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COZINHA DAS AMÉRICAS 1 APRESENTAÇÃO A gastronomia pode ser compreendida com uma área de estudos que envolve os alimentos, as bebidas e as práticas culinárias em todos os seus aspectos. Considerada por muitos como uma arte, motivada pelos nossos sentidos, ela nos leva a uma viagem pelos sabores através do universo das cozinhas, conhecendo, por meio deles, valores, símbolos, tradições, hábitos e mudanças alimentares, adaptados de acordo com a vida cotidiana. Todos esses elementos estão intimamente ligados aos aspectos geográficos, sociais, históricos e culturais de um determinado país ou região. Logo, a alimentação e a cultura estão fortemente ligadas e, ao cozinhar, podemos reunir diversos elementos que nos permitem compreender melhor a identidade de um povo, criando vínculos afetivos com pessoas e lugares. Sendo assim, com o olhar sensível e curioso, o estudo da cozinha das Américas do Norte, Central e do Sul possibilitará um encontro com a cultura alimentar deste continente, constituído por países que se aproximam historicamente pelo seu passado colonial, mas que preservam em sua culinária suas características e particularidades, oferecendo cozinhas ricas em sabor e aromas. Será um passeio agradável, durante o qual conheceremos os principais ingredientes, alimentos e bebidas de cada país, fundamentados em técnicas de preparo distintas e pratos tradicionais. Esta experiência contribuirá de forma enriquecedora para a formação do profissional que deseja atuar nos mais diversos segmentos da gastronomia. UNIDADE 1. México e Martinica Rita de Cássia Soares OBJETIVOS DA UNIDADE Compreender os aspectos históricos, geográficos e socioculturais do México e da Martinica; Reconhecer os principais ingredientes e preparações da culinária mexicana e da Martinica; Propiciar conhecimentos sobre pratos típicos, bebidas, métodos de preparo e técnicas de cocção dos respectivos países. TÓPICOS DE ESTUDO COZINHA DAS AMÉRICAS 2 Conhecendo o continente americano // Mesoamérica: um breve histórico // A colonização europeia // México e Martinica: aspectos geográficos e base alimentar Gastronomia e culinária do México // Ingredientes, pratos típicos e bebidas // Culinária: métodos e técnicas Gastronomia e culinária da Martinica // Ingredientes, pratos típicos e bebidas // Culinária: métodos e técnicas Conhecendo o continente americano Para melhor compreender o estudo da gastronomia nas Américas, vale relembrar que os aspectos gastronômicos se combinam com diversas áreas do conhecimento, indicando uma inter-relação do alimento com a sociedade, família, cultura, tradição, entre outras. Sendo assim, nos diversos países que formam o continente americano, é possível encontrar ingredientes, pratos típicos e formas de preparo carregados de historicidades, que refletem, juntamente com os aspectos geográficos, a forma como os indivíduos vivem e se relacionam. Segundo a professora Paula Terres Carvalho, especialista em Educação Socioambiental, no artigo “O ensino de geografia através da gastronomia: práticas que dão sabor às aulas”, publicado em 2014 no periódico Pesquisar – Revista de estudos e pesquisa em ensino de Geografia, atores como diferenças climáticas, o relevo, a extensão territorial, as civilizações e o próprio processo de colonização influenciam e contribuem para a diversidade gastronômica. O mapa apresentado na Figura 1 mostra os países que formam o continente americano. Pela figura, é possível perceber que se trata de um amplo território, dividido de forma geográfica em três partes distintas: COZINHA DAS AMÉRICAS 3 América do Sul; América Central; América do Norte. COZINHA DAS AMÉRICAS 4 Uma outra forma de compreendermos a divisão do continente, diferente da divisão apresentada na Figura 1, é optando pela sua divisão cultural: América Ibérica, colonizada pelos portugueses e espanhóis; América Anglo-saxônica (colonizada principalmente pela Inglaterra). CURIOSIDADE A população das Américas é formada por povos de diversas regiões do mundo: europeus, índios, negros, asiáticos e mestiços. O Canadá é o maior país do continente, e São Cristóvão e Nevis é o menor. O clima do território americano também é bastante diversificado, e a maior temperatura registrada já registrada na história foi de 56,6 ºC, nos EUA. MESOAMÉRICA: UM BREVE HISTÓRICO A história do continente americano pode ser estudada a partir de duas narrativas: uma delas considerando as civilizações nativas, e a outra a partir da colonização europeia. Aqui, vamos abordar as duas perspectivas, que servem como base para entendermos como se formou a cultura gastronômica das Américas. Mesoamérica é a expressão utilizada pelos historiadores para identificar as civilizações da América que, em épocas distintas, teriam vivido e evoluído em uma área de aproximadamente 906 mil quilômetros quadrados entre a América do Norte e a América do Sul, segundo o livro História da América Latina: América Latina Colonial, de 2012, organizado por Leslie Bethell. Entre esses povos, podemos citar os olmecas que, de acordo com os pesquisadores Stuart Schwartz e James Lockhart no livro A América Latina na época colonial, de 2002, surgiram aproximadamente no ano de 1250 a.C. Esse grupo se difundiu próximo à fronteira com os Estados Unidos, na região do Golfo do México. Eles acreditavam na vida após a morte e foram considerados grandes construtores de templos, onde adoravam deuses animais. Além disso, tinham como atividade a agricultura e, consequentemente, desenvolveram sistemas de irrigação. Entre os povos mesoamericanos, também encontramos os maias, os astecas e os incas. O domínio maia se encontrava principalmente na Península de Iucatã, nas montanhas e planícies do México, nas regiões de Chiapas e Tabasco, além de se estender em algumas regiões de El Salvador, Belize e Guatemala. O Quadro 1 apresenta algumas características dessa civilização, baseadas em informações e achados arqueológicos. COZINHA DAS AMÉRICAS 5 Civilização Maia Organização Social Inicialmente nòmades e posteriormente sedentários A posição social mais elevada eram: governantes, sacerdotes e guerreiros Alimentação e atividade econômica Produção agrícola de milho, tomate, cacau, algodão, feijão e batata. Praticavam também a caça e a pesca Idioma Maia: povos da Guatemala e Iucatã Quiché: Na América Central e demais regiões Ciência e tecnologia Conhecedores da Astronomia e Matemática Desenvolveram o calendário associado ao sistema matemático Contruiíram templos e Pirâmides Conhecedores de propiedades medicinais das plantas, ervas e raizes. Religião Adoravam divinidades, praticavam rituais de adoração com sacrificios humanos e acreditavam na vida marcada pelo tempo de nascer, progredir e morrer Livro sagrado: Popol Vuh A civilização asteca (mexicas) foi marcada pelo seu caráter político e militar. Considerado um povo de alta cultura, seu domínio se estendeu pelas cidades de Tuxpan, Tehuantepec e Tenochtitlán (capital). Essas cidades se situavam na região que, hoje, corresponde ao território mexicano entre o Golfo do México e o Oceano Pacífico. EXPLICANDO A expressão alta cultura caracterizava as civilizações suficientemente organizadas para que houvesse uma expansão do território, normalmente através de um governo centralizador, que disseminava uma cultura dominante. Civilização Azteca Organização Social Constituíram uma cidade-Estado caracterizada pela formação do exército (soldados-camponeses). Posição social mais elevada: governante supremo, seguido pelos chefes militares, nobres e sacerdotes. Alimentação e atividade econômica Base econônica: agricultura com produção de milho, batatas e cereais Cacau como alimento sagrado Idioma Náuatle COZINHA DAS AMÉRICAS 6 Ciência e tecnologia Estruturação da metrópole,com construções de obras como praças, templos, pirâmides e monumentos adornados com pinturas, escuturas e mosaicos Calendário baseado no sol, com 365 dias. Religião Deuses representados pelos elementos da natureza e sacrificios humanos para manter o equilibrio no universo. Acreditavam na vida após a morte e na reencarnação como ser humano ou animal A COLONIZAÇÃO EUROPEIA A passagem da Idade Média para a Modernidade foi marcada pelas Grandes Navegações, pelo Renascimento, Reforma Religiosa, Absolutismo, Iluminismo e início da Revolução Francesa. Vale ressaltar, como afirmam as autoras Dolores Freixa e Guta Chaves no livro Gastronomia no Brasil e no mundo (2008), que, com as expedições marítimas, o continente americano entrou para o mapa do mundo e, neste contexto, alimentos como batata, milho, cacau (chocolate), plantas, cereais, raízes e até temperos nativos passaram a compor a mesa do europeu. Sendo assim, ao pensarmos no processo colonizador do território que hoje é o México, devemos lembrar que foi o interesse por riquezas e até mesmo por especiarias exóticas que levou a coroa espanhola a financiar a exploração e, consequentemente, a colonização de novos territórios ou “novos mundos”. Então, no período entre 1519 e 1540, durante 21 anos, se deu a ocupação dos espanhóis nas Américas. Durante este processo, os povos maias, astecas e incas tiveram seus impérios apossados pelos colonizadores. A superioridade dos armamentos favoreceu os espanhóis, que possuíam armas de fogo, armaduras, couraças e capacetes, além de escudos, lanças e espadas. Embora os nativos também tivessem suas estratégias para defesa, como o uso de boleadeiras para deter os cavalos, bem como a produção de fumaça usada para dificultar a visão, não foi o bastante para deter os colonizadores. Vale ressaltar, então, que o processo de conquista foi violento e dizimou milhares de pessoas. De forma sistemática, novamente de acordo com o livro