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Prova 3 – Genética Médica – 2021/1 Nome: Estéfany de Paula Paiva 13/09/2021 1. Descreva a MEN1 e MEN2: características clínicas, diagnóstico, manejo, acompanhamento e tratamento. ● MEN1 – Síndrome de Neoplasia Endócrina Múltipla do tipo 1, é causada por um gene supressor de tumor que possui o mesmo nome da síndrome: MEN1. É caracterizada por: - Adenoma de pituitária (20%) - pode ser não funcional e também funcional. Caso seja funcional pode haver produção de hormônios como: prolactina, sendo classificado como prolactinoma de pituitária; ACTH e tem-se a síndrome de Cushing; também há possibilidade de produzir GH resultando numa acromegalia. A vigilância é buscar os níveis desses hormônios no sangue (exame endócrino) e fazer uma ressonância pituitária a cada 3 anos. - Hiperparatireoidismo Primário (95%) - hiperplasia de 4 glândulas (paratireoides), resultando em alta produção de paratormônio. O diagnóstico é feito vendo o nível de paratormônio no sangue e como esse hormônio controla os níveis de vitamina D e cálcio é possível fazer diagnóstico através destes. Tratamento para reduzir os níveis de paratormônio no sangue é feita uma cirurgia em que se remove 3,5 das glândulas e deixa metade de uma para suprir as necessidades de paratormônio do organismo. - Tumor neuroendócrino primário (20-80%) - pode ser não funcional ou funcional. Caso seja funcional, pode produzir insulina - insulinoma, gastrina - gastrinoma, VIP - VIPoma, glucagon - glucagonoma. Acompanhar esses níveis no sangue, ressonância abdominal, endoscopia, ultrassom e níveis de gastrina. Clínica que também apresenta: - Síndrome gastrinoma duodenal - Adenoma de adrenal - Tumor neuroendócrino de timo e pulmão - Angiofibroma e colagenoma Acompanhamento: revisão das ressonâncias abdominais, imagem de tórax (linha de base e a cada 2-5 anos). ● MEN2 - Neoplasia endócrina múltipla tipo 2, de gravidade muito superior que a MEN 1, causada por proto-oncogene RET (um dos pouquíssimos exemplos de proto-oncogene causando síndrome hereditária com predisposição a câncer, via de regra todos são supressores de tumor, acredita-se que os oncogenes quando ativados não passam pela gestação). É dividida em dois subtipos e suas respectivas clínicas: Tipo 2A - carcinoma medular de tireoide MTC (~90%), tumor muito agressivo de altíssimo risco, metastiza fácil, paciente vem a óbito rapidamente - hiperparatireoidismo (pHTP) (~25%) - Feocromocitoma (~50%) - cisteína 630 e 634 Tipo B (mais grave ainda) - MTC (~100%) ocorre mais precocemente - habitus marfanoide aparência de uma síndrome de Marfan - neuromas mucosos - feocromocitoma (~50%) - M918T Tratamento e acompanhamento: Fazer tireoidectomia eletiva antes do 1 ano de idade para salvar o paciente (MEN2B) ou antes dos 5 anos de vida (MEN2A). Acompanhamento anual dos níveis séricos de Ca (pHTP) e metanefrina sérica também (PPC). PCC sempre tem localização adrenal e produção de metanefrina. 2. Explique como os tipos histopatológicos de tumores renais podem nos orientar quanto a possível síndrome associada ao tumor. Determinados tipos de tumores renais nos reportam a síndromes específicas de predisposição e as características histológicas apresentadas pelas células do tumor auxiliam no diagnóstico dessas síndromes que apresentam atributos e tratamentos diferentes umas das outras. - Tumor renal de células claras, é um tumor característico de síndrome de Von Hippel-Lindau (VHL) e feocromocitoma. Apresenta focos múltiplos e bilaterais nos rins, crescimento lento, metastatiza muito pouco, aplica-se regra dos 3 cm em que não se faz nada com o paciente até que o tumor tenha 3 cm de diâmetro, quando chega este ponto retira o tumor e deixa o máximo de rim possível possibilitando uma qualidade de vida melhor. - Tumor papilar renal tipo 1 é característico da síndrome do carcinoma papilar