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Toxicologia – 4ª fase Maria E. Sborz O monóxido de carbono (CO) é um gás inodoro, insípido e incolor, produzido pela combustão incompleta de qualquer substância que contenha carbono. Suas manifestações clínicas dependem da quantidade e tempo de exposição. A fonte mais comum de monóxido de carbono inalado é a combustão incompleta de combustíveis fósseis, o que ocorre em incêndios domésticos, uso de fornos domésticos, fogões, aquecedores residenciais e de água, além do escape dos veículos. Ele é rapidamente absorvido pelo pulmão e seu tempo de meia vida é de 252 minutos Mecanismo de ação O MO ligasse à hemoglobina (proteína presente nos glóbulos vermelhos e a responsável pela coloração vermelha do sangue. Essa proteína, que tem como função o transporte de oxigênio pelo organismo. Grupo heme, que contém ferro, que leva o O2) → formando um complexo denominado de carboxi-hemoglobina → substância que tem afinidade 300 X superior ao Oxigênio → essa substância compete com o oxigênio e ele não consegue se ligar à célula → diminuição da distribuição do oxigênio para as células → hipóxia celular → diminuição da distribuição do oxigênio para os tecidos. O MO também se liga à mioglobina (proteína está presente no músculo cardíaco e nos outros músculos do corpo, fornecendo o oxigênio necessário para a contração muscular) → 60X maior que o O2 → arritmias. Aumento do estresse oxidativo: Ligação à enzima Citocromo-oxidase (faz parte do complexo 4 da cadeia transportadora de elétrons, que oxida o NAD e o FAD → conduz ao O2 → ligação com H2O) presente nas mitocôndrias, faz metabolismo dentro dela e causa estresse oxidativo, causado pela liberação de radicais livres, EROS, que vai prejudicar metabolismo de substâncias do nosso corpo, como dos lipídios, por exemplo. → consequente dano mitocondrial, além de eventos inflamatórios culminando em alterações isquêmicas cerebrais e miocárdicas. Temos moléculas antioxidantes, sistemas enzimáticos (carbalase) e não enzimáticos (água, glutationa...). Glicose → glicólise (produz NADH) saldo de 2 ATP → piruvato → Acetil-Coa → Ciclo de Krebs → 32 ATP → vai ter queda da produção de ATP → o complexo 4 vai ser inibido → não consegue detoxificar todas as EROS → apoptose das células pelo aumento das EROS. No cérebro, simultaneamente ao estresse oxidativo perivascular, há ativação de aminoácidos excitatórios e morte de células neuronais; No músculo cardíaco, o CO liga-se à mioglobina com afinidade 60x superior ao oxigênio, com risco de arritmias e piora do quadro isquêmico; A hipotensão é resultante da depressão miocárdica (tanto pela ligação do CO à mioglobina quanto pela ligação do MO à hemoglobina, diminuindo oferta de oxigênio) e vasodilatação. A toxicidade depende tanto da concentração de CO inalado quanto da duração e ambiente da exposição; As manifestações em relação à inalação sofrem influência de fatores como idade do paciente, taxa metabólica, atividade física, função pulmonar e a presença de doença pulmonar ou cardiovascular; O nível de CO no ambiente de 100 ppm geralmente está relacionado a níveis de carboxiemoglobina de 16%, o que já é capaz de produzir sintomas. Manifestações clínicas Intoxicação leve a moderada: A manifestação clínica mais comum é a cefaleia. Também é frequente a presença de tonturas, náuseas, vômitos, fraqueza, confusão e letargia devido à hipóxia (neurotoxicidade) Intoxicação grave: Manifestações relacionadas à neurotoxicidade. Os efeitos graves relacionados à intoxicação são: síncope, convulsões, alteração do estado neurológico, ataxia, arritmias cardíacas, isquemia miocárdica, acidose metabólica (hipofunção pulmonar de excretar CO2), podendo evoluir para coma e óbito Efeitos neurocognitivos podem se desenvolver entre 2 e 40 dias da exposição, podendo ocorrer demência, síndromes amnésicas, psicose, parkinsonismo, coreia, apraxia, neuropatias, dificuldade