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Referência: livro Rotinas em Obstetrícia – 6ª edição MECANISMO DO PARTO – CAPÍTULO 20 PELVE MATERNA O canal do parto é constituído pela pelve óssea (sacro, cóccix, ilíacos esquerdo e direito) e pelos tecidos moles (cérvice e musculatura do assoalho pélvico), que oferecem graus variados de resistência à expulsão fetal. A pequena pelve (ou escavação) é a que tem expressão obstétrica, pois forma o trajeto duro do parto; é limitada, acima, pelo estreito superior (do promontório à borda da sínfise púbica) e, abaixo, pelo estreito inferior (da borda inferior da sínfise à ponta do cóccix). O estreito médio é a área de menores diâmetros da pequena pelve e passa ao nível das espinhas isquiáticas. Há vários diâmetros de interesse no estudo da pelve. No estreito superior, são diâmetros de interesse: a conjugata vera anatômica (anteroposterior, do promontório à borda superior da sínfise púbica, em geral 11 cm), a conjugata vera obstétrica (anteroposterior, do promontório à face posterior da sínfise, em geral 10,5 cm), a conjugata diagonalis (anteroposterior, do promontório à borda inferior da sínfise, em geral 12 cm, e que tem valor para estimar a medida das outras conjugatas) e o diâmetro transverso máximo (tranversal, dos dois pontos mais afastados da linha inominada do ilíaco, 13-13,5 cm). No estreito médio, consideramos um diâmetro anteroposterior (em geral 12 cm) e outro transverso (biespinha isquiática, 10,5 cm). No estreito inferior, há a conjugata exitus (anteroposterior, da margem inferior da sínfise até o cóccix – quando mede em geral 9,5 cm – ou até a articulação sacrococcígea após retropulsão do cóccix – com 11 cm) e o diâmetro transverso bi-isquiático (11 cm). Durante o trabalho de parto, a apresentação fetal – por meio de forças ativas e passivas – procura acomodar-se com suas menores dimensões, a fim de transpor todos esses diâmetros ao longo do canal do parto. Nas apresentações cefálicas, partindo da atitude inicial indiferente ou de ligeira flexão, a cabeça se flete gradualmente, substituindo-se diâmetros maiores por outros menores: occipitofrontal (12 cm) pelo suboccipitofrontal (11 cm) e, finalmente, pelo suboccipitobregmático (9,5 cm). Nas apresentações com deflexão cefálica, esta se acentua, substituindo-se o occipitomentoniano (13 cm) pelo submentobregmático (9,5 cm) – o diâmetro de insinuação das apresentações de face. Os diâmetros e circunferências do tronco que importam ao tocólogo são: diâmetro biacromial (12 cm), circunferência biacromial (35 cm), diâmetro Referência: livro Rotinas em Obstetrícia – 6ª edição bitrocanteriano (9,5 cm) e circunferência bitrocanteriana (27 cm com pernas estendidas, 35 cm com pernas flexionadas). Há quatro tipos fundamentais de bacia determinados pela relação da porção posterior do estreito superior (no diâmetro transverso máximo) com a região anterior, formando pelves mais arredondadas, ovaladas ou triangulares. Os planos da bacia são imaginários e traçados nas várias alturas da escavação pélvica, merecendo referência os planos de Hodge (primeiro traçado pela borda superior do púbis e pelo promontório; segundo correspondente à borda inferior do púbis; terceiro na altura das espinhas isquiáticas; e quarto partindo da ponta do cóccix) e os planos de De Lee: estando o plano “zero” na altura das espinhas isquiáticas, os outros planos são traçados a cada centímetro acima (-1, -2, -3, …) ou abaixo (+1, +2,+3, …) desse plano. Os eixos da bacia, importantes para orientar as direções a imprimir às trações e partos instrumentados, considerando a posição de litotomia, são: eixo de entrada (traçado de trás para diante e de cima para baixo no sentido dos pés do obstetra), eixo do estreito inferior (que aponta para os joelhos e depois para o peito do obstetra), e eixo do estreito vulvar (que se orienta para cima, no sentido da face do tocólogo). A semiologia da bacia procura, por meio de pelvimetria, antever o prognóstico do parto com base nos diâmetros mensuráveis da pelve óssea. Realizada décadas atrás como rotina, a pelvimetria radiológica caiu em desuso devido à ausência de associação fidedigna dos seus parâmetros com os desfechos no nascimento. A pelvimetria clínica, por sua vez, pode ser útil para qualitativamente identificar pelves com maior risco de