hereditário, em que o oncogene responsável é o MET. Também se usa a regra dos 3 cm. Se o paciente tiver tumor papilar tipo 1 e uma história familiar de tumor renal tem-se praticamente 100% de chance de detectar a mutação do oncogene MET. Se ele apenas tiver o câncer e não tiver nenhum familiar com tumor renal as chances são mínimas de conseguir detectar a mutação no oncogene MET. - Células cromófobas, híbridas e oncocitomas são característicos de uma síndrome causada pelo gene foliculina, síndrome de Birt-Hogg-Dubé. Também se usa a regra dos 3 cm. - Tumor papilar renal tipo 2 é característico da síndrome chamada de leiomiomatose hereditária e carcinoma renal, causada pelo gene fumarato hidratase. Não faz regra dos 3 cm por se tratar de uma síndrome agressiva, vai operar o mais rápido possível deixando o máximo de tecido renal viável possível (paciente provavelmente vai evoluir mais rapidamente para hemodiálise do que os outros), fazer ressonância anual e pedir para fatiar a imagem de 1 em 1mm para pegar tumores pequenos. - Síndrome rara patologista quem diz qual dos genes é responsável se é TFE3, TFEB, MITF, também é agressiva. - angiomiolipoma e os genes TSC1 e TSC2, são característicos da síndrome de esclerose tuberosa tipo 1. - Tumor oncocítico são causados pelos genes succinato desidrogenase SDHA, SDHB (mais agressivo), SDHC, SDHD (segundo mais agressivo) e SDHAF2 (só herda a síndrome se receber a variante patogênica do pai vale também pro SDHD), causam a síndrome de paraganglioma e feocromocitoma hereditários, caráter genético hereditário é altíssimo. Não faz regra dos 3 cm por se tratar de uma síndrome agressiva, vai operar o mais rápido possível, fazer ressonância anual e pedir para fatiar a imagem de 1 em 1mm para pegar tumores pequenos. - Tumores de células claras e cromófobas característico da síndrome de Cowden causada pelo gene PTEN. 3. Descreva (características clínicas, diagnóstico, manejo, acompanhamento e tratamento) a. Von Hippel Lindau - o paciente tem alteração ocular angioma de retina (59% dos casos) e também tumores benignos de cerebelo e de coluna hemangioblastoma (44-72% dos casos). Outros achados comuns são: cistos pancreáticos (56%), tumores neuroendócrinos de pâncreas (17%), cistoadenoma de epidídimo (57%), feocromocitoma (15%) - não pode levar para cirurgia risco de morte, tumores do saco endolinfático. O tumor apresenta focos múltiplos e bilaterais nos rins, crescimento lento, metastatiza muito pouco, logo aplica-se a regra dos 3 cm, em que não se faz nada com o paciente até que o tumor tenha 3 cm de diâmetro, quando chega este ponto retira o tumor e deixa o máximo de rim possível possibilitando uma qualidade de vida melhor. Acompanhamento: ressonância magnética nuclear a cada 2 anos e acompanhar o tamanho dos tumores, não faz TC por conta da radiação, US não é bom o suficiente. Diagnóstico é possível pela existência de painéis genéticos (cerca de 90% dos pacientes com VHL conseguem ser diagnosticados). b. Birt Hogg Dube - causada pelo gene foliculina, apresenta ambos os rins povoados com tumores e se manifesta precocemente na casa dos 20 anos. Cursa com algumas outras características clínicas, principalmente, fibrofoliculoma na face, nariz, testa. Também se observa pneumotórax espontâneo, em que pacientes apresentam episódios de dor por pneumotórax sem nenhuma causa aparente. Nesta síndrome, se aplica a regra dos 3 cm, que consiste na retirada cirúrgica do tumor quando este apresenta 3 cm de diâmetro. Acompanhamento: ressonância magnética nuclear a cada 2 anos e acompanhar o tamanho dos tumores, não faz TC por conta da radiação, US não é bom o suficiente para identificar os tumores menores. Diagnóstico é feito identificando a mutação no gene foliculina quase 95% dos casos, ou por mutações por mudança no quadro de leitura ou mutações do tipo sem sentido, que causam proteína truncada, e, ainda, algumas