de Leslie Bethell de 2012, os espanhóis se apropriaram dos territórios dos povos nativos e constituíram a base de sustentação da economia colonial: trabalho em condição de escravidão, sem direitos e oferecendo condições mínimas de sobrevivência. COZINHA DAS AMÉRICAS 7 Em relação à cultura agrícola, houve aumento do cultivo de coca, que passou a ser consumida pela população com o intuito de amenizar a fome. No que diz respeito a novos alimentos, houve a introdução de frutas como o figo, o nabo, a laranja, a maçã e outros que se adaptaram às condições climáticas e de solo. Também a carne de gado passou a ser consumida, assim como o trigo. Em reflexão, podemos concluir que a colonização espanhola foi um processo difícil e realizado de forma imposta, pelo qual a cultura do colonizado foi subjugada à do colonizador. Quando nos referimos à Martinica, por sua vez, vale ressaltar que, em comparação aos ibéricos, o processo de colonização das Américas pelos franceses ocorreu mais lentamente, uma vez que o Estado não apresentou interesse inicial em investir na expansão marítima. No período que compreende os séculos XVI e XVII, ocorreram as primeiras e malsucedidas tentativas de entrada dos franceses em território já ocupado pelos espanhóis. No período que marcou o início da colonização portuguesa no Brasil, os franceses tentaram pilhar a região litorânea do Rio de Janeiro, com o objetivo de contrabandear madeira, animais e até plantas. Igualmente sem sucesso, foram rechaçados pela superioridade do colonizador português, e o mesmo ocorreu quando a França tentou ocupar as terras do Maranhão. Foi então no século XVII que houve a chegada efetiva dos colonizadores franceses em território americano. Foram ocupadas as regiões das Guianas e das Antilhas na América Latina, com um tipo de exploração voltada à produção da cana de açúcar e uso de mão de obra escrava, e também as regiões do Golfo do México, Louisiana, Mississipi e Quebec, onde basicamente a atividade era o comércio de peles de animais, além da caça e da pesca. Afirma o autor Rainer Sousa, no texto “Colonização francesa”, publicado em 2008 no portal Brasil Escola, que, após a assinatura do Tratado de Paris, os franceses perderam a posse desses territórios e também algumas ilhas das Antilhas. Na Martinica, o processo colonizador dos franceses foi acompanhando por conflitos por parte dos nativos, que resistiram no que foi possível, mas por fim foram oprimidos e obrigados a trabalhar em situações precárias. Muitos morreram e outros se refugiaram, logo, a cultura local foi basicamente desaparecendo, restando o cultivo de algumas frutas tropicais, leguminosas e tubérculos, segundo os estudos de Rosa Belluzzo publicados no livro Os sabores da América: Cuba, Jamaica, Martinica, México, de 2004. MÉXICO E MARTINICA: ASPECTOS GEOGRÁFICOS E BASE ALIMENTAR COZINHA DAS AMÉRICAS 8 O México está localizado na América do Norte, fazendo fronteira com os Estados Unidos da América ao norte e com a Guatemala e Belize ao sul. Possui aproximadamente 2 milhões de km², sendo cortado pelo Trópico de Câncer. Sua extensão territorial, altitude e circulação atmosférica explicam as diferenças climáticas do país, que, dependendo da região, pode apresentar clima tropical ou temperado, além de possuir áreas desérticas devido à baixa incidência de chuvas. Como pode ser identificado no mapa da Figura 2, o país é formado por 31 estados. Embora todas as regiões tenham recebido influência da colonização ibérica, também foram preservadas algumas características da alimentação na era pré-hispânica. No Quadro 4 apresentamos um panorama da cozinha mexicana, tal como é distribuída nas principais regiões do país. CIDADE DO MÉXICO Carnes salgadas, feijões vermelhos (ayacotes) enchiladas e frango de Querétaro. REGIÃO CENTRO- SUL Mole Poblano, marzipãs e massas REGIÃO OESTE Pozole(sopa de carne com milho), gaspacho (sopa fria), camarões na tequila, carnitas (prato de carnes) uchepos (variedades de tamales) olla podrida (carne com verduras), peixes e frutos do mar REGIÃO SUL COZINHA DAS AMÉRICAS 9 Cozinha de Iucatã: achiote (tempero produzido pela mistura de sementes e especiarias) e tortillas de milho. REGIÃO NORTE Chimichanga (tortilhas de milho), machaca (guisado de carnes e verduras), carne seca, chili seco e cabrito ao forno. O conjunto de ilhas que seguem desde o estado da Flórida até a costa norte da América do Sul é chamado de Antilhas. Geograficamente situadas na América Central, estão divididas em Pequenas e Grandes Antilhas. A Martinica, assim como São Martinho, Santa Lucia, Granada, Aruba, Curaçao, entre outras, fazem parte das Pequenas Antilhas. Também conhecida como a “ilha das flores”, a Martinica ocupa um território de aproximadamente 1.080 km², com terreno montanhoso que, juntamente com a floresta tropical, faz um contraste com a extensa faixa do litoral com praias de areia branca. O clima durante todo o ano é agradável, com temperatura de 26 ºC, sem muita variação. O principal idioma da ilha é o francês, e a maioria da população é descendente da mistura de brancos, negros e asiáticos. O turismo é o setor mais forte da economia, e na agricultura os principais cultivos são o de cana de açúcar e o de banana. As carnes bovinas, de carneiro ou de porco, além de aves e frangos, são, na maioria das vezes, preparadas com especiarias. Video explicativo sobre significado da palavra Gastronomia. De acordo com a etmologia representa o estudo as leis do estómado, porém seu significado foi evoluindo com o tempo, até virar como a arte de preparar o alimento para obter o máximo de prazer ao comer e beber. Savarim vai além e defende que “é conhecimento fundamental de tudo que se refere ao homem na medida em que ele se alimenta” Quando cozinhamos reunimos aspectos culturais, estabelecemos vinculos com os outros e despertamos emoções. Cozinha das Américas emvolve muitos aspectos socioculturaisimportantes a se conhecer. COZINHA DAS AMÉRICAS 10 Gastronomia e culinária do México A cozinha do México é considerada por muitos como uma das mais elaboradas no contexto da gastronomia internacional. Toda a riqueza da culinária mexicana é resultado de uma cultura alimentar que combina as tradições das civilizações pré-hispânicas com a influência da colonização espanhola. As tradições podem ser percebidas, por exemplo, pela forma de preparo do chocolate, tamales, pozoles, enchiladas e tacos, que, embora apresentem especificidades no modo de se fazer de acordo com a região, ainda mantêm, de certa forma, os segredos culinários e as técnicas de séculos atrás. Isso é afirmado por Guadalupe Rivera Marín em 2009 ao longo do artigo “La cocina mexicana, una aventura milenaria”, publicado no periódico Relatos e historias en México. No contexto turístico, o México é conhecido como um país festivo, sendo o Natal, a Semana Santa, o Dia dos Mortos e a Independência as datas mais celebradas. No Dia dos Mortos, os mexicanos organizam uma mesa especial, na qual é servida um almoço com pratos emblemáticos, como esqueletos de açúcar, doces em forma de caveiras e esqueletos decorados e coloridos. Também é servido o “pão dos mortos”, com figuras de caveiras e ossos. CURIOSIDADE No Dia dos Mortos, praticamente em todos os locais, tanto públicos como privados, é possível encontrar altares nos quais são colocadas oferendas, como o pão dos mortos, velas, bebidas e alimentos que os antepassados gostavam de comer, juntamente com fotografias. Para eles, segundo Belluzzo no já mencionado livro de 2004, esta é uma forma de comemorar e homenagear as pessoas que já faleceram. Nota webconferência: toda riqueza é resultado de uma cultuta alimentar que combina as tradições das civilizações pre-hispánicas com a influência da colonização espanhola. COZINHA DAS AMÉRICAS 11 A cozinha mexicana associa simplicidade a sabores fortes, utilizando, em suas preparações, alimentos e ingredientes que são marcadores da sua identidade gastronômica, entre eles o milho, frijoles, cacau, tabaco, chile, maracujá, baunilha, cacau, abacate, papaia, fruta do conde, cabaça, abóbora, entre outros. Nota-se também o uso de canela, cravo, pimenta do reino, trigo, cebola, carne suína, leite e queijos, além de pratos com aromas e sabores que remetem à herança pré-hispânica, como tacos, saladas e sopas, preparados com cogumelos ou carneiro cozido com folha de agave ou bananeira. As sobremesas ou postres receberam no geral influência dos espanhóis, que introduziram o açúcar, contudo as geleias e o sorvete de abacate ou de milho verde representam uma associação entre as duas culturas. Tempos de comida - O mexicano basicamente realiza três refeições diárias: Desayuno (Desjejum): Geralmente café ou uma bebida batida (feita com leite, ovos, cacau e baunilha) uma fruta e pão; Almuerzo (almoço): Comummente ocorre no incio da tarde e consiste em uma sopa, seguida de um prato com feijão e carne, uma salada de folhas e uma sobremesa. Comida de la tarde (jantar) Refeição mais leve, composta por pão ou tortilha, sanduíche e fatias de presunto, salsa e molhos apimentados. Sendo assim, percebemos que a gastronomia mexicana expressa à mesa muito de sua história e de seus valores, que transcendem o próprio país. No Brasil, a comida mexicana é bastante apreciada, devido ao seu aroma e a seus ingredientes marcantes, como a pimenta, que, mesmo com suas especificidades regionais, também é muito utilizada na cozinha brasileira. INGREDIENTES, PRATOS TÍPICOS E BEBIDAS A gastronomia de um país apresenta em suas bases elementos culturais próprios ou frutos da miscigenação, que, juntos, estabelecem uma combinação de cores, aromas, sabores e texturas muito singulares, possibilitando que a cozinha ultrapasse os limites territoriais, sendo apreciada também fora do país. Então não há nada melhor do que conhecermos um pouco dos principais alimentos, ingredientes, pratos típicos e bebidas desta culinária. COZINHA DAS AMÉRICAS 12 Figura 3. Milho azul. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 20/09/2019. Milho: originário do país, é considerado sagrado e constituía a base de sua alimentação desde antes da chegada dos colonizadores. Existem 64 espécies de milho registradas no México, sendo que 54 são nativas. É um alimento versátil, de fácil cultivo e presente até hoje em diversos pratos que representam a gastronomia mexicana, como, por exemplo, as tortillas e os tamales. A Figura 3 mostra como é um milho azul, também conhecido como midnight blue, que apresenta sabor mais intenso e é muito utilizado em tortillas. Chili: um dos ingredientes mais marcantes da culinária mexicana, as pimentas ou chilis estão presentes em diversos pratos e moles (molhos), bem como em algumas bebidas. Podem ser utilizadas frescas e secas, e proporcionam um sabor que vai do mais adocicado até o mais picante e forte. Existem por volta de 100 tipos de pimentas identificadas. PIMENTA CARACTERÍSTICA SABOR GUAJILLO Variação seca do mirasol chili Frutado e doce com baixa ardência ANCHO /POBLANO (PIMENTÃO) Verde, chile ancho quando seca Suave e doce com baixa ardência JALAPEÑO Verde ou vermelha (Chiplote quando seca) Picante com ardência moderada MULATO Marrom escuro Ardência média SERRANO Verde Picante com ardência mais acentuada HABANERO CHOCOLATE Marrom escuro Ardência elevada em 100 vezes mais que o jalapeño HABANERO RED Alaranjada Ardência elevada COZINHA DAS AMÉRICAS 13 Feijão (frijoles): também presentes na cozinha mexicana, são preparados com pouco caldo, fritos em gordura animal ou óleo e servidos como se fosse um purê. Os feijões também levam o sabor marcante da pimenta e são utilizados nas sopas e até em molhos. Abacate: é um ingrediente muito conhecido na culinária do país e representa, de certa forma, a cozinha mexicana, uma vez que está presente em um dos pratos mais conhecidos da cozinha internacional, o guacamole, além de ser acompanhamento de camarões e saladas. Chocolate: desde o período pré-hispânico o cacau está presente na cultura da Mesoamérica. Após as refeições, o imperador Montezuma II tinha como um dos seus maiores prazeres tomar uma taça de chocolate frio com baunilha. Para COZINHA DAS AMÉRICAS 14 os maias e os astecas, o chocolate era uma referência de paraíso. Com o tempo, começou a ser preparado como uma bebida adoçada com mel e canela e, depois, combinado com açúcar e aromatizado com baunilha ou canela. Por fim, chegou na Europa, onde os espanhóis preferiam misturá-lo com especiarias. Já os franceses optaram por bebê-lo como os astecas, derretendo-o em água para obter uma bebida espumosa. Nopal (cacto): com uma aparência muito próxima a uma palma, é um cacto de polpa viscosa, normalmente servido com temperos fortes, tomates e queijo, e também como ingredientes de sopas e saladas. Jicama: nem todos os ingredientes da gastronomia mexicana são conhecidos ou apreciados em outros países, e talvez esse seja o caso desta leguminosa. As folhas da jicama não são comestíveis, e sua parte saborosa são os tubérculos, ou seja, o que fica embaixo da terra. Pode ser cortado, temperado e servido em forma de petisco, ou cozido e adicionado no preparo de sopas. Tomatillo: é um pequeno fruto mexicano, também chamado de tomate-casca, embora seu sabor em nada seja parecido com o dos tomates mais comumente utilizados na cozinha. Apresenta uma fina casca com sabor picante e cítrico, próximo ao do limão, e pode ser usado como ingrediente em tacos, guacamole, saladas e quesadillas. Queso (queijo): é um ingrediente que acompanha diversos pratos e dificilmente pode ser substituído em uma receita sem descaracterizar o sabor. Queso de Oaxaca: textura de queijo de corda, semelhante a mussarela. É semiduro e acompañhaquesadillas e enchiladas. Queso fresco: Levemente ácido com textura granulosa, é preparado com leite de vaca misturado com leite de cabra. Pode ser esfarelado para acompanhar Saladas, tacos, enchiladas ou burritos. Queso Cotija: Semlhante ao queijo parmesão, utilizado em sopas, salada, milho assado, é normalmente vendido nas ruas. Queso Menonita: Tem uma textura próxima ao cheddar e é usado geralmente nos tamales. Agora que já conhecemos alguns dos principais ingredientes, vamos identificar alguns pratos típicos que representam a culinária mexicana. Para isso recorremos ao Larousse da Cozinha do Mundo, de 2005 (p. 88-89): COZINHA DAS AMÉRICAS 15 Guacamole: indicado para acompanhar as tortillas, consiste em um creme de abacate temperado com limão, cebola e tomate. Apresenta sabor leve e refrescante; Pimentões à mexicana: podem ser recheados ou feitos na frigideira, acompanhados por um refogado de carne moída, cravo, canela, pimenta, coentro, nozes e creme de leite que vai ao forno; Sopa de tortillas: caldo de tomate temperado e picante, finalizado com tortillas fritas, servido com pedaços de queijo, abacate e creme azedo. É uma preparação clássica dessa culinária; Sopa de abacate: sopa fria preparada como um creme de abacate temperado com limão, cebola e licor; Ovos rancheros: ovos fritos cobertos com molho picante e servidos em tortillas; Mole poblano: originário da região de Puebla, é uma preparação feita à base de pimentas, especiarias e chocolate; Pavo em mole verde: também chamado de peru de panela, é uma receita clássica de peru ensopado no molho, preparado com pimentões, pimenta, gergelim, semente de abóbora e amêndoas; Frango de Veracruz: frango dourado em pedaços servido com chuchu recheado; Carne moída de Cuzco: carne moída com maçã, azeitonas, amêndoas e pimenta; Tamale: consiste em uma massa enrolada recheada com frango, feijão, molho ou demais tipos de recheio, envolto na palha de milho e cozido; Tortilla: espécie de pão preparado com farinha de milho ou trigo, que pode ser servido como acompanhamento de salsas, burritos e tacos; Chalupas: tortillas moldadas em forma de canoa, guarnecidas com feijão ou carne, ou até mesmo dos dois, acompanhadas com cebola e molho; Nacho: são tortillas fritas e finamente cortadas, geralmente em formato de triângulo, servidas com frijoles fritos, carne ou queijo; Quesadilla: tortilla de milho ou trigo, grelhada e recheada com carne bovina, suína ou frango; Burrito: recheio preparado com carne e feijões, para tortilla de trigo; Chili de carne: preparado com feijão, carne moída, tomates e temperos. Possui diferentes versões, mas obrigatoriamente deve ter feijão nos ingredientes; Taco: preparado com tortillas para comer com as mãos. Pode ser recheado com vários tipos de carne, queijos, molhos, pimentas e verduras. O mais tradicional é feito com tortillas de trigo e é denominado taco mole. Existe o taco dourado, que é preparado com tortilla de milho; Frijoles refritos: preparado à base de feijão, que é cozido e amassado; Jericalla: sobremesa preparada em banho-maria, com leite, ovos, baunilha e canela; Nota webconferencia- Sobremesas representativas da historia da cozinha mexicanas: Sorvete de abacate e de milho verde. COZINHA DAS AMÉRICAS 16 Arroz con leche: arroz cozido com leite, casca de limão, água de flor de laranjeira e canela. A gastronomia mexicana conta ainda com bebidas típicas, que caracterizam e acompanham os alimentos até aqui comentados. Podem ser encontrados refrescos de diversas frutas, além do já mencionado chocolate, que pode ser consumido quente ou frio e aromatizado com especiarias, além das bebidas mais comuns, como refrigerantes, café, leite, vinho e cerveja, muito consumida pelos mexicanos Dentre algumas bebidas, vale a pena comentar: Tequila: destilado extraído do suco de um cacto chamado agave, com teor de 38% a 55% vol.; Mezcal: destilado produzido a partir do sumo do agave. A diferença entre a tequila e o mezcal é que só pode ser chamada de tequila a bebida produzida a partir do tequilana weber blue, um tipo específico de agave, e também passado por um processo duplo ou triplo de destilação. O mezcal, por outro lado, pode ser produzido por outros tipos de agave; COZINHA DAS AMÉRICAS 17 Horchata: produzida a partir do arroz e muito consumida no país, a água de horchata faz parte do cotidiano dos mexicanos e é normalmente consumida no café da manhã; Margarita: leva Cointreau, que não pode ser substituído por nenhum outro licor de laranja; Pulque: é uma bebida alcoólica produzida a partir do suco fermentado de uma espécie de cacto, conhecido como maguey pulquero. CULINÁRIA: MÉTODOS E TÉCNICAS A técnica culinária compreende os diversos saberes atrelados ao fazer culinário, desenvolvido pelas tradições, pela observação ou ainda por meio de tentativa e erro. Recorrendo ao pensamento de Carlos Alberto Dória no livro Culinária materialista: a construção racional do alimento e do prazer gastronômico, de 2009, podemos afirmar que aqui entra em jogo, portanto, o conhecimento, cada gesto e cada ação que chefs realizam com a expectativa de alcançar, ao final da execução, o resultado esperado. Quando pensamos na gastronomia mexicana, podemos considerar que as técnicas de preparo não apresentam alta complexidade, mas é essencial que o modo de fazer mantenha as características dos ingredientes, preservando e valorizando o aroma, o sabor e a textura, e permitindo que, mesmo com simplicidade, cada preparação constitua uma experiência saborosa. Nixtamalizar é um processo artesanal pelo qual se coloca cal no milho para que a película do grão se solte, produzindo-se uma massa mais saborosa. O método não é complexo e consiste em colocar os grãos de molho na água com cal e, em seguida, cozinhá-los em temperatura aproximada de 80 ºC. Após