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1 CASO BRASILEIRO PARA ANÁLISE: Magalu Magazine Luiza: 'tech stock' disfarçada de varejoi Por Natalia Viri – Brazil Journal – 14/06/2017 Quando investidores conversam sobre o varejo de eletrodomésticos, é comum ouvir referências às margens apertadas da linha branca, à concorrência brutal da internet (‘o cliente vai olhar o produto na loja mas compra em casa’) e às vendas deprimidas pela recessão. Mas um olhar menos superficial sobre o Magazine Luiza revela uma companhia que escapa de todos esses estereótipos, e uma empresa com um componente de tecnologia que o mercado não está precificando. Na verdade, os números mostram que o Magazine tem hoje crescimento de faturamento e lucro que lembram mais uma empresa de tecnologia do que um varejista tradicional. Desde o final de 2014, a geração de caixa do Magazine cresce a taxas que inspiram humildade em algumas das empresas mais lucrativas e respeitadas da Bolsa, como Lojas Renner, Americanas, Cielo e Ambev. Seu retorno sobre o patrimônio (ROE) estimado para 2017 é superior ao das quatro empresas usadas na comparação, e, numa análise do retorno sobre o capital investido (ROIC), só a Ambev deve ganhar do Magazine este ano. Apesar das comparações amplamente favoráveis, a ação do Magazine negocia a um múltiplo substancialmente inferior ao de todas as empresas comparadas. Quando comparada a uma quinta empresa, o Mercado Livre, que domina o marketplace, o Magazine entrega quase o mesmo ROIC, por um quinto do múltiplo. (veja tabela abaixo) Tudo isso significa que os investidores parecem ignorar o que distingue o Magazine Luiza de seus dois principais concorrentes, a Via Varejo, dona do Ponto Frio e das Casas Bahia, e a Máquina de Vendas, dona do Ricardo Eletro e da Insinuante: cada vez mais, os resultados do Magazine são produto do binômio 'tecnologia e logística'. A empresa, que está no ecommerce há 17 anos, usa as ferramentas do marketing digital melhor do que qualquer concorrente, investe em 'user experience’ num segmento do varejo que só entende de venda em loja, e desenvolveu um aplicativo que, sozinho, já responde por mais de 20% de suas vendas online. (Estas, por sua vez, representaram por 28% das vendas totais do Magazine no primeiro trimestre, um número que era apenas 8% no IPO em 2011; a empresa já disse a investidores que, se o ritmo atual continuar, 50% do faturamento do Magazine daqui a três anos poderá ser online.) Num caso raro na internet brasileira, o Magazine é uma operação B2C realmente lucrativa: o faturamento do seu ecommerce cresce junto com a margem EBITDA da companhia — ao contrário de concorrentes como a B2W, que continua queimando caixa. Boa parte da energia do Magazine hoje está em sua incipiente operação de marketplace, na qual outras empresas vendem seus produtos e o Magazine fica com uma comissão. Como este negócio tem margens e retorno sobre o capital investido melhores que a venda online tradicional, todas as empresas de ecommerce estão correndo para este modelo. Lançado em setembro de 2016, o marketplace do Magazine já tem 200 lojas vendendo 400 mil itens no site — destes, 360 mil são produtos de terceiros; só 40 mil são produtos que o próprio Magazine 2 carrega em estoque. (Tudo passa por uma análise econômica: a empresa mantém em estoque os produtos de alto giro, em que é possível obter preços melhores numa negociação em escala. Já os de giro baixo, ou que são apenas complementos de categoria, são o foco do marketplace.) Enquanto a tecnologia ajuda a aumentar as vendas, a logística melhora a rentabilidade da operação. Desde que o Magazine começou seu ecommerce, os produtos vendidos online sempre estiveram no mesmo CD que o produto vendido na loja, e o backend (os sistemas de retaguarda) das vendas online e offline sempre foi o mesmo. Pode parecer óbvio, mas até recentemente a Via Varejo tinha centros de distribuição separados para o online e o offline, permitindo ao Magazine, até agora, uma vantagem competitiva no prazo e no custo de entrega. A chamada 'Malha Luiza’ — uma rede de 900 transportadoras terceirizadas — atende as 800 lojas e outros mercados onde a rede não tem lojas físicas. O mesmo caminhão que abastece a loja do Magazine passa na casa do cliente para entregar a compra online, reduzindo dramaticamente o custo marginal do frete. Hoje, para alguns produtos específicos, as lojas do Magazine já estão habilitadas para permitir que o cliente compre online e retire na loja, mas