são deleções, cerca de 20%. c. LeiomiomatoseHereditária e Câncer Renal - é chamada assim pois existe a manifestação da síndrome por leiomiomas em vários locais do corpo, inclusive na pele - cutâneo, interinos (fibroide - mioma no brasil), carcinoma renal (ambos os rins povoados com tumores) e hiperplasia da adrenal em cerca de 8% dos pacientes. Manifestações cutâneas: piloleiomioma do eretor da pili e mioma de útero. Nesta síndrome não se aplica a regra dos 3 cm, uma vez que se trata de uma síndrome agressiva, e assim vai operar o mais rápido possível (paciente provavelmente vai evoluir mais rapidamente para hemodiálise do que os outros), fazer ressonância anualmente e pedir para fatiar a imagem de 1 em 1mm para pegar tumores pequenos. O diagnóstico em 93% dos casos apresenta mutações do tipo missense, em segundo lugar mutação do tipo troca do quadro de leitura e em terceiro mutações do tipo sem sentido causando proteínas truncadas e deleções grandes em 10%. A questão sobre quando testar uma criança pertencente a uma família que possui a síndrome é discutível: nos EUA recomendam testar bem precocemente pois já detectaram em uma criança com 9 anos de idade, e na Europa recomenda-se testar com 16 anos de idade. d. Feocromocitoma e Paraganglioma Hereditário - causadas pelos genes succinato desidrogenase SDHA, SDHB (mais agressivo), SDHC, SDHD (segundo mais agressivo) e SDHAF2 (só herda a síndrome se receber a variante patogênica do pai vale também pro SDHD), a síndrome possui caráter genético hereditário é altíssimo, ambos os rins povoados com tumores. Os tumores associados são: paragangliomas (5-80%), câncer renal <5%, tumor pituitário <5% e tumores gastrointestinais estromais (GIST) <5%. Cerca de 30% dos pacientes de feocromocitoma/paraganglioma são pacientes com predisposição à síndrome, mesmo na ausência da história familiar recomenda-se testar. Não faz regra dos 3 cm por ser tratar de uma síndrome agressiva, vai operar o mais rápido possivel, fazer ressonancia anual e pedir para fatiar a imagem de 1 em 1mm para pegar tumores pequenos.Procurar fazer diagnóstico o mais rápido possível através do sequenciamento dos genes responsáveis à procura de mutações. 4. Descreva (características clínicas, diagnóstico, manejo, acompanhamento e tratamento) a. Doença de Cowden - é causada pelo gene PTEN. Se faz diagnóstico por causa de características como a macrocefalia, pois é uma síndrome macrossômica (o paciente é todo grande ou parte do corpo é todo grande e a outra não). Essa síndrome cursa com câncer de mama, câncer de tireoide endometrial, queratose acral, macrocefalia >97%. O diagnóstico molecular é capaz de fazer a detecção de, aproximadamente, 80-85% das mutações do tipo deleção em 13% dos pacientes. O tratamento é discutível e objetiva sobretudo à melhora da aparência estética das lesões e à busca ativa de neoplasias associadas. b. Esclerose Tuberosa - genes responsáveis: hamartina ~20% e tuberina ~60%. Característica mais importante: angiomiolipoma. Clínica: angiofibromas, manchas hipomelanóticas, tumores corticais, lesão de pele chamada shagreen patch, linfangioleiomiomatose (LAM), hamartoma de retina, fibroma periungual e câncer de rim. Cerca de 2 ⁄ 3 dos pacientes têm TSC por causa de nova mutação. Os pacientes com essa síndrome em boa parte apresentam déficit intelectual. Riscos de câncer associado: astrocitoma de células gigantes, rabdomioma, sarcoma cardíaco e angiomiolipoma. O tratamento consiste no alívio do quadro clínico. c. Neurofibromatose 1 e 2 - Neurofibromatose 1: neurofibromas pelo corpo todo, muito comum manchas de coloração café com leite. Diagnóstico clínico é feito através 6 ou mais manchas café com leite pelo corpo, 2 ou mais neurofibromas de qualquer tipo ou 1 neurofibroma plexiforme, sardas em regiões sem exposição solar (exemplos: axila e região inguinal), glioma do nervo óptico, nódulos