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1 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Restrição de Crescimento Intrauterino Introdução: → No brasil, está estimada entre 10-15% das gestações; → Associada ao aumento das taxas de morbidade e mortalidade perinatal (5x maior); → Maior em países subdesenvolvidos; → Países desenvolvidos: 2ª principal causa de mortalidade neonatal (a 1ª é a prematuridade); → Possui alguns sinônimos como: restrição de crescimento placentário, sofrimento fetal crônico, esses não são mais utilizados atualmente, mas devem ser conhecidos. Crescimento fetal: Fases: 1. Hiperplasia (até 16s): processo de formação fetal, crescimento e primeiros passos embriológicos; 2. Hiperplasia e hipertrofia (16-32s): cresce, se desenvolve e começa a ganhar peso, mas o foco principal nesse período é o crescimento; 3. Hipertrofia (após 32s): ganho de peso de forma significativa. OBS: é baseado na questão de peso fetal que vai se determinar o crescimento. OBS: as medidas que se usam para determinar o peso fetal são: diâmetro biparietal, circunferência cefálica, circunferência abdominal e o tamanho do fêmur, essas são as principais e são feitas pelo ultrassom a partir das 12 semanas, com isso se calcula o peso fetal e se faz então os parâmetros de percentil. Acima do percentil 90: fetos muito grandes (GIG); Abaixo do percentil 10: feto muito pequenos (PIG) – não necessariamente com restrição de crescimento fetal; Percentil 50: dentro da normalidade. Definição: Feto que não atinge o potencial esperado de crescimento devido a fatores genéticos ou ambientais. Também pode ser chamada de insuficiência útero- placentária. → RN de baixo peso, com menos de 2500g ao nascer: Pré-termo ou RCIU, PIG ou RCIU; → O conceito mais atual de pequeno para idade gestacional é o peso abaixo do percentil 10 para a idade gestacional (pode ser a termo ou pré-termo); 2 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 OBS: pequeno para a idade gestacional e restrição de crescimento uterino são conceitos diferentes, visto que nesse último o peso não se torna tão relevante em termos da restrição por si só e isso ocorreu pelo avanço com o doppler obstétrico que avalia se esse feto está ou não fazendo trocas de forma adequada, caso a mesma não esteja fazendo (alteração hemodinâmica e de oxigênio), ai sim ele terá além do baixo peso restrição de crescimento. → OMS: peso abaixo do percentil 3 para a idade gestacional Patogênese: → Não é uma doença específica, mas é a manifestação de muitos distúrbios fetais e maternos; → A clínica do sofrimento fetal crônico é “pobre”: a clinica basicamente é a mudança da altura uterina (menor do que o esperado para a IG); → A determinação da causa nem sempre é possível – 40% dos casos tem etiologia desconhecida. Etiologia: Fatores maternos: são as causas mais comuns. DM (principal característica é o crescimento maior uterino) com vasculopatia (nesses casos impede as trocas corretamente com os vasos placentários e ocorre restrição de crescimento), hipertensão arterial, doenças renais, doenças cardiovasculares e pulmonares, trombofilias (microtromboses a nível dos vasos placentários de maneira que dificulte a troca e cause restrição de crescimento), colagenoses e nefropatia hipertensiva. o Alterações vasculares → redução da perfusão sanguínea fetal → insuficiência útero- placentária Uso de substancias: cigarros, álcool, drogas ilícitas; efeito citotóxico direto ou indireto. OBS: o tabagismo é uma das maiores causas de restrição de crescimento uterino. Medicações anticonvulsivantes. Anemia falciforme e outras anemias. Nutrição materna inadequada (ganho de peso inadequado ou baixo peso prévio): causa comum nos países subdesenvolvidos Baixa estatura materna, idade avançada, gestação em adolescente, estresse, história RCIU prévio; Atividade física vigorosa. Fatores fetais: Alterações genéticas ou cromossômicas; Malformações estruturais (cardíacas, defeito de tubo neural, defeitos da parede (Gastrosquise e onfalocele, entre outros); Gemelaridade: o Crescimento semelhante ao da gestação única até 30-32 semanas; o RCIU: presente em 20% dos fetos dicoriônicos e 30% dos fetos monocoriônicos. OBS: de maneira geral uma gestação gemelar possui crescimento normal até 28-30 semanas, com crescimento fetal igual ao de uma gestação normal. Infecções congênitas no início da gestação: o Rubéola, sífilis, toxoplasmose, CMV, parvovirose, hepatite A e B, TB, malária. o 5-10% dos casos de RCIU. 3 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Crescimento fetal é determinado primariamente pelo potencial genético (infecções congênitas, alterações cromossomais ou pequeno tamanho materno tipicamente permanecem pequenas ao longo da vida). Fatores uteroplacentários: Infarto placentário, placenta prévia, artéria umbilical única, inserção velamentosa do cordão, placenta bilobada e DPP crônico; RCIU decorrente de insuficiência uteroplacentária normalmente apresenta crescimento compensatório pós-natal, se aproximando de seu potencial genético! Classificação: Simétrica: dimensões pequenas da cabeça e do esqueleto e da circunferência abdominal fetal: esse processo acontece normalmente por fatores congênitos no início, na primeira fase de hiperplasia, normalmente esses nenéns são pequenos, nascem pequenos, mas nascem bem, não apresentam hipóxia neonatal. → 10-20% dos casos; → Dano