o prazo para esta retirada ainda varia. O Magazine quer ser capaz de entregar as principais categorias em até 48 horas — o mesmo prazo de entrega do Amazon Prime. Na analogia feita por um investidor, ‘é como se o Magazine não tivesse 800 lojas, e sim 800 centros de distribuição’. O projeto mais ousado da companhia também copia outra grande sacada da Amazon. A empresa está habilitando sua malha de transportadoras para que prestem serviço também ao cliente que vende produtos no seu marketplace. O projeto — chamado de ‘Fulfillment by Magalu’ — vai permitir que o comprador escolha como quer receber seu produto: ou paga o frete e recebe em casa, ou retira na loja e não paga nada, ou pode ainda optar pelo frete de terceiros. A transformação digital em curso no Magazine tem a ver com seu CEO, de 41 anos. Quando começou a trabalhar na empresa, no ano 2000, Frederico Trajano (‘Fred’ dentro da companhia) escolheu começar pela área de ecommerce; só cinco anos depois passou a ser diretor de vendas e marketing, lidando diretamente com as lojas físicas. Investidores dizem que Fred— que já foi analista de consumo e varejo do Deutsche Bank — vê a Amazon como benchmark para o presente e o futuro da empresa, e frequenta o Facebook e o Google mais do que a Whirlpool ou a Samsung, grandes fornecedores do Magazine. Ao se tornar CEO, em janeiro de 2016, ele foi ao conselho com um plano de cinco anos e uma missão clara: ‘Transformar uma empresa tradicional de varejo com uma área digital em uma plataforma digital com pontos físicos.’ A ação do Magazine sequer está no mapa de boa parte dos gestores. Nenhum dos grandes gestores brasileiros consultados pelo Brazil Journal tem o papel, e, depois que a ação subiu 700% ano passado, quase ninguém tem coragem de se debruçar sobre o investment case hoje. “Quem não viu o papel em 2015 agora não tem como vender internamente a ideia de olhar agora,” diz um gestor que tem o papel na carteira. “O bizarro não é quanto o papel subiu em 2016, e sim o quanto ele havia caído antes.” Em 2011, o IPO da companhia saiu a R$ 16/ação, o que equivale a R$ 128 a preços de hoje, depois de um grupamento de '8 para 1' em outubro de 2015. A ação bateu em sua mínima histórica em dezembro de 2015: de R$ 16 no IPO, o papel foi a R$ 1 em meio à queda nas vendas trazida pela recessão e a crise do Governo Dilma. A partir dali, a ação começou a reagir e hoje negocia a R$ 255 (R$ 32 na escala antiga, ou o dobro do preço do IPO, seis anos depois). 3 Recentemente, o Magazine confirmou planos de levantar capital numa oferta de ações. Os recursos seriam usados para reduzir sua despesa financeira, hoje na casa de 4% do faturamento líquido, e reforçar sua estrutura de capital. Mas enquanto a política atravancar o caminho da economia, como tudo no Brasil, os planos parecem estar em standby. Do tombo à glória: o marketing digital do Magazine Luiza ii Por Natalia Viri – Brazil Journal – 15/09/2017 No ano passado, quando levou um tombo carregando a tocha olímpica na passagem por Franca, sua cidade natal, Luiza Helena Trajano virou alvo de chacota. Pouco mais de um ano depois, é ela quem está rindo à toa. Luiza é a estrela de uma campanha online que estreou há quatro dias e já teve maisde 10 milhões de visualizações no YouTube e no Facebook. Nela, aparece dançando com a tocha olímpica e convidando os espectadores a ‘correr’ para as lojas: “Mas cuidado, hein? ... Pra não cair”, brinca. Quinze meses e uma valorização de mais de 1500% nas ações do Magazine Luiza separam o tombo do vídeo. Quando Luiza se estabacou no chão, a empresa valia R$ 852 milhões na Bolsa. Hoje, vale R$ 14,8 bilhões, equivalente a uma Natura e três quartos de um Pão de Açúcar. O marketing é um dos protagonistas do sucesso da guinada digital do Magazine Luiza, que cada vez mais gera valor com seu negócio de e-commerce e marketplace. (Na internet, a empresa tem adotado o nome Magalu, uma espécie de submarca mais jovem e simpática.) A garota-propaganda da companhia é a Lu, um avatar digital que existe desde 2003, e interage em primeira pessoa com os consumidores na internet. A personagem tem um canal no YouTube desde 2007 – quando a maior parte dos hoje celebrados youtubers ainda estava no primário. O posicionamento da companhia é a 'inclusão digital', o que serve tanto para vender eletrônicos, o carro-chefe da casa, quanto para chamar os consumidores para comprar online. A Lu é democrática: tira dúvidas de quem não sabe nem ligar um smartphone e dá pinta no