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LESÕES TÚBULO INTERSTICIAIS Lesão Tubular Aguda (LTA) -Caracterizada por insuficiência renal aguda e necrose das células epiteliais tubulares -É uma lesão renal reversível que surge em uma variedade de condições clínicas, a maioria variando desde trauma grave até pancreatite aguda. -LTA isquêmica: Período de fluxo sanguíneo inadequado para os órgãos periféricos, geralmente acompanhados por hipotensão intensa e choque. -LTA nefrotóxica: Causado por diversos fármacos, como a gentamicina; contrastes radiográficos; venenos, incluindo metais pesados e solventes orgânicos. -Combinações de LTA isquêmica e nefrotóxica também podem ocorrer, exemplificadas pelas transfusões sanguíneas incompatíveis e outras crises hemolíticas que causam hemoglobinúria e lesões no músculo esquelético que causam mioglobinúria resultando em característicos cilindros intratubulares de hemoglobina ou mioglobina, respectivamente; o conteúdo tóxico de ferro dessas globinas contribui para a LTA. >Etiologia: • Isquemia: devido ao fluxo sanguíneo diminuído ou interrompido (ex: choque; HAS; CIVD; outras) • Lesão tóxica direta: sobre os túbulos por agentes endógenos (ex: mioglobina; bilirrubina) ou exógenos (ex: fámacos e agentes tóxicos) • AATI: responsável por 50% dos casos de lesão renal aguda em pacientes hospitalizados. >Patogenia: -Os eventos principais na LTA isquêmica e nefrotóxica são: (1) lesão tubular (2) distúrbios persistentes e graves no fluxo sanguíneo >Lesão das células tubulares: -São sensíveis à isquemia e vulneráveis às toxinas. -Diversos fatores predispõem os túbulos à lesão tóxica, incluindo a vasta superfície para a reabsorção tubular, os sistemas de transporte ativo para íons e ácidos orgânicos, uma alta taxa metabólica, um alto requerimento de oxigênio que é necessário para realizar essas funções de transporte e de reabsorção e a capacidade reabsorção e concentração de toxinas. -A isquemia provoca numerosas alterações estruturais e funcionais em células epiteliais. -As células lesadas se destacam das membranas basais e causam obstrução luminal, pressão intratubular aumentada e TFG diminuída e o filtrado glomerular nas luzes dos túbulos danificados extravasa para o interstício, resultando em edema intersticial, pressão intersticial aumentada e danos adicionais aos túbulos. >Distúrbios no fluxo sanguíneo: -As alterações hemodinâmicas causam uma TFG reduzida, como a vasoconstrição intrarrenal, que resulta em fluxo sanguíneo glomerular reduzido e liberação de oxigênio reduzida para os túbulos funcionalmente importantes na medula externa (porção espessa ascendente da alça de Henle e segmento reto do túbulo proximal). -Há também algumas evidências de um efeito direto da isquemia ou toxinas no glomérulo, causando uma redução do coeficiente de ultrafiltração glomerular, possivelmente devido à contração mesangial. -A focalidade da necrose tubular e a manutenção da integridade da membrana basal ao longo de muitos segmentos permitem um reparo dos focos necróticos e uma recuperação da função, se a causa precipitante for removida. Esse reparo é dependente da capacidade de proliferação e de diferenciação das células epiteliais reversivelmente lesadas. A reepitelização é mediada por uma variedade de fatores de crescimento e citocinas produzidos localmente pelas próprias células tubulares ou por células inflamatórias na vizinhança de focos de necrose. >Morfologia: 1.LTA isquêmica: -Caracterizada por necrose epitelial tubular focal em múltiplos pontos ao longo do néfron, com grandes áreas livres de permeio, frequentemente acompanhada pela ruptura das membranas basais (tubulorrexe) e pela oclusão das luzes tubulares por cilindros. -A porção reta do túbulo proximal e a porção espessa ascendente da alça de Henle na medula renal são especialmente vulneráveis, mas as lesões focais também podem ocorrer no túbulo distal, frequentemente em conjunção com cilindros. -Cilindros hialinos eosinófilos, assim como cilindros granulares pigmentados, são comuns, particularmente nos túbulos distais e nos ductos coletores. Esses cilindros consistem principalmente na proteína Tamm-Horsfall em conjunção com outras proteínas plasmáticas. -Outros achados são o edema intersticial e o acúmulo de leucócitos nos vasa recta dilatados. -Há também evidências de regeneração epitelial, sob a forma de células epiteliais achatadas com núcleos hipercromáticos e figuras mitóticas. Ao longo do tempo, essa regeneração repovoa os túbulos, de modo que nenhuma evidência residual do dano é vista. 