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1 Abdome agudo • Tipos: inflamatório, obstrutivo, perfurativo, vascular, hemorrágico. Nenhum abdome agudo muda de nome, apenas complica! • Atendimento inicial o anamnese: avaliar características da dor (quadrante, evolução, sintomas associados como febre anorexia e vômitos); Dor: • difusa = acometimento do peritônio visceral • localizada = acometimento do peritônio parietal o exame físico: inspeção, ausculta, percussão e palpação (palpar por último o quadrante doloroso); o exames laboratoriais: gaso arterial, hemograma, lactato, amilase, ß HCG, função hepática e renal; o exames de imagem: RX de tórax em PA e perfil, RX de abdome deitado e em pé. RX: avaliar cúpulas diafragmáticas, seios costofrênicos, linhas pré-peritoneais (na criança e idoso há gordura nessa região, não confundir!) e bolha gástrica. ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO Quadro agudo com evolução progressiva, caracterizado por febre e dor difusa que vai se localizando. APENDICITE AGUDA ANATOMIA DO APÊNDICE o massa linfoide atrofiada e em fundo cego, ligada ao ceco e ao íleo, na FID; o é vascularizada pela artéria apendicular, ramo da íleocólica D e mesentérica superior; o suas estruturas vizinhas são: ceco, sigmoide, reto, bexiga, intestino delgado. • É a causa mais comum de abdome agudo inflamatório não traumático e cirúrgico, com predomínio na população jovem; • fisiopatologia: hiperplasia linfóide (60%) ou fecalito (40%) → obstrução da luz do apêndice → acúmulo de secreção → proliferação bacteriana + aumento da pressão interna → edema → redução da drenagem linfática e irrigação arterial → isquemia → necrose → perfuração • etiologia: “As bactérias na apendicite dizem EBA!” - E. coli e BActerioides fragilis • fases: o edematosa / catarral: acúmulo de muco → edema o flegmonosa / supurativa: acúmulo de pus o gangrenosa: necrosou o perfurativa 2 • diagnóstico: o clínico: anorexia (1º sintoma), dor periumbilical → FID, náusea e vômito, alteração do hábito intestinal, febre, disúria. Quadro com rápida progressão (24-48h). Atenção ao paciente idoso (sem febre + adinamia) e criança (febre alta + adinamia); o exame físico: palpação dolorosa da FID. Pode complementar com sinais semiológicos: Blumberg: dor à descompressão brusca do ponto de Mcburney = irritação peritoneal Rovsing: dor na FID à compressão brusca da FIE obturador: dor à rotação interna passiva da perna D fletida psoas: dor à extensão passiva da perna D Lapinski: dor à compressão da FID quando eleva o MID esticado Lenander: Tº retal > 1ºC que a Tº axilar = processo inflamatório Summer: hiperssensibilidade da FID o critério diagnóstico: Alvarado ⇢ ≥ 7 pontos indica apendicite. Dispensa a realização de exames, além do exame físico! o exame laboratorial: hemograma (leucocitose com neutrofilia e desvio à E), PCR elevada, urina 1 com piúria e bacteriúria, ßHBCG para descartar gravidez. o exames de imagem: RX (pneumoperitônio, fecalito na FID), TC (espessamento > 7mm). • conduta: o atb (para G - e anaeróbios) e hidratação o apendicectomia via laparoscopia: indicado para paciente obeso e mulher fértil clampear a. apendicular e apêndice com clip metálico + remover o apêndice em saco coletor → lavar cavidade com soro via aberta: incisão no ponto de McBurney ou Rockey-Davis ligadura da a. apendicular + ligadura e secção do apêndice + sutura em bolsa do coto apendicular (invaginado para o ceco) → lavar cavidade com soro Complicações: infecção do sítio cirúrgico, abscesso cavitário, fístula digestiva (quando coto abre - raro!), obstrução intestinal (por lavagem incompleta da cavidade, deixando secreção entre uma alça e outra). Apendicectomia branca: quando ocorre falha da hipótese diagnóstica e o apêndice não encontra-se inflamado. Mesmo assim, removemos ele pois caso não retire, outro médico pode ver a cicatriz e pensar que o paciente não tem mais o apêndice, descartando uma apendicite. • diagnósticos diferenciais: linfadenite mesentérica (criança com história prévia de IVAS), gastroenterite, ruptura folicular, pielonefrite aguda, diverticulite aguda, úlcera péptica perfurada. 