Tinder para chegar aos mais conectados (ela não tem preconceito e dá ‘match’ em homens e mulheres). Até fora da Internet, o Magalu chama os consumidores para dentro dela. Um quadro chamado ‘Missão Digital’ veiculado no programa ‘É de Casa’, que passa nas manhãs de sábado na Globo, mostra casos reais em que a tecnologia melhora a vida das pessoas. Tem caso de estudante que ganha computador, pintor que consegue mais trabalhos quando se cadastra num aplicativo, aplicativos de memorização para uma senhora com Alzheimer, e por aí vai. A Luiza de carne e osso também faz sua parte – rindo de si mesma. No ano passado, logo depois do tombo homérico em rede nacional, o Magazine lançou uma liquidação com o mote “os preços também caíram” e a hashtag #CairFazParte. Viralizou. Para alegria do marketing – e terror da área de compliance – há dois anos a empresa começou a incentivar cada gerente de loja a criar um canal no Facebook, uma forma de se comunicar com o público regional. O projeto, batizado de Maga Local, está bombando tanto quanto as ações da empresa. Hoje, são 800 canais que produzem o conteúdo que bem entendem. Os vídeos, amadores e muitas vezes propositadamente toscos,, trazem os funcionários dançando ao som de paródias de funk 4 ou fazendo anúncios em que eles pulam de dentro do guarda-roupa. Alguns deles já chegaram a mais de 1 milhão de views. “Quanto mais o conteúdo que se cria é proprietário e autêntico, mais ele tem repercussão”, diz Ilca Sierra, a diretora de marketing do Magazine. Com passagens pelo Grupo Pão de Açúcar e Pernambucanas, ela entrou no Magalu como gerente de marketing do ecommerce em 2009. Até hoje, diz ela, apenas cinco conteúdos foram retirados do ar pela matriz. “Uma das nossas diretrizes é a digitalização do ponto físico, dentro da transformação digital da companhia. As lojas sempre tiveram liberdade de fazer marketing local, no rádio, por exemplo. Agora, nada mais coerente que apoiar os gerentes a terem canal no Facebook.” Para alavancar estes canais locais, o Magalu contratou o youtuber Felipe Neto, que tem 13 milhões de seguidores, para fazer um vídeo comentando (e rindo) das peças ‘espontâneas’ dos funcionários. No fim, ele faz um desafio a Luiza Helena para que ela faça seu próprio vídeo. A campanha, com a hashtag #AceitaLuiza, foi promovida por outros influenciadores. A ‘resposta’ foi o vídeo de 10 milhões de views, em comemoração ao aniversário do site. Ao som de uma paródia do funk “Vou Desafiar Você”, os funcionários do escritório administrativo de São Paulo aparecem representando memes: tem colaborador segurando forninho, outro, vestido de John Travolta confuso, e um outro dançando o Gangnam Style. Luiza aparece como um meme dela mesma, carregando a tocha infame. No varejo, como na vida, ri melhor quem ri por último. Magazine Luiza: o segredo da empresa que subiu 15.467% na bolsa iii Ação valia R$ 0,96 em dezembro de 2015 graças a um turbilhão de fatores negativos na época da crise, mas empresa passou por um processo intenso para se reerguer Por Paula Zogbi – Infomoney – 09/08/2018 Noventa e seis centavos. O valor da ação do Magazine Luiza (MGLU3 +4,97% (/mglu3)) em 14 de dezembro de 2015 fazia parecer que a varejista jamais retomaria as rédeas de seus negócios ou poria um sorriso nos rostos de seus acionistas. Quase 32 meses e muitos resultados positivos depois, a mesma ação valia R$ 140,03 no fechamento de mercado desta quarta-feira (8). A máxima histórica foi na terça-feira, R$ 148,49 – uma alta de 15.467% na comparação com os R$ 0,96, ante cerca de 80% do Ibovespa e 30,88% do CDI -, resultado de um trabalho minucioso de adaptação à nova realidade do mercado. A mais longa crise econômica que já assolou o Brasil não é explicação su ciente para demonstrar os motivos da chegada ao “fundo do poço” neste caso – se fosse, a subida do Magalu teria sido comparável à dos demais papéis de seu setor. O problema da empresa era maior, e, bem como a posterior resolução, remete a anos antes. Em abril de 2011, quando abriu capital na bolsa, o Magazine usou os recursos levantados com a venda dos papéis para aumentar a robustez de seu negócio - já em julho do mesmo ano, adquiriu a rede Baú da Felicidade, por exemplo. Este foi o início de um período de tomada de crédito e expansão, fomentado pelo juro baixo de empréstimos e por incentivos fiscais - principalmente o IPI especial para eletrodomésticos da chamada linha branca entre 2011 e 2014. Naquele momento, o endividamento pela expansão