2.LTA tóxica: -Manifestada pela lesão tubular aguda, nos túbulos contorcidos proximais. -No exame histológico, a necrose tubular pode ser completamente não específica, mas é um tanto distintiva no envenenamento com certos agentes. -Com cloreto de mercúrio as células gravemente lesadas podem conter grandes inclusões acidofílicas e depois se tornam totalmente necróticas, descamam, ocupando as luzes tubulares, e podem sofrer calcificação. -O envenenamento com tetracloreto de carbono, é caracterizado pelo acúmulo de lipídios neutros nas células lesadas; novamente, essa alteração gordurosa é seguida de necrose. -O etilenoglicol produz uma balonização evidente, constituindo uma degeneração hidrópica ou vacuolar dos túbulos contornados proximais. Os cristais de oxalato de cálcio são frequentemente encontrados nas luzes tubulares nesse envenenamento. No tipo isquêmico, a necrose tubular é focal, sendo atingidos comprimentos relativamente curtos dos túbulos, e são mais vulneráveis os segmentos retos de t ú b u l o s p r o x i m a i s ( T R P ) e a s extremidades ascendentes da alça de Henle (AH). Na lesão tubular aguda tóxica, necrose extensa está presente ao longo dos segmentos do túbulo convoluto proximal (TCP) com muitas toxinas mas a necrose do túbulo distal, particularmente a AH ascendente, também ocorre. Em ambos os tipos, as luzes dos túbulos convolutos distais (TCD) e ductos coletores (DC) contêm cilindros. Lesão tubular aguda Algumas das célu las epi te l ia is tubulares nos túbulos são necróticas e muitas destacaram-se de suas membranas bas i l a res e es tão descamadas dent ro das luzes tubulares, enquanto outras estão edemaciadas, vacuolizadas e com aspecto regenerativo >Curso Clínico: -É altamente variável, mas o caso clássico pode ser dividido em três estágios: • Fase de iniciação: -Dura cerca de 36 horas -Leve declínio na eliminação de urina com um aumento no BUN e a oligúria pode ser explicada com base na diminuição transitória no fluxo sanguíneo e na TFG em declínio. ●Fase de manutenção: -Diminuição sustentada na eliminação de urina para 40 e 400 mL/dia (oligúria), sobrecarga de sais e água, concentrações crescentes do BUN, hipercalemia, acidose metabólica e outras manifestações da uremia. -Com tratamento adequado, o paciente pode superar essa crise oligúrica. •Fase de recuperação: -Aumento constante no volume de urina que pode atingir até 3 L/dia. -Os túbulos ainda estão danificados, por isso grandes quantidades de água, sódio e potássio são perdidas no fluxo urinário. -A hipocalemia, mais do que a hipercalemia, se torna um problema clínico. -Aumento de vulnerabilidade para a infecção nesse estágio. -Finalmente, a função tubular renal é restaurada e a capacidade de concentração melhora e ao mesmo tempo, os níveis de BUN e de creatinina começam a voltar ao normal. >Prognóstico: -Depende da magnitude e da duração da agressão. -A recuperação é esperada na LTA nefrótica quando a toxina não causou danos graves aos outros órgãos, como o fígado e o coração. Nefrite Tubulointersticial -Lesões inflamatórias de túbulos e interstício causando azotemia (aumento dos níveis de nitrogênio ureico sérico (BUN) e creatinina). >Aguda: -Início clínico rápido -Caracterizado histologicamente por edema intersticial, frequentemente acompanhado por infiltração leucocítica no interstício e nos túbulos eagressão tubular. >Crônica: -Infiltração predominantemente por leucócitos mononucleares, fibrose intersticial proeminente e atrofia tubular disseminada. -As características morfológicas incluem edema e pode ter fibrose e a atrofia tubular. >Aspectos clínicos Pielonefrite -Infecção que afeta os túbulos, interstício e pelve renal. -É uma complicação séria das infecções do trato urinário que afetam os seus sistemas coletores (pielonefrite). >Pielonefrite aguda: -Causada por infecção bacteriana -Associada à infecção do trato urinário. >Pielonefrite crônica: -Distúrbio mais complexo