a cocção, os grãos devem ficar em repouso até o dia seguinte, quando serão lavados e moídos. Desse método, obtém-se uma massa básica, que pode ser utilizada no preparo de tamales e tortillas, segundo afirmado por Rosa Belluzzo em seu referido livro de 2004. Por fim, vale a pena comentar alguns utensílios tipicamente usados na culinária mexicana, que contribuem para a realização de técnicas específicas. Extraímos alguns exemplos do livro A cozinha mexicana, da coleção Cozinha das 7 Famílias, da autoria de Carmen Ruiz Montoya e Jennifer Iserloh, de 2008 (p. 16): Cazuela: indicada para o cozimento, é uma panela com duas alças, semelhante a uma caçarola; Olla: panela um pouco mais alta do que a cazuela, com a base um pouco mais estreita, também utilizada para o cozimento de feijões; COZINHA DAS AMÉRICAS 18 Comal: tipo de frigideira rasa com cabo, indicado para torrar pimentas e preparar tortillas; Molinillo: moedor; Prensa de tortilla: usada para esticar a massa de tortilla e dar a espessura adequada; Molcajete: espécie de pilão de pedra vulcânica; Metate: ferramenta de pedra que tem como principal objetivo moer grãos; Chocolateira: objeto de madeira entalhada utilizado para dissolver o chocolate no fogo. Video explicativo sobre o dia dos mortos: cor, musica e sabores. Se oferecem aos familiares que já morreram as comidas que eles mais gostavam. A iguaria mais comum é o pan de muerto e os tamales criollos também fazem parte da degustação nessas datas, temperados com muito chile e recheados com frango, carne suína ou carneiro. A bebida mais típica usadas é o atole. Gastronomia e culinária da Martinica Passemos agora para a gastronomia da Martinica. Identificada por muitos como um lugar paradisíaco, a Martinica é uma ilha tropical com florestas de vegetação exuberante. Possui trechos de praias com águas transparentes, inseridas em paisagens recortadas por coqueiros, ao mesmo tempo que oferece uma vista das regiões montanhosas, onde se encontra o vulcão Monte Pelée, hoje adormecido.Todos esses aspectos, como afirmado por Rosa Belluzzo em 2004, fazem com que a ilha se torne uma atração turística. Para compreendermos melhor a culinária da região, vamos fazer um passeio pelos aspectos históricos e sociais da ilha das flores, inserida no contexto das Américas, mais precisamente da região das Antilhas. Considerando as plantações agrícolas, os então frutos coloniais foram responsáveis pela atividade socioeconômica das Antilhas, ligada diretamente ao processo de escravidão africana, há aproximadamente quatro séculos. A produção de cana de açúcar, até o século XX, sustentou a agroindústria, e até pode-se dizer que tal produção foi fundamental para o processo de globalização iniciado com a chegada dos europeus. Outros cultivos também tiveram seu COZINHA DAS AMÉRICAS 19 espaço, como é o caso das plantações de banana, que ocuparam grandes áreas do Caribe insular. Mais sobre isso pode ser lido no artigo “O grande Caribe: das plantações ao turismo”, de 2013, publicado no periódico Novas histórias ambientais da América Latina e do Caribe pelo autor Reinaldo Funes Manzote. Apesar de certa vulnerabilidade em função dos desastres naturais, como furacões, por exemplo, e até mesmo a seca, o clima da região associado às florestas proporcionou o acúmulo de matérias orgânicas no solo, o que favoreceu o desenvolvimento agrícola de culturas como: Milho; Batata-doce; Mandioca; Abóbora de pescoço; Urucum (bija), usado para coloração. Também estavam presentes na alimentação dos nativos uma espécie de fruta do conde, chamada corossol, além de goiaba, palmito, abacaxi, papaia e zapote ou sapoti (um tipo de nêspera). Os nativos saíam para pescar em pirogas, uma espécie de embarcação, usando como utensílios arpões com pontas afiadas produzidos de madeira e ossos ou conchas. A pesca continua sendo, nos dias de hoje, uma das atividades mais econômicas e lucrativas das ilhas do Caribe. Desta forma, encontramos na culinária, segundo o livro de 2004 de Rosa Belluzzo, a presença de alimentos como: Lagostas; Polvos e lulas; Camarões; Ouriços do mar. Tempos das refeições. No que diz respeito à alimentação no dia a dia, podemos dizer que, de forma geral, as refeições realizadas por eles, conforme constatado no Larousse da Cozinha do Mundo, de 2005 (p. 70- 71), são as seguintes: Desjejum Café para os adultos e chocolate para as crianças. Em algumas regiões, o café da manhã pode ser comparado a uma refeição, pois é composto por salada, tubérculos, frutas e bacalhau; Lanche Acontece normalmente no meio da manhã, no qual se come um sanduíche pequeno com suco de frutas; Almoço COZINHA DAS AMÉRICAS 20 Bem servido, com arroz, tubérculos, carne ou peixe. Pode ser ou não finalizado com sobremesa; Jantar Normalmente mais leve, composto por uma sopa, salada e, às vezes, uma sobremesa mais cremosa. No contexto da colonização, houve o desenvolvimento de culturas de cana de açúcar e café que, transformadas em monocultura de exportação (plantation), absorveram a mão de obra escrava. Logo, a população de negros aumentou em relação à minoria branca, que possuía as terras (latifundiários). Como em todo processo de escravidão, os negros, que viviam em péssimas condições, acabavam por se rebelar e organizavam fugas para as montanhas. Com a Revolução Francesa, tanto na Ilha de Martinica como em São Domingos, houve rebeliões. Em 1794, ocorreu nas colônias francesas a primeira abolição da escravatura. No entanto, em 1802, Napoleão Bonaparte voltou atrás e retomou a escravidão, que só terminaria em 1848. Com o fim da escravidão, a mão de obra se torna assalariada, e chegam às ilhas chineses e hindus, que trouxeram sabores picantes e o aroma das especiarias. Um novo olhar para a culinária se forma a partir daí, pois tanto os escravos quanto os trabalhadores, e até mesmo os franceses, contribuíram com seus próprios saberes para a formação da identidade gastronômica da Martinica. INGREDIENTES, PRATOS TÍPICOS E BEBIDAS Os ingredientes de uma cozinha, juntamente com todos os aspectos culturais de determinado povo, representam e formam a identidade gastronômica de um local. É fato que as identidades culturais, transmitidas de geração em geração, não são estáticas, no entanto nem sempre elas se alteram e se adaptam sem resistência ou conflitos, pois a cozinha, como um conjunto de hábitos alimentares, práticas e tradições culinárias, pode representar para os envolvidos, sejam eles colonizados ou colonizadores, uma unidade de pertencimento. Isso é defendido por Massino Montanari em 2008 no livro Comida como cultura. A cozinha, então, é fruto de um processo histórico cultural, e as preparações, ingredientes e demais elementos representam, de certa forma, esse processo. Logo, como profissionais da gastronomia, descobrir um ingrediente ou um prato típico faz parte da nossa formação. Sendo assim, vamos descobrir novas combinações e novos olhares sobre essa cozinha tão rica e saborosa? COZINHA DAS AMÉRICAS 21 Alguns alimentos presentes na gastronomia da Martinica são, de acordo com o livro de 2004 de Rosa Belluzzo (p. 90-98): Colombo: reconhecidamente o tempero mais tradicional da culinária da ilha, consiste na mistura de diversas especiarias. Combina açafrão, semente de mostarda marrom, pimenta, coentro, tomilho e louro. É usado no tempero de frango, carnes, legumes e vegetais em geral. Vendido em mercado aberto, sua cor e textura, que podem ser observadas na Figura 8, tornam-no semelhante ao garam masala e ao curry indiano; Chiquetaille de morue (migalhas de bacalhau): bacalhau seco ou salgado utilizado em pratos como bacalhau empanado ou salada de bacalhau com abacate; Malanga: tipo de tubérculo servido com carne suína salgada; Inhame: influência da culinária africana, é servido como acompanhamento ou como prato único; Banana, mandioca, batata-doce: presentes em preparações como acompanhamentos e sobremesas; Carambola, tamarindo, coco e manga: chegaram do Oriente e foram adicionadas a preparações locais; Ciriques (caranguejos): ingrediente de preparações sofisticadas, embora sua utilização originalmente remeta à culinária popular; Christophine: espécie de chuchu; Carnes suínas, bovinas e aves: presentes em diversos pratos e normalmente preparadas com muitas especiarias; Café: chegou na Martinica em 1720, produto de exportação; Piña: abacaxi, inicialmente considerado exótico e, hoje, presente principalmente nos cardápios natalinos; Chadec: um tipo de laranja com características bem próximas do grapefruit, usada no acompanhamento de lagostas, camarões e lulas; Rum: preparado à base de frutas como banana, abacaxi e também de cana de açúcar; Chatrou: é um polvo pequeno, comumente utilizado em pratos como o fricassé de chatrou; COZINHA DAS AMÉRICAS 22 Lambis: é um caracol marinho que mede de 20 a 30 cm, considerado um alimento básico, podendo ser frito, grelhado ou ensopado, e temperado com especiarias e molho picante.EXPLICANDO Os ciriques são, normalmente, caranguejos recheados e simbolizam uma culinária mais sofisticada. No entanto, é possível experimentar essa preparação típica em Saint Pierre, um vilarejo que fica próximo ao Monte Pelée, onde são vendidos nas ruas. Rosa Belluzzo, em 2004, conta que esses caranguejos são provenientes de terras alagadas e, antes de serem preparados, são confinados em barris, onde se alimentam de mangas, bananas e outras frutas, com o objetivo de deixar sua carne com uma textura mais tenra e agradável. As bananas estão presentes na alimentação dos moradores da ilha e são consumidas em pratos doces e salgados, podendo ser sobremesas ou acompanhamentos. Existem mais de mil espécies de bananas, das quais aproximadamente 300 podem ser consumidas. Este é um dado informado pela Autoridade