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CIRURGIA GERAL Página 2 Classificação: Hemorragia Digestiva Alta (HDA): acima do ligamento de Treitz • >60% dos casos • Tende a se manifestar como hematêmese ou melena Hemorragia Digestiva Baixa (HDB): abaixo do ligamento de Treitz • 30-40% dos casos • Tende a se manifestar como enterorragia ou hematoquezia Abordagem clínica: é importante identificar os pacientes graves para que haja uma ação imediata e eficaz. Nesse caso, é realizado o ABC, com avaliação da via aérea, da ventilação e da hemodinâmica, da identificação da magnitude do sangramento e da monitorização do paciente para aferição dos sinais vitais. • Paciente com sangramento ativo e importante pode se comportar como um paciente vítima de trauma em relação à gravidade 1) Avaliação de vias aéreas 2) Acesso venoso calibroso → volume 3) Avaliar grau de choque 4) Sonda vesical de demora Você sabe o que é o ligamento de Treitz? Isso mesmo! É uma prega de peritônio que recobre o terço caudal do músculo suspensor do duodeno (músculo de Treitz) e corresponde ao marco anatômico da transição duodenojejunal, na 4ª porção do duodeno, em um ângulo denominado ângulo de Treitz Página 3 Classe I Classe II Classe III Classe IV Perdas (mL) Até 750 750-150 1500-2000 >2000 Perdas (% da volemia) Até 15% 15-30% 30-40% >40% FC (bpm) <100 100-120 120-140 >140 PA sistólica Normal Normal Diminuída Diminuída PP Normal ou aumentada Diminuída Diminuída Diminuída FR 14-20 20-30 30-40 >35 Diurese (mL/h) >30 20-30 5-15 Desprezível Estado mental Levemente ansioso Moderadamente ansioso Ansioso, confuso Confuso, letárgico Reposição volêmica inicial Cristaloides Cristaloides Cristaloides e sangue Cristaloides e sangue Endoscopia Digestiva Alta (EDA): é o primeiro exame a ser feito diante de um paciente com hemorragia digestiva após a estabilização inicial. • Deve-se fazer a EDA ainda que a suspeita seja de hemorragia baixa, a não ser que tenha fonte de sangramento baixa muito evidente • É diagnóstica e terapêutica • EDA precoce, dentro de 24h, é recomendada, pois afeta o desfecho da doença e reduz mortalidade OBS: EDA entre 6 e 12h não se mostrou superior. Literaturas mais atuais a recomendam para pacientes com suspeita de sangramento por varizes esofágicas. Melena não exclui um sangramento baixo e hematoquezia pode ser um sangramento alto. E agora? Para distinguir, pode-se passar uma sonda nasogástrica e realizar uma lavagem gástrica para observação do aspirado: se sangue → confirma hemorragia digestiva alta sem sangue ou bile → não afasta hemorragia digestiva alta se bile → provavelmente não é hemorragia digestiva alta OBS: não vem sendo mais usado, pois dados recentes mostram que apenas a sonda nasogástrica não é confiável na localização do local de sangramento e que todos os pacientes devem ser submetidos à EDA para visualização direta Página 4 Colonoscopia: após exclusão da HDA, a colonoscopia é o exame inicial de escolha nos pacientes com suspeita de HDB maior parte da hemorragia digestiva baixa vem do cólon (95%) Deve ser realizada assim que o paciente estiver estável hemodinamicamente É diagnóstica e terapêutica OBS: não é obrigatório o preparo do cólon, mas ajuda e melhora a acurácia do exame Cápsula endoscópica: 1) Boa avaliação de delgado 2) Principal indicação é nos casos de sangramento de origem obscura 3) Não permite terapia 4) Não deve ser realizada em pacientes com alguma obstrução do TGI, mecânica ou funcional Arteriografia: a) Importante em hemorragias ativas e com vazão de 0,5 a 1ml/min b) É diagnóstica e pode ser terapêutica