parecia fazer todo o sentido para a empresa. A partir de 2014, porém, a taxa básica de juros (Selic) já estava em dois dígitos (10,4% ao ano) – e o crédito tomado nos anos anteriores não parecia tão barato assim. No momento mais cruel para a ação da companhia, a Selic estava em 14,15%, valor mais alto da série histórica. Ao mesmo tempo, claro, vieram a crise, o desemprego, a queda no poder de compra, e consequentemente na demanda 5 pelos produtos do Magalu. As vendas de móveis e eletrodomésticos tiveram a queda mais expressiva de todo o segmento de varejo no primeiro semestre de 2015: -14%. Escalada Enquanto a dívida crescia e as ações despencavam, o que o mercado não via era a profunda reestruturação que o Magazine vinha realizando para garantir não apenas uma retomada pontual, mas um crescimento sustentável no médio e longo prazo. A mudança primordial foi na diretoria. Nesta época, mais especificamente na virada de 2015 para 2016, Frederico Trajano passa a acumular os papéis de Diretor Executivo (CEO) e presidente do grupo, aumentando seu nível de influência nos negócios da empresa. Isso foi essencial para a mudança de mentalidade da Lu, que já era uma “senhora” de 58 anos, tanto na idade como nos métodos de negócios. Junto ao primogênito de Luiza Helena Trajano veio um banho de inovação. As mais imediatas atitudes da gestão foram no sentido de enxugar gastos desnecessários: de cara, cortou viagens de avião na classe executiva e renegociou contratos de centenas de lojas, além de estabelecer acordos com o sindicato dos comerciários e cortar até mesmo o excesso de gastos com energia elétrica. Mas o grande insight de “Fred” não foi em otimizações pontuais, e sim na mudança do “coração” do negócio, que já estava em tímida construção desde muitos anos antes. Diferentemente da mãe, Fred iniciou sua carreira já com foco em operações digitais. Ele entrou na empresa oficialmente em 2000, com a missão de conceber o primeiro site da varejista. Em 2004, passoua ser diretor de vendas de lojas físicas, internet e marketing. Ainda antes de chegar a CEO, assumiu a área de tecnologia da empresa, paralelamente à de logística. Conforme mostram os resultados recentes, a mentalidade online foi essencial para que a empresa chegasse onde está hoje. Já em 2016, o executivo usava um termo que tornou-se onipresente em todos os relatórios que falam sobre varejo mundialmente: omni-channel. Em entrevista à Forbes pouco depois que assumiu como CEO, ele afirmou categoricamente acreditar que o Magazine era a única operação no Brasil e uma das poucas no mundo a realmente se enquadrar neste conceito, que definiu como “empresa dona de vários canais de venda que usam todos a mesma infraestrutura – mesmos centros de distribuição, mesma contabilidade, mesmo marketing”. Ele acrescentou, ainda, que nenhum e- commerce no Brasil era lucrativo, além do próprio Magazine. O mercado parece concordar com o executivo. No primeiro semestre deste ano, um relatório do Credit Suisse classificou o Magazine como uma das 7 empresas capazes de sobreviver ao Apocalipse do Varejo mundialmente, graças à soma de operação fortemente eletrônica e preços competitivos: o e-commerce já passou de 30% das vendas totais da empresa. Para garantir o sucesso dessa transformação digital, foi extremamente relevante o fato de que, de acordo com os funcionários da empresa, a mentalidade digital tinha fim em si mesma, e não na satisfação dos acionistas. Em entrevista ao InfoMoney no fim de 2017, o atual CTO André Fatala disse que não era cobrado pelo resultado da empresa na bolsa: sua missão sempre foi pura e simplesmente a de fazer funcionar a operação digital da empresa de maneira sustentável e duradoura. Responsável desde 2011 pelo Luiza Labs, laboratório de inovação do Magazine, Fatala é considerado um dos principais responsáveis pela enorme transformação da empresa. Dentro deste laboratório, o Magazine criou as soluções mais elogiadas dos últimos dois anos como responsáveis pelo seu salto em meio ao competitivo varejo brasileiro – dentre elas, o aclamado marketplace, um app que já tem 16 milhões de downloads e as soluções de experiência do usuário. A cada ano, a equipe do Labs entrega cerca de 30 projetos estratégicos para a empresa. Esse número é possível graças à altíssima especialização da equipe e à mentalidade de “negócio em construção”: ideias são sempre bem vindas, independentemente do nível hierárquico do funcionário, e o erro não é pecado - desde que usado como forma de garantir aprendizado. 