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19/06/18 SINDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL 1. INTRODUÇÃO ❖ Definição: • Distúrbio funcional crônico e recorrente do trato digestivo para o qual não se demonstrou, até́́ o momento, qualquer alteração metabólica, bioquiḿica ou estrutural da(s) víscera(s) envolvida(s), expressando-se atravé́s da acentuação, inibição ou simplesmente modificação da função intestinal. • É caracterizada por inflamação das vilosidades intestinais, causando dor abdominal crônica e alteração do hábito intestinal, na ausência de qualquer causa orgânica ❖ Epidemiologia: • Tem predomínio no sexo feminino (2 a 3 mulheres a cada 1 homem) • Mais comumente nos grupos etários mais jovens (14 a 44 anos) • Índices de prevalência subestimados, pois maior parte da população não procura assistência médica • A nível mundial entre 1O a 2O% de adultos e adolescentes tem sintomas consistentes com SII, com um predomínio feminino (2:1) • Estima-se que a cada ano, aproximadamente 9O milhões de novos casos surgem em todo o mundo ❖ Fisiopatologia: acredita-se que seja multifatorial, mas não é bem esclarecida • Comorbidades psiquiátricas • Acredita-se que haja papel da microbiota intestinal – importante para manutenção da imunidade inata e adquirida, barreira integra, produção de muco • Novos estudos reconheceram a relação entre os fenômenos biológicos que ocorrem no sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso enté́rico (SNE) ▪ Acredita-se que o SNC varia a percepção visceral de acordo com o estado emocional e cognitivo→ ansiedade e o estresse podem aumentar a percepção da dor ➔ Na SII há uma percepção aumentada em todo o TGI • Os fatores psicossociais, ambientais e gené́ticos també́m parecem contribuir de maneira determinante para a expressão dos sintomas ❖ Classificação: • SII com constipação intestinal • SII com diarreia • SII mista • SII de forma indeterminada 2. DIAGNÓSTICO A. DIAGNÓSTICO CLÍNICO ❖ O diagnóstico da SII é essencialmente clínico devido a inexistência de anormalidades físicas, laboratoriais, radiológicas e endoscópicas ❖ Diagnóstico baseado nos critérios de roma IV • Presença de dor e/ou desconforto abdominal, contińuos ou recorrentes, geralmente localizados no abdome inferior, que ocorrem, no mińimo, 3 dias por mé̂s nos últimos 3 meses e que apresentam pelo menos 2 das 3 seguintes caracteriśticas: ▪ Aliv́io com as evacuações ▪ Inićio associado às mudanças na frequé̂ncia das evacuações ▪ Inićio da dor associado a alteração na forma e na aparência das fezes ❖ Sinais de alarme: idade acima de 50 anos, emagrecimento, anemia, sangramento, mudança do calibre das fezes, febre, massa palpável, inićio recente dos sintomas Gastroenterologia | Mariana Gurgel e Vanessa Alves 2 ❖ Importante avaliar a presença de cofatores psicológicos, ambientais e dieté́ticos e o uso de medicamentos que interferem na frequé̂ncia evacuatória. B. DIAGNÓSTICO COMPLEMENTAR ❖ A investigação complementar, é desnecessária, desde que a hipótese tenha sido bem fundamentada nos critérios clínicos e na ausência de sinais ou sintomas de alarme • Sinais de alarme presentes → impõem, de rotina, a realização de exames de laboratório e de imagem para diagnóstico diferencial com doença orgânica ❖ Exames laboratoriais: • Dosagem de hemoglobina para afastar anemia • Proteína C-reativa e VHS ou calprotectina fecal ▪ Atualmente, tem-se dado preferência à dosagem da calprotectina fecal ▪ Indicam a presença de processo inflamatório, mas não são específicos para a SII • T4 e TSH • Protoparasitológico • Cultura para microrganismos que evoluem cronicamente ▪ Sempre pesquisar parasitoses intestinais, sobretudo giardíase e amebíase, que podem algumas vezes simular o quadro da SII, especialmente na forma com diarreia ou mista. • Pesquisa de