3 PANCREATITE AGUDA • causas: obstrução do ducto pancreático por cálculo biliar. A estase do fluxo de enzimas pancreáticas leva à autodigestão pancreática; • diagnóstico: o clínico: dor em faixa no andar superior do abdome que irradia para dorso, associada à náuseas e vômitos; o exame de imagem: TC de abdome. • critérios: o de Ranson (critério clínico ⇢ gravidade / dosar cálcio e glicemia, colher gasometria); o de Balthazar (critério radiológico TC); o de APACHE II (gravidade na UTI); o de Atlanta. • tratamento: jejum, suporte clínico e protetores gástricos + colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) para remoção do cálculo biliar. COLECISTITE AGUDA • Colelitíase = presença de cálculos na vesícula biliar (cálculo de colesterol /radiotransparente ou cálculo pigmentado preto / radiopaco). Geralmente paciente é assintomático ou com dor leve que dura < 6h. o critérios cirúrgicos: relacionados à vesícula: vesícula em porcelana, presença de sintomas relacionados ao cálculo: presença de cálculo de qualquer tamanho, presença de pólipo relacionados ao metabolismo: hemólise crônica (forma muito cálculo pigmentado) e paciente imunocomprometido • Colecistite aguda = inflamação da vesícula biliar, dor > 6h; • Coledocolitíase = cálculo na via biliar principal: o primária: formação de cálculo no próprio colédoco → estase biliar (cálculo pigmentado castanho) o secundária: impactação de cálculos formados na vesícula (+ comum!) • Colangite = inflamação das vias biliares • Colestase = estase da bile nas vias biliares por obstrução → colangite ANATOMIA DA VESÍCULA • órgão em forma de pera, abaixo do lobo direito do fígado; • armazena a bile alcalina que o fígado produz, e libera no duodeno (por estímulo da colecistoquinina e secretina) quando necessário para digerir gorduras, junto da amilase pancreática; • vesícula → ducto cístico + ducto hepático comum → colédoco / ducto biliar comum : atravessa a cabeça do pâncreas, desembocando no duodeno: na papila, junto do ducto pancreático. • trígono de Calot: ducto hepático comum medial, ducto cístico inferior, borda hepática superior. 4 • fisiopatologia: cálculo de colesterol para no infundíbulo vesicular → estase biliar → proliferação bacteriana (E. coli) + edema → obstrução linfática e vascular = isquemia, necrose, perfuração • classificação: o litiásica: formação de cálculo biliar que obstrui ducto cístico, levando à inflamação vesicular; o alitiásica: distúrbio circulatório em paciente internado que está recebendo drogas vasoativas ou em jejum prolongado com nutrição parenteral, imunossuprimidos ou crianças → colecistectomia urgente; • fatores de risco: 4Fs = Female (mulher), Forty (40 anos), Fatty (obesidade/sobrepeso) e Fertile • diagnóstico: o clínico: dor em hipocôndrio D, acompanhada de febre e calafrios, náuseas e vômitos; o exame físico: sinal de Murphy positivo = dor intensa à compressão do HD que interrompe inspiração; o exames complementares: hemograma (leucocitose com desvio à E), PCR, enzimas hepáticas, Br o exames de imagem: USG de abdome (espessamento da parede, incompressibilidade), cintilo