que a aguda -A infecção bacteriana desempenha um papel dominante, mas outros fatores (refluxo vesicoureteral, obstrução) predispõem a repetidos episódios de pielonefrite aguda. >Etiologia: >Patogenia: -Há duas rotas pelas quais as bactérias podem alcançar os rins: (1) através da corrente sanguínea (infecção hematogênica) - menos comum e resulta da semeadura dos rins por bactérias de focos distantes no curso de uma septicemia ou de infeções localizadas, tais como a endocardite infecciosa. (2) a partir do trato urinário inferior (infecção ascendente) - mais provável na presença de obstrução ureteral e em pacientes debilitados. -A infecção ascendente é a causa mais comum de pielonefrite crônica >Pielonefrite Aguda: -Inflamação supurativa do rim causada por infecção bacteriana e às vezes viral. -Após a fase aguda da pielonefrite, ocorre a cura, o infiltrado neutrofílico é substituído por um que é composto predominantemente de macrófagos, plasmócitos e linfócitos. Os focos inflamatórios são finalmente substituídos por cicatrizes irregulares que podem ser vistas na superfície cortical como depressões fibrosas. Essas cicatrizes são caracterizadas microscopicamente por atrofia tubular, fibrose intersticial e um infiltrado linfocítico em um padrão irregular, de quebra-cabeças, com parênquima preservado interveniente. >Macroscopia: -Inflamação supurativa intersticial focal, agregados intratubulares de neutrófilos e necrose tubular. -A supuração pode ocorrer como abscessos focais, nítidos, ou em grandes áreas com forma de cunha e podem envolver um ou ambos os rins. A superfície cortical mostra áreas branco-acinzentadas de inflamação e formação de abscesso. >Microscopia: -Nos estágios iniciais, a infiltração neutrofílica está limitada aos túbulos. As luzes tubulares são um conduto para a extensão da infecção e, logo, a infecção se estende para o interstício e produz abscessos, que destroem os túbulos envolvidos. -Os glomérulos são relativamente resistentes à infecção. -A pielonefrite fúngica (p. ex., Candida) muitas vezes afeta glomérulos e resulta em inflamação intersticial granulomatosa. Exsudato neutrofílico agudo dentro de túbulos e inflamação intersticial. >Complicações: 1.Necrose papilar: -Principalmente em diabéticos, doença falciforme e naqueles com obstrução do trato urinário. -Geralmente bilateral, mas pode ser unilateral. Uma ou todas as pirâmides do rim afetado podem estar envolvidas. -Ao corte, as pontas ou os dois terços distais das pirâmides têm áreas de necrose branco-acinzentadas ou amareladas. -No exame microscópico, o tecido necrótico mostra necrose coagulativa isquêmica característica, com preservação dos contornos dos túbulos. -A resposta leucocítica é limitada às áreas de junção entre o tecido preservado e o destruído. 2.Pionefrose : -Observada quando há uma obstrução total ou quase completa, particularmente quando é alta no trato urinário. -O exsudato supurativo é incapaz de drenar e preenche a pelve renal, os cálices e o ureter com pus. 3.Abscesso perinéfrico: -Extensão da inflamação supurativa através da cápsula renal para o tecido perinéfrico. >Aspectos Clínicos: -Associada: • Obstrução do trato urinário, congênita ou adquirida. • Instrumentação do trato urinário, mais comumente cateterização. • Refluxo vesicoureteral. • Gravidez. Entre 4% e 6% das mulheres grávidas desenvolvem bacteriúria em algum momento da gravidez e 20% a 40% destas desenvolvem infecção urinária sintomática se não for tratada. • Gênero e idade. Após o primeiro ano de vida (quando as anomalias congênitas no sexo masculino comumente se expressam) e até cerca dos 40 anos, as infecções são muito mais frequentes nas mulheres. Com o avanço da idade, a incidência em homens aumenta, como resultado da hipertrofia prostática e da instrumentação. • Lesões renais preexistentes, que causam cicatrização e obstrução intrarrenais. • Diabetes melito, no qual a suscetibilidade aumentada para infecção, a disfunção neurogênica da bexiga, e mais frequentes instrumentações são fatores predisponentes. • Imunossupressão e imunodeficiência. Pielonefrite Crônica -Condição na qual ocorre inflamação tubulointersticial crônica e cicatrização, envolvendo os cálices e a pelve renal. -As alterações piélico-caliceais