distocia. Os parâmetros que hoje em dia ainda são utilizados são a conjugata diagonalis (de cujo valor se deduz 1,5 cm para obter a conjugata vera obstétrica, sendo favoráveis ao parto eutócico quando medem em torno de 12 e 10,5 cm, respectivamente, ou quando o promontório não é acessível), a conjugata exitus (favorável de 9-11cm), o ângulo de abertura da arcada púbica (desfavorável se <90o, favorável se >90o) e o diâmetro bi- isquiático (favorável se 9 cm ou mais ou, subjetivamente, se as espinhas isquiáticas não estão muito aproximadas). CONTRATILIDADE UTERINA Para a avaliação da contratilidade uterina, o método mais utilizado é a tocografia, que é a interpretação gráfica das contrações uterinas durante o trabalho de parto (TP). Pode ser realizada de maneira externa (não invasiva) ou interna (invasiva). A contração uterina pode ser avaliada em relação a: pressão ou tônus, intensidade, frequência, duração e forma de onda contrátil. As contrações ocorrem durante toda a gestação. No início da gestação, ocorrem pequenas contrações com intensidade de 2 a 4 mmHg e com frequência de 1 a 3 minutos (ondas de Alvarez) que podem ser registradas a partir de 9 semanas. Essas contrações não são sentidas pela paciente nem pela palpação abdominal. Após a 13ª semana de gestação até a 30ª semana, contrações de 10 a 15 mmHg, com duração de 30 segundos ou mais (contrações de Braxton-Hicks) estão presentes, ocorrendo esporadicamente até de hora em hora. Após a 30ª semana, sua frequência se aproxima de 1 a cada 10 minutos, adquirindo ritmo regular nas duas últimas semanas antes do parto. Podem ser palpadas e sentidas pela paciente como um endurecimento indolor do útero. Na passagem do período pré-parto para o parto, ocorrem mudanças progressivas e graduais na frequência e na intensidade contrátil. Na fase ativa do TP, à medida que a dilatação progride, aumentam a intensidade e a frequência das contrações até o período expulsivo. Após o parto, as contrações rítmicas têm a função de levar à dequitação placentária ou ao secundamento e fazer a hemostasia do leito placentário com expulsão de coágulos e lóquios da cavidade uterina. MECANISMO DO PARTO O nascimento fetal compreende o período que vai desde o início das contrações regulares até a expulsão da placenta. O TP pode ser definido como a sequência de contrações uterinas involuntárias e coordenadas que resultam no apagamento e na dilatação do colo uterino. Tais contrações associadas ao esforço voluntário da parede abdominal levam à expulsão, através do canal do parto, dos produtos da concepção. O parto transcorre segundo a “teoria da menor resistência”, ou seja, a apresentação fetal tem que se adaptar aos menores diâmetros possíveis a fim de transpor as dimensões e os contornos mais favoráveis que são alcançados durante o trajeto do parto. Referência: livro Rotinas em Obstetrícia – 6ª edição Assim, o mecanismo do parto depende da morfologia e da configuração da pelve (parte óssea e musculoaponeurótica), da apresentação e do tamanho fetal e da contratilidade uterina. TEMPOS DE MECANISMO DO PARTO Encaixamento ou insinuação: É a passagem da maior circunferência da apresentação pelo anel do estreito superior da pelve. Nas apresentações de vértice, é a passagem do diâmetro biparietal. Nas nulíparas, geralmente ocorre nas duas últimas semanas de gestação (insinuação estática); nas multíparas, geralmente ocorre após o início do TP (insinuação dinâmica). A variedade de posição de encaixamento depende da morfologia da pelve. Nas morfologias ginecoide, androide e platipeloide, geralmente o encaixamento se dá pelo diâmetrotransverso. Nas morfologias andropoides, o encaixamento se dá pelas posições posteriores e diretas. Na insinuação, nas posições transversas, a sutura sagital penetra no estreito superior de maneira sinclítica (equidistante do púbis e do promontório sacral) ou assinclítica por flexão lateral da cabeça do feto. Esse assinclitismo pode ser posterior (obliquidade de Litzmann quando a sutura sagital está mais próxima da sínfise púbica com exposição maior do parietal posterior ao exame digital) ou anterior (obliquidade de Naegele quando a sutura sagital está mais próxima do promontório com exposição maior do parietal anterior ao exame digital. Graus moderados de assinclitismo no TP são normais; se muito