de Lisch (tumores benignos, hamartomas, na íris do olho), duas ou mais lesões ossificantes, especialmente a displasia do esfenóide e pseudoartrose tibial. Caso o paciente seja membro de uma família que tenha a doença, qualquer um dos sintomas ou manifestações já fecha o diagnóstico de NF. Riscos para câncer: gliomas ópticos, tumores de bainhas neural, feocromocitomas e leucemia mielomonocítica juvenil, gliomas cerebrais e neurofibromas plexiformes. Neurofibromatose 2 - síndrome completamente diferente da NF1, raramente tem mancha café com leite e o que a caracteriza são os schwannomas vestibulares. Se o paciente apresentar schwannoma bilateral do acústico já se tem o diagnóstico clínico de NF2, se tem schwannoma unilateral e associado a este tem um meningioma, schwannomas, gliomas, neurofibroma, opacidades subcapsulares lenticular também têm-se o diagnóstico de NF2. Não existe um tratamento que garanta a cura ou que impeça o aparecimento de novos tumores, logo trata-se os tumores que aparecem. d. Síndrome de Gorlin - apresenta centenas de tumores basocelulares de pele, paciente tem que fazer retirada de tumor basocelular de pele a cada 6 meses, causada pela mutação no gene PTCH. Cursa com a probabilidade de câncer de pele basocelular, principalmente, mas também espinocelular. Outras características vistas na clínica são: macrocefalia, testa proeminente características rudes da face, polidactilia, fenda palatina e palmar pits (pequenas fossas nas mãos do paciente). O diagnóstico é feito com raio x de crânio, que apresenta calcificação da foice do cérebro e cistos de mandíbula. O tratamento é baseado em terapêuticas para as possíveis manifestações clínicas. 5. Quais as consequências esperadas e como adequar a dose do medicamento no caso de: O problema esperado vai depender da droga que se toma, se toma já na forma ativa (a droga que se toma e ela já vai exercer o efeito dela) ou na forma de pró-droga (exemplo codeína que tem que ser convertida em morfina para chegar ao seu estado ativo) a. Metabolizador lento/pobre tomando pró-droga - eficácia diminuída (não vai ser convertida de modo eficiente em droga ativa), pró-droga pode se acumular; pode exigir uma dose mais baixa para evitar o acúmulo tóxico ou pode exigir um medicamento alternativo. b. Metabolizador lento/pobre tomando droga ativa - maior eficácia, metabólito ativo pode se acumular por eliminação ruim; geralmente requerem uma dose menor para evitar o acúmulo tóxico. c. Metabolizador ultrarrápido tomando pró-droga - maior eficácia converte a pró-droga rápido demais, apresentando níveis muitos altos da droga que pode ser tóxico ou até fatal; rápido início de efeito; pode exigir uma dose mais baixa para evitar o acúmulo excessivo de medicamento ativo. d. Metabolizador ultrarrápido tomando droga ativa - eficácia diminuída em um tempo muito pequeno se elimina a droga; droga ativa rapidamente inativada; geralmente requer uma dose mais alta para compensar a inativação. Nesses casos extremos não se tem adequação de doses, e sim uma troca de medicamento. 6. Explique quais os melhores dias para se fazer o diagnóstico de Covid por: a. RTPCR - a janela ideal é do terceiro ao nono dia (estudos mostram que até o décimo quinto dia teríamos RTPCR positivo), para grande maioria que tem infecção rápida a janela pode até ser menor, por ser um exame que já tem um falso-negativo alto (cerca 40% de falso negativo) e uma coleta desconfortável, o que pode gerar erros no momento da coleta do material, depois do contato com o vírus a pessoa desenvolve em cerca de dois dias (variável, depende do inóculo) os sintomas e a doença. b. Sorologia - (verificação da presença de anticorpos) para verificar se foi exposto e desenvolveu imunidade representada pelo IgG, pede-se 19 dias, minimamente duas semanas depois do aparecimento dos sintomas, para se ter uma garantia de que se tem IgG. 