6 Pouco a pouco, o mercado começou a perceber a relevância desse esforço. No início de 2018, o gestor Henrique Bredda, da Alaska Asset, um dos maiores acionistas individuais da empresa, falou com o InfoMoney sobre a importância do DNA de inovação da companhia. "Quando conhecemos o LuizaLabs [frente de tecnologia do Magazine] pela primeira vez, em 2015, nos chamou a atenção o seguinte: se a empresa está dando autonomia e espaço pra um cara como o André Fatala, totalmente diferente da cultura de varejo que a gente conhece, é porque de fato entendeu a importância da inovação e tecnologia para o mercado", disse, na época. O resultado e o futuro Com tudo isto, a empresa foi reconhecida em 2017 como uma das mais inovadoras da América Latina pela revista Fast Company. Na bolsa brasileira, foi a ação mais valorizada tanto em 2016 como em 2017. Nos últimos doze meses, a empresa reverteu uma dívida líquida de R$ 300 milhões de reais para uma posição de caixa líquido de R$ 1,6 bilhão de reais. No balanço mais recente, o Magalu divulgou o maior crescimento nos últimos 5 anos, tanto no varejo físico como no e-commerce. As vendas totais de R$ 4,6 bilhões, crescimento trimestral de 43,3% e anual de 94%. Liderado pelo marketplace, o e-commerce aumentou nada menos que 66%, atingindo vendas de R$ 1,5 bilhão – ou 33% das vendas totais. O resultado supera, e muito, a média do mercado: segundo dados do E-bit, o comércio eletrônico brasileiro cresceu 13,2% entre abril e junho deste ano. Agora, há um trabalho novamente sendo feito em expansão. Desde o início deste ano, 30 lojas físicas foram inauguradas. Em maio, a empresa começou a operar na região metropolitana de Maranhão e, em junho, abriu suas primeiras lojas em Goiânia. Mas lojas físicas não podem ser ultrapassadas: ao longo deste ano, as lojas físicas estão sendo transformadas em pequenos centros de distribuição, “que servem todas as plataformas de venda e oferecem novas opções de serviço aos clientes Magalu - a retirada de produtos comprados online, por exemplo”, disse a empresa em comunicado. No ano passado, a empresa adquiriu a startup Integra Commerce, especializada em gestão e integração entre lojistas e marketplace. Já neste ano, anunciou a aquisição da startup de logística Logbee, o que contribuiu de forma decisiva para a expansão do sistema de Entrega Expressa (produtos na casa do cliente em até dois dias úteis), altamente elogiado pelo mercado. No segundo trimestre, 100 cidades passaram a contar com esse serviço e a participação dele no total de entregas feitas pelo Magalu cresceu 10 vezes. Mais interessante que isto é o que vem sendo feito no Luiza Labs. O laboratório lançou recentemente um modelo de precificação dinâmica para o e-commerce, além de um piloto de aplicação de Inteligência Artificial para a predição de demanda para lojas e centros de distribuição. Desta forma, a empresa pretende não perder dinheiro com estoque parado. Mesmo assim, é razoável esperar um desempenho mais modesto para o Magalu a partir de agora. No comunicado de divulgação dos resultados do trimestre, o CEO pincelou uma dose de realismo. "Os resultados recentes representam um enorme desafio para a liderança da companhia - sobretudo num cenário de Brasil que continua a exigir uma dose de cautela", disse Fred. Isso talvez ajude a explicar por que a a ação já caiu 5,7% entre a máxima de terça-feira e o fechamento de quarta-feira (de R$ 148,39 e R$ 140,03). 7 Amazon comeu poeira de Magalu e Via Varejo no Brasil durante a pandemia Isolamento causado pela Covid-19 mudou a distribuição da preferência do brasileiro no comércio online. Por Graziella Valenti Publicado em: 16/07/2020 às 08h25Alterado em: 16/07/2020 às 16h35access_timeTempo de leitura: 6 min Nasdaq, o valor da empresa foi catapultado a 1,5 trilhão de dólares, com uma valorização de 70% no ano — sozinha, ela vale duas vezes o valor somado de todas as companhias abertas brasileiras. Mas, por aqui, o desempenho comercial não teve esse mesmo ritmo. A empresa perdeu participação na preferência dos consumidores quando se avalia os downloads de aplicativos entre varejistas. A lógica de que as vanguardistas do comércio eletrônico seriam beneficiadas na crise não valeu para ela no mercado local na mesma intensidade. Na briga com Mercado Livre, Magazine Luiza, B2W e Via Varejo, sua fatia caiu dos 7% registrados em fevereiro para 5% em abril. O levantamento leva em consideração as movimentações no Google Play e