Prévia do material em texto
Universidade do Sul de Santa Catarina UnisulVirtual Palhoça, 2013 Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional Livro didático UnisulVirtual Palhoça, 2013 Designer instrucional Carmelita Schulze Dênia Falcão de Bittencourt Dâmaris de Oliveira Batista da Silva Vanderlei Brasil Viviane Bastos Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional Livro Didático Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul Copyright © UnisulVirtual 2013 Professores conteudistas Dênia Falcão de Bittencourt Dâmaris de Oliveira Batista da Silva Vanderlei Brasil Viviane Bastos Designer instrucional Carmelita Schulze Projeto gráfico e capa Equipe UnisulVirtual Diagramador(a) Frederico Trilha Revisor(a) Perpétua Guimarães Prudêncio ISBN 978-85-7817-576-4 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. 658.3 B54 Gestão do desenvolvimento humano e organizacional : livro didático / Dênia Falcão de Bittencourt, Dâmaris de Oliveira Batista da Silva, Vanderlei Brasil, Viviane Bastos ; design instrucional Carmelita Schulze. – Palhoça : UnisulVirtual, 2013. 116 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7817-576-4 1. Administração de pessoal. 2. Recursos humanos. 3. Desenvolvimento organizacional. I. Bittencourt, Dênia Falcão de. II. Silva, Dâmaris de Oliveira Batista da. III. Bastos, Viviane. IV. Schulze, Carmelita. V. Título. Sumário Introdução | 7 Capítulo 1 O trabalho | 9 Capítulo 2 A organização de trabalho | 25 Capítulo 3 Perfil do Gestor de Pessoas | 49 Capítulo 4 Saúde e segurança no trabalho | 63 Capítulo 5 Temas contemporâneos em Gestão de Pessoas | 87 Considerações Finais | 109 Referências | 111 Sobre o Professor Conteudista | 115 7 Introdução Apresentar um livro sobre Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional há poucos anos seria impensável. Por décadas os principais esforços dos Gestores e Empresários dirigidos eram tão somente às parcerias com fornecedores, clientes, maquinários e tecnologia. O resultado dessa ênfase observamos nos absurdos números de acidentes de trabalho, absenteísmo, conflitos entre pessoas, para citar alguns exemplos. Enfrentando uma realidade dura e com fortes reflexos em números, gradativamente a ciência do gerenciamento passou a dialogar com outras áreas do conhecimento e, nesse ínterim, todos nós ganhamos: pessoas e organizações. Ganhamos em saúde, conforto, conhecimento, relacionamento, capacitação e de posse de tudo isso transformamos as organizações em espaços criativos, prazerosos, dinâmicos e eficientes. Convidamos para que ao longo das próximas páginas você conheça conceitos, princípios e teorias que, amparadas em décadas de pesquisa, contribuam com a construção do conhecimento e com o desenvolvimento de um saber ser e de um saber fazer. Objetivamos o seu encontro com o conhecimento? Sim, e mais, desejamos que a partir dele você possa desenvolver habilidades que o tornem um profissional que atue com eficiência compreendendo a relação ser humano com o trabalho como sendo dotada de componentes históricos, culturais, sociais, éticos e científicos. A aprendizagem final é um esforço conjunto e complexo, mas certamente é resultado do seu envolvimento, do seu comprometimento com tudo o que preparamos atenciosamente para você. Envolva-se nesse caminhar, construa o seu conhecimento, participe com um mundo do trabalho mais saudável, ético, prazeroso e competente. Bons estudos e feliz aprendizagem! A equipe de professores. 9 Seções de estudo Habilidades Capítulo 1 O trabalho Este capítulo possibilitará ao aluno desenvolver habilidades para atuar na gestão de pessoas mediante a compreensão da importância e do papel do trabalho no processo de construção dos seres humanos. Bem como levará a desenvolver habilidades para a análise das possibilidades de desenvolvimento do sujeito por meio do trabalho, permitindo a compreensão da caracterização histórica e do surgimento, como ciência, da Psicologia Organizacional e do Trabalho. Seção 1: O que é trabalho? Seção 2: Psicologia Organizacional e do Trabalho? 10 Capítulo 1 Seção 1 O que é trabalho? Para introduzir este estudo, será importante pensarmos que, certamente, em alguma oportunidade, já nos fizemos as seguintes perguntas: Trabalho por quê? Trabalho para quê? Tais perguntas vêm à mente quando tentamos identificar o significado de trabalho com o significado de nossa própria existência. Por certo, ao estabelecermos esta relação entre trabalho e existência, o nosso foco central tenha sido a necessidade de buscarmos os múltiplos significados que poderíamos atribuir ao espaço social por nos ocupado em um determinado momento ou contexto. Na sociedade em que vivemos, o trabalho muitas vezes confunde-se até mesmo com a nossa identidade. E assim tem sido na vida de diferentes comunidades onde o trabalho sempre ocupou lugar central. Atentemos para o fato de que, nessas comunidades, o trabalho foi configurado, paulatinamente, pelas condições socialmente estabelecidas. Ao pesquisar o conceito de trabalho, constatamos que a ele são atribuídos distintos significados. Encontramos, nessa busca, a contribuição de concepções oriundas não só das ciências sociais – como Antropologia, Sociologia, Economia, Psicologia – mas também de muitos saberes sistematizados; assim como matizes oriundos de concepções políticas, religiosas, econômicas, ideológicas, históricas, biológicas, culturais, etc. Ao encararmos o homem como produto e produtor da sociedade na qual se insere, conseguimos detectar relações contraditórias entre os múltiplos sistemas de trabalho existentes. Vejamos um exemplo. No que concerne ao Brasil e sua amplitude territorial, precisamos considerar os contrastes territoriais e socioeconômico-culturais. Pensemos na concepção de trabalho no eixo Rio-São Paulo, em relação às demais regiões. Ao pensarmos, também, na globalização da economia e do trabalho, vemos que ela trouxe em seu bojo inúmeros processos de mudança que afetaram a sociedade e as organizações brasileiras, alterando o cenário das relações de trabalho. Algumas dessas mudanças deixaram cicatrizes; outras acenam para possibilidades de abertura antes não imaginadas no mundo do trabalho. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 11 Não é difícil constatar que o trabalho é uma atividade essencialmente humana. A característica principal do trabalho é a sua ação transformadora, sua capacidade de modificação de um dado aspecto da realidade. Trabalhar é sempre desafiar a realidade, procurando superá-la. Nesse sentido, aquele que trabalha busca inserir- se no espaço social, afirmando-se como um indivíduo dentre muitos. Assim, trabalho não significa, simplesmente, emprego ou posto de trabalho, e sua atividade não pode ser resumida à rotina dos movimentos e da força corporal, ainda que possamos incluí-lo nessa dimensão. . O resultado do trabalho, seu produto, nem sempre pode ser trocado ou vendido, embora o trabalho também produza mercadorias. É assim para a dona de casa, para o metalúrgico, para o professor. O significado social do trabalho está associado às atividades realizadas por indivíduos e produzidas pela sociedade à qual eles pertencem. Tais atividades decorrem de necessidades sentidas e objetivadas em coisas, isto é, elas são desenvolvidas numa sequência de ações que visam à obtenção de um objeto real. É assim que pensamos, planejamos e agimos em função de um desejo, de uma meta a ser alcançada, de um produto de consumo. Evidentemente que, se analisarmos as condições de trabalho existentes em nossa sociedade e as atividades exigidas para a sua realização,verificaremos o quanto é difícil realizar e realizar-se no e pelo trabalho. 1.1 As representações do trabalho O significado do trabalho pode ser determinado de várias formas diferentes. Sua representação cognitiva depende não só da cultura como também das características individuais dos seres humanos e dos meios sociais em que estes se veem inseridos. De acordo com o tipo de estudo que desejamos fazer, certos fatores são considerados mais ou menos importantes. O “olhar” do psicólogo, por exemplo, é diferente daquele do “antropólogo”, do “economista”, do “sociólogo”, etc. Estas significações, que se restringem a uma única área de conhecimento, não nos fornecem, de maneira geral, dados objetivos sobre o lugar real do trabalho dentro da nossa sociedade. 12 Capítulo 1 A partir de estudos econômicos e estatísticos, podemos definir dados como “população ativa”, “taxa de frequência de acidentes”, “distribuição de renda”, etc. Esses dados, no entanto, não nos informam sobre as consequências, na psique do homem, do ato de efetuar o trabalho. De qualquer modo, em primeiro lugar é indispensável conhecer as representações veiculadas pelo senso comum. Algo a ser verificado é até que ponto a opinião pública é idêntica à que se publica, se quisermos investigar o que pensam os trabalhadores, considerando o espírito das instituições em que esses realizam o seu trabalho. No dia a dia da vida, cada um parece ter a sua própria concepção de trabalho. Esse é um conceito, portanto, ao mesmo tempo complexo e contraditório. Alguns opõem trabalho e lazer. Se se conserta a pia de cozinha que está vazando, lava pratos, joga bola, ou se assiste ao último filme da Angelina Jolie, pode- se afirmar que não se está trabalhando. Mas se quem faz estas atividades, respectivamente, for o bombeiro, a empregada doméstica, o Kaká, ou um crítico de cinema, isto é trabalho. Nesse caso, pode parecer pertinente dizer que o salário é um critério o qual permite decidir se uma atividade é um trabalho, ou não. O estudante diz que não trabalha, porque precisa estudar. Ao mesmo tempo, em seu discurso, afirma que “no curso do professor fulano, ou se trabalha até a morte ou se é reprovado”. Essas contradições, para as quais não nos faltam exemplos, proveem do fato de que a noção de trabalho refere-se a níveis diferentes de realidade. Logo, quando perguntamos a alguém “Qual é o seu trabalho?”, obtemos as mais diferentes respostas. Uma pessoa pode detalhar para nós a sequência das operações que efetua para confeccionar uma peça dentro do seu ambiente de trabalho. Outra pode explicar os diferentes procedimentos pedagógicos que utiliza para fazer com que o conceito de proporcionalidade seja compreendido pelos alunos. Estes tipos de respostas realçam a dimensão relativa ao processo realizado, quando da execução de uma atividade: o trabalho, nesse caso, é o que fazemos. Assim a primeira pessoa poderia ter respondido: “Meu trabalho é fabricar calças”, ou seja: o trabalho é aquilo que fazemos. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 13 A segunda pessoa, dentro do mesmo enfoque, responderia que o seu trabalho implica fazer com que os alunos atinjam um determinado nível de compreensão desejado. Esse tipo de resposta evidencia a dimensão do resultado da atividade. O trabalho é o que fazemos para obter um resultado desejado. Outras respostas possíveis à nossa pergunta seriam: “Eu sou trabalhador operário da casa tal.” ou “Eu sou professor”. Nesse tipo de respostas, acentua-se o status ligado à atividade. O trabalho, neste caso, é o lugar que ocupamos dentro da sociedade. A “aparente confusão conceitual” sobre o trabalho não significa que devemos desconsiderar o senso comum relativo à noção e buscar, tão somente, a opinião de especialistas. O exame atento das significações leva-nos a uma psicologia do cotidiano, a única que nos permite compreender melhor as relações entre essas pessoas de senso comum e o trabalho que realizam. Uma pesquisa de tal tipo, psicologia do cotidiano, capaz de capturar esse senso comum, permite-nos conhecer as representações que estão ligadas ao trabalho, dentro da nossa cultura. Esse conhecimento é necessário para quem quer entender, agir com base nessa compreensão. A psicologia científica poderá, a partir desse senso comum, validar certas “ideias recentes”, “teorias formuladas por especialistas”, concepções melhores, mais bem assentadas sobre um plano epistemológico. Uma primeira aproximação global da concepção trivial do trabalho faz ressaltar o caráter penoso e desvalorizado da noção. Partindo-se do pressuposto da importância da linguagem na formação social da mente, podemos buscar, na etimologia, as imagens que determinada sociedade internaliza a respeito do trabalho. Busquemos saber mais sobre a concepção de trabalho, a partir da etimologia da palavra. Nesse sentido, vemos que o termo trabalho apareceu nas línguas latinas como um derivado do latim tripaliare, que significa “torturar com tripalium”, um chicote de três pontas. Muito cedo, portanto, nas culturas latinas, o conceito de trabalho esteve ligado ao de sofrimento. Essa interpretação transparece na linguagem corrente. Falando de “seu trabalho”, numerosas pessoas dirão “que estão desesperadas com o mesmo”. Temos aí, geralmente, associado ao conceito de trabalho o de problema. Afinal, nunca escutamos um pescador dizer “Aquele ali, eu o trabalhei por muito tempo”, para significar que ele deixou o peixe cansado. Quando o engenheiro diz que as fundações do edifício trabalharam, este é um motivo de preocupação. Todos sabem o que significa “o trabalho de parto” para uma mulher. Para expressar o 14 Capítulo 1 quanto uma ideia preocupa-nos, dizemos que ela nos dá trabalho. Assim, podemos situar a desvalorização do trabalho como uma das características originais de determinada cultura. Certas pessoas cobram, em moedas, o preço por terem de arcar com a maldição divina que expulsou Adão do paraíso, o trabalho. Os gregos davam um status inferior àqueles que trabalhavam. Aristóteles elaborou toda uma ética para explicar por que o trabalho competia aos escravos, enquanto, aos atenienses, estaria reservada a arte mais nobre da filosofia. Elaborando ainda mais estas distinções, certas teorias filosóficas tentaram justificar tal desvalorização. Macunaíma, o pretenso arquétipo do brasileiro, já teria nascido com a capacidade de falar, e suas primeiras palavras teriam sido: “Que preguiça. Que o diabo leve quem me falar em trabalho!”. Rousseau considerava o trabalho como uma “atividade contra a natureza”. Para Nietzsche, o trabalho, “dura tarefa”, seria o melhor dos policiamentos para refrear nossas potencialidades de sonhar, imaginar, e o que chamamos hoje de criatividade. Psicanalistas como os das escolas freudianas afirmaram que o trabalho é um “meio de coerção” e de “alienação” de nossos impulsos profundos. Em contraste com esta desvalorização do trabalho, temos os que defendem a ideia de ser o trabalho um meio de realização para o homem. Pensemos nos estímulos que recebe o ser humano e que o incitam ao trabalho, e o status que se liga ao desemprego. A origem histórico-cultural dessa desvalorização é, ela mesma, discutível. Dentro dessas análises, é célebre a influência da ética protestante, que resultou no desenvolvimento do capitalismo. Max Weber (1967) observa existir uma leitura religiosa que valoriza o trabalho. E é dentro do domínio filosófico que esta conotação negativa do trabalho vai ser mais fortemente discutida. Seguindo Kant, numerosos autores afirmam ser o trabalho um valor que distingue o homem do animal. Para responder às suas necessidades, o homem trabalha, transformando a natureza. Mas essas atividades existem, também, dentro de certas “sociedades” animais. As formigas,as abelhas e muitas outras espécies, Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 15 diferentemente das cigarras, são renomadas trabalhadoras. A natureza do trabalho humano é profundamente diferente. Marx, numa metáfora célebre, opõe “a abelha ao arquiteto”, mostrando que se o animal repete, entretanto o homem, no trabalho, é obrigado a ter projetos, a inventar, criar. Essa diferença permite compreender por que, seguindo a Hegel e suas célebres análises da relação do “mestre escravo”, Marx afirma que o trabalho é a condição da libertação do homem. Eric Fromm assinala: “No processo de moldar a natureza exterior a ele, o homem molda e modifica a si mesmo.” O trabalho pode ser considerado o processo entre a natureza e o homem, através do qual este realiza, regula, controla, mediante sua própria ação, o intercâmbio de matérias com a natureza. Jean Paul Sartre escreve: “Por meio do trabalho dominamos o meio. Há dispêndio de energia, ação sobre a natureza, produção, destruição, e, portanto, trabalho.” Criando benefícios, produzindo, o homem desenvolve sua personalidade e sua inteligência. Dentro dessa perspectiva, insiste-se que trabalhar supõe uma mobilização e uma extensão das capacidades de imaginação, de memória e de linguagem. Freud, ele mesmo, contradizendo certos alunos, sublinhou o “positivo” do trabalho, visto que nele enxergava a possibilidade de transferir os componentes narcisos, agressivos, eróticos, da libido. Diante disso tudo, podemos dizer que G. Friedmann (KANAANE, 2007) faz uma boa síntese ao dizer que o trabalho assume as seguintes facetas: • aspecto técnico, que implica questões referentes ao lugar de trabalho e adaptação fisiológica e sociológica; • aspecto fisiológico, cuja questão fundamental refere-se ao grau de adaptação homem-lugar de trabalho-meio físico e ao problema da fadiga; • aspecto moral, como atividade social humana, considerando especialmente as aptidões, as motivações, o grau de consciência, as satisfações e a relação íntima entre atividade de trabalho e personalidade; • aspecto social que considera as questões específicas do ambiente de trabalho e os fatores externos (família, sindicato, partido político, classe social etc.). Há de se considerar sob tal perspectiva a interdependência entre trabalho e papel social e as motivações subjacentes; • aspecto econômico, como fator de produção de riqueza, geralmente contraposto ao capital, e unido em sua função a outros fatores: organização, propriedade, terra. 16 Capítulo 1 Também nesse contexto, pesquisadores apontam o papel desempenhado pelo trabalho na vida das pessoas como sendo de elevada importância. Segundo eles, o trabalho é parte fundamental na existência humana (SAMPAIO, 1999; ARAÚJO, 2005), pois possibilita crescimento tanto profissional (RODRIGUES, 1994) quanto pessoal - pela construção de relações interpessoais (SOUZA, 2001; ARAÚJO, 2005), além de conferir identidade e sentido à vida. (ARAÚJO, 2005). As questões relativas ao valor do trabalho são uma constante de nossa cultura, fato que não pode ser ignorado por quem atenta para os esclarecimentos da ciência das subjetividades, do comportamento humano (e não humano), da cognição, da emoção e da motivação: a Psicologia. Nessa perspectiva, Wanderlei Codo (1994) chega a colocar as relações de trabalho como o ponto de partida privilegiado através do qual se deve estudar o comportamento humano. De fato, o trabalho – relação humana reconhecidamente basal para o surgimento da própria civilização – cerca-nos de tal forma que qualquer análise psicológica que ignore as condições de produção material da vida humana será ingênua, ou, ao menos, incompleta. O trabalho é a práxis humana por excelência. Nesse sentido, Silva afirma: É o trabalho, portanto, que provê identidade para o homem e o habilita a sentir-se eleito e participante da sociedade. (...) O status na organização passa a ser o referencial que qualifica a inteligência, a capacidade e a competência do indivíduo, muito mais que sua saúde mental, a qualidade de seu relacionamento familiar ou o grau em que se sente feliz (SILVA, 1992, p. 72 e 76). Mas poderíamos perguntar: “Trabalho?” “Afinal, o que isso tem a ver com Psicologia?” Tudo, desde que reconheçamos que o domínio psicológico de cada sujeito é um reflexo direto das condições materiais de sua vida – solo sobre o qual o subjetivo encontra sua gênese e torna a objetivar-se. (DITTRICH, 1999). Seção 2 Psicologia Organizacional e do Trabalho? Para o gestor de pessoas, é importante preparar-se para interagir com o campo do conhecimento que se preocupa em compreender o comportamento individual e coletivo das pessoas nas organizações de trabalho. Um campo de conhecimento cuja especialidade ocupa-se tanto da ciência psicológica como com a sua aplicação aos problemas das pessoas nas organizações. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 17 Esse campo da psicologia organizacional e do trabalho (SPECTOR, 2006) é composto de duas divisões principais: Recursos humanos (Gestão de Pessoas) e Organizacional (do Trabalho). A primeira divisão ocupa-se de gerenciar a eficiência organizacional por meio do uso apropriado das pessoas (projeto de tarefas, seleção e treinamento, avaliação de desempenho, etc.). E a segunda preocupa- se em compreender o comportamento individual, e aumentar o bem-estar dos funcionários no ambiente de trabalho; nessa o foco no funcionário como indivíduo é maior do que o existente na parte da gestão de pessoas. Entre as atividades práticas realizadas pela contribuição da Psicologia organizacional e do trabalho destacam-se: • analisar a natureza de uma atividade (análise da tarefa); • conduzir uma análise para determinar a solução de um problema organizacional; • fazer/realizar uma pesquisa sobre sentimentos e opiniões dos funcionários; • projetar sistemas para avaliação de desempenho de funcionários; • projetar sistemas de seleção de funcionários/programas de treinamento; • desenvolver testes psicológicos; • avaliar a eficácia de uma atividades ou prática, como um programa de treinamento; • implementar mudanças organizacionais, por exemplo, um novo sistema de remuneração participativa para os funcionários que têm bom desempenho. Nesta seção, trabalharemos com mais ênfase sobre como se preparar para interagir com o campo do conhecimento que se preocupa em compreender o comportamento individual, e aumentar o bem-estar dos funcionários no ambiente de trabalho. Essa área da Psicologia Organizacional, repetindo, também é denominada de área do Trabalho. Ela refere-se ao estudo das pessoas, com foco no papel do trabalho em sua constituição, dinâmica e vida de relação. 2.1 A “evolução” da Psicologia Organizacional e do Trabalho A Psicologia do Trabalho organiza-se em um campo de estudos que aborda os determinantes da atividade do trabalho sobre o comportamento das pessoas, seja em seus aspectos individuais ou coletivos. 18 Capítulo 1 Para iniciarmos os estudos desses determinantes, acompanhemos alguns ensinamentos de Tractenberg. Em princípios do século XX, Taylor apresenta suas teses sobre a “organização científica do trabalho”, fundamentadas em uma visão analítica, empirista e mecanicista da administração. A organização era encarada como máquina, um sistema fechado cujas tarefas complexas deveriam ser parceladas, uniformizadas e otimizadas ao máximo, visando o aumento da produtividade. A divisão, especialização e racionalização da força de trabalho foram levadas ao extremo com o Fordismo. O vazio e a mecanização do trabalho eram transformados eufemisticamente em “adaptação” e “eficiência” dentro da visão Taylorista. A prioridade eram as tarefas. O fator humano nada mais era que uma peça substituível de umamáquina maior. Nessa época, as recém-desenvolvidas ciências do comportamento foram requisitadas a colaborar com a administração, fornecendo técnicas de aprendizagem e instrumentos de controle que legitimassem essa abordagem cientificista. (...) Contudo, Fayol irá enfatizar não os elementos que compõem a tarefa operacional concreta do trabalhador (tempos e movimentos), mas a estrutura organizacional como um todo. Ainda dentro de uma ótica mecanicista, vê a organização como um sistema fechado, altamente hierarquizado, composto de elementos estáticos. Com relação aos impactos desses sistemas sobre a saúde do trabalhador, Dejours (1987) 1 irá afirmar: “Nova tecnologia de submissão, de disciplina do corpo, a organização científica do trabalho gera exigências fisiológicas até então desconhecidas, especialmente as exigências de tempo e ritmo de trabalho. As performances exigidas são absolutamente novas, e fazem com que o corpo apareça como principal ponto de impacto dos prejuízos do trabalho. O esgotamento físico não concerne somente aos trabalhadores braçais, mas ao conjunto de operários da produção de massa. Ao separar, radicalmente, o trabalho intelectual do trabalho manual, o sistema de Taylor neutraliza a atividade mental dos operários.” (p.18). Parece impossível viver 8 a 12 horas diárias de desapropriação consentida da própria vida, na condição de extrema robotização e opressão e, logo em seguida, como que magicamente, transformar-se num indivíduo saudável, normal. Não surpreende, pois, que o trabalho continuasse apartado do prazer, encarado como algo opressivo e ruim, perpetuando uma dicotomia existente desde tempos remotos. (...) 1 Dejours, C. (1987). A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. 2.ed. São Paulo: Cortez - Oboré, 168p Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 19 Dejours faz alusão aos mecanismos de defesa desenvolvidos pelos trabalhadores fabris. Fala da constituição, dentro dessa coletividade, de uma ideologia defensiva na qual a morte, a doença, o corpo, a sexualidade, os sentimentos e a fala são abafados, torcidos e macerados a fim de se contornar a opressão e o sentimento de angústia frente a sua realidade existencial. (...) A luta por condições mais justas de remuneração, por maior segurança contra acidentes de trabalho, e contra a opressão/ exploração dos patrões foi ganhando contornos mais definidos, dando origem a associações de oposição, sindicatos e movimentos sociais reivindicatórios; bem como ao surgimento e radicalização de ideologias antagônicas ao sistema capitalista. O experimento de Hawthorne 2, na década de 30, apontava para a necessidade de ampliar a compreensão sobre os fatores relacionados ao desempenho, incluindo novas dimensões, como a motivação, o sentimento e a influência dos grupos. (...) A Escola das Relações Humanas, desenvolvida ainda na década de 30 por Mayo e outros, coloca-se como contraponto à questão da falta de reciprocidade referida acima. Suas contribuições para a “humanização” das organizações e das relações de trabalho através da utilização de conhecimentos oriundos de estudos sobre liderança, motivação, comunicação e comportamento interpessoal, dinâmica de grupos e estudos sociométricos, foram inúmeras e revolucionaram as abordagens psicológicas vigentes. Contudo, na prática ainda predominava o tratamento manipulatório dos comportamentos, não podendo ser considerada uma abordagem que valorizava o ser humano como um todo. Esse período comumente denominado da “psicologia aplicada” durou até meados da década de 40. (...) Em termos da saúde do trabalho, com o considerável crescimento do setor terciário nas décadas de 40 e 50 e as conquistas proletárias citadas anteriormente, o foco das reivindicações sobre a “exploração do corpo” pouco a pouco se deslocava para a questão das tarefas de escritório. A esse respeito afirma Dejours (1987), “Reputadas como isentas de exigências físicas graves, as tarefas de escritório tornam-se cada vez mais numerosas, na medida do desenvolvimento do setor terciário. A sensibilidade às cargas intelectuais e psicossensoriais de trabalho preparam terreno para as preocupações com a saúde mental. O mesmo se dá com os operários que têm uma fraca carga física, que são operadores de indústrias de processo (petroquímica, nuclear, cimenteiras etc.). O desenvolvimento destas indústrias confronta os operários a novas condições de trabalho e fazem-nos descobrir sofrimentos insuspeitos. (p.23). 