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1 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 Cirurgia Torácica PLEURA Introdução: A pleura é uma fina membrana formada por células mesoteliais e por tecido conjuntivo que envolve o pulmão e também o mediastino, o diafragma e a parede torácica, de forma separada em cada hemitórax. A pleura, também denominada mesotélio ou serosa, divide-se em visceral e parietal. A pleura visceral recobre o parênquima pulmonar e a pleura parietal recobre a parede torácica. Entretanto, os 2 folhetos pleurais formam uma membrana contínua e a transição entre a pleura visceral e a pleura parietal ocorre no hilo pulmonar. A pleura parietal é responsável por produzir o líquido pleural, rico em ácido hialurônico, que é liberado no interior da cavidade pleural, espaço virtual existente entre a pleura parietal e a pleura visceral, com função de lubrificação, possibilitando o deslizamento entre os 2 folhetos pleurais durante a expansão pulmonar. Diferentemente da pleura visceral, a pleura parietal apresenta inervação sensitiva e vasos linfáticos, que são responsáveis por reabsorver o líquido secretado no interior da cavidade pleural. A relação entre a concentração de proteínas no líquido pleural e a concentração de proteínas no plasma sanguíneo/soro classifica-se em: - Normal: 0,15 - Transudato: < 0,5 - Exsudato: > 0,5 A cavidade pleural é um espaço virtual existente entre a pleura parietal e a pleura visceral. Assim, o acúmulo de ar, sangue, líquido ou outra substância no interior do espaço pleural causa comprometimento da expansão pulmonar, resultando em colapso pulmonar parcial ou total. Os principais problemas possíveis na cavidade pleural são: - Pneumotórax: acúmulo de ar na cavidade pleural. - Hemotórax: acúmulo de sangue na cavidade pleural. - Hemopneumotórax: acúmulo de ar e de sangue na cavidade pleural. - Derrame pleural: acúmulo de líquido na cavidade pleural. - Atelectasia: colapso do parênquima pulmonar, que pode resultar de situações como pneumotórax, hipertensão intratorácica e hipoventilação com baixo fluxo alveolar. Derrame Pleural: O derrame pleural é definido como o acúmulo de líquido no interior da cavidade pleural, podendo ser causado por aumento da produção de líquido pleural, por diminuição da reabsorção de líquido pleural ou por ambos. O derrame pleural geralmente é causado por doença pulmonar primária, mas também pode resultar de doenças em outros órgãos, como insuficiência cardíaca congestiva (ICC), cirrose hepática, síndrome nefrótica, pancreatite, lúpus eritematoso sistêmico (causa pleurite/serosite), neoplasias (causam metástases pleurais), passagem de cateter central (iatrogenia, devido à infusão de líquidos por meio de cateter central livre no interior da cavidade pleural), trauma, etc. A pleura é capaz de produzir aproximadamente 0,01 mL/kg/hora de líquido pleural e de reabsorver até 0,2 mL/kg/hora de líquido pleural. Os mecanismos de acúmulo de líquido na cavidade pleural são: - Aumento da pressão hidrostática na microcirculação (ICC esquerda): transudato. 2 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 A congestão e o edema pulmonar são muito mais prevalentes na ICC do que o derrame pleural. O derrame pleural geralmente ocorre em casos avançados de ICC. - Diminuição da pressão oncótica na microcirculação (cirrose hepática, síndrome nefrótica): transudato. - Diminuição da pressão no espaço pleural (atelectasia): transudato. - Aumento da permeabilidade na microcirculação (pleurite): exsudato. - Bloqueio da drenagem linfática do espaço pleural (fibrose e tumores): exsudato. - Movimento de líquido do espaço peritoneal (ascite) para o espaço pleural: exsudato ou transudato. As principais causas de derrame pleural são infecção pulmonar, infecção pleural tuberculosa ou não tuberculosa, ICC, cirrose hepática, síndrome nefrótica, neoplasia primária da pleura, neoplasia metastática para a pleura, desnutrição grave e trauma. Os achados clínicos do derrame pleural dependem da doença de base. Entretanto, o sintoma