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DIABETES GESTACIONAL Definição: É definido, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como uma intolerância aos carboidratos de gravidade variável, que se inicia durante a gestação atual e não preenche os critérios diagnósticos de diabetes mellitus franco1; Fisiopatologia: A gestação se caracteriza por ser um estado de resistência à insulina fisiológica. Essa condição, aliada à intensa mudança nos mecanismos de controle da glicemia, em função do consumo de glicose pelo embrião e feto, pode contribuir para a ocorrência de alterações glicêmicas, favorecendo o desenvolvimento de DMG nessa fase. Alguns hormônios produzidos pela placenta e outros aumentados pela gestação, tais como lactogênio placentário (HLP), cortisol e prolactina, podem promover redução da atuação da insulina em seus receptores e consequente aumento da produção de insulina nas gestantes saudáveis. Esse mecanismo, entretanto, pode não ser observado em gestantes que já estejam com sua capacidade de produção2 Fatores de Risco Idade materna avançada Sobrepeso, obesidade ou ganho excessivo de peso na gravidez atual Deposição central excessiva de gordura corporal História familiar de diabetes em parentes de primeiro grau Crescimento fetal excessivo, polidrâmnio, hipertensão ou pré-eclâmpsia na gravidez atual Antecedentes obstétricos de abortamentos de repetição, malformações, morte fetal ou neonatal, macrossomia ou DMG Síndrome de ovários policísticos Baixa estatura (menos de 1,5 m) Hemoglobina glicada ≥ 5,9% no primeiro trimestre. Classificação Priscilla White: Tipo A A1 - Controla só com dieta / A2 - Necessita de insulina Arthur Neves 7oMED Diagnóstico ● Pré-Natal: Em situações de viabilidade financeira e disponibilidade técnica total, todas as mulheres devem realizar a glicemia de jejum (até 20 semanas de idade gestacional) para diagnóstico de DMG e de DM diagnosticado na gestação. Valores de Glicemia em Jejum Normal < 92 Diabetes Gestacional 93 - 125 Diabetes Prévio >126 Confirmadas em 2 medidas Todas as gestantes com glicemia de jejum inferior a 92 mg/dL devem realizar o TOTG com 75g de glicose entre 24 e 28 semanas. Valores de TOTG 75 mg Fluxograma Acompanhamento Pré-Natal da Gestante com DMG Periodicidade das Consultas: Exames: ● Glicemia e hemoglobina glicada a cada trimestre ● Função renal – uréia, creatinina, clearance de creatinina, proteinúria de 24 horas ou relação proteína/creatinina urinárias (spot urinário) a cada trimestre ● EAS e urocultura mensais (todas as gestantes com diabetes) ● Fundoscopia a cada trimestre ● ECG e avaliação cardiológica no primeiro trimestre TSH, T4 livre e anti-TPO Acompanhamento do Desenvolvimento fetal: Tratamento: 1. Dieta + Exame Físico por 15 dias com medidas glicêmicas diárias Dieta: O tratamento inicial da gestante diabética consiste na prescrição de dieta para diabetes que permita ganho adequado de peso conforme estado nutricional da gestante, avaliado pelo índice de massa corporal (IMC) pré-gestacional. Atividade Física: Os exercícios físicos devem ser realizados diariamente, por 30 minutos. Contraindicações: Evitar se os movimentos fetais estiverem reduzidos (< 10 movimentos por dia), se glicemia < 60 mg/dL ou > 250 mg/dL, exercícios com mergulho e descompressão, riscos de queda ou traumas abdominais 2. Após 2 semanas de dieta, se os níveis glicêmicos permanecerem elevados (jejum ≥ 95 mg/dL e 1 hora pós-prandial ≥ 140 mg/dL ou 2 horas pós-prandiais ≥ 120 mg/dL), deve-se iniciar tratamento farmacológico. Tratamento Farmacológico: Insulinoterapia: NPH - A dose inicial deve ser entre 0,3 – 0,5 U/Kg/dia, porém a maioria dos estudos afirmam controle glicêmico com doses entre 0,7 – 2 U / kg. Dividir o total de unidades em duas ou três doses iguais de insulina NPH, aplicadas às 7 horas e 22 horas, ou às 7 horas, 12 horas e 22 horas. Esquemas com doses múltiplas de insulina e associação de insulinas de ação intermediária e rápida podem ser usados quando necessário, de acordo com o perfil glicêmico. A dose total diária pode ser assim prescrita: Metas Glicêmicas