foi feito pelo time de analistas do Itaú BBA liderado por Thiago Macruz. Todas as empresas tiveram aumento no total absoluto de downloads, a distribuição entre elas é que mudou. Magazine Luiza e Via Varejo comeram a fatia da americana. Mas ninguém sabe se o comportamento é definitivo. Quem também perdeu com a redistribuição causada pela pandemia foi o Mercado Livre, que saiu de 29% dos downloads em fevereiro para 23% em abril. Como parte da análise de valor das companhias, a equipe estuda as redes sociais. Na opinião de Macruz, elas apontam tendências que, no fim das contas, se verificam nos resultados dos negócios e, portanto, em seu valor. O levantamento apontaque a pandemia foi especialmente importante para as brasileiras. O aplicativo da Magalu, como é conhecida a companhia de Luiza Helena Trajano, subiu de 22% para 27%, na mesma comparação que as demais, enquanto a empresa tocada pela família Klein aumentou de 15% para 18%. Macruz destaca que em uma janela de tempo maior, a Via Varejo teve maior evolução. Até a Black Friday, que acontece tradicionalmente em novembro, a companhia não alcançava dois dígitos na preferência, variando entre 6% e 8%. No mês das giga-promoções, essa fatia alcançou 12% e continuou subindo. Os downloads estão ajudando a empresa a melhorar a penetração de seus aplicativos neste ano. A presença nos aparelhos móveis do país subiu de 6,5% para 8,2%. A companhia ainda tem uma das menores participações, mas foi a que mais cresceu nesse quesito durante a pandemia. Nem tudo são rosas O analista também acompanha de perto as inteirações das companhias nas redes sociais. Em especial, a da Via Varejo, para verificar se a reestruturação que foi colocada em marcha a partir de junho está no caminho certo. Essa reviravolta é capa da edição desta quinzena Revista EXAME. Os indicadores avaliados por Macruz mostram um avanço expressivo da atividade na empresa, mas também que caminho a percorrer na satisfação dos clientes ainda é longo. “Ainda não é hora de esperar resultado. Ele tem que vir, mas agora é preciso ver se a direção está correta. A empresa está no começo de um processo.” Quando se observa a atividade da companhia nas redes sociais nos últimos três anos, 56% está concentrado no último ano. E, segundo Macruz, neste ano o aumento é ainda maior. 8 Só que na medição dos últimos três anos, Magazine Luiza é que tem o feedback mais positivo nas redes, com 55% das reações positivas. É única que tem mais da metade dos feedbacks favoráveis. Na Via Varejo, por exemplo, 68% das inteirações são negativas — desempenho que só é melhor que Mercado Livre e B2W. Um olhar mais aberto desses três anos mostra que Amazon é quem tinha a melhor percepção do cliente em 2017, mas foi ultrapassada pela Magalu ainda em 2018 – que manteve a liderança desde então. Em Magalu e Via Varejo, ainda que em intensidades bem diferentes, o calcanhar de Aquiles é o mesmo: o pós-venda. Ao menos, essa é a história que contam os clientes que se manifestam em redes sociais sobre as empresas. Os Klein e KPI’s digitais Todos esses dados acompanhados pelo Itaú BBA são considerados KPIs, a sigla da moda em gestão. Todo mundo quer medir o seu. Na tradução livre, significa indicadores-chave de performance. Dentro das empresas, todo mundo bisbilhota os KPIs da concorrência. Quando em 1952 Samuel Klein fundou a Casas Bahia, marca mais importante da Via Varejo, não havia inteligência artificial, banco de dados. O KPI quem tinha era o olho do dono. Era a tal da barriga no balcão que fazia diferença. Agora, é desses microdados que não se pode desgrudar a visão — e os da Via Varejo não iam nada bem. Michael Klein, seu filho, conduziu no ano passado a volta da família como principal acionista do negócio — depois de ter ficado sob controle do empresário Abilio Diniz, dono do Grupo Pão de Açúcar, e da rede francesa Casino, em seguida. A família hoje não é mais dona, mas com 22,75% das ações é o que o mercado chama de acionista de referência, pois tem a maior participação da empresa. Há pouco tempo, Raphael Klein, neto do fundador, assumiu a presidência do conselho de administração. De lá, acompanha como a nova direção executiva está virando tudo do avesso para tentar colocar a empresa na rota do mundo digital. Em breve entrevista por email a EXAME, Michael Klein disse que quis “salvar o legado da família”, que são os valores disseminados pelo seu pai. E mostrou que está ciente de que o jogo mudou, mas seus objetivos continuam bem parecidos com