Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MOC Manual de Oncologia Clínica do Brasil Enfermagem 2020 MOC Manual de Oncologia Clínica do Brasil Enfermagem 2020 2ª edição EDITORA Veronica Torel de Moura co-EDIToRAS Andreia oliveira da Silva Meira EDIToRES DA SéRIE Moc Antonio Carlos Buzaid Fernando Cotait Maluf William Nassib William Jr. Carlos Barrios MOC-Enfermagem | Manual de Oncologia Clínica do Brasil - Enfermagem (2020) Editora: Veronica Torel de Moura. Coeditora: Andreia Oliveira da Silva Meira. Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid, Fernando Cotait Maluf, William Nassib William Junior e Carlos Henrique Barrios. Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima. ISBN XXX-XX-XXXX-XXX-X Proibida a reprodução total ou parcial deste livro sem a permissão escrita de Dendrix Edição e Design Ltda. Capa, projeto gráfico e editoração eletrônica: Dendrix Edição e Design Ltda. Impressão: Editora e Impressora Art Graphic Ltda. Os autores e editores desta obra fizeram todo esforço para assegurar que as doses e as indicações dos fármacos, bem como dos procedimentos apresentados no texto, estivessem de acordo com os padrões vigentes à época da publicação. Em virtude dos constantes avanços da Medicina e de possíveis modificações regulamentares referentes aos fármacos e procedimentos apresentados, recomendamos que o leitor consulte sempre outras fontes fidedignas, de modo a se certificar de que as informações contidas neste manual estão corretas. Isso é particularmente importante no caso de fármacos ou procedimentos novos ou pouco usados. FICHA CATALOGRÁFICA MOC-Enfermagem - Manual de Oncologia Clínica do Brasil - Enfermagem Editora: Veronica Torel de Moura. Coeditora: Andreia Oliveira da Silva Meira. Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid, et al. 2ª ed. São Paulo: Dendrix Edição e Design Ltda., 2020. ISBN XXX-XX-XXXX-XXX-X 1. Oncologia Manuais, guias etc. I. Buzaid, Antonio Carlos. II. Maluf, Fernando Cotait. III. Rocha Lima, Caio M. et al. CDD 616.992 NLM QZ 200 Dendrix Edição e Design Ltda. Rua Joaquim Floriano, 72/24 - Itaim Bibi 04534-000 - São Paulo - SP Tel: 11 3168-7088 Fax: 11 3167-1148 info@dendrix.com.br www.dendrix.com EDITORA Veronica Paula Torel de Moura Enfermeira de Práticas Avançadas em Oncologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Graduada em Enfermagem pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Pós-graduada em Enfermagem Oncológica na Unifesp. Presidente e Membro fundador da ABRENFOH. co-EDIToRA Andreia oliveira da Silva Meira Coordenadora de Enfermagem dos ambulatórios de Quimioterapia e Radioterapia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Especialista em enfermagem Pediátrica pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Título de enfermeira especialista em Oncologia pelo SBEO. Membro fundador da ABRENFOH. AuToRES Amanda Nascimento dos Reis Farmacêutica especialista em Oncologia pela Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia – SOBRAFO. Graduada pela Universidade Federal de Alfenas/MG. Pós-graduada em Farmacologia e Farmácia Clínica pelo Instituto de Pesquisa e Educação em Saúde de São Paulo – IPPESP. Ana Claudia de Oliveira Coordenadora de Enfermagem do Centro de Oncologia BP Mirante da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Título de enfermeira especialista em Oncologia pelo SBEO. Mestranda pela USP. Ana Maria Teixeira Pires Enfermeira Oncologista. Mestre em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. MBA em Gestão das Organizações em Saúde – FECS/FIA. Coordenadora do Curso Latu Sensu de Enfermagem Oncológica – FECS. Diretora de Comunicação. Membro fundador da ABRENFOH. Andreia oliveira da Silva Meira Coordenadora de Enfermagem dos ambulatórios de Quimioterapia e Radioterapia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Especialista em enfermagem Pediátrica pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Título de enfermeira especialista em Oncologia pelo SBEO. Membro fundador da ABRENFOH. Bruna Fabiane de Souza Enfermeira Líder do Centro de Oncologia BP Mirante da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Graduada em Enfermagem na Universidade Nove de Julho. Pós Graduada em Enfermagem Oncológica na Universidade Nove de Julho. Bruna Tirapelli Enfermeira especialista em Oncologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Mestre em Ciências da Saúde pelo Departamento de Hematologia (UNIFESP). Proficiência técnica em Hematologia e Hemoterapia pela Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (ABHH). Membro fundador da ABRENFOH. Camila Lucena Motta Enfermeira Navegadora do Transplante de Medula Óssea da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Especialista em Oncologia pela Sociedade Brasileira de Enfermagem Oncológica (SBEO). Camila Rodrigues Lopes Supervisora da Farmácia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Especialista em Farmácia Hospitalar Oncológica pela Fundação Antonio Carlos Prudente, Pesquisa Clínica pela Invitare. carla Mazucco Enfermeira sanitarista especialista em Economia e Gestão pela Universidade de São Paulo – USP. Gerente de Acesso Privado – Astellas Farma Brasil. Membro fundador da ABRENFOH. Carolina Moraes Tsuchida Enfermeira do Serviço de Cuidados Paliativos e Suporte ao Paciente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein. Cláudia Patrícia Vilar de Godoy Enfermeira Navegadora do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein. Pós Graduação em Oncologia pela Faculdade do Hospital Albert. Danielle Thaise Ambrósio Enfermeira Clínica Especialista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Especialista em Oncologia e Tratamento Antineoplásico pela UNICAMP. Graduada em Enfermagem pela Universidade de São Paulo – USP -São Paulo. Fabiana Tomie Becker chino dos Santos Enfermeira, mestranda em Ensino em Ciências da Saúde pela UNIFESP, assessora científica na Grunenthal do Brasil. Especialista em Auditoria de Enfermagem, com formação avançada em Cuidados Paliativos pelo Insituto Pallium Latino America – com certificação conjunta pela Universidad San Salvador (ARG) e Oxford University (UK). Docente dos cursos de pós-graduação do Hospital Israelita Albert Einstein. Experiência em implantar serviços de Cuidados Paliativos no ICESP, Hospice Francesco Leonardo Beira e Hospital São José. Coordenadora do Comitê de Enfermagem da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP). Fernanda Cristina Marin Enfermeira oncologista no Centro Oncológico do Hospital BP mirante da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Membro do grupo de pesquisa NEPAL da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Doutoranda pelo Programa Interunidades de Doutoramento da EEUSP. Fumiko Takahashi Ito Farmacêutica clínica do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein. Especialista em Farmácia Oncológica pela Sociedade Brasileira de Farmacêutica em Oncologia. Docente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein e Instituto Racine de Ensino. Gabriela Bizarro Enfermeira Líder do Centro de Oncologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, especialista em enfermagem em oncologia e células hematopoiéticas pelo IPEESP, cursando Gestão e Liderança em Enfermagem pelo Centro Universitário São Camilo. Gabriela Cristina Leite Enfermeira Clínica na Oncologia D’or (Clínica Onco Star). Mestra em Ciências da área de Oncologia pela Fundação Antônio Prudente (A.C.Camargo Cancer Center). Especialista em Enfermagem Oncológica pela Fundação Antônio Prudente (A.C.Camargo Cancer Center). Gislene Padilha dos Santos Enfermeira de Práticas Avançada da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Especialização em Enfermagem Oncológica pela Faculdade de Medicina do ABC, SP. Guilherme Munhoz correia e Silva Especialista em oncologia clínica pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa. Especialista em farmácia oncológica pela Sociedade Brasileira deFarmacêuticos em oncologia. Pós-graduado em farmácia hospitalar pela faculdade Oswaldo Cruz. Pós-graduado em uma farmácia hospitalar pelo Instituto Central do Hospital das Clínicas de São Paulo. Katia Cristina Trigo Martiniano Supervisora de Enfermagem do Setor de Radioterapia/Hemodinâmica do A.C.Camargo Cancer Center. Especialista em Oncologia pela Fundação Antonio Prudente. Especialista em Cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Mestranda em Ciências da Saúde pela Fundação Antonio Prudente (A.C.Camargo Cancer Center). Katia Mayumi Okabayashi Furuno Enfermeira Clínica Especialista em Oncologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Especialista em Oncologia pelas Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU. Lorena Hayashi Enfermeira líder do Centro de Oncologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Formada pela Universidade São Camilo. Especialista em oncologia pela Universidade Nove de Julho e em Práticas de Promoção da