leucócitos, gordura e sangue oculto ❖ Exames de imagem: • Colonografia por tomografia computadorizada, colonoscopia, enterografia por tomografia multislice ou ressonância magnética e enteroscopia ▪ Realizados para excluir a presença de inflamação intestinal, de neoplasia ou outras alterações ▪ A colonoscopia deve ser sempre realizada quando houver suspeita de neoplasia ou doença inflamatória e em pacientes com mais de 50 anos. ❖ Diagnóstico diferencial: Parasitoses, doença celíaca, hipolactasia, disfunções tireoidianas, doenças inflamatórias, tumores neuroendócrinos, intolerâncias alimentares e, mais raramente, neoplasia de cólon e síndrome da má absorção 3. TRATAMENTO DA SII ❖ Generalidades: • Ainda não existe uma terapêutica que seja verdadeiramente eficaz. • É importante haver, antes de qualquer tratamento medicamentoso, uma boa relação médico- paciente, em que o médico deve tranquilizar o paciente, não subestimar suas queixas e esclarecer que a síndrome não se trata de uma doença grave, mas sim de distúrbios funcionais • Deve haver também um estímulo à realização de atividades físicas e práticas de relaxamento. ❖ Dieta: • Não existe uma relação clara entre os sintomas e a alimentação do ponto de vista fisiopatológico • Adoção de uma dieta pobre em gorduras e alimentos produtores de gás como couve, brócolis, cebola, pimentão, feijão, repolho, lentilha, maça, uva, açúcares refinados traz melhora do quadro clínico na maioria dos pacientes • Dieta rica em fibras e líquidos, principalmente se houver constipação associada • Reconhecer intolerâncias específicas como ao glúten ou à lactose, que devem ser cortados da dieta, caso haja necessidade. ❖ Tratamento farmacológico: • É restrito aos períodos sintomáticos da doença, tendo como objetivo o alívio do sintoma predominante → O medicamento pode ser suspenso durantes as fazes de remissão • Classes de medicamentos: I. Laxativos Gastroenterologia | Mariana Gurgel e Vanessa Alves 3 ▪ São utilizados nos casos de SII com constipação intestinal, e eles são prescritos sempre de maneira criteriosa, e se possível, por curtos períodos ▪ Devem ser evitados os laxantes estimulantes ou irritantes, que a longo prazo podem causar efeitos colaterais como cólica abdominal. Exemplo: lactopurga ▪ Laxantes não devem ser usados em caso de suspeita de obstrução ▪ Preferíveis: ✓ Agentes osmóticos (ex: lactulose, macrogol/muvinlax) ✓ Emolientes/lubrificantes (ex: docusato, oléo mineral) ✓ Fibras solúveis/insolúveis (ex: Fibras dietéticas, psyllium, plantago) II. Agentes antidiarreicos (Loperamida) III. Antiespasmódicos ▪ Classe de drogas mais utilizada na síndrome e eles têm como objetivo o alívio da dor ▪ Apresentam uma ação relaxante na musculatura intestinal ▪ Exemplares: ✓ Bloqueadores dos canais de cálcio: brometo de pinavé́rio e de otilônio ✓ Relaxantes musculares (hioscina – buscopan, dicloverina) ✓ Derivados opioides (trimebutina, lopramida) ✓ Derivados da papaverina (cloridrato de mebeverina) IV. Antidepressivos tricíclicos ▪ São importantes miorrelaxantes ▪ Não devem ser prescritos para a forma constipada da SII, podendo agravar o quadro. ▪ Alguns exemplos são a Amitriptilina, imipramina, desipramina, doxepina V. Ansiolíticos: Usados quando houver uma relação evidente entre os sintomas digestivos e estados de tensão VI. Probióticos ▪ Os probióticos são alimentos funcionais que recompõem qualitativamente a microbiota intestinal e combatem o crescimento bacteriano ❖ Terapias alternativas como acupuntura e homeopatia OBS: considerado tratamento psicológico o Sintomas graves e ausência de resposta ao tratamento farmacológico o Doenças psiquiátricas associadas Referências 1. DANI, renato. Gastroenterologia essencial. 4ª ed. Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan, 2011.
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