de Turismo da Martinica, em 2016, no documento informativo Martinica: a flor do Caribe.Em 2004, a autora Rosa Belluzzo, no livro Os sabores da América: Cuba, Jamaica, Martinica, México, informa a classificação dos tipos de banana mais utilizados na gastronomia local (p. 99): Banana plantain: não açucarada, consumida verde como legume e pode ser assada ou frita, bem como acompanhada de carnes e peixes; Banana ti-nain: pouco doce, consumida verde como aperitivo, cortada finamente e, na maioria dos casos, frita; Banana macanguia: também conhecida como banana amarela, é consumida madura como fruta; Banana fressinette: pequena e muito doce, consumida como fruta; Banana figue pomme: mais alongada, também muito doce, consumida como fruta e em sobremesas; Banana da terra: casca verde, consumida como purê, além de cozida ou frita, como sobremesa. Possui a polpa rosada e é mais alongada em comparação à banana comum. A cozinha da Martinica nos apresenta ingredientes de diferentes continentes que, juntos, oferecem diversos sabores, combinando aspectos da cultura alimentar local, influência da culinária africana (creole), sabores exóticos e COZINHA DAS AMÉRICAS 23 técnicas adaptadas da gastronomia francesa. Disso decorrem pratos criativos, coloridos, aromatizados e repletos de sabor, além de cheios de histórias. A seguir, vamos conhecer alguns desses pratos típicos: Accras de morue Bacalhau empanado em massa de farinha de trigo e especiarias; Feroce d’avocat et morue Lascas de bacalhau temperado com pimenta, cebola, tomate, alho e azeite, misturados ao abacate e à farinha de trigo. Deve ser consumido gelado; Poisson au lait de noix de coco Robalo ou pargo-vermelho marinado em limão, cebola, pimenta e sal, servido com leite de coco e noz-moscada; Crabes farcis Carapaça recheada com carne de caranguejo temperada com vinho, azeite, pimenta e cebola; Bisque de crevettes Clássica sopa da cozinha francesa feita com camarões; Blaff de poisson Um clássico da culinária que consiste no cozimento do peixe no molho de tomate. Blaff se refere ao som do peixe quando colocado no caldo fervente; Fricassée de chatrou Cozido de polvo no vinho tinto; Colombo de porc Lombo de porco cozido com legumes e com o tradicional pó de colombo Patate douce glacée Batata-doce glaceada com tequila que acompanha carnes, peixes e aves; Gratin de igname Inhame temperado com especiarias e gratinado com queijo Gruyère; Bananes flambèes au rhum Clássica sobremesa de bananas flambadas; COZINHA DAS AMÉRICAS 24 Mousse à la noix de coco Mousse preparada com leite de coco servida individualmente; Gâteau au chocolate Clássico bolo francês; Crème brûlée au lait de noix de coco Crème brûlée com leite de coco; Trempage Prato típico à base de bacalhau cortado em lascas, engrossado com farinha de mandioca e servido sobre um pão picado com banana e abacate. Todos os ingredientes são servidos em uma folha de bananeira. Além das preparações típicas, vale um olhar para o consumo de bebidas e coquetéis tropicais que, assim como na culinária, refletem as influências da gastronomia local. Xarope de cana: a produção do açúcar se dá pela moagem da cana para extração do suco. Durante esse processo, produz-se o xarope de cana, que possui aproximadamente 60% de açúcar. Artesanalmente, é possível também se produzir um xarope da seguinte forma, segundo indicações do Larousse da Cozinha do Mundo, de 2005 (p. 84): 500 g de açúcar demerara, diluído em 500 g de água; Aquecer em fogo médio; Colocar 1 fava de baunilha, 1 unidade de canela em pau e 2 cravos; Mexer até dissolver o açúcar, ferver e resfriar. Dentre as bebidas e coquetéis, podemos mencionar o rum: independente do horário, seja para “acordar” ou para abrir o apetite, os habitantes consomem o rum como parte do hábito alimentar. No ano de 1713, um decreto francês proibiu a exportação do rum, dos derivados da cana de açúcar e do melaço. Mesmo com essa proibição, piratas continuaram a contrabandear a bebida por mais de meio século, quando um novo decreto autorizou a exportação para fora do então domínio francês. A Martinica tem a fama de produzir o melhor rum das Antilhas, até mesmo em comparação ao haitiano e ao jamaicano. O fator que determina essa condição é o processo de fabricação: nas demais ilhas, o rum é destilado a partir do melaço de cana, o que não garante a pureza do produto, já que os resíduos do açúcar permanecem. COZINHA DAS AMÉRICAS 25 No Haiti, na Jamaica e na Martinica, o rum segue um protocolo de qualidade, sendo destilado a partir do suco da cana que, após triturado, é levado ao alambique, onde se inicia a fermentação e destilação por meio de uma ação natural. Alguns dos mais tradicionais coquetéis elaborados com rum são: Ti’ punch: rum, limão com casca macerada e gelo triturado. De maneira tradicional, essa bebida pode ser servida em uma jarra vidro, ao lado de outra contendo xarope de cana. Cada pessoa se serve na proporção que desejar e acrescenta ao seu copo uma rodela de limão; Plateur: preparado à base de frutas, xarope de açúcar, rum e pode-se ainda acrescer canela e noz-moscada; Punch: versão mais doce; Ponche das Antilhas: rum escuro com laranja, limão, abacaxi, banana, canela e noz-moscada; Nuit blanche: rum, leite, canela e gema de ovo. CULINÁRIA: MÉTODOS E TÉCNICAS As técnicas e os métodos de preparo da culinária da Martinica estão associados diretamente a bases da cozinha francesa, considerando todo o contexto de formação do país sob domínio dos franceses. Assim como nas demais cozinhas de povos colonizados, existe uma adaptação de técnicas, pratos e ingredientes. Vale, portanto, olhar para os principais termos técnicos, bem como métodos de preparo da gastronomia clássica, considerando sempre que, a partir da base, é possível interagir com o todo. Liaison: espessante utilizado na finalização das preparações. Tem baixo poder espessante e a característica de fornecer uma textura aveludada às preparações. Após ser adicionado, a preparação não pode ferver – caso contrário, a gema coagulará. Antes de ser adicionado à preparação, devemos fazer a temperagem; Bouquet garni: composto por talos de salsão e de salsinha, tomilho, louro e folhas de alho-poró. Pode-se alterar sua composição, no sentido de criar novos bouquets; Sachet d’épice: composto por louro, pimenta do reino em grão, talos de salsinha, tomilho, cravo (opcional) e alho. Podem-se criar novos sachets, de acordo com a criatividade do cozinheiro e do objetivo proposto; Mirepoix: combinações de vegetais aromáticos, que servem para conferir sabor subjacente sutil e agradável, sustentando e melhorando o sabor do prato pronto. Esse aromático pode permanecer na preparação, por exemplo, em uma sopa, ou pode ser descartado como nos fundos; COZINHA DAS AMÉRICAS 26 Bisque: sopas feitas à base de crustáceos e engrossadas com arroz, farinha de arroz, pão ou roux. Apresenta uma textura semelhante à das sopas-creme; Singer: nomenclatura francesa que define a técnica de salpicar uma pequena quantidade de farinha na carne, com a finalidade de dar cor, proteger e auxiliar na textura do molho; Escalfar: por ser um método ideal para alimentos naturalmente tenros, a maioria dos peixes fica excelente se preparado desse modo. Há duas maneiras de fazê-lo: Em muito líquido: o peixe fica totalmente submerso em líquido aromático (ervas, legumes, vinho). Deve ser cozido entre 70 e 82 ºC. Indicado para filés mais altos ou tranches e postas retiradas de filés altos e peixes redondos; Em pouco líquido: indicado para filés mais finos, é uma combinação de vapor e imersão em líquido aromático (ervas, legumes, vinho). Utiliza-se uma frigideira que deve ser tampada parcialmente (pode-se fazer uma tampa de papel manteiga); Caramelizar: dourar açúcar pelo seu aquecimento (aproximadamente entre 160 e 182 °C). Esse termo também é utilizadoquando se doura a superfície externa de um ingrediente, caramelizando os açúcares presentes; Deglacear: adicionar um líquido ácido, de preferência, a um preparo seco, para dissolver as raspas grudadas na panela ou frigideira; Simmer: levar o líquido para o cozimento à temperatura de 85 a 95 °C, sem fervê-lo; Pinçage: caramelização de um ingrediente como um vegetal (com o uso de extrato de tomate) em gordura. Esse processo reduz a acidez, a doçura ou o amargor excessivo, sendo uma técnica utilizada também para dar cor a um preparo; Temperagem: ajuste da temperatura através da adição gradual de um líquido quente a um frio, para evitar um choque térmico (muito usado para misturar gemas ou ovos crus a líquidos quentes). Mais sobre isso pode ser consultado no livro 400 g: técnicas de cozinha, publicado em 2008 por Betty Kovesi em parceria com outros autores. Dentre alguns métodos e modos de se preparar determinados alimentos, podemos destacar: Fundo de peixe: Lave bem a carcaça do peixe, retire as guelras e os olhos e quebre-os em pedaços. Aqueça o óleo numa panela e COZINHA DAS AMÉRICAS 27 acrescente o mirepoix e a carcaça. Junte os temperos. Depois, adicione a água fria e leve-os à fervura baixa (simmer). Então, adicione o bouquet garni. Cozinhe lentamente por 40 minutos, escumando periodicamente. Por fim, coe, resfrie e guarde sob refrigeração para uso posterior; Court-bouillon: doure o alho, a cebola e a cebolinha. Adicione o molho de tomate e ferva-os até ajustar a consistência. Depois, introduza o peixe, o vinho, o bouquet garni, a pimenta, o sal e o limão. Finalmente, retire o bouquet garni; Lagosta: corte-a com a carapaça, ao meio e no comprimento, mergulhe-a no court-bouillon e dê continuidade na preparação, conforme solicitar a respectiva receita; Chatrou: retire a cabeça, fazendo um corte acima dos olhos, abra-a e retire as vísceras com a ponta da faca, bem como