Saúde pela Universidade de São Paulo (USP). Cursando MBA em Gestão de Saúde pela Universidade São Camilo São Paulo. Luciana Lopes Manfredini Enfermeira do Centro de Oncologia Dayan-Daycoval do Hospital Israelita Albert Einstein. Especialista em Oncologia (modalidade residência) pelo Hospital de Câncer de Barretos e em Urgência e Emergência pela Universidade Nove de Julho. Mestre em Oncologia pelo Hospital de Câncer de Barretos. Doutoranda em Ciências da Saúde pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein. Maria Inês Rodrigues Gato Supervisora da Farmácia do Américas Centro de Oncologia Integrado – Hospital Paulistano. Título de farmacêutica especialista em Oncologia pela Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia (SOBRAFO). Editora do MOC-Drogas. Mariane Cury Del Bon Coordenadora das Unidades de Internação da Oncologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Pós-graduação em Auditoria de Contas Médicas pela UNIBAN, pós-graduação em Administração Hospitalar pela UNAERP. Licenciatura em enfermagem pela Universidade de São Paulo. Patricia do Carmo Della Vechia Enfermeira especialista em enfermagem Oncológica pela Fundação Antonio Prudente (A.C.Camargo Cancer Center). Coordenadora Assistencial e de Enfermagem da Unidade Perdizes – Higienópolis do HIAE – Hospital Israelita Albert Einstein. Patrícia Molina Professora/tutora na UNIFAVIP. Enfermeira especialista em Oncologia graduada pela Universidade de São Paulo (USP). Pós-graduada em Gestão de Serviços de Saúde e Pós-graduada em Hospitalidade em Serviços de Saúde pelo Centro Universitário SENAC de São Paulo. Paula Magalhães Silva Enfermeira Oncologista do Centro de Oncologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Pós-graduada em Enfermagem Oncológica pela fundação Antonio Prudente (A.C.Camargo Cancer Center). Rafael Duarte Paes Farmacêutico da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Especialista em oncologia pelo Hospital Albert Einstein e Membro da Comissão de Educação da Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia (SOBRAFO). Sabrina Rosa de Lima Matos Enfermeira do Departamento de Radioterapia do Hospital Israelita Albert Einstein. Especialista em Enfermagem Oncológica, mestre em Enfermagem pela Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein. Suely Goto Graduação em Enfermagem Escola Paulista de Medicina (UNIFESP). Especialização em Avaliação e Tratamento Multidisciplinar de Dor Crônica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IOT – HCFMUSP). Aperfeiçoamento no Cuidado do Paciente com Dor – Hospital Sírio Libânes/SP. Pós-graduada em Gestão de Serviços de Saúde pelo Centro Universitário SENAC de São Paulo. Tamara Otsuru Augustinho Teixeira Graduação em Enfermagem pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Especialização em Oncologia pelo Instituto de Pesquisa e Educação em Saúde de São Paulo (IPESSP). MBA em Gestão de Saúde pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Diretora Institucional e Membro fundador da ABRENFOH. Coordenadora de Navegação de Pacientes do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Valéria Armentano dos Santos Coordenadora de Farmácia do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein. Veronica Paula Torel de Moura Enfermeira de Práticas Avançadas em Oncologia da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Graduada em Enfermagem pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Pós-graduada em Enfermagem Oncológica na Unifesp. Membro fundador da ABRENFOH. PREFÁCIO É com imensa satisfação que apresentamos a segunda edição do MOC-Enfermagem, mais um fruto da família MOC. Nesta edição, contamos com a participação de enfermeiros oncológicos com vasta experiência e que atuam em instituições de grande relevância para a oncologia no Brasil. Além disso, experientes farmacêuticos contribuíram apresentando agentes oncológicos diversos, muitos dos quais recém-aprovados no país. Neste manual foram concentrados, de forma clara, objetiva e de fácil leitura, temas de relevância para o profissional enfermeiro que atua em serviços de oncologia, em especial nas centrais de infusão de antineoplásicos. Entre diversos outros temas, abordamos as questões de biossegurança nas unidades de preparo e infusão de antineoplásicos, assim como sua administração segura, protocolos de cuidados em cada via de administração, melhores práticas no tratamento das toxicidades causadas pela terapia antineoplásica e uma interessante abordagem sobre imunoterapia no câncer. Esperamos que o conteúdo deste manual seja valioso para os profissionais de saúde que atuam no cuidado ao paciente oncológico – em especial os enfermeiros oncologistas – e que contribua para sua prática diária, servindo de base para a tomada de decisões de forma segura e assertiva. Os Editores SuMáRIo I Gerenciamento de risco, 1 1. Biossegurança no preparo e dispensação de antineoplásicos, 2 2. Biossegurança na administração de antineoplásicos, 8 II Assistência de enfermagem na administração de antineoplásicos parenterais, 13 3. Cuidados na administração de antineoplásicos endovenosos, 14 4. Cuidados na administração de antineoplásicos subcutâneos, 20 5. Cuidados na administração de antineoplásicos intramusculares, 25 6. Cuidados na administração de antineoplásicos intratecais, 29 7. Cuidados na administração de antineoplásicos intraperitoneais, 35 8. Cuidados na administração de antineoplásicos intra-arteriais, 39 9. Cuidados na administração de antineoplásicos intravesicais, 43 III Assistência de enfermagem na administração de antineoplásicos orais, 47 10. Cuidados na manipulação e dispensação de drogas oncológicas orais, 48 11. Acompanhamento da adesão à terapia antineoplásica oral, 58 IV cuidados específicos na administração de drogas oncológicas e medicamentos de suporte, 65 12. Cuidados de enfermagem na administração de medicações de suporte, 66 13. Cuidados de enfermagem na terapia por hipodermóclise, 74 V Prática segura na administração de antineoplásicos, 81 14. Prevenção e tratamento de extravasamento de drogas antineoplásicas, 82 15. Ordem de infusão de antineoplásicos em protocolos oncológicos, 87 VI Manejo das toxicidades induzidas pelos agentes antineoplásicos, 93 16. Toxicidade pulmonar, 94 17. Toxicidade neurológica, 99 18. Toxicidade cardiovascular, 106 19. Toxicidade gastrintestinal, 116 20. Toxicidade geniturinária, 128 21. Toxicidade metabólica, 138 22. Toxicidade endócrina, 145 23. Toxicidade dermatológica, 152 24. Toxicidade hematológica, 163 VII Assistência de enfermagem em imunoterapia, 171 25. Farmacologia e cuidados na administração, 172 26. Inibidores de checkpoint imunológicos no câncer, 189 VIII Reações infusionais agudas, 197 27. Manejo das reações infusionais agudas, 198 IX Emergências oncológicas, 207 28. Emergências oncológicas, 208 X Assistência de enfermagem em radioterapia, 219 29. Estruturação de um serviço deradioterapia, 220 30. Radioterapia – modalidades de tratamento e cuidados de enfermagem, 225 31. Radioterapia intraoperatória, 233 32. Braquiterapia – cuidados de enfermagem, 237 I GerencIamento de rIsco 1. Biossegurança no preparo e dispensação de antineoplásicos, 2 2. Biossegurança na administração de antineoplásicos, 8 2 | Gerenciamento de risco 1 Biossegurança no preparo e dispensação de antineoplásicos Valéria Armentano dos Santos e Camila Rodrigues Lopes coNSIDERAÇÕES GERAIS Introdução. A biossegurança no processo de preparo dos medicamentos antineoplásicos consiste num conjunto de ações voltadas à proteção do trabalhador, do meio ambiente e do paciente. Grande parte dos medicamentos utilizados na terapia antineoplásica apresenta uma ou mais características tóxicas em seres humanos ou animais, como a carcinogenicidade, teratogenicidade, toxicidade reprodutiva, toxicidade para órgãos em doses baixas, genotoxicidade e perfil e estrutura semelhantes a drogas tóxicas. Algumas recomendações serão abordadas neste capítulo, visando minimizar os riscos de exposição e aumentar a segurança ocupacional e ambiental. Meios de contaminação. Inalação do pó ou de aerossóis, contato com a pele, ingestão e punção acidental. A contaminação pode ocorrer em diversas fases da manipulação, como na reconstituição dos frascos, aspiração do conteúdo, introdução e retirada da agulha do frasco, expulsão do ar da seringa para ajuste de volume, transferência do conteúdo para as bolsas, quebra de ampolas, problemas na conexão dos equipos, perfuração de bolsas, maceração de comprimidos, higienização dos frascos, entre outras. Atividades de suporte à manipulação também podem oferecer riscos, como transporte dentro da área, armazenamento, estocagem e descarte de resíduos. Proteção. A legislação vigente no país e os manuais de segurança internacionais determinam e orientam uma série de medidas protetivas. A manipulação dos medicamentos antineoplásicos de risco deve ser realizada em Cabine de Segurança Biológica (CSB) Classe