mais comumente associado à presença de derrame pleural é a dor torácica localizada. A dor é do tipo pleurítica, ou seja, piora com a inspiração. A dispneia geralmente manifesta-se apenas em derrames pleurais volumosos. Os achados do exame físico dependem da doença de base e do volume do derrame pleural. Os achados mais comumente presentes no exame físico são: - Inspeção: abaulamento expiratório e diminuição da expansibilidade do hemitórax acometido. - Percussão: presença de macicez à percussão dos espaços intercostais. - Ausculta pulmonar: diminuição ou abolição dos murmúrios vesiculares. Os principais achados da radiografia de tórax de pacientes com derrame pleural são: - Opacidade com densidade de partes moles, geralmente localizada em bases pulmonares (derrame pleural livre), mas também em outros locais (derrame pleural loculado). - Opacificação dos recessos costodiafragmáticos/costofrênicos (derrame pleural livre). - Parábola de Demoiseau (derrame pleural livre). - Incidência de Laurell: radiografia de tórax realizada com o paciente em decúbito lateral (raios horizontais), com o lado suspeito para baixo, possibilitando medir a altura de líquido do derrame pleural e, assim, avaliar se há ou não há indicação de toracocentese. - Desvio contralateral das estruturas mediastinais (traqueia, coração e vasos sanguíneos) em derrames pleurais volumosos. Imagem: Radiografia de tórax indicando derrame pleural livre localizado em hemitórax esquerdo. Imagem: Radiografia de tórax em decúbito lateral direito indicando derrame pleural livre medindo > 1 cm à direita. O derrame pleural loculado ocorre devido à formação de aderências entre a pleura parietal e a pleura visceral antes da formação do derrame pleural, impossibilitando que o líquido presente na cavidade pleural 3 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 movimente-se livremente em direção à base pulmonar. Imagem: Radiografia de tórax indicando derrame pleural loculado localizado em hemitórax direito. A TC de tórax representa o melhor método de imagem para a avaliação diagnóstica do derrame pleural, entretanto apresenta maior custo e utiliza muito mais radiação ionizante. A TC de tórax é capaz de determinar a densidade do derrame pleural e, assim, sugerir a sua etiologia (exsudato ou transudato). Imagem: TC de tórax indicando derrame pleural livre localizado em ambas as bases pulmonares. Imagem: TC de tórax indicando derrame pleural loculado localizado em hemitórax direito. Toracocentese: A toracocentese é a técnica que permite a retirada do líquido anormal acumulado no interior do espaço pleural por meio de uma agulha ou de um cateter introduzido de forma percutânea através da parede torácica até a cavidade pleural. A toracocentese pode ser realizada com objetivo terapêutico, quando a retirada de líquido da cavidade pleural diminui o quadro de insuficiência respiratória, aliviando os sintomas de dor e dispneia do paciente, e com objetivo diagnóstico, quando a retirada de líquido da cavidade pleural objetiva realizar análise bioquímica, citológica e microbiológica do líquido pleural, possibilitando a diferenciação entre exsudato e transudato e a determinação da etiologia do derrame pleural. As principais indicações à realização da toracocentese são: - Todo derrame pleural de causa desconhecida ou de evolução progressiva. - Insuficiência cardíaca com derrame pleural unilateral associado à dor torácica e/ou febre. - Pneumonia com derrame pleural sem resolução após tratamento com antibióticos. - Cirrose hepática com derrame pleural suspeito de infecção. - Derrame pleural volumoso causando compressão pulmonar. Não há contraindicações absolutas à realização da toracocentese. As principais contraindicações relativas à realização da toracocentese são: - Derrame pleural livre e de pequenovolume (< 1 cm à incidência de Laurell). - Ventilação mecânica, devido ao risco de pneumotórax iatrogênico durante a realização do procedimento. - Distúrbios da coagulação (plaquetopenia e/ou RNI > 1,5). - Anticoagulação terapêutica. - Infecção