aqueles existentes desde a fundação em São Caetano do Sul. “A transformação digital é uma realidade, há alguns anos, em vários setores da economia, no Brasil e no mundo. É uma evolução natural do comércio. A revolução digital transformou a forma de se fazer negócios e se relacionar com os clientes”, admite. Mas o que mais repete em sua fala é que o cliente é o rei. “Isso não pode ser diferente no online e no offline.” Quando questionado sobre qual o futuro quer para o negócio, disse que nada além da perpetuidade no varejo brasileiro. “Quero que a Via Varejo seja a primeira a ser lembrada pelas famílias no atendimento ao público.” O desafio da nova administração é fazer com que essa memória seja boa. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Magazine Luiza Nossa Estratégiaiv Novo ciclo da transformação digital. A principal estratégia da Companhia para os próximos cinco anos é a transformação digital. Nosso objetivo é transformar o Magazine Luiza, passando de uma empresa de varejo tradicional com uma forte plataforma digital, para uma empresa digital, com pontos físicos e calor humano. Os cinco pilares desse ciclo são: 9 1. Inclusão digital – Trazer ao acesso de muitos o que é privilégio de poucos, por meio de produtos conectados. Convidar e ensinar o consumidor a se digitalizar. Os vendedores atuam como agentes desta mudança, oferecendo orientações para os clientes utilizarem melhor seus produtos de tecnologia inteligente. A baixa penetração desses produtos de tecnologia no mercado oferece uma oportunidade para nos tornarmos uma referência nessas categorias. Outro vetor importante para a inclusão digital é que a população está cada vez mais conectada (atualmente 50% dos brasileiros já possuem acesso às redes sociais). 2. Digitalização das lojas físicas – Revolucionar a experiência de compra nas lojas é a melhor maneira de perpetuar a importância do contato físico, portanto reduzir a fricção no processo de venda é mandatório. Com a implementação dos projetos do Mobile Vendas, Mobile Montador e Mobile Estoquista, o Magazine Luiza espera ganhar em produtividade e a equipe de loja em autonomia e aumento do volume de vendas, enquanto o cliente ganha tempo e uma experiência mais agradável no processo de compra. a. Mobile Vendas: Em 2015, 180 lojas foram habilitadas e treinadas para efetuarem vendas utilizando smartphones. Em 2016, esperamos implementar esse sistema em todas as lojas convencionais, proporcionando uma experiência de compra mais rápida e amigável para os nossos clientes. Estamos também disponibilizando nas lojas acesso gratuito à internet sem fio (wi-fi), contribuindo cada vez mais para a inclusão digital dos clientes. b. Mobile Montador: O serviço de montagem também passou por este processo de digitalização. Com o projeto, as rotas de montagem de móveis ficaram mais rápidas. A ferramenta também elimina atividades administrativas nas centrais de montagem, que podem focar cada vez mais na excelência do atendimento ao cliente. c. Mobile Estoquista: Outro projeto que visa aumento de produtividade e ganho de eficiência é o Mobile Estoquista. O projeto visa, principalmente, melhorar a jornada de compra do cliente, reduzindo o tempo de espera dentro das lojas para retirar seu produto comprado. 3. Multicanalidade – Em 2015, aumentamos o sortimento e a malha de distribuição multicanal. Isso significa colocar à disposição das lojas físicas todo o sortimento disponível no e-commerce, e que mais da metade das vendas online da Companhia já são distribuídas pelo CD mais próximo do cliente (Entrega Multicanal). Durante o ano de 2015 consolidamos as malhas de distribuição, fortalecendo desta forma nossa estratégia de entrega multicanal, onde os veículos responsáveis pelo transporte são compartilhados para entregade produtos comprados em nossas lojas físicas e/ou para compras realizadas em nosso site de e-commerce. Esta otimização trouxe uma redução de custos de frete adicional para a Companhia. Vamos continuar investindo na ampliação da multicanalidade de forma a utilizar nossas 786 lojas para oferecer mais conveniência aos clientes e reduzir os prazos e custos de entrega. 4. Transformar o site em uma plataforma digital – Esta transformação consiste em passar a vender produtos de outros varejistas, distribuidores ou até mesmo de canais de venda direta de indústrias no modelo marketplace. Esta estratégia tem o potencial de aumentar o mix de produtos vendidos em até 10x ao longo dos próximos anos. A implantação da nova plataforma de marketplace, prevista para o primeiro trimestre de 2016, terá como seu primeiro parceiro a Época Cosméticos, subsidiária integral do Magazine Luiza e a segunda maior player online neste segmento no Brasil. 