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LIDERANÇA, CULTURA E PODER NAS ORGANIZAÇÕES Marcia Maria da Graça Costa , 2 SUMÁRIO 1 FUNDAMENTOS DA CULTURA ................................................................. 3 2 CULTURA E CLIMA ORGANIZACIONAL ................................................... 15 3 PODER, AUTORIDADE E CONTROLE ....................................................... 38 4 LIDERANÇA E MOTIVAÇÃO .................................................................... 50 5 GESTÃO DE MUDANÇAS ORGANIZACIONAIS ......................................... 70 6 CULTURA ORGANIZACIONAL, INOVAÇÃO E RESPONSABILIDADE SOCIAL ................................................................................................................. 90 , 3 1 FUNDAMENTOS DA CULTURA Compreender a cultura de uma organização é um fator crítico de sucesso para entender os motivos pelos quais as pessoas se comportam de determinadas maneiras. Os estudos sobre a cultura contribuem para que as relações entre a cultura de uma sociedade e a cultura de uma organização sejam percebidas, fornecendo instrumentos valiosos para os gestores. Por esse motivo, antes de estudar a Cultura Organizacional, é preciso conhecer o que é cultura e como podemos estudar a cultura de uma sociedade. Assim, é possível interpretar a maneira como os elementos dessa cultura determinam o comportamento dos indivíduos que fazem parte dela. Outro aspecto fundamental para estudar a Cultura Organizacional é a compreensão do conceito de organização. Também é importante verificar como as organizações são formadas e de que maneira a cultura nacional reflete em sua cultura interna. Vamos começar? 1.1 Conceito de cultura A cultura é um tema que tem sido estudado por diversas áreas do conhecimento, em especial, a Antropologia e a Sociologia. Diversos pesquisadores têm se debruçado sobre a cultura, cada um trazendo diferentes contribuições, o que torna a definição do conceito de cultura mais difícil. Dentre esses estudos, destaca-se a definição do antropólogo Clifford Geertz (1926-2006). Cultura é um sistema de concepções expressas herdadas em formas simbólicas por meio das quais o homem comunica, perpetua e desenvolve seu conhecimento sobre atitudes para a vida. Sua função é impor significado para o mundo, tornando possível seu entendimento. (GEERTZ, 2001 apud MARCHIORI, 2017, p. 70). , 4 Com base nessa definição, é possível perceber que o termo ‘cultura’ pode ter diferentes significados, um deles está relacionado ao conhecimento, ao saber, à aquisição, em maior ou menor grau, de determinado tipo de conhecimento, tais como a linguagem, a arte, a ciência, a religião etc. Assim, a aquisição desses conhecimentos, pelo indivíduo, proporciona um maior ou menor grau de cultura. Essa definição traz grande limitação ao termo, pois retira de indivíduos e grupos a possibilidade de serem portadores de cultura, por não terem acesso a esses conhecimentos (CORRÊA, 2012). Outra forma de compreender a cultura é como a arte em geral e a sua produção, por exemplo, pinturas, gravuras, exposições, filmes, música, festivais, literatura, além das manifestações folclóricas. Uma terceira perspectiva da cultura é aquela que considera cultura tudo aquilo que é criado e aprendido pelo ser humano em um grupo social, dessa forma, todas as pessoas e todos os grupos sociais têm cultura, e ela os diferencia dos demais grupos. O que fazem, o que comem, o que vestem, o que pensam, como conversam, como se relacionam, que ferramentas utilizam, que esporte preferem, o que consideram feio ou bonito, bom ou mau e assim por diante, tudo isso está relacionado com a cultura à qual o indivíduo pertence (CORRÊA, 2012; DIAS, 2013). Esse é o enfoque utilizado nesta disciplina. A partir desse entendimento, a definição de cultura que iremos utilizar é: Dessa forma, tudo aquilo que o ser humano consegue aprender, fazer, usar, produzir e conhecer nos grupos sociais aos quais pertence é cultura. Cultura é tudo aquilo que é criado e aprendido pelo ser humano num grupo social, compreendendo o conjunto de conhecimentos, símbolos, experiências, costumes, comportamento etc. , 5 1.2 A construção cultural A cultura compreende a totalidade das criações humanas, como as ideias, valores, a arte, crenças, instituições, conhecimentos, instrumentos, vestuário, alimentação, construções etc. Nesse contexto, tudo o que o ser humano constrói, e que não tem relação com o seu instinto natural, é a uma forma de produção cultural. É por isso que a cultura é uma característica exclusiva dos seres humanos. Como os animais são guiados pelo instinto, são incapazes de criar cultura. Outro fator importante é que a cultura não é uma herança biológica, ao contrário, ela é transmitida pela socialização, ou seja, ela é aprendida através de determinado grupo social (DIAS, 2013). É por isso que a cultura é considerada um processo cumulativo, que ocorre como resultado da experiência das gerações anteriores, que podem limitar ou expandir a ação criativa do homem. Nesse processo, a cultura é perpetuada e recriada, e o ser humano é o resultado do grupo social ao qual pertence, herdando os resultados desse processo cumulativo que representa tudo o que foi aprendido e criado pelas gerações anteriores (CORREA, 2012; DIAS, 2013) Tudo isso comprova que o homem, ao se distanciar do instinto biológico, passando a criar novas formas de organização, novos objetos, novos materiais, cria um novo ambiente, próprio para a sua existência, diferente do ambiente natural – que passamos a chamar de “cultural”. Ao criar a cultura, ele cria para si um ambiente que é favorável para sua sobrevivência e lhe permite enfrentar com sucesso o ambiente natural (CORRÊA, 2012; DIAS, 2013). 1.3 Manifestações culturais A cultura carrega grande dose de intencionalidade na sua construção. Sob tal enfoque, tudo o que é criado pelo ser humano, a partir do que é dado pela natureza, tomando e recriando as coisas naturais em objetos e utensílios da vida social, são manifestações de um determinado grupo social. Por isso, podemos conhecer uma cultura através de , 6 suas manifestações, examinando os elementos culturais existentes dentro de um território ocupado por determinada comunidade cultural (CORRÊA, 2012; DIAS, 2013). Tabela 1.1 – Manifestações da cultura Vida material Se refere, de modo geral, à produção necessária para garantir a sobrevivência, ou seja: as ferramentas, os conhecimentos, as técnicas, os métodos e processos que uma cultura utiliza para produzir, distribuir e consumir bens e serviços. Interações sociais Estabelecem os papéis que a população assume e os padrões de autoridade e responsabilidade. Estes são confirmados pelas instituições da sociedade, que os reafirmam. Linguagem É considerada como parte da cultura não somente no sentido oral, mas se estende à totalidade da comunicação simbólica, incluindo a fala, os gestos, as expressões e outros mecanismos de manifestação do indivíduo. Dependendo da região onde é utilizada, uma palavra poderá ter diferentes significados. Estética Revela os conceitos de beleza e sua expressão, que são apreciados em determinada cultura e incluem todo tipo de arte e manifestação cultural expressa pelas diferentes camadas sociais numa determinada sociedade. Do mesmo modo, os símbolos que uma pessoa utiliza para comunicar sua posição social variam em cada cultura. Religião Influencia a percepção que uma cultura possui sobre a vida, seu significado e seu conceito. As tradições religiosas podem inibir o desenvolvimento de determinadas estruturas organizacionais, pois afetam o modo de vida de diversas formas: estabelece relações de autoridade, os deveres dos indivíduos e suas responsabilidades, entre outras. Hábitos alimentaresEstão entre os elementos mais significativos na constituição de uma cultura. A obtenção, preparação e consumo de alimentos estão inter-relacionados com muitos outros elementos universais de qualquer cultura como: as cerimonias, festas, tradições e a divisão do trabalho. Fonte: elaborado pela autora com base em Dias (2013, p. 53-54). , 7 O processo de globalização tem tornado as fronteiras culturais cada vez mais tênues, pois elementos de diversas culturas se entrelaçam em virtude da comunicação entre países viabilizada pelos meios digitais. Outro fator que torna essas fronteiras menos sedimentadas é a mobilidade da população mundial. Além dos refugiados que deixam seus países, por diversos fatores (guerras, pobreza, fome etc.), em busca de uma vida melhor; a existência de empresas transnacionais tem levado inúmeros profissionais a atravessar fronteiras para garantir sua posição no mercado de trabalho (CORREA, 2012; MARCHIORI, 2017). 