IIB2, com exaustão total. Esse equipamento precisa ser validado periodicamente, a cada 3 ou 6 meses, por área competente, como Engenharia Clínica e/ou Manutenção. Chuveiro de emergência e lava olhos devem estar próximos da área de manipulação. Durante a manipulação são imprescindíveis Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), tais como avental ou macacão estéreis e impermeáveis, com mangas longas, punhos ajustáveis, com baixa emissão de partículas, fechado na frente, dois pares de luvas estéreis, máscara descartável com referência PFF2/N95, capuz estéril e impermeável ou gorro descartável, bota impermeável antiderrapante ou pró-pé descartável. Quando reutilizável, a paramentação pode ser guardada, em local separado, até ser lavada por processo exclusivo. Biossegurança no preparo e dispensação de antineoplásicos | 3 Infraestrutura. As salas de manipulação, limpeza/desinfecção e antecâmaras devem atender à legislação e às normas vigentes de sala limpa ou classificada, ou seja, salas com controle de contaminação de partículas viáveis e não viáveis. Os projetos de sala limpa devem minimizar a introdução, geração e retenção dos contaminantes em seu interior, além de controlar parâmetros de temperatura, pressão e umidade. Para as boas práticas de manipulação são necessários outros ambientes, tais como área administrativa, vestiário de barreira dupla, antecâmara de saída da sala de manipulação, estoque, almoxarifado, depósito de material e limpeza, área para a guarda temporária de resíduos contaminados. Armazenamento. É necessário destinar uma área específica para o armazenamento dos medicamentos antineoplásicos, com a finalidade de restringir o acesso ao pessoal autorizado. Recomenda-se que os medicamentos sejam protegidos contra quedas acidentais, sendo armazenados em recipientes/caixas com bordas altas sobre prateleiras com barreiras de contenção. É uma boa prática armazenar os medicamentos numa altura confortável, na altura dos olhos, evitando locais de difícil acesso, como no alto ou muito embaixo, a fim de evitar acidentes no momento da separação e/ou reposição do estoque. Vários critérios de armazenamento podem ser adotados, como o uso de gavetas, armários eletrônicos, ordem alfabética, etiquetas e/ou prateleiras coloridas, entre outros, desde que sejam resguardados os cuidados necessários. Classificação das salas. A sala de limpeza/desinfecção deve ser contígua à de manipulação, comunicar-se através de caixas de passagem com sistema de intertravamento e ainda ser ISO classe 8 (ter no máximo 100.000 partículas/pé cúbico de ar). A sala de manipulação precisa ser ISO classe 7 (máximo de 10.000 partículas/pé cúbico de ar) e ter pressão diferencial negativa com relação às áreas adjacentes. Não pode haver pia nem ralo. Preparo de medicamentos antineoplásicos. Compreende a verificação farmacêutica da prescrição médica e a manipulação do medicamento por meio de processos farmacotécnicos variados, como reconstituição do pó liofilizado, aspiração da dose prescrita, transferência do conteúdo para bolsa de infusão, fracionamento de substâncias ou produtos industrializados, envase e rotulagem. Verificação da prescrição médica. A avaliação farmacêutica das prescrições deve ser realizada antes da manipulação, verificando-se a pertinência dos medicamentos aos protocolos prescritos, parâmetros de liberação informados pelo médico, peso e altura do paciente e sua respectiva superfície corpórea, dose, medicamentos de suporte para prevenção de náuseas, vômitos e reações alérgicas, diluição, incompatibilidades, tempo de infusão, via de administração e alergia. 4 | Gerenciamento de risco Manipulação. Para garantir a qualidade e a conservação das preparações, recomenda-se a criação de uma ferramenta de consulta das reconstituições, diluições, concentrações ideais, padrão de dispensação para a enfermagem, estabilidade, densidade, incompatibilidade ou qualquer outra informação importante, todas baseadas em fontes fidedignas. Essa ferramenta pode ser uma tabela e/ou um cadastro em sistema informatizado seguindo as recomendações dos fabricantes, como bulas, monografias ou consultas técnicas, bases de dados eletrônicas, como o Micromedex e o LexiComp, e livros de consulta rápida, como o Drug Information Hand Book for Oncology, da LexiComp. A padronização facilita o treinamento da equipe de manipulação e a criação de procedimentos operacionais. Durante o processo de manipulação, devem ser realizadas algumas técnicas de biossegurança, como fricção da tampa de borracha do frasco com gaze e álcool 70° ou outra solução saneante, utilização de seringas com terminação luerlock, inserção lenta dos diluentes pelas paredes do frasco, retirada de quantidade de ar suficiente para criar uma pressão negativa dentro do frasco antes da retirada da agulha, evitando-se assim formação de aerossóis e respingos. Deve-se ter cuidado ao expulsar o ar da seringa na aferição do volume exato do medicamento, podendo ser utilizada uma ampola vazia como proteção. Esse processo pode contaminar a CSB e aumentar o risco de acidentes punctórios. Nota. Como proteção adicional, dispositivos fechados de segurança podem ser utilizados na manipulação dos medicamentos de risco a fim de minimizar a formação de aerossóis e respingos, ocorrência de acidentes punctórios e derramamentos. Os dispositivos são conectados nos frascos, ampolas e equipos por meio de conectores específicos, promovendo barreira mecânica e evitando vazamentos. Eliminam o uso de agulhas, que são substituídas por adaptadores conectados às seringas luerlock. Outro controle que pode ser adotado para aumentar a segurança do processo de manipulação é o controle gravimétrico (pesagem), em que o peso do volume aspirado dos frascos fica registrado, possibilitando uma conferência adicional, em qualquer etapa das barreiras de segurança. Por exemplo, para manipular 40 mgde cisplatina mais 500 mL de soro fisiológico 0,9%, seria necessário pesar a bolsa de infusão sem a droga, dar o comando de imprimir, tarar a balança, aspirar 40 mL de cisplatina e inserir na bolsa e dar o comando de imprimir novamente; assim ficariam registradas as informações do peso da bolsa sem droga, peso da droga (40 g) e peso do volume final. O peso final impresso permite que outro profissional realize a conferência de peso × volume. Rotulagem. O rótulo da terapia antineoplásica precisa conter todas as informações necessárias aos processos seguintes à manipulação, como o nome completo do paciente e outro identificador forte (p. ex.: número do prontuário, data de nascimento), nome dos medicamentos, soluções de infusão utilizadas e seus volumes, volume final, tempo de Biossegurança no preparo e dispensação de antineoplásicos | 5 infusão, via de administração, estabilidade, condições de temperatura e armazenamento (p. ex.: temperatura ambiente, sob refrigeração, fotossensível), data, hora e responsável pela manipulação. Também podem ser utilizadas recomendações adicionais, como rótulos de cor diferente dos demais medicamentos, alertas coloridos de sinalização de condições de armazenamento (p. ex.: manter sob refrigeração, medicamento de risco), potencial vesicante e irritante e outras situações que requeiram atenção. Manipulações especiais. Algumas manipulações requerem cuidados especiais, como os medicamentos por via intratecal, infusores portáteis, bacilo Calmette-Guérin (BCG), medicamentos orais que necessitam de maceração e diluição. Recomendação. Medicamento por via intratecal: não utilizar sobras devido a risco de contaminação microbiológica, e escolher um método de dispensação diferenciado dos demais medicamentos, como caixas lacradas ou etiquetas coloridas, dando ênfase à via intratecal. Bomba de infusão portátil: devido ao risco de erro no cálculo das doses e no tempo de infusão, recomenda-se que seja criado um checklist multiprofissional, reforçando cada etapa do processo, do preparo à administração. BCG: deve ser manipulada em CSB, seguindo as recomendações do fabricante, tendo-se o cuidado de retirar o que estiver dentro da CSB antes da manipulação e realizar uma limpeza com solução saneante após a manipulação. A paramentação e as luvas devem ser descartadas após o processo. Medicamentos orais que necessitam de diluição: sempre que possível, recomenda-se entrar em contato com o médico responsável pela prescrição para tentativa de troca da via de administração e evitar a maceração dos comprimidos e/ou abertura das cápsulas por favorecer a exposição ocupacional. Na impossibilidade de troca, a manipulação deverá ser realizada em CSB. Procedimentos técnicos devem ser criados para minimizar o risco de contaminação cruzada e dispersão de pó dentro da CSB. Recomenda-se a dispensação das preparações líquidas orais em seringas orais (p. ex.: OralPack), identificadas como via oral, via sonda etc. Evitar o uso de seringas luerlock ou de uso parenteral, com o intuito de prevenir a administração parenteral acidental. Dispensação. É necessário estabelecer um padrão de dispensação com a equipe de enfermagem, definindo equipos, conectores, volume e identificações que atendam às necessidades de uma administração segura. A dispensação deve garantir a segurança, qualidade, acondicionamento, transporte e eficiência nas informações necessárias para o uso correto do medicamento e a segurança do paciente. 