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AULA 5 SUPPLY CHAIN MANAGEMENT ESSENTIALS (SCME) Prof. Roberto Candido Pansonato 02 CONVERSA INICIAL Prezado aluno, seja bem-vindo a nossa quinta aula da disciplina Supply Chain Management Essentials (SCME). O intuito de abordar o termo tecnologia na conversa inicial é chamar a atenção para a importância da aplicação de técnicas na gestão da cadeia de suprimentos. Como o supply chain está envolvido com praticamente toda a cadeia produtiva, muitas técnicas foram absorvidas ou acumuladas de outras áreas para aplicação direta. Uma das técnicas que vamos verificar nesta aula é a de redução de tempos de set-up. Quem já tem algum entendimento prévio do que isso significa pode estar se perguntando: mas o que o tempo de set-up tem a ver com a gestão da cadeia de suprimentos? Muita coisa, por isso são essas técnicas e a relação com a gestão do supply chain que discutiremos nesta aula. A primeira técnica, conforme comentado acima, refere-se ao tempo de set- up. Logo em seguida, vamos tratar da acuracidade dos estoques, pois não há algo pior do que vender um produto para um cliente e no momento de se retirar esse produto da prateleira descobrir que não há nada em estoque ou que o que está no estoque não atende à demanda do cliente. Veremos algumas técnicas básicas para controle de estoque. Mais uma vez nos deparamos com termos na língua inglesa: o que será esse tal de milk run? Você vai perceber o quanto essa técnica é útil para o suprimento de alguns tipos de produto. Digo alguns tipos porque algumas técnicas foram concebidas em função de um tipo de suprimento de produto, o que pode acarretar dificuldades de implantação em outros produtos. Quando nos referimos à cadeia de suprimentos, vem à tona o verbo suprir, que se liga diretamente a fornecer, a ponto de se ouvir também o termo cadeia de fornecedores. É sobre a escolha desses fornecedores que nos debruçaremos no Tema 4 desta aula. Mas será que há técnicas para isso? Não é só buscar o menor preço? Não é bem assim. Empresas bem-sucedidas têm provado que escolhendo bem seus fornecedores, com auxílio de algumas técnicas, o resultado é muito bom. Os critérios de seleção dos fornecedores serão estudados com a importância que se deve dar a eles. 03 Já conseguimos entender como funcionam algumas tecnologias para auxiliar a gestão e também já aprendemos técnicas para a escolha dos fornecedores, portanto não há mais nada a acrescentar com relação ao fornecimento, certo? Não! Veja que muitas vezes pode acontecer de se procurar um fornecedor no mercado para um determinado produto (ou componente, matéria-prima etc.) e não encontrar. O que fazer nesse caso? Deve-se desenvolvê-lo, ou seja, criar um ambiente de negócio e aprendizagem entre contratante e fornecedor para se chegar ao objetivo do fornecimento. Quando aprendemos, na aula anterior, sobre verticalização e horizontalização, notamos que a ação de desenvolver fornecedores é algo típico da horizontalização, isto é, manter o foco naquilo que é o processo principal do negócio e escolher ou desenvolver um fornecedor para aquilo que não é seu negócio principal (core business). Muitas empresas ainda têm certa preocupação nesse sentido, principalmente ao desenvolver fornecedores, compartilhar tecnologia e depois perdê-la para a concorrência, por exemplo. Mas nada que um bom contrato comercial não resolva. Vamos à aula! CONTEXTUALIZANDO No texto dedicado à contextualização da Aula 4, comentei a quantidade de informações que agem sobre a cadeia de suprimentos e a necessidade de se adquirir conhecimento sobre elas. Nesta aula não será diferente. Mas por que acontece essa complexidade toda? Não dá para ser mais simples? Se fosse, seria ótimo, mas as coisas não são tão simples assim, embora também não sejam tão complicadas a ponto de não se chegar a um entendimento. Essa complexidade nasce das necessidades do ser humano, algumas básicas e outras não, de consumir algo. Para atender