os olhos. Depois, esprema a cartilagem dos tentáculos e lave cuidadosamente. Agora é a hora de sintetizar tudo o que aprendemos nessa unidade. Vamos lá?! SINTETIZANDO No decorrer dessa unidade, entramos em contato com dois países que pertencem ao continente americano, o México e a Martinica, com o objetivo inicial de compreender os aspectos históricos, geográficos, sociais e culturais de cada um deles. Com essa proposta como ponto de partida, a narrativa foi direcionada para que pudéssemos obter embasamento teórico, a fim de legitimar nossa trajetória em direção ao ponto de chegada pretendido, ou seja, a cozinha das Américas. Isto posto, revisitamos a Mesoamérica no período pré-hispânico e pós- colonização, entrando em contato com as antigas civilizações que viveram na região. Ainda no sentido de contextualizar diversos aspectos, a unidade apresentou dados sobre a colonização espanhola no México e francesa na Martinica, e trouxe elementos que nos ajudaram a perceber como a base alimentar desses países se formou. Na sequência, trabalhamos com informações sobre as especificidades de cada local, reconhecendo os principais ingredientes e preparações culinárias, bem como bebidas, pratos típicos, métodos e técnicas de preparo. Conhecemos a culinária mexicana, de sabores marcantes, tradições e inventividade. Também aprendemos que a Martinica possui uma das culinárias mais ricas das Antilhas e que, além de sua base alimentar nativa, recebeu influência francesa, africana e oriental. Pimentas, frutas, especiarias, frutos do COZINHA DAS AMÉRICAS 28 mar, peixes, carnes, queijo, entre outros, são alimentos que, associados à cultura e à história local, técnicas e saberes, compõem o que chamamos de gastronomia. No final desta viagem, devemos ressaltar que todos os componentes apresentados tiveram como objetivo colocar você, leitor, em contato com as bases teóricas de cada uma das cozinhas, buscando oferecer recursos para que, como profissional, possa atuar de forma mais segura e legitimada. COZINHA DAS AMÉRICAS 29 UNIDADE 2. Cozinha das Américas: Jamaica e Peru Rita de Cássia Soares OBJETIVOS DA UNIDADE Compreender os aspectos históricos, geográficos e socioculturais da Jamaica e do Peru; Reconhecer os principais ingredientes e preparações da culinária jamaicana e peruana; Propiciar conhecimentos sobre os pratos típicos, bebidas, métodos de preparo e de cocção. TÓPICOS DE ESTUDO Conhecendo a Jamaica // Gastronomia e culinária jamaicana // A cozinha rastafari // Ingredientes, pratos típicos e bebidas Conhecendo a América do Sul // Peru: aspectos históricos, geográficos e base alimentar // Gastronomia e culinária peruana // Ingredientes, pratos típicos e bebidas CONHECENDO A JAMAICA A região das Grandes Antilhas é um arquipélago localizado na América Central Insular e formado por quatro ilhas: Jamaica, Cuba, Porto Rico e Hispaniola ou Santo Domingo, onde ficam Haiti e República Dominicana. A Jamaica é uma ilha de origem vulcânica, com território de 11.244 km², sendo a terceira maior do complexo. Além da capital, Kingston, e das praias, o Parque Nacional Montanha Azul (Blue Mountains), com 28 km de extensão, é um dos mais procurados pontos turísticos da região, sendo que sua maior montanha, conhecida como Blue Mountains Peak, possui 2.256 metros de altura, é onde se cultiva o café Blue Mountain, um dos mais caros do mundo, conforme relata Danilo Rabelo em sua tese de doutorado, "Rastafari: identidade e hibridismo cultural na Jamaica", 1930-1981, de 2006. COZINHA DAS AMÉRICAS 30 No país, as temperaturas no verão giram em torno de 31 ºC, um clima típico de uma ilha tropical. Já nas montanhas, o clima é frio durante todo o ano, não ultrapassando 10 ºC. Chove nos meses de maio, junho, setembro e há sempre a ameaça de furacões que se formam no Oceano Atlântico. Cerca de 6% das terras são destinadas ao plantio permanente, sendo o cedro, o palmito, o coqueiro, a pimenta e o mahogany (mogno) as principais plantas nativas, enquanto a manga, a banana, a plantain (tipo de banana) e a fruta-pão foram introduzidas durante o processo de colonização. Na história jamaicana, exposta pelo livro de Rosa Belluzzo, Os Sabores da América: Cuba, Jamaica, Martinica, México, publicado em 2004, os indígenas das tribos Arauaques (Arawak) foram os primeiros habitantes do país e se dedicavam ao cultivo da mandioca, batata doce e milho, além da caça e da pesca para subsistência. Na segunda viagem de Cristóvão Colombo, os europeus chegaram na então Xamaica, desembarcando na Baía de Saint Ann no dia 4 de maio de 1494. A Cidade da Espanha, implantada por Diego Colombo, filho de Cristóvão, foi a primeira colônia espanhola onde se desenvolveu a cultura de cana-de-açúcar e a criação de gado. Em 1655, os espanhóis foram expulsos pelos britânicos, que dominaram a ilha até 1962, quando o país se tornou independente. Neste período, estima-se que mais de 600 mil negros foram levados para trabalho escravo nas plantações de algodão, cacau, tabaco e cana- de-açúcar. Com a libertação dos escravos, foram contratados imigrantes vindos da China e da Índia para trabalhar nas plantações de café. EXPLICANDO Danilo Rabelo afirma, nas páginas 34 e 35 da sua tese, que a palavra Xamaica, que deu origem ao nome Jamaica, vem do idioma arauaque e seus significados mais aproximados são as expressões “terra de muitas fontes” ou “terra de bosques e água”, o que pode ser explicado pela hidrografia da ilha, que conta com mais de 120 rios, cujas nascentes nas regiões das montanhas, devido ao relevo, formam quedas d’água de incrível beleza. GASTRONOMIA E CULINÁRIA JAMAICANA Tal qual Martin e Pamela Mordecai declaram no livro Culture and Custom of Jamaica, de 2001, e usado por Rabelo em sua tese, independentemente da população jamaicana ter uma maioria de descendência africana, há comunidades chinesas,indianas, árabes e europeias provenientes de um processo histórico que trouxe grande diversidade étnica pra ilha. Logo, tal diversidade pode ser percebida na gastronomia do país, pois cada povo trouxe consigo seus hábitos e sua cultura alimentar. Em virtude da Jamaica ter incorporado saberes gastronômicos, há uma presença marcante de ervas, COZINHA DAS AMÉRICAS 31 especiarias e pimentas, como a pimenta-da-jamaica, que é nativa da ilha e tem um sabor misto de canela, cravo-da-índia e noz-moscada, o que conferiu a essa pimenta a denominação de “planta de todas as especiarias”, ou allspice, como é conhecida pelos ingleses. Além do coco, das frutas e da cana-de-açúcar, o colonizador espanhol levou pra Jamaica o gengibre que, embora nativo da Índia e da Malásia, foi difundido na Europa pelos comerciantes árabes, chegando até às Antilhas. Uma das frutas mais exóticas do mundo e a mais popular da Jamaica, o ackee é nativo da África, pertence à mesma família do guaraná e, quando madura, possui uma polpa amarela de sabor agradável e doce, com um pouco de acidez, lembrando o gosto de nozes. CURIOSIDADE De acordo com Belluzzo, em seu livro de 2006, apesar de muito conhecida na culinária, o ackee pode causar uma doença chamada “doença do vômito da Jamaica”, associada à ingestão de suas sementes, que contêm hipoglicina, uma substância tóxica que provoca vômitos, lesões no fígado, quadro de convulsão, causando até mortes. Por isso, o ackee só pode ser ingerido quando maduro, sem as sementes e, de preferência, cozido. A polpa amarela da fruta se assemelha a ovos mexidos e, por isso, ela é chamada de fruto de huevo. A partir das informações do livro de Rosa Belluzzo, é possível entender como o curry, uma mistura de várias especiarias utilizado no preparo de carnes e peixes, foi trazido pelos indianos e se tornou um condimento que marca a personalidade dos pratos jamaicanos. Os produtos provenientes da agricultura local, como quiabo, pimentão, inhame, abóbora e batata-doce são habituais na mesa, complementando as preparações dos grelhados, dos cozidos e das sopas. Do mesmo modo, é comum o uso de gengibre, alho e pimentas na preparação dos molhos ardentes que acompanham a maioria dos pratos típicos da região. Assim como os que vêm da terra, os alimentos que vêm do mar são importantes, como peixes fritos, camarões grelhados e lagostas cozidas no vapor. TEMPOS DE COMIDA (REFEIÇÕES) O jamaicano costuma realizar em média três refeições por dia: Café da manhã: Ackee com peixe salgado, acompanhado por inhame, banana cozinha ou batata-doce, além do bammy, pão característico da ilha; Almoço: o arroz com leguminosas (feijão ou ervilha) é uma combinação que faz parte das refeições básicas, além dos pastéis conhecidos como empanadillas, recheados com carne bovina, suína ou frango, queijo e torta de vegetais; COZINHA DAS AMÉRICAS 32 Jantar: arroz com ervilhas, acompanhado de peixe preparado no vapor, camarão ou galinha com curry, além da carne suína cozida com feijão. A banana grelhada e o pudim de batata-doce são as sobremesas mais apreciadas no país, sendo servidas em todas as refeições. No que diz respeito aos procedimentos básicos de preparo, mas a cultura africana pode ser reconhecida em algumas preparações, como no jerk de porco, criado pelos escravos rebelados que fugiram durante o período da escravidão e se alimentavam caçando animais de pequeno e médio porte, como o porco selvagem. Em seu preparo, a carne do animal era cortada em tiras e expostas ao sol para secarem, sendo em seguida defumadas em galhos de pimenteiras ou goiabeiras. Segundo o artigo "Jerk food: tão jamaicano quanto o reggae", publicado em 2014 por Silvia Carvalho no blog Jamaica Experience, o jerk era um método de conservação dos alimentos e hoje é um dos pratos mais populares da gastronomia jamaicana. Além do processo de defumação, que é a base da preparação, a carne fica