de concentração e alterações de personalidade. *Acompanhar paciente* Cérebro e coração são altamente dependentes do O2. Estando o transporte desta molécula afetado, terão suas funções deprimidas. Depressão da função cardíaca devido à falta de O2 para realizar o metabolismo dos miócitos e gerar ATP e ação vasodilatadora do monóxido de carbono → hipotensão. Acidose metabólica: diminuição de O2 e de ATP → compensação → conversão do piruvato em lactato → diminuição do PH. Toxicologia – 4ª fase Maria E. Sborz Alteração do ritmo cardíaco → disfunção das bombas de sódio e potássio → células marcapasso do coração não vão estar funcionando corretamente Transtorno neurocomportamental: Ansiedade, depressão… oferta de oxigênio alterada. Reorganização cerebral em decorrência dessa oxigenação diminuída → neuroplasticidade do cérebro. Aminoácidos excitatórios: Ocorre um aumento → glutamato, por exemplo → tóxico → destruição celular. Diagnóstico Clínico: O diagnóstico clínico não é difícil quando há história de exposição. Porém, sem história epidemiológica, pode haver dificuldade na suspeita, já que os sintomas são inespecíficos. Buscar descobrir por anamnese do paciente ou, se o paciente estiver desacordado, buscar informações de acompanhantes. Laboratorial específico: Dosar o nível de carboxiemoglobina (critério de alta hospitalar). Com uma dosagem de 5 a 10% já podemos ter manifestações leves; De 15-20% já encontramos manifestações clínicas mais graves. Acima de 50% coma e óbito. Não-fumantes geralmente têm níveis de carboxihemoglobina inferiores a 2%, enquanto que fumantes crônicos têm níveis entre 6% a 10%. Co-oximêtro: consegue dosar a carboxi-hemoglobina Laboratorial geral:: Monitorar hemograma, eletrólitos, lactato (serve para ver como está a perfusão sanguínea, pois ele está presente principalmente em situações de hipóxia tecidual, no qual gera-se lactato pela via anaeróbica de respiração celular), glicose, função hepática e renal, ECG, enzimas cardíacas, gasometria Tratamento Medidas de suporte: Desobstruir vias aéreas e administrar oxigênio a 100% (reduz a meia-vida do MO para 75 minutos). Lembrar que a oximetria de pulso medirá saturações normais de oxigênio, mesmo na presença de níveis de carboxiemoglobina significativos. Com o aumento o O2, deslocamos a reação e “aumenta a competição” pela hemoglobina com a carboxihemoglobina. Se a história for sugestiva de intoxicação por MO, faz-se gasometria, pede exames de laboratório geral e específico e já pode administrar o oxigênio a 100%. Se não é sugestivo, aguardar laboratório. Monitorizar sinais vitais; Manter acesso venoso calibroso; Hidratação adequada. Antídoto: O2 a 100% é administrado através de máscara não-reinalante ou intubação orotraqueal até que o paciente esteja assintomático e com níveis de carboxihemoglobina inferiores a 5%. Câmara hiperbárica: (Reduz a meia-vida do MO para 20 minutos), ambiente com 100% de oxigênio e maior pressão indicado em pacientes em coma, com alterações importantes do estado mental ou déficits neurológicos, com evidência de isquemia, com acidose metabólica persistente, gestantes com sofrimento fetal ou em pacientes com níveis de carboxiemoglobina acima de 25%. Critérios para liberação: Pacientes assintomáticos e não gestantes podem ser observados na residência, desde que confirmado que a fonte de exposição foi eliminada e o paciente foi transferido para um ambiente livre de CO. Paciente assintomático e com nível de carboxihemoglobina inferior a 5% Critérios para observação: Pacientes com sintomas leves a moderados devem permanecer em unidade de saúde para avaliação e tratamento até o desaparecimento dos sintomas; Critérios para internação: Pacientes que permanecem sintomáticos apesar do tratamento adequado, pacientes com exame neurológico alterado ou lesão miocárdica, gestantes com sofrimento fetal.
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