2 A experiência de Hawthorne teve o objetivo de detectar a relação entre a intensidade da iluminação e a competência dos operários, medida por meio do ritmo de produção. Pesquise mais sobre esse experimento. 20 Capítulo 1 Antes consideradas secundárias frente a necessidades mais urgentes, passam a ser objeto de reivindicações: a insegurança no emprego frente à ameaça de demissão; a ansiedade frente aos superiores; o estresse e as pressões do trabalho; a falta de perspectivas de crescimento; a solidão e o vazio das relações unicamente profissionais; a falta de relações de amizade e lazer; a necessidade de comunicação; etc. (...) É dentro desse contexto que surgem, nas décadas 60 e 70, as teses sobre Desenvolvimento Organizacional (D.O.). Apoiando-se no avanço dos estudos psicológicos sobre motivação e comportamento humanos e sua influência dentro da dinâmica e estrutura das organizações - Teoria da Hierarquia das Necessidades, de Maslow; Teorias X e Y, de McGregor e de Likert sobre liderança etc. (...) Surgia a Psicologia Organizacional e do Trabalho, à maneira como é conhecida hoje. Desde então, as pesquisas nessa área proliferaram de modo notável, deslocando- se de problemas concretos e específicos para articulação de métodos, modelos e teorias mais gerais (Roe, 1996). Fonte: TRACTENBERG, Leonel. A complexidade nas organizações: futuro desafios para o psicólogo frente à reestruturação competitiva. 1997. Conforme acompanhamos nos trechos de Leonel Tractenberg, a “evolução” da Psicologia do Trabalho deriva de mudanças sociais e tecnológicas e das diferentes concepções do que seja o trabalho. Inscreve, também, em um movimento mais geral, que marca a emergência das ciências humanas. A busca pela compreensão do ser humano, a partir de suas atividades realizadoras e transformadoras da realidade, coloca o trabalho como uma das principais categorias de análise daquilo que é propriamente humano: a capacidade de mudar as condições de sobrevivência a partir da geração de novas necessidades. Observemos, com efeito, em relação ao trabalho, que o mesmo incorpora um grande número das atividades humanas. Por outro lado, o final do século XIX marca não só a descoberta da importância das dimensões da produção, mas a importância do coletivo no que diz respeito ao trabalho. Num primeiro tempo, a conjunção destes dois fatores, o individual e o coletivo, vai-se traduzir em uma exploração de diferentes abordagens psicológicas sobre o trabalho, manifestando-se por uma grande diversidade de definições quanto ao que seja o campo de trabalho desta área da Psicologia. Progressivamente, duas grandes tendências que marcam uma forte interação entre pesquisas e intervenções vão estabelecer-se, opondo a dimensão individual do trabalho à sua dimensão coletiva. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 21 Os inconvenientes desta separação para a compreensão das condutas das pessoas no trabalho provocam, ainda hoje, entre os psicólogos de diferentes orientações, utopias de confronto. Tentaremos mostrar em quais condições é possível propor um processo unificador do campo dessa disciplina. 2.2 A unidade da Psicologia do Trabalho Quatro elementos essenciais parecem ser a origem da diversidade sobre o campo da disciplina: o objetivo visado, a divisão do campo, o objeto doestudo, a metodologia de investigações e de intervenções. Levar em consideração esses quatro elementos permite situar as diferentes ramificações encontradas e propor um esquema unificador, conforme o esquema a seguir. Esquema 1 – Elementos para a definição da Psicologia do Trabalho Divisão do campo Objetivo visado Objeto de estudo Metodologia Psicologia do Trabalho Pesquisa Desenvolvimento Formalismo Sistema Análise do Trabalho Conduta do Trabalho Fonte: Elaboração da autora, 2008. Os elementos da figura possuem relações entre si, a própria disposição entre os mesmos na figura já demonstra um pouco os conteúdos delas. Mas as vejamos com detalhes, o que nos dará uma ampla visão sobre no que consiste a Psicologia do Trabalho. A dimensão do “objetivo visado” na Psicologia do Trabalho traz a dualidade “aplicação prática” versus “pesquisa teórica”. Essa dualidade é decorrente das exigências da pesquisa, as quais levam, às vezes, à polarização, de um lado, dos estudos sobre sujeitos especiais – analisados com rigor – e de outro, as necessidades de intervenção, onde tratamos de situações globais, em que generalizações são discutíveis. 22 Capítulo 1 A evolução da disciplina mostra, no entanto, que a interação entre teoria e prática é desejável, como apresentam, por exemplo, pesquisas sobre a análise de trabalho e a regulação da carga cognitiva. E a evolução da produção em direção a uma homogeneização dos meios de trabalho, o que foi amplamente disseminado pela qualificação industrial, independente de quais sejam os setores de produção, permitiu uma definição menos contingente do objeto da disciplina, o qual se torna, assim, o estudo das condutas de trabalho. E é com base na definição das características dessas condutas complexas que é possível à Psicologia do trabalho a construção de perspectivas futuras, tanto no plano da pesquisa quanto da intervenção no que diz respeito ao trabalho. Mas o estudo destas condutas complexas, onde os determinantes são multivariados, retorna à questão da “divisão do campo” de estudo das disciplinas, que fica ligada ao problema da classificação das ciências, problema este do qual a Psicologia do Trabalho não fica isenta. E não podemos deixar de considerar aqui que resolver problemas e tomar decisões são ações coletivas que se inscrevem nas organizações. Essa multiplicidade de componentes que interferem nas condutas de trabalho formam um sistema. Logo, a Psicologia do Trabalho precisa tentar compreender os problemas de sua alçada e as possibilidades de intervenção sobre esses considerando-os como componentes de um sistema. Há ainda, na nossa figura, a palavra “metodologia”. Ocorre que tanto para investigar quanto para interferir nos problemas do ambiente de trabalho, são necessárias metodologias, as quais são cunhadas e estudadas pela Psicologia do trabalho. Essa dimensão é, sem dúvida, a origem da maior proliferação das diferentes denominações para o trabalho. A divergência sobre métodos de investigação, verbalização, experimental, observação, clínica, deu lugar, em particular nos EUA, à oposição entre Human Factors, Human Engineering, Engineering Psychology, etc., no campo da Psicologia do Trabalho. A diversidade de técnicas de intervenções, cada conjunto delas, geralmente, sustentado por uma metodologia de intervenção diferente, opôs a psicotécnica à psicologia ergonômica, ou psicologia de organizações. Parece pouco pertinente a atitude que privilegia a referência a apenas um campo de técnicas preferenciais para os tratamentos das questões colocadas para as condutas de trabalho. Em Problema este do qual a Psicologia do Trabalho não fica isenta. A oposição entre uma psicologia do indivíduo e uma psicologia de grupo reflete-se dentro de uma das ramificações importantes, que chega, ainda hoje, a uma confrontação entre “psicologia cognitiva do trabalho” e “psicologia social do trabalho”. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 23 compensação, uma metodologia fundada sobre a “análise do trabalho” permite, depois de uma investigação rigorosa sobre essas condutas, propor modalidades apropriadas de intervenção, como selecionar ou formar os homens, conceber ou adaptar os sistemas sociotécnicos. A Psicologia do Trabalho aparece, assim, como uma área de conhecimento que consiste em descrever, e depois explicar, os processos de organização e de reorganização estrutural das condutas de trabalho dentro das condições estabelecidas pelo meio técnico e social. Tem, portanto, uma visão científica, na medida em que deve responder a uma dupla exigência: a. exigência de positividade, que descreva rigorosamente o trabalho em termos do comportamento observável; b. exigência de inteligibilidade, que deve explicar a significação das condutas. Uma afirmação não é científica na medida em que possa ser invalidada pelos fatos ou que não permita uma conclusão dos processos a partir dos fatos observados. O domínio das intervenções na Psicologia do Trabalho surge da estreita interação entre pesquisa e aplicação decorrente da forte determinação dos domínios de intervenção pelos domínios da análise. Ao nível da metodologia de intervenção essa interação aparece claramente na análise do trabalho que é o “método”, por excelência, da psicologia do trabalho. 2.3 Como se caracteriza a análise do trabalho? Definindo a análise do trabalho como um método concebido pela psicologia do trabalho a fim de considerar as condutas do trabalho e explicar os mecanismos que as sustentam, é importante perceber que esse tipo de metodologia apresenta um grande interesse tanto para a pesquisa como para a aplicação. Por exemplo, com a análise do trabalho é possível produzir dados que permitam reduzir a distância entre as concepções formais do trabalho (as prescrições, as regras, os procedimentos oficiais e explícitos) e sua atividade real (os aspectos informais, implícitos, imprevistos da conduta de trabalho). Esta distância é a origem essencial dos disfuncionamentos dos sistemas de produção. Os múltiplos conhecimentos que se põem em jogo quando se realiza uma análise do trabalho, transparece na própria diversidade dos objetivos desta. Em primeiro 24 Capítulo 1 lugar, o objetivo da análise do trabalho é produzir um melhor conhecimento do trabalho formal e do trabalho real; em segundo lugar, é compreender como se dá a ‘implicação’ dos operadores nos sistemas produtivos; e por último, não menos importante, é fornecer um meio de apoio à decisão. Para análise do trabalho é possível valer-se de diferentes técnicas emprestados da psicologia, para garantir a objetividade dos conhecimentos e das proposições que ela produz, mas que devem ser adaptados aos objetivos e ao contexto particular das situações de trabalho. É assim que são distinguidas: • as técnicas centradas sobre a tarefa (análises documentárias, inventário dos componentes dos postos (cargos), • análise funcional dos postos (questionários de análise das posições) e • as técnicas centradas na atividade (observação, verbalização, experimentação e simulação). A complexidade das situações de trabalho exige um andamento constante de idas e vindas entre estas técnicas. Do exercício à experimentação e à simulação, passando pelas observações e a análise documentária, o analista do trabalho deverá organizar uma confrontação sistemática dos dados recolhidos. 25 Seções de estudo Habilidades Capítulo 2 A organização de trabalho A institucionalização das organizações perpassa o comportamento humano, por meio das relações interpessoais que influenciam na elaboração e coesão dos grupos. Este capítulo irá desenvolver habilidades para se compreender a organização com os seus processosde institucionalização. Também desenvolverá a habilidade de entender a concepção de grupos nas organizações de trabalho como parte do processo de socialização dessas mesmas organizações. Seção 1: A necessidade da vida em grupo Seção 2: A construção social na realidade e o processo de institucionalização Seção 3: Os grupos nas organizações de trabalho Seção 4: Grupos e equipes nas organizações Seção 5: A socialização organizacional 26 Capítulo 2 Seção 1 A necessidade de vida em grupo Basta olhar para o lado para perceber que a nossa vida cotidiana é demarcada pela vida em grupo. Desde os primórdios, da pré-história à contemporaneidade, a história fala-nos de agregados humanos. É suficiente olharmos à volta, para perceber que nos relacionamos com as outras pessoas o tempo todo. Mesmo quando estamos só, a referência de nossos devaneios são os outros: pensemos em nossos amigos, na próxima atividade – que pode ser estudar a aula de administração ou realizar uma nova tarefa no trabalho (que, provavelmente, envolverá mais de uma pessoa); pensemos no namoro, em nossa família, etc. Raramente encontraremos uma pessoa que viva completamente isolada: mesmo o eremita mais isolado levará suas lembranças, seu conhecimento, sua cultura para o exílio voluntário. Entendamos, assim, que encontramos determinantes sociais em qualquer circunstância humana. E, por termos como objeto esta questão, surge a Psicologia Social como ramo da Psicologia que estuda os comportamentos resultantes da interação entre os indivíduos. Ou melhor, sobre esta teoria poderíamos afirmar que toda a Psicologia é, no fundo, uma Psicologia Social. Neste capítulo, devemos buscar compreender um importante conceito citado por Braghirolli (1990, p. 60): Entende-se por interação social o processo que se dá entre dois ou mais indivíduos, em que a ação de um deles é, ao mesmo tempo, resposta a outro indivíduo e estímulo para as ações deste, ou, em outras palavras, as ações de um são, simultaneamente, um resultado e uma causa das ações do outro. E também poderemos refletir que, influenciados por isso, em nossas vidas sempre encontramos certa regularidade, que é necessária para a vida em grupo. Na organização da sociedade, essa regularidade se faz ainda mais imprescindível quando se fala no trabalho, vital para a sobrevivência da espécie, pois o trabalho é o que dá vida à organização. Psicologia Social ilvia Lane é a autora contemporânea da Psicologia Social que melhor fundamentou esta afirmação (in Lane, S. T. M. & Codo W. Psicologia Social: o homem em movimento. São Paulo: Brasilense, 1982), contudo Sigmund Freud, em 1921, já afirmava que “na vida mental individual aparece integrado sempre efetivamente o ‘outro’, como modelo, objeto auxiliar ou adversário, e, deste modo, a psicologia individual é ao mesmo tempo e desde o princípio uma psicologia social, no sentido mais amplo, no entanto, plenamente justificado.” (In Freud, Sigmund. Psicologia de las Masas y Análisis del Yo. Obras completas, v. III. 3. ed. Madrid: Biblioteca Nueva, 1973, p. 2.563.). Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 27 Vejamos um exemplo: É preciso combinar algumas regras para vivermos juntos. Pensemos como explicação que, se estivermos num ponto de ônibus às seis horas da manhã, precisamos ter alguma certeza de que ele passará por ali mais ou menos no mesmo horário. Alguém combinou isso com o motorista. Dependemos do outro em nosso cotidiano. Um segurança precisou abrir o portão da organização, cujas dependências já estavam devidamente limpas; um coordenador nos espera; ao chegar ao trabalho, encontramos colegas que também trabalham no mesmo horário. E é todo esse tipo de regularidade normatizada pela vida em grupo que chamamos de institucionalização. Desse modo, percebamos toda a importância da vida dos grupos (e em grupo) e do processo de institucionalização para as organizações de trabalho. Esses são os assuntos que veremos nesta unidade. Bons estudos! Seção 2 A construção social na realidade e o processo de institucionalização O conteúdo das seções 1 e 2 é baseado no Capítulo 15 – Psicologia institucional e processo grupal, do livro de BOCK, Ana M. B; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 214-217. Para entender o processo de institucionalização que ocorre em nossas sociedades, observemos que, na realidade, vivemos mergulhados em instituições. Mas, antes de seguirmos, precisamos evitar algumas confusões, muito comuns, geradas pelos vários entendimentos do que seja “instituição”. Esse termo é utilizado, de forma corriqueira, para designar o local onde se presta um determinado tipo de serviço – geralmente público, como os serviços de saúde e social. Frequentemente ouvimos alguém mencionar que trabalha na instituição para resolver um tipo de problema. É o caso de hospitais e centros de saúde, ou dos locais que atendem a crianças e adolescentes. 28 Capítulo 2 Entendamos também que o termo instituição pode ser empregado para determinadas organizações sociais, como a família – “A família é uma instituição modelar” – frase mencionada com certa frequência. Entretanto, quando falarmos aqui no termo instituição, não estaremos referindo-nos a esses sentidos mais conhecidos e utilizados no nosso dia a dia. Para se entender aonde queremos chegar, sigamos com a leitura para identificar a origem do processo de institucionalização da sociedade, antes de definirmos o termo. Isto permitirá entender melhor a referência teórica na qual nos estamos fundamentando. Como acontece o processo de institucionalização? O processo de institucionalização, segundo Berger e Luckmann – autores muito usados para definir como se dá a construção social da nossa realidade – começa com o estabelecimento de regularidades comportamentais. As pessoas vão, aos poucos, descobrindo a forma mais rápida, simples e econômica de desempenhar as tarefas do cotidiano. Imaginemos o homem primitivo: no momento em que começou a ter consciência da realidade que o cercava, ele passou a estabelecer essas regularidades. Um grupo social que vivesse, fundamentalmente, da pesca, estabeleceria formas práticas que garantissem a maior eficiência possível na realização da tarefa. Podemos dizer que um hábito se estabelece quando uma dessas formas repete-se muitas vezes. Um hábito estabelecido por razões concretas, com o passar do tempo e das gerações, transforma-se em tradição. E o que acontece? As bases concretas, estabelecidas com o decorrer do tempo, não são mais questionadas. A tradição impõe-se porque é uma herança dos antepassados. Se eles determinaram que essa é a melhor forma, é porque tinham “alguma” razão. Quando se passam muitas gerações e a regra estabelecida perde essa referência de origem (o grupo de antepassados), dizemos, então, que essa regra social foi institucionalizada. Um bom exemplo que demonstra isso é a monogamia – o casamento somente entre duas pessoas – ela pode ser considerada uma dessas instituições. É sabido que as sociedades primitivas não a conheciam. Os casamentos eram poligâmicos. A monogamia surge, então, na Grécia antiga e no Oriente Médio, como estabelecimento da propriedade privada e a descoberta da paternidade biológica. Entre os povos primitivos, o papel de pai era atribuído ao irmão materno mais velho; as famílias eram matrilineares (baseadas na linhagem materna) e, provavelmente, imperava o matriarcado. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 29 No início do modo de produção escravista da organização social antiga (como foi o caso da Grécia), o surgimento das cidades, da propriedade privada e a descobertada paternidade biológica colocavam o homem da época diante de uma questão: a herança. As pessoas (no caso, os homens) que acumulavam riqueza durante a sua vida não tinham para quem deixá-la. A família paterlinear e o casamento monogâmico foram a forma de organização encontrada, que definia, claramente, uma maneira de perpetuar a propriedade através da herança. O filho passou a ser o herdeiro dos bens paternos. Para isso, estes homens proprietários passaram a estabelecer, como regra, que suas mulheres deveriam manter relações sexuais somente com eles próprios (em função da descoberta da paternidade biológica) e, assim, teriam certeza de que o filho lhes pertencia. Hoje, qualquer pessoa de nossa sociedade ocidental, se questionada sobre a monogamia, dirá que o casamento se dá desta forma, porque “é natural”. Curiosamente, ainda hoje temos culturas, como a muçulmana, que não adotam a monogamia como regra e, apesar dessa evidência contrária, alguém de nossa cultura continuará considerando a monogamia “natural”. É a esse fenômeno que chamamos de instituição. 2.1 Instituições, organizações de trabalho e grupos Acompanhemos agora uma definição de instituição. A instituição é um valor ou regra social, reproduzida no cotidiano com estatuto de verdade, que serve como guia básico de comportamento de padrão ético para as pessoas, em geral. A instituição é o que mais se reproduz e que menos se percebe nas relações sociais. Atravessa, de forma invisível, todo tipo de organização social e toda a relação de grupos sociais. Só recorremos claramente a estas regras quando, por qualquer motivo, são quebradas ou desobedecidas. Atenção! Se a instituição é o corpo de regras e valores, a base concreta da sociedade é a organização. As organizações, entendidas aqui de forma substantiva, representam o aparato que reproduz o quadro de instituições no cotidiano da sociedade. A organização pode ser um complexo organizacional – um Ministério como, por exemplo, o Ministério da Saúde; uma Igreja, como a Católica; uma grande empresa, como 30 Capítulo 2 a Volkswagen do Brasil; ou pode estar reduzida a um pequeno estabelecimento, como uma creche de uma entidade filantrópica. As instituições sociais serão mantidas e reproduzidas nas organizações. Portanto a organização é o pólo prático das instituições. Atenção! O elemento que completa a dinâmica de construção social da realidade é o grupo – o lugar onde a instituição se realiza. Se a instituição constitui o campo dos valores e das regras (portanto, um campo abstrato), e se a organização é a forma de materialização dessas regras através da produção social, o grupo, por sua vez, realiza as regras e promove os valores. O grupo é o sujeito que reproduz e que, em outras oportunidades, reformula tais regras. É também o sujeito responsável pela produção dentro das organizações e pela singularidade – ora controlado, submetido de forma acrítica a essas regras e valores, ora sujeito da transformação, da rebeldia, da produção do novo. Seção 3 Os grupos nas organizações de trabalho Já é de nosso conhecimento que a filiação a um grupo é parte da vida de trabalho da maioria dos trabalhadores. Agora, é preciso que aprofundemos a nossa compreensão sobre a formação, o desenvolvimento e as características dos grupos. Atualmente, há uma forte tendência ao estímulo do trabalho de grupo nas organizações. Técnicas participativas e de socialização têm sido utilizadas para suprir necessidades e solucionar conflitos para o estabelecimento do contato com o outro e para o crescimento pessoal em grupo e da interação com outras pessoas. O incentivo ao trabalho em grupo tornou-se importante em virtude da constatação, no meio organizacional, de que o trabalho solitário não é tão produtivo na atualidade. É preciso ‘somar’ conhecimentos através da criação e integração de especialidades em projetos comuns e globalizadores, uma vez que cada jogador proporciona ao grupo um enfoque (sobre o problema) que corresponde à sua Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 31 experiência/especialização. (LIMA, 1969, p. 346). Numa organização de trabalho, a existência de um grupo mostra que seus membros estiveram motivados para nele ingressar; percebem o grupo como uma unidade integrada de pessoas que interagem entre si; contribuem de vários modos para os processos grupais (isto é, algumas pessoas contribuem com mais tempo e energia que outras, para o grupo); concordam e discordam mediante várias formas de interação. Portanto o grupo é definido como: “Dois ou mais trabalhadores que interagem entre si, de tal maneira que o comportamento e o desempenho de um deles são influenciados pelo comportamento e pelo desempenho do outro”. A influência que o grupo exerce sobre a pessoa é diferente para cada indivíduo. Algumas pessoas podem ser totalmente influenciadas pelo grupo; outras, entretanto, sofrem influência mínima, ou não sofrem influência alguma. Por que formamos grupos? Certos indivíduos buscam satisfação como membros de um grupo. Formam grupo, ou entram em grupo já formado, para interagir com outras pessoas que têm valores, interesses, percepções e atitudes comuns. Essa participação resulta num sentimento de “segurança” para os membros. Diante de uma ordem ou exigência do superior, os indivíduos procuram aceitá-las e cumpri-las o mais das vezes. Temem resistir às exigências superiores, pois têm medo de alguma forma de castigo. Se fossem apoiados por colegas de valor, poderiam sentir-se seguros e resistir à administração. Atenção! As pessoas que trabalham muito próximas têm numerosas oportunidades de trocarem ideias, pensamentos e atitudes sobre várias atividades dentro e fora da organização de trabalho. Essas trocas resultam frequentemente em algum tipo de formação grupal. A proximidade faz que os indivíduos conheçam as características uns dos outros. Frequentemente, surge um grupo para manter a interação e o interesse. 32 Capítulo 2 Os trabalhadores podem ser atraídos pelo grupo, porque gostam das atividades do grupo. Esse grupo pode estar interessado em atividades profissionais ou de recreação, atividades estas que os outros apreciam. Aceitando as atividades grupais, o membro do grupo estará satisfazendo suas necessidades sociais, de segurança, de estima e de autorrealização. Assim, embora a pessoa seja atraída pelo grupo por causa das atividades que este desenvolve, há também um subproduto importante dessa filiação grupal, que é a satisfação de várias necessidades. As metas do grupo, quando claramente compreendidas, podem ser a razão pela qual os indivíduos são atraídos pelo grupo. Por exemplo: uma pessoa pode entrar num grupo que se reúne depois do trabalho para se familiarizar com o sistema métrico. Suponhamos que esse sistema deva ser implantado na organização, dentro dos próximos dois anos. A pessoa que entra num grupo que se reúne após o trabalho acredita que a aprendizagem do novo sistema é uma meta importante e necessária para os trabalhadores. Atenção! Nem sempre é possível identificar as metas do grupo. A hipótese de que os grupos organizacionais formais têm metas claras deve ser temperada pela compreensão de que a percepção, as atitudes, a personalidade e a aprendizagem podem distorcer as metas. O mesmo pode-se dizer das metas dos grupos informais. Essas são apenas algumas das numerosas razões pelas quais as pessoas entram nos grupos. Parece que elas ingressam nos grupos, porque estes são percebidos como meios para a satisfação das necessidades. É também evidente que as atividades e metas do grupo constituem fatores que atraem os seus membros. Outra faceta importante da formação grupal diz respeito à proximidade das pessoas, umas com as outras, que é a razão da interação e da descoberta de característicassemelhantes. Quais são as características dos grupos? Algumas das características importantes dos grupos são: • estrutura grupal; • status; • papéis; • normas. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 33 Acompanhemos explicações sobre cada uma dessas características. Estrutura grupal – Dentro de qualquer grupo, surge com o tempo certo tipo de estrutura, que pode ser estrutura de poder, comunicativa e afetiva. Os membros do grupo diferenciam-se com base em fatores tais como habilidade, agressividade, poder e status. Cada membro ocupa uma posição no grupo. O padrão de relacionamento entre essas posições ou cargos constitui o que chamamos de estrutura grupal. Os membros do grupo avaliam cada posição em termos de seu prestígio, status e importância para o grupo. Na maioria dos casos, há algum tipo de diferença de status entre os cargos, de modo que a estrutura grupal é hierárquica. Os membros esperam que o ocupante de cada cargo tenha certas atitudes durante a interação grupal. O conjunto de atitudes esperadas, ligadas ao cargo dentro da estrutura, constitui o que chamamos de papel do ocupante do cargo. Status – Status e cargo são tão semelhantes, que ambos os termos são usados um pelo outro. O status ligado a um cargo particular é normalmente consequência de certas características que diferenciam um cargo de outro. As diferenças de status exercem grande influência no padrão e no conteúdo das comunicações do grupo. Por exemplo: há certa tendência em se dirigir a maior parte das comunicações e seus conteúdos aos grupos de status mais elevado; o conteúdo de tais mensagens tende a ser mais positivo do que o das mensagens que se iniciam da pessoa de status mais alto para a de mais baixo. Papéis – Cada cargo, na estrutura grupal, tem, ligado a si, um papel que não é outra coisa senão o comportamento que se espera do ocupante do cargo. O papel esperado é apenas um tipo de papel. Há também o papel percebido e o papel realizado. O papel percebido é o conjunto de atitudes e comportamentos os quais a pessoa que ocupa determinado cargo acredita dever realizar. Em alguns casos, o papel percebido pode corresponder ao papel esperado. O papel realizado é o comportamento que a pessoa realmente leva a cabo. Portanto pode haver três tipos de comportamento ligados aos papéis. E há possibilidade de conflito e frustração, resultantes das diferenças nesses três tipos de papéis. Em grupos bastante estáveis ou permanentes, normalmente há boa concordância entre os papéis esperados e percebidos. Quando o papel realizado desvia-se muito do esperado, a pessoa pode ou aproximar-se do papel esperado, ou deixar o grupo. 34 Capítulo 2 Normas – As normas são padrões partilhados pelos membros do grupo. Têm certas características importantes para os membros do grupo. Primeiro: as normas só são formadas com relação a coisas que têm significação para o grupo. Se a produção é importante, aparecerá uma norma relativa a ela. Se a ajuda dos membros de outro grupo para completar a tarefa for importante, surgirá uma norma com relação a isso. Segundo: há gradação na aceitabilidade das normas pelos membros do grupo. Algumas normas são aceitas por todos os membros e de modo completo; outras têm apenas uma aceitação parcial. Terceiro: as normas podem ser aplicáveis a todos os membros do grupo, ou apenas a alguns deles. Espera-se que cada membro ajuste-se às normas de produção, e só se aceita discordância verbal das diretrizes administrativas por parte dos líderes do grupo. Quais fatores influenciam o desempenho grupal? Há vários fatores grupais que influenciam de modo significativo o desempenho coletivo. Dois desses fatores mais importantes são o tamanho e a coesão do grupo. Acompanhemos explicações sobre estes fatores. 3.1 Tamanho do grupo O número de participantes do grupo é uma variável importante em razão de seu impacto sobre os padrões de interação e dos recursos disponíveis para se realizarem as tarefas e encorajar a dedicação. Um aumento de tamanho traz consigo maiores oportunidades de interação e também mais oportunidades para integrantes “se esconderem” no interior do grupo. Há, sem dúvida, desvantagens nos grandes grupos. À medida que o tamanho do grupo aumenta, surge a possibilidade de ocorrência de subgrupos com metas específicas que, em alguns casos, são incompatíveis com as metas do grupo maior. Normalmente, o grupo maior tem também maior composição heterogênea de indivíduos. A capacidade de um melhor comportamento global torna-se mais difícil quando muitos indivíduos diferentes, com comportamentos bem singularizados, passam a trabalhar juntos. Deve haver clareza de metas, dedicação e liderança, se quisermos que o grupo seja eficaz; mas tudo isso é muito mais importante quando se tratar de grandes grupos heterogêneos. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 35 Aumentando o tamanho do grupo, também aumenta a distância entre seus membros. Sem certo grau de proximidade, é impossível haver dedicação, confiança e abertura de comunicação. Os problemas nessas áreas têm um impacto negativo no desenvolvimento do grupo. Acrescente-se a tudo isso que, nos grandes grupos informais, é mais difícil a emergência de líderes aceitáveis. Embora sejam interessantes, as pesquisas e hipóteses sobre tamanho ideal de grupo não são conclusivas certamente. Não há limites para se definir um grupo de tamanho ideal. O administrador deverá conhecer os perigos do aumento de um grupo, mas não deve tentar restringir o grupo a um número ideal. 3.2 Coesão grupal Os grupos formais e informais parecem possuir um fechamento sobre si mesmos, ou certa comunidade de atitudes, comportamento e desempenho. Esse fechamento sobre si mesmos é conhecido como coesão. Geralmente a coesão é considerada uma força que age para que os membros permaneçam no grupo, força esta mais poderosa do que a força que tenta expulsar os membros do grupo. O grupo coeso, portanto, possui indivíduos que têm alguma força de atração entre si. Os membros do grupo de pequena coesão têm pequena atração. Há, naturalmente, várias fontes de atração para o grupo. O grupo pode ser atrativo, porque: 1. suas metas e as metas dos membros são compatíveis e claramente especificadas; 2. possui um líder carismático; 3. a reputação do grupo mostra que ele executa bem suas tarefas; 4. é suficientemente pequeno para permitir que seus membros tenham suas opiniões ouvidas e valorizadas pelos outros; e 5. os membros são atrativos, no sentido de que eles se apoiam e se ajudam mutuamente para vencer os obstáculos e barreiras ao crescimento e desenvolvimento pessoal. Esses cinco fatores estão relacionados à satisfação das necessidades. Se a pessoa entra num grupo coeso, deve haver um aumento de satisfação de suas necessidades através da filiação a esse grupo. Como os grupos muito coesos são compostos de indivíduos motivados a ficarem juntos, há uma tendência a se esperar um desempenho eficaz desses grupos. Por que os colaboradores se conformam às normas do grupo? 36 Capítulo 2 Entender essa questão torna-se especialmente importante, quando constatamos que uma pessoa com grande capacidade e aptidão passa a trabalhar muito abaixo de sua capacidade, para que as normas do grupo não sejam violadas. São quatro classes gerais de variáveis que favorecem a conformidade às normas do grupo: 1. a personalidade dos membros do grupo; 2. os estímulos que evocam respostas; 3. os fatores situacionais; 4. as relações intragrupais. Acompanhemos explicações sobre cada uma destas classes. 1 – A personalidade dos membros do grupo. Pesquisas sobre características de personalidade sugerem que as pessoas mais inteligentes têm menor probabilidade de se conformarem às normas doque as menos inteligentes; e as autoritárias conformam-se mais que as não-autoritárias. 2 – Os estímulos que evocam respostas. Os fatores estimulantes abrangem todos aqueles estímulos relacionados às normas às quais o membro do grupo está conformando-se. Quanto mais ambíguo o estímulo, maior será a conformidade às normas do grupo. Observemos um exemplo nesse sentido. Vamos, então, supor que a alta administração adote um tipo específico de entrevista para avaliação do desempenho. O grupo de gerentes, que deve levar a cabo as entrevistas, pode estar inicialmente inseguro quanto ao processo, devido às suas novidades e complexidade. A falta de clareza fará que o grupo se aproxime mais dos métodos antigos de avaliação de desempenho do que dos novos métodos elaborados pela alta administração. Os gerentes conformam-se a uma norma imposta pelo grupo até que o processo de entrevista se esclareça e os membros principais do grupo passem a utilizar o método. 3 – Os fatores situacionais. Referem-se a variáveis tais como tipo de pressão exercida, grau de sucesso do grupo na realização de suas metas e grau de identificação do membro com o grupo. 4 – As relações intragrupais. As pesquisas sobre conformidade têm como conclusão evidente que a conformidade é uma exigência da participação grupal. Os membros que não se conformam às normas importantes do grupo são, frequentemente, punidos por este. Uma das formas de punição é isolar Personalidade É um conjunto relativamente estável de características, tendências e temperamento formado por herança e por fatores sociais, culturais e ambientais. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 37 o insubmisso ou ignorar sua presença. Há certas consequências negativas e positivas na conformidade. Ela pode resultar em perda de individualidade e no estabelecimento de níveis de desempenho apenas moderados. Qual é o papel da liderança nos grupos? A liderança grupal é uma característica extremamente importante. O líder de um grupo exerce algum tipo de influência sobre os membros do grupo. Nos grupos formais, o líder pode exercer o poder sancionado pela lei. Isto é, o líder pode recompensar ou punir os membros que não se ajustem às diretrizes, normas e regras. O papel da liderança é também significativo nos grupos informais. A pessoa que se torna líder de um grupo informal, é olhada, geralmente, como um membro respeitável e prestigioso que: • ajuda o grupo a atingir suas metas; • possibilita a satisfação das necessidades dos membros; • encarna os valores do grupo. O líder é, em essência, a personificação dos valores, motivos e aspirações dos membros do grupo; • é o escolhido dos membros do grupo para representá-lo, quando tem de interagir com outros líderes grupais; • é um pacificador do conflito grupal, um iniciador de ações dentro do grupo e o mantenedor dessa unidade em funcionamento. 3.3 Tipos de liderança e sua influência nos grupos Kurt Lewin, um dos pioneiros dos estudos com grupos, apontou os tipos mais comuns de liderança e destacou a importância do clima dos grupos. Liderança autoritária – gera duas formas de reação grupal (1ª: agressiva, irritada e autocentrada; 2ª: submissa, dependente, com comportamentos socialmente apáticos). Normalmente tal tipo de liderança provoca mais comportamentos competitivos (centrados no “eu”) no grupo. • Liderança laissez‑faire – gera um círculo vicioso de frustração-agressão-frustração, provocando insatisfação pela confusão e incerteza criada pela atitude passiva do líder. É um tipo paradoxal de liderança, pois, embora a pessoa seja líder do grupo, ela não se posiciona de forma assertiva no grupo e “deixa as coisas acontecerem” e não tem uma atitude ativa na condução do grupo. laissez‑faire Expressão da língua francesa que significa “deixar fazer”. 38 Capítulo 2 • Liderança democrática – gera um alto nível de coesão espontânea. Nos grupos com esse tipo de liderança predomina o sentido de “nós”. O rendimento é mais lento, porém mais consistente e duradouro (as coisas funcionam, mesmo na ausência do líder). Também é pertinente considerar: como realizar o desenvolvimento grupal? Perceba que, embora os grupos sejam diferentes, há algumas semelhanças significativas nas explicações de desenvolvimento grupal fornecidas pelos modelos. Os grupos desenvolvem-se em ritmo diferente e através de padrões específicos, dependendo da tarefa, do ambiente, das características individuais dos membros, dos padrões comportamentais e do estilo de administrar de cada gerente. O desenvolvimento deve ser pensado em termos de processo dinâmico. São algumas características dos grupos: estrutura, a hierarquia, os papéis grupais, as normas e os papéis da liderança. Essas características invadem todos os grupos e devem ser consideradas fatores importantes quando se examina a eficácia grupal. Num grupo informal, essas características emergem do interior da unidade, ao passo que, num grupo formal, elas são estabelecidas pelo processo administrativo. Também propiciam certo grau de previsibilidade para o comportamento dos membros. Essa previsibilidade é importante para o grupo e para as pessoas que se acham fora dele (por exemplo: a administração, outros grupos). Um grupo muito instável e imprevisível é um problema para seus membros e para os outros que com ele interagem. Assim, também a dinâmica de grupo fundamenta-se no encontro, considerado como: [...] um método de relacionamento baseado em abertura e honestidade, consciência de si mesmo, responsabilidade por si mesmo, percepção alerta do corpo, atenção aos sentimentos e ênfase no aqui e agora. (SCHUTZ, 1978, p. 11). O elemento motivador do encontro pode ser, na verdade, a tomada de consciência e o experimento da sensação de algo que esteve sempre presente, cuja operacionalização ocorre na medida em que interpretamos a seguinte sequência de hipóteses: • no desenvolvimento de programas de otimização, quanto mais forem criadas condições para aproximação dos objetivos de todas as pessoas envolvidas no processo com os objetivos da Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 39 organização, maior será o sucesso do empreendimento; • a aproximação dos objetivos das pessoas envolvidas no processo com os objetivos da organização ocorre à medida que se oferecem condições “pró-fluidez”, isto é, que permitam a elas contribuírem com determinação e abertura para a adequação da organização ao seu ambiente interno e externo e compatibilizarem a realidade organizacional com a sua própria; • a compatibilização entre a realidade de pessoas, a de organizações e a de sociedade terá sucesso quando se permitir ao homem atuar segundo a forma como entende ser seu papel no espaço determinado a cada circunstância para expressar emoções; • entre as emoções expressas, estão as decorrentes de estímulos externos; • entre os estímulos externos, existem os estímulos positivos, isto é, aqueles que apontam para uma “pró-fluidez” ou “pró-sutilização” e complementam a condição de essencialidade com o movimento de evolução; • quanto maior a quantidade de estímulos positivos, tanto maior a vontade (motivação) do indivíduo para a ação; • a motivação para a ação aumenta à proporção que há sintonia entre a realidade e a sua percepção por parte do indivíduo; • a partir da realidade percebida, o indivíduo opta pelos estímulos positivos na medida em que encontra ressonância junto ao meio em que vive (e consequentemente trabalha); • o meio tem sido fortemente influenciado pela comunicação humana (discurso), principalmente a linguagem verbal ou escrita e pela postura perante os fatos; • à medida que o discurso se dirige para aspectos positivos, provoca reações em cadeia que, porsinergia, auxiliam a condução da humanidade rumo à autorrealização e à autonomia; • o contato com a realidade individual das pessoas e com a realidade do meio ocorre mais facilmente quando há prontidão para que sejam oferecidas atividades vivenciais que facilitam a experimentação dessa realidade a partir da consciência e da sensação de estar presente. 40 Capítulo 2 Seção 4 Grupos e equipes nas organizações Conhecer a constituição de um grupo, sua estrutura e características mais importantes, os diversos fatores que influenciam no desempenho dos grupos, é importante para compreender e estabelecer a diferença entre grupo e equipe. Então, quais são as principais diferenças entre um grupo e uma equipe no contexto das organizações de trabalho? Uma das principais diferenças entre eles dá-se na própria conceituação acerca de cada um, ou seja: Grupo é um conjunto de duas ou mais pessoas que trabalham juntas para alcançar objetivo(s) comum(ns). Equipe é um grupo de pessoas com habilidades complementares, que trabalham em conjunto para alcançar um objetivo comum e pelo qual são responsáveis coletivamente. Um grupo interage para compartilhar informações e tomar decisões para ajudar cada membro em seu desempenho na sua área de responsabilidade. Uma equipe gera sinergia positiva por meio de esforço coordenado. Os esforços individuais resultam em um nível de desempenho maior que a soma das contribuições individuais. Vejamos um quadro com uma síntese das diferenças entre grupo e equipe: Quadro 1 – Diferença entre grupo e equipe Grupos de trabalho Comparativo Equipes de trabalho Compartilhar informações OBJETIVO Desempenho coletivo Neutra (às vezes negativas) SINERGIA Positiva Individual RESPONSABILIDADE Individual e mútua Aleatórias e variadas HABILIDADES Complementares Fonte: Robbins (2006, p. 251). Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 41 Então, após a apresentação dessas diferenças básicas, poderíamos perguntar: Quando um grupo pode ser considerado uma equipe? Segundo Fela Moscovici (2001, p. 5), uma estudiosa do assunto no Brasil: Pode-se considerar equipe um grupo que compreende seus objetivos e está engajado em alcançá-los, de forma compartilhada. A comunicação entre os membros é verdadeira, opiniões divergentes são estimuladas. A confiança é grande, assumem-se riscos. As habilidades complementares dos membros possibilitam alcançar resultados, os objetivos compartilhados determinam seu propósito e direção. Respeito, mente aberta e cooperação são elevados. Conhecidas as características de uma equipe, somos levados a pensar, num primeiro momento, que o trabalho das equipes são sempre melhores que o trabalho dos grupos ou dos indivíduos nas organizações. É preciso ter um pouco de cautela para se decidir e implantar equipes de trabalho. Alguns cuidados devem ser considerados para se tomar a decisão mais estratégica sobre esta questão, isto é: • Trabalho em equipe costuma tomar mais tempo e consumir mais recursos que o trabalho individual. • Equipes têm maior demanda de comunicação, mais conflitos e mais reuniões. • Portanto: os benefícios do trabalho em equipe precisam superar seus custos. Além disso, é preciso considerar o rendimento de trabalho de uma equipe. A eficácia de uma equipe depende de alguns critérios, que são: • grau de lealdade dos membros entre si e com o líder; • confiança mútua e crença uns nos outros; • ajuda recíproca para desenvolver potenciais; • comunicação plena e franca; e • valores e necessidades de cada membro coerentes com os da equipe. 42 Capítulo 2 Eficácia é a capacidade de realizar/alcançar os objetivos. Eficiência é a capacidade de se obter a maior produção com o menor custo possível, ou seja, utilizar produtivamente os recursos. Envolve relação custo benefício. Efetividade é realizar a coisa certa para transformar a situação existente, ou seja, busca avaliar os resultados das ações implantadas, verificando os reais benefícios que as ações trarão. Verifica o impacto das ações. Seção 5 A socialização organizacional A relação que o homem, segundo De Beni (2004), estabelece com o ambiente externo e, portanto, com a realidade social, é uma relação dialética. Homem e ambiente representam dois sujeitos de interação, existindo entre eles uma relação de osmose e de troca que se prolonga por toda a vida; o homem influencia a realidade externa e é influenciado por ela. Por isso, a realidade social pode ser considerada como uma realidade objetiva, observada e estudada como um “objeto de laboratório”, ou como uma realidade subjetiva, isto é, como uma realidade que existe internamente em cada pessoa. Atenção! É importante, por isso, compreender que essa realidade externa e objetiva torna-se patrimônio psicológico individual. O processo que preside essa interiorização é a socialização. Com esse termo entende-se o processo mediante o qual a pessoa encontra-se com o exterior, feito de pessoas, coisas e regras, e tem a sensação de participar do mesmo mundo social delas. Socialização é, portanto, o processo pelo qual o indivíduo adquire os padrões de comportamento que são habituais e aceitáveis nos seus grupos sociais. Acompanhemos o exemplo: Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 43 Quando uma criança passa seus dias no jardim de infância, faz uma experiência de socialização, no sentido de que deve constantemente comparar-se com as outras crianças e harmonizar suas exigências com as delas, o que pressupõe que ela se torne cada vez mais consciente de que existem espaços, regras e modos de vida comuns. Esse processo de aprender a ser um membro de uma família, de uma comunidade, de um grupo maior começa na infância e perdura por toda a vida, fazendo com que as pessoas atuem, sintam e pensem de forma muito semelhante aos demais com quem convivem. A formação da personalidade dos indivíduos é assim influenciada pela cultura (experiência de vida, conhecimento, forma de pensar e sentir, hábitos, metas, ideais, etc.) da sociedade (grupos sociais) em que vivemos. A socialização processa-se em duas fases e é ajudada por diferentes figuras de referência; fala-se, por isso, de socialização primária e de socialização secundária. A socialização primária é a primeira socialização pela qual uma pessoa passa na infância, para tornar-se membro de uma sociedade. Os pais, antes de tudo, são as figuras que têm a função de introduzir a criança no mundo social. E a identificação é o meio pelo qual se verifica o processo de socialização primária. A socialização secundária é a continuação da socialização primária, mas tem características diferentes: • o grau de identificação com o agente socializante é de intensidade diferente; • também o envolvimento emotivo e a dependência psicológica são muito menores na socialização secundária; • a consciência de encontrar-se com figuras que interpretam um papel e pertencem a mundos institucionais já definidos é mais clara na socialização secundária; • com o crescimento, aumenta a consciência de que os modos de interpretar e viver o mundo social são diferentes e numerosos. Acompanhemos um quadro comparativo dos elementos da socialização primária e secundária. 44 Capítulo 2 Quadro 2 – Elementos que distinguem a socialização primária da secundária. Socialização Primária Socialização secundária Pais Sentimentos Fixa-se nas pessoas Identificação Outro “importante” Intensidade Diferença de poder (ou gradiente de autoridade) Grupos de referência Interesse Orienta-se a respeito das coisas Aceitação de um papel Autonomia Outro generalizado Distância Igualdade (ou paridade de direitos) Fonte: De Beni (2004, p. 271). A socializaçãoem geral será tanto maior quanto mais a pessoa conseguir assimilar com equilíbrio os conteúdos dos dois processos de socialização. O grupo de referência é um instrumento importante no processo de socialização secundária. Com esse termo entende-se o “grupo de pessoas que o indivíduo escolhe para avaliar os outros e a si mesmo”. Ele pode não pertencer a esse grupo, mas esse grupo é importante para ele como modelo ao qual se referir, para preferir determinados comportamentos. O grupo de referência é, além disso, um instrumento que permite à pessoa uma definição de si em termos psicológicos. Sabemos que nossa identidade é fruto também da imagem que os outros têm de nós. A imagem refletida pelo grupo de referência terá grande importância, porque pode fazer que nos sintamos realizados ou fracassados! E, na organização de trabalho, como fica a socialização? A socialização é o processo pelo qual a Cultura da empresa é transmitida. É a maneira como os indivíduos tornam-se membros de um grupo, aprendem as regras e os padrões de “como fazemos as coisas”. Duas facetas importantes da interação pessoal são a proximidade e a atração. Por proximidade queremos dizer a distância física entre os colaboradores que executam uma tarefa, por exemplo. O termo atração designa a atração das pessoas, umas pelas outras, em razão das semelhanças de percepção, atitudes, desempenho ou motivação. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 45 Aceitando as atividades grupais, o membro do grupo estará satisfazendo suas necessidades sociais, de segurança, de estima e de autorrealização. Assim, embora a pessoa seja atraída pelo grupo por causa das atividades dele, há também um subproduto importante dessa filiação grupal, que é a satisfação de várias necessidades. Atenção! Para favorecer a socialização, ações precisam ser estabelecidas de modo a levar as pessoas a melhor se organizarem em grupo. Segundo Moscovici (1995, p. 26), há três conjuntos interdependentes de variáveis internas que influem no comportamento humano: • competência – compreendendo conhecimentos, capacidades, experiência, maturidade; • energia biopsíquica – manifestando-se pela intensidade e extensão temporal da atividade física e mental, das emoções e sentimentos e das características de temperamento e humor; • ideologia – abrangendo valores sociais, políticos, religiosos e filosóficos que formam o conjunto de ideias e princípios hierarquizados, capazes de influenciar a percepção, raciocínio, julgamento e decisões. Para a autora, estes subsistemas interagem entre si e resultam em comportamento, desempenho e posicionamento no trabalho. Uma concentração predominante no componente energia biopsíquica e, mais especificamente, na fisiologia das emoções, parece constituir-se em estratégia de conteúdo específico para cada caso, já que as transformações nos demais aspectos (competência e ideologia) revelam-se como sendo decorrentes da primeira. Quais os fatores que influenciam o potencial humano nas organizações? Existem alguns fatores que devem ser considerados já que influenciam a análise de desempenho e desenvolvimento do potencial humano: 1. os relativos ao contexto da própria organização onde o indivíduo se insere; 2. os do macrocontexto onde se insere a organização; 3. os relativos à cognição, afeto e psicomotricidade do próprio indivíduo. 