marinada por 12 horas em uma mistura de sal, pimenta, ervas e especiarias como tomilho, alho e canela, absorvendo o sabor marcante que o define. Vendido nas ruas e recorrente no cardápio dos restaurantes, com o passar do tempo e o desenvolvimento da própria gastronomia, o jerk recebeu versões de carne bovina, lagosta, caranguejo e frango. O grelhado é um tipo de cocção cotidiana nos ilhéus. Ainda que não muito complexa, requer cuidado e paciência, pois o processo consiste em deixar a carne defumada marinando por algumas horas em uma vinha de alho, cebola, pimenta-da-jamaica, noz moscada, tomilho e um suco de alguma fruta ácida. Depois de marinada, ela deve ser preparada em fogo baixo, a fim de garantir sabor e maciez. Já o assado de porquinho de leite consiste em desossar e rechear um porco com uma mistura de arroz, temperos como tomilho, pimentas, coco ralado e farinha de milho. A COZINHA RASTAFARI Indo pela definição dada por Maria Cláudia da Veiga Soares, Madel Therezinha Luz e Shirley Donizete Prado no artigo "Comer, alimentar e nutrir: categorias analíticas instrumentais no campo da pesquisa científica", publicado em janeiro de 2011 pela revista Ciência & Saúde Coletiva, a alimentação é uma necessidade primária de qualquer indivíduo e seu conceito é carregado de significados e representações. Ritos, símbolos, regras e modo de preparo são práticas e saberes que constroem a cultura alimentar de um grupo, sociedade ou país. O ato de alimentar-se e alimentar o outro ocupa espaço na esfera social, cultural, política, filosófica e psíquica. COZINHA DAS AMÉRICAS 33 Neste contexto, podemos abordar o movimento rastafari sob a ótica da cozinha, da culinária e da gastronomia, já que um dos princípios desse movimento se relaciona com a alimentação. O movimento surgiu nos anos 30, quando Haile Selassie foi coroado na Etiópia e proclamou a união de todos os africanos dispersos pelos continentes. Os seguidores do rastafari são caracterizados por seguirem alguns preceitos que envolvem: A alimentação; A linguagem; O comportamento; O modo de se vestir. A princípio, devemos compreender que os rastafaris são vegetarianos e o consumo de carne, peixes sem escamas e crustáceos não é permitido, enquanto peixes com escamas e até 30 cm de comprimento podem ser inseridos na dieta. Por seguirem o Antigo Testamento, algumas regras alimentares em relação a animais estão fundamentadas no texto de Levítico II. Assim, consoante com a tese de Rabelo, além das carnes, são alimentos impróprios: Leite de vaca; Bebidas alcóolicas; Café; Soda; Cacau; Sal; Vinagre; Derivados da videira; Alimentos industrializados; Alimentos cultivados com agrotóxicos e pesticidas; Farinha de trigo (pães, doces, bolos, etc.). A culinária rastafari é vegetariana, natural e define não só a alimentação, como orienta o modo de fazer de alguns alimentos. Um bom exemplo disso pode ser retirado do livro The Rastafari Cookbook, escrito por Margaret Ebanks, de 1981: Nota webconferencia- Os seguidores do Rastafari consideram alguns preceitos como: alimentação, linguagem, comportamento e modo de se vestir. O principal assunto que como gastrónomos temos que entender é que eles são Vegetarianos, e existem alguns alimentos que são impuros, a principio o consumo de carne, peixe sem escamas e crustáceos, não são permitidos. Os peixes com escamas só até 30 cm. Isso baseados no livro biblíco de Levíticos. COZINHA DAS AMÉRICAS 34 Frutas e vegetais devem ser colhidos frescas e cultivadas organicamente. Todas as verduras devem ser cozidas até amaciar em água suficiente para evitar que queimem. Certos vegetais como cenouras, beterrabas, batatas doces e batatas irlandesas, finamente raspados e lave-os apropriadamente, bananas verdes também devem ser lavadas e cozidas com a casca. As preparações devem ser cozidas em utensílios de material natural como: Madeira; Pedra; Cerâmica. Os alimentosnaturais e sem nenhum tipo de conservantes, são denominados ital. Alguns tipos de alimentos enquadrados neste gênero são: Arroz integral com feijão; Sopa de amendoim com caldo de verduras; Cozido com bananas e mandioca; Abóbora; Dumpling (nhoque de farinha de milho). De acordo com Rabelo e com os seguidores do movimento rastafari, a alimentação ital oferece benefícios para saúde, uma vez que a ingestão de alimentos sem agrotóxicos e conservantes oferece melhor aproveitamento dos nutrientes e colabora pra manutenção de um corpo saudável. INGREDIENTES, PRATOS TÍPICOS E BEBIDAS A gastronomia jamaicana apresenta um certo pluralismo gastronômico devido às influências de grupos que vieram de vários continentes. Graças a isso, temos ingredientes variados e pratos típicos que representam todas as etnias. Com base nos dados do site do Ministério do Turismo jamaicano, alguns alimentos presentes na culinária são: // Crustáceos e peixes A lagosta é um dos crustáceos mais apreciados, além dos camarões e peixes, como o mero e o pargo vermelho; // Fruta-pão É uma fruta bastante versátil que pode ser preparada no vapor, grelhada, assada e até frita. Após seu cozimento, ela apresenta uma textura muito próxima à batata e com um sabor de pão; COZINHA DAS AMÉRICAS 35 // Cho cho (chayote) Chuchu, cozido utilizado em pratos quentes e saladas; // Guinep Os cachos desta fruta se assemelham ao das uvas, têm um sabor azedo, textura gelatinosa e é adequada para sucos e doces cítricos; // Malanga/dasheen Se parece com o inhame, com sabor mais próximo ao de uma batata; // Quiabo, pimentão, inhame, banana-legume, mandioca e coco Utilizados em pratos salgados, como guisados e sopas; // Gengibre Serve para tempero de carnes e frutos do mar e é ingrediente do curry, além de ser utilizado para dar sabor á bolos, doces e bebidas; // Curry Mistura de ervas e especiarias: gengibre, cominho, pimentas, cravo, canela e coentro; // Jerk spice Mistura da pimenta-da-jamaica com a pimenta scotch bonnet; // Ambarella Conhecido como cajá-manga, é uma fruta doce bastante apreciada em sucos e bebidas; // Caimito Fruta de coloração roxa, com a polpa doce e suculenta // Ugli É uma fruta híbrida (laranja/tangerina), do grupo das cítricas, mais doce que a tangerina e com um leve sabor amargo. Ao entrarmos em contato com os alimentos e ingredientes da cozinha de um determinado país, podemos compreender um pouco das suas tradições e COZINHA DAS AMÉRICAS 36 costumes alimentares. A Jamaica nos oferece muitos sabores e a oportunidade de conhecermos uma culinária de pratos típicos com muitos temperos, fruto da contribuição de diversas culturas, bem como a maioria dos países da América Central. Com base no Larousse da Cozinha do Mundo – Américas, lançado em 2005, conheceremos alguns pratos típicos jamaicanos: Bammy: herança dos aruaques, é um tipo de pão redondo, feito na zona rural, a partir da farinha de mandioca e comercializado em lojas e nas ruas; Duckunoo: massa de batata-doce e leite de coco, semelhante à massa da pamonha, cozida no vapor envolto em uma casca de bananeira; Callaloo: prato popular composto por vegetais conforme com a disponibilidade da região. O mais conhecido é uma folha com sabor muito próximo ao espinafre. Pode ser preparado como uma sopa com folhas, carnes, leite de coco, tomilho, cebola, alho e pimenta ou servido como acompanhamento; Empanadillas jamaicanas: um tipo de pastel assado recheado com carne suína, bovina, peixe ou frango, usando muitos temperos como cúrcuma, coentro, gengibre, cominho, pimenta-da-jamaica, pimenta vermelha e rum; Curried red snapper: pargo vermelho temperado com curry, e assado no vinho branco; Steamed salmon in shaddock sauce: salmão no vapor com molho de toranja e creme de leite; Barbecued chicken: frango marinado e assado com pimenta-da- jamaica, gengibre, açúcar mascavo, mostarda em pó, canela, azeite e limão; Hare in rhum and allspice: coelho cozido depois de marinado na pimenta-da-jamaica com outros temperos; Curried lamb: carneiro ou cabra temperados com curry e cozidos no rum e leite de coco; Mango e papaya chutney: chutney (condimento agridoce/picante) preparado com manga e papaia, gengibre, canela, açúcar mascavo, pimenta-da-jamaica e cravo; Baked banana in guava sauce: banana assada com calda de goiaba, pimenta-da-jamaica, limão e rum; Ackee and saltfish: ackee cozida com peixe (bacalhau), é o prato nacional da Jamaica; Jerk chicken: frango preparado com uma mistura de ervas, especiarias e folhas de pimenta; Fruta-pão frita: comum em todas as refeições; Sopa de ervilhas vermelhas: sopa quente preparada com feijões vermelhos; Oxtail: rabo bovino preparado com especiarias, frito e cozido na pressão; COZINHA DAS AMÉRICAS 37 Peixe escovich: preparado com frutos do mar, vinagre e especiarias. Segundo Rosa Belluzzo, as sobremesas fazem parte do cardápio dos moradores e dos turistas que frequentam a ilha. Frutas nativas e exóticas são utilizadas no preparo de doces ou consumidas frescas como: Matrimony: salada de frutas com leite condensado; Jamaican pudding coffee: pudim de leite com café; Christmas fruit cake: bolo de frutas secas, servido em datas especiais como Páscoa e Natal; Pepper e Ginger jellies: geleias que acompanham carnes e pratos típicos. Entre as bebidas tradicionais, encontramos: Rum: bebida clássica da ilha, é branco e transparente, mas adquire, quando envelhecido, uma coloração dourada com aroma de carvalho. Costuma ser servido em bebidas, coquetéis e licores; Red stripe: cerveja artesanal de gengibre; Ting: refrigerante à base de toranja e pode ser misturado com rum; Ponche jamaicano: mistura de xarope de morango com rum; Sorrel: bebida preparada com flores de hibisco, gengibre, água e rum. O café jamaicano começou a ser produzido por volta de 1730, cultivado nas montanhas e recebendo o nome de Jamaican