7. Como são desenhados os primers para diagnóstico molecularde Covid por RTPCR? Quando se desenha um teste de RTPCR não se faz uma reação para apenas um local do genoma do vírus. As empresas distribuem os primers para várias partes do genoma do vírus com a finalidade de evitar falso-positivo e também para aumentar a sensibilidade do teste, ou seja, diminuir os falsos-negativos. Via de regra são escolhidos pelo menos três locais diferentes de interesse para serem amplificados, por exemplo um gene codificante de um polipeptídeo não estrutural e outros dois genes de polipeptídeos estruturais, ou seja, três pares de primers diferentes. As empresas também têm colocado esses primers ou sondas de taqman em regiões que identificam variantes do vírus e os testes vão mudando de acordo com o aparecimento das novas variantes. 8. Descreva os sintomas clínicos ou histórias familiares que te chamam atenção para um possível Erro Inato do Metabolismo. Descreva também como fazer o diagnóstico de um EIM e como tratar. Escolha 3 EIM e descreva as doenças. Os EIM se manifestam com apresentação clínica variada, conforme o defeito específico, podendo ter manifestações típicas ou atípicas. É comum também terem um espectro amplo de gravidade e que pode se iniciar em diferentes fases da vida. Alguns dados que podem sugerir uma EIM são: história de morte precoce em crianças na família, sem que se tenha uma causa definida; consanguinidade entre os pais (as EIM são autossômicas recessivas e isso é um fato indicativo da possibilidade do filho apresentar um problema porque os pais são ambos portadores); encefalopatia inexplicável que pode ocorrer em qualquer idade e de forma recorrente (algumas vezes pode ser intermitente); episódios de hipoglicemia, acidose metabólica e desequilíbrio hidro-eletrolítico (uma enzima sem função acaba gerando uma reação em cadeia na tentativa de recuperar ou diminuir os níveis de substrato acumulado, criando essas reações secundárias e terciárias); regressão neurológica e retardo mental (intoxicação neuronal por moléculas pequenas, por exemplo na fenilcetonúria); hepatomegalia e/ou esplenomegalia (situações mais crônicas, relacionados aos erros inatos de enzimas lisossomais); déficit de crescimento e/ou alterações ósteo-articulares. Para realizar o diagnóstico, primeiro há uma suspeita clínica relacionado com os dados descritos anteriormente; depois segue-se para testes de triagem para saber se existe alguma esfera do metabolismo que possa detectar alguma alteração, não são testes muito sensíveis e possuem a tentativa de aumentar a sensibilidade, caso o resultado dê positivo para EIM deve-se dirigir a investigação para uma área mais específica do metabolismo e isso gera outros testes (como testes moleculares) para definir qual é a enzima em questão. A classificação dos erros inatos podem ser feitos em três grandes grupos: 1- doenças que causam intoxicação (são geralmente moléculas pequenas e que quando passam de um limite de sensibilidade neuronal o quadro se instala bem rapidamente), 2- doenças que envolvem o metabolismo energético (caracterizadas pela hipotonia) e 3- doenças envolvendo acúmulo de moléculas complexas (abdome distendido e fácies tosca, relacionadas com enzimas lisossomais). Uma vez chegado ao diagnóstico de EIM e descoberto qual a enzima responsável pela doença, pode-se fazer o tratamento através de reposição enzimática da enzima deficiente, dietas especiais (por exemplo: dieta pobre em fenilalanina para tratar fenilcetonúria no início da vida, desde a fase neonatal) ou dietas cetogênicas. - Doença da urina do xarope do bordo (DXB) - pertence ao primeiro grupo das doenças relacionadas com moléculas pequenas. Nessa doença tem-se o acúmulo dos aminoácidos de cadeia ramificada no sangue (leucina, isoleucina e valina). São crianças que apresentam letargia, sucção débil, hipotonia de tronco, hipertonia