1.4 Culturas nacionais e multicultura A palavra multicultura tem sido utilizada para descrever as culturas nacionais, como a brasileira, no sentido de demonstrar as diversas culturas que se entrelaçam. Essa multicultura é caracterizada pelas formas e modos como os sujeitos sociais se apropriam dos elementos existentes na cultura daquela sociedade. Em sua origem, a cultura brasileira foi formada a partir de elementos originados das culturas portuguesa, africana e indígena. No entanto, à medida que a migração se intensificou, com a chegada de outros povos, tais como italianos e japoneses, cada vez mais elementos se misturaram dando origem a novos elementos, decorrentes do processo de interculturalidade. O que há em comum é uma matriz que une diferentes grupos sociais, cujos costumes são diferentes, mas que agregam algo que passa a fazer sentido para um determinado grupo com a introdução de seus próprios elementos (CORREA, 2012). Vejamos um exemplo: a pizza. É um alimento tipicamente italiano, mas que assume outras abordagens aqui no Brasil, inclusive com diferenças regionais. Em Belém (Pará), foi criada a pizza com recheio de camarão, jambu e muçarela. Essa combinação mostra elementos da cultura italiana, com a massa e o queijo; mas também elementos regionais, como o jambu e o camarão. Essa pizza apresenta , 8 significados e sentidos próprios, tanto na composição do prato, como em seus sabores, odores e a própria estética. Dessa forma, a cultura é utilitária, adaptativa e funcionalmente integrada; não apenas uma coleção de características, mas um conjunto inter-relacionado, e articulado a uma estrutura social (CORREA, 2012; MARCHIORI, 2017). De qualquer forma, a cultura de qualquer nação apresenta uma base de valores, padrões e modelos-comuns que nos permite identificá-la. No caso da cultura brasileira, há diversos componentes culturais integrados, ainda que se percebam variações regionais, tais como na linguagem (expressões e gírias, por exemplo), vestuário e alimentação típica, dentre outros. No entanto, é possível afirmar que existem pontos comuns, traços que podem ser identificados na maioria dos brasileiros. São esses pontos que determinam a maneira como os indivíduos se percebem como brasileiros (CORREA, 2012; SOUZA, 2014). Como as organizações fazem parte da sociedade, os elementos da sua cultura apresentam traços da cultura nacional, tais como os valores e os pressupostos básicos, que determinam o comportamento das pessoas. Dentre esses, podem ser destacados: conhecimento, crenças, arte, moral, direito, costumes e outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade. Nesse sentido, a cultura de um país pode se manifestar de diversas maneiras, como na forma que as pessoas se expressam e agem. É por isso que entender a cultura nacional é importante para administrar uma organização (SOUZA, 2014). 1.5 As organizações De acordo com Dias (2013, p. 11), a “palavra organização tem origem grega, organon que tem o significado de ferramenta ou instrumento.” A partir dessa origem, podemos compreender o conceito geral de organização como um instrumento utilizado pela humanidade para realizar atividades e atingir objetivos que não poderiam ser atingidos por um indivíduo isolado. Essa ideia de organização esteve presente em toda evolução , 9 da humanidade, basta lembrar da construção das pirâmides no Egito, do exército da Roma Antiga e a Igreja Católica. Todos esses exemplos mostram como a humanidade precisou criar organizações para atingir seus objetivos. A definição de organização pode ser ampliada, estabelecendo que as “organizações são entidades sociais (ou agrupamentos humanos) deliberadamente criadas e recriadas para atingir metas específicas. Corporações, exércitos, escolas, hospitais, igrejas e prisões incluem-se nessa definição; tribos, classes, grupos étnicos e família estão excluídos.” (ETZIONI, 1964 apud HALL, 2004, p. 28). Indo um pouco mais além, podemos afirmar que as [...] organizações são definidas como coletividades [...] que foram estabelecidas para a concretização de objetivos relativamente específicos de forma mais ou menos contínua. Deve, no entanto, ficar claro [...] que as organizações possuem características diferenciadoras, além da especificidade e continuidade da meta. Essas características incluem fronteiras relativamente fixas, uma ordem normativa, níveis de autoridade, um sistema de comunicação e um sistema de incentivos que permite, aos diversos tipos de participantes, trabalhar juntos para a realização de metas comuns. (SCOTT, 1964 apud HALL, p. 28). Com base nessas definições, pode-se concluir que nem todo grupo de pessoas pode ser chamado de organização, pois existem características comuns a qualquer organização, que devem estar presentes, como você poderá observar na figura a seguir. Figura 1.1 – Características das organizações Fonte: DIAS (2013, p. 4). , 10 Para compreender melhor essas características, vamos explorar cada uma delas. Confira os detalhes na tabela abaixo. Tabela 1.2 – Características das organizações Cooperação A organização surge pelo reconhecimento de que sozinho o indivíduo não consegue atingir inúmeros objetivos, por isso, deve contar com outros para atingir objetivos em comum através da coordenação de seus esforços. Dessa forma, a base de construção de qualquer organização é a cooperação entre diversos indivíduos. Divisão do trabalho Para que a coordenação de esforços seja eficiente, é preciso que haja uma divisão clara de trabalho entre os indivíduos que integram a organização. Os esforços coordenados da atividade de todos é o que multiplica a capacidade individual, fazendo com que a organização tenha uma capacidade de trabalho superior à soma daquilo que cada indivíduo é capaz. Objetivos comuns Os indivíduos irão cooperar se tiverem objetivos em comum, ou seja, qualquer organização surge com fins ou objetivos bem determinados. Dessa forma, a existência das organizações está associada ao fato de que elas fazem as coisas acontecerem. É por isso que os estudos sobre organizações não podem ser compreendidos sem considerar seus objetivos. Existência de normas Para que a cooperação seja eficaz, e os objetivos sejam atendidos, é necessário que haja regras. Elas são fundamentais em qualquer organização, estabelecendo um acordo que especifique o que cada um faz, de que modo, e quais são os direitos e os limites daqueles que desenvolvem as atividades essenciais para o funcionamento da entidade. Fonte: elaborado pela autora com base em DIAS (2013, p. 4-6) e HALL (2004, p. 28-30). , 11 As organizações e o ambiente Para atingir seus objetivos, as organizações estão sujeitas às condições impostas por seu ambiente sociocultural. Nesse contexto, elas são agentes sociais que cumprem seu papel em um complexomaior e mais articulado da sociedade, ou seja, elas desempenham funções sociais, tais como a produção econômica, a segurança, a educação, dentre outras. Dessa forma, as organizações substituem grupos que anteriormente exerciam essas funções, como a família e a comunidade. Para assumir essas tarefas, é preciso que elas detenham os meios necessários para a execução, além de obter legitimidade social suficiente para superar a resistência dos grupos cujas funções foram substituídas. Nesse movimento, as mudanças do ambiente social têm contribuído, ao longo da história, para que surjam novas organizações e novas formas organizacionais (HALL, 2004). Nesse sentido, toda organização apresenta um grau variável de dependência em relação ao seu ambiente, o que exige estratégias internas para administrar as pressões recebidas. As escolhas sobre como isso será realizado são feitas no interior da organização, por meio de processos de tomada de decisão, o que inclui suas instâncias e níveis de poder. Os limites que as pressões ambientais impõem a uma organização, portanto, são resultado das escolhas internas feitas pelos grupos dominantes (HALL, 2004). Ao mesmo tempo em que as organizações são afetadas pelo ambiente social no qual estão inseridas, elas também exercem influência nesse ambiente. De maneira geral, quanto maiores as organizações, maior é o seu poder de influenciar o seu entorno. Como agentes sociais que mantêm o controle de bens e serviços, definem novos relacionamentos sociais no ambiente em que estão inseridos, provocando alterações no ambiente sociocultural. Nesse sentido, “as organizações são protagonistas na sociedade, em todos os âmbitos em que se estrutura (privado e público)”, influenciando e determinando a vida de outros agentes sociais (DIAS, 2013, p. 29). A partir dessa perspectiva, as organizações são definidas por alguns autores, por exemplo, Maximiano (2012), como complexos sistemas abertos e que interagem com , 12 o ambiente externo. Por esse enfoque sistêmico, toda organização é formada por elementos ou subsistemas interdependentes, dos quais o autor destaca aqueles que se influenciam mutuamente: o subsistema técnico e o social. O subsistema técnico é composto pelos componentes tangíveis e intangíveis que, de alguma forma, não dependem das pessoas, tais como os objetivos, a divisão do trabalho, a tecnologia, as instalações, os processos e procedimentos etc. Por outro lado, o subsistema social tem a sua conformação baseada no comportamento e nas atitudes dos membros e grupos, tais como as relações sociais, os grupos formais e informais, a cultura e o clima organizacional. Nesse ambiente social complexo, as organizações assumem papel relevante na produção e oferta de bens e serviços necessários à vida em sociedade. Assim, elas estão presentes nos três setores da economia: público, privado e no terceiro setor. Figura 1.2 – Organizações nos setores da economia Fonte: elaborado pela autora com base em DIAS (2013). , 13 No setor público, elas são representadas pelos órgãos e agentes da administração pública direta e indireta. No terceiro setor, temos as Organizações não governamentais (ONGs), fundações, entidade filantrópicas dentre outros. No âmbito privado, temos as organizações comerciais ou empresas. Em relação às empresas, e suas relações com a cultura, Dias (2013) destaca que As empresas, em particular, provocam profundas mudanças no ambiente sociocultural, pois criam um mercado de trabalho onde se instalam, contribuem para a estratificação social, através da produção de mercadorias produzem valores de uso (bens úteis) e valores de troca e criam identidades, não só dentro das empresas, mas também com os produtos que geram vinculados a status. (DIAS, 2013, p. 10). Sob tal enfoque, o processo evolutivo da humanidade tornou as organizações partes fundamentais da sociedade, que passou a depender delas para suprir suas diversas necessidades. Assim, é possível compreender as organizações como o principal meio pelo qual uma determinada sociedade cresce e se mantém. É por isso que são consideradas subculturas de uma cultura nacional, portanto, compartilham com a sociedade os seus elementos (DIAS, 2013). REFERÊNCIAS CORRÊA, R. L. T. Cultura e diversidade. Curitiba: InterSaberes, 2012. DIAS, R. Cultura organizacional: construção, consolidação e mudanças. São Paulo: Atlas, 2013. HALL, R. H. Organizações: estrutura, processo e resultados. (Roberto Gailman trad.). São Paulo: Prentice Hall, 2004. MARCHIORI, M. R. Cultura e comunicação organizacional: um olhar estratégico sobre a organização. São Caetano do Sul: Difusão Editora, 2017. MAXIMIANO, A. C. A. Teoria geral da administração: da revolução urbana à era digital. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2012. , 14 ROBBINS, S. P. Fundamentos do comportamento organizacional. (Reynaldo Marcondes trad.). São Paulo: Prentice Hall, 2004. SOUZA, C. P. S. Cultura e clima organizacional: compreendendo a essência das organizações. Curitiba: InterSaberes, 2014. , 15 2 CULTURA E CLIMA ORGANIZACIONAL As organizações, assim como as pessoas, podem apresentar traços e características que auxiliam na análise e compreensão do comportamento e das atitudes das pessoas que integram essas organizações. Assim como outros grupos sociais possuem elementos que definem a maneira correta de os indivíduos se comportarem, tanto com os integrantes do grupo como em relação aos que vem de fora, as organizações também possuem elementos que governam o comportamento de seus membros. O conjunto desses elementos é expresso na sua Cultura Organizacional. É por isso que estudaremos em que consiste essa cultura, bem como o seu impacto nas atitudes e no comportamento dos colaboradores. Também veremos como essa cultura é construída e de que maneira deve ser gerenciada para garantir que os objetivos organizacionais sejam atingidos. Um dos aspectos relevantes para a análise é o conhecimento dos elementos que integram a cultura organizacional, e como podem ser observados em vários níveis. Além disso, por ter papel relevante, também precisamos saber identificar as subculturas que estão presentes no ambiente organizacional. Como resultado da sua cultura, as organizações também apresentam um clima característico. Assim, o clima organizacional é uma manifestação da cultura que, embora possa se manifestar em termos individuais, tem origem cultural. O conhecimento do clima organizacional oferece informação acerca dos processos que determinam os comportamentos organizacionais, permitindo planejar a gestão e a mudança com o objetivo de criar e manter um clima favorável. Dessa forma, a organização poderá gerar forças atrativas que procuram a coesão do grupo e favorecem a cooperação, a moral e a eficácia. , 16 2.1 Cultura Organizacional A cultura organizacional, assim como a cultura de maneira mais ampla, também tem sido objeto de estudo de vários pesquisadores, como atestam Souza (2014) e Dias (2013). No entanto, esses autores afirmam que um dos mais consagrados pesquisadores sobre o tema é Edgar Schein (1928-). Portanto, para iniciar a conceituação de cultura organizacional, utilizaremos a definição desse autor. A cultura organizacional é o conjunto de pressupostos básicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu para lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna, os quais funcionam bem o suficiente para serem considerados válidos e ensinados a novos membros como a forma correta de perceber, pensar e sentir. (SCHEIN, 2017, p. 14). Schein chegou a essa definição com base na identificação de dois problemas com os quais qualquer grupo deve aprender a conviver. Um dos problemas é a garantia de sobrevivência e de adaptação ao ambienteno qual o grupo está inserido. O outro, está relacionado à necessidade de haver integração interna ao grupo para que as atividades sejam realizadas, e o grupo possa aprender e adaptar-se. No processo de resolução desses problemas, os grupos desenvolvem um conjunto de crenças e suposições sobre a natureza e os relacionamentos humanos (SCHEIN, 2017). Robbins (2004), traz contribuições acerca do conceito de cultura organizacional, estabelecendo a existência de um consenso sobre tratar-se de um sistema de valores compartilhado pelos colaboradores, gestores e outros participantes da organização. Esse consenso torna cada organização diferente das demais. Para o autor, “a cultura organizacional se refere à maneira pela qual os funcionários percebem as características da cultura da empresa, e não ao de eles gostarem ou não delas.” (ROBBINS, 2004, p. 378). Ainda segundo Robbins (2004, p. 254), compreender que a cultura organizacional tem características comuns não significa que ela é homogênea, pois existem subculturas na organização, em especial, naquelas de maior porte. Nessas situações, percebe-se a presença de uma cultura dominante, que expressa os valores fundamentais compartilhados pela maioria dos membros. É por isso que, ao se referir à cultura de , 17 uma organização, é dessa cultura dominante que se está tratando. Caso as organizações fossem compostas apenas de diversas subculturas, sem que houvesse uma cultura dominante, não haveria uma interpretação macro e geral dos comportamentos considerados apropriados ou não. “É o valor compartilhado da cultura organizacional que a torna um instrumento poderoso para orientar e modelar o comportamento.” Para auxiliar o entendimento do sentido da cultura organizacional, Dias (2013) apresenta alguns traços que podem ser considerados. Eles estão consolidados na tabela a seguir. Tabela 2.1 – Traços da cultura organizacional A cultura organizacional apresenta um sistema de significados compartilhados. Esse sistema determina o limite no qual se desenvolve a ação social e regula as relações sociais por meio de comportamentos padronizados e institucionalizados, que são aceitos por todos os membros da organização. A cultura organizacional é uma construção coletiva determinada pela ação social. Para pertencer e ter uma identidade organizacional, o indivíduo precisa se identificar com as formas de conduta consolidadas ao longo do tempo e que irão conduzir seu comportamento. O sistema de significados compartilhados traz elementos diferentes. Essas diferenças caracterizam uma organização em relação às outras, mas também diferenciam grupos no interior da organização. Assim, surgem as subculturas que apresentam uma dinâmica própria, mas que estão articuladas ao contexto mais geral da cultura organizacional. A cultura organizacional é adquirida por meio do processo de socialização. A aprendizagem pode ocorrer por ações formais da organização e nas relações informais entre os membros da organização. A cultura organizacional é dinâmica. Os indivíduos aprendem a cultura e reafirmam sua conduta com base nesse aprendizado, mas também podem transformá-la. Fatores externos à organização, presentes no seu ambiente, também são fatores de mudança. Fonte: adaptado de DIAS (2013, p. 91-92). , 18 Formação, consolidação e mudança da cultura organizacional As origens da cultura estão relacionadas aos fundadores da organização. Eles são responsáveis pela visão inicial de como ela deve ser desde o início, o que facilita a imposição da visão dos fundadores aos membros. Ao serem formados os grupos iniciais que colocam em prática a visão dos fundadores, os valores e crenças vão sendo mesclados e compartilhados, dando origem aos primeiros valores, crenças e pressupostos que dão sustentação à cultura (DIAS, 2013; ROBBINS, 2004). Com a cultura estabelecida, outras lideranças e novos integrantes contribuem para a consolidação dessa cultura, que é mantida enquanto funciona na solução dos problemas de convivência e de adaptação da organização. Muitas práticas adotadas funcionam como elementos que auxiliam no processo de consolidação e manutenção da cultura, tais como o processo de seleção de novos integrantes, as políticas de avaliação de desempenho, os programas de capacitação, os critérios de progressão de carreira e o sistema de recompensas. A consolidação da cultura não é um processo estático, pois é necessário que haja renovação constante para que se garanta a adaptação da organização ao ambiente interno e externo (DIAS, 2013; ROBBINS, 2004). Por mais eficiente que seja o processo de renovação da cultura para atender às demandas dos ambientes interno e externo, garantindo a adaptação e a integração, alterações no ambiente externo (econômicas, políticas, comerciais etc.) fazem com que esse processo de renovação não seja suficiente. Nessa situação, percebesse uma queda de competitividade e dos resultados, levando à necessidade de uma mudança cultural profunda (DIAS, 2013). Esse processo pode ser observado na figura a seguir. , 19 Figura 2.1 – Processo de formação da cultura organizacional Fonte: DIAS (2013, p. 116). Funções da cultura organizacional A cultura funciona como o elemento aglutinador dos diversos indivíduos que integram uma organização. Nesse contexto, ela cumpre diversas funções. Primeiro, desempenha o papel de definidora de fronteiras, ou seja, cria distinções entre uma organização e as outras. Segundo, proporciona um senso de identidade aos membros. Terceiro, facilita o comprometimento com algo que se sobrepõe aos interesses individuais. Quarto, estimula a estabilidade social. A cultura é a argamassa social que ajuda a manter a organização coesa fornecendo os padrões adequados para fundamentar o que os funcionários vão fazer ou dizer. Por fim, atua