Blue Mountain. Seu diferencial é o sabor suave e pouco amargo, devido aos grãos aromáticos e doces. O Blue Mountain é acondicionado e exportado em tonéis de carvalho que, na opinião dos especialistas, proporcionam maior perfume aos grãos, tornando-os mais especiais e saborosos. Esses motivos são a razão da fama do café jamaicano, procurado e avaliado por apreciadores como um dos melhores do mundo. A Jamaica, sem dúvida, proporciona uma experiência gastronômica completa, oferecendo dados históricos importantes que ajudam a entender um pouco mais da América, mostrando como a gastronomia pode ser influenciada pela cultura e costumes de outros países com sabores, habilidades e tradições que formam uma culinária colorida, aromatizada e de sabor único. Conhecendo a América do Sul A América do Sul localiza-se na parte meridional do continente americano e é composta por doze países independentes: Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Peru, Chile, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana, COZINHA DAS AMÉRICAS 38 Guiana Francesa e Suriname. É banhada pelo Oceano Atlântico ao leste, pelo Oceano Pacífico a oeste e pelo mar do Caribe ao norte. Se fundamentando nas descrições dadas pelo site Só Geografia, é possível notar que o relevo do continente é composto por regiões de montanhas, como a Cordilheira dos Andes, pelos planaltos norte-amazônicos, além das serras e planaltos pertencentes ao Atlântico Leste-Sudeste. Junto a essas regiões, estão as bacias hidrográficas dos rios Paraná, Amazonas e Orinoco. Na fronteira da Argentina com o Chile, localiza-se o monte Aconcágua, o ponto mais alto da América do Sul. Abordando os aspectos históricos, Elian Alabi Lucci, no seu livro de 2012, Geografia: homem e espaço, salienta que a América do Sul, da mesma maneira que todo o continente, era habitada pelos povos indígenas antes de espanhóis e portugueses chegarem. Com a expansão marítima,o Tratado de Tordesilhas dividiu duas áreas, deixando os espanhóis com a região ocidental- pacífica e os portugueses, na oriental-atlântica. Sendo assim, os espanhóis investiram na região do Prata (norte da Argentina, Paraguai e Uruguai), nos Andes (sudoeste da Colômbia, Equador inteiro, Peru, oeste da Bolívia, norte da Argentina e Chile inteiro) e no Caribe. Já os portugueses, por sua vez, se instalaram no litoral atlântico e praticaram o extrativismo de pau-brasil e cana-de-açúcar. Cada um dos países foi influenciado por seus colonizadores e por todos os povos que chegaram em razão da escravidão e dos interesses comerciais, sociais e políticos. O clima na América do Sul, dependendo da região, pode ser equatorial, tropical, temperado ou mediterrâneo. O clima árido e desértico, por exemplo, pode ser visto na Patagônia e no Atacama, próximo ao frio das montanhas andinas. A agricultura é praticada em dois modelos: subsistência nas pequenas propriedades e monocultivo nas grandes propriedades. PRODUTO PAÍS Café Colombia e Brasil Trigo Argentina Soja Brasil e Argentina Cacau Brasil, Venezuela e Ecuador Cana de açúcar Peru e Brasil Pera, uva e maça Argentina Laranja Brasil COZINHA DAS AMÉRICAS 39 Pecuária Argentina, Uruguay e Brasil Além dos aspectos relacionados à colonização do continente, podemos dizer que a América do Sul apresenta uma culinária bastante variada, considerando o processo migratório dos séculos XVIII, XIX e XX. Milho, pimenta, carne, café, tomate e banana fazem parte da cultura gastronômica de todos os países da região. PERU: ASPECTOS GEOGRÁFICOS, HISTÓRICOS E BASE ALIMENTAR O Peru é um país que possui uma área territorial de 1.285.216 km², banhado a oeste pelo Oceano Pacífico, e faz fronteira com o Chile ao sul, o Brasil e a Bolívia ao leste, além de Colômbia e Equador ao norte. Sua capital é Lima. Ainda segundo Lucci em seu livro, o clima no país é bem diversificado, com uma estação quente, de novembro e março, e outra fria, de abril a novembro. Porém, próximo à região da Amazônia, o tempo é mais chuvoso. Na agricultura, as principais plantações são de: Milho; Batata; Cana-de-açúcar; Café; Trigo; Algodão. A pesca é uma atividade econômica de destaque, tanto comercial quanto para recreação. Há vários pontos de pesca no país, como a região dos Andes, a corrente Humboldt do Pacífico e a região Amazônica. No que diz respeito à população, conforme dados presentes no livro Geografia del Perú: aspectos físicos, humanos y económicos, publicado em 2011 por Liliana de Olarte de Torres-Muga, 45% é constituída por ameríndios, 37% de mestiços e 15% de europeus, com os 3% restantes divididos entre africanos, chineses e japoneses. Em meio aos países da América do Sul, o Peru se destaca pela história e cultura local, visto que civilizações pré-colombianas ocuparam o território peruano muito tempo atrás. Não obstante, já é sabido que os espanhóis dominaram as antigas civilizações e foi neste processo que, em 1534, foi fundada a primeira cidade espanhola no Peru, com o nome de Cidade dos Reis. Foi nesta cidade, a atual Lima, que ocorreram as primeiras batalhas lideradas por Simón Bolivar em busca da independência, conquistada 300 anos depois da chegada dos espanhóis. COZINHA DAS AMÉRICAS 40 A miscigenação dos africanos com os povos indígenas, a chegada de europeus vindo da Itália, França, Inglaterra, Alemanha e Espanha, além dos chineses que chegaram após a abolição da escravatura, colaboraram pra formação de um país rico culturalmente. Há três idiomas oficiais no país, o espanhol, o quéchua e o aimará, sendo que o quéchua e o aimará são línguas nativas com lugar expressivo na sociedade. O peruano costuma realizar, em média, três refeições diárias: O café da manhã: café, chocolate ou chá, acompanhado por pão e fruta; Almoço: sopa, arroz com algum tipo de carne, leguminosa, vegetais e sobremesa; Jantar: refeição semelhante ao almoço. Não seria possível descrever o país sem comentar do turismo, que atrai pessoas de vários lugares do mundo, sendo que um dos roteiros mais procurados passa pelas cidades de Cuzco, Machu Picchu e Vale Sagrado, onde se situam vestígios da civilização inca. As artes como o artesanato, a dança, a música e os rituais são uma forma de comunicação muito valorizada pelos peruanos, que celebram diversas festas durante o ano. GASTRONOMIA E CULINÁRIA PERUANA A América Andina é uma parte do território da América do Sul que recebe essa denominação por estar na faixa da Cordilheira dos Andes. Os países da América Andina são: Peru; Bolívia; Chile; Colômbia; Equador; Venezuela. De acordo com o que consta no artigo sobre a América Andina, escrito por Wagner de Cerqueira e Francisco para o site Brasil Escola, o clima da região apresenta uma variação, sendo tropical, desértico e equatorial no sul do Peru e norte do Chile. Já em direção ao sul do Chile, as temperaturas esfriam e o clima é mediterrâneo e temperado. Nesta região, há cultivos agrícolas como: Cacau; Café; Batata; COZINHA DAS AMÉRICAS 41 Milho; Feijão; Tubérculos, raízes e grãos. De todos os países andinos, o Peru é o que mantem mais traços da cultura alimentar pré-colombiana, o que pode ser percebido em alguns ingredientes na culinária local, como pimentas, hortelã, quinoa, milho, batatas, além das carnes de lhama, alpaca, pato e cuy. Além desses alimentos, se consome no Peru muitos pratos à base de peixes e carnes. EXPLICANDO O cuy é uma das espécies nativas de porquinho-da-índia. É um alimento que representa muito bem a cultura alimentar dos incas na gastronomia do país. No modo de preparo tradicional, recolhido no site do Ministério de Comércio Exterior e Turismo peruano, o animal é untado com o ají e assado depois de ter sido esmagado no meio de duas pedras. Nas terras produtivas, também se desenvolve a agricultura familiar, onde se produz: Amendoim; Batata-doce e batatas; Arroz; Banana-da-terra; Milho. Quando se trata de influências gastronômicas, reconhecemos no Peru uma cozinha que recebeu contribuições de inúmeras culturas. Isso pode ser comprovado pelos ingredientes e preparações de práticas culinárias: De influência espanhola, temos os cozidos, as sopas, os temperos e os refogados; De influência árabe, os doces, temperos e especiarias; De influência africana, os miúdos, as sementes oleaginosas e o feijão. A China e o Japão aparecem com traços marcantes na gastronomia peruana. Conforme Luiz Hara diz no livro Culinária Nikkei: Receitas japonesas ao estilo latino-americano, de 2016, a culinária nikkei está no Peru há mais de cem anos e é bastante expressiva no contexto da gastronomia do país. No ano de 1899, com a assinatura de um acordo Japão-Peru, chegaram muitos japoneses para trabalhar no cultivo de cana-de-açúcar. Mesmo ao término do contrato de trabalhos, muitos optaram por permanecer. Logo, pelo significado da tradição alimentar pros japoneses, houve uma adaptação dos pratos da culinária japonesa pra peruana e vice-versa. Assim, nasce a culinária nikkei, nome que é utilizado COZINHA DAS AMÉRICAS 42 para designar os descendentes de japoneses que nasceram fora do Japão ou para japoneses que vivem no exterior. Com o fim do comércio escravo, os europeus buscaram mão de obra procedente da China, da Índia e de outros países asiáticos. Esses trabalhadores, conhecidos como Culíes, mantinham um contrato de trabalho de oito anos e poderiam retornar ao seu país de origem ao final do período. Foi desta maneira que chineses chegaram no Peru e, mesmo com a oportunidade de retornarem ao seu país, a maioria acabava ficando no continente, devido às dificuldades diante da crise política na China à época. Mediante essa condição, os chineses se estabeleceram na América e, a exemplo dos japoneses, passaram a cozinhar. Surge então
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