Pré-Prandial: 75-95 mg/dL 1 horas pós-prandial: < 140 mg/dL 2 horas pós-prandial: < 120 mg/dL Alternativas à Insulina: A glibenclamida e a metformina podem ser utilizadas como uma alternativa à insulina, em mulheres com DMG diagnosticado com mais de 25 semanas de gestação e que apresentem glicemia de jejum menor que 110 mg/dL. Indicações: ● Não acessibilidade à insulina ● Dificuldade na autoadministração da insulina; ● Estresse para a paciente em níveis exacerbados decorrentes do uso de insulina e que determina restrição alimentar, não corrigida mesmo após orientação adequada; ● Necessidade de altas doses diárias de insulina (>100UI) sem resposta adequada no controle glicêmico e ganho de peso excessivo em uso de insulina. Dose: Metformina 500mg à noite, por uma semana. Em seguida, aumenta-se para 500mg 2x por dia. A dose máxima está entre 2500 – 3000mg/dia, dividida em 2 ou 3 doses. Antes de iniciar esta terapia, dosar creatinina basal. Parto As gestantes com ótimo controle metabólico e que não apresentam antecedentes obstétricos de morte perinatal, macrossomia ou complicações associadas, como hipertensão, podem aguardar a evolução espontânea para o parto até o termo. Não se indica cesariana em razão do DMG, sendo a via de parto uma decisão obstétrica, sendo necessário estimar o peso fetal através de exame ultrassonográfico. Se o peso fetal estimado for maior ou igual a 4500g, pode-se considerar a realização de cesariana. Intra-Parto ● Jejum de 8h ● Suspender a insulina NPH e infundir uma solução de glicose a 5 ou 10% intravenosamente com controle do horário da glicemia capilar; ● Se necessário, deve-se administrar infusão contínua de insulina regular intravenosa com baixas doses (uma a duas unidades/hora) ou insulina regular, lispro ou asparte subcutânea, conforme as glicemias capilares. ● Quando o parto for de início espontâneo e já se tiver administrado a insulina diária, recomenda-se manutenção de um acesso venoso com infusão contínua de solução de glicose, além do monitoramento da glicemia capilar a cada hora. ● Durante o trabalho de parto, deve-se manter a glicemia em níveis entre 70 e 120 mg/dL. É recomendada a presença de um neonatologista na sala de parto. Pós-Parto ● No primeiro dia após o parto, os níveis de glicemia devem ser observados, suspendendo-se a insulina basal. ● A maioria das mulheres apresenta normalização das glicemias nos primeiros dias após o parto. ● Estimular o aleitamento materno que, além dos benefícios ao bebê, está associado à prevenção do diabetes tipo 2 em mulheres com histórico de DMG. ● Caso ocorra hiperglicemia durante esse período, a insulina é o tratamento indicado ● A incidência de diabetes entre mulheres com história prévia de DMG varia de 3 a 65%. Reclassificação: ● A reclassificação deve ser feita, idealmente, seis semanas após o parto para todas as mulheres que tiveram DMG, utilizando-se os critérios padronizados para a população em geral. ● A realização do TOTG com 75 g de glicose, seis semanas após o parto, é considerada o padrão-ouro para o diagnóstico de diabetes após a gestação e deve ser a opção em situações de viabilidade financeira e disponibilidade técnica total. ● Em situações de viabilidade financeira e/ou disponibilidade técnica parcial, pode-se realizar a glicemia de jejum seis semanas após o parto para diagnóstico de DM e de glicemia de jejum alterada. ● Não está indicada a dosagem de hemoglobina glicada no pós-parto pois esse exame não está validado para o diagnóstico de diabetes no puerpério. ● Caso o TOTG com 75g de glicose ou a glicemia de jejum sejam normais, a paciente deverá ser avaliada anualmente por meio de glicemia de jejum e/ou TOTG com 75 g de glicose ou pela medida da HbA1c. ● A fim de prevenir DM2, mulheres com histórico de DMG devem ser orientadas a reduzir o peso corporal e manter atividade física regular. O uso de metformina pode ser indicado para aquelas que apresentam intolerância à glicoseComplicações 1. Abortamento 2. Mortes Fetais Tardias 3. Polidramnia 4. Oligodrâmnio 5. Anomalias Congênitas 6. Macrossomia 7. Prematuridade 8. Sofrimento fetal 9. Associação com pré-eclâmpsia 10. Síndrome da Angústia Respiratória 11. Hipoglicemia Neonatal Referências 1- DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 2019-2020 http://www.