de membros e odor da urina característico do xarope do bordo. - Defeito de oxidação de ácidos graxos - pertence ao segundo grupo das doenças caracterizadas pela hipotonia. Nessa doença as crianças apresentam: déficit de crescimento, hipotonia, cardiomiopatia (às vezes são acometidas por infarto), aumento das enzimas musculares, falta de força muscular, falta de energia e síndrome da morte súbita. - Mucopolissacaridoses - pertence ao terceiro grupo das doenças que envolvem acúmulo de moléculas complexas. Nessa doença as crianças apresentam: fácies tosta (rosto infiltrado), hepatoesplenomegalia (abdome distendido), infiltração na córnea (catarata infantil) e deformações ósteo-articulares. 9. Descreva: a. Porfiria Aguda Intermitente - acomete em sua maioria mulheres com uma dor abdominal muito intensa (sintoma mais marcante) geralmente na segunda metade do ciclo menstrual, por acúmulo de porfobilinogênio que acaba gerando a sensibilidade neuronal e que pode simular uma necessidade de intervenção cirúrgica. O gene responsável por essa doença é o HMBS (distúrbio metabólico raro na produção do grupo Heme). Achados clínicos: fraqueza, início após a puberdade, ataques agudos de dor abdominal muscular, neuropatia, histeria, ansiedade (todos os sintomas são reflexo dos efeitos da proteína porfobilinogênio deaminase sobre o sistema nervoso). Durante o momento da crise a paciente apresenta urina escura, que reflete o aumento de ALA e porfobilinogênio. Deve-se tentar descobrir os gatilhos da crise (pode ser algum medicamento, infecção, fumo e etc) para tentar evitar que a paciente se exponha à eles, sendo isso a forma de tratamento dessa doença. O diagnóstico se dá pelo sequenciamento do gene HMBS e a urina do paciente no momento da crise. b. Alfa e Beta Talassemias - Ambas representam distúrbios na formação da hemoglobina causando anemia. ALFA - dois genes são responsáveis: HBA1 e HBA2, doença de herança autossômica recessiva. Clínica: quando se tem a perda de função de um dos quatro genes alfas o paciente apresenta o estado de portador assintomático e não apresenta sintomas; se há perda de dois alelos dos quatro genes alfas o paciente apresenta o traço talassêmico que também não há sintomas, mas que no exame de sangue se observa uma anemia microcítica; se há perda de três dos quatro alelos o paciente apresenta a doenças da hemoglobina H, com sintoma de anemia hemolítica, esplenomegalia, alterações esqueléticas e uma clínica semelhante a talassemia beta; também há a possibilidade de perder a função de todos os quatro alelos que representa uma possibilidade incompatível com a vida. O diagnóstico pode ser feito por eletroforese de hemoglobinas e teste molecular em que é feita a análise de deleções (90%) e sequenciamento de mutações (10%). Detalhe importante é que duas cadeias alfa participam de todos os tipos de hemoglobina. Tratamento que pode ser feito é durante as crises realizar transfusões sanguíneas. BETA - é semelhante a talassemia alfa porém não é tão grave. O gene responsável é o HBB. Clínica: se o paciente perde um dos dois alelos ele apresenta o traço beta-talassêmico e se ele perde os dois alelos, apresenta talassemia clássica ou anemia mediterrânea de Cooley. Os sintomas apresentados são: anemia severa e sobrecarga de Fe. O diagnóstico pode ser feito por exame de sangue em que apresenta anemia microcítica, com redução de HBbeta, e por exame molecular que consiste no sequenciamento da mutação (ausência de cadeia beta). O tratamento requer transfusões regulares e quelação do Fe para reduzir a sobrecarga. Sem tratamento o paciente vive até os 30 anos, com tratamento pode chegar na década dos 50 anos. c. Síndrome de Di George - deleção do cromossomo 22 no braço longo causando algumas malformações cardíacas congênitas. Detectadas através de exame de cariotipagem. Ainda não se tem certeza de qual gene é o responsável