da pele. 4 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 As principais complicações da toracocentese são: - Pneumotórax (em até 20% dos casos). - Hemotórax. - Empiema. - Edema pulmonar de reexpansão (risco aumentado quando drena-se > 1,5 L de líquido pleural): reexpansão da área pulmonar colabada com liberação de citocinas pró-inflamatórias, resultando em inflamação e edema pulmonar. A toracocentese é realizada em ambiente ambulatorial, com o paciente preferencialmente sentado, com os braços apoiados sobre um anteparo na altura dos ombros, sob anestesia local e utilizando uma agulha fina. Sempre que disponível, deve-se utilizar a ultrassonografia para guiar a toracocentese, pois ela identifica a localização exata do derrame pleural, para que a punção seja realizada. Quando a ultrassonografia não está disponível, deve- se utilizar a ausculta pulmonar e a percussão para identificar a localização do derrame pleural. Deve-se evitar realizar a punção abaixo do 9º espaço intercostal, devido ao risco de punção abaixo do diafragma (cavidade abdominal). A introdução da agulha deve ser realizada na borda superior do arco costal inferior, devido ao risco de lesionar o feixe vasculonervoso (artéria, veia e nervo intercostal) localizado na borda inferior de cada arco costal. A toracocentese geralmente é realizada entre a linha axilar posterior e a coluna vertebral. A toracocentese geralmente é realizada em 2 situações: - Diagnóstico: retirada de pequena quantidade de líquido pleural para análise bioquímica, citológica e microbiológica. - Alívio: retirada de grande quantidade de líquido pleural para alívio dos sintomas associados a derrames pleurais volumosos, principalmente dispneia. A análise do líquido pleural coletado na toracocentese inicia a partir de suas características macroscópicas: - Líquido citrino: ICC. - Líquido amarelo-palha: derrame pleural parapneumônico, tuberculose, neoplasia. - Líquido purulento: empiema. - Líquido hemorrágico: trauma, pancreatite, neoplasia. O líquido pleural hemorrágico de etiologia iatrogênica não coagula! - Líquido leitoso: quilotórax. - Líquido marrom: abcesso amebiano (hepático), empiema. - Líquido escuro: aspergilose. Após a análise macroscópica do líquido pleural, realiza-se a diferenciação entre derrame pleural por exsudato e derrame pleural por transudato. O transudato caracteriza-se por líquido claro/citrino com baixa concentração de proteínas. A principal causa de derrame pleural por transudato é a ICC. O exsudato caracteriza-se por líquido com alta concentração de proteínas e, portanto, mais escuro, resultante de processo inflamatório da pleura. As principais causas de derrame pleural por exsudato são infecções e neoplasias. Para a diferenciação do líquido pleural entre exsudato e transudato, utiliza-se os critérios de Light: Parâmetro Exsudato Transudato Relação proteína do líquido pleural/proteína sérica > 0,5 ≤ 0,5 Relação DHL do líquido pleural/DHL sérica > 0,6 ≤ 0,6 DHL do líquido pleural > 2/3 do limite superior de DHL sérica Sim Não 5 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 A presença de qualquer 1 dos 3 critérios de exsudato é suficiente para sua caracterização e a presença dos 3 critérios de transudato é necessária para sua caracterização. O derrame pleural por transudato resulta do desequilíbrio entre pressão hidrostática e pressão coloidosmótica/oncótica. As principais causas são ICC, cirrose hepática, síndrome nefrótica, pericardite, atelectasia, síndrome obstrutiva de veia cava superior e diálise peritoneal. O derrame pleural por exsudato resulta da passagem de proteínas do plasma sanguíneo para o espaço pleural devido a alterações nos capilares sanguíneos causadas por alguma doença de base (infecção, neoplasia, etc). Outras causas de derrame pleural por exsudato são ruptura de vasos sanguíneos (derrame pleural hemorrágico) e ruptura de vasos linfáticos (quilotórax). Quando a concentração de proteínas do líquido pleural for muito alta, deve-se suspeitar de mieloma múltiplo. As principais causas de derrame