46 Capítulo 2 Para Schutz (1978, p. 49), existem três necessidades interpessoais que se manifestam em comportamentos e sentimentos para com outras pessoas e estão arraigadas em nosso autoconceito, quais sejam: inclusão, controle e afeição. A inclusão refere-se a sentimentos quanto a ser importante, ter significado ou mérito. O controle relaciona-se a sentimentos de competência (inteligência, aparência, praticabilidade e habilidade para enfrentar o mundo). A afeição está relacionada com o fato de uma pessoa sentir-se amada, isto é, de sentir que, se for revelada a totalidade de sua essência pessoal, será vista como plena de amor. Recentemente, esse autor tem utilizado para aplicação em organizações a palavra “abertura” em lugar de afeição, uma vez que, independente da existência, ou não, de afeto, as pessoas podem atuar eficazmente em suas relações, uma vez que estejam abertas à interação. Afirma que “a facilitação para um ambiente de alto desempenho está diretamente relacionada com a abertura e confiança entre as pessoas”. (SCHUTZ, 1994). Na atualidade, com os funcionários interligados por tecnologias da comunicação e informação, espalhados em vários pontos, a disseminação da cultura é mais importante do que nunca. Na figura seguinte aparecem as distintas etapas do processo de socialização em uma organização de trabalho. Observemos que a cultura na organização funcionará como a cola que junta as partes e dá às pessoas o senso de identidade e compromisso com algo maior do que o seu trabalho individual. Figura 1 – O processo de socialização e a cultura 1. Seleção 2. Condicionamento 3. Treinamento 4. Avaliação e Recompensa 5. Valores em Comum 6. Lendas e Folclore 7. Modelos de Comportamento Fonte: NEUHANSER, P.; BENDER, R.; STROMBERG, K. 2001, p. 78. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 47 Em suma, é importante que entendermos com este estudo que o trabalho em grupo e a participação em e dos grupos não é algo que acontece espontaneamente, “por si”. Para desenvolver um grupo de alto desempenho, qualquer que seja a perspectiva (a de quem coordena uma área, a de quem realiza um processo de seleção, a de quem organiza um curso de formação...), a ação para atuação no e por meio de grupos irá necessitar de um bom planejamento e implementação organizada. Para tanto, faz-se necessário que os responsáveis possuam as competências adequadas e, em geral, possuam uma boa base de psicologia institucional e de grupos. 49 Seções de estudo Habilidades Capítulo 3 Perfil do Gestor de Pessoas Com o estudo deste capítulo, o aluno terá condições para compreender quais são as competências éticas requeridas ao Analista ou ao Gestor de Pessoas (e Processos) nas organizações e no trabalho. Bem como poderá analisar e compreender os papéis que os profissionais da área de gestão de pessoas devem assumir e desenvolver para agregar maior valor aos resultados da empresa. Seção 1: Quem faz a gestão de pessoas? Atitudes e perfil do gestor Seção 2: Desafios à intervenção do gestor de pessoas nas organizações e no trabalho 50 Capítulo 3 Seção 1 Quem faz a gestão de pessoas? Atitudes e perfil do gestor 1.1 Um pouco de história sobre quem faz a Gestão de Pessoas Muitas vozes ecoam a importância das pessoas para as organizações e diversas áreas do conhecimento reforçam essa afirmação. Ciências Humanas, Ciências Sociais e da Saúde, todas alegam que precisamos centrar nossas melhores preocupações no ser humano que está a trabalhar. Não basta termos uma ideia de produto ou serviço a ser comercializado, sobre fornecedores e parceiros envolvidos com essa missão, estrutura física e tecnológica à execução e até mesmo o dinheiro necessário para colocarmos tudo isso em movimento se não tivermos as pessoas que transformem o planejamento no produto ou serviço que se deseja pôr no mercado. E nesse viés retomamos aqui uma pergunta importante: por que em discursos e práticas vemos as pessoas em crescente consideração no contexto laboral? Um Diretor de Recursos humanos da Toyota afirmou que: Pessoas estão por trás do nosso sucesso. Máquinas não têm idéias, não resolvem problemas, não agarram oportunidades. Somente pessoas que estejam envolvidas e pensando fazem à diferença (...). Todos os fabricantes de automóveis nos Estados Unidos têm basicamente o mesmo maquinário. Mas o modocomo as pessoas são utilizadas e envolvidas varia muito de um empresa para outra. A força de trabalho dá a qualquer empresa o seu verdadeiro poder competitivo. (DESSLER, 2003, p. 11). Bohlander (2005, p. 03), por sua vez, afirma que são as pessoas as principais fontes competitivas: • os recursos devem ter valor, refere-se à capacidade de encontrar meios de diminuir os custos; • os recursos devem ser diferenciados, ocorre quando não estão disponíveis aos concorrentes as suas habilidades e conhecimentos; • os recursos devem ser difíceis de imitar, ou seja, não podem ser copiados facilmente pelos outros; • os recursos devem ser organizados, seus talentos podem ser combinados, atribuindo suporte organizacional. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 51 Para o autor, as pessoas precisam ser gerenciadas por terem certas capacidades que não podem ficar disponíveis ao concorrente. Milkovich e Boudreau, por sua vez, destacam a capacidade criativa das pessoas. Visto isso, para eles: Talvez a melhor estratégia de RH seja contratar, treinar e remunerar as pessoas para que elas criem as melhores estratégias futuras, não importa em que condições. Essa estratégia daria menos ênfase na capacidade das pessoas em implementar as estratégias de hoje, e mais ênfase nos traços humanos genéricos, como criatividade, inteligência, curiosidade, confiabilidade e comprometimento com a organização, o que conduziria a estratégias mais eficazes”. (MILKOVICH; BOUDREAU 2000, p. 137). Em um contexto cada vez mais competitivo e veloz, a capacidade criadora do ser humano é desejada e apontada como necessária. Enfatizando o conhecimento, alguns autores destacam a capacidade humana de aprender e produzir como uns dos critérios necessários de serem atendidos à competitividade organizacional. O ser humano, como produtor de conhecimento, torna-se valorizado por essa sua capacidade. Práticas gerenciais são criadas e exercidas com o objetivo de que ao bem tratarem as pessoas elas retribuirão com maior comprometimento entregando mais conhecimento à organização. (GIRARD et al, 2012; NONAKA; TAKEUCHI, 1997). E, nesse contexto, em que por um motivo ou outro as pessoas ganham destaque, igualmente cresce em importância o gestor de pessoas, pois se espera dele a responsabilidade por formar e gerenciar as pessoas rumo à criatividade, produção do conhecimento e comprometimento para com a organização. Destacamos, nesse ínterim, que assim como todos os demais profissionais, também do gestor de pessoas espera-se uma conduta profissional ética. Por meio dos seus métodos de trabalho, entrevistará, observará, terá acesso a informações confidenciais de pessoas e instituições; as políticas e práticas que vier a desempenhar terão impacto direto sobre saúde e segurança, higiene, motivação, satisfação, sobrevivência de pessoas, para citar alguns aspectos. Sua missão é complexa porque está a serviço de uma organização com objetivos estratégicos, assim como dele se espera o conhecimento e a gestão sobre as motivações, conhecimentos e competências dos colaboradores. Espera-se, portanto, que além das competências técnicas, o gestor de pessoas desenvolva 52 Capítulo 3 competências relacionadas à comunicação, relacionamento interpessoal e posicionamento ético profissional. Contribuindo com este pensar, cabe lembrar que Toda organização guarda em seu interior comunidades variadas, micro-culturas se constituindo como um lugar de vida e não como um simples lugar de trabalho. Mas, passar desta constatação à afirmação segundo a qual a organização tornou- se uma comunidade funcionando sem um aparato de poder separado, instituindo uma certa orientação e um estilo de vida determinado, é desdenhar da existência de estratos diferentes preenchendo funções mais ou menos prestigiosas dentro de relações de consenso e de conflito. (ENRIQUEZ, 1997, P. 12). Novas práticas e modelos de gestão são apresentados e cultuados na contemporaneidade, assim como os colaboradores nutrem expectativas que podem ser divergentes e são fundadas em suas próprias histórias e experiências de vida. Lembramos, portanto, que o contexto organizacional é, também, espaço de tensões e conflitos de objetivos, comportamentos e expectativas. E, por assim saber, Tal ética, que deverá um dia ser formulada mais claramente, é particularmente exigente. Ela requer homens dotados de paixão, sem a qual a imaginação não pode emergir; de julgamento, sem o qual nenhuma realização é possível; de referência a um ideal, sem o qual o desejo não abandona sua forma arcaica; de aceitação do real e de suas obrigações, sem as quais os sonhos mais ambiciosos se transformam em pesadelo coletivo. Ela também requer que as organizações sejam um lugar onde a manipulação é banida e os esforços de todos na construção da organização e na edificação do social sejam reconhecidos. (ENRIQUEZ, 1997, p.17). Gerenciar pessoas, portanto, passa a ser também a arte de conviver com e a partir das diferenças. Como se constata a importância atribuída ao gestor de pessoas nas organizações? Demo e Fogaça (et al, 2011, p. 31), em pesquisa recente sobre o que tem sido estudado em gestão de pessoas, perceberam que: A importância das políticas de GP para as organizações tem Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 53 crescido nos últimos anos, o que pode ser constatado pelo aumento da produção acadêmica sobre o tema. É patente a evolução do número de grupos de pesquisa em GP no Brasil, ao considerar o levantamento dos censos de 2000 a 2010 no Diretório de Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), partindo de zero em 2000 e alcançando 109 grupos em 2010. Notável, também, é a evolução dos indicadores de produção Científica, Técnica e de Assessoria (CT&A) sobre GP nos censos de 2000, 2002, 2004, 2006 e 2008 da Base de Dados Lattes dos pesquisadores, onde, em 2000, foram registradas 33 produções e, em 2008, 1.309 produções, ou seja, um número 40 vezes maior que em 2000. Ano após ano cresce o interesse de pesquisadores de diversas áreas, da Administração à Linguística, passando pela Educação, Psicologia, Engenharias e Ciências da Saúde, por investigarem e compreenderem temas que pertencem à atuação do gerenciamento de pessoas. (DEMO; FOGAÇA et al, 2011). De uma perspectiva acadêmica para uma laboral, o Conselho Federal de Administração realizou pesquisa que corrobora a análise em questão: a partir do ano de 2006, cresceu a porcentagem de Administradores formados atuando na área de gestão de pessoas. Além disso, os índices de empregabilidade apontam que, no Brasil, o cargo gestor de pessoas é o terceiro que mais contrata administradores. Ocupando o terceiro lugar no ranking, fica atrás, nos indicadores, apenas para Gestão estratégica e gestão financeira. (MELLO, JÚNIOR; MATTAR, 2011). Fatores econômicos e culturais têm construído novas formas de se perceber o gestor de pessoas. Outros tempos significam, também, outros valores e práticas. Sabemos que esses fatores participam da construção de um modo de se perceber o homem, o trabalho e a própria forma de gerenciá-los. Especialistas compreendem a história da Administração em fases. Tal organização das mesmas tem um mérito didático, pois no contexto da ação percebemos estilos gerenciais que cruzam características de uma ou mais fases ainda nos atuais dias. Isso significa que se em determinada época as pessoas eram vistas apenas como recursos e, na atualidade, percebem-se suas múltiplas capacidades e potencialidades, ainda persistem, por outro lado, a repetição de modelos ultrapassados de gestão. 54 Capítulo 3 Em muitas empresas brasileiras, o RH restringe-se aos processos de registro e movimentação de pessoas, cumprindouma função burocrática cartorial. Essas estratégias são facilmente identificáveis em pequenas e médias empresas, mas também estão presentes nas empresas de grande porte. (TANURE; EVANS; CANCADO, 2010, p. 596). A distinção em fases da história da administração dá-se pelo reconhecimento de técnicas de gerenciamento específicas, com desafios e possibilidades inerentes à arte de gerenciar pessoas. Observamos que nessa história o ser humano foi percebido e gerenciado de diferentes formas. Vejamos: Quadro 1 – O trabalhador e o gestor na história da gestão de pessoas: Fase Trabalhador como Gestor de pessoas como Fase contábil (anos 1920) Um corpo-máquina que produz O guarda-livros responsável pela conferência dos trabalhos e horários cumpridos. Fase legal (anos de 1930-40) Detentor de alguns direitos O Chefe de pessoal que monitora direitos e deveres dos trabalhadores. Fase tecnicista (anos 1950) Alguém com habilidades específicas Gerente com a função de recrutar, selecionar, treinar e monitorar o desempenho. Fase administrativa (anos de 1960 a 1980) Sindicalista Como Gerente de Recursos humanos passa a se preocupar mais com os interesses e necessidades dos colaboradores. Fase estratégica (a partir de meados dos anos 1980 aos dias atuais) Alguém que pode contribuir e tem vontade de participar Gradativamente assume o papel de Gestor de Pessoas partícipe também das estratégias organizacionais. Fonte: Adaptado de Marras (2005). Observamos, nesse breve resgate de conhecimentos, que nos últimos 20 anos o gestor de pessoas tem sido convidado a se relacionar com os colaboradores sob uma perspectiva que vai além da técnica. Fenômenos históricos e culturais como incremento das práticas de relações comerciais internacionais, globalização e reestruturação de grandes empresas provocam alterações marcantes na economia e, por sua vez, têm impacto sobre a gestão das organizações. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 55 Bueno (2006) discute que inicia nesse período, como consequência dos fenômenos já citados, a terceirização de uma série de práticas tradicionais do gestor de pessoas, como o recrutar, selecionar e treinar colaboradores. Esse movimento impulsiona o gestor a uma maior participação na atuação estratégica da organização visando sua sobrevida e competitividade. Se há pouco mais de 100 anos o gestor de pessoas atuava como guarda-livros focado no controle dos horários, documentos e comportamentos do trabalhador, atualmente ele atua no desenvolvimento de políticas e práticas que coadunem as necessidades organizacionais com as possibilidades pessoais dos colaboradores. Neste momento, em que a área de Recursos Humanos passa a fazer parte de outras instâncias da empresa, ela deixa de ser meramente executora e passa a ser considerada estratégica, pois é convidada a atuar para que os objetivos empresariais possam ser alcançados com a ajuda dos trabalhadores. (BUENO, 2006, p. 103). Quem é o atual gestor de pessoas? Tal qual o significado do verbete perfil, essa etapa do capítulo não é fechada e conclusiva, mas mobilizadora a um pensar o gestor de pessoas como um colaborador inserido em contexto de trabalho e que, para tanto, tem demandas, características e desafios a vivenciar. Sabemos, pelo estudo anterior dos sistemas e subsistemas em gestão de pessoas, que uma das responsabilidades do gestor de pessoas é conhecer as tarefas e os cargos que desenvolvem cada atividade do processo laboral da organização. Compreendendo o Gestor de pessoas também como um colaborador organizacional e analisando o perfil do gestor de pessoas, Amatucci trabalhou sob a perspectiva do perfil profissiográfico, sendo que Chamaremos de perfil profissiográfico ao conjunto de atributos humanos que definem um profissional. Por atributos humanos entendemos qualidades que um ser humano pode possuir ou adquirir. O perfil descreve uma lista de qualificadores de uma pessoa; em particular, aqueles qualificadores de interesse profissional. Por este motivo, os atributos de perfil expressam- se de maneira ricamente variada: capacidades conhecimentos, habilidades, e, mais recentemente, competências. (2000, p.26). 56 Capítulo 3 Na pesquisa que realizou sobre o tema, Amatucci (2000) procurou identificar, inicialmente, quais habilidades e tarefas são indicadas pelas Teorias da Administração como sendo necessárias ao gestor de pessoas. O autor abordou autores como Taylor, Fayol, Katz, Stoner & Freeman, Barnard, Drucker, dentre outros, e concluiu que os elementos que definem quem é esse gestor para os principais autores da Administração são: • Ter responsabilidade pelo trabalho de outros. • Motivar, comandar e assegurar a colaboração. • Ter habilitação humana. • Responsabilidade pelos resultados ou objetivos da organização. • Prever, organizar, controlar, avaliar, coordenar ou manter a comunicação. • Estabelecimento ou formulação de objetivos. • Habilidade conceitual e técnica. • Qualidades morais, energia, firmeza e coragem. Em um segundo passo da pesquisa, Amatucci (2000) dedicou-se a estudar cases e literatura internacional sobre o tema, e concluiu que os atributos que definem o perfil do gestor consistem em: • Atuar em um ambiente complexo e que muda rápido. • Relacionar-se com maior frequência com outras organizações e países. • Trabalhar com os setores de modo a tratá-los como interdependentes. • Agir com vistas à descentralização do poder. • Compartilhar da visão e valores da organização. • Realizar acordos flexíveis entre organização e colaboradores. • Instaurar sistema de recompensas. • Incrementar o trabalho em equipes. • Aprender a aprender e viver a educação continuada. Já com a pesquisa documental que realizou no Brasil, Amatucci (2000) identificou alguns desafios que provocam alterações no modo de agir do gestor: • dificuldades econômicas e ambientais; • necessidade de diminuir as taxas de exclusão social; • inserir-se no cenário econômico internacional. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 57 Com o objetivo de apresentar as competências básicas, para Milkovich e Boudreau (2000, p.504), o Gestor de Pessoas, deve ter: 1) Conhecimento do negócio, ou seja, o entendimento dos aspectos financeiros, estratégicos, tecnológicos e organizacionais. 2) Fornecimento das práticas de recursos humanos, que consiste na capacidade de criar e implementar adequadamente atividades de recursos humanos, como recrutamento e seleção, remuneração, treinamento, estruturação organizacional, relações com empregados e comunicação. 3) Administração da mudança, que é a capacidade de gerenciar o processo de mudança e entender quais as mudanças necessárias, como a inovação e a criatividade. Neto (2008), em pesquisa sobre as habilidades requeridas ao exercício da gestão de pessoas, constatou que: • os diretores e executivos consultados indicam a necessidade de o gestor de pessoas ser mais estratégico e menos burocrata. “Hoje o gestor de pessoas tem que entender de gente e de negócios”, disse um dos entrevistados (p. 69); • o grupo pesquisado que abrangia doutores e mestres, por sua vez, destacou que o gestor de pessoas é “valorizador do ser humano, explorador do novo, questionador das rotinas, motivador da busca do alcance de metas, bem como aquele capaz de antecipar demandas.” (p. 70); • o terceiro grupo consultado, o qual era formado por gestores de pessoas, quando diante da demanda de identificar as habilidades para o seu exercício profissional, destacaram que para atuarem precisam ter “(...) liderança, a proatividade e o conhecimento do negócio, o que foi apontado por 75% desses entrevistados; o poder de negociação e o empreendedorismo foram apontados por50% dos entrevistados (p. 73); • O quarto grupo, composto por profissionais de áreas afins, destacou que: O perfil de RH foi traçado pelos entrevistados, com as seguintes características: • 80% citaram a ética como característica fundamental para estes gestores; • 80% mencionaram que os gestores de RH deverão inspirar confiança no relacionamento bem como saber ouvir e motivar as pessoas; • Outras características foram citadas como saber negociar, ter liderança, ser estratégico, conhecer o negócio, ser empreendedor, e ter altos valores pessoais. (p. 73). 58 Capítulo 3 Interessante observar os resultados dessa pesquisa. Algumas das habilidades citadas repetem-se mesmo em grupos distintos. Neto (2008) conclui que as qualidades mais requisitadas pelo mercado foram as seguintes: • visão generalista de negócio; • boa comunicação; • confiabilidade; • inovador; • ética; • capacidade de mediar conflitos; • orientação para resultados; • proatividade; • criatividade; • empreendedor. Em análise à pesquisa dos autores supracitados, percebemos que seja na pesquisa bibliográfica de Administração, literatura internacional sobre o tema, ou considerando os desafios brasileiros, algumas afirmações merecem atenção. Em todas as fontes de pesquisa há um indicativo de que o gestor de pessoas: atua de maneira integrada e estratégica; age no contexto da sua organização, mas considerando uma perspectiva internacional; exercita práticas participativas; atua como mediador de objetivos de colaboradores e da organização; busca sempre atualização do conhecimento. Segundo Lacombe e Chu (2008), as pesquisas sobre gestão de pessoas podem ser caracterizadas por quatro padrões: estratégica, comportamental, de recursos da empresa e sistêmica. Vejamos as características destes padrões gerenciais: Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 59 Quadro 2 – Abordagens no estudo da Gestão de Pessoas: Abordagem Característica principal Estratégica As pessoas são apresentadas como recurso competitivo; ênfase nas ações de planejamento; coerência entre políticas; preocupação com as práticas de emprego; integração de políticas e práticas de emprego com a estratégia de negócios (alinhamento externo); administração proativa em vez de reativa; e tomada de decisões sobre os aspectos da relação de emprego no mais alto nível hierárquico. Comportamental O gestor considera os papéis necessários à implementação da estratégia (WRIGHT; MCMAHAN, 1992) sob as premissas de que o comportamento é o principal mediador entre estratégia e implementação efetiva, e de que as políticas e práticas de RH devem ser direcionadas para a promoção e o controle dos comportamentos necessários à implementação. Acredita- se também que diferentes estratégias demandam diferentes tipos de comportamento das pessoas. Dos recursos A teoria dos recursos da empresa direciona a atenção para recursos internos; quando raros, insubstituíveis e não facilmente copiáveis, podem configurar uma base para a obtenção de vantagem competitiva sustentável. Empresas organizadas por competências, um tipo especial de recurso interno, devem desenvolver um plano detalhado de como cada política de RH contribui para os objetivos estratégicos. Sistêmica Práticas que transcendem o controle da área específica de RH, como comunicação, desenho do trabalho, cultura e liderança, impactam as pessoas e moldam suas competências, cognições e atitudes. Fonte: Adaptado de Lacombe e Chu (2008). Conhecimentos, habilidades e competências são, portanto, apontados como necessários ao fazer gestão de pessoas. Seção 2 Desafios à intervenção do gestor de pessoas nas organizações ou o trabalho Vimos que o Gestor de pessoas tem mudado (nome e atuação) conforme o contexto econômico e cultural. Seus papéis e atribuições interligados estão às necessidades das organizações e, nesse ínterim, pode-se falar de desafios contemporâneos à intervenção do gestor de Pessoas. 60 Capítulo 3 Campello (2001) reflete sobre algumas variáveis que alteram a eficiência na atuação de um gestor de pessoas. Possíveis variáveis no processo de gestão de pessoas Algumas variáveis que podem ser isoladas para o estudo do processo de gestão de pessoas estão relacionadas a seguir, sem nenhuma ordem de importância ou priorização, pois combinadas elas potencializam impactos diferentes em cada organização, dependendo do momento estratégico de gestão de pessoas em que a organização se encontra ou do seu mercado de atuação: Avaliação do potencial Conhecer o potencial do capital humano é importante para que gestores e organização compreendam o espaço de movimentação e crescimento possível das pessoas ou a necessidade de se adequar perfis com treinamentos ou até troca de pessoas. Avaliação do desempenho por objetivos As pessoas precisam de desafios e devem ser avaliadas com base na busca de resultados; a busca de desafios (realização) é um dos motivos sociais de McClleland 1 (1988). Remuneração fixa versus remuneração variável A remuneração fixa é fator importante que aliada à remuneração variável e à avaliação de desempenho traz fortes componentes de satisfação no conceito dos motivos sociais de McClleland & Burnham (2001), que é a necessidade de realização; quanto maior os resultados conseguidos, maior a realização e em consequência a remuneração variável. Treinamento O desempenho de funcionários e das equipes bem treinadas é fator inquestionável que influi nos resultados e na motivação da equipe. Também é possível mudar atitudes dos colaboradores através do treinamento. Desenvolvimento pessoal Ambientes e lideranças que incentivem o desenvolvimento de seus colaboradores têm mais chances de ter em seus quadros profissionais qualificados, diferenciados e motivados. 1 Davi McClleland foi Psicólogo americano reconhecido por suas contribuições às Teorias da Motivação. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 61 Responsabilidade social Não só as empresas, mas também os gestores que incentivam seus funcionários a se preocuparem com a responsabilidade social são percebidos como sendo mais responsáveis e idôneos, trazendo maior identificação entre empresa e seus colaboradores e, também, com o público externo. Imagem da organização e da área Organizações com um impacto positivo no mercado, com imagem de preservação de ambiente e de produtos que agregam valor sem prejuízo do ambiente e com responsabilidade social, encontram em seus colaboradores maior identificação pessoal e satisfaz à segunda. Fonte: CAMPELLO, 2011, p.7. A otimização dos processos produtivos, os complexos ritmos da competitividade, o crescente investimento em tecnologias, dentre outros aspectos, impactam o modo como os colaboradores percebem um gestor de pessoas. Para além de gerenciar, há que ser um líder mobilizador de pessoas e de objetivos que contribuam de maneira eficaz com as estratégias organizacionais. Saber trabalhar em equipe, delegar tarefas e, assim, ganhar em adesão, satisfação e aproveitamento do tempo são alguns dos desafios apresentados pelo consultor (CAMPELLO, 2011). Em entrevista à Revista Melhor, 70 executivos das mais diversas áreas de negócio analisaram as atuais circunstâncias de trabalho do gestor de pessoas no Brasil. Quanto aos desafios a serem levados em consideração com vistas à preparação e superação dos mesmos, destacaram-se pela frequência de respostas recolhidas entre esses os seguintes: • saber influenciar pessoas exercendo o poder com eficácia, sem confundir-se com ele. Visto que o Gestor de Pessoas é um mediador dos objetivos das pessoas e das organizações, não saber exercer o poder da liderança poderá trazer-lhe prejuízo na gestão; • saber se comunicar: fazer-se entendido minimizandoao máximo os erros de comunicação; 62 Capítulo 3 • promover o desenvolvimento de pessoas: em seu desenvolvimento de habilidades, competências. Isso requer conhecimento de técnicas de avaliação e acompanhamento a fim de que bem possa diagnosticar as necessidades de intervenção, assim como intervir mediante programas de treinamento, desenvolvimento e feedback; • saber negociar interesses de pessoas e organizações: talvez seja esse o principal desafio do gestor de pessoas, dada a história do surgimento dessa gestão. • atuar em equipe apesar das diferenças: conviver com estilos cognitivos, emocionais, comportamentais diferentes e saber fazê- los atuar em equipe; • saber criar: desenvolver políticas e práticas que sejam percebidas como criativas e inovadoras; • conhecer as necessidades e especificidades da equipe de trabalho: manter relacionamento próximo e instrumentos de diagnóstico de necessidades atualizados; • ser dotado de inteligência emocional para lidar com as adversidades. • saber planejar antes de executar: percebe-se no cotidiano organizacional, a realização de ações motivadas por modismos e tendências, sem uma precisa análise das necessidades e especificidades da equipe e da organização. Bueno (2006) acresce à discussão a necessidade de o gestor de pessoas preocupar- se com a aprendizagem de todos os inseridos na organização em que atua: Uma das atribuições da área de Gestão de Pessoas (GP), na atualidade, consiste em trabalhar com o desenvolvimento do capital intelectual da empresa por meio da gestão do conhecimento, ou seja, elevar os conhecimentos do trabalhador, encontrar formas de que eles sejam explicitados e objetivados, a fim de proporcionar os resultados esperados. (BUENO, 2006, p. 103). Observamos, nos estudos aqui apresentados, que, dentre os desafios que se apresentam ao ser gestor de pessoas neste início de século, alguns se impõem de maneira nova. Um exemplo disso é a necessidade de o próprio gestor inserir-se em contexto de aprendizagem permanente, mantendo os seus conhecimentos, habilidades e competências atualizados e alinhados às estratégias organizacionais. Destacamos, também, o desafio de trabalhar de maneira planejada fazendo uso do recurso de diagnóstico para bem identificar as necessidades e projetar o plano de ação. 63 Habilidades Seções de estudo Seção 1: Qualidade de Vida no Trabalho Seção 2: Relação homem e trabalho: a saúde em questão Seção 3: Segurança e Medicina no Trabalho Este capítulo visa propiciar o desenvolvimento das habilidades necessárias para entender o significado, o movimento, os estágios e os modelos de aferição dos programas de qualidade de vida no trabalho. Além disso, visa desenvolver habilidades para a análise e a compreensão das condições de segurança no ambiente de trabalho, bem como para a compreensão das condições necessárias para avaliar ações relativas à saúde mental do trabalhador. Saúde e segurança no trabalho Capítulo 4 64 Capítulo 4 Seção 1 Qualidade de Vida no Trabalho A preocupação com as condições de trabalho nas organizações é algo que adquiriu maior intensidade ao longo do século XX e que, atualmente, continua a crescer. No começo da década de 1950, alguns estudiosos na Inglaterra, mais precisamente no Tavistock Institute de Londres, iniciaram pesquisas para relacionar os elementos constituintes do trinômio indivíduo/trabalho/organização. Esses estudos foram chamados pelos pesquisadores de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT). Contudo, embora seja geral a aceitação da importância da discussão sobre o tema, não há um consenso acerca do conceito da QVT. Ocorre que muitos dos pesquisadores acabam por dar-lhe uma definição, e esta vem a ser a que julgam mais adequada ou abrangente para compreendê-la. Para sintetizar a questão dessas diferentes visões históricas da QVT, veja a seguir um quadro que ilustra a situação. Quadro 1 – Concepções de QVT Período Definição 1959/1972 A QVT foi tratada como reação indivi dual ao trabalho ou às consequências pessoais de experiência do trabalho. 1969/1975 A QVT dava ênfase ao indivíduo antes de dar ênfase aos resultados organiza cionais, mas ao mesmo tempo era vista como um elo dos projetos cooperativos do trabalho gerencial. 1972/1975 A QVT foi o meio para o engrandeci mento do ambiente de trabalho e a execução de maior produtividade e satisfação. 1975/1980 A QVT, como movimento, visa à utili zação dos termos “gerenciamento par- ticipativo” e “democracia industrial” com bastante frequência. 1979/1983 A QVT é vista como um conceito glo bal e como uma forma de enfrentar os problemas de qualidade e produtividade. Previsão Futura A globalização da definição trará como consequência inevitável a descrença de alguns setores sobre o termo QVT. E para estes QVT nada representará. Fonte: Adaptado de Nadler; Lawler (1983, apud RODRIGUES, 1995). Sinteticamente, pode-se dizer, mediante o quadro exposto, que a QVT implica ao menos três ordens de fatores, quais sejam: boas condições de trabalho no que se refere ao ambiente físico e à jornada de trabalho; equilíbrio entre o tempo dedicado ao trabalho e o restante do tempo para outras atividades no espaço total de sua vida; e oportunidade de crescimento e valorização do seu trabalho na organização. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 65 Arellano (2004, p. 147), um dos pesquisadores do assunto, propõe a seguinte definição: Qualidade de Vida no Trabalho tem como objetivo principal a busca do equilíbrio psíquico, físico e social dos empregados, dentro do contexto organizacional, considerando as pessoas como seres integrados nessas três dimensões, através de ações que refletem em um aumento na produtividade e na melhoria da imagem da empresa, tanto interna como externamente, levando a um crescimento pessoal e organizacional. A definição de Arellano aponta três dimensões que considera fundamental para entender a QVT: o equilíbrio psíquico, físico e social dos empregados da organização. Do ponto de vista prático, uma das preocupações dos estudiosos e mesmo das organizações de trabalho consiste em medir os níveis de QVT entre os trabalhadores. Nesse sentido, RODRIGUES (1994) indica existirem algumas ferramentas para se aferir o nível de satisfação dos trabalhadores em relação à QVT: o modelo de HUSE & CUMMINGS(1985); SHAMIR & SALOMON (1985); HACKMAN et al (1975); e WALTON (1973). Esse último autor, Richard Walton, tem sido referenciado na literatura brasileira como proponente de um dos principais modelos de aferição da QVT nas organizações, pela amplitude dos oito critérios sugeridos por ele e, portanto, a serem investigados nas pesquisas. Os critérios indicados pelo autor são: 1. Compensação justa e adequada: sendo o trabalho um meio de o sujeito ganhar a vida, a remuneração – embora sempre dependa de fatores subjetivos do recebedor – deve obedecer aos critérios da equidade e adequação ao trabalho realizado. 2. Condições de trabalho: esta dimensão diz respeito às questões de segurança e saúde no trabalho, envolvendo aspectos como ambiente físico, horários e respeito à idade adequada do trabalhador para as tarefas. 3. Uso e desenvolvimento das capacidades: esta dimensão refere- se ao fornecimento de oportunidade imediata para a utilização e desenvolvimento das capacidades humanas no trabalho. Assim, cinco requisitos deveriam ser atendidos para alcançar tal dimensão: autonomia no trabalho, uso de múltiplas habilidades do trabalhador, fornecimento de informações e perspectivas, além de tarefas completas e possibilidade de planejamento. 66 Capítulo 4 4. Oportunidade de crescimento e segurança: neste item é focalizada a oportunidade de carreira para as pessoas na organização. Portanto, valorizam-seaqui os aspectos relativos ao desenvolvimento contínuo, as oportunidades de progresso e a segurança de emprego para os trabalhadores. 5. Integração social na organização: este item diz respeito à ausência de privilégios e discriminações na organização de trabalho. É valorizada aqui a ausência de preconceitos de cor, raça, sexo, religião, nacionalidade, estilo de vida e aparência física. 6. Constitucionalismo: esta dimensão refere-se ao respeito dos direitos e cumprimento dos deveres para com o trabalhador. Os aspectos centrais seriam o direito à privacidade, ao posicionamento livre das ideias e o tratamento justo em todos os assuntos. 7. O trabalho e o espaço total de vida: esta dimensão focaliza a relação entre o tempo e energia dedicados ao trabalho e aos demais aspectos da vida, como família, amigos, lazer etc. O trabalho, se não respeita um equilíbrio, pode afetar todos os demais aspectos na vida do sujeito. 8. Relevância social do trabalho na vida: esta última dimensão diz respeito às formas como as organizações agem diante de seus empregados e da sociedade. As formas de agir das organizações podem afetar diretamente a autoestima dos trabalhadores. No modelo de Walton, esses critérios objetivam dar condições de mensurar a qualidade de vida no trabalho em relação ao tema que abordam. Assim, os indicadores de QVT tornam essa mensuração possível e precisa à medida que identificam fatores presentes nas situações reais de trabalho ligadas aos critérios a que estão relacionados. Para facilitar o entendimento integral da proposta conceitual de Walton, segue abaixo um quadro em que se podem visualizar sinteticamente as dimensões e respectivos indicadores de qualidade de vida no trabalho. Quadro 2 – Categorias Conceituais de Qualidade de Vida no Trabalho, conforme Walton Critérios Indicadores de QVT 1. Compensação justa e adequada equidade interna e externa justiça na compensação partilha dos ganhos de produtividade proporcionalidade entre salários continua ... Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 67 2. Condições de trabalho jornada de trabalho razoável ambiente físico seguro e saudável ausência de insalubridade 3. Uso e desenvolvimento de capacidades autonomia autocontrole relativo qualidades múltiplas informações sobre o processo total do trabalho 4. Oportunidade de crescimento e segurança possibilidade de carreira crescimento pessoal perspectiva de avanço salarial segurança de emprego 5. Integração social na organização ausência de preconceitos igualdade mobilidade relacionamento senso comunitário 6. Constitucionalismo direitos de proteção do trabalhador privacidade pessoal liberdade de expressão tratamento imparcial direitos trabalhistas 7. O trabalho e o espaço total de vida papel balanceado no trabalho estabilidade e horários poucas mudanças geográficas tempo para lazer da família 8. Relevância social do trabalho na vida imagem da empresa responsabilidade social da empresa responsabilidade pelos produtos práticas de emprego Fonte: Fernandes (1996). 68 Capítulo 4 Na operacionalização de uma pesquisa de QVT nas organizações, pode-se adotar para cada dimensão dos oito critérios uma escala de valores que, por exemplo, varie de 0 (zero), significando com isso que o funcionário está “Muito Insatisfeito” até 5, significando com isso que o funcionário está “Muito Satisfeito”. Nesse caso, ao se adotar tal escala, o valor médio de 2,5 significaria uma posição intermediária de “neutralidade”, por parte do trabalhador, com o critério ou a dimensão considerados. Ao final, pode-se obter a média das respostas tanto quanto as dimensões, quanto também a média em relação ao critério específico considerado. Tais pesquisas podem, por consequência, ser de grande valia para a tomada de decisões estratégicas por parte das organizações preocupadas com a QVT entre seus funcionários. Seção 2 Relação homem e trabalho: a saúde em questão O trabalho toma grande parte da vida das pessoas. Com isso, acaba se tornando uma área central em suas vidas. Conforme Canova e Porto (2010) afirmam, tal situação traz consequências para a integridade nos âmbitos físico, psíquico e social dos trabalhadores. Além de proporcionar realizações, o trabalho pode também gerar problemas ao desencadear prejuízos à saúde do trabalhador. O ambiente de trabalho é o espaço de relação entre pessoa e trabalho. Para Spector (2010), o impacto deste ambiente pode-se dar de duas maneiras: direta ou indiretamente. Diretamente, quando o trabalhador sofre consequências imediatas e que, por vezes, podem ser severas ou fatais, como a morte ocasionada por um choque elétrico de alta voltagem, no caso de um eletricista, por exemplo. Indiretamente, quando o trabalho afeta a saúde por um longo período, devido à exposição prolongada a situações e substâncias que podem desencadear problemas de toda ordem. É o caso de exposição a substâncias tóxicas que podem levar ao câncer após muitos anos de trabalho, por exemplo; ou a realização de atividades de cunho repetitivo que podem desencadear as chamadas lesões por esforço repetitivo (LER) e ainda os distúrbios osteomoleculares relacionados ao trabalho (DORT). Spector (2010, p. 412) apresenta um levantamento de algumas das frequentes fontes de doenças e lesões juntamente com algumas das ocupações comuns para as quais cada uma é particularmente problemática. De acordo com o autor, essas fontes representam “condições físicas concretas no trabalho que têm a maior probabilidade de afetar a saúde física e o bem-estar emocional”. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 69 Quadro 3 – Fontes frequentes de doenças e lesões para trabalhadores em algumas ocupações Fonte Ocupação Doenças infecciosas Dentista, enfermeiro Ruído excessivo Carregador de bagagens em aeroporto, músico Ataques físicos Policial, agente carcerário Movimentos repetitivos Digitador, datilógrafo Temperaturas extremas Guarda florestal, construtor de telhados Sustâncias tóxicas Dedetizador, trabalhadores rurais Fonte: Spector (2010). Evidentemente, após observar o quadro, pode-se pensar nas inúmeras possibilidades de ampliação do mesmo, considerando-se a diversidade de profissões e ocupações existentes. Da mesma forma que podem ser multiplicadas as atividades ocupacionais, podem-se ampliar as respectivas fontes de doenças. Outro aspecto importante diz respeito às condições físicas do trabalho cujos efeitos podem ser imediatos, mas que frequentemente ocorrem após um longo período de tempo. 2.1 Saúde mental do trabalhador Embora a questão da saúde no trabalho não se constitua em temática nova, sua relevância tem atualmente assumido papel de destaque nas discussões relativas ao trabalho no ambiente organizacional e mesmo fora dele. Tais discussões não se restringem a apenas uma área de conhecimento, a psicologia da saúde ocupacional, e implicam a contribuição de vários profissionais e suas respectivas áreas de competência. Além disso, as implicações legais, considerando-se a ampliação da legislação e do poder dos órgãoes fiscalizadores, fazem com que o assunto seja cada vez mais objeto de ações por parte das organizações de trabalho. A literatura costuma organizar os estudos sobre o binômio saúde e trabalho em três grandes categorias gerais, a saber: estudos de saúde ocupacional (avaliam os efeitos dos aspectos físicos do local/ambiente de trabalho sobre a saúde); estudos de psicologia ocupacional (avaliam as características psicológicas e psicossociais do trabalho que afetam a saúde); estudos sociológicos (avaliam os fatores objetivos e sociais do trabalho que interferem na saúde). Tal categorização Condições físicas do trabalho A Psicologiada Saúde Ocupacional (PSO) constitui uma área da psicologia que estuda os fatores psicológicos que contribuem para a saúde e o bem- estar ocupacional. Ela lida com as reações psicológicas a condições físicas e não físicas de trabalho, bem como as condições que afetam a saúde, o estresse ocupacional, acidentes de trabalho e o esgotamento físico e mental. 70 Capítulo 4 possibilita pensar a questão da saúde no trabalho sob os vieses individual (personalidade, características pessoais etc.) e coletivo (grupos, relacionamentos, clima de trabalho etc.), bem como dentro de parâmetros intrínsecos (natureza da atividade, por exemplo) e extrínsecos (ambiente, por exemplo). O trabalho é, talvez, uma das mais interessantes e paradoxais das atividades humanas, pois como já foi dito aqui, ocupa grande parte do tempo total de vida das pessoas além de ser instrumento para o homem operar e transformar a natureza em geral e, com isso, suas próprias condições de vida. Mas o paradoxo surge exatamente devido ao grande potencial transformador (pessoal e social) que o trabalho possui e a forma sob a qual é organizado em nossa sociedade. Assim, na forma de emprego, o trabalho constitui-se muitas e muitas vezes em uma tarefa repetitiva e sem possibilidade da expressão criativa e autônoma do sujeito que trabalha. Nessas condições podemos dizer que há grande probabilidade de ocorrer situações de sofrimento psíquico no trabalho. Em outras palavras, pode-se dizer que o trabalho pode ser fonte de grande realização pessoal e social, na medida em que o seu sentido está associado à expressão subjetiva das pessoas, mas também pode ser fonte de desprazer e vivido de forma meramente instrumental, ou seja, apenas como forma de conseguir meios de subsistência (dinheiro etc.). Nesse último caso, quando o trabalho é fonte de desprazer e sofrimento, é bastante razoável hipotetizar que o mesmo possa estar associado à gênese de algumas psicopatologias. Afirmar, contudo, que determinados tipos de trabalho podem estar associados ao surgimento de psicopatologias não implica concluir que há uma lógica linear capaz de estabelecer uma explicação causal direta entre o trabalho e o aparecimento de alguma psicopatologia no sujeito que desenvolve tal trabalho. Ao se recorrer a essa forma linear de explicação estaríamos incorrendo no equívoco de considerar que existe alguma psicopatologia determinada pelo trabalho, ou seja, seria considerar que o trabalho pode ser o motivo gerador de uma psicopatologia, como uma relação simples de causa e efeito. Mas, se não se pode buscar no trabalho a origem de alguma psicopatologia, isso implicaria descartar o trabalho como um fator de risco para o surgimento de algum distúrbio de natureza psicológica? Evidentemente que descartar a relação linear de causa e efeito, entre trabalho e psicopatologia, não implica afastar o trabalho dos estudos etiológicos das psicopatologias. O trabalho deve ser considerado como mais uma das variáveis, embora com um peso muito considerável, implicadas na gênese de um fenômeno; ou seja, o trabalho, como um componente estrutural da vida das pessoas, comparece fortemente na condição de saúde mental de quem trabalha. Etiológico Estudo das origens de um objeto, no caso, das doenças psicológicas. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 71 O estudo da saúde mental requer levantar as variáveis implicadas na gênese das psicopatologias e, nesse sentido, o trabalho pode aparecer como uma dessas variáveis fundamentais. De acordo com Codo (2004), para relacionar o trabalho com as psicopatologias, o correto seria, portanto, fazer as perguntas certas. Assim, sugere o autor que os rumos desse tipo de estudo seja capaz de responder ao seguinte: quais as psicopatologias que ocorrem com mais frequência em um determinado cargo, função ou tarefa, e que características deste trabalho podem estar associadas ao risco maior de ocorrência desta ou daquela psicopatologia. Em síntese: qual a probabilidade de que este trabalho, ou esta característica do trabalho, tem de instalar esta ou aquela psicopatologia. (CODO, 2004, p. 14). Tal tipo de questionamento coloca os estudos de saúde mental no trabalho no campo da ciência probabilística, que busca por fatores de risco na associação entre determinadas configurações ambientais em que se desenvolvem o trabalho e as psicopatologias entre os trabalhadores. Responder a esse tipo de pergunta implicará a possiblidade de avaliação das condições de trabalho das pessoas, bem como a capacidade de avaliar as ações e/ou inações, por parte das organizações, na promoção e prevenção da saúde mental de seus trabalhadores. Além disso, entender as condições de bem-estar das pessoas nas organizações também pode constituir-se em bom indicativo para avaliar as ações relativas à saúde, e também à saúde mental, do trabalhador. Nesse sentido, Paz (2004) estabelece o bem-estar individual como: a satisfação de necessidades e realização de desejos dos indivíduos no desempenho do seu papel organizacional, sem desconsiderar o seu oposto, o mal-estar decorrente da insatisfação de necessidades e da não realização de desejos dos membros no cotidiano organizacional. (PAZ, 2004, p.138). 72 Capítulo 4 Entendendo, portanto, o conceito de bem-estar dos indivíduos nas organizações associado aos estudos de saúde do trabalhador, a autora supracitada menciona, em decorrência, os indicadores para uma avaliação dessa condição, orientados por dois polos de estudo, quais sejam: a “gratificação” e o “desgosto” no trabalho. Os indicadores para avaliar a gratificação, mencionados por Paz (2004, p. 138 e 139), são: a. valorização do trabalho: percepção de que seu trabalho é importante para si mesmo, para a organização e para a sociedade; b. reconhecimento pessoal: percepção de ser admirado e recompensado por sua competência; c. autonomia: percepção de liberdade para ajustar a execução do trabalho ao seu estilo pessoal; d. expectativa de crescimento: percepção de possibilidades de desenvolvimento pessoal e profissional; e. suporte ambiental: percepção de segurança, apoio material, tecnológico e social; f. recursos financeiros: percepção de justa relação de troca entre o trabalho realizado e o salário recebido; g. orgulho de pertencer à organização. No polo oposto, os indicadores do desgosto, que refletem o mal-estar dos indivíduos no trabalho, são: a. perceber indiferença e desvalorização do seu trabalho; b. temer não atender às exigências da organização, relativas às atividades que desempenha; c. não conseguir imprimir o seu estilo pessoal na execução de suas tarefas; d. não ter perspectivas de crescimento pessoal e profissional; e. não ter condições adequadas de trabalho para o alcance do desempenho esperado; f. perceber injustiça salarial; g. sentir frustração por pertencer à organização. 2.2 Segurança e Saúde no Trabalho A preocupação com a saúde do trabalhador surgiu com a Revolução Industrial e os novos processos industriais, pois começaram a surgir doenças ou acidentes Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 73 decorrentes do trabalho. Desse momento, observou-se a necessidade de elaborar normas para melhorar o ambiente de trabalho em seus mais diversos aspectos, de modo que o trabalhador não fosse prejudicado com agentes nocivos à sua saúde. O Direito passou, a partir da Revolução Industrial, a determinar certas condições mínimas que deveriam ser observadas pelo empregador, inclusive aplicando sanções para tanto e exercendo fiscalização sobre as regras determinadas. A segurança e a medicina do trabalho são o segmento do Direito do Trabalho incumbido de oferecer condições de proteção à saúde do trabalhador no local de trabalho e desua recuperação quando não se encontrar em condições de prestar serviços ao empregador. No Brasil, o reconhecimento pela garantia em oferecer condições de segurança e saúde aos trabalhadores no ambiente de trabalho assumiu uma maior dimensão com o Decreto-Lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943, sancionada pelo presidente Getúlio Vargas, unificando toda legislação trabalhista existente na Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT. A CLT, desde a sua publicação, ganhou alterações em sua redação devido à evolução das relações de trabalho na sociedade. Mas independente disso, continua sendo o principal instrumento para regulamentar essas relações e proteger os trabalhadores. Um exemplo disso é a Lei n. 6.514/77 que dá nova redação aos arts. 154 a 201 da CLT, relativos à segurança e à medicina do trabalho. Esta lei dispõe sobre serviço especializado em segurança e medicina do trabalho, equipamento de proteção individual, atividades e operações insalubres e perigosas etc. Esta realidade em torno das relações de trabalho exigiram novos papéis a serem desempenhados pelos agentes envolvidos no processo trabalhista. Como versa o art. 157 da CLT, as empresas, por exemplo, têm obrigações: Art. 157 - Cabe às empresas: I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho; II - instruir os trabalhadores, por meio de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar para evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais; III - adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente; IV - facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente. Consolidação das Leis do Trabalho A CLT regulamenta as relações trabalhistas tanto do trabalho urbano quanto do rural. 74 Capítulo 4 Quanto aos empregados, o art. 158 da CLT estabelece que estes devem observar e colaborar com a empresa na aplicação das normas de segurança e medicina do trabalho, inclusive nas instruções ou ordens de serviços quanto às precauções no local de trabalho, de modo a evitar acidentes ou doenças ocupacionais. Devem eles, também, colaborar com a empresa na aplicação das normas de medicina e segurança do trabalho. A Portaria n. 3.214/78 dispõe sobre as Normas Regulamentadoras - NR, relativas à Segurança e Saúde no Trabalho. E, conforme versa a NR 1, é de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT. O não cumprimento das disposições legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho acarretará ao empregador a aplicação das penalidades previstas na legislação pertinente. Sob a ótica do empregado ocorre o mesmo processo: constitui ato faltoso a recusa injustificada do empregado ao cumprimento de suas obrigações com a segurança do trabalho. A segurança e a medicina do trabalho são o segmento do Direito do Trabalho incumbido de oferecer condições de proteção à saúde do trabalhador no local de trabalho ou de sua recuperação quando não se encontrar em condições de prestar serviços ao empregador. As Delegacias Regionais do Trabalho (denominadas atualmente de Superintendência Regional do Trabalho e Emprego – SRTE) constituem o órgão subordinado ao Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, destinado à aproximação deste com o empregado, tendo poderes para proceder homologações, fiscalizações regionalizadas, bem como receber queixas e denúncias de ilegalidades praticadas por empresas sob sua jurisdição e promover mesas redondas no sentido de ajustar condutas. Estas Delegacias (Superintendências), conforme versa o art. 156 da CLT, devem promover a fiscalização do cumprimento das normas de segurança e medicina do trabalho nas empresas, adotando as medidas necessárias para isso: determinando obras e reparos que, em qualquer local de trabalho, sejam exigíveis e impondo as penalidades pelo descumprimento de tais regras. Regras e normas são necessárias para se estabelecer controle e, consequentemente, facilitar a segurança. No que se refere ao trabalho, o respeito e o cumprimento dessas normas são essenciais para garantir que os trabalhadores estejam confortáveis e em situação de segurança. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 75 2.3 Medidas preventivas em saúde no trabalho Existem medidas preventivas importantes para a medicina no trabalho, tais como a realização de exames médicos. De caráter obrigatório, estes exames serão sempre de responsabilidade do empregador. O médico poderá ainda exigir outros exames complementares, a seu critério, para apuração da capacidade ou aptidão física e mental do empregado em razão da função [a ser] exercida. Os resultados dos exames médicos deverão ser comunicados ao trabalhador, inclusive o complementar, observados os preceitos da ética médica. A NR 7 da Portaria n.° 3.214/78 versa sobre a obrigatoriedade de elaboração e implementação do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO, incluindo como seu papel a realização dos exames médicos. Para cada exame médico realizado, o médico emitirá o Atestado de Saúde Ocupacional (ASO). O exame médico compreende a avaliação clínica, abrangendo anamnese ocupacional e exame físico e mental. Caso o médico solicite exames complementares, deverão estes ser realizados de acordo com os termos específicos da NR 7. O exame médico admissional é realizado antes que o trabalhador assuma suas atividades, enquanto que o periódico deve ser realizado da seguinte forma: • Para trabalhadores expostos a riscos ou situações de trabalho que impliquem o desencadeamento ou agravamento de doença ocupacional, ou, ainda, para aqueles que sejam portadores de doenças crônicas, os exames deverão ser repetidos: - a cada ano ou a intervalos menores, a critério do médico encarregado, ou se notificado pelo médico agente da inspeção do trabalho, ou ainda como resultado de negociação coletiva de trabalho; - de acordo com a periodicidade especificada no Anexo n° 06 da NR 15, para os trabalhadores expostos a condições hiperbáricas. • Para os demais trabalhadores: - anual, quando menores de 18 anos e maiores de 45 anos de idade; - a cada dois anos, para os trabalhadores entre 18 anos e 45 anos de idade. 76 Capítulo 4 O exame médico de retorno ao trabalho será realizado obrigatoriamente no primeiro dia da volta ao trabalho do trabalhador ausente, por período igual ou superior a 30 dias por motivo de doença ou acidente, de natureza ocupacional ou não, ou parto. O exame médico de mudança de função será obrigatoriamente realizado antes da data da mudança. O outro tipo de exame médico é o demissional, obrigatoriamente realizado até a data da homologação da demissão. Os exames médicos demissionais poderão ser feitos em outro período, dependendo do risco para os trabalhadores. As microempresas estão dispensadas da obrigatoriedade de realização de exames médicos, conforme Decreto n° 90.880/85. Todo estabelecimento deverá estar equipado com material necessário à prestação de primeiros socorros, considerando-se as características da atividade desenvolvida. O material deverá ser guardado em local adequado e aos cuidados de pessoa treinada para esse fim. O art. 189 da CLT esclarece que são consideradas atividades ou operações insalubres as que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição a seus efeitos. No que diz respeito às questões ergonômicas, a NR 17 da Portaria n° 3.214/78 estabelece regras para as condições de trabalho relacionadas comlevantamento, transporte e descarga de materiais. É importante ressaltar que, constatada doença profissional ou produzida em virtude de condições especiais do trabalho ou se dela se suspeitar, a empresa deverá encaminhar o empregado imediatamente ao INSS. A Constituição de 1988, em seu art. 7°, XXII, especifica que o trabalhador teria direito à “redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança”. Do ponto de vista internacional, a Organização Internacional do Trabalho – OIT vem preocupando-se com o tema medicina e segurança do trabalho. Para tanto, foram expedidas várias convenções, com destaque para: • Convenção n° 12, de 1921, trata de acidentes do trabalho na agricultura; Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 77 • Convenção n° 17, de 1925, trouxe especificações sobre indenização por acidente do trabalho. • Convenção n° 18, de 1925, enfocou o tema indenização por enfermidades profissionais. • Convenção n° 155, de 1981, aprovada pelo Decreto Legislativo n.° 2, de 17/3/92, e promulgada pelo Decreto n.° 1.254, de 29-9-94, estabelece regras para a segurança e saúde dos trabalhadores e meio ambiente de trabalho. • Convenção n° 161, de 1985, versa sobre serviços de saúde do trabalho. • Convenção n° 167, de 1988, versa sobre segurança e saúde na construção. • Convenção n° 171, de 1990, especifica a utilização de produtos químicos perigosos nos locais de trabalho. • Decreto Legislativo n.º 62, de 18/4/06, aprova a Convenção n.º 176 da OIT e a Recomendação 183 sobre Segurança e Saúde das Minas. Para saber em detalhes o que cada uma dessas convenções define, consulte-as no site do Ministério do Trabalho. Seção 3 Condições de Segurança no Trabalho Na CLT, no capítulo V, dos art. 154 até o art. 200, temos os conteúdos sobre a segurança e medicina no trabalho de modo a se estabelecer bem claramente as condições de segurança no trabalho. Estão dispostos ali temas relacionados aos órgãos de segurança e de medicina do trabalho, os equipamentos de proteção individual, as medidas preventivas, edificações, iluminação, conforto térmico, instalações elétricas, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais, máquinas e equipamentos, caldeiras, fornos e recipientes sob pressão, atividades insalubres ou perigosas, entre outros. Alguns desses temas estão contemplados e complementados por Normas Regulamentadores de Saúde e Segurança no Trabalho. 3.1 Equipamento de Proteção Coletiva e Individual – EPC e EPI Os equipamentos de proteção visam, além de proteger muitos trabalhadores ao mesmo tempo, à otimização dos ambientes de trabalho, destacando-se por serem mais rentáveis e duráveis para a empresa. 78 Capítulo 4 Os Equipamentos de Proteção Coletiva – EPC, consistem em toda medida ou dispositivo, sinal, imagem, som, instrumento ou equipamento destinado à proteção de uma ou mais pessoas, enquanto que os Equipamentos de Proteção Individual – EPI, destinam a proteger uma só pessoa. A NR 6 da Portaria n.° 3.214/78 também versa sobre as regras do uso dos EPIs. Também dispõe sobre o tema, o art. 166, da CLT, que expressa que as empresas devem fornecer obrigatoriamente aos empregados o Equipamento de Proteção Individual (EPI) adequado ao risco e em perfeito estado de funcionamento e conservação, gratuitamente, de maneira a protegê-los contra os riscos de acidentes do trabalho e danos à sua saúde. De acordo com esta Norma Regulamentadora (NR 6), considera-se Equipamento de Proteção Individual - EPI, todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho. São considerados, entre outros, equipamentos de proteção individual: protetores auriculares (tipo concha ou plug), luvas, máscaras, calçados, capacetes, óculos, vestimentas, etc. Há necessidade de que o empregador e seus prepostos fiscalizem o efetivo uso dos EPIs. O empregador ainda nessa seara deverá: • adquirir o tipo adequado às atividades do empregado; • treinar o trabalhador para o seu uso; • substituí-lo quando danificado ou extraviado; e, • tornar obrigatório seu uso. Órgãos de segurança e medicina do trabalho nas empresas – a Portaria n° 3.214/78 dispõe sobre dois serviços importantes a serem realizados no âmbito da segurança e saúde. São eles: o Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (Sesmt) e a Comissão Interna de Proteção a Acidentes (CIPA). No que se refere aos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (Sesmt), as empresas estão obrigadas a manter serviços especializados em segurança e em medicina do trabalho, nos quais será necessária a existência dos profissionais especializados exigidos em cada empresa (médico e engenheiro do trabalho). Equipamento de Proteção Individual (EPI) O EPI só será posto à venda mediante certificado de aprovação (CA) do MTb, devendo estar em perfeito estado de conservação e de funcionamento. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 79 As regras do Sesmt são especificadas na NR 4 da Portaria n.° 3.214/78, que versa sobre os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho. O dimensionamento do Sesmt depende da gradação do risco da atividade principal e do número total de empregados existentes no estabelecimento, de acordo com o quadro a seguir: Quadro 4 – Dimensionamento do Sesmt Grau de risco Número de empregados e técnicos em Saúde do Trabalho no estabelecimento Número de trabalhadores na empresa 50 a 100 101 a 250 251 a 500 501 a 1.000 1.001 a 2.000 2.001 a 3.500 3.501 a 5.000 Acima de 5.000 para cada grupo de 4.000 ou fração acima de 2.000** 1 Técnico seg. do trabalho 1 1 1 2 1 Engenheiro seg. do trabalho 1* 1 1* Aux. Enfermagem do trabalho 1 1 1 Enfermeiro do trabalho 1* Médico do trabalho 1* 1* 1 1* 2 Técnico seg. do trabalho 1 1 2 5 1 Engenheiro seg. do trabalho 1* 1 1 1* Aux. enfermagem do trabalho 1 1 1 1 Enfermeiro do trabalho 1 Médico do trabalho 1* 1 1 1 continua ... 80 Capítulo 4 3 Técnico seg. do trabalho 1 2 3 4 6 8 3 Engenheiro seg. do trabalho 1* 1 1 2 1 Aux. enfermagem do trabalho 1 2 1 1 Enfermeiro do trabalho 1 Médico do trabalho 1* 1 1 2 1 4 Técnico seg. do trabalho 1 2 3 4 5 8 10 3 Engenheiro seg. do trabalho 1* 1* 1 1 2 3 1 Aux. enfermagem do trabalho 1 1 2 1 1 Enfermeiro do trabalho 1 Médico do trabalho 1* 1* 1 1 2 3 1 * Tempo parcial (mínimo de três horas).** O dimensionamento total deverá ser feito levando-se em consideração o dimensionamento da faixa de 3.501 a 5.000 mais o dimensionamento do(s) grupo(s) de 4.000 ou fração de 2.000. Fonte: Adaptado de BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora 4. Portaria n.º 3.214, de 08 de junho de 1978. Quanto à Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), de acordo com o art. 163 da CLT, é obrigatória a sua constituição, conforme as instruções do Ministério do Trabalho contidas na NR 5 da Portaria n.° 3.214/78. A Cipa tem por objetivo observar e relatar as condições de risco nos ambientes de trabalho e solicitar as medidas para reduzir e até eliminar os riscos existentes e/ ou neutralizá-los, discutindo os acidentes ocorridos e solicitando medidas que os previnam, assim como orientando os trabalhadores quanto à sua prevenção. Conforme a NR 5, a CIPA tem por atribuição identificar os riscos do processo de trabalho, e elaborar o mapa de riscos, com a participação do maior número de trabalhadores, com assessoria do Sesmt, quando houver, e elaborar plano de trabalho quepossibilite a ação preventiva na solução de problemas de segurança e saúde no trabalho. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 81 Sinalização de segurança - Os materiais e substâncias empregados e manipulados nos locais de trabalho, quando perigosos ou nocivos à saúde, devem conter, no rótulo, sua composição, recomendações de socorro e o símbolo de perigo correspondente, conforme orienta a padronização internacional. Os locais de trabalho deverão conter avisos ou cartazes, com advertência quanto aos materiais e substâncias perigosos ou nocivos à saúde. As normas quanto à sinalização de segurança são especificadas pela NR 26 da Portaria n° 3.214/78. Conforme versa o art. 200, VIII, da CLT, devem ser empregadas cores, inclusive nas sinalizações de perigo. A NR 26, Portaria SIT n° 229, de 24 de maio de 2011, dispõe acerca do uso das cores na segurança no trabalho. 26.1.2 As cores utilizadas nos locais de trabalho para identificar os equipamentos de segurança, delimitar áreas, identificar tubulações empregadas para a condução de líquidos e gases e advertir contra riscos, devem atender ao disposto nas normas técnicas oficiais. (NR 26). A sinalização destina-se à prevenção de acidentes, mostrando os equipamentos de segurança, delimitando áreas, identificando as canalizações de líquidos e gases e advertindo contra riscos, isto é, prevenindo contra os riscos ambientais. Os riscos ambientais são classificados como riscos físicos (cor verde), riscos químicos (cor vermelho), riscos biológicos (cor marrom), riscos ergonômicos (cor amarela) e riscos de acidentes (cor azul). Cada um desses grupos identifica: • Físicos (cor verde) – são representados por fatores ou agentes existentes no ambiente de trabalho que podem afetar a saúde dos trabalhadores, como: ruídos, vibrações, radiações ionizantes, radiações não-ionizantes, frio, calor, pressões anormais e umidade. • Químicos (cor vermelho) – são identificados pelo grande número de substâncias que podem contaminar o ambiente de trabalho e provocar danos à integridade física e mental dos trabalhadores, tais como: poeiras, fumos, neblinas, gases, vapores, substâncias, compostos ou produtos químicos em geral. • Biológicos (cor marrom) – estão associados ao contato do homem com vírus, bactérias, protozoários, fungos, parasitas, bacilos. • Ergonômicos (cor amarela) - estão ligados à execução de tarefas, à organização e às relações de trabalho, ao esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de peso, mobiliário inadequado, posturas incorretas, controle rígido de tempo para produtividade, imposição de ritmos excessivos, trabalho em turno e noturno, jornadas de trabalho prolongadas, monotonia, repetitividade e outras situações causadoras de estresse físico e/ou psíquico. 82 Capítulo 4 • De acidentes (cor azul) - são muito diversificados e estão presentes no arranjo físico inadequado, pisos pouco resistentes ou irregulares, material ou matéria prima fora de especificação, máquinas e equipamentos sem proteção, ferramentas inadequadas ou defeituosas, iluminação inadequada, eletricidade, probabilidade de incêndio ou explosão, armazenamento inadequado, animais peçonhentos e outras situações de risco que poderão contribuir para a ocorrência de acidentes. Uma das modalidades mais usadas para a avaliação dos riscos existentes nos locais de trabalho é o Mapa de Riscos, que tem por finalidade identificar os riscos presentes nesses ambientes. É uma ferramenta de planejamento para as ações preventivas que serão adotadas pela empresa. O Mapa de Riscos é elaborado pelos próprios trabalhadores, pois eles reconhecem os ricos aos quais estão sujeitos diariamente na execução de suas atividades laborais. Contudo, a Comissão Interna de Prevenção Acidentes pode auxiliá-los nesta elaboração. Trata-se de uma representação gráfica dos riscos, a partir da planta baixa do ambiente de trabalho, por meio de círculos de diferentes cores e tamanhos, onde as cores servem para identificar o tipo de risco e o tamanho dos círculos representa a gravidade. Risco pequeno – risco pequeno por sua essência ou por ser risco médio já protegido. Risco médio – risco que gera relativo incômodo, mas que pode ser controlado. Risco grande – risco que pode matar, mutilar, gerar doenças e que não dispõe de mecanismo para redução, neutralização ou controle. Fonte: BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Edificações – As edificações deverão contar com os requisitos técnicos necessários à perfeita segurança dos trabalhadores (art. 170 da CLT). Os locais de trabalho deverão ter, no mínimo, 3 metros de pé-direito, que é a altura livre do piso ao teto (art. 171 da CLT). Poderá ser reduzido esse limite desde que atendidas às condições de iluminação e conforto térmico compatíveis com a natureza do trabalho, de acordo com as regras da NR 8 da Portaria n.° 3.214/78. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 83 Os pisos dos locais de trabalho não deverão apresentar saliências nem depressões que prejudiquem a circulação de pessoas ou a movimentação de materiais. E as aberturas nos pisos e paredes devem ser protegidas de forma que impeçam a queda de pessoas ou de objetos. (Art. 172 e 173, CLT). Iluminação – Em todos os locais de trabalho, deverá haver iluminação adequada, natural ou artificial, apropriada à natureza da atividade, conforme dispõe o art. 175 da CLT. A iluminação deverá ser uniformemente distribuída, geral e difusa, a fim de evitar ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e contrastes excessivos. Conforto térmico – Os locais de trabalho, segundo o art. 176 da CLT, deverão ter ventilação natural, compatível com o serviço realizado. A ventilação artificial será obrigatória sempre que a natural não preencha as condições de conforto térmico. Expressa o art. 177, da CLT, que, se as condições do ambiente se tornarem desconfortáveis em virtude de instalações geradoras de frio ou de calor, será obrigatório o uso de vestimentas adequadas para o trabalho em tais condições ou de capelas, anteparos, paredes duplas, isolamento térmico e recursos similares, de forma que os empregados fiquem protegidos contra radiações térmicas. Instalações elétricas – Os art. 180 e 181 da CLT versam que somente profissional qualificado poderá instalar, operar, inspecionar ou reparar instalações elétricas. Os que trabalharem em serviços de eletricidade ou instalações elétricas devem estar familiarizados com os métodos de socorro a acidentados por choque térmico. Movimentação, armazenagem e manuseio de materiais – As pessoas que trabalharem na movimentação de materiais deverão estar familiarizadas com os métodos racionais de levantamento de cargas. A NR 11 da Portaria n.° 3.214/78 estabelece as regras para este tópico. Máquinas e equipamentos – Os reparos, limpeza e ajustes somente poderão ser executados com as máquinas paradas, salvo se o movimento for indispensável à realização do ajuste (art. 185 da CLT). A NR 12 da Portaria n° 3.214/78 estabelece regras complementares para máquinas e equipamentos. Os pisos dos locais de trabalho onde se instalam máquinas e equipamentos devem ser vistoriados e limpos, sempre que apresentarem riscos provenientes de graxas, óleos e outras substâncias que os tornem escorregadios. As máquinas e os equipamentos de grandes dimensões devem ter escadas e passadiços que permitam acesso fácil e seguro aos locais em que seja necessária a execução de tarefas. Há necessidade de dispositivos apropriados de segurança para o acionamento de máquinas e equipamentos com acionamento repetitivo. 84 Capítulo 4 Caldeiras, fornos e recipientes sob pressão – O art. 188 da CLT dispõe que caldeiras, equipamentos e recipientes em geral que operam sob pressão deverão dispor de válvulas e outros dispositivosde segurança que evitem que seja ultrapassada a pressão interna de trabalho compatível com sua resistência. Os fornos têm normas complementares estabelecidas pela NR 14 da Portaria n° 3.214/78. Devem, para qualquer utilização, ser construídos solidamente, revestidos de material refratário, de forma que o calor radiante não ultrapasse os limites de tolerância, e devem ser dotados de chaminés e instalados de forma a evitar acúmulo de gases nocivos e altas temperaturas em áreas vizinhas. Ergonomia – A CLT estabelece no art. 198 que é de 60 quilos o peso máximo que um empregado pode remover individualmente, ressalvado o uso de material que utilize tração ou impulsão por vagonetes, trilhos, carros de mão ou outros aparelhos mecânicos, para o qual poderá ser fixado outro limite pelo Ministério do Trabalho. Para trabalho manual sentado ou que tenha de ser feito de pé, bancadas, mesas, escrivaninhas e painéis devem proporcionar ao trabalhador condições de boa postura, visualização e operação. Quando o trabalho for feito de pé, os empregados terão à disposição assentos para serem utilizados nas pausas que o serviço permitir. Trabalho a céu aberto – A NR 21 da Portaria n° 3.214/78 cuida do trabalho a céu aberto. Nesse tipo de trabalho, é obrigatória a existência de abrigos, ainda que rústicos, capazes de proteger os trabalhadores contra intempéries. Ainda assim, serão exigidas medidas especiais que protejam os trabalhadores contra a insolação excessiva, o calor, o frio, a umidade e os ventos inconvenientes. Proteção contra incêndio – A NR 23 da Portaria n° 3.214/78 trata de proteção contra incêndios. As empresas deverão estabelecer proteção contra incêndio em geral, promovendo o revestimento de portas e paredes, a construção de paredes contra fogo, diques e outros anteparos, assim como a garantia geral de fácil circulação de corredores de acesso e saídas amplas e protegidas, com suficiente sinalização (art. 200, IV, da CLT). Todas as empresas deverão possuir proteção contra incêndio, saídas suficientes para a rápida retirada do pessoal em serviço, em caso de incêndio, equipamento suficiente para combater o fogo em seu início e pessoas instruídas no uso correto desses equipamentos. Condições sanitárias – A NR 24 da Portaria n° 3.214/78 especifica as condições sanitárias e de conforto nos locais de trabalho. Os locais de trabalho deverão conter instalações sanitárias, com separação de sexos, chuveiros, lavatórios, vestiários e armários individuais, refeitórios ou condições de conforto por ocasião das refeições, fornecimento de água potável, condições de limpeza dos locais de trabalho e modo de sua execução (art. 200, VII, da CLT). Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 85 Resíduos industriais - A NR 25 da Portaria n° 3.214/78 dispõe sobre resíduos industriais. A empresa deverá providenciar todas as exigências necessárias ao tratamento de resíduos industriais (art. 200, VII, da CLT). Os resíduos gasosos deverão ser eliminados dos locais de trabalho, sendo proibido o lançamento ou a liberação nos ambientes de trabalho de quaisquer contaminantes gasosos. Os resíduos líquidos e sólidos deverão ser convenientemente tratados e/ou dispostos e/ou retirados dos limites da empresa, de forma a evitar riscos à saúde e à segurança dos trabalhadores. Atividades e operações insalubres – A NR 15 da Portaria n.° 3.214/78 especifica as condições de insalubridade em seus vários anexos. São consideradas atividades ou operações insalubres as que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição a seus efeitos. (Art. 189, CLT). O Ministério do Trabalho, por meio da NR 15, adota critérios de caracterização da insalubridade, os limites de tolerância aos agentes agressivos, os meios de proteção e o tempo máximo de exposição do empregado a esses agentes insalubres: ruído, calor, frio, umidade, radiações, entre outros. Periculosidade – A NR 16 da Portaria n° 3.214/78 trata de atividades com alta periculosidade: as relacionadas ao armazenamento, transporte e manuseio de explosivos, operação de escova dos cartuchos de explosivos, operação de carregamento de explosivos, detonação, verificação de denotações falhadas, queima e destruição de explosivos deteriorados. São consideradas atividades ou operações perigosas, conforme destaca o art. 193 da CLT, as que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem contato permanente com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado. Para o fator de periculosidade não importa fator contínuo de exposição do trabalhador, mas apenas um risco, que não age biologicamente contra seu organismo, mas que, na configuração do sinistro, pode ceifar a vida do trabalhador ou mutilá-lo. 87 Seções de estudo Habilidades Capítulo 5 Temas contemporâneos em Gestão de Pessoas Este capítulo objetiva propiciar o desenvolvimento de habilidades para identificar possibilidades de atuação profissional de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, bem como a legislação pertinente a esta questão. Além disso, propicia noções gerais acerca dos direitos humanos e de estudos étnico-raciais. Seção 1: Inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho Seção 2: Direitos Humanos Seção 3: Estudos étnico-raciais 88 Capítulo 5 Seção 1 Inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho “Nada sobre nós sem nós”. Lema do Ano Internacional das Pessoas com Deficiência em 2004 1.1 Contextos da acessibilidade De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 10% da população mundial, aproximadamente 650 milhões de pessoas, vivem com uma deficiência. Essa população constitui a maior minoria do mundo e aproximadamente 80% dessas pessoas vivem em países em desenvolvimento. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta com aproximadamente 24 milhões de pessoas com deficiência. Existem inúmeras dificuldades vividas por essa população em nossa sociedade. Tais dificuldades vão da simples inserção social – dada a precariedade das condições de acessibilidade arquitetônica e de transporte – até a dificuldade de inserção escolar e sua consequente restrição na qualificação profissional, passando por diversos obstáculos de menor e maior complexidade. Tais restrições acabam por diminuir a própria visibilidade social dessa população, já que muitas vezes as pessoas com deficiência sequer circulam nas ruas. Os direitos fundamentais de ir e vir, de estudar, de trabalhar e se socializar ficam extremamente prejudicados em uma sociedade que não garante as condições de acessibilidade para todos os seus cidadãos. No caso das pessoas com deficiência, para que possam exercer sua condição plena de cidadãos livres é fundamental que se supere o viés assistencialista e caritativo, que funciona na manutenção da exclusão social, e se possibilite uma inclusão efetiva. Contudo, quando se fala em condições de acessibilidade é muito frequente que se pense apenas nas questões relativas à arquitetura dos prédios, construções e ruas. Podemos entender a acessibilidade como um conjunto de dimensões diversas, complementares e indispensáveis para que haja um processo de efetiva inclusão das pessoas com deficiência na sociedade. Fica claro que é necessário pensá-la em dimensão ampliada e, portanto, bem maior que os fatores arquitetônicos. Dados Dados extraídos do site da Organização das Nações Unidas: <http://www.onu.org. br/a-onu-em-acao/a- onu-e-as-pessoas- com-deficiencia/>. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 89 Do ponto de vista legal, no Brasil, o Decreto nº 5.296,de 2 de dezembro de 2004, em seu artigo Art. 8º, considera acessibilidade como condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida. Além disso, segundo Sassaki (2011), são basicamente seis os contextos de acessibilidade: • Acessibilidade arquitetônica: sem barreiras ambientais físicas, nas residências, nos edifícios, nos espaços urbanos, nos equipamentos urbanos, nos meios de transporte individual ou coletivo. • Acessibilidade comunicacional: sem barreiras na comunicação interpessoal (face a face, língua de sinais), escrita (jornal, revista, livro, carta, apostila etc., incluindo textos em braile, uso do computador portátil), virtual (acessibilidade digital). • Acessibilidade metodológica: sem barreiras nos métodos e técnicas de estudo (escolar), de trabalho (profissional), de ação comunitária (social, cultural, artística etc.), de educação dos filhos (familiar). • Acessibilidade instrumental: sem barreiras nos instrumentos, utensílios e ferramentas de estudo (escolar), de trabalho (profissional), de lazer e recreação (comunitária, turística, esportiva etc.). • Acessibilidade programática: sem barreiras invisíveis embutidas em políticas públicas (leis, decretos, portarias etc.), normas e regulamentos (institucionais, empresariais etc.). • Acessibilidade atitudinal: sem preconceitos, estigmas, estereótipos e discriminações, nas pessoas em geral. O autor mencionado ainda comenta que a acessibilidade tecnológica não constitui um outro tipo de acessibilidade e sim o aspecto tecnológico que permeia as acessibilidades acima, com exceção da atitudinal. Ao observarmos os contextos da acessibilidade, fica bem mais evidente a constatação da precariedade vivida nessas questões, bem como o tamanho e a complexidade das tarefas que demandam uma inclusão efetiva. As limitações impostas pela falta de condições de acessibilidade constituem-se, pois, em enormes dificuldades para as pessoas com deficiência o que, por sua vez, compromete significativamente a sua inclusão no mercado de trabalho. No sentido de eliminar tais dificuldades de inserção profissional, vários países criaram medidas para combater o problema. Vejamos alguns exemplos de outros países (BRASIL, 2007): 90 Capítulo 5 • França: o Código do Trabalho Francês, em seu art. L323-1, reserva postos de trabalho no importe de 6% dos trabalhadores em empresas com mais de 20 empregados. • Itália: a Lei nº 68/99, no seu art. 3º, estabelece que os empregadores públicos e privados devam contratar pessoas com deficiência na proporção de 7% de seus trabalhadores, no caso de empresas com mais de 50 empregados; duas pessoas com deficiência, em empresas com 36 a 50 trabalhadores; e uma pessoa com deficiência, se a empresa possuir entre 15 e 35 trabalhadores. • Alemanha: a lei alemã estabelece para as empresas com mais de 16 empregados uma cota de 6%, incentivando uma contribuição empresarial para um fundo de formação profissional de pessoas com deficiência. • Argentina: a Lei nº 25.687/98 estabelece um percentual de, no mínimo, 4% para a contratação de servidores públicos. Estendem- se, ademais, alguns incentivos para que as empresas privadas também contratem pessoas com deficiência. • Uruguai: a Lei nº 16.095 estabelece, em seu art. 42, que 4% dos cargos vagos na esfera pública deverão ser preenchidos por pessoas com deficiência e, no art. 43, exige, para a concessão de bens ou serviços públicos a particulares, que estes contratem pessoas com deficiência, mas não estabelece qualquer percentual. • Venezuela: a Lei Orgânica do Trabalho, de 1997, fixa uma cota de uma pessoa com deficiência a cada 50 empregados. • Estados Unidos da América: inexistem cotas legalmente fixadas, uma vez que as medidas afirmativas dessa natureza decorrem de decisões judiciais, desde que provada, mesmo estatisticamente, a falta de correspondência entre o número de empregados com deficiência existente em determinada empresa e aquele que se encontra na respectiva comunidade. De qualquer modo, a The Americans with Disabilities Act (ADA), de 1990, trata do trabalho de pessoas com deficiência, detalhando as características físicas e organizacionais que devem ser adotadas obrigatoriamente por todas as empresas para receber pessoas com deficiência como empregadas. • Japão: a Lei de Promoção do Emprego para Portadores de Deficiência, de 1998, fixa o percentual de 1,8% para as empresas com mais de 56 empregados, havendo um fundo mantido por contribuições das empresas que não cumprem a cota, fundo este que também custeia as empresas que a preenchem. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 91 • China: a cota oscila de 1,5% a 2%, dependendo da regulamentação de cada município. Vale ressaltar, ainda, que há uma questão de denominação muito importante quando se trata dessas pessoas. Isso se deve ao fato de que, historicamente, sempre houve discriminação e preconceito nas atribuições dadas às pessoas com deficiência, utilizando-se expressões como “inválidos”, “incapazes”, “excepcionais” e “pessoas deficientes”. Diante disso, com base em inúmeras discussões feitas pelos movimentos sociais pertinentes, estudiosos da área e organizações diversas, busca-se estabelecer uma nomenclatura que se refira de maneira correta e respeitosa a essas pessoas, ou seja, nominar a característica peculiar da pessoa, sem estigmatizá-la. A Constituição Brasileira de 1988, por influência do Movimento Internacional de Pessoas com Deficiência, incorporou a expressão “pessoa portadora de deficiência”, que se aplica na legislação ordinária. A expressão “pessoa com necessidades especiais” é um gênero que contém as pessoas com deficiência, mas também acolhe os idosos, as gestantes, enfim, qualquer situação que implique tratamento diferenciado. Mais recentemente, abandona-se a expressão “pessoa portadora de deficiência”, com uma concordância de âmbito internacional, considerando-se que as deficiências não se portam, estão com a pessoa ou na pessoa, e passa-se a utilizar a expressão “pessoa com deficiência”. 1.2 Legislação sobre a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho No Brasil, a Constituição de 1988, além dos princípios da igualdade e da dignidade da pessoa humana, trata diretamente das pessoas com deficiência, nos seguintes artigos: ......................................................................................................... ................... XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência; Art. 37 - ........................................................................................... ............................. VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de admissão; Art. 203 - A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente da contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: ......................................................................................................... ................... 92 Capítulo 5 IV - a habilitação e a reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção, ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei; Art. 227 - ...................................................................................................................... § 1º - O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança e do adolescente, admitida a participação de entidades não-governamentais e obedecendo os seguintes preceitos: II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos. (BRASIL, 2010). Além disso, há no país uma reserva legal de cargos nas organizações estabelecida pela Lei n. 8.213/91, promulgada em 24 de julho de 1991, que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Essa lei é conhecida como Lei de Cotas e, mais especificamente, em seu art. 93, ficam estabelecidos os percentuais devidos de cada organização. Assim, a cota depende do número geral de empregados que a empresa tem no seu quadro, na seguinte proporção: • de 100 a 200 empregados: 2% • de 201 a 500 empregados: 3% • de 501 a 1.000 empregados: 4% • de 1.001 empregados em diante: 5% Para os efeitos legais dessa questão, de acordo com Decreto n. 3.298/99, considera-se o seguinte: Art. 2o Cabe aos órgãos e às entidades do Poder Público assegurar à pessoa portadora de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à previdência social, à assistência social, ao transporte, à edificação pública, à habitação, à cultura, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico. (BRASIL, 1999). Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 93 O Art. 3°,para os efeitos deste Decreto, considera: I. deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano; II. deficiência permanente – aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos; e III. incapacidade – uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida. Além disso, pelo disposto no Decreto nº 5.926/04, em seu art. 5º, entende-se o seguinte: Art. 5º Os órgãos da administração pública direta, indireta e fundacional, as empresas prestadoras de serviços públicos e as instituições financeiras deverão dispensar atendimento prioritário às pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. (BRASIL, 2004). O § 1º deste artigo considera como pessoa portadora de deficiência aquela que possui limitação ou incapacidade para o desempenho de atividade e se enquadra nas seguintes categorias: • deficiência física: alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções; • deficiência auditiva: perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz; 94 Capítulo 5 • deficiência visual: cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores; • deficiência mental: funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: 1. comunicação; 2. cuidado pessoal; 3. habilidades sociais; 4. utilização dos recursos da comunidade; 5. saúde e segurança; 6. habilidades acadêmicas; 7. lazer; e 8. trabalho; • deficiência múltipla - associação de duas ou mais deficiências. Já a pessoa com mobilidade reduzida, de acordo com o entendimento deste mesmo dispositivo legal, é aquela que, não se enquadrando no conceito de pessoa portadora de deficiência, tenha, por qualquer motivo, dificuldade de movimentar-se, permanente ou temporariamente, gerando redução efetiva da mobilidade, flexibilidade, coordenação motora e percepção. A comprovação da deficiência poderá feita por meio de: a. laudo médico, emitido por médico do trabalho da empresa ou outro médico, atestando enquadramento legal do(a) empregado(a) para integrar a cota, de acordo com as definições estabelecidas na Convenção nº 159 da OIT, Parte I, art. 1; Decreto nº 3.298/99, arts. 3º e 4º, com as alterações dadas pelo art. 70 do Decreto nº 5.296/04. O laudo deverá especificar o tipo de deficiência e ter autorização expressa do(a) empregado(a) para utilização do mesmo pela empresa, tornando pública a sua condição; e b. certificado de Reabilitação Profissional emitido pelo INSS. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 95 De acordo com o art. 10, § 1º, da Instrução Normativa nº 20/01, para verificar se a empresa está obrigada a ter pessoas com deficiência no seu quadro, isto é, ter 100 (cem) ou mais empregados, como para fixar o percentual dos cargos a serem preenchidos, deve ser utilizado o número de empregados da totalidade de estabelecimentos da empresa no Brasil. E embora não seja uma imposição legal a distribuição proporcional das pessoas com deficiência nos estabelecimentos (filiais etc.), recomenda-se essa prática de modo a respeitar as necessidades locais de cada região em que empresa está estabelecida. Contudo, outra questão fundamental trata da alocação das pessoas com deficiência no mesmo setor da empresa. Essa prática é entendida como segregacionista e indicativa da falta de compreensão, por parte da empresa, dos propósitos da Lei de Cotas já que parece indicar a simples intenção de seu cumprimento e não da inclusão respeitosa da pessoa com deficiência mediante suas capacidades e interesses profissionais. Infelizmente é uma prática ainda comum que algumas empresas contratem pessoas com deficiência apenas para alguns cargos e funções, normalmente subalternos, e não ofereça previsão ou condições de progressão por meio da sua política de promoções ou de recrutamento e seleção internos. Nesses casos, o que se percebe é uma “inclusão precária”, com alocação de postos ou cargos subalternos e, por consequência, com funções aquém das capacidades dos sujeitos. Em que pese toda a falta de qualificação profissional, alegada constantemente por parte das empresas e decorrente das dificuldades de escolarização vivida pelas pessoas com deficiência, tais restrições para o desenvolvimento profissional interno nas organizações acaba por gerar, entre as pessoas com deficiência, a falta de perspectiva de crescimento, a desmotivação e a sensação de que se ficará “estacionado” na mesma funçãoaté a aposentadoria. Portanto, de modo a não dar respaldo para esse tipo de prática organizacional, entende-se que uma inclusão efetiva implique a contratação e uso das capacidades reais e potenciais das pessoas com deficiência, envolvendo também as condições para treinamento e desenvolvimento profissional na empresa e a possibilidade de progressão interna. Não se trata de negar a baixa qualificação profissional de muitas pessoas com deficiência e a sua falta de experiência frente às necessidades cada vez maiores do mercado de trabalho, tampouco de ignorar as limitações autoimpostas, por essas pessoas, para o exercício e desenvolvimento profissional, geradas muitas vezes por crenças pessoais de incapacidade, desinformação profissional, protecionismo familiar etc. Assim, “trata-se de materializar a igualdade real entre as pessoas a partir do pensamento de que a verdadeira igualdade consiste em se tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na justa medida da desigualdade” (BRASIL, 2007, p. 12), tarefa esta que pressupõe além das políticas públicas eficazes a participação efetiva das organizações privadas. 96 Capítulo 5 A seguir, em destaque, são apresentados os marcos legais que dão suporte para a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Recomenda-se a leitura na íntegra dos seguintes documentos, todos disponíveis para consultas na internet. 1) Legislação brasileira: • Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991 - Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. • Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989 - Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - CORDE, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências. • Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999 - Regulamenta a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências. • Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000 - Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. • Decreto nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004 - Regulamenta as Leis 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dão prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. • Associação Brasileira de Normas Técnicas - Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaço e equipamentos urbanos (ABNT NBR 9050:2004, válida a partir de 30.06.2004). Rio de Janeiro: ABNT, 2004. 2) Normas e recomendações internacionais: • Conferência Internacional do Trabalho - Convenção nº 159, que trata da reabilitação profissional e emprego de pessoas com deficiência. • Recomendação nº 168/83, que trata da reabilitação profissional e do emprego de pessoas portadoras de deficiência. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 97 • Repertório de Recomendações Práticas: Gestão de Questões Relativas à Deficiência no Local de Trabalho da Organização Internacional do Trabalho (OIT). • Declaração dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência (ONU). • Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. Seção 2 Direitos Humanos Paralelamente à evolução do conceito de sociedade, surge a necessidade de adequação de normas, regras e leis que organizem uma determinada sociedade. Por meio da legislação, são definidos os limites e os direitos para as pessoas que convivem em uma mesma sociedade, assim como os cidadãos buscam assegurar, em uma sociedade democrática, a garantia de seus direitos. Contudo, embora esses direitos estejam assegurados pelo ordenamento jurídico, diante da pluralidade de valores, nem sempre são respeitados no cotidiano social. É preciso, em cada sociedade, reconhecer os direitos e deveres sociais dos governos, das comunidades, das associações e dos indivíduos, necessários e acessíveis a todos. Acontecimentos como a Revolução Industrial e as duas guerras mundiais, por exemplo, fizeram surgir importantes Organismos Internacionais de Proteção dos Direitos do Homem, destacando a Organização das Nações Unidas (ONU). Com esses acontecimentos, novos direitos do homem cidadão foram conquistados, reconhecidos e declarados em documentos internacionais, destacando a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU. Esta Declaração repercutiu nas principais Constituições Modernas, fazendo surgir uma nova concepção de Direito da Cidadania, com clara alteração dos seus conceitos fundamentais. (CASAGRANDE, 2011, p. 151). Conforme o autor, esse processo ocasiona o desenvolvimento (ainda em maturação) de uma diferente perspectiva acerca do que se entende por cidadania, estando o direito a um nível de bem-estar cultural, econômico e social para além dos direitos à igualdade perante a lei. 98 Capítulo 5 Pedro Demo (1995, apud CASAGRANDE, 2011, p. 155) entende que a cidadania é como a competência humana de fazer-se sujeito, para fazer história própria e coletivamente organizada. A cidadania é a raiz dos direitos humanos, pois estes somente se materializam onde a sociedade se faz sujeito histórico capaz de discernir seu próprio projeto de desenvolvimento. Para que todos tenham seus direitos garantidos são necessárias ações que enfatizem a necessidade em tornar seu exercício uma prática comum. A Declaração dos Direitos Humanos preconiza a existência de uma sociedade inclusiva, que, obrigatoriamente, passa pela aceitação e convivência com as diferenças. A Declaração dos Direitos Humanos abrange um preâmbulo e 30 artigos, divididos em normas gerais e três grupos de direitos individuais. As normas gerais contêm as noções fundamentais de caráter filosófico que constituem o cerne dos direitos do homem na cultura ocidental, cunhadas nas expressões “direitos inalienáveis” e “dignidade inerente” ao homem, as quais sugerem a tese de que o direito está vinculado às garantias das liberdades individuais. O conteúdo aí expresso esclarece a orientação filosófica e jurídico-política que a norteou: os ideais de dignidade da pessoa humana, de fraternidade universal, de liberdade e igualdade de todos os homens. Tal proclamação, em âmbito internacional, significa, realmente, um grande passo para frente, marcando época na história dos direitos humanos. (MARIM, 2007, p. 126). Como resultado desse processo, inúmeros são os exemplos de constituições que dão um tratamento especial aos tratados sobre direitos humanos. A Constituição Federal de 1988, é um exemplo: apresenta dispositivos constitucionais que preveem um tratamento especial ao tema, como é o caso do artigo 5º. Art. 5°. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]. (BRASIL, 2010). Ademais, na CF/88 existe um amplo sistema de proteção de direitos humanos, estando os mesmos previstos principalmente nos Títulos I e II, que abrangem os artigos 1º a 17. O direito brasileiro, além de reconhecer uma série de direitos – direito à vida, à honra, à liberdade de expressão e reunião, ao voto e a ser votado, direitos trabalhistas, etc. – ainda dota-os de instrumentos processuais que permitema sua defesa na Justiça ou mesmo fora dela, como é o caso de inúmeras ações judiciais e administrativas. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 99 O que ocorre é que tais posicionamentos constituem um fator que contribui para a internalização dos pactos internacionais em Direitos Humanos. O desenvolvimento dos direitos humanos desde o século XIX até o século XX foi marcado pela evolução em seu conteúdo e em sua extensão, passando de simples direitos negativos de liberdade, para direitos sociais e de participação política, ou seja, o Estado torna-se o detentor do direito de reconhecimento e proteção dos direitos humanos. 2.1 Aspectos históricos 1 A noção de direitos humanos reporta-se à consolidação de um sistema jurídico de cunho individualista, que ocorreu na maioria dos países ocidentais a partir dos séculos XVII e XVIII, com o surgimento da Escola de Direito Natural de cunho racionalista. A definitiva afirmação do individualismo na Modernidade lançou as bases para a moderna teoria dos direitos subjetivos e, consequentemente, dos direitos humanos. Apesar de não ser uma escola filosófica moderna, a filosofia estoica, que nasceu na Grécia, por volta do século IV a.C., e permaneceu viva até a Idade Média, contribuiu para a moderna teoria dos direitos humanos, no que se refere à importância atribuída ao indivíduo no alcance de seu fim, de seu bem e de sua felicidade. Para os estoicos, o bem supremo identificava-se e era alcançado pelo controle integral da alma e pela existência da razão. O fim do homem era viver de acordo com a sua natureza, ou seja, a racionalidade. O ponto de contato entre a filosofia estoica e o individualismo está em atribuir-se unicamente à racionalidade humana a realização do bem (de sua felicidade). Portanto, ao radicar na natureza a fonte do direito, o estoicismo exaltou o indivíduo como ser de razão que ordena o mundo. O nominalismo, fundado por Guilherme de Ockham, monge franciscano do início do século XIV, também é uma filosofia pré-moderna de cunho individualista, que contribuiu para a posterior afirmação dos direitos humanos. Para o nominalismo, o indivíduo é o único ser dotado de existência real, único centro de interesse e objeto autêntico de nosso conhecimento, o que torna impossível uma ordem jurídica senão a procedente da vontade individual. Esta doutrina entendia que o fim buscado pelo direito era assegurar ao indivíduo as condições de uma vida livre e plenamente individual, ideia essa que encontrou seu prolongamento no liberalismo moderno. 1 Extraído de: Morim, C. Direitos Humanos e Cidadania. 2007. Direitos negativos Direitos e garantias fundamentais que têm como objetivo a abstenção do Estado ou de terceiros. 100 Capítulo 5 Na mesma linha, o cristianismo trouxe a ideia da existência de uma infinidade de atos morais livres e indiferentes, que o indivíduo não estava obrigado racionalmente a cumprir, mas que cumpria por amor; deles dependia a virtude cristã, razão pela qual o indivíduo era entendido como um centro de conduta livre e, por isso, de poderes absolutos. Daí a concepção de um sistema jurídico tendo como eixo central o poder do indivíduo. O cristianismo compreendia a ordem social não como um entrelaçamento de proporções entre os objetos repartidos entre as pessoas, senão como sistema de poderes subordinados uns aos outros e de leis nascidas destes poderes. No Renascimento europeu, em torno do século XIV, irrompeu um novo modo de conceber certos aspectos da cultura ocidental marcando o momento inicial da história moderna europeia. O Renascimento foi palco das grandes descobertas marítimas, da reforma Protestante, da física newtoniana e das teorias revolucionárias de Copérnico e Galileu Galilei e, portanto, aparece como um momento privilegiado da humanidade ocidental, em que o homem toma consciência de seu papel central no mundo. Apesar de ser possível identificar, na Antiguidade e no Medievo, diversas teorias filosóficas que se identificam com a moderna teoria dos direitos humanos, muitos entendem que foi somente na Modernidade Europeia que começaram a se delinear os primeiros passos para a afirmação definitiva dos direitos individuais. Isso porque foi nesse período histórico que se consolidou um sistema legal de proteção de direitos, sem o qual prevalecem condições incipientes de violência. O vínculo entre a garantia legal e a liberdade política baseia-se na limitação do exercício do poder e isso se mostrou incipiente tanto na Antiguidade,quanto na Idade Média. Em contraste, a solução moderna para esse problema requereu um esforço para tornar o poder impessoal ao sujeitar o governo à lei. Uma série de acontecimentos ocorridos na Inglaterra e na França, originados em razão de atos intoleráveis do absolutismo real, pode ilustrar esse fato. Aliado aos movimentos políticos do século XVII, várias doutrinas filosóficas e movimentos culturais fizeram florescer, na Europa, a ideia dos direitos humanos. O humanismo perpassou o pensamento moderno e se sustentou em diversas teorias de grandes pensadores da época, marcadas, principalmente, por concepções universalistas e racionais. A ideia de direito natural, ligado à racionalidade humana e ao mesmo tempo desvinculado de influências divinas, estabeleceu- se, decisivamente, na cultura jurídica europeia do século XVII. Isso se deveu à consolidação do individualismo, com a afirmação do valor em si do homem. A premissa do jusnaturalismo moderno passa a ser a existência de um direito inato de cada homem ao desenvolvimento de sua personalidade. Logo, esse direito vai ser concebido como anterior ao Estado Civil, pois antes existe um indivíduo isolado, com importância em si, que o constitui por meio do contrato social. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 101 A influência jusnaturalista na história dos direitos humanos, nos séculos XVII e XVIII, foi sentida, não somente em diversos pensadores, como Grotius, Pufendorf, Spinoza, Hobbes, Locke, Rousseau e Kant, como nas declarações de direitos do século XVIII. Assim ocorreu com a Declaração dos Direitos da Virgínia e a Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776), além da Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789). Nessas Declarações, os direitos humanos surgiram e se afirmaram como direitos negativos do indivíduo em face do Estado e, por isso, representaram a emancipação do poder político, agora fundamentado na vontade da Nação, no pacto firmado entre os homens e não mais no comando de Deus e dos costumes. O povo americano, a despeito de escassas produções filosóficas, como ocorreu amplamente na França revolucionária, proclamou sua independência, sob a invocação dos inalienáveis direitos do homem – a vida, a propriedade e a busca da felicidade. O poder, contra o qual se pretendia proteger esses direitos, tinha sua fonte nos pactos firmados pelo povo americano, aos quais devotou-se plena confiança. Para os americanos, a constituição da liberdade implicava fundar um corpo político suficientemente estável para assegurá-la. Nesse contexto, foi decisiva a contribuição da teoria da separação dos poderes de Montesquieu, segundo a qual o sistema de freios e contrapesos, a limitar os poderes do Estado, constituía-se na melhor forma de controlar o poder. Daí decorre, para os americanos, a íntima ligação entre a soberania popular e o reconhecimento destes direitos inalienáveis. A importância histórica da Declaração da Independência reside no fato de ser o primeiro documento político que reconhece, a par da legitimidade da soberania popular, a existência de direitos inerentes a todo ser humano, independentemente das diferenças de sexo, raça e religião, cultura ou posição social. Nas nações da Europa ocidental, a proclamação da legitimidade democrática, com respeitoaos direitos humanos, somente veio a ocorrer com a Revolução Francesa, em 1789. Até então, a soberania pertencia legitimamente ao monarca, auxiliado no exercício do reinado pelos estratos sociais privilegiados. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, foi o primeiro elemento constitucional do novo regime político instaurado, pois se assentou no poder decisório exercido pela Nação, representada por uma assembleia, que mais tarde se declarou a portadora de toda soberania. 