6 | Gerenciamento de risco Medicamentos orais. Com a Resolução Normativa DC/ANS nº 387/15, que determina a distribuição pelas operadoras de medicamentos antineoplásicos orais e grupos de medicamentos de uso domiciliar para tratar os efeitos colaterais, é de extrema importância a orientação ao paciente e cuidadores quanto a posologia, armazenamento, interações medicamentosas, reações e manejo do medicamento em uso domiciliar. Manejo de resíduos. O farmacêutico deve elaborar procedimentos operacionais-padrão que determinem o fluxo de trabalho na execução das atividades de armazenamento, manipulação, transporte e possíveis acidentes com medicamentos antineoplásicos. Transporte. Todo transporte de medicamentos antineoplásicos deve garantir a estabilidade físico-química dos medicamentos e reduzir a contaminação ambiental em caso de acidentes. O transporte deve ser realizado em recipientes isotérmicos exclusivos que os protejam das variações de temperatura e da incidência da luz solar direta. Os recipientes de transporte deverão conter um kit de derramamento para ser utilizado em caso de acidente. Kit de derramamento. Consiste num conjunto de itens necessários à proteção do trabalhador e do ambiente, nos casos de acidentes com derramamento de medicamentos antineoplásicos. O kit de derramamento deve estar disponível em todas as áreas onde são realizadas atividades de manipulação, armazenamento, administração e transporte, contendo no mínimo: um capote ou avental impermeável descartável, um par de óculos de proteção, uma touca descartável, um par de pró-pés impermeáveis descartáveis, um respirador para agentes classe PFF2, dois pares de luvas de procedimentos, compressas absorventes, sabão líquido neutro, sacos plásticos identificados com o símbolo de resíduo tóxico, descrição do procedimento e formulário para registro do acidente. O kit pode ser incrementado com outros itens que facilitem a limpeza local, como escova pequena e pá plástica descartáveis para juntar os resíduos tóxicos, frasco de água para injeção (250 mL) e frasco de NaCl 0,9% (250 mL). Recomendação. Como proceder se houver derramamento no ambiente: interromper imediatamente as atividades; isolar o local, evitando a circulação de pessoas; abrir o kit de derramamento e paramentar-se com a máscara, dois pares de luvas, avental impermeável e óculos de proteção. Se o material derramado for líquido, deve-se cobrir o local com as compressas absorventes com finalidade de absorver o líquido derramado. Se o material derramado for pó, cobrir o local com as compressas umedecidas em água para evitar uma maior dispersão do pó. Se houver fragmentos de vidro, estes deverão ser recolhidos com a pá e colocados em recipiente para perfurocortantes. Biossegurança no preparo e dispensação de antineoplásicos | 7 A área deve ser lavada cuidadosamente, com água e detergente, numa quantidade suficiente para limpar o local e não esparramar a contaminação, realizando-se movimentos de fora para dentro. Todo o material utilizado na limpeza do local deve ser descartado no saco plástico do próprio kit, devendo ser lacrado e descartado em lixo próprio para resíduos tóxicos. Preencher o formulário de acidente. Recomenda-se uma revisão periódica do kit de derramamento com a finalidade de controlar a validade dos itens e verificar se está completo. Revisar a cada 6 meses os componentes do kit, evitando que percam a validade. LITERATURA RECOMENDADA – ANS: Resolução Normativa (RN) nº 428, de 7 de Novembro de 2017. Atualiza o Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde, que constitui a referência básica para cobertura assistencial mínima nos planos privados de assistência à saúde, contratados a partir de 1º de janeiro de 1999; fixa as diretrizes de atenção à saúde; e revoga as Resoluções Normativas – RN nº 387, de 28 de outubro de 2015, e RN nº 407, de 3 de junho de 2016. – ANVISA: Resolução RDC nº 220, de 21 de setembro de 2004. Regulamento Técnico de funcionamento dos Serviços de Terapia Antineoplásica. – ANVISA: Resolução RDC nº 67, de 8 de outubro de 2007. Regulamento Técnico sobre Boas Práticas de Manipulação de Preparações Magistrais e Oficinais para Uso Humano em farmácias. – DHHS (NIOSH): Publication Nº 2004-165 (Supersedes 2014-138). – DHHS (NIOSH): Publication Nº 2016-161 (Supersedes 2014-138). – Hosp Pharm 43:723, 2008. – MTE: Norma Regulamentadora nº 32. Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde. PortariaN° 485, de 11 de novembro de 2005. – SOBRAFO: I Consenso Brasileiro para Boas Práticas da Terapia Antineoplásica da Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia de São Paulo - Seguimento Farma, 2014. 8 | Gerenciamento de risco 2 Biossegurança na administração de antineoplásicos Ana Claudia de Oliveira, Patrícia Molina e Suely Goto coNSIDERAÇÕES GERAIS Introdução. Os riscos ocupacionais envolvendo as propriedades citotóxicas da quimioterapia antineoplásica (QA) podem causar danos à saúde e às unidades operacionais, além de prejuízos financeiros. Têm origem nas atividades insalubres e perigosas, cuja natureza pode provocar efeitos adversos à saúde dos profissionais ao longo do tempo. A biossegurança constitui um conjunto de normas que visam, prioritariamente, à prevenção ou à minimização de riscos, por meio de decisões técnicas e administrativas para propor mudanças ou adequações. Meios de contaminação. Os riscos advindos da manipulação da QA podem ocorrer em qualquer momento durante o recebimento, armazenamento, manuseio, preparo, administração ou descarte. Envolvem a inalação de aerossóis, o contato direto da droga com a pele e mucosa, ingestão de alimentos contaminados por resíduos e por meio do manuseio das excretas dos pacientes submetidos ao tratamento. Proteção. A organização hospitalar com foco na segurança e saúde de seus profissionais deverá implantar definitivamente o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) em todas as suas áreas de atuação, considerando-os como ferramentas úteis, que melhorarão constantemente o ambiente de trabalho aumentando a satisfação física e mental dos profissionais (NR-9). A admissão de funcionários deve ser precedida de exames médicos, sendo obrigatória, também, a realização de avaliações periódicas, conforme estabelecido pela NR nº 7 do Ministério do Trabalho – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). De acordo com a Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho em estabelecimentos de saúde (NR 32), a instituição deve assegurar a capacitação contínua em biossegurança aos seus funcionários e disponibilizar um manual de procedimentos de quimioterapia (QT); disponibilizar o equipamento de proteção individual (EPI), que deve ser composto no mínimo de luvas de procedimentos, avental impermeável, máscara respiratória e óculos de proteção. É indispensável manter no serviço de terapia antineoplásica (STA) um kit de derramamento de acordo com a RDC nº 220/2004, o qual deve ser claramente identificado e estar disponível para as áreas de preparação, Biossegurança na administração de antineoplásicos | 9 armazenamento, transporte e administração de antineoplásicos. As formas de descarte, os locais e o acondicionamento devem estar bem estabelecidos na instituição (RDC nº 33/2003, RDC 222/2018). Estrutura. O STA deve contar com um quadro de pessoal de enfermagem adequado em headcount e qualificado, que permita atender às Resoluções COFEN nº 0543/2017 – que revoga a 527/2016. Deve abranger, obrigatoriamente, as etapas de observação clínica e prescrição médica; avaliação da prescrição, preparação, controle de qualidade, conservação, transporte, administração e descarte. Os STAs devem contar com licença de funcionamento expedida pelo órgão sanitário competente; o responsável técnico (RT) do STA e todos os demais médicos devem ser habilitados em oncologia, com titulação reconhecida pelo Conselho Regional de Medicina (CRM); nos STAs que atendem somente pacientes com doenças onco-hematológicas, o RT e todos os demais médicos devem ser habilitados em hematologia, com titulação reconhecida pelo CRM; o farmacêutico com registro no Conselho Regional de Farmácia (CRF) deve ser o RT pela prática da preparação da QA, assim como o enfermeiro com registro no COREN deverá ser o RT do STA pela prática da administração, cumprindo as legislações pertinentes e vigentes. Todos os medicamentos, produtos farmacêuticos e produtos para a saúde utilizados pelos STAs devem ter registros ou autorização na ANVISA/MS e garantir as condições ideais de