pleural por exsudato são: - Doenças infecciosas: → Pleuro-pulmonares: vírus, bactérias, fungos, parasitas. → Abdominais: abcesso hepático, esplênico ou subfrênico, hepatite, ruptura de esôfago, infarto esplênico. - Doenças inflamatórias: → Pleuro-pulmonares: TEP, asbestose, sarcoidose, pleurite urêmica, irradiação, síndrome de Dressler (pleurite pós-IAM), hemotórax. → Abdominais: pancreatite, cisto pancreático, ascite quilosa, carcinomatose peritoneal. - Doenças do colágeno: pleurite por artrite reumatoide, Síndrome de Sjögren, LES ou vasculites sistêmicas. - Comprometimento linfático: → Neoplasias primárias da pleura ou neoplasias metastáticas para a pleura. → Leucemia ou linfoma. → Quilotórax. - Induzido por drogas: amiodarona, nitrofurantoína, etc. Após a diferenciação do líquido pleural entre exsudato e transudato, deve-se realizar a análise do exsudato: - Glicose: → Deve ser semelhante à concentração de glicose no soro. → Se glicose < 60 mg/dL ou glicose pleural/glicose sérica < 0,5: suspeitar de consumo de glicose por bactérias (empiema, tuberculose), diminuição do transporte de glicose devido à pleurite (artrite reumatoide, LES) ou à neoplasia. - pH: → Deve ser levemente maior que o pH sanguíneo. → Se pH de 7,4-7,55: transudato. → Se pH de 7,3-7,4: exsudato. → A infecção bacteriana cursa com aumento do consumo de glicose do líquido pleural e aumento da produção de ácido, resultando em diminuição do pH do líquido pleural. → Se pH < 7,3: exsudato associado a aumento da produção de ácido e/ou a diminuição da eliminação de ácido. → Se pH próximo de 6,0: suspeitar de ruptura de esôfago. A presença de glicose < 40 mg/dL, pH < 7,2 e DHL > 1000 UI/L confirma o diagnóstico de empiema e indica a necessidade de realizar drenagem pleural. - Leucócitos: → O aumento da contagem de leucócitos no líquido pleural indica a presença de processos infecciosos/inflamatórios da pleura. → Em casos de exsudato purulento, a contagem de leucócitos não é muito aumentada devido à lise de leucócitos, resultando em produção de pus. → Leucócitos < 1.000 células/mm3: transudato. → Leucócitos > 10.000 células/mm3: inflamação pleural. → Leucócitos > 50.000 células/mm3: empiema. 6 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 → No transudato, há predomínio de células mononucleares. → No exsudato agudo, há predomínio de células polimorfonucleares (neutrófilos). → No exsudato crônico, há predomínio de células mononucleares (linfócitos). → A presença de linfocitose > 85% indica tuberculose, linfoma ou sarcoidose. → No derrame pleural neoplásico, há predomínio de células mononucleares (linfócitos). - Células Mesoteliais: → Predominam no derrame pleural por transudato. → Presença de células mesoteliais atípicas/malignas no derrame pleural associa-se à neoplasia primária da pleura. → Raras no derrame pleural por tuberculose. Quando há suspeita de derrame pleural associado à tuberculose pleural, a pesquisa de BAAR no líquido pleural é contraindicada, pois a bactéria cria um biofilme que impede a liberação de bacilos e de células mesoteliais no líquido pleural. - Amilase: → Aumentada em casos de derrame pleural por pancreatite ou cisto pancreático. - Triglicerídeos: → < 50 mg/dL: normal. → 50-110 mg/dL: duvidoso. → > 110 mg/dL: quilotórax. - Citopatologia: → Identificação de células mesoteliais malignas em casos de neoplasia primária da pleura. → Identificação de células malignas em casos de neoplasia metastática para a pleura. - Bacterioscopia:→ Se positiva, realizar drenagem pleural (derrame pleural classificado como complicado). - Adenosina Deaminase (ADA): → < 40 UI/L: normal. → 40-60 UI/L: duvidoso. → > 60 UI/L: tuberculose pleural. - Biópsia Pleural: → Uso da agulha de Cope. → A biópsia pleural é realizada apenas quando há derrame pleural, devido ao risco de lesão da pleura visceral e do parênquima pulmonar se realizada em casos de ausência de derrame pleural. → A biópsia pleural é indicada nos casos de derrame pleural sem diagnóstico, principalmente quando há suspeita de neoplasia pleural ou de