como sinalizador de sentido e mecanismos de controle a fim de orientar e dar forma às atitudes e aos comportamentos dos trabalhadores (ROBBINS, 2004, p. 254-255). Dias (2013), apresenta um detalhamento maior das funções da cultura, expandindo o escopo de cada aspecto que se articula com as funções apresentadas por Robbins (2004). Confira esses desdobramentos na tabela a seguir. , 20 Tabela 2.2 – Funções da cultura organizacional Função Normativa Integradora dos processos culturais, orientando os membros do grupo com base nas regras de conduta e modelos estabelecidos, tem uma base racional, uma dimensão associada ao sistema de regulação da organização. Função moral Opera a integração e a coesão com base nos valores organizacionais, orienta os membros a seguirem uma ética correspondente aos princípios estabelecidos pela organização, tem uma base mais emocional associada à identificação da ação com os valores morais assumidos pelo grupo. Funções de adaptação externa Missão e estratégia: a cultura permite o entendimento comum e compartilhado acerca da missão central da organização, de seu objetivo principal e das funções que estão relacionadas ao sucesso da missão e à implantação da estratégia. Metas: a missão da organização é desdobrada em metas, e a cultura proporciona um consenso sobre essas metas e faz com que as diferentes visões se integrem e passem a constituir uma parte da cultura comum. Meios: da missão e das metas comuns, compartilhadas como elementos centrais da cultura, é obtido o consenso sobre os meios a serem utilizados para alcançar as metas. Neste nível ocorre a interação entre o exterior e o interior da organização. Mensuração: a cultura da organização proporciona um consenso básico sobre os critérios que devem ser utilizados para medir os resultados obtidos, em relação às metas e à missão. Correção: a cultura proporciona consenso sobre o tipo e a profundidade das estratégiasde correção a serem utilizadas se as metas não forem alcançadas. Funções de integração interna Linguagem comum e categorias conceituais: se os membros não podem se comunicar, nem se entender entre si, é impossível a formação do grupo. A cultura proporciona uma linguagem e conceitos próprios e comuns a todos. , 21 Limites do grupo e critérios para inclusão e exclusão: uma das áreas mais importantes da cultura, trata-se do estabelecimento por consenso de quem está dentro e quem está fora, e os critérios que determinam a integração. Poder e hierarquia: a cultura proporciona os critérios para implantação de uma ordem hierárquica, com regras que estabelecem como se obtém, se conserva e se perde o poder. O consenso nessa área é fundamental para o controle dos sentimentos de ansiedade e agressividade. Intimidade, amizade e amor: trata-se das regras do jogo sobre as relações iguais, as relações entre sexos, e sobre o modo de orientar a confiança e a intimidade de acordo com as metas da empresa. Recompensas e punições: a cultura permite que todo grupo saiba quais são as condutas heroicas e pecaminosas; sobre o que deve ser recompensado e o que deve ser punido. Fonte: adaptado de DIAS (2013, p. 236-248). De acordo com Schein (2017) e Dias (2013), a cultura organizacional também pode criar disfunções que prejudicam a capacidade de resolver os problemas de convivência interna e adaptação externa. Essas disfunções são desvios no comportamento coletivo, que não são percebidas pelos membros do próprio grupo ou organização. São exemplos de disfunções da cultura: • Dificuldade de entender e processar mudanças ambientais; • Resistência generalizada à necessidade de mudança interna; • Dificuldade de aceitar outras culturas e pontos de vista alheios; • Tendência a subestimar outros grupos, especialmente concorrentes e clientes; • Uso excessivo de jargão ou vocabulário ocupacional, como disfarce de solidez intelectual, prejudicando a comunicação com outros grupos; • Tendência a utilizar mais recursos para cuidar da própria organização do que no desempenho da missão ou no atendimento aos clientes. , 22 2.2 Níveis e elementos da cultura organizacional A cultura de uma organização pode ser analisada em diferentes níveis, ou seja, a partir do grau em que os aspectos culturais podem ser visíveis ao observador. Esses níveis variam desde manifestações visíveis e tangíveis, até aqueles não observáveis e que se encontram impregnados de forma inconsciente no imaginário da organização. Trata-se de uma construção em camadas, cada uma delas apresentando elementos que permitem compreender os motivos pelos quais os indivíduos de uma organização apresentam determinados comportamentos e atitudes (SCHEIN, 2017). Uma visão dessas camadas pode ser observada na figura a seguir. Figura 2.2 – Níveis da cultura organizacional Fonte: elaborada pela autora com base em SCHEIN (2017, p. 24). A. Artefatos Destacam-se como os componentes mais visíveis de uma cultura organizacional. De maneira geral, compreendem: a arquitetura, a utilização dos espaços (layout), as vestimentas e os recursos disponíveis para o trabalho. Schein (2017) e Souza (2014) destacam a importância de observar esses artefatos, conforme segue. , 23 • Arquitetura: As organizações diferem umas das outras em sua arquitetura. Algumas empresas privilegiam o tamanho e a imponência, outras utilizam a arquitetura para projetar uma imagem de modernidade e tecnologia avançada, usando novos materiais na construção de seus edifícios; • Utilização do espaço: Permite identificar qual é o arranjo físico, se as pessoas trabalham em um ambiente que dá a impressão de igualdade, a limpeza e a arrumação, a preservação do silêncio, dentre outros. Em escritórios, fábricas e instalações de prestação de serviços, os hábitos e as atitudes em relação à organização, limpeza, estética, qualidade e a outros aspectos se revelam na forma como o espaço é utilizado. • Vestimentas: A maneira como as pessoas se vestem é outro ingrediente da cultura organizacional. As pessoas se vestem de maneira informal ou formal? Predominam as vestimentas clássicas ou as roupas casuais? Vestem-se todos de maneira diferente uns dos outros ou usam uniformes? Projetam uma imagem de cuidado com a aparência ou de desleixo? • Recursos disponíveis: Quantidade, variedade, atualidade e a simples aparência dos recursos também revelam atitudes e hábitos, bem como a disponibilidade de recursos. Há abundância ou escassez de recursos? Os equipamentos parecem estar atualizados ou são obsoletos? Schein (2017) acrescenta que os processos organizacionais também estão entre os artefatos, pois é por meio deles que o comportamento se torna rotineiro; bem como outros elementos que conduzem as atividades da organização e moldam suas atitudes, como as descrições formais do funcionamento das atividades, fluxogramas e organogramas. A primeira impressão que um visitante ou novo funcionário recebe é produzida por esses componentes mais visíveis da cultura da organização. Ao mesmo tempo, esses componentes também fornecem aos recém-chegados algumas indicações sobre como , 24 se comportar. Assim como outros aspectos visíveis da cultura organizacional, por trás dos artefatos estão hábitos, atitudes e valores que requerem mais tempo para serem compreendidos. Dias (2013) destaca que os artefatos, como manifestações culturais, expressam significados acerca das organizações e transmitem mensagens internas e externas. As diferenças entre tamanhos de salas e mesas, por exemplo, são indicadores que permitem analisar as instâncias de poder e de autoridade. B. Valores e crenças Os valores são elementos abstratos que servem de base para orientar e moldar o comportamento dos indivíduos na organização. Como concepções compartilhadas do que é importante e desejável, eles não apenas influenciam o comportamento como orientam a tomada de decisão. É por meio deles, portanto, que os membros analisam o que é certo ou errado, o que deve ser aceito ou não, o que é adequado ou inadequado. Eles constituem o ideal daquilo que é importante para a organização e funcionam como modelos abstratos para a atuação das pessoas, fundamentando as normas de conduta da cultura organizacional. Assim, os indivíduos compreendem que trabalhar de acordo os valores gera aceitação e reconhecimento e que o contrário implica punições, repúdio e exclusão do grupo (DIAS, 2013; SOUZA, 2014; SCHEIN, 2017). Cabe destacar que os sistemas de valores organizacionais, aceitos e compartilhados por seus membros, convivem com os sistemas de valores próprios dos indivíduos (que foram aprendidos no processo de socialização anterior a sua entrada na organização). Por esse motivo, os esforços da organização para absorção e aplicação dos seus valores tem como pré-requisito o conhecimento desses valores individuais (DIAS, 2013). É por esse motivo que cada vez mais empresas utilizam instrumentos para conhecer os valores individuais dos candidatos, em seus processos seletivos, procurando identificar , 25 aqueles cujos valores estão mais alinhados ao sistema de valores organizacionais. Essa base é necessária para a construção de políticas e práticas organizacionais que estimulem a adoção dos valores organizacionais, normalmente associadas aos sistemas de motivação, reconhecimento e recompensas (DIAS, 2013; SOUZA 2014). Podem ser destacadas, segundo Dias (2013, p. 212), três funções essenciais que os valores cumprem nas organizações: “eles orientam o comportamento dos membros da organização; têm papel determinante na formação de outros elementos da cultura, como os heróis, mitos, rituais etc.; e cumprem o papel de criação e reforço de identidade no pessoal da organização, o que permite uma atuação harmoniosae