pela doenças, mas o mais provável é o gene TBX1. Doença do tipo autossômica dominante e a maioria, cercade 93% é do tipo mutação de novo, ou seja, surge na gametogênese de um dos pais. Clínica: tetralogia de Fallot, anomalias conotruncal e interrupção do arco aórtico (sintomas mais importantes observados em ~74% dos pacientes). O teste diagnóstico molecular é feito através do FISH ou MLPA que são capazes de detectar deleções grandes (deleções da região crítica DG ~95%). O tratamento são as cirurgias para correção das anomalias cardíacas. d. Alagille - síndrome que apresenta má formação de ductos hepáticos biliares (escassez, percebida através de uma biópsia, patologista ajuda no diagnóstico). Os genes responsáveis são: JAG1 e NOTCH2. Clínica: mais importante é a identificação da escassez de ductos biliares em biópsia hepática e além disso, tem-se defeitos cardíacos (são mais comumente a causa de óbito das crianças com essa síndrome). Diagnóstico se dá pela biópsia hepática ou sequenciamento de JAG1. O tratamento é o transplante de fígado e cirurgias para tratar as anomalias cardíacas. 10. Descreva: a. Brugada - síndrome de morte súbita. Caso o paciente relate morte familiar por volta dos 40 anos dormindo, atente-se para essa síndrome, em especial, se tiver fácies chinesa (essa síndrome é mais comum em pacientes com descendência asiática). É causado por deficiência no canal de sódio, sendo o gene SCN5A o responsável. Clínica: síncope e respiração agonizante noturna, alto risco para arritmias e morte súbita (paciente tem fibrilação e infarta dormindo). Diagnóstico é feito através do sequenciamento do gene SCN5A. O tratamento é o paciente andar com desfibriladores implantáveis. b. Leopard - cada letra representa uma característica da síndrome,é causada por perda de função de um gene da via do ras. Os genes responsáveis são: PTPN11 ou RAF1. Clínica: Lentigo, alterações no eletrocardiograma, hipertelorismo ocular, estenose de válvula pulmonar, anomalia da genitália, retardo no crescimento e surdez sensorial. O diagnóstico é feito através de ECG, ecocardiograma e sequenciamento do gene PTPN11. O tratamento é tratar os defeitos cardíacos e surdez. c. Noonan - ganho de função de um gene da via do ras (pode ser o mesmo gene da síndrome de Leopard) também apresenta malformação cardíaca. Os genes responsáveis são: PTPN11, SOS1, KRAS1, NRAS, CBL e SHOC2. Clínica: as principais características são cardiomiopatia hipertrófica e má formação renal. O diagnóstico é feito através de ecocardiograma e ultrassom renal. O tratamento é de cuidados cardiológicos. d. Hemofilia A e B - Ambas são distúrbios de sangramento (problema na cascata de coagulação) e também são doenças ligadas ao X recessivo, logo os homens são acometidos e mulheres são portadoras. Na hemofilia A o gene responsável é o F8 e na hemofilia B o gene é o F9. Clínica: hemartrose (especialmente as articulações maiores que suportam mais peso, como a do joelho), sangramento intracraniano, hematomas profundos, sangramento prolongado no pós-operatório e sangramento nasal (especialmente em climas mais secos). Para ambas hemofilias existem três possibilidades de situação conforme o tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA): severa tem-se o nível abaixo de 1% do normal, a moderada o nível está entre 1 a 5% do normal e a leve tem-se o nível está entre 5 a 35% do normal (na hemofilia B é de 6 a 30%). Um detalhe importante é que 10% das mães portadoras apresentam hemofilia leva por apresentar atividade de TTPA abaixo de 35%. O diagnóstico da hemofilia A tem um facilitador é que no teste molecular, cerca de 45% dos pacientes com a forma severa, apresentam inversão do íntron 22 de F8; na hemofilia B o diagnóstico se dá por sequenciamento do F9. O tratamento é feito através do concentrado de Fator VIII nas crises de hemofilia A e de Fator IX nas crises de hemofilia B.