acentuados, podem determinar desproporção cefalopélvica. Referência: livro Rotinas em Obstetrícia – 6ª edição Flexão: Ocorre tão logo encontre resistência do colo uterino, das paredes pélvicas ou do assoalho pélvico. Importante para a passagem do menor diâmetro cefálico pelo menor diâmetro da pelve. O objetivo é substituir o diâmetro occipitofrontal pelo subocciptobregmático, menor e mais favorável ao transcurso do parto. Descida: Ocorre desde o início do TP e só termina com a expulsão do feto. Resulta das forças do TP e do apagamento do segmento inferior uterino. Sua velocidade depende da resistência pélvica e da intensidade das contrações. Rotação interna da cabeça: A descida da cabeça em direção ao estreito médio da pelve distende e dilata o conjunto musculoaponeurótico do diafragma pélvico. Quando a altura da cabeça alcança os músculos elevadores do ânus, tende a executar um movimento espiralado rodando o ápice fetal no sentido de menor resistência. Na posição occipitoanterior, a rotação cefálica será de 45º, e nas occipitoposteriores, de 135º, em direção à sínfise púbica. Com a rotação interna da cabeça e sua progressão no canal, ocorre a penetração dos ombros no estreito superior da bacia. Desprendimento ou extensão da cabeça fetal: Terminada a rotação interna da cabeça, a base do occipital será colocada sob a arcada púbica, com a sutura sagital orientada na direção anteroposterior. Por movimento de extensão (deflexão), o polo cefálico direciona seu desprendimento seguindo a curvatura inferior do canal de parto (que, nesse ponto, dirige-se para cima); a nuca se apoia na margem inferior da sínfise púbica, e a cabeça oscila em torno desse ponto, avançando e distendendo os tecidos vulvares. O períneo torna-se alongado, a vulva abre-se, e o couro cabeludo torna-se visível entre as contrações. Com o progredir da extensão, faz-se um movimento de báscula apoiado na margem inferior do púbis, permitindo a passagem de occipital, bregma, fronte, nariz, boca e, finalmente, mento pela fenda vulvar. Restituição ou rotação externa da cabeça fetal: Após a cabeça defletir-se e passar pela vulva, ela rota para a posição anatômica correta em relação ao dorso fetal – se esquerda ou direita, depende da orientação do feto. Esse é um movimento passivo resultante da liberação das forças exercidas previamente sobre o polo cefálico pela pelve óssea e musculatura maternas. Saída de ombros e expulsão: Desde sua passagem pelo estreito superior da bacia, as espáduas estão com o diâmetro biacromial orientado no sentido oblíquo direito ou do transverso da bacia. Chegando ao assoalho pélvico, sofrem também movimento de rotação interna para orientar o biacromial para a direção anteroposterior da saída do canal. O ombro anterior coloca-se sob a arcada púbica, e o posterior, junto ao assoalho pélvico, impelindo o cóccix materno para trás. Assim, após o desprendimento da cabeça, continua a descida do feto com a transposição do ombro anterior pela arcada púbica, quando aparece através do orifício vulvar, para, a seguir, desprender-se. Continuando a progressão em direção à saída, e com o tronco fletido lateralmente, desprende-se o ombro posterior. É comum a saída dos ombros requerer ajuda manual. Em geral, utiliza-se uma depressão suave da cabeça fetal, sem tração exagerada (para não lesar o plexo braquial), ajudando na progressão do ombro anterior sob a sínfise, seguida da elevação suave da cabeça para liberar o ombro posterior e restante do feto. Efeitos do mecanismo do parto: Os movimentos cardinais do parto produzem efeitos sobre o feto, sobre o canal do parto e sobre as relações entre eles, que podem ser divididos em mecânicos, dinâmicos e plásticos: Efeitos mecânicos: acomodação à área do estreito superior, com diminuição linear e volumétrica dos diâmetros fetais; insinuação e sinclitismo ou assinclitismo; rotação interna, desprendimento e rotação externa da apresentação; rotação interna e desprendimento dos ombros; desprendimento do resto do corpo fetal. Efeitos dinâmicos: apagamento e dilatação cervical; formação e expansão do segmento inferior do útero; dilatação da inserção cervical na vagina; dilatação de vagina, vulva e períneo; formação e ruptura da bolsa amniótica. Efeitos plásticos: bossa serossanguinolenta.
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