tuberculose pleural. → A biópsia pleural é contraindicada quando há alto risco de hemotórax, em casos de empiema e em casos de derrame pleural de pequeno volume. Drenagem Pleural: A drenagem pleural baseia-se em introdução de um dreno de tórax no espaço pleural conectado a um reservatório com selo d’água, que atua impedindo a entrada de ar e/ou o retorno do conteúdo que está sendo drenado para a cavidade pleural. Após a realização da drenagem pleural, deve-se realizar radiografia de tórax de controle, para avaliar o posicionamento adequado do dreno de tórax. As principais indicações à realização da drenagem pleural são: - Drenagem de derrame pleural de grande volume independentemente da etiologia. - Drenagem de hemotórax. - Drenagem torácica profilática em paciente com suspeita de trauma torácico antes de seu transporte para centro médico especializado. 7 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 - Tórax instável que necessita de ventilação mecânica. - Contusão pulmonar grave associada à derrame pleural. - Derrame pleural de repetição, em que há a possibilidade de pleurodese. - Pós-operatório de cirurgias cardíacas e/ou torácicas com abertura da cavidade pleural. Não há contraindicações absolutas à realização da drenagem pleural. As principais contraindicações relativas à realização da drenagem pleural são: - Distúrbios da coagulação (plaquetopenia e/ou RNI > 1,5). - Anticoagulação terapêutica. - Infecção da pele. Em casos de risco de morte iminente, como pneumotórax hipertensivo, o paciente deve ser submetido à toracocentese descompressiva e, posteriormente, à drenagem pleural, independentemente da presença de contraindicações. Imagem: Passo a passo do procedimento de drenagem torácica, utilizando dreno em sistema de selo d’água. O procedimento de drenagem pleural inicia por injeção de anestésico local na borda superior do 5º arco costal (região inferior do 4º espaço intercostal) entre a linha axilar anterior e a linha axilar média, seguido por incisão de 2-3 cm através da pele e do tecido celular subcutâneo até alcançar os músculos intercostais, divulsão dos músculos intercostais até alcançar a pleura parietal, introdução do dedo para identificar o espaço pleural e, finalmente, introdução do dreno no sentido cranial e posterior, solicitando que o paciente realize inspiração máxima para causar o rebaixamento do diafragma e, assim, minimizar o risco de lesão com a passagem do dreno. Após introduzir o dreno, realiza-se sutura para fixar o dreno à parede torácica e solicita-se que o paciente tussa para avaliar seu funcionamento. Se ao tossir, observar-se bolhas de ar ou líquido saindo no sistema de selo d’água, confirma-se que o dreno está localizado na cavidade torácica. Por fim, realiza-se radiografia de tórax para avaliar o adequado posicionamento do dreno. O dreno de tórax pode ser retirado quando não há mais saída de ar e/ou de líquido no sistema de selo d’água, mesmo quando o paciente tosse, e quando observa-se expansão pulmonar total à radiografia de tórax. As principais complicações da drenagem pleural são: - Punção do fígado ou do baço. - Enfisema subcutâneo, devido à exteriorização do furo do dreno nos planos da parede torácica. - Punção cardíaca. - Passagem do dreno ao longo da parede torácica, ao invés de atravessar a parede torácica e alcançar a cavidade pleural. - Infecção da pele. Pleurodese: A pleurodese representa o último recurso para o tratamento de derrame pleural recidivante e baseia-se em “colamento” da pleura parietal na pleura visceral. O “colamento” dos folhetos pleurais é realizado por introdução, no espaço pleural, de substância que causa inflamação e fibrose das pleuras, resultando em aderência entre elas e impossibilitando o desenvolvimento de derrame pleural. A principal causa de derrame pleural recorrente são as neoplasias. O linfoma, o câncer de mama, o câncer de ovário e o câncer de pulmão de pequenas células apresentam boa resposta à quimioterapia, havendo possibilidade de aguardar a 8 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 