esse consumo de forma otimizada, a cadeia de suprimentos tem que estar alinhada com novas tecnologias produtivas e também com tecnologias para gestão. Normalmente, quando se fala em tecnologia, logo se imagina robotização, equipamentos de última geração etc., mas o que eu gostaria de enfatizar são as tecnologias para gestão. Como isso funciona na prática? A empresa JJL (nome fictício) é uma grande montadora de automóveis que estava com uma série de problemas no recebimento de componentes (autopeças). Chegavam cargas fechadas (que foram negociadas com os compradores da JJL) de diversas peças, o que causava um grande 04 congestionamento na área de recebimento, e, após a entrada do material, um nível de estoque acima do recomendado. Como fazer para resolver esse problema sem alterar os custos com transporte dos fornecedores, que não queriam admitir trabalhar com carregamento inferior à capacidade dos seus veículos da frota? Entre várias soluções implementadas, uma delas refere-se a uma técnica denominada milk run. Mas o que será esse tal de milk run? Esse é um dos temas que veremos nesta aula. O gestor de supply chain deve conhecer as tecnologias à sua disposição para administrar a cadeia com eficácia, desde técnicas de simples absorção até tecnologias mais robustas. Embora a gestão tenha um forte foco em pessoas, conhecer as tecnologias disponíveis para essa função fará a diferença nas relações de competitividade. TEMA 1 – A REDUÇÃO DOS SET-UPS NA PRODUÇÃO É muito comum dentro das empresas ouvir dizer que é preciso reduzir o set-up de uma determinada máquina, por exemplo. Quando se diz isso, na realidade, a intenção é dizer que é preciso reduzir o tempo do set-up. Mas para que reduzir o tempo de set-up? Bom, antes vamos definir o que é esse tal de set-up. Set-up pode ser definido como a soma dos tempos de parada de uma máquina ou equipamento desde a última peça de um lote anterior até a produção da primeira peça boa do próximo lote de peças. Fazendo uma analogia simples com uma corrida de Fórmula 1, o set-up seria a ação da troca dos pneus. Quanto mais rápido a troca (menor tempo possível), melhor será o aproveitamento do tempo para o piloto, pois o que agrega valor na corrida é o tempo em que o carro está na pista, e não parado nos boxes. Teoricamente, acontece o mesmo dentro das empresas, mais especificamente na manufatura. Atualmente, em função de uma série de exigências com relação à forma de consumo, tais como variedade de produtos, compras por meio do e-commerce que têm pressionado por lotes cada vez mais fracionados, e também pela opção de muitas empresas por utilizar a filosofia just in time como forma de trabalho, não há como ser competitivo com todas essas variáveis utilizando tempos longos para set-ups. Um detalhe que vale a pena ser comentado é que o termo set-up também pode ser encontrado nas empresas como Troca Rápida de Ferramentas (TRF) ou 05 Single Minute Exchange of Die (SMED), em português, troca de matriz em minuto singular, ou seja, em um dígito de minuto, o que significa em menos de 10 minutos. Esse fator foi estabelecido em 1950 devido a um desafio técnico proposto ao engenheiro japonês Shigeo Shingo na planta da Toyo Kogyo da empresa Mazda. O primeiro desafio foi reduzir o tempo de set-up de uma prensa de 1.000 toneladas de quatro horas para duas horas. Após seis meses, Shigeo alcança a marca de 90 minutos. Alcançado o objetivo inicial, outro desafio é proposto: a nova meta era conseguir realizar o set-up da prensa em três minutos. Shigeo alcança a meta três meses depois, dando início à metodologia SMED. Em uma manufatura tradicional, normalmente o tempo de set-up é elevado, pois procura-se reduzir o tempo unitário de produção das peças (1,024 min., conforme exemplo da Tabela 1), aumentando-se o tamanho do lote (1.000 peças), ou seja, diluir o tempode set-up (240 min.) na maior quantidade de peças possíveis. Tabela 1 – Visão do set-up na manufatura tradicional Tempo de set-up Tempo