é uma importante indicação para o diagnóstico. -A obstrução predispõe os rins à infecção. -Se divide em duas formas: ●Nefropatia de refluxo: -Ocorre precocemente na infância como resultado da sobreposição de uma infecção urinária em pacientes portadores de refluxo vesicoureteral congênito e de refluxo intrarrenal -O refluxo pode ser uni ou bilateral, o dano renal contínuo pode causar cicatrização e atrofia de apenas um rim, ou envolver ambos, levando à insuficiência renal crônica. O refluxo vesicoureteral ocasionalmente causa lesão renal na ausência de infecção (refluxo estéril), mas somente quando a obstrução é grave. ●Pielonefrite obstrutiva crônica: -As infecções recorrentes sobrepostas a lesões obstrutivas difusas ou localizadas levam a ataques recorrentes de inflamação renal e cicatrização, resultando em um quadro de pielonefrite crônica. -Os efeitos da obstrução contribuem para a atrofia do parênquima; -Pode ser bilateral, como nas válvulas uretrais posteriores, resultando em insuficiência renal a menos que a anomalia seja corrigida, ou unilateral, como ocorre com os cálculos e as anomalias obstrutivas unilaterais do ureter. >Morfologia: -Os rins geralmente estão irregularmente cicatrizados e se for bilateral, o envolvimento é assimétrico. -As características são as cicatrizes corticomedulares grosseiras, nítidas, sobrepondo-se aos cálices dilatados, aplanados ou deformados, e o achatamento das papilas. -As cicatrizes variam de uma única até várias e a maioria está nos polos superior e inferior. -Os túbulos mostram atrofia em algumas áreas,e hipertrofia ou dilatação em outras. Os túbulos dilatados com o epitélio achatado podem estar preenchidos com cilindros que se parecem com coloide tiroidiano (tireoidização) -Os vasos arqueados e interlobulares demonstram esclerose obliterativa da camada íntima nas áreas cicatrizadas e,na presença de hipertensão, é vista uma arteriolosclerose hialina em todo o rim. -Há, frequentemente, uma fibrose ao redor do epitélio calicial, assim como evidente infiltrado inflamatório crônico. -Os glomérulos podem parecer normais, exceto por uma variedade de alterações isquêmicas, incluindo fibrose periglomerular, obliteração fibrosa e alterações secundárias relacionadas à hipertensão. -Os indivíduos com pielonefrite crônica e nefropatia de refluxo que desenvolvem proteinúria em estágios avançados apresentam glomerulosclerose segmentar focal secundária,. Típicas cicatrizes grosseiras de pielonefrite crônica associadas ao refluxo vesicoureteral. As cicatrizes são geralmente polares e estão associadas aos cálices aplanados. A superfície esquerda tem cicatrizes irregulares e à direita revela papilas planas ou ausentes. Vista de pequeno aumento mostrando uma cicatriz renal corticomedular com um cálice subjacente deformado e dilatado. Há tireoidização dos túbulos no córtex. >Aspectos Clínicos: -Pode ser insidiosa no início ou apresentar manifestações clínicas de pielonefrite aguda recorrente, como dor nas costas, febre, piúria e bacteriúria.-A nefropatia de refluxo é muitas vezes descoberta em crianças quando a causa da hipertensão arterial é investigada. -A perda da função tubular em sua capacidade de concentração dá origem à poliúria e à nictúria. -Os estudos radiográficos mostram rins contraídos assimetricamente, com características cicatrizes grosseiras, e sistema calicial deformado e apagado. -Uma bacteriúria significativa pode estar presente, mas está frequentemente ausente nos estágios tardios. -Embora a proteinúria seja geralmente branda, alguns indivíduos com cicatrizes pielonefríticas desenvolvem uma glomerulosclerose segmentar focal com uma proteinúria significativa, mesmo na faixa nefrótica, geralmente diversos anos após a cicatrização ter ocorrido, e frequentemente na ausência de infecção continuada ou de refluxo vesicoureteral persistente. -O início da proteinúria e da glomerulosclerose segmentar focal é um sinal de mau prognóstico, que pode progredir para insuficiência renal terminal. -A glomerulosclerose pode ser atribuída às alterações glomerulares adaptativas secundárias à perda de massa renal causada pela cicatrização pielonefrítica (nefropatia por ablação renal).
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