possível resposta à quimioterapia antes de realizar a pleurodese para o tratamento do derrame pleural recidivante, pois este é um procedimento irreversível. As contraindicações à realização do procedimento de pleurodese são: - Expectativa de vida < 3 meses. - Sangramento. - Desnutrição. A desnutrição é contraindicação à realização da pleurodese, pois não há proteína suficiente para ocorrer a fibrose dos folhetos pleurais. Portanto, a pleurodese não deve ser realizada para o tratamento de derrame pleural recorrente em pacientes com cirrose hepática. Empiema: O empiema é definido como a presença de pus na cavidade pleural. As principais causas de empiema são infecção pulmonar, cirurgia e trauma. O empiema apresenta mortalidade que varia de 1-20%. O principal agente causal de empiema é a bactéria Streptococcus pneumoniae (pneumococo). Entretanto, em crianças < 2 anos de idade, deve-se pensar em infecção por Staphylococcus sp., embora a maior incidência ainda seja a de empiema por pneumococo. Em pacientes com risco de aspiração (abuso de álcool e/ou drogas, AVC), deve-se pensar em infecção por anaeróbios e germes gram-negativos. Os principais achados clínicos do empiema são febre, dor torácica localizada e dispneia. O exame físico é semelhante ao do derrame pleural. Entretanto, no empiema, o quadro clínico apresenta evolução mais arrastada. Quanto aos exames complementares, recomenda-se a realização de hemograma (leucocitose com desvio à esquerda e neutrofilia), radiografia de tórax ou TC de tórax e toracocentese diagnóstica. Os principais achados indicativos de empiema parapneumônico são: - Glicose < 40 mg/dL - pH < 7,2 - DHL > 1.000 UI/L As fases de evolução do empiema são: - Aguda (ou exsudativa): → Derrame pleural livre (não loculado), que pode ser estéril, causado por resposta inflamatória pleural. → Derrame pleural complicado ou não complicado por Critérios de Light modificados. → Radiografia de tórax: derrame pleural livre. → Tratamento: toracocentese (derrame pleural não complicado) ou drenagem pleural (derrame pleural complicado). - Fase Fibrinopurulenta (ou de transição): → Derrame pleural associado à deposição de fibrina e à formação de loculações (derrame pleural loculado). → Bioquímica: derrame pleural complicado e alta probabilidade de bacterioscopia positiva. → Tratamento: drenagem pleural, pleuroscopia (pinçamento para desfazer as coleções pleurais) e descorticação (“descascar o pulmão” com o objetivo de remover a fibrina e possibilitar a expansão pulmonar). → Os fibrinolíticos são uma alternativa terapêutica nesta fase. Entretanto, são pouco utilizados na prática. - Fase Crônica (ou de organização): → Após 3-4 semanas de derrame pleural. → Evolução progressiva da deposição de fibrina para fibrose, resultando em encarceramento do derrame pleural. → Presença de pus em grande quantidade na cavidade pleural. → Sinais e sintomas de sepse atenuados. → Radiografia de tórax: cavidade empiemática bem definida e pleura grosseiramente espessada. → Tratamento: descorticação por cirurgia aberta ou por vídeo, drenagem pleural aberta (tratamento possível devido às aderências pleurais, que impedem o desenvolvimentode pneumotórax), pleurostomia, toracoplastia (cirurgia com remoção dos arcos costais, resultando em desabamento da parede torácica devido à ausência de sustentação). 9 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 Quilotórax: O quilotórax é definido como o acúmulo de linfa na cavidade pleural causado por ruptura ou obstrução do ducto torácico e/ou de seus vasos tributários. O diagnóstico de quilotórax é confirmado por presença de triglicerídeos > 110 mg/dL no líquido pleural. As principais causas de quilotórax são iatrogenia e linfoma. As alternativas para o tratamento do quilotórax são: - Tratamento conservador: → Tratamento da doença de base. → Drenagem pleural. → Dieta contendo apenas triglicerídeos de cadeia média como gordura, que são absorvidos no estômago e, portanto, não passam no interior do ducto torácico. → Nutrição parenteral total (NPT). - Pleurodese. - Ligadura do ducto torácico (tratamento difícil). Pneumotórax Espontâneo: O pneumotórax espontâneo é definido como a entrada de ar na cavidade pleural causada por ruptura espontânea da pleura visceral. O pneumotórax espontâneo classifica-se em: - Primário (80% dos casos): sem causa subjacente; acredita-se que seja resultado da ruptura espontânea de blebs ou bolhas subpleurais; mais comum em homens altos, magros e com idade entre 20-40 anos. - Secundário (20% dos casos): complicação de doença pulmonar preexistente, como DPOC, tuberculose, fibrose cística, pneumopatias intersticiais, ou de pneumotórax catamenial (foco de endometriose na pleura, resultando em inflamação pleural e pneumotórax espontâneo); quadros de pneumotórax mais complicados, pois desenvolvem-se em parênquima pulmonar doente, com cicatrização pleural e pulmonar prolongadas. Acredita-se que aproximadamente 15% dos casos de pneumotórax espontâneo são assintomáticos. Os principais sintomas são dor torácica, dispneia, que depende do volume do pneumotórax, tosse e, raramente, choque, em casos de pneumotórax espontâneo hipertensivo. Os principais sinais são diminuição da expansibilidade do hemitórax acometido e diminuição ou abolição dos murmúrios vesiculares. O diagnóstico do pneumotórax espontâneo baseia-se em radiografia de tórax, preferencialmente em expiração, ou em TC de tórax. Em casos de pneumotórax de pequeno volume, sem indicação inicial de drenagem torácica, recomenda-se repetir o exame de imagem após 3 horas para avaliar se o pneumotórax aumentou de volume ou está estável. Imagem: Raio X de tórax indicando pneumotórax à direita. 10 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 O tratamento do pneumotórax espontâneo é conservador em casos de pneumotórax pequeno (< 20% do volume pulmonar) que não aumenta na radiografia de tórax de controle após 3 horas e baseia-se em drenagem torácica nos demais casos. O tratamento cirúrgico é indicado em casos de pneumotórax espontâneo recorrente ou em primeira ocorrência de pneumotórax espontâneo primário, se detectados blebs ou bolhas subpleurais. A pleurodese química, com doxiciclina, pode ser necessária em casos de pneumotórax espontâneo secundário com escape aéreo prolongado (> 10-12 dias). Além disso, a cirurgia representa o tratamento de primeira escolha do pneumotórax recorrente em pacientes que apresentam risco aumentado de novos episódios de pneumotórax espontâneo (pilotos, atletas de esportes radicais, paraquedistas) ou que moram longe. Simpatectomia: A simpatectomia é o procedimento cirúrgico de ressecção de gânglios da cadeia laterovertebral do sistema nervoso autônomo simpático nos níveis de T3, T4 e T5 para o tratamento de hiperidrose primária localizada, que cursa com excesso de sudorese palmar, plantar, axilar e/ou facial. O tratamento cirúrgico da hiperidrose primária localizada está indicado para pacientes que apresentam importante prejuízo funcional e/ou social associado à doença. Além disso, a cirurgia está indicada apenas para pacientes que apresentam sudorese localizada, estando contraindicada para pacientes que apresentam sudorese profusa. As principais alternativas para o tratamento da hiperidrose primária localizada são: - Tratamento medicamentoso: anticolinérgicos; associa-se a efeitos adversos como boca seca, constipação intestinal, retenção urinária e distúrbios visuais. - Toxina botulínica: aplicada no local da sudorese; deve ser reaplicada a cada 6 meses. - Cirurgia: tratamento definitivo; associa-se a sudorese compensatória; todos os pacientes apresentam algum grau de sudorese compensatória, mas pacientes que apresentam sudorese profusa prévia à cirurgia (ex. obesos) têm maior risco de apresentar sudorese compensatória também profusa; a sudorese compensatória não pode ser pior que a sudorese que o paciente apresentava previamente à cirurgia. As contraindicações à realização da simpatectomia são: - Aderências pulmonares. - Condições cirúrgico-anestésicas. - Obesidade.
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