eficaz dos integrantes da empresa.” Dias (2013), apresenta uma relação com diversos exemplos de valores que fazem parte do ambiente organizacional contemporâneo, conforme a tabela a seguir. Tabela 2.3 – Relação de valores organizacionais Fonte: DIAS (2013, p. 202-203). Quando os valores são interiorizados, eles influenciam o comportamento das pessoas de maneira espontânea, natural e automática, muitas vezes de forma inconsciente; e constituem o núcleo da cultura organizacional. É por isso que a figura 2.2 apresenta , 26 uma linha de separação da visibilidade justamente na camada que representa os valores e crenças. As crenças apresentam diferenças em relação aos valores. Enquanto os valores são princípios, ideias ou padrões de comportamento, as crenças são convicções geralmente aceitas como verdadeiras. Elas influenciam os valores, as atitudes e os comportamentos. De maneira geral, são aceitas como verdadeiras, sem a necessidade de uma demonstração concreta, evidência ou prova. Eliminam as dúvidas acerca da atuação cotidiana porque apresentam os caminhos de ação e conduta aos membros da organização, uma vez que constituem o imaginário e a consciência coletiva da organização (DIAS, 2013). Pressupostos básicos O nível dos pressupostos básicos contém os elementos tidos como as “verdades” da organização, aquelas suposições inquestionáveis e que funcionam como certezas tácitas e profundas. Para Schein (2014), os pressupostos não podem ser explicados de maneira consciente, uma vez que são resultado de um processo de aprendizado longo e contínuo. Para o autor, quando determinadas soluções são utilizadas, e resolvem os problemas organizacionais, de maneira repetida, elas se tornam verdades inquestionáveis. Dessa forma, outras premissas se tornam inconcebíveis como soluções aplicáveis aos problemas organizacionais. Essas suposições básicas não costumam ser questionadas, confrontadas ou debatidas e se tornam muito difíceis de mudar. O aprendizado de outras premissas e soluções, no nível dos pressupostos, exige a análise e a possível aplicação de mudanças no nível mais estável da estrutura da cultura organizacional. Para o autor, trata-se de um processo de aprendizagem difícil, porque o questionamento e a discussão das suposições básicas , 27 desestabiliza temporariamente nosso mundo cognitivo e interpessoal, revelando grande ansiedade básica. Em vez de tolerar tais níveis de ansiedade, tendemos a desejar perceber que os eventos que nos cercam são congruentes com nossas suposições, mesmo se isso significar distorção, negação, projeção ou outras formas de falsear para nós mesmo o que possa estar ocorrendo ao nosso redor. (SCHEIN, 2017, p. 24). Nesse contexto, a cultura organizacional, como um conjunto de suposições básicas, define o que as coisas significam, como reagir emocionalmente ao que ocorre e que ações adotar em vários tipos de situação. Uma vez desenvolvido esse mapa mental, os indivíduos se sentem confortáveis com aqueles que compartilham o mesmo mapa, no entanto, quando se deparam com suposições diferentes, ocorre a sensação de vulnerabilidade e desconforto. Elementos da cultura organizacional Há diversos elementos que podem ser identificados na cultura de uma organização e que podem ser considerados em relação à forma como essa cultura é transmitida e perpetuada. Em Souza (2014) podemos obter uma síntese desses elementos, como mostra a tabela a seguir. , 28 Tabela 2.4 – Formas de transmissão da cultura organizacional Elemento Descrição Cerimônias Eventos especiais nos quais os membros da organização celebram os mitos, os heróis e os símbolos da empresa. Exemplo: cerimônia de premiação às equipes comerciais por atingir resultados de vendas. Ritos Atividades cerimoniais destinadas à comunicação de ideias específicas ou à realização de determinados propósitos. • Ritos de passagem: treinamento de integração para facilitar a transição do candidato aprovado para membro do grupo; • Rito de reforço: premiação aos colaboradores com melhor resultado. Reforço da identidade e aumento do status; • Rito de renovação: reunião de planejamento anual, análise dos resultados obtidos e elaboração das ações para o ano seguinte; • Rito de integração: festas de final de ano. Incentiva e revigora os valores comuns que mantém a integração do grupo; Rituais Ações regularmente repetidas para reforçar normas e valores culturais. Histórias Relatos de eventos passados que ilustram e transmitem normas e valores culturais mais profundos. Mitos Histórias fictícias que ajudam a explicar atividades ou eventos que, se explicados de outro modo, poderiam ser confusos. Heróis Pessoas de sucesso que corporificam os valores e o caráter da organização e de sua cultura. Símbolos Objetos, ações ou eventos dotados de significados que permitem a troca de ideias complexas e mensagens emocionais pelos membros da organização. Linguagem Conjunto de símbolos verbais que geralmente refletem a cultura particular da organização. Fonte: elaborado pela autora com base em SOUZA (2014, p. 31-33). 2.3 O processo de socialização organizacional A socialização organizacional, de acordo com Dias (2013), corresponde ao processo de aquisição do conhecimento e das experiências que são necessárias aos indivíduos para realizar o seu trabalho na organização, de acordo com a cultura vigente. Ele , 29 compreende não apenas os aspectos técnicos e processos associados ao trabalho, mas também incluem a aprendizagem dos papéis que os novos membros irão desempenhar na estrutura organizacional. De acordo com Robbins (2004), esse processo tem início antes mesmo do novo colaborador ser contratado. Para o autor, a socialização ocorre em três estágios: pré- chegada, encontro e metamorfose. • Na pré-chegada, o candidato já inicia o processo de socialização ao pesquisar as características da empresa para a qual se candidata. Dessa busca de informações, surgem diversas expectativas em relação ao novo emprego; • O estágio de encontro tem início com o ingresso efetivo do novo membro, que passa por diferentes processos formais e informais de aprendizagem de comportamentos. É o momento em que ele começa a se comparar com os comportamentos exigidos pela organização, e também realiza o confronto entre suas expectativas e a realidade da organização. • Na metamorfose, as mudanças de comportamento ocorrem e se consolidam. O colaborador não apenas compreende as atividades relativas à função que exerce na empresa, como também desempenha seu papel com êxito, realizando os ajustes necessários para se adaptar aos valores, crenças e normas da organização. Para que esse processo ocorra de maneira adequada, garantindo a manutenção da cultura organizacional, Dias (2013) alerta que é necessário adotar uma série de práticas destinadas a esse fim. Confira uma síntese das práticas sugeridas pelo autor na figura a seguir. , 30 Figura 2.3 – Práticas de sustentação da cultura organizacional Fonte: elaborado pela autora com base em DIAS (2013, p. 275-277). Para Maximiano (2012), existem vários mecanismos utilizados pelas organizações para disseminação e manutenção de sua cultura. Dentre eles, podem ser destacados: • Descrições de cargos, manuais, políticas organizacionais e outros recursos da organização formal: Permitem aos membros ingressantes conhecer os aspectos formais da cultura que devem ser observados na prática profissional; • Ações de treinamento e integração: desenvolvidos para recém contratados, e também em momentos nos quais for necessário promover o reforço da cultura no ambiente da organização; • Orientação dos veteranos: os recém contratados encontram nos veteranos uma excelente fonte de disseminação da cultura da organização,pois a partir da observação ou da orientação direta, podem aprender o comportamento esperado e adequado. É preciso, no entanto, que esse processo seja acompanhado com cuidado, especialmente em momentos de renovação ou mudança organizacional, para que colaboradores mais antigos não reproduzam condutas inadequadas e que se encontram em processo de alteração. • Cerimônias de iniciação: eventos como visitas às diversas áreas da empresa, café da manhã, happy hour e outros que promovam a integração entre calouros e , 31 veteranos proporcionam uma aproximação dos calouros aos demais integrantes da organização, em um ambiente menos formal e mais caloroso. 