com tecnésio diagnostica colecistite litiásica (cora a bile e vê que entrada da vesícula está obstruída). • tratamento o hidratação, analgésicos, dieta leve, atb (para G - e anaeróbios) o colecistectomia laparoscópica Tracionar vesícula com pinça Mixter → dissecar gordura do trígono hepatocístico com eletrocautério → localizar trígono de Calot (ducto cístico, hepático comum e a. cística) → clipar e dissecar artéria cística e ducto cístico → dissecar vesícula biliar do leito hepático • Complicações: coledocolitíase, colangite, empiema, perfuração, fístula bílio-digestiva, Síndromede mirizzi (fístula entre a vesícula e colédoco e obstrui ducto hepático comum), colecistite enfisematosa. COLEDOCOLITÍASE AGUDA Cálculos marrons, < 5mm passam para o colédoco e causam coledocolitíase; • diagnóstico: colangiografia; • tratamento: CPRE. COLANGITE AGUDA • Inflamação da árvore biliar principal (colédoco, hepático comum), podendo levar à morte; • causa: colelitíase, tumor de cabeça de pâncreas ou papila; • fisiopatologia: obstrução do fluxo ⇢ estase biliar ⇢ infecção • diagnóstico: o clínico tríade de Charcot: dor abdominal, icterícia e febre com calafrios pêntade de Reynold: tríade de Charcot + hipotensão + queda do nível de consciência o exames laboratoriais: enzimas hepáticas, TP, cultura de bile, hemocultura o exame de imagem: colangioRM ou USG endoscópico. • tratamento: hidratação, atb (G - e anaeróbios) e CPRE (entra no esfíncter de Odi, abre a papila, tira o cálculo e desobstrui a árvore biliar). 5 DIVERTICULITE AGUDA o Diverticulose: processo de formar divertículos na parede do intestino grosso (porção sigmóide) por conta de uma fraqueza da camada muscular; o divertículo verdadeiro: formado por todas as camadas da parede intestinal. É de origem congênita, e mais raro; o divertículo falso: formado pelas camadas mucosa e submucosa, mediante aumento da pressão interna por obstipação intestinal. É o divertículo mais comum, e acomete mais a população > 40 anos. o Doença diverticular: paciente tem sintomas brandos como dor abdominal, flatulência e obstipação; o Diverticulite: inflamação de um divertículo. • a diverticulite é rara antes dos 30 anos; • fisiopatologia: fecalito → obstrução do divertículo → acúmulo de secreção → proliferação bacteriana + aumento da pressão interna → reduz drenagem linfática → isquemia → pode ou não perfurar (é mais comum não perfurar!) • fatores de risco: tabagismo, dieta rica em farinha e pobre em fibras, constipação; • diagnóstico: o clínico: dor aguda na FIE tipo cólica, associada à febre e dificuldade para evacuar e elimiar gases; o exame físico: dor à palpação da FIE que irradia para hipogastro e dorso, plastrão palpável e DB+; o exame de imagem: TC. Não fazemos colonoscopia pois podemos perfurar o divertículo ao inserir ar dentro da alça. • classificação o Kaiser: I. diverticulite não complicada II. a. inflamação confinada ao divertículo II. b. abscesso confinado ao divertículo III. abscesso se estende para pelve IV. peritonite generalizada V. peritonite fecal generalizada • tratamento o analgesia, atb de amplo espectro (cipro, metronidazol), hidratação o punção guiada por TC se presença de abscesso o cirurgia - retossigmoidectomia hartmann: apenas 15-30% dos casos, caso tenha perfuração, fístula, estenose, obstrução ou hemorragia digestiva baixa. DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA AGUDA • infecção ascendente do canal vaginal, gerando um abscesso tubo-ovariano; • diagnóstico o clínico: dor em FID, com febre; o exame de imagem: TC de pelve. • tratamento: clínico. Cirurgia caso complicações como abscesso tubo-ovariano ou intra-abdominal. 