de Usinagem (por peça) Tamanho do Lote Tempo Total (por peça) 240 min. 1 min. 100 1+240/100=3,4 min. 240 min. 1 min. 1.000 1+240/1000=1,24 min. 240 min. 1 min. 1.000 1+240/10000=1,024 min. Fonte: Adaptado de Tubino, 2007. Acontece o contrário na manufatura baseada no just in time: diminui-se continuamente o tempo de set-up de 240 min. para 3 min. Conforme o exemplo apresentado na Tabela 2, obtém-se aproximadamente o mesmo tempo unitário de produção de peças (1,03 min.), mas com um lote de apenas 100 peças: Tabela 2 – Visão do set-up na manufatura just in time Tempo de set- up Tempo de Usinagem (por peça) Tamanho do Lote Tempo Total (por peça) 240 min. 1 min. 100 1+240/100=3,4 min. 120 min. 1 min. 100 1+120/100=2,2 min. 60 min. 1 min. 100 1+60/100=1,6 min. 3 min. 1 min. 100 1+3/100=1,03 min. Fonte: Adaptado de Tubino, 2007. É incontestável que reduzir tempo de set-up, conforme os exemplos anteriores, não é nada fácil e requer muita técnica e esforço por parte das 06 empresas, porém os resultados alcançados são excelentes. Voltando ao exemplo da Fórmula 1, atualmente o tempo de troca dos pneus pode chegar a menos de 2 segundos, o que é uma grande evolução, se comparamos esse tempo aos 20 segundos do início da década de 1980. Mas o que o tempo de set-up tem a ver com a cadeia de suprimentos? Tudo. Tempos de set-ups menores proporcionam a flexibilidade que todos buscam no supply chain. Além disso, com tempos mais curtos de set-up, teremos lead times mais curtos também. TEMA 2 – A ACURACIDADE NOS ESTOQUES Como em todo e qualquer sistema, os processos que o fazem funcionar devem estar integrados. Não há como ter tempos de set-ups reduzidíssimos, que proporcionam alta flexibilidade na cadeia de suprimentos, e um controle de estoque impreciso. Essa imprecisão causará transtorno à cadeia de abastecimento e, com certeza, também ao cliente. É essa precisão no controle de estoque que iremos discutir agora. Mas por que controlar os estoques? Porque os estoques representam parcela importante dos ativos da empresa, e, por isso, podem ser considerados um fator potencial de geração de lucros. É de responsabilidade do gestor de suprimentos (ou logística) verificar se os estoques estão adequados ou não, por meio de técnicas específicas e de trocas de informações constantes com as áreas envolvidas (vendas, por exemplo). No entanto, uma coisa é certa: numa economia estável e de baixa inflação, não há mais sentido em manter altos estoques. Para saber se há acuracidade (ou precisão) no controle de estoque, faz-se necessária a realização de inventários para a contagem de itens, conhecidos como inventários físicos. De acordo com Martins e Alt (2006, p. 199), “O inventário físico consiste na contagem física dos itens de estoque, caso haja diferenças entre o inventário físico e os registros do controle de estoques, devem ser feitos os ajustes, conforme recomendações contábeis e tributárias”. Com a implementação do sistema just in time nas empresas, os estoques têm sido reduzidos e o trabalho de inventário também. No entanto, ter um controle preciso sobre estoques é fundamental, pois erros de entrega devido a estoques mal controlados pode provocar a perda de um cliente. Existem basicamente duas principais formas de inventário físico: 07 1. Inventário periódico: realizado em períodos pré-determinados, geralmente no encerramento dos exercícios fiscais. Tem como característica a utilização de razoável quantidade de pessoas para este fim. 2. Inventário rotativo: realizado permanentemente, embora os itens devam ser contados (apontados) pelo menos uma vez no período fiscal (normalmente de um ano). Tem como característica a utilização de funcionários exclusivos para este fim. Depois de realizado o inventário, é necessário verificar a acurácia nos estoques, que nada mais é do que um indicador de qualidade e confiabilidade que mede a relação entre o estoque físico informado e o estoque físico inventariado. A fórmula para acuracidade de estoque