conservação, transporte, administração e descarte da QA. É de responsabilidade do STA capacitar os profissionais envolvidos, direta ou indiretamente, por meio de programas de educação continuada, devidamente registrados; estabelecer auditorias periódicas para a verificação do cumprimento das normas estabelecidas pelo STA com base no Regulamento Técnico. Verificação da prescrição médica. A avaliação das prescrições pelo enfermeiro especialista é uma parte importante na segurança do processo de administração e compõe o procedimento da dupla checagem da prescrição médica, sendo uma estratégia para minimizar erros assistenciais no preparo e na administração dos antineoplásicos (RDC nº 220/2004). Consiste em verificar a pertinência dos medicamentos aos protocolos prescritos, parâmetros de liberação informados pelo médico, peso e altura do paciente e sua respectiva superfície corpórea, dose, medicamentos de suporte para prevenção de náuseas, vômitos, prevenção de lesão de órgãos e reações alérgicas, diluição, incompatibilidades, tempo de infusão e via de administração. O sequenciamento do protocolo pode ser verificado ou definido pelo enfermeiro na análise da prescrição médica de acordo com o protocolo. Toda dupla checagem deve ocorrer antes do envio da prescrição médica para a farmácia, a qual deverá realizar a tripla checagem antes da manipulação da QA. 10 | Gerenciamento de risco Administração da quimioterapia antineoplásica (QA). Todos os procedimentos pertinentes à administração devem ser realizados de acordo com procedimentos operacionais escritos com base nos regulamentos vigentes. A atividade de administração é exclusiva do enfermeiro (RESOLUÇÃO COFEN Nº 0569/2018). Devem ser conferidas, antes da administração, a identificação do paciente e sua correspondência com a prescrição médica. O recebimento do antineoplásico proveniente da farmácia deve ocorrer munido da prescrição médica, sendo verificada a exatidão das informações do rótulo, realizada a inspeção visual para assegurar a integridade física da embalagem, bem como a ausência de perfurações e/ou vazamentos, partículas ou precipitações na solução. Os EPIs devem ser usados em todas as fases. Os protocolos de punção e extravasamento de drogas para o atendimento de acidentes devem estar escritos. É necessário haver a notificação de reação adversa e queixa técnica, sendo que as notificações de reações adversas devem ser encaminhadas também ao órgão sanitário competente, quando pertinente. Deve-se realizar o registro sistematizado em prontuário da evolução dos pacientes submetidos à terapia antineoplásica. Nota. Como proteção adicional, dispositivos fechados de segurança podem ser utilizados no preparo e na administração dos antineoplásicos para minimizar os riscos de contaminação individual e ambiental. Os dispositivos são conectados nos frascos, bolsas de soro, equipo e acessos vasculares, promovendo barreira mecânica e evitando vazamentos. Eliminam o uso de agulhas, que são substituídas por adaptadores conectados às seringas luerlock. Manejo de resíduos. É indispensável elaborar procedimentos operacionais padrão que determinem o fluxo de trabalho na execução das atividades de armazenamento, manipulação, transporte e possíveis acidentes com QA. É imprescindível e obrigatório manter no STA um kit de derramamento, o qual deve ser identificado e estar disponível para as áreas de preparação, armazenamento, administração e transporte, sendo composto, no mínimo, de luvas de procedimentos, avental impermeável, compressas absorventes, proteção respiratória, proteção ocular, sabão e recipiente identificado para recolhimento dos resíduos de acordo com RDC/ANVISA nº 33/2003. Deve haver normas e rotinas escritas, revisadas anualmente, para a utilização de EPI e Equipamentosde Proteção Coletiva (EPC). Em acidente pessoal, quando da contaminação do vestuário, pele e olhos, devem-se remover imediatamente o vestuário e lavar porções corporais afetadas com água e sabão; quando da contaminação dos olhos ou outras mucosas, lavar com água ou solução isotônica em abundância, providenciar acompanhamento médico e registro do acidente. Em acidente envolvendo o ambiente, antes de qualquer procedimento de descontaminação deve haver paramentação adequada; quando da contaminação de pequeno porte, os pós devem ser recolhidos com compressa absorvente umedecida, os líquidos devem ser recolhidos com compressas absorventes secas e toda a área deve Biossegurança na administração de antineoplásicos | 11 ser limpa com água e sabão. Quando da contaminação de grande porte, deve ser limitada a área do derramamento com compressas absorventes, identificando-a e restringindo o acesso a ela. Quando da existência de fragmentos, estes devem ser recolhidos e descartados conforme RDC/ANVISA nº 33/2003. Quanto aos cuidados com excretas e fluidos corpóreos do paciente que recebeu QA nas últimas 48 h, a equipe assistencial deverá utilizar aventais e luvas de látex descartáveis. oRIENTAÇÃo DE ALTA É importante o paciente em TA receber informações, escritas e verbais, completas e necessárias para assegurar a continuidade da assistência em âmbito hospitalar ou domiciliar. Informativo sobre câncer, QA, cateteres centrais, cuidados específicos com a terapêutica, alimentação, medicação de suporte, dinâmica de atendimento do setor, direitos e deveres legais do paciente devem ser claros e precisos aos pacientes e familiares. É importante também preparar o paciente e a família para o manuseio de QA oral, armazenamento, administração, interações medicamentosas e descarte. Cuidados com os cateteres centrais, prevenção de infecção com a higienização das mãos, cuidados com a pele e mucosas, bem como com o manuseio de excretas devem constar no plano educacional. LITERATURA RECOMENDADA – ANVISA: Resolução RDC nº 220, de 21 de setembro de 2004. Regulamento Técnico de funcionamento dos Serviços de Terapia Antineoplásica. – ANVISA: Resolução RDC nº 306, de 7 de dezembro de 2004. Regulamento Técnico para o Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde. – ANVISA: Resolução RDC nº 33, de 19 de abril de 2000. Regulamento Técnico sobre Boas Práticas de Preparação de Medicamentos em farmácias e seus anexos. – ANVISA: Resolução RDC nº 33, de 25 de fevereiro de 2003. Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. – ANVISA: Resolução RDC nº 45, de 12 de março de 2003. Regulamento Técnico de Boas Práticas de Utilização das Soluções Parenterais (SP) em Serviços de Saúde. – ANVISA: Resolução RDC nº 50, de 21 de fevereiro de 2002. Regulamento Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. 12 | Gerenciamento de risco – CFF: Resolução nº 288, de 21 de março de 1996. Dispõe sobre a competência legal para o exercício da preparação de drogas antineoplásicas pelo farmacêutico. – COFEN: Recomendações sobre a segurança do manuseio e preparo de drogas citostáticas pela equipe de enfermagem – Bol. COFEN - fotocópia: s.n.t. p. 19-22, 1995. – COFEN: Resolução nº 569, de 19 de fevereiro de 2018. Regulamento Técnico da Atuação dos Profissionais de Enfermagem em Quimioterapia Antineoplásica. – COFEN: Resolução nº 146, de 1º de junho de 1992. Normatiza em âmbito Nacional a obrigatoriedade de haver Enfermeiro em todas as unidades de serviço onde são desenvolvidas. – COFEN: Resolução nº 210, de 1º de julho de 1998. Dispõe sobre a atuação dos profissionais de Enfermagem que trabalham com quimioterápico antineoplásicos. – COFEN: Resolução nº 257 de 12 de julho de 2001. Acrescenta dispositivo ao Regulamento aprovado pela Resolução COFEN Nº 210/98, facultando ao Enfermeiro o preparo de drogas Quimioterápicas Antineoplásicas. – Int Arch Occup Environ Health 86:47, 2013. – J Occup Environ Med 56:901, 2014. – Ministério da Saúde: Portaria nº 1.823, de 23 de agosto de 2012. Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora. – Ministério da Saúde: Portaria nº 3.535, de 2 de setembro de 1998. Estabelece critérios para cadastramento de centros de atendimento em oncologia. – Ministério da Saúde: Portaria nº 529, de 1º de abril de 2013. Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP). – Ministério do Trabalho: Portaria SSST nº 8, de 08 de maio de 1996. Norma Regulamentadora NR-7-Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional-PCMSO. – OSHA Technical Manual: section VI, chapter 2. Controlling Occupational Exposure To Hazardous Drugs. – Revista Brasileira de Cancerologia 60:247, 2014. – Revista Brasileira de Cancerologia 62:137, 2016. – Secretária de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde: Portaria nº 500, de 9 de outubro de 1997. Regulamentos Técnicos sobre Soluções Parenterais de Grande Volume. II assIstêncIa de enfermaGem na admInIstração de antIneoplásIcos parenteraIs 3. Cuidados na administração de antineoplásicos endovenosos, 14 4. Cuidados na administração de antineoplásicos subcutâneos, 20 5. Cuidados na administração de antineoplásicos intramusculares, 25 6. Cuidados na administração de antineoplásicos intratecais, 29 7. Cuidados na administração de antineoplásicos intraperitoneais, 35 8. Cuidados na administração de antineoplásicos intra-arteriais, 39 9. Cuidados na administração de antineoplásicos intravesicais, 43 14 | Assistência de enfermagem na administração de antineoplásicos parenterais 3 cuidados na administração de antineoplásicos endovenosos Andreia Oliveira da Silva Meira e Katia Mayumi Okabayashi coNSIDERAÇÕES GERAIS Definição. Administração de agentes antineoplásicos diretamente na corrente sanguínea, por meio de cateteres venosos periféricos ou centrais. PRINcIPAIS FoRMAS DE ADMINISTRAÇÃo – Cateter periférico (não agulhados com dispositivo passivo de segurança: Insyte®, Íntima®, Jelco®). – Cateter central de inserção periférica (PICC). – Cateter central totalmente implantado (Port-a-cath®). – Cateter central parcialmente implantado (Hickman®, Permicath®). Vantagens da via endovenosa. Permite a administração em bolus, por gotejamento e por infusão contínua; é a mais segura no que se refere ao nível sérico do fármaco e sua absorção. Desvantagens da via endovenosa. Necessidade de profissional treinado e com habilidade técnica; invasiva; pode causar dor; maior risco de complicações, tais como flebite, urticária, hiperpigmentação da pele e o extravasamento, que pode ocasionar necrose tecidual; risco de infecção de corrente sanguínea e de outras complicações decorrentes do uso de cateter venoso central ou periférico, como a trombose. DEScRIÇÃo Do PRocEDIMENTo – EV Cuidados na pré-administração – Orientar o paciente quanto ao risco de extravasamento, flebite, infiltração, hipersensibilidade, aos sinais e sintomas precoces e tardios, estimulando-o a informar qualquer alteração de sensibilidade local à equipe de enfermagem. – Proceder à técnica de punção central ou periférica de acordo com a padronização da instituição. – Para a escolha da veia periférica a ser puncionada, optar pelas veias mais calibrosas, menos tortuosas e móveis, distantes das articulações. Cuidados na administração de antineoplásicos endovenosos | 15 – Não realizar a punção periférica em membros com restrição; em veias rígidas, endurecidas, com alterações de cor e/ou doloridas. – Fixar o dispositivo de uma maneira que facilite a visualização do local da inserção do dispositivo venoso. EXEcuÇÃo DA ADMINISTRAÇÃo Do ANTINEoPLáSIco – Após paramentar-se, realizar a desinfecção do conector de sistema fechado com a lâmina embebida em álcool a 70%, com movimentos circulares e firmes (5 segundos); conectar a seringa preenchida com soro fisiológico0,9% 10 mL e certificar-se do bom refluxo e fluxo do acesso venoso (cateter periférico ou central) antes de aplicar cada medicação e/ou antineoplásico. – Instalar o antineoplásico de acordo com a forma de administração e o tempo de infusão (não administrar dois antineoplásicos concomitantemente). – Checar a prescrição médica com o horário de início e sigla referente ao nome (rotina da instituição). – Interromper a infusão se houver: edema, hiperemia, diminuição ou parada do retorno venoso ou dor no local da punção. – Monitorar a infusão a cada 15 min até o término. No caso de reação à droga, suspender a infusão (ver capítulo 27, Manejo das reações infusionais agudas). – Ao término, paramentar-se novamente, usar gaze abaixo das conexões para desconectar o equipo do antineoplásico e proceder ao descarte em recipiente próprio; lavar o acesso periférico ou central com 10 mL de soro fisiológico 0,9% mantendo a pressão positiva (realizar a seguinte sequência: flushing, clamping e desconexão); realizar a manutenção de acordo com a rotina da instituição. – Na retirada do dispositivo, fazer compressão local por 3 min e colocar curativo tipo blood stop. PuNÇÃo DE cATETER ToTALMENTE IMPLANTáVEL Sugestão de técnica de punção Materiais – Agulha huber point com tamanho selecionado previamente. – Conector de sistema fechado. – Steri-Strip® (fita microporosa estéril) e película transparente sem fenda (ex.: IV3000® 10 × 12 cm, OpisiteTM flexgrid®10 × 12 cm) na permanência do cateter puncionado. – 1 máscara descartável. 16 | Assistência de enfermagem na administração de antineoplásicos parenterais – 1 pacote de gaze estéril. – 2 pares de luvas estéreis. – 1 seringa de 10 mL preenchida com 2 mL de SF 0,9%. – 2 seringas de 10 mL preenchidas com 10 mL de SF 0,9%. – 1 frasco de clorexidina alcoólica a 0,5%. – Lâminas de algodão ou gaze embebidas com álcool 70%. – Anestésico tópico se necessário. – Solução de heparina, 200 UI/2 mL, para heparinizar o cateter quando retirar a punção. – Sacos plásticos para lixo. Execução – Aplicar o anestésico tópico e deixar agir por 45 min (avaliar necessidade). – Avaliar profundidade do reservatório e escolher o tamanho da agulha. – Separar o material. – Realizar a desinfecção da mesa auxiliar com álcool 70%. – Colocar a máscara e lavar as mãos. – Abrir o pacote de gaze estéril e embeber as lâminas com clorexidina alcoólica 0,5%. – Calçar as luvas estéreis. – Realizar a antissepsia da pele com a gaze estéril embebida com clorexidina alcoólica 0,5%, iniciar do ponto a ser puncionado e ampliar com movimentos circulares cada vez mais amplos até uma área de aproximadamente 10 cm de diâmetro. Repetir pelo menos três vezes, sendo cada movimento com uma nova lâmina de gaze. – Pedir ao paciente que lateralize o rosto (lado oposto ao do cateter) e mantenha-se sem falar para não contaminar a área com a respiração e gotículas de saliva. – Após a antissepsia da pele, manter a região protegida com uma lâmina de gaze estéril. – Retirar as luvas e lavar as mãos. – Abrir a embalagem da agulha huber point (outras agulhas danificam o silicone do cateter). – Adaptar o conector de sistema fechado. – Realizar desinfecção do conector com álcool 70%. Cuidados na administração de antineoplásicos endovenosos | 17 – Adaptar a seringa de 10 mL com 2 mL de SF 0,9% e preencher o sistema. – Abrir o restante dos materiais: luva estéril; Steri-Strip® e película (IV-3000®; OpsiteTM flexgrid® 10 × 12 cm) no caso de o cateter permanecer puncionado. – Introduzir a agulha em ângulo reto, ultrapassar a resistência e tocar o fundo do reservatório. – Confirmar o posicionamento da agulha no reservatório, testando o retorno venoso, que deverá ser desprezado (aproximadamente 3 mL, se não houver coleta de sangue para exames). – Lavar o sistema com 20 mL de SF 0,9% para adultos; a infusão deve ser livre, fácil e indolor. – Fixar a agulha com Steri-Strip®, sendo duas lâminas na vertical, duas na horizontal e uma na extensão do cateter. – Realizar curativo com película transparente, independentemente do tempo que permanecerá puncionado. Outra opção é a técnica que utiliza um dispositivo pronto uso que combina princípio ativo e concentração ideal para realização de antissepsia através de um aplicador estéril (Chloraprep®), eliminando a utilização de luva estéril, gazes e pinças no primeiro momento de antissepsia. Nota. A manutenção do cateter totalmente implantável requer cuidados no que diz respeito a diminuir risco de obstrução e de infecção. Recomendamos algumas ações desenvolvidas em nosso serviço: – A troca da agulha e da película deve ser realizada em até 7 dias. – A troca do conector é realizada a cada 96 h. – Após administração de quaisquer medicamentos, a via deve ser irrigada com 10 mL de SF 0,9%; após refluxo ou coleta de sangue, administração de hemoderivados ou contraste, utilizar 20 mL de SF 0,9%. – Administrar heparina, 200 UI/2 mL para manutenção nos intervalos maiores que 12 h sem utilização da via ou a cada 7 dias para cateteres de PICC, Hickman® ou Permicath® e a cada 30 dias para cateter tipo Port-a-cath®. Para pacientes de alto risco para infecção de corrente sanguínea (hematológicos, oncológicos) existe o Curos™, que se trata de uma tampa protetora com álcool para desinfecção de conectores sem agulha. Ela deve ser utilizada após a administração de medicamentos, hemoderivados, contraste e realização de coleta, podendo ficar até 7 dias se não for utilizado. Uso único. 