2.4 Articulação entre cultura nacional e cultura organizacional De acordo com alguns autores, descritos por Souza (2014), a cultura organizacional é um resultado do fato de as organizações representarem subculturas de um amplo sistema cultural, pois fazem parte de uma sociedade e também da sua cultura. Nesse contexto, analisar a cultura de uma organização implica também identificar em que medida os traços da cultura nacional estão presentes no interior da organização. A autora apresenta um estudo no qual é possível identificar a importância e os impactos da cultura nacional na cultura das organizações, demonstrando as diferenças em contextos nacionais distintos. Essas diferenças foram agrupadas em quatro dimensões: distância do poder, individualismo e coletivismo, aversão à incerteza e masculinidade e feminilidade. , 32 Tabela 2.5 – Dimensões de análise da cultura nacional x organizacional Dimensão Cultura organizacional Distância do poder Representa o quanto os membros menos poderosos das instituições e organizações de um país esperam e aceitam que o poder seja distribuído de forma desigual. As organizações refletem a cultura nacional com alta ou baixa distância do poder. Os indicadores utilizados são: nível de desigualdade entre as pessoas, a dependência em relação aos mais poderosos, a estrutura hierárquica, o nível de centralização das decisões, as diferenças salariais e a existência de privilégios e símbolos de status. O Brasil foi incluído entre os países com alta distância do poder. Individualismo e coletivismo O individualismo refere-se a um estilo de vida menos preocupado com os interesses coletivos. O coletivismo diz respeito à postura na qual os interesses do grupo prevalecem sobre os interesses individuais. A cultura nacional reflete na organização configurando um ambiente onde os interesses coletivos ou individuais predominam. Os indicadores que demonstram essa prevalência são: relações entre empregado e empregador; critérios para recrutamento, seleção e promoção; gestão grupal ou individual; prevalência de relacionamento ou tarefa. O Brasil foi classificado com uma cultura coletivista. Aversão à incerteza Representa o quanto os nativos de determinado país sentem-se ameaçados por situações incertas. As organizações refletem a cultura nacional com alta ou baixa aversão à incerteza. Os indicadores são: nível geral de estresse e ansiedade; postura em relação ao diferente (curiosidade ou perigo); nível de ocupação do tempo com o trabalho; precisão e pontualidade; nível de tolerância a ideias e comportamentos não convencionais e inovações. O Brasil foi classificado com alto nível de aversão às incertezas. Masculinidade e feminilidade Masculinidade: preferência por realizações, heroísmo, assertividade e sucesso material. Feminilidade: preferência por relações pessoais, modéstia, cuidado com as fraquezas e qualidade de vida. Indicadores de análise Valores dominantes: atenção e cuidado X sucesso e progresso material. Relação com o trabalho: trabalhar para viver X viver para trabalhar. Perfil de gestão: intuição e consenso X decisão e autoafirmação. Aspectos valorizados: solidariedade e igualdade X competição. Solução de conflitos: negociação X confronto. , 33 Valorização do dinheiro e bens materiais: modéstia X importância das posses. O Brasil foi classificado como um misto de masculinidade e feminilidade. Fonte: elaborado pela autora com base em Souza (2014, p. 42-46). Como se pode observar pelos resultados do estudo, as características próprias da cultura dos países têm reflexo relevante na cultura das organizações situadas nesses países. Dessa forma, de acordo com Robbins (2004), a cultura nacional se sobrepõe à cultura organizacional, pois a cultura do país tem maior impacto sobre os colaboradores do que a organizacional. Dessa forma, por mais forte que seja uma cultura organizacional no sentido de orientar e conduzir os comportamentos e as atitudes de seus membros, a cultura do país sempre será mais influente. 2.5 Clima organizacional O clima organizacional é considerado um resultado da sua cultura. Alguns autores, como Robbins, Judge e Sobral (2010) entendem o clima organizacional como um resultado das percepções em comum que os colaboradores de uma organização têm sobre a empresa e o seu ambiente de trabalho. Schein (2004) afirma que o clima é um dos principais componentes da cultura, e o define como os sentimentos das pessoas no ambiente de trabalho, que interferem na sua interação interna e externa. Para o autor, o clima é um dos principais fatores que interferem na qualidade de vida no ambiente organizacional. Para Maximiano (2012), o clima está associado aos conceitos e sentimentos que os colaboradores compartilham acerca da organização, que podem afetar de forma positiva ou negativa sua satisfação e motivação no trabalho. Dias (2013), também aborda o clima organizacional no sentido de uma percepção coletiva, no entanto, utiliza uma definição mais ampla afirmando que o clima toma por base o conjunto de condições existente no ambiente da organização e que refletem no comportamento dos seus membros. Avaliando essas definições, é possível concluir que o clima , 34 organizacional é dinâmico, pois as condições do ambiente podem sofrer alterações e as percepções dos colaboradores também. Como reflexo da cultura organizacional, o clima tem características relativamente permanentes, e que se projetam a longo prazo. No entanto, algumas situações podem afetar o clima nas dimensões de curto e médio prazo. Como a expressão “clima organizacional” nasceu como uma metáfora ao clima atmosférico, Dias (2013) faz essas associações: Numa observação mais permanente e contínua, pode-se afirmar que uma organização tem melhor clima que outra, do mesmo modo que se pode afirmar que uma cidade como Salvador tem um clima mais quente que o de Gramado. Também podem ser observadas diferenças de médio alcance temporal. Assim como se pode dizer que o clima do verão é melhor que o do inverno, também há organizações que têm períodos de bonança e que passam por outros mais difíceis. Finalmente, há uma variação diária do clima. Do mesmo modo que nos informativos do tempo as pessoas ficam sabendo das mudanças diárias que ocorrem no clima atmosférico, nas organizações ocorrem variações climáticas do ponto de vista social, motivadas por diversas razões tais como: dispensas, aumentos de salários, boatos e comentários, promoções etc. (DIAS, 2013, p. 291, grifo nosso). Em se tratando de percepção e de sentimentos compartilhados, o clima pode ser positivo, negativo ou neutro; e qualquer que seja sua classificação, o clima causa reflexos no ambiente de trabalho da organização. Quando o clima é favorável, ele afeta de maneira positiva essa percepção compartilhada, com predominância de atitudes positivas que facilitam o alcance dos objetivos organizacionais. Na perspectiva contrária, o clima desfavorável reduz a confiança, o entusiasmo e a dedicação, comprometendo a implantação de projetos e a realização das atividades, por consequência,reduzindo as possibilidades de sucesso (DIAS, 2013; SOUZA, 2014). Fatores que afetam o clima organizacional O clima de uma organização pode sofrer alterações em virtude de vários fatores. Dias (2013) apresenta um conjunto de fatores, no entanto, alerta que eles não devem ser analisados de forma isolada, uma vez que estão estreitamente relacionados e é difícil atribuir a um único fator o clima organizacional vigente em uma empresa. , 35 Figura 2.4 – Fatores que afetam o clima organizacional Fonte: elaborado pela autora com base em DIAS (2013, p. 303-313). A lista proposta deve servir de base para analisar de que forma as inúmeras variáveis do ambiente organizacional estão interferindo de maneira positiva ou negativa no seu clima. Cultura e clima organizacional Como um reflexo da cultura, o clima organizacional pode se manifestar em termos individuais, pois quando a organização ainda não consolidou uma cultura, a percepção dos indivíduos acerca do clima organizacional se manifesta por meio das lentes culturais da cultura dominante de cada pessoa que integra a organização. Quando a cultura organizacional é construída, os membros consolidarão uma percepção coerente, e a mais comum possível, sobre o clima organizacional na empresa. Para diferenciar clima de cultura organizacional, Dias (2013) apresenta as definições de alguns autores sobre os temas. , 36 Tabela 2.6 – Diferenças entre cultura e clima organizacional Fonte: adaptado de DIAS (2013, p. 302). Dessa forma, podemos concluir que o clima organizacional apresenta as diferenças entre organizações, com base na percepção de seus membros. Como resultado da cultura, o clima reflete os valores, crenças e pressupostos que são o alicerce cultural. O ambiente percebido como positivo ou negativo, e as graduações possíveis entre esses limites, afeta o comportamento dos indivíduos e provoca alterações no seu modo de trabalho. Por consequência, isso reflete nos resultados da organização, em relação aos seus objetivos. REFERÊNCIAS DIAS, R. Cultura organizacional: construção, consolidação e mudanças. São Paulo: Atlas, 2013. MAXIMIANO, A. C. A. Teoria geral da administração: da revolução urbana à era digital. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2012. , 37 ROBBINS, S. P. Fundamentos do comportamento organizacional. (Reynaldo Marcondes trad.). 7 ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004. ROBBINS, S. P; JUDGE, T. A; SOBRAL, F. Comportamento organizacional: teoria e prática no contexto brasileiro. (Rita de Cássia Gomes trad.). 14 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. SCHEIN, E. H. Cultura organizacional e liderança. (Ailton Bomfim Brandão trad.) São Paulo: Atlas, 2017. SOUZA, C. P. S. Cultura e clima organizacional: compreendendo a essência das organizações. Curitiba: InterSaberes, 2014. , 38 3 PODER, AUTORIDADE E CONTROLE O poder é uma realidade no cotidiano das organizações, em sua essência, ele é um elemento neutro, ou seja, não é bom nem ruim. Conhecer as formas como o poder se manifesta nas organizações é essencial para um processo de gestão mais eficiente e um elemento importante na tomada de decisão. Como a cultura representa um sistema de interações sociais, há uma relação intrínseca entre cultura e poder. Dessa forma, é possível compreender que cada cultura tem uma expressão particular do poder, uma vez que sociedades diferentes apresentam perspectivas particulares do poder em função dos valores assumidos (DIAS, 2013; ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010). Ao analisar a questão do poder, na estrutura de funcionamento das organizações, Dias (2013) argumenta que existe uma hierarquia permanente nas interações sociais, que toma por base os diferentes níveis de competências de seus membros e as posições que eles ocupam na estrutura organizacional. Devido a isso, as organizações demonstram motivações diferentes para que seus membros manifestem e exercem determinados tipos de poder, que estão associados aos valores considerados válidos e que são compartilhados por meio da cultura organizacional. 