é a seguinte: Acuracidade de estoque (físico) = 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑖𝑡𝑒𝑛𝑠 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑡𝑜𝑠 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑖𝑡𝑒𝑛𝑠 x 100 (%) Acuracidade de estoque (contábil) = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑖𝑡𝑒𝑛𝑠 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑡𝑜𝑠 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑖𝑡𝑒𝑛𝑠 x 100 (%) Um exemplo: após o inventário, chegou-se à quantidade de 1.120 itens contados, porém a informação registrada no sistema era de 1.200 peças, ou seja, 80 itens divergentes. Nesse caso, a acurácia ficou em 93,3%. Para se calcular a acuracidade de estoque relacionando mais itens, utiliza- se de outros cálculos, conforme demonstrado abaixo. Outro exemplo: uma empresa realizou o inventário físico de estoque dos itens A, B e C e encontrou as divergências (d) relacionadas na Figura 1: Figura 1 – Exemplo de divergências em inventário físico 08 Após os cálculos, chegou-se à conclusão de que o índice de acuracidade de estoque para esse inventário foi de 93,79%, ou seja, os ativos em estoque estão contidos dentro desse índice de acuracidade. Isso demonstra também que 6,21% representam um erro que pode impactar contábil e financeiramente a empresa, pois essa porcentagem de itens discrepantes deveria fazer parte do estoque previamente planejado por ela. TEMA 3 – O SISTEMA MILK RUN Em função de necessidades que vão surgindo ao longo da cadeia de suprimentos, vão sendo criadas alternativas para atender a essas necessidades, e uma delas é o sistema milk run. O nome soa um tanto quanto estranho, mas tem seu fundamento. Numa tradução livre para o português, seria como “corrida do leite”. A princípio, parece não ter nenhuma conexão com logística e muito menos com supply chain, mas você verá que tem certo sentido. O termo “corrida do leite” pode ser remetido ao tipo de suprimento de leite que se fazia no passado, quando os recipientes vazios de leite eram deixados do lado de fora das residências e, no momento do suprimento, eram trocados por recipientes cheios. Essa forma de suprimentos acontecia praticamente todos os dias e da mesma forma. Essa técnica foi utilizada como exemplo de solução de problemas pela empresa JJL em nossa contextualização. Partindo do pressuposto de que, nos dias de hoje, manter grandes volumes de matéria-prima ou produto acabado em estoque é desperdício de dinheiro, esse sistema vem para auxiliar a manter os níveis de estoque tão baixos quanto possíveis. Muitas empresas adotam a filosofia jus in time e, quando se deparam com algumas dificuldades de processo, acabam por utilizar meios que não têm aderência à filosofia de trabalho adotada. O sistema milk run atende à filosofia just in time, pois segue alguns de seus princípios como redução de estoque de materiais, maior frequência de abastecimento, lotes pequenos e maior integração entre fornecedor e cliente. Sistema utilizado com certa frequência pela indústria automobilística, tem apresentado bons resultados quanto à redução de materiais em estoque. Com mais de 25 anos de atuação na área automotiva, testemunho que esse sistema proporciona ótimos resultados, se bem aplicado, com muita técnica e disciplina. 09 Para entendê-lo melhor, vamos fazer uma comparação com o sistema tradicional por meio de um exemplo fictício: suponha que você seja um fabricante de carteiras escolares (para não nos restringirmos à indústria automobilística) que recebe componentes de seis fornecedores diferentes e o seu trabalho é efetuar a montagem, inspecionar e embalar. Veja a Figura 2: Figura 2 – Exemplo de carteira escolar e seus componentes Em uma condição tradicional, o suprimento seria realizado de modo a otimizar a carga dentro do veículo (caminhão),e cada fornecedor faria o abastecimento de seu produto (componente), conforme ilustrado na Figura 3: Figura 3 – Modelo de suprimento tradicional 010 Perceba que cada fornecedor