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2020/02/D iretrizes-Sociedade-Brasileira-de-Diabetes-2019-2020.pdf 2- Protocolo Clínico Diabetes Mellitus Gestacional - https://www.gov.br/ebserh/pt-br/hospitais-universitarios/reg iao-sudeste/hugg-unirio/acesso-a-informacao/documentos -institucionais/ProtocoloClnicoDiabeteMellitusnaGestao.pd f 3- Rastreamento e diagnóstico de diabetes mellitus gestacional no Brasil - Febrasgo https://www.febrasgo.org.br/media/k2/attachments/FEMIN AZ11ZV3.pdf http://www.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2020/02/Diretrizes-Sociedade-Brasileira-de-Diabetes-2019-2020.pdf http://www.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2020/02/Diretrizes-Sociedade-Brasileira-de-Diabetes-2019-2020.pdf https://www.gov.br/ebserh/pt-br/hospitais-universitarios/regiao-sudeste/hugg-unirio/acesso-a-informacao/documentos-institucionais/ProtocoloClnicoDiabeteMellitusnaGestao.pdf https://www.gov.br/ebserh/pt-br/hospitais-universitarios/regiao-sudeste/hugg-unirio/acesso-a-informacao/documentos-institucionais/ProtocoloClnicoDiabeteMellitusnaGestao.pdf https://www.gov.br/ebserh/pt-br/hospitais-universitarios/regiao-sudeste/hugg-unirio/acesso-a-informacao/documentos-institucionais/ProtocoloClnicoDiabeteMellitusnaGestao.pdf https://www.gov.br/ebserh/pt-br/hospitais-universitarios/regiao-sudeste/hugg-unirio/acesso-a-informacao/documentos-institucionais/ProtocoloClnicoDiabeteMellitusnaGestao.pdf https://www.febrasgo.org.br/media/k2/attachments/FEMINAZ11ZV3.pdf https://www.febrasgo.org.br/media/k2/attachments/FEMINAZ11ZV3.pdf ALTERAÇÕES DE LA Oligodrâmnio Definição: Volume de líquido amniótico menor que o esperado para a idade gestacional. Etiologia Origem Etiologia Materna - Insuficiência uteroplacentária: pré-eclâmpsia, hipertensão arterial crônica, trombo lia, tabagismo - Medicações: AINEs, IECAs Fetal - Anomalias cromossômicas - Malformações do trato urinário - Restrição de crescimento - Pós-datismo - Óbito fetal Placentária - Síndrome da transfusão feto-fetal em gêmeos - Amniorrexe Idiopática Sem causa identificável 1 trimestre: Sem etiologia clara 2 trimestre: Distúrbios relacionados ao trato urinário 3 trimestre: Rotura Prematura das Membranas Ovulares e Insuficiência Placentária Diagnóstico: ● Suspeição Clínica: Achado de altura uterina inferior à esperada para a idade gestacional ● USG: Métodos Subjetivos e Quantitativos ➢ Subjetivos: Impressão de cada examinador ➢ Quantitativos: Técnica de Maior bolsão Vertical (MBV) e Índice de líquido amniótico; Maior Bolsão Vertical - Fazer a medida do espaço entre o feto e a parede uterina sem parte fetal e nem alça de cordão; Valor: < 2cm ILA - Dividir o abdome materno em 4 quadrantes, Fazer a medição dos bolsões nos 4 quadrantes e Somar os valores; Valor: < 5 cm Conduta Investigação Etiológica - Realizar avaliação ultrassonográfica detalhada: incluindo biometria fetal, pesquisa de anomalias congênitas, marcadores sugestivos de aneuploidia e anormalidades placentárias. Teste de Vitalidade Fetal ( Cardiotocografia, Perfil Biofísico ou Dopplervelocimetria) NÃO HÁ comprovação de eficácia e benefício, em longo prazo, do tratamento de oligoâmnio. No entanto, o aumento temporário do volume de líquido amniótico é possível e pode ser considerado em determinadas circunstâncias. • Hidratação materna: desidratação materna, ou hidratação subótima devem ser investigadas e são situações passíveis de intervenção. Nos casos de oligoâmnio como achado isolado, em que o parto não é indicado, o aumento da hidratação oral ou endovenosa com um a dois litros de água pode aumentar transitoriamente o ILA em cerca de 30%, particularmente em pacientes com desidratação. A hidratação com soluções hipotônicas parece reduzir a osmolaridade materna e a concentração de sódio, resultando em fluxo de água, conduzido osmoticamente, no sentido materno-fetal. Esta abordagem também melhora