c) Normalmente está indicada após cintilografia positiva d) Há a possibilidade de embolizações de ramos da artéria mesentérica superior ou inferior, a depender do sítio de sangramento Cintilografia: exame com maior sensibilidade • Sangramento maior que 0,1ml/min • Não define bem o foco do sangramento • Não é terapêutica Página 5 HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA ÚLCERA PÉPTICA Geral: localizada no duodeno e a artéria gastroduodenal está intimamente relacionada com esse sangramento (passa na parede posterior). Toda vez que tiver um paciente com sangramento ulceroso e for feito uma endoscopia, deve-se estimar a chance da úlcera ressangrar através do FORREST: Tipo de lesão Ressangramento Sangramento ativo IA Sangramento em janto 100% IB Sangramento em porejamento 55% Sangramento recente IIA Vaso visível 43% IIB Coágulo aderido 22% IIC Mancha de hematina plana 10% Sem sinais de sangramento III Úlcera com fundo limpo 5% LESÃO DE MALLORY- WEISS Geral: Lesão da mucosa e submucosa próxima à junção esofagogástrica Ocorre mais frequentemente no esôfago distal ou estômago proximal Autolimitado Quadro: hemorragia digestiva alta + alcoolista + vômitos refratários Diagnóstico: clínico e confirmado pela EDA Tratamento: tratar causa do vômito e 90% dos casos podem ser resolvidos com supressão ácida (IBP) Imagem do Esôfago Distal por EDA, com uma Lesão Linear Sugestiva de Mallory-Weiss. Fonte: http://newbp.bmj.com/topics/pt- br/1145 Página 6 BOERHAAVE Geral: ruptura esofágica espontânea decorrente de episódios eméticos de repetição Alta mortalidade Quadro: Tríade de Mackler → vômito de repetição + dor torácica + enfisema subcutâneo LESÃO DE DIEULAFOY Geral: são malformações vasculares localizadas principalmente na pequena curvatura gástrica e sangram quando há erosão da mucosa levando à lesão de vasos anormalmente largos na submucosa → sangramento arterial Tratamento: endoscópico. Angioembolização ou intervenção cirúrgica em casos de falha. Imagem endoscópica da lesão de Dieulafoy com sangramento ativo. Fonte: Townsend, Courtney M., R. Daniel Beauchamp, B. Mark Evers, and Kenneth L. Mattox. Sabiston Textbook of Surgery: The Biological Basis of Modern Surgical Practice. 20th Edition. Philadelphia, PA: Elsevier Saunders, 2016. ECTASIA VASCULAR ANTRAL Geral: é uma dilatação de vênulas que confere um aspecto de estômago em melancia Geralmente associado com esclerose sistêmica e cirrose, com ou sem hipertensão portal Não faz hemorragia aguda ou maciça, é contínuo → leva o paciente a ter uma anemia ferropriva ou pesquisa de sangue oculto positiva Tratamento: endoscopia ou cirurgia (casos refratários) Imagem endoscópica do estômago em melancia. Fonte: https://endoscopiaterapeutica .com.br/assuntosgerais/novo- gastropatias/ Página 7 FÍSTULA AORTO- ENTÉRICA Geral: passado recente (<3 anos) de uma cirurgia para aneurisma da aorta no cenário de uma infecção com uma posterior fistulização no duodeno adjacente Mais comum após aneurisma de aorta com prótese Evento catastrófico Sangramento sentinela: sangramento pequeno e autolimitado que anuncia o subsequente sangramento massivo, muitas vezes fatal Exames: EDA deve ser feita no momento da suspeita diagnóstica nos pacientes estáveis. Entretanto, diante de uma alta suspeição, a angiotomografia passa a ser primeira linha no diagnóstico → pode evidenciar ar ao redor do enxerto Tratamento: ligadura da aorta abdominal proximal ao enxerto, remoção da prótese infectada e by-pass extra-anatômico HEMOBILIA Geral: sangue misturado com bile Geralmente ocorre em um paciente com trauma abdominal