envia seu próprio transporte a sua empresa e que normalmente ocorrem congestionamentos de entrega e, posteriormente, um acréscimo no estoque de componentes. Como funcionaria o milk run para melhorar o suprimento apresentado? A proposta do milk run diferencia-se do suprimento tradicional a partir do momento que utiliza um veículo (caminhão) para transportar componentes de todos os fornecedores. Um caminhão, de um operador logístico, por exemplo, inicia a rota e coleta uma quantidade predefinida de componente no fornecedor “1”. Nesse momento, não está sendo utilizada a capacidade de carga máxima do veículo. Após coletar a quantidade necessária, o caminhão se dirige ao fornecedor “2” e faz outra coleta fracionada, e assim sucessivamente até chegar ao fornecedor “6” com todos os componentes necessários para montar o produto final (a carteira escolar). Veja que o ato do recebimento é muito mais fácil e ágil, e que seu estoque estará com níveis mais baixos. Veja a Figura 4: Figura 4 – Modelo de suprimento milk run Com a implantação do milk run, são obtidas as seguintes vantagens: recebimento do material conforme sua necessidade (janelas de recebimento, data, hora e quantidade); redução do espaço necessário para armazenar materiais (componentes); redução do risco de obsolescência de produtos ou de se ultrapassar a data de validade; redução de estoques em função do recebimento fracionado; 011 possibilidade de utilização de embalagens retornáveis, agregando valor à sustentabilidade; agilidade no recebimento de materiais; redução dos custos de manutenção de inventário. Para operar o sistema milk run, é necessário um sincronismo perfeito entre fornecedores e cliente, rotas muito bem definidas, forte trabalho na otimização da carga dentro do veículo devido à geometria diferenciada dos materiais e treinamento dos envolvidos. Embora seja um sistema que traz ótimos resultados, nem sempre é possível implantá-lo devido ao tipo de produto, distância entre fornecedores muito grande etc. Como desvantagens, podemos citar: possibilidade de parada de linha devido à falha de algum fornecedor ou a problemas de rota; perca momentânea de eficiência no transporte de carga (veículo quase vazio); ligeira inflexibilidade quando se necessita alterar quantidade de algum componente. A técnica do milk run tem mostrado, quando bem aplicada, bons resultados às empresas que a implementaram. No entanto, há outras técnicas auxiliares, como a utilização de janelas específicas para recebimento de acordo com fornecedores que podem minimizar problemas no recebimento de materiais. TEMA 4 – OS CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DE FORNECEDORES Com a horizontalização da produção da maioria das empresas, vem o processo de terceirização (outsourcing), que aumenta muito a dependência dos fornecedores, fato que pressiona as organizações a terem critérios mais rigorosos na seleção. Como a cadeia é muito dinâmica, falhas no fornecimento de materiais com certeza irão comprometer o resultado da organização, sejam essas falhas por falta de qualidade, atraso de entrega, material avariado, quantidade errada ou outro motivo. Para saber se o fornecedor não cometerá as falhas descritas no parágrafo anterior, é necessária a elaboração de normas e procedimentos para selecionar os fornecedores da melhor maneira possível. No entanto, dentro de uma empresa de porte médio e grande, quem é responsável por essa tarefa? Via de regra, esta 012 é desempenhada pelo departamento de compras, que tem um papel muito importante no supply chain: é responsável pelo estabelecimento do fluxo dos materiais na empresa, pelo seguimento junto ao fornecedor (follow-up) e pela agilização da entrega. Antes de partir para buscar o fornecedor ideal, algumas informações são importantes, e uma delas refere-se à fonte de compras, que pode ser: Fonte única: quando não há a possibilidade de utilizar outro fornecedor, seja por especificação técnica restrita, tecnologia única