3.1 Fundamentos do poder O poder está relacionado à capacidade de alguém influenciar o comportamento do outro para que ele aja de acordo com a sua vontade. Nesse sentido, é relevante destacar que um indivíduo pode ter algum tipo de poder, mas não precisa necessariamente utilizá-lo. Sob tal enfoque, o poder é uma capacidade ou potencial. Conforme Robbins, Judge e Sobral (2010), a dependência é o fator mais importante a ser considerado em relação ao poder. Para os autores (2010, p. 403), “quanto maior a dependência de B em relação a A, maior o poder de A nesse relacionamento. A dependência, por sua vez, baseia-se no conjunto de alternativas percebidas por B e na , 39 importância que este dá às alternativas controladas por A.” Nesse caso, um indivíduo pode exercer poder sobre o outro se controlar algo que esse outro deseja. Robbins (2004), amplia o conceito de dependência ao informar que a posse de algo que interessa aos outros gera a relação de dependência e de poder. Assim, a dependência é maior quanto menores forem as fontes dos recursos desejados, ou seja, a posse de algo que existe em abundância não gera dependência, nem poder. Os dois fatores que levam a essa relação é a importância e a escassez daquilo que é controlado. • Importância: de acordo com Robbins (2004, p. 161), “se ninguém quer o que você possui, não há como criar dependência. Para criá-la, é preciso controlar algo considerado importante”. É por isso que a importância é uma questão situacional, pois pode variar ao longo do tempo; • Escassez: ainda de acordo com Robbins (2004, p. 162), “um recurso precisa ser percebido como escasso para gerar dependência.” No ambiente organizacional, o conhecimento é considerado como importante fonte de dependência e poder, quando poucos detém informações relevantes sobre determinados processos, atividades ou tarefas. Bases do poder Ao questionar quais fatores contribuem para que haja uma relação de dependência ou que leve à aplicação do poder como forma de altera o comportamento do outro, Robbins, Judge e Sobral (2010) apresentam o que consideram ser as bases do poder, que se desdobram em poder formal e poder pessoal. Poder formal Tem como sustentação a posição hierárquica que o indivíduo ocupa na estrutura organizacional. Ele se manifesta de diversas formas. , 40 • Poder coercitivo: resulta da percepção que um membro tem acerca do potencial do detentor de poder para punir. Trata-se de um tipo de poder que está alicerçado no medo, levando a uma mudança de comportamento em virtude do receio de algum tipo de castigo ser aplicado; • Poder de recompensa: aqui ocorre o inverso do poder coercitivo, pois a submissão ocorre em virtude do outro poder proporcionar benefícios e vantagens. As recompensas podem ser originadas de diversas fontes, tais como as financeiras, de status, inclusão em grupos exclusivos etc.; • Poder legítimo: é uma forma de poder mais abrangente em relação à coerção e às recompensas, uma vez que inclui a aceitação da autoridade de um indivíduo em relação aos outros membros de um grupo. De maneira geral, é um poder articulado a alguma forma de hierarquia, que determina a detenção do poder pelos níveis mais elevados em relação aos que ocupam posições inferiores. Poder pessoal É uma forma de poder originado das características pessoais, únicas e específicas, de cada indivíduo. Suas manifestações podem estar relacionadas à competência ou à identificação. • Poder de competência: esse tipo de poder é decorrente da perícia, habilidade ou conhecimentos específicos do indivíduo que detém o poder. De maneira geral, está relacionado às situações específicas nas quais a aplicação desses conhecimentos e habilidadescontribui para resolução de problemas ou geração de melhorias para aqueles que sofrem a influência do poder; • Poder de referência: trata-se do resultado da identificação com um indivíduo que apresenta traços ou recursos desejados por aqueles que são impactados pelo poder. A admiração pelo outro ou o desejo de se parecer com ele funcionam como elementos suficientes para a submissão. , 41 Ainda com base nos autores, as fontes de poder pessoal tendem a ser mais eficientes, pois tanto o poder de competência como o de referência estão relacionados a aspectos afetivos e emocionais, e consideram a qualidade de vida e a satisfação de colaboradores na organização. Em relação às fontes de poder formal, eles destacam que o poder coercitivo apresenta resultados de curto prazo, pois em algum momento a possibilidade de punição perde seu efeito sobre aqueles em que o poder é exercido. 3.2 Poder e controle nas organizações Nas organizações, o poder tem estreita relação com as funções executivas e gerenciais. Tendo em vista que se trata de fazer com que os indivíduos se comportem de acordo com determinadas expectativas, o gestor atua influenciando o comportamento de outras pessoas, ou seja, com o exercício de algum tipo de poder. Esse poder pode ser decorrente do cargo que determinado indivíduo ocupa, ou motivado pela capacidade pessoal, ou as duas opções. Essa relação é sintetizada e expressa por Dias (2013) na figura a seguir. Figura 3.1 – Exercício do poder nas organizações Fonte: DIAS (2013, p. 422). O fluxo de poder, no ambiente da organização, para Dias (2013), exige que sejam consideradas as manifestações de poder externo as quais a organização se submete, , 42 tais como a legislação, clientes, acionistas, órgão de fiscalização etc., que estabelecem as fronteiras de atuação da organização. Por isso, o funcionamento da organização está associado ao conjunto de relações de poder que orientam seu controle. Dentro da organização, esse controle é exercido por pessoas que buscam preservar as condutas aceitas, o que torna o poder e o controle elementos indissociáveis e que refletem nos indivíduos e em toda a organização. Dessa forma, o controle faz parte das funções e dos processos organizacionais. Poder e controle podem ser considerados como duas faces de uma mesma moeda. Quem exerce controle tem poder. Quem exerce poder exerce controle. E ambos são exercidos de modo efetivo pelas lideranças existentes no âmbito organizacional. (DIAS, 2013, p. 424). No ambiente organizacional, o exercício do poder como forma de controle ocorre em virtude da existência de regulamentos e normas que se configuram como elementos centrais de poder. Portanto, é necessário entender o controle nas organizações sob a ótica das relações de produção e do trabalho, ou seja, é preciso analisar o controle no contexto do processo de trabalho. Carvalho e Vieira (2007) avaliaram a evolução das formas de controle nas organizações, que acompanha o desenvolvimento das relações de trabalho na sociedade capitalista. O resultado dessa análise pode ser observado na figura a seguir. , 43 Figura 3.2 – Evolução do controle no ambiente organizacional Fonte: CARVALHO e VIEIRA (2007, p. 56). Para os autores, as estruturas de controle se mantêm em constante processo de evolução, acompanhando as movimentações da sociedade e das relações de trabalho. É por isso que o controle tecnocrático deriva dos controles burocrático e profissional. Trata-se de um modelo de controle mais complexo e que se tornou legítimo à medida em que prioriza o conhecimento, a perícia e a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho, dentro de um ambiente de grande competição para se conquistar um posto de trabalho. Carvalho e Vieira (2007, p. 57) destacam que essas formas de controle “não são modelos puros nem exclusivos de uma etapa histórica, pois na maioria das , 44 organizações coexistem duas ou mais formas de controle” que se adequam aos diferentes processos de trabalho e perfis de colaboradores existentes. Assim, no caso de tarefas repetitivas de uma planta fabril com linha de montagem, o controle simples mostra-se o mais eficaz. Atividades com mais requisitos técnicos e maior nível de especialização exigirão um controle por meio de normas e regulamentos que proporciona o controle de tipo burocrático. Finalmente, atividades de investigação científica, de alto nível de formação, adaptam-se melhor ao tipo de controle tecnocrático, no qual um contexto de competitividade exerce um papel significativo (CARVALHO; VIEIRA, 2007, p. 57). Na aplicação efetiva do controle nos processos de gestão, ele assume a forma de um sistema destinado a transmitir informações de forma a implementar e regular as diversas atividades organizacionais. O objetivo é a obtenção de um nível de previsibilidade na forma como as ações são executadas para que os objetivos sejam atingidos. Essa forma de controle encontra respaldo na própria definição de organização, nas qual um grupo de indivíduos atua em cooperação, por meio da divisão do trabalho, e do respeito às regras e normas, com o propósito de atingir objetivos em comum. Nesse contexto, o controle assume uma dimensão neutra (CARVALHO; VIEIRA, 2007). 