102 Capítulo 5 Às declarações de direitos oriundas das Revoluções Americana e Francesa, seguiu- se uma progressiva afirmação de direitos na esfera estatal, em muitos países. As primeiras Constituições escritas retratam o pensamento liberal-burguês consolidado no século XVIII, de forte inspiração individualista, como tivemos a oportunidade de constatar. Mas o incremento de necessidades sociais engendrou o necessário alargamento do conteúdo de direitos a novos setores da população. O projeto jurídico que daí decorre assume efetivamente, como figura central de sua estrutura, este homem alheio e alienado de seu meio ambiente. Nesse contexto, a profusão das ideias socialistas surge como uma reação ao modelo jurídico liberal, agravada pela crise do individualismo que começa a se processar, privilegiando-se a ideia de comunidade. Nessa esteira, delineia-se uma nova concepção de Estado, que passa a ter funções positivas, assumindo um papel regulador e promotor do bem-estar, sobretudo após 1945. Portanto, no fim do século XIX, observou-se um interesse crescente pela igualdade e uma consciência do fato de que o reconhecimento formal de uma capacidade igual de direitos não era suficiente. Assim, embora a cidadania tenha feito pouco para reduzir a desigualdade, propiciou as condições para as políticas igualitárias do século XX. Os direitos sociais assumem o aspecto de direitos de crédito do indivíduo em relação à coletividade e encontram no Estado o seu sujeito devedor. São direitos que surgiram como reivindicações de todos ao amplo acesso aos meios de vida e de trabalho. Foi através das reivindicações socioeconômicas ocorridas no século XX, que se ampliou o espectro dos direitos humanos. A obtenção destes direitos, por seu turno, inverteu a posição dos indivíduos e do Estado, na medida em que esse passou a assumir o papel de instância afirmativa e agente promotor destes direitos. Neste contexto, é marcante a influência tanto dos partidos políticos, quanto dos sindicatos de trabalhadores no processo de afirmação dos direitos sociais. Ao contrário das esmolas e da caridade dos tempos passados, os direitos sociais visam assegurar o homem moderno dos riscos da penúria econômica e dependem basicamente do concurso de três fatores: potencial econômico, vontade política e capacidade administrativa. Com isso, assistiu-se à incorporação nas legislações estatais destes direitos, fomentando a emergência do Estado de Bem-estar Social. A Constituição Francesa de 1848 reconheceu algumas exigências econômicas e sociais, mas a plena afirmação desses novos direitos humanos só veio a ocorrer no século XX, com a Constituição Mexicana de 1917 e a Constituição de Weimar de 1919. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 103 O reconhecimento dos direitos humanos de caráter econômico e social foi o principal benefício que a humanidade recolheu do movimento socialista, iniciado na primeira metade do século XIX, que identificou, no conjunto dos grupos sociais esmagados pela miséria, pela fome e pela marginalização, o titular destes direitos. Seção 3 Estudos étnicos-raciais No Brasil, especialmente, a diversidade cultural é uma realidade: resultamos de uma miscigenação de cores e raças, que deixa marcas não só na pele como também na forma como falamos, nas preferências alimentares, no gosto musical, tudo isto regido pelas mesmas leis. É a história da nação brasileira. Contudo, a realidade revela o descuido pela história construtora da nossa sociedade atual. Os povos indígenas, a identidade e cultura indígena, por exemplo, enfrentaram (e ainda hoje enfrentam) situações que revelam negligência e agressão à sua cultura, identidade e memória, “uma negação aos seus direitos e a sua diversidade, e até mesmo as suas etnias como construtoras não apenas do povo brasileiro, mas da própria história do país”. (VILAR, 2011, não paginado). A Constituição Federal Brasileira de 1988 estabelece o respeito a essa diversidade de raças; contudo, não é o suficiente para intimidar ações discriminatórias. Além da Carta Magna, há outros dispositivos legais que atentam para o tema. Movimentos sociais surgem com o objetivo de contribuir para reforçar o respeito e cumprimento das normas legais. Entende-se que, para exercer a cidadania, é preciso que se desenvolva com plenitude o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais dos homens e das comunidades que os povos integram. Consideremos, para análise, os índios. É preciso o reconhecimento efetivo por parte dos magistrados e do Governo acerca dos seus direitos, das instituições que os representam, conforme previsto na Constituição Federal de 1988 (CF/88) e em outras leis. Na CF/88, por exemplo, estão previstos dispositivos legais que abarcam a defesa desses direitos: art. 231 (“São reconhecidos aos índios sua organização social [...]”) e art. 232 (“Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo 104 Capítulo 5 o Ministério Público em todos os atos do processo”). Há também: a Fundação Nacional do Índio, que tem a responsabilidade de cuidar da política indigenista oficial e de fiscalizar, no âmbito da União, o respeito e a proteção de todos os direitos dos índios; o Estatuto do Índio (Lei n. 6.001/73), que fundamenta os direitos reconhecidos pela sociedade envolvente; entre outras legislações. No que se refere aos afrodescendentes, a situação não é muito diferente. Contudo, somam-se a esse universo propostas de movimentos afro-brasileiros, com destaque ao Movimento Negro, que, ao longo do século XX, apontam para a necessidade de diretrizes que orientem a formulação de projetos empenhados na valorização da história e cultura dos afro-brasileiros e dos africanos. É preciso programas de interesse educacional, de planos institucionais, pedagógicos e de ensino; orientações a respeito das relações étnico-raciais, reconhecimento e valorização da história e cultura dos afro-brasileiros, todos focados na diversidade da nação brasileira, ao igual direito à educação de qualidade (formação para a cidadania responsável pela construção de uma sociedade justa e democrática). Sem dúvida, a educação consiste uma alternativa de caráter amplo e dinâmico para mediar essas situações sociais. Por meio dela, permite-se o resgate e rememoração da identidade cultural de um povo. 3.1 A sociedade brasileira atual 2 O Estado prima por políticas de ações afirmativas, isto é, de políticas de reparações, e de reconhecimento e valorização de sua história, cultura, identidade. Esperam-se ações de política curricular no meio acadêmico, fundada em dimensões históricas, sociais, antropológicas oriundas da realidade brasileira, como forma de combater o racismo e as discriminações que atingem os negros. Como consequência, almejam-se a divulgação e produção de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial – descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos – para interagirem na construção de uma nação democrática, em que todos, igualmente, tenham seus direitos garantidos e sua identidade valorizada. É importante salientar que tais políticas têm como meta o direito de os negros sereconhecerem na cultura nacional, expressarem visões de mundo próprias, manifestarem com autonomia, individual e coletiva, seus pensamentos. É necessário sublinhar que tais políticas têm, também, como meta o direito de os 2 Texto elaborado a partir de Brasil (2004, p. 3-6). Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 105 negros (assim como de todos os cidadãos brasileiros) cursarem cada um dos níveis de ensino em escolas devidamente instaladas e equipadas, orientados por professores qualificados para o ensino das diferentes áreas de conhecimentos; com formação para lidar com as tensas relações produzidas pelo racismo e discriminações, sensíveis e capazes de conduzir a reeducação das relações entre diferentes grupos étnico-raciais, ou seja, entre descendentes de africanos, de europeus, de asiáticos, e povos indígenas. Reconhecimento implica justiça e iguais direitos sociais, civis, culturais e econômicos, bem como valorização da diversidade daquilo que distingue os negros dos outros grupos que compõem a população brasileira. E isso requer mudança nos discursos, raciocínios, lógicas, gestos, posturas, modo de tratar as pessoas negras. Requer também que se conheçam a sua história e cultura apresentadas, explicadas, buscando-se especificamente desconstruir o mito da democracia racial na sociedade brasileira; mito este que difunde a crença de que, se os negros não atingem os mesmos patamares que os não negros, é por falta de competência ou de interesse, desconsiderando as desigualdades seculares que a estrutura social hierárquica cria com prejuízos para os negros. Reconhecer é também valorizar, divulgar e respeitar os processos históricos de resistência negra desencadeados pelos africanos escravizados no Brasil e por seus descendentes na contemporaneidade, desde as formas individuais até as coletivas. Políticas de reparações e de reconhecimento formarão programas de ações afirmativas, isto é, conjuntos de ações políticas dirigidas à correção de desigualdades raciais e sociais, orientadas para oferta de tratamento diferenciado com vistas a corrigir desvantagens e marginalização criadas e mantidas por estrutura social excludente e discriminatória. Ações afirmativas atendem ao determinado pelo Programa Nacional de Direitos Humanos, bem como a compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, com o objetivo de combate ao racismo e a discriminações, tais como: a Convenção da UNESCO de 1960, direcionada ao combate ao racismo em todas as formas de ensino, bem como a Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Discriminações Correlatas de 2001. Contudo, o termo foi ressignificado pelo Movimento Negro que, em várias situações, o utiliza com um sentido político e de valorização do legado deixado pelos africanos. É importante, também, explicar que o emprego do termo étnico, na expressão étnico-racial, serve para marcar que essas relações tensas devidas a diferenças na cor da pele e traços fisionômicos o são também devido à raiz cultural plantada na ancestralidade africana, que difere em visão de mundo, valores e princípios das de origem indígena, europeia e asiática. 106 Capítulo 5 Convivem, no Brasil, de maneira tensa, a cultura e o padrão estético negro e africano e um padrão estético e cultural branco europeu. Porém, a presença da cultura negra e o fato de 45% da população brasileira ser composta de negros (de acordo com o censo do IBGE) não têm sido suficientes para eliminar ideologias, desigualdades e estereótipos racistas. Ainda persiste em nosso país um imaginário étnico-racial que privilegia a brancura e valoriza principalmente as raízes europeias da sua cultura, ignorando ou pouco valorizando as outras, que são a indígena, a africana, a asiática. Assim sendo, a educação das relações étnico-raciais impõe aprendizagens entre brancos e negros, trocas de conhecimentos, quebra de desconfianças, projeto conjunto para construção de uma sociedade justa, igual, equânime. Acompanhe, a seguir, a trajetória histórica da luta pela igualdade racial no Brasil. Igualdade Racial Há dez anos, com a criação da Seppir, o Brasil ganhou novas leis de apoio ao cidadão afrodescendente e realizou ações decisivas contra o racismo. Durante esse período, o Brasil obteve diversas conquistas e alcançou metas para promover um País mais justo. 2004 Março – Programa Brasil Quilombola consolida política de Estado para acesso a terra, infraestrutura, qualidade de vida, desenvolvimento local, inclusão produtiva, direitos e cidadania nas comunidades remanescentes de quilombo. 18 de agosto – I Seminário Nacional de Saúde da População Negra avança no diagnóstico das condições de saúde da população negra e gera propostas que darão origem à Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. 2006 Novembro – Política Nacional de Saúde Integral da População Negra expressa o compromisso do governo com a diminuição das desigualdades em saúde dessa população e reafirma responsabilidades do SUS. 2010 Lei n. 12.288/10 institui o Estatuto da Igualdade Racial para garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 107 2011 28 de agosto – O ano de 2011 foi proclamado pela Assembleia Geral da UNU como o Ano Internacional dos Afrodescendentes. A SEPPIR lançou a Campanha “Igualdade Racial é pra valer” para agregar ações e compromissos pela igualdade racial, por meio da ampla convocação do Estado e à sociedade civil. 16 a 19 de novembro – Líderes da sociedade civil, de governos e parlamentares de países ibero-americanos, africanos e caribenhos debatem no Encontro Ibero- americano do Ano Internacional dos Afrodescendentes (Afro XXI) a realidade da população negra nos países participantes e propõem novas ações que assegurem os direitos dos povos afetados pelo racismo. 2012 Durante a elaboração do Plano Plurianual (PPA) 2012-2015, a SEPPIR empenha-se para que os objetivos e iniciativas de governo incorporem ações de igualdade racial. Mais um importante passo para que as desigualdades raciais sejam reconhecidas e abordadas na agenda governamental. O Programa de Enfrentamento ao Racismo e Promoção da Igualdade Racial é inserido nesse que foi o primeiro PPA feito sob a vigência do Estatuto da Igualdade Racial. Entre os objetivos do programa estão: • inserir a perspectiva da igualdade racial nas políticas governamentais; • promover ações afirmativas; • reverter representações negativas da pessoa negra; • buscar a reversão das altas taxas de mortalidade precoce na população negra; • políticas para comunidade quilombolas. Outras iniciativas na área da igualdade racial, como o Programa de Proteção e Promoção dos Direitos dos Povos Indígenas, feito para superar paradigmas conceituais de tutela e assistencialismo que historicamente referenciaram as ações governamentais com os povos indígenas no Brasil, também compõem o PPA 2012-2015. 26 de abril – O Supremo Tribunal Federal confirma, por unanimidade, que as cotas raciais em universidades públicas são constitucionais. As cotas raciais são a reserva de vagas em instituições públicas ou privadas para grupos específicos classificados por etnia, na maioria das vezes negros e indígenas. Pelo conceito original, que surgiu nos Estados Unidos na década de 1960, são consideradas uma forma de ação afirmativa para reverter o racismo histórico contra determinadas classes étnicas. No Brasil, as Universidades começaram a instituir 108 Capítulo 5 o sistema de cotas no ensino superior em 2001, a partir de lei estadual no Rio de Janeiro. Em 2013, as cotas beneficiaram 36 mil estudantes,com ocupação de 12,5% das vagas. 29 de agosto – A presidenta Dilma Rousseff sanciona a Lei das Cotas 12.711/2012. Fonte: BRASIL (2013). Não se almeja, aqui, esgotar o assunto, tampouco dar por encerrado. Pelo contrário, espera-se possibilitar a criação de mais um espaço de discussão e disseminação das ideias acerca do tema, de modo a fortalecer a construção de uma sociedade mais justa com indivíduos conscientes da história da nação brasileira da qual fazem parte; e contribuir com a formação de profissionais conscientes de seus direitos e deveres para com esta sociedade. 109 Considerações Finais Desde o início desse livro objetivamos a sua aprendizagem e o seu desenvolvimento. Dentre tudo o que podemos refletir sobre a arte e a missão de bem gerenciar o desenvolvimento das pessoas e das organizações, selecionamos alguns temas e os organizamos em capítulos. Cada qual procurou apresentar conceitos, teorias, análises e orientações para que você possa ter contato com o que já foi historicamente produzido sobre o tema. De posse desse conhecimento esperamos que você possa fazer uso analítico crítico transformando o seu discurso e o seu fazer no contexto laboral do seu exercício profissional. Ao longo dos capítulos você estudou sobre o papel do trabalho em nossa vida, e pode observar que ele não é apenas uma atividade para qual dedicamos um tempo e recebemos alguma espécie de retorno. Não! O trabalho participa, inclusive, da construção de quem nós somos e como nos inserimos na trama das relações humanas. Ao longo da história do trabalho percebemos que gradativamente construímos a necessidade de organizar o que fazemos, dividir tarefas, criar regras, enfim, com tudo isso institucionalizamos o espaço do trabalho também. E quantos desafios existem aqui! Incontáveis! Terreno fértil para atuação e gestão de grupos e equipes. Com ações tão voltadas à gestão de cargos, o gestor de pessoas é também um colaborador com necessidades, conhecimentos e habilidades para desenvolver e observar para bem conduzir sua participação na gestão de organizações e pessoas. Estudamos, ainda, que a qualidade de vida das pessoas deve ser contínuo alvo das ações, práticas e políticas que enfocam o desenvolvimento integral nas organizações. Assim como se mostram desafios à ação gerencial temas como responsabilidade ambiental e inclusão social. Se as pessoas crescem em importância junto às Instituições, o mesmo ocorre com os profissionais que compartilham a responsabilidade por estudar, planejar, promover, conhecer e intervir sobre o desenvolvimento humano e das organizações. Que os conhecimentos aqui apresentados, como um convite à aprendizagem, contribuam com a sua vida. A equipe de professores. 111 Referências AMATUCCI, M. A trajetória e os papéis desempenhados pela área de recursos humanos: do guarda-livros ao gestor de pessoas. Tese (Doutorado em Administração), 2000. Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade – USP. São Paulo, 2000. BOHLANDER, G.; SNELL S.; SHERMAN, A. Administração de Recursos Humanos. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Texto promulgado em 05 de outubro de 1988. Brasília: Senado Federal, 2010. ______. Resolução nº 1, de 17 de junho de 2004. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Disponível em: <http://www.prograd.ufba.br/ Arquivos/CPC/Parecer%20CNE%203-2004.pdf>. Acesso em: abr 2013. ______. Direitos do cidadão – Igualdade racial. Disponível em: <http://www. brasil.gov.br/sobre/cidadania/direitos-do-cidadao/igualdade-racial>. Acesso em: abr 2013. ______. A inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. 2. ed. Brasília: MTE, SIT, 2007. ______. Lei nº 6.514, de 22 de dezembro de 1977. Altera o Capítulo V do Titulo II da Consolidação das Leis do Trabalho, relativo a segurança e medicina do trabalho e dá outras providências. Disponível em: <http://www010.dataprev.gov. br/sislex/paginas/42/1977/6514.htm>. Acesso em: maio 2013. ______. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em: maio 2013. BUENO, A. M. A trajetória e os papéis desempenhados pela área de recursos humanos. Estudos de Sociologia, Araraquara, v.11, n.21, p.97-112, 2006. CAMPELLO, M.L.C. Gestão de Pessoas: o Papel Fundamental do Líder nas Estratégias e Resultados das Empresas em um Ambiente Altamente Competitivo. VIII SEGeT – Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia – 2011. 112 Universidade do Sul de Santa Catarina CANOVA, Karla Rejane and PORTO, Juliana Barreiros. O impacto dos valores organizacionais no estresse ocupacional: um estudo com professores de ensino médio. RAM, Rev. Adm. Mackenzie [online]. 2010, vol.11, n.5, pp. 4-31. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1678- 69712010000500002&script=sci_arttext>. Acesso em: maio 2013. CASAGRANDE, Jacir Leonir. Sociologia jurídica. 2. ed. Palhoça: UnisulVirtual, 2011. CODO, W. O papel do psicólogo na organização industrial (notas sobre o “lobo mau” em psicologia). In: LANE, Silvia T.M.; CODO, W. (Orgs.). Psicologia social: o homem em movimento. 13 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 195-202. CODO, W. O trabalho enlouquece? Um encontro entre a clínica e o trabalho. Petrópolis: Vozes, 2004. CODO, W.; SORATTO, L.; VASQUES-MENEZES, I. Saúde mental e trabalho. In: ZANELLI, J. C.; BORGES-ANDRADE, J. E.; BASTOS, A. V. B. (Ed.). Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004. DEMO, G.; FOGAÇA, N.; NUNES, I.; EDREI, L.; FRANCHISCHETO, L. Políticas de gestão de pessoas no novo milênio: cenário dos estudos publicados nos periódicos da área de administração entre 2000 e 2010. RAM, Rev. Adm. Mackenzie, v. 12, n. 5. São Paulo, set./out. 2011. DESSLER, G. Administração de Recursos Humanos. 2. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003. DITTRICH, Alexandre. Psicologia organizacional e globalização: os desafios da reestruturação produtiva. Psicol. cienc. prof. Brasília, v. 19, n. 1, 1999. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S1414- 98931999000100005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 14 maio 2013. ENRIQUEZ, E. Os desafios éticos nas organizações modernas. RAE - Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 37, n. 2, p, 6-17 abr./jun. 1997. FERNANDES, Eda. Qualidade de vida no trabalho: como medir para melhorar. Salvador: Casa da Qualidade, 1996. KANAANE, Roberto. Comportamento humano nas organizações: o homem rumo ao século XXI. São Paulo: Atlas, 1999. LACOMBE, B.; CHU, R. A. Políticas e práticas de gestão de pessoas: as abordagens estratégica e institucional. Rev. Adm. Empres. [online]. 2008, vol.48, n.1, pp. 25-35. Gestão do Desenvolvimento Humano e Organizacional 113 MARIM, Carolina Izidora. MONTEIRO, José Dimas d’Avila Maciel. Direitos humanos e cidadania. Palhoça: UnisulVirtual, 2007. MARRAS, J. P. Gestão de Pessoas em empresas inovadoras. São Paulo: Futura, 2005. MARX, K. Manuscritos: economia y filosofia. 11. ed. Madrid: Alianza Editorial, 1985. McCLLELAND, D. C. Human motivation. Cambridge: Cambridge-Print on, 1988. ______; BURNHAM, D. C. Power is the great motivator.Motivating People. Cambrigde: Harvard Business Review, jan/2001, p. 117-126. MELLO, S. L.; JUNIOR, J. S. M. M.; MATTAR, F. N. Perfil, formação, atuação e oportunidades de trabalho do administrador: pesquisa nacional. 5. ed. Brasília: CFA, 2011. MILKOVICH, G. T.; B. Administração de Recursos Humanos. São Paulo: Atlas, 2000. NETO, A.M.P. Gestão estratégica de pessoas: o novo perfil dos gestores de RH frente aos desafios do desenvolvimentode pessoas. Dissertação (Mestrado Profissionalizante em Administração), 2008, 100 fls. IBEMEC /RJ, Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: <http://www2.ibmecrj.br/sub/RJ/files/dissert_ mestrado/ADM_arineto_fev.pdf> . Acesso em: 20 de maio 2013. NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação de conhecimento na empresa: como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. 16 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997. PAZ, Maria das Graças Torres. Poder e saúde organizacional. In: TAMAYO, Álvaro (Org.). Cultura e saúde nas organizações. Porto Alegre: Artmed, 2004, p. 127-154. REVISTA MELHOR. Eles abrem o olho. RH News, 2012. Disponível em: <http:// www.revistamelhor.com.br/textos/209/eles-abrem-o-jogo-221736-1.asp>. Acesso em: 20 de maio 2013. RODRIGUES, Marcus Vinicius Carvalho. Qualidade de vida no trabalho: evolução e análise no nível gerencial. Petrópolis: Vozes, 1994. SASSAKI, Romeu Kazumi. Conceito de acessibilidade. Escoladegente.org, 14 fev. 2011. Disponível em: <http://escoladegente.org.br/noticiaDestaque. php?id=459>. Acesso em: 30 abr. 2013. SCHMITZ, Susana. Qualidade de vida no trabalho: um estudo baseado na percepção dos funcionários. 2007. 89 f. Monografia (Especialização em Psicologia das Organizações e do Trabalho). Universidade do Sul de Santa Catarina, Florianópolis, 2007. 114 Universidade do Sul de Santa Catarina SILVA, G. A. V. Arquitetura social: o propósito da psicologia organizacional. In: Conselho Regional de Psicologia - 4a região (org.). Psicologia: possíveis olhares, outros fazeres. Belo Horizonte: Conselho Regional de Psicologia, 1992. p. 67-88. SPECTOR, Paul. E. Psicologia nas organizações. 2. Ed. São Paulo: Saraiva, 2006. SPECTOR, Paul E. Psicologia nas organizações. 3. Ed. São Paulo: Saraiva, 2010. TANURE, B.; EVANS, P.; CANCADO, V. L. As quatro faces de RH: analisando a performance da gestão de Recursos Humanos em empresas no Brasil. Rev. Adm. Contemp., Curitiba, v. 14, n. 4, ago. 2010. VILAR, Leandro. A Lei 11.645 e o Ensino Indígena. 2011. (mimeo). WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira Editora, 1967. WRIGHT, P.; DUNFORD, B.; SNELL, S. Human resources and the resource based view of the firm. Journal of Management, v. 27, p. 70 115 Sobre o Professor Conteudista Dênia Falcão de Bittencourt Doutora em Educação pelo Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação da USP- SP; Mestre em Engenharia de Produção, foco em Mídia e Conhecimento, pelo Programa de Pós-graduação de Engenharia de Produção e Sistemas da UFSC - SC e graduada como Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica do RS - PUCRS – RS. Como professora atua na área de Administração de Recursos Humanos, Gestão do Conhecimento, Educação Corporativa, Gestão, Design Instrucional e Avaliação da Educação a Distância. Atualmente é Professora, Assessora no Programa de Inovação e Qualidade da EAD, e Membro da Comissão Própria de Avaliação da UNISUL/SC. Consultora e Professora Pesquisadora da UAB/ NUTEAD da UEPG/PR. Dâmaris de Oliveira Batista da Silva Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2012); Mestre em Engenharia de Produção e Sistemas pela Universidade Federal de Santa Catarina (2002); graduada em Psicologia pela UNISUL (1998). Professora, Orientadora de Estágios, TCC e Monografias na área Gestão de Pessoas, Psicologia das Organizações, Liderança e Desenvolvimento de Equipes. Vanderlei Brasil Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (1990), especialização em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (1998) e aperfeiçoamento em Formação Em Psicoterapia Fenomenológica e Existencialismo pelo Núcleo Castor Estudos e Atividades Em Existencialismo (1991). Atualmente é Professor da Universidade do Sul de Santa Catarina e Pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Social. 116 Universidade do Sul de Santa Catarina Viviane Bastos É psicóloga e mestre em Educação pela Unisul. Com formação em terapia cognitivo-comportamental, possui cursos na área de educação, administração e psicologia. Professora nos cursos de graduação da Unisul, modalidades presencial e a distância. Participou do projeto de cooperação internacional com Portugal diretamente ligado ao Instituto Politécnico de Leiria, onde trabalhou na capacitação da equipe de design instrucional da instituição (2007). Autora (Conteudista) de livros didáticos em EaD da UnisulVirtual. Introdução Capítulo 1 O trabalho Capítulo 2 A organização de trabalho Capítulo 3 Perfil do Gestor de Pessoas Capítulo 4 Saúde e segurança no trabalho Capítulo 5 Temas contemporâneos em Gestão de Pessoas Considerações Finais Referências Sobre o Professor Conteudista