etc. Fonte múltipla: quando se tem mais de um fornecedor para um determinado item. Esse caso possibilita melhor negociação em função da competição entre fornecedores. Fonte simples: baseada na decisão planejada da organização no sentido de selecionar um fornecedor para um item em detrimento de fontes disponíveis, com a intenção de criar uma parceria de longo prazo. Definido o tipo de fonte, deve-se buscar os possíveis fornecedores e alguns critérios básicos devem ser avaliados, conforme veremos a seguir. Vale ressaltar que alguns critérios variam de empresa para empresa devido a particularidades de fornecimento. Vejamos os critérios para análise: 1. Habilidade técnica: O fornecedor avaliado tem técnica para produzir o produto ou serviço solicitado? Consegue atender às especificações técnicas contratadas? 2. Capacidade de produção: O fornecedor terá capacidade de produção para atender à demanda prevista? Há riscos de não alcançar a capacidade solicitada? 3. Qualidade: O fornecedor atende aos critérios de qualidade para o produto e para o processo? Tem um sistema de gestão da qualidade robusto? 4. Confiabilidade: Mesmo atendendo aos requisitos anteriores, o fornecedor é confiável? A condição financeira do fornecedor é sólida? 5. Serviço pós-venda: 013 O fornecedor tem um bom serviço de atendimento pós-venda? 6. Localização do fornecedor: A localização do fornecedor favorece a redução dos tempos de entrega? 7. Preços: O fornecedor deve ser capaz de oferecer preços competitivos, o que nem sempre significa o menor preço. A decisão sobre a escolha de fornecedores faz parte da estratégia da empresa e, dependendo do caso, essa decisão não deve ficar apenas a cargo do comprador. Para facilitar essa escolha, é habitual fazer uso das matrizes de decisão, que, assim como um indicador, procuram transformar dados subjetivos em saídas objetivas para a tomada de decisão. A Figura 5 mostra um exemplo fictício de uma matriz de decisão. Perceba que os pesos são definidos conforme a importância do item avaliado e que cada avaliador pontua conforme seus critérios pessoais. Normalmente, numa matriz de decisão, o preenchimento por parte dos avaliadores deve ser feito sem que eles saibam dos critérios uns dos outros, para evitar qualquer tipo de influência. O resultado final da pontuação indicará o fornecedor escolhido. Figura 5 – Modelo de matriz de decisão Para confirmar se as escolhas definidas por meio da matriz de decisão foram realmente eficazes, há a necessidade de efetuar as auditorias de fornecedores. 014 TEMA 5 – O DESENVOLVIMENTO DE FORNECEDORES Já vimos como funciona a seleção de fornecedores para compor a cadeia de suprimentos. Nesse caso, os fornecedores, teoricamente já conheciam o produto a ser fornecido, e o trabalho da empresa contratante foi o de analisá-los a partir de um procedimento interno (no caso, uma matriz de decisão) e, em seguida, ir para os processos de negociação final e colocação do pedido. Suponha que esse fornecedor ainda não exista ou, se existir, ainda não conhece as particularidades do produto ou serviço a ser fornecido. Nessa situação, é necessário desenvolvê-lo, e essa é a base da terceirização (outsourcing). Quando se necessita desenvolver fornecedores para produtos ou serviços de baixa complexidade, essa atividade é relativamente mais fácil, no entanto, para produtos ou serviços mais complexos, a dificuldade é um pouco maior. Muitas vezes essa dificuldade vem do próprio contratante, que ainda tem insegurança em transferir tecnologia que foi construída por vários anos para um fornecedorque poderá usufruir dela e, eventualmente, em benefício próprio. Em se tratando da cadeia de suprimentos, há a necessidade da quebra de paradigmas, a partir da qual os relacionamentos devem ser direcionados para um conceito de empresa estendida, ou seja, como se cliente e fornecedor fizessem parte de uma só empresa. Pode-se dizer que as palavras-chave desse relacionamento são aliança e parceria. Bowersox (1990, p. 