18 | Assistência de enfermagem na administração de antineoplásicos parenterais AcESSo VENoSo PERIFéRIco Sugestão de técnica de punção Materiais – Dispositivo não agulhado (20 a 24 G). – Conector de sistema fechado. – Película transparente (ex.: Tegaderm® 7 × 7 cm). – Lâminas de gazes ou de algodão embebidas em álcool 70%. – 1 par de luvas de procedimento. – 2 seringas de 10 mL preenchidas com SF 0,9%. – Solução de heparina, 100 UI/mL se manutenção do acesso. – Sacos plásticos para lixo. Execução – Realizar a desinfecção da mesa auxiliar com álcool 70% para dispor todo o material. – Colocar a máscara e lavar as mãos. – Selecionar o local e a veia a ser puncionada. – Abrir a embalagem da agulha própria para a punção. – Abrir a embalagem do conector de sistema fechado. – Garrotear o membro a ser puncionado. – Realizar a antissepsia da pele com álcool 70% com movimentos circulares e amplos. – Se necessária a palpação da veia, realizar novamente a antissepsia da pele. – Puncionar a veia conforme técnica, mantendo o bisel da agulha voltado para cima (ângulo de 15°) no ato da punção; esticar a pele do braço para facilitar a penetração da agulha. – Realizar punção única, soltar o garrote e colocar o conector de sistema fechado imediatamente após a punção venosa. – Realizar a fixação adequada e estabilizar com película transparente. – Lavar o sistema com 20 mL de SF 0,9%. – A infusão deve ser livre, fácil e indolor. – Ao retirar o acesso, realizar compressão ativa por, pelo menos, 1 min. Atentar-se para os pacientes em uso de anticoagulantes. Cuidados na administração de antineoplásicos endovenosos | 19 Nota. Recomendamos algumas ações para manutenção dos cateteres periféricos: – Troca de agulha em até 96 h. – Troca do conector e da película a cada punção ou a cada 96 h. – Após administração de quaisquer medicamentos, a via deve ser irrigada com 10 mL de SF 0,9% e, após refluxo ou coleta de sangue e administração de hemoderivados ou contraste, com 20 mL de SF 0,9%. – Administrar heparina, 100 UI/mL, 1 mL para manutenção da via nos intervalos maiores que 4 h sem utilização da via. LITERATURA RECOMENDADA – Journal of Infusion Nursing 39:15, 2016. – Portal de Periódicos da PUCRS 4:1, 2011. 20 | Assistência de enfermagem na administração de antineoplásicosparenterais 4 cuidados na administração de antineoplásicos subcutâneos Andreia Oliveira da Silva Meira e Paula Magalhães Silva coNSIDERAÇÕES GERAIS Definição. É a técnica utilizada para administrar um medicamento dentro do tecido conjuntivo, na hipoderme – isto é, abaixo da derme –, também conhecida como tecido subcutâneo. A via subcutânea tem uma absorção mais lenta. Algumas drogas exercem sua função de maneira mais eficiente quando liberadas lentamente na circulação. Dependendo da velocidade ideal de absorção, usa-se a via subcutânea. Indicação. Para administração de medicações não irritantes e que necessitem de uma absorção mais rápida para a corrente sanguínea do que por via oral e mais lenta que a via muscular ou endovenosa. Contraindicações. Medicamentos irritantes e não registrados para essa via, locais com presença de hematomas, queimaduras, edema ou lesões de pele ou com evidência de infecções ou próximas ao local da aplicação. Principais drogas. Bleomicina, citarabina, cladribina, azacitidina, bortezomibe, asparaginase, mepessuccinato de omacetaxina, alentuzumabe, interferona, interleucina 2, alfapeguinterferona, eritropoietina, filgrastim, lenograstim, molgramostim, oprelvecina, pegfilgrastim, plerixafor, romiplostim, busserrelina, calcitonina, gosserrelina, octreotida, oprelvecina, leuprorrelina, leuprolida, degarelix, trastuzumabe, lipegfilgrastim e rituximabe. Vantagens. Assegura a distribuição lenta e constante da droga. Permite o implante de Pellets (microesferas que contém o princípio ativo dos medicamentos). Provoca pouco trauma tecidual. Há menor risco de atingir vasos sanguíneos e nervos. Desvantagens. Há restrição do uso de alguns fármacos. Não permite o uso de medicamentos irritantes e dos que necessitem de ação rápida. PROCEDIMENTO Materiais – Prescrição médica. – Bandeja. Cuidados na administração de antineoplásicos subcutâneos | 21 – Medicação prescrita e manipulada pela farmácia da Oncologia, com etiqueta de identificação com dados do paciente e da medicação. – Lâminas de gaze ou algodão embebidas em álcool 70%. – Gaze seca ou algodão (não estéril). – Curativo tipo blood stop. – EPIs para a administração de antineoplásicos, de acordo a rotina institucional (luvas de procedimento, máscara, avental impermeável, óculos de segurança). Nota. A agulha deve ser adequada à medicação, volume e peso do paciente. A aplicação deve ser feita num ângulo de 90° para agulhas hipodérmicas 10 × 6 mm ou 7 mm e 12 × 6 mm ou 7 mm e em 30° a 60° se a agulha for 25 × 6 mm ou 7 mm – pacientes obesos. Descrição – Orientar paciente/familiares sobre o procedimento. – Escolher o local para realizar a aplicação. – Conferir a prescrição médica com a etiqueta de identificação da medicação e a pulseira de identificação do paciente. – Certificar-se da medicação prescrita, dose prescrita, via de administração, horário, frequência. – Posicionar o paciente de acordo com o local selecionado e expor somente a área para aplicação. – Colocar máscara, lavar as mãos, calçar luvas de procedimento e colocar avental impermeável, de acordo com o protocolo institucional para administração de antineoplásicos. – Fazer antissepsia da pele com álcool a 70%, em sentido único. – Fazer a prega subcutânea com os dedos polegar e médio, introduzindo a agulha de forma rápida e em angulação de 30° a 90° – de acordo o peso do paciente. – Aspirar lentamente o êmbolo para testar refluxo e certificar-se de que não pegou um vaso sanguíneo. – Injetar a medicação lentamente. – Retirar a agulha ao término e fazer compressão local com gaze ou algodão seco. – Aplicar curativo local. – Acionar o dispositivo de segurança da agulha e/ou seringa, quando aplicável. – Descartar as seringas com agulha em caixa de descarte químico apropriada. 22 | Assistência de enfermagem na administração de antineoplásicos parenterais – Orientar e auxiliar o paciente a se recompor. INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM – Escolha o local de aplicação mais adequado. Considere os rodízios de locais de aplicação para medicações com mais de um dia de aplicação. – Escolha a agulha a ser utilizada, de acordo ao peso do paciente e espessura do tecido subcutâneo. – Posicione corretamente o paciente, que deve ser orientado a se colocar numa posição confortável com exposição apenas do local da administração. – Segure a seringa entre o polegar e o indicador da mão dominante, como se fosse um dardo. – Ao realizar a punção, não superficialize nem aprofunde a agulha para que o bisel não fique posicionado na região intradérmica ou intramuscular. – Não puncione áreas próximas a locais de irradiação e/ou focos infecciosos. – O local da punção deve estar a uma distância mínima de 5 centímetros do local da última punção. – Monitore e oriente o paciente quanto a sinais de edema, eritema persistente, dor e presença de secreções no local de aplicação. Medicação Para algumas medicações, recomendam-se cuidados adicionais, como: Mabthera® Sc e Herceptin® Sc: – Aplicação deve ser preferencialmente em região abdominal (Mabthera® SC) e na coxa (Herceptin® SC). – Agulha deverá ser conectada minutos antes da administração, evitando possível obstrução. – Aplicar medicação com paciente em decúbito dorsal. – Angulação da agulha: 90°. – Administração deverá ocorrer em, no mínimo, 5 minutos. Após término da administração manter paciente em observação por 2 h (Mabthera® SC) e 6 h (Hercetin®SC) e/ou seguir o protocolo institucional quanto ao tempo de observação para liberação do paciente. Nota. Embora o tempo de observação indicado na bula seja de 2 h após a segunda infusão, analisamos a experiência em alguns serviços e Cuidados na administração de antineoplásicos subcutâneos | 23 vimos que este monitoramento é realizado de forma variável, em nossa instituição, com o paciente permanecendo em observação durante 30 min após a aplicação e sendo orientado a entrar em contato com a equipe em caso de ocorrência de sinais e/ou sintomas que possam sugerir reação alérgica. Degarelix: – Orientar o paciente quanto a possibilidade de reação local nos primeiros dias após a aplicação (cerca de 30% na primeira aplicação e de 5 a 10% nas demais). – Usar o agitador para preparo da solução (por pelo menos 2 min). – Administrar em, no máximo, 60 min após o preparo. – Devem-se evitar áreas em que o paciente será exposto a pressão, tais como: região que utiliza cinto, cinto de segurança, local onde a calça é abotoada ou próximo as costelas e regiões de atrito. – Aplicar compressa gelada e ou botão anestésico em local de aplicação por 10 a 15 min antes da aplicação. – Aplicar medicação com paciente em decúbito dorsal em SC profundo. – O local de aplicação deve ser de 4 a 6 cm distante da cicatriz umbilical. – Angulação da agulha: 45°. – A administração deve ser lenta e a agulha deve ser mantida no local da punção por pelo menos 30 segundos, o que diminui refluxo de medicação e, consequentemente, a irritação local pela droga. – Ao término, ocluir com curativo. – Orientar paciente a realizar compressa de chá de camomila 3×/ dia por 3 dias, principalmente na primeira aplicação, devido à possibilidade de reação local. – Orientar o paciente a retornar se reação local mais intensa. Locais recomendados para aplicação – Face superior externa do braço. – Face externa ou anterior da coxa. – Região abdominal (entre os rebordos costais e as cristas ilíacas). – Região superior do dorso. LITERATURA RECOMENDADA – Bula Mabtera® e Herceptin®. – Bula Firmagon®. 