5. Cultura Digital – A cultura da Companhia sempre valorizou velocidade, inovação e pessoas em primeiro lugar. Cada vez mais estamos incentivando os nossos colaboradores a se digitalizarem e usarem as redes sociais e os aplicativos para se comunicarem com os nossos clientes e com 10 as nossas lojas. O Luizalabs é um exemplo disso. Criado em 2014, o Luizalabs tem como objetivo trazer inovação para os canais de vendas. Entre os produtos desenvolvidos pelo Luizalabs estão: (i) o novo aplicativo para os clientes do Magazine Luiza com acesso móvel (smartphones, tablets), (ii) o Mobile Vendas, Mobile Montador e o Mobile Estoquista, (iii) a adoção do Big Data (sistema personalizado de recomendação de produtos), (iv) entrega Multicanal, e (v) a venda dos produtos do site nas lojas físicas. No Luizalabs, trabalhavam, ao final de 2015, 75 engenheiros de software nas cidades de São Paulo e Franca. O perfil dos desenvolvedores do Luizalabs foi definido de acordo com os princípios da colaboração, da produtividade e da visão integrada. Todas as ações da Companhia estão voltadas para liderar as novas tendências deste universo cada vez mais digital. Permanecemos confiantes na nossa capacidade de crescer, ganhar participação de mercado e melhorar a nossa eficiência operacional. Continuamos investindo em projetos estratégicos que fazem parte da nossa transformação digital, e que deverão melhorar nosso modelo de negócios e aumentar a nossa rentabilidade. Visão Ser o grupo mais inovador do varejo nacional, oferecendo diversas linhas de produtos e serviços para a família brasileira. Estar presente onde, quando e como o cliente desejar, seja em lojas físicas, virtuais ou online. Encantar sempre o cliente com o melhor time do varejo, um atendimento diferenciado e preços competitivos. Missão Ser uma empresa competitiva, inovadora e ousada, que visa sempre o bem-estar comum. Valores e princípios • Respeito, Desenvolvimento e Reconhecimento - colocamos as pessoas em primeiro lugar, porque elas são a força e a vitalidade da nossa organização; • Ética - nossas ações e relações são baseadas na verdade, integridade, honestidade, transparência, justiça e bem comum; • Simplicidade e Liberdade de Expressão - buscamos a simplicidade em nossas relações e processos, respeitamos as opiniões de todos e estamos abertos a ouvi-los, independentemente da posição que ocupam na Companhia; • Inovação e Ousadia - cultivamos o empreendedorismo na busca de fazer diferente, com iniciativas inovadoras e ousadas; e • Regra de Ouro - faça aos outros o que gostaria que fizessem a você. Nosso Propósito • Trazer o acesso a muitos o que é privilégio de poucos. Este é o propósito definido pela Companhia para o negócio e para a responsabilidade social durante o Ciclo da Transformação Digital, por acreditar que a melhor maneira de a empresa ter impacto social é promover a inclusão digital. Hoje, 45% da população com smartphone utiliza apenas dois aplicativos, 11 e apenas 10% das pessoas que compram uma smartTV usam os recursos disponíveis, como navegar na internet. Fazer uma ponte entre os brasileiros e o mundo digital é um papel da Companhia, ensinando também a usufruir desse mundo com moderação. Questões para discussão: 1. Qual é a proposta de valor da Magazine Luiza 2. Quais os diferenciais da Magazine Luiza? 3. Como a empresa lida com o dilema da inovação? 4. Como a empresa organiza suas operações? 5. Qual a importância das lojas físicas no modelo? i Viri, N. Magazine Luiza: 'tech stock' disfarçada de varejo. Brazil Journal, 2017. Disponível em https://braziljournal.com/magazine-luiza-tech-stock-disfarcada-de-varejo. Acessado em 09/10/2018. ii Viri, N. Do tombo à glória: o marketing digital do Magazine Luiza. Brazil Journal, 2017. Disponível em https://braziljournal.com/do-tombo-a-gloria-o-marketing-digital-do-magazine-luiza. Acessado em 09/10/2018. iii Zogbi, P. Magazine Luiza: o segredo da empresa que subiu 15.467% na bolsa. Inofoney, 2018. Disponível em https://www.infomoney.com.br/magazineluiza/noticia/7557122/magazine-luiza-segredo-empresa-que-subiu- 467-bolsa. Acessado em 09/10/2018. iv https://ri.magazineluiza.com.br/ShowCanal/Nossa-Estrategia?=LZKRKYC4fKjk6oPPJL7+xw==
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