a perfusão uteroplacentária. • Amnioinfusão: é um recurso pouco utilizado devido à disponibilidade limitada, além dos riscos associados ao seu caráter invasivo. Aumenta temporariamente o volume de líquido amniótico a partir da injeção transabdominal, guiada pela ultrassonografia, de solução salina no interior da bolsa amniótica. É estratégia útil, quando não há limitação na avaliação morfológica fetal secundária ao anidrâmnio, para pesquisa ultrassonográfica de anomalias fetais associadas. Antecipação do Parto: - Idiopático: Dado o potencial de desfecho adverso, parto entre 36 0/7 – 37 6/7; - Doença materna: Depende da estabilidade ou da gravidade do quadro materno e da vitalidade fetal; - Restrição de crescimento fetal: Desde que boa vitalidade fetal e controle das condições maternas relacionadas, parto entre 34 0/7 – 37 6/7; - Rotura prematura de membranas ovulares: Parto com 34 0/7. Se manejo expectante, seguimento clínico materno e fetal (crescimento e vitalidade) rigoroso. Complicações ● Hipoplasia Pulmonar ● Sequência de Potter ● Sofrimento Fetal Crônico ● Óbito Perinatal POLIDRÂMNIO Definição: Aumento do volume de líquido amniótico, podendo estar associado a complicações perinatais. Etiologias: Materna Diabetes Tipo I mal controlado 25% Fetal Malformações (cardiopatias congênitas, alterações do sistema nervoso central [SNC], alterações gastrointestinais, alterações torácicas, alterações renais, alterações esqueléticas, alterações neuromusculares, alterações cromossômicas) 30% Idiopática 60% Diagnóstico Suspeição Clínica: Medida da altura do fundo uterino ultrapassa a esperada para a idade gestacional, quando se observam sobredistensão uterina e dificuldade na palpação de partes fetais e na ausculta dos batimentos cardiofetais. Suspeita diagnóstica deverá ser confirmada através do exame ultrassonográfico; USG Morfológica: ● Técnica de Maior Bolsão Vertical (MBV) ● ILA Conduta: Investigação Etiológica: 1. Testes laboratoriais como o teste de tolerância à glicose oral para afastar diabetes. Pesquisa de anticorpos irregulares para afastar a isoimunização e sorologias para toxoplasmose, sífilis e parvovírus B19. 2. USG Obstétrica - Avaliação detalhada da anatomia fetal, em especial do trato digestivo superior (bolha gástrica). A ausência do estômago ou estômago pequeno podem ser sugestivos de atresia de esôfago. A imagem da dupla bolha gástrica pode ser sugestiva de atresia ou estenose duodenal, e a dilatação intestinal, de possível obstrução intestinal. 3. Avaliação do pico de velocidade sistólica da artéria cerebral média para descartar a presença de anemia fetal. 4. Avaliação do peso fetal estimado, descartando macrossomia fetal. A restrição de crescimento fetal intrauterino, geralmente precoce e associada a polidrâmnio, pode estar relacionada com malformações fetais ou alterações cromossômicas 5. Realização de amniocentese deve ser considerada juntamente com os pais, seguida da realização do cariótipo fetal diante de polidrâmnio severo e sempre que estiver indicada uma amniodrenagem Tratamento: Direcionado para a causa etiológica quando se identifica uma causa etiológica potencialmente tratável; ● A amniodrenagem deve ser realizada com o objetivo de diminuir a sintomatologia materna e a ameaça de parto prematuro, sendo realizada até 35 semanas de idade gestacional, nas pacientes com polidrâmnio severo e colo uterino menor que 15 mm ou na presença de dinâmica uterina. Recomenda-se amniodrenagem nas pacientes com importante desconforto clínico ou dinâmica uterina independente da severidade do polidrâmnio. ● Os inibidores das prostaglandinas (NSAIDS) atuam diminuindo a filtração glomerular fetal com consequente redução da produção de urina fetal e favorecem a reabsorção pulmonar e a passagem do líquido através das membranas, promovendo,dessa forma, diminuição na quantidade de líquido amniótico - Indometacina ● Considerar corticosteróides para acelerar a maturidade pulmonar fetal, caso a idade gestacional se situe entre 24 e 34 semanas. INDICAÇÕES DE PARTO CESÁREA
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