6 ABDOME AGUDO OBSTRUTIVO • íleo mecânico = parada do movimento intestinal por oclusão da luz o simples: vascularização preservada o estrangulado: vascularização comprometida o causas: extrínsecas: bridas (+ comum no intestino delgado) ou hérnias encarceradas, intrínsecas: tumor de colon e ceco, corpo estranho, áscaris, cálculo biliar, fecaloma (acúmulo de fezes por megacólon chagásico, senilidade ou paciente acamado), volvo de sigmoide ou ceco (obstrução baixa por torção da alça), invaginação intestinal (intussuscepção – delgado entra no cólon, comum em criança). • íleo funcional = parada do movimento intestinal no íleo, em pós operatório, por uso de drogas ou por distúrbios eletrolíticos. Síndrome de Ogilvie: parada do movimento intestinal no cólon, no pós operatório ⇢ hiperativação simpática • íleo biliar = parada do movimento intestinal por obstrução da luz por cálculo biliar (impacta na papila ileal). • classificação o obstrução alta: pré válvula íleo cecal o obstrução baixa: pós válvula íleo cecal • diagnóstico: o clínico: dor abrupta do tipo cólica, náusea e vômito (na obstrução alta ⇢ alcalose metabólica hipoclorêmica, desidratação), distensão abdominal, parada eliminação de flatos e fezes, RHA aumentados com timbre metálico (luta intestinal); o exames de imagem: RX de tórax em AP e PA + RX de abdome em pé e deitado paciente em pé: sinal do “J invertido” (ausência de ar no delgado) paciente deitado: sinal da “pilha de moedas” (edema das alças intestinais) ⇢ obstrução alta aerobilia (quando ílio biliar = ar nas vias biliares) sinal da maçã mordida (quando íleo mecânico por tumor de ceco) sinal do grão de café (quando íleo mecânico por volvo de sigmoide) aerobilia sinal do J invertido pilha de moeda sinal da maçã mordida • tratamento: jejum, hidratação, analgesia, sonda nasogástrica, atb para G - e anaeróbios, cirurgia caso obstrução baixa e válvula íleo cecal competente (⇡P no ceco: cirurgia se diâmetro do ceco > 10cm por risco de perfuração). o Se volvo de sigmoide: reduzir por colonoscopia com a manobra de Brussgard e depois operar. sinal do grão de café 7 ABDOME AGUDO PERFURATIVO • é uma urgência cirúrgica decorrente de perfuração súbita de víscera oca, sem íleo paralítico. Pode evoluir para sepse, com DB +; • causas: úlcera péptica perfurada, corpo estranho perfurativo, tumor gastrointestinal, diverticulite; • diagnóstico: o clínico: dor abrupta e intensa, com defesa involuntária (abdome em tabua); o exame físico: Sinal de Jobert: timpanismo na região hepática; Sinal de Rigler-Frimann Dahl (de Rigler) : ar dentro e fora das alças intestinais = pneumoperitônio. Pedir raio X torácico e abdominal, em pé e deitado. • tratamento: cirurgia de emergência. ABDOME AGUDO VASCULAR • causas: o rotura de aneurisma da aorta abdominal infrarrenal, aneurisma dissecante, aneurisma de artéria esplênica: dor abdominal ou lombar, com massa pulsátil em abdome o isquemia mesentérica (exame físico brando mas história de dor intensa): dor que piora após alimentação o embolia, trombose o colite isquêmica • diagnóstico: o exames de imagem: angioTC. ABDOME AGUDO HEMORRÁGICO • causas: prenhez ectópica rota, cisto roto, ruptura de folículo ovariano, ruptura uterina, hemangioma roto, ruptura de baço; • diagnóstico: o clínico: dor súbita com sinais de choque hipovolêmico; o exame físico: sinal de Kehr (dor em ombro E por irritação diafragmática por sangramento esplênico), sinal de Cullen (equimose periumbilical), sinal de Grey-Turner (equimose em flanco); o exame de imagem: USG
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