na embriogênese – hiperplasia; → Causada por fatores intrínsecos, como infecções congênitas, anomalias cromossômicas, drogas, radiações ionizantes; → Geralmente não apresentam hipóxia neonatal Assimétrica: dimensões músculo-esqueléticas e a cabeça fetal são poupadas, normais, mas a circunferência abdominal é diminuída → 75-80% dos casos; → 2º ou 3º trimestres – hipertrofia; → Fatores extrínsecos (doenças vasculares maternas, insuficiência placentária), resultam em disponibilidade inadequada de substratos para o metabolismo fetal; → Podem apresentar hipóxia e hipoglicemia. Intermediário ou misto: → 5 a 10% dos casos; → 2º trimestre: fase de hiperplasia e hipertrofia; → Comprometimento cefálico e de ossos longos, mas em menor grau que o tipo I (simétrica); → Etiologia: desnutrição materna e consumo de drogas ilícitas, álcool, fumo e cafeína; → O diagnostico clinico é difícil; → Está entre a assimétrica e a simétrica. Características do RN com RCIU: → Pele fina, descamação da pele; → Crânio desproporcional (II), suturas cranianas alargadas e fontanela aumentada; → Diminuição da massa muscular esquelética e tecido subcutâneo; → Cordão umbilical fino; → Mecônio pode estar presente; → “Neném com cara de velhinho”. Diagnostico: → Complexo e deve ser feito com dados clínicos + métodos laboratoriais + US; → Gestações de alto risco: US para confirmar IG (até 12s). Com 20s para avaliação morfológica e com 30-32s ou quando houver alterações do crescimento fetal. → Confirmação do diagnóstico apenas após o nascimento. Rastreamento com altura uterina: Método fácil e prático, mas não tão preciso quanto US; 4 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Pouco valor em apresentação transversa, gestação gemelar, polidrâmnio e obesidade materna extrema; Diagnóstico quando medida menor que percentil 10; Acompanha com concordância entre 18-30s; Medida 3cm inferior à IG é sugestiva de RCIU. Ultrassonografia: Maneira mais precisa de avaliação; DBP, CC, CA, CF (4 parâmetros citados anteriormente); Estima peso e define percentil; US 3D: medições volumétricas fetais tridimensionais tem melhor capacidade de estimar peso fetal; Redução gliconeogênese pelo menor aporte nutricional -> perda de tecido adiposo abdominal e redução do tamanho hepático -> redução CA (indicador mais sensível).Estudo com doppler: Exame mais completo e que detecta mais precocemente diminuição da perfusão fetal; Diferencia o feto pequeno por insuficiência placentária do pequeno constitucional; Detecta alterações ainda na forma compensada; Avalia o nível de resistência dos vasos fetais; Ele que determina o diagnostico e o prognostico da doença assim como a própria conduta, não se faz nada em relação a restrição de crescimento sem doppler. Doppler umbilical: → A artéria umbilical é um vaso de baixa resistência, na insuficiência há um aumento da resistência, relaxamento do vaso as vezes chega sumir; → Achados anormais: RI> 0,6 em ≥ 28 semanas, diástole zero, diástole reversa. Doppler de a. cerebral média: → Centralização: feto prioriza fluxo para coração, cérebro e suprarrenal; → Ocorre aumento do fluxo nas a. carótida interna e cerebral média – neste caso o fluxo da a. umbilical está menor que o cerebral; → Relação umbilico-cerebral maior ou igual a 1 ou índice de pulsatilidade > 1 = centralização fetal; → Centralização: redução da resistência e aumento do fluxo cerebral. Isso ocorre porque prioriza os órgãos centrais. OBS: aumenta a resistência da artéria umbilical e diminui a resistência da artéria cerebral media e é basicamente isso que o doppler observa. Quando o neném é pequeno, mas normal, o doppler não mostra essas alterações, avalia que é só um neném pequeno normalmente. Doppler venoso (ducto venoso): → Avalia fetos prematuros com alterações do doppler arterial; → Reflete a função cardíaca fetal = exame alterado é sinal de descentralização e hipoxemia muito grave; → Relacionado com acidemia fetal: S: 71%. E: 94%. Acidemia com ducto venoso anormal foi de 84%; → É um parâmetro isolado na decisão de interrupção! 5 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 OBS: doppler está alterado, vê o nível de alteração, até que chega a fluxo reverso na artéria umbilical, a diástole reversa mostra que não está mais chegando, a resistência umbilical esta ruim e ele vai ter que ter a gestação interrompida. Conduta: Avaliar: → IG, etiologia da RCIU; → Probabilidade de sobrevivência fetal extrauterina; → Nível de experiência e recursos tecnológicos da instituição de tratamento. → Estudo de cariótipo fetal: indicado na RCIU grave precoce (<24s), diante de volume de ILA normal ou de anomalias estruturais; → RCIU tipo I grave ou USG com indicativos de infecção – solicitar sorologia materna para rubéola, CMG, varicela-zoster e toxoplasmose; → LEMBRAR DE DIMINUIR CORTICÓIDE ENTRE 24 E 34 SEMANAS!!! Complicações: → Parto prematuro e suas complicações: enterocolite necrosante, síndrome desconforto respiratório, displasia broncopulmonar; → Estado de má oxigenação crônica e deprivação de nutrientes; → Asfixia perinatal; → Hipotermia; → Outras complicações metabólicas. Prevenção: → Uso de AAS antes das 16 semanas: fazer doppler de artérias uterinas e, se alteradas, usar; → Ecografia no primeiro trimestre – para diminuir erro de data; → Alimentação adequada; → Controle dos fatores de risco.
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