3.3 Poder e autoridade O poder exercido a partir da autoridade é considerado legítimo, uma vez que é aceito no ambiente organizacional. A própria estrutura das organizações estabelece os níveis de autoridade em cada nível de sua hierarquia, e aqueles que ocupam os cargos e funções tem o direito de exercer sua autoridade em relação aos níveis inferiores dessa estrutura hierárquica. Entretanto, Dias (2013) destaca que existem outras formas de poder que não estão associadas à estrutura formal, e que também são consideradas manifestações legítimas de poder uma vez que estão suportadas por outros tipos de autoridade. Esse fenômeno ocorre em virtude das diversas relações informais que se formam nas organizações, por meio das interações entre os seus membros, e que são , 45 independentes da estrutura formal. Ainda assim, essas interações estabelecem outras formas de poder que refletem naquelas decorrentes da estrutura formal. É nesse sentido que o poder pode ser considerado legítimo, independentemente de sua origem (formal ou social), desde que seja exercido pela autoridade. Dessa forma, Dias (2013) apresenta três tipos de autoridade, como mostra a figura a seguir. Figura 3.3 – Tipos de autoridade Fonte: DIAS (2013, p. 429). Como mostra a figura 3.3, cada tipo de autoridade tem uma base que a torna legítima como suporte ao exercício do poder. Dias (2013), detalha um pouco mais esses tipos de autoridade. • Autoridade burocrática ou racional-legal: É decorrente do cargo ou posição formal do indivíduo na estrutura hierárquica da organização, dessa forma, a autoridade só se mantém enquanto o indivíduo permanecer no cargo. É uma forma legítima de autoridade, pois é baseada nas regras e normas que estabelecem a estrutura organizacional, os níveis hierárquicos e os limites de autoridade para cada um deles; • Autoridade tradicional: Tem suas origens em crenças, normas e tradições, que conduzem os indivíduos a uma relação de obediência sem que haja algum tipo de formalização das posições ocupadas ou dos níveis de autoridade legalmente , 46 vigentes. É um tipo de autoridade que, de maneira geral, se manifesta nas organizações de duas maneiras: ▪ na ocupação de cargos mais elevados da hierarquia com base em relações familiares ou de amizade, sem que haja suporte de qualificações profissionais para essa determinação; ▪ nas relações entre os membros da organização e os funcionários mais antigos, cujo respeito pelo acúmulo de conhecimentos e compreensão aos valores mais profundos, estabelecerelações de autoridade não alinhadas com a estrutura formal de cargos e funções; • Autoridade carismática: Trata-se de um tipo de autoridade que surge das qualidades pessoais excepcionais de um indivíduo. Nesse sentido, ela é [...] baseada na veneração extra cotidiana da santidade, do poder heroico ou do caráter exemplar de uma pessoa e das ordens por ela reveladas ou criadas, as quais se obedece em função do carisma (imagem de notável sabedoria, invencibilidade ou santidade). Sua natureza é quase religiosa, e a organização ou sociedade permanecerá estável enquanto durar o carisma. (DIAS, 2013, p. 429). Nas organizações, há diversos tipos de líderes aos quais se associam às características de autoridade carismática, como Steve Jobs (1955-2011) da Apple, Bill Gates (1955-) da Microsoft, e até mesmo Silvio Santos (1930-). A predominância desse tipo de autoridade pode acarretar problemas de continuidade à organização, pois o afastamento do indivíduo detentor do carisma pode comprometer a estrutura de poder e a sobrevivência. 3.4 Poder, liderança e cultura organizacional O poder e a cultura organizacional apresentam relações cujo processo de análise considera três dimensões, todas elas articuladas com a performance das lideranças. A primeira dimensão está relacionada à construção da cultura, a segunda toma por base , 47 a sua manutenção e a terceira está associada às mudanças culturais. Dias (2013) e Carvalho e Vieira (2007) apresentam as características dessas dimensões. A construção da cultura de uma organização tem início junto com a própria organização. Seu fundador determina o quadro central da cultura, com base em sua visão do negócio e no seu conjunto de valores e crenças. Com o crescimento da organização, e consequente aumento do número de membros, o fundador e as demais lideranças utilizam diversos mecanismos para reforçar a cultura construída, tais como os instrumentos destinados à punição e recompensa decorrentes da adoção, ou não, do comportamento e das atitudes desejadas. Uma das preocupações frequentes dos gestores organizacionais é a manutenção de uma cultura que atue como agente facilitador para atingir seus objetivos. Para Dias (2013), esse processo está relacionado ao poder exercido pelos dirigentes, como mostra a figura a seguir. Figura 3.4 – Poder e manutenção da cultura organizacional Fonte: DIAS (2013, p. 420). Manter a cultura organizacional existente é uma atividade que exige a atuação dos gestores, utilizando mecanismos de poder para esse fim. Dentre esses mecanismos, destacam-se a estrutura de recompensas e punições, os critérios para promoções e aumentos salariais, além das demissões. No sentido de manter a cultura, de acordo com Dias (2013) e Robbins (2004), são utilizados não apenas esses instrumentos , 48 formais, mas também outras formas decorrentes das interações entre os indivíduos da organização, que são guiadas pelas relações de poder, e que permitem a manutenção de valores, crenças, atitudes e comportamentos essenciais da cultura organizacional. Trata-se de mecanismos que atuam nas relações sociais internas, por meio da aplicação de instrumentos e ações para marginalizar os membros que se desviam desses elementos culturais. Esse comportamento pode ser observado em diversas direções, não apenas nas relações descendentes e colaterais, mas em relacionamentos ascendentes nos quais as equipes de subordinados se rebelam e passam a não considerar as orientações dos superiores. Em outro sentido, o poder pode ser utilizado para promover mudanças na cultura organizacional, quando necessário que a cultura seja modificada para ampliar as oportunidades de sucesso. Considerando as dificuldades envolvidas no processo de mudança organizacional, decorrentes da complexidade da cultura e do longo tempo de maturação até atingir o estágio atual, a utilização de mecanismos de poder envolve uma análise cuidadosa dos seus impactos. Esse cuidado é necessário para evitar tentativas de mudanças bruscas, com a obtenção de resultados opostos aos desejados, pois as mudanças ocorrem em períodos de tempo maiores (CARVALHO; VIEIRA, 2007; DIAS, 2013). No entanto, ainda que liderança e poder estejam associados, não são conceitos idênticos. Robbins, Judge e Sobral (2010) apontam as diferenças existentes entre os conceitos, sendo que a que mais se destaca é compatibilidade de objetivos. Se, por um lado, o poder está sustentado apenas pela relação de dependência, sem a existência de compatibilidade de objetivos; a liderança exige o alinhamento entre os objetivos do líder e de seus liderados. REFERÊNCIAS CARVALHO, C. A; VIEIRA, M. M. F. O poder nas organizações. São Paulo: Cengage Learning, 2007. , 49 DIAS, R. Cultura organizacional: construção, consolidação e mudanças. São Paulo: Atlas, 2013. ROBBINS, S. P. Fundamentos do comportamento organizacional. (Reynaldo Marcondes trad.). São Paulo: Prentice Hall, 2004. ROBBINS, S. P; JUDGE, T. A; SOBRAL, F. Comportamento organizacional: teoria e prática no contexto brasileiro. (Rita de Cássia Gomes trad.). 14 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. , 50 4 LIDERANÇA E MOTIVAÇÃO O ambiente competitivo, no qual as organizações estão inseridas, implica a existência de gestores e dirigentes bem sucedidos na condução das pessoas e das atividades para atingir os objetivos organizacionais, conquistando vantagens competitivas e se diferenciando da concorrência. Nesse ambiente, a competência dos líderes para conduzir os membros da organização no sentido de superar os desafios e alcançar as metas é um atributo bastante valorizado. Porém, o exercício da liderança nem sempre é acompanhado das competências necessárias para que esses objetivos sejam atendidos. A simples formalização de alguém em um cargo de liderança não resulta, necessariamente, no direcionamento de grupos organizacionais rumo ao atingimento de objetivos comuns (BERGAMINI, 2015). O tema da liderança é considerado um dos mais complexos no ambiente organizacional, no entanto, liderança e organização são conceitos que caminham juntos ao longo de toda a evolução da própria humanidade. Bergamini (2009) aponta que, à medida que os indivíduos passaram a se organizar em grupos, atuando em cooperação para atingir objetivos que não seriam atingidos com esforços individuais, a questão da orientação se tornou mais presente. Ser conduzido por alguém ou conduzir outras pessoas é um comportamento natural, ainda que não se desse o nome de liderança. A República de Platão é um bom exemplo dessas preocupações iniciais. É justamente nas democracias que sua importância fica mais evidente, uma vez que, na existência da aristocracia hereditária, cada homem é potencialmente um líder e a sociedade tem que conseguir identificar e treinar aquele homem que será capaz de conduzir suas instituições. (BERGAMINI, 2009, p. 6). Os pesquisadores que atuam na área de comportamento organizacional têm encontrado dificuldades para obter uma definição única para o conceito de liderança, e os estudos mostram a palavra a partir de diferentes abordagens. A amplitude desse tema estende os limites das pesquisas, e muitas definições são encontradas na , 51 literatura da área. Apesar das dificuldades, Bergamini (2009) aponta dois elementos que tem feito parte do conceito de liderança nas mais diversas áreas de pesquisa: o fato de representar um fenômeno grupal e as características inerentes de um processo de influência que o líder exerce sobre seus liderados de maneira intencional. A tabela a seguir mostra uma consolidação de diversas definições que comprovam a combinação desses dois elementos. Tabela 1.1 – Definições de liderança 1 Liderança é o comportamento de um indivíduo quando está dirigindo
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