contuso tratado de forma conservadora Outras etiologias: manipulação de vias biliares e tumor Tríade de Sandblom: dor em quadrante superior direito + HDA + icterícia Arteriografia: padrão-ouro para diagnóstico e intervenção, com posterior embolização se o diagnóstico for confirmado EDA: saída de sangue e bile pela papila HEMOSUCCUS PANCREATICUS Geral: é a pseudo hemobilia; sangramentodo ducto pancreático Paciente pós pancreatite que desenvolveu um pseudocisto e erodiu a artéria esplênica Tumor também pode ocasionar Angiografia: é diagnóstica, padrão-ouro e possibilita a embolização terapêutica, que geralmente é eficaz Pancreatectomia: casos refratários LESÃO AGUDA DA MUCOSA GÁSTRICA Geral: são múltiplas erosões superficiais gástricas, difusas, mais comuns no corpo gástrico Resulta da injúria combinada da pepsina + acidez gástrica no contexto de isquemia nos pacientes hipoperfundidos Também chamada de gastrite hemorrágica Quadro: normalmente é um paciente coagulopatia ou em uso de ventilação mecânica (normalmente >48h) → pacientes graves/UTI Tratamento: tratar choque e avaliar uso de IBP (fazer em AVM, coagulopatias, trauma e queimaduras, IRA ou insuficiência hepática, pós-operatório de grande porte) Página 8 HEMORRAGIA VARICOSA Geral: paciente com sangramentos mais graves Faz estabilização + EDA Balão sengstaken-blakemore para cessar sangramento refratário Pensar em TIPS ou cirurgia para os pacientes que não respondem a nada HEMORRAGIA DIGESTIVA BAIXA ANGIODISPLASIA Geral: é uma malformação arteriovenosa de vasos na submucosa Possui aspecto aracneiforme Mais comum no ceco Quadro: sangramento indolor, autolimitado e intermitente Diagnóstico: colonoscopia (lesões estreladas avermelhadas) ou angiografia (veias dilatadas com esvaziamento lento e, algumas vezes, enchimento venoso precoce) Tratamento: somente das angiodisplasias sangrantes Local: vasopressina intra-arterial, embolização, eletrocoagulação endoscópica ou injeção de agentes esclerosantes → se falha ou retorno com localização da lesão → ressecção segmentar cirúrgica Imagem endoscópica de dilatação dos vasos colônicos: diagnóstico de angiodisplasia. Fonte: https://www.educarsaude.com/angiodisplasia-intestinal/ Página 9 DIVERTÍCULO DE MECKEL Geral: anomalia congênita mais frequente do TGI Obliteração incompleta do ducto onfalomesentérico ou vitelino durante o início da gestação Divertículo verdadeiro Complicações: hemorragia (↑ crianças) e inflamação (↑ adultos) Sangramento resulta da ulceração da mucosa ileal adjacente, a partir da produção de conteúdo gástrico em um foco ativo no divertículo → causa de HDB indolor Diagnóstico: cintilografia Tratamento: maioria dos casos é por ressecção cirúrgica Divertículo de Meckel em segmento de íleo distal, o local mais comum, geralmente de 30 a 150 cm da Válvula Ileocecal. Fonte: http://relatosdocbc.org.br/ detalhes /136/diverticulo-de- meckel-obstruido-por-fitobezoar SANGRAMENTO OBSCURO Definição: sangramento visível, persistente ou recorrente, após EDA e colonoscopia negativas Você sabe que está sangrando, você enxerga o sangue, mas não sabe de onde vem! Causa: principalmente angiodisplasia Orientação: repetir EDA e colono; avaliar delgado (cintilografia, angiografia, endoscopia, cápsula, endoscopia intra-operatória) SANGRAMENTO OCULTO Geral: relacionado a um resultado positivo do teste de sangue oculto nas fezes → pode ou não estar associado à anemia ferropriva e não há evidência de perda de sangue visível Você nem sabia que estava sangrando! Sangue oculto + → faz colonoscopia ou EDA Principal preocupação → excluir neoplasia