experimental: Na ganache acima, usamos mel no lugar da glucose. Os dois ingredientes têm potencial anticristalizante. Fazem com que o açúcar da receita não se recristalize tão rápido. Caso queira mudar a receita para brincar com outros sabores, pode ser que o sabor de mel interfira. Apenas substitua por 40g de glucose e vai dar tudo certo! Na nossa receita, adicionamos especiarias em pó e pasta de avelã. Podemos, então, brincar com especiarias, pimentas, temperos. Podemos substituir a pasta de avelã por amêndoas, nozes, caju. Experimente usar pasta de pistache e adicionar um toque de canela. O sabor é surpreendente. G A N A C H E D E P Ã O D E M E L D E A V E L Ã Eu poderia passar dias aqui, brincando com as receitas, mas agora é a sua vez! Estou muito feliz de finalizar esse ebook feito com tanto amor. Espero que você possa senti-lo em casa página, cada dica, cada receita. Quando eu comecei, havia poucas referências de como seguir o caminho da confeitaria,principalmente o da chocolataria. Me sinto extremamente honrada de estar aqui, podendo contribuir com algo. O conhecimento, quando transmitido, só nos traz ganhos. Compartilhar é amar. É compreender que o sentimento de solidariedade, parceria, pode ser maior que o sentimento de concorrência. Pense sobre isso, não economize em transmitir o que você sabe. Tenho certeza de que, juntos, somos mais fortes. Com muito carinho, Renata Penido O B R I G A D A T E D E S E J O U M D O C E C A M I N H O P E L A F R E N T E . . .