43) define muito bem esse modelo de pensamento: Cada vez mais o tipo de relação interorganizacional ganha/perde vem sendo substituído pelo estabelecimento de alianças ou parcerias, que são relações desenvolvidas com base na confiança mútua, franqueza, risco compartilhado e recompensas, e que proporcionem vantagens competitivas para os envolvidos. Uma aliança reflete o desejo existente entre dois ou mais participantes de modificar suas práticas atuais de negócios no sentido de serem eliminadas as duplicidades de atividades nas interfaces da cadeia de valor agregado, bem como serem reduzidos possíveis desperdícios de recursos de produção, transporte e distribuição. No Brasil, ainda há, por parte de algumas empresas, certa resistência quanto a essa modalidade de relacionamento de aliança entre cliente e fornecedor baseado no ganha-ganha. O aumento da utilização desse tipo de relacionamento, principalmente no supply chain, tem exigido uma revisão dos conceitos das atividades de desenvolvimento de fornecedores e contratação de bens e serviços. 015 FINALIZANDO Finalizamos esta aula agregando conhecimentos técnicos importantes para o gerenciamento da cadeia de suprimentos. Algumas vezes é difícil compreender como o uso de determinadas técnicas pode influenciar um sistema mais complexo. Começamos com a definição de set-up e da sua importância e influência no supply chain. Entendemos que, para se reduzir o lead time e proporcionar flexibilidade à cadeia de suprimentos, é necessário reduzir os tempos de set-up. Para ter lead times mais curtos e flexibilidade na entrega, é essencial confiar no seu estoque. Conhecemos os tipos de inventários e alguns indicadores básicos para medir a acuracidade dos estoques. Muitas vezes ouvimos falar de técnicas com nomes diferenciados e não conhecemos muito bem para o que servem. Discutimos o que significa o termo milk run no contexto do supply chain e como essa técnica pode melhorar a forma de suprimento. Lembra-se da empresa JJL mencionada na nossa contextualização e de como ela utilizou essa técnica para resolver problemas relativos às entregas dos seus fornecedores? A gestão da cadeia de suprimentos tem se tornado cada vez mais complexa em função da terceirização e, consequentemente, dos serviços prestados pelos fornecedores. Nesta aula, aprendemos como selecionar fornecedores e elaborar uma matriz de decisão por meio de um exemplo fictício. Também foi abordado o desenvolvimento de fornecedores, que requer uma quebra de paradigma nos conceitos e processos para a contratação de bens e serviços. 016 REFERÊNCIAS BALLOU, R. H. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos/Logística Empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. BERTAGLIA, P. R. Logística e Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. BOWERSOX, D. J. The Strategic Benefits of Logistics Alliances. Harvard Business Review, p. 36-45, jul./ago.1990. BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D. J. Logística Empresarial: o processo de integração da cadeia de suprimento. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2008. CAMPOS, L. F. R. Supply Chain: uma visão gerencial. 1. ed. Curitiba: InterSaberes, 2012. CSCMP – Council of Supply Chain Management Professionals. Disponível em: <http://cscmp.org/>. Acesso em: 19 abr. 2018. HUGOS, M. Essentials of Supply Chain Management. New Jersey: John Wiley&Sons, 2003. KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de marketing. 12. ed. São Paulo: Pearson Pretience Hall, 2006. MARTINS, P. G.; ALT, P. R. C. Administração de Materiais e Recursos Patrimoniais. São Paulo: Saraiva, 2004. NOVAES, A. G. Logística e Gerenciamento da Cadeia de Distribuição: estratégia, operação e avaliação. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. TAYLOR, D. A. Logística na Cadeia de Suprimentos: uma perspectiva gerencial. Tradução de Claudia Freire. São Paulo: Pearson Addison-Wesley, 2005.
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