24 | Assistência de enfermagem na administração de antineoplásicos parenterais – Grande tratado de enfermagem prática: clínica e prática hospitalar, 1996. – Revista Brasileira de Enfermagem 58.5:602, 2005. – Revista HCPA 32.2:199, 2002. Cuidados na administração de antineoplásicos intramusculares | 25 5 cuidadosna administração de antineoplásicos intramusculares Andreia Oliveira da Silva Meira e Danielle Thaise Ambrósio coNSIDERAÇÕES GERAIS Definição. É a técnica utilizada para administrar um medicamento dentro do tecido muscular. Isso permite que o medicamento seja absorvido pela corrente sanguínea mais rapidamente do que é pela via subcutânea e mais lentamente do que pela via endovenosa. Indicações. É indicado quando outros tipos de métodos de administração não são possíveis ou recomendados. A injeção IM é usada em vez da injeção IV porque alguns medicamentos são irritantes para veias ou porque o paciente não apresenta adequado acesso venoso periférico para a administração. Pode ser usada em substituição da via oral, porque algumas drogas são destruídas pelas enzimas gástricas ou quando não há uma absorção adequada da droga. Nota. A injeção intramuscular é absorvida mais rapidamente do que a injeção subcutânea. Isso ocorre porque o músculo tem mais vascularização que o tecido subcutâneo. O tecido muscular pode também receber um maior volume de medicamento que o tecido subcutâneo. Contraindicações. Para medicamentos não indicados por essa via. Em pacientes que não apresentam massa muscular adequada para o procedimento ou em locais com presença de hematomas, queimaduras, edema ou lesões de pele ou com evidência de infecções nas áreas próximas ao local da aplicação, muita sensibilidade nas áreas de aplicação, uso de anticoagulantes ou trombocitopenia (plaquetas < 50.000). Nota. Fazer rodízios dos locais de administração, para evitar lesões ou desconforto muscular devido a administrações que podem se repetir por alguns dias. Os locais de administração comumente utilizados são: ventroglútea, dorsoglútea, face anterolateral da coxa e deltoide (menos comum para administração de antineoplásicos). Principais drogas. Asparaginase, metotrexato, octreotida, triptorrelina, citarabina, ciclofosfamida, bleomicina, alfainterferona 2B e alfainterferona 2A, interleucina 2 e fulvestranto. Vantagens. Absorção relativamente rápida, sendo adequada para 26 | Assistência de enfermagem na administração de antineoplásicos parenterais administração de volumes moderados, de veículos aquosos, oleosos, suspensão ou preparação de depósitos. Desvantagens. Dor, fibrose tecidual e aparecimento de lesões musculares e de nervos pela aplicação de substâncias irritantes ou de pH distante da neutralidade, promovendo o aparecimento de processos inflamatórios, o que poderá ser evitado utilizando técnica em Z. Nota. Poucos quimioterápicos podem ser administrados pela via IM devido à toxicidade dermatológica de algumas drogas. Asparaginase aplicada por via IM traz benefícios importantes, pois possibilita a redução da hipersensibilidade presente nas infusões intravenosas. A técnica de administração, entretanto, é semelhante à utilizada para aplicação de outros agentes farmacológicos não quimioterápicos, exigindo atenção para o rodízio do local de administração e utilização de agulha com menor calibre possível, para redução de equimoses e hematomas, monitorização do hemograma, fatores de coagulação e de enzimas pancreáticas. PRocEDIMENTo (QT/IM) Materiais – Prescrição médica. – Bandeja. – Medicação prescrita e manipulada pela farmácia da Oncologia, com etiqueta de identificação com dados do paciente e da medicação. – Lâminas de gaze ou algodão embebidas em álcool 70%. – Gaze seca ou algodão (não estéril). – Curativo tipo blood stop. – EPIs para a administração de antineoplásicos, de acordo a rotina institucional (luvas de procedimento, máscara, avental impermeável, óculos de segurança). Nota. A agulha deve ser adequada à medicação, volume e músculo selecionado para a aplicação. Orientação pré – Orientar o paciente sobre: indicação da medicação IM; escolha do músculo para administração; possibilidade de dor durante a administração; procedimento propriamente dito; rodízio de locais de aplicação, se terapia prolongada. – Fazer a seleção do melhor músculo para a injeção e comunicar a farmácia quanto ao tamanho da agulha a ser utilizada. Cuidados na administração de antineoplásicos intramusculares | 27 Descrição – Fazer a leitura e conferência da prescrição médica, conferindo: nome completo e outro identificador do paciente (de acordo com a rotina institucional, por exemplo, nome completo e data de nascimento do paciente); nome do medicamento; dose; via de administração; frequência/aprazamento e horário. – Preparar bandeja previamente higienizada (álcool 70%) com o material e o medicamento que serão utilizados. – Conferir a etiqueta de identificação de medicamentos com os dados da prescrição médica. – Apresentar-se ao paciente/acompanhante e orientar sobre o procedimento, os efeitos esperados da medicação, bem como possíveis reações adversas. – Conferir a pulseira de identificação do paciente checando os dois identificadores com a prescrição médica em mãos. – Questionar o paciente quanto a alergias. – Selecionar o local de administração adequado à administração de acordo com as características do medicamento e do paciente, após examinar as condições da área para aplicação e atentando para fazer rodízios dos locais de administração a fim de evitar lesões ou desconforto muscular, sobretudo em administrações que podem se repetir por alguns dias. – Posicionar o paciente de acordo com o local selecionado e expor somente a área de aplicação. – Fazer antissepsia da pele com álcool a 70%, em sentido único. – Introduzir a agulha com o angulo de 90°. – Aspirar lentamente o êmbolo para testar refluxo e certificar-se de que não pegou um vaso sanguíneo. – Injetar a medicação lentamente. – Retirar a agulha ao término e fazer compressão local com gaze ou algodão seco. – Aplicar curativo local. – Acionar o dispositivo de segurança da agulha e/ou seringa, quando aplicável. – Agulhas, seringas e demais materiais deverão ser desprezados nas caixas de descarte apropriadas. – Orientar e auxiliar o paciente a se recompor. – Retirar a máscara, luvas de procedimento e avental, bem como higienizar as mãos e a bandeja inox. 28 | Assistência de enfermagem na administração de antineoplásicos parenterais – Checar a administração do medicamento na prescrição médica. Técnica em Z A técnica em Z é recomendada para a administração de medicamentos que são irritantes para o tecido subcutâneo. Essa técnica também reduz a dor e evita a dispersão da medicação para o tecido subcutâneo. Descrição da técnica. Após a seleção do músculo para a administração da injeção, puxe a pele por 2 a 3 cm do local da aplicação com a mão não dominante e segure-a. Aplique a injeção no local escolhido lentamente, num ângulo de 90°. Após o término da administração espere cerca de 10 segundos para que a medicação acomode no músculo, remova a agulha e solte a pele. Na Oncologia, essa técnica é recomendada para medicações como fulvestranto e Noripurum®. É importante que o profissional que administrará o medicamento conheça previamente suas particularidades, como tipo e volume de diluente, temperatura necessária para administração e interação com outros medicamentos. PoTENcIAIS coMPLIcAÇÕES Formação de abscessos, eritema, infiltrações no tecido subcutâneo, embolias e lesões nervosas, dor forte com irradiação ou não, durante ou imediatamente após a aplicação do medicamento, rubor, hematomas, nódulos, paresias, paralisias ou necrose. LITERATURA RECOMENDADA – Enfermagem Baseada em Evidências, 2005. – Enfermeria Global 156:169, 2013. – Nurs Stand 22:35, 2008. – Nurs Times 104:48, 2008. – Procedimento de Enfermagem Pediátrica, 2003. – Revista de Enfermagem UFPE 10 (supl 6):4813, 2016. Cuidados na administração de antineoplásicos intratecais | 29 6 cuidados na administração de antineoplásicos intratecais Andreia Oliveira da Silva Meira e Lorena Hayashi coNSIDERAÇÕES GERAIS Definição. Quimioterapiaintratecal (QT IT) é a administração de drogas quimioterápicas diretamente no espaço intratecal, que detém o líquido cefalorraquidiano (LCR). Isso se faz necessário porque, na maioria dos casos, os agentes antineoplásicos não cruzam a barreira hematoencefálica. Indicações. No tratamento e profilaxia dos tumores primários ou metastáticos do sistema nervoso central (SNC), da leucemia meníngea, da carcinomatose decorrente do câncer de mama, de pulmão, melanoma, linfoma e rabdomiossarcoma. Principais drogas. Metotrexato, dexametasona, citarabina e sua versão lipossomal de ação mais prolongada. Vantagens. Permite maiores níveis séricos do antineoplásico no líquido cerebroespinhal, meninges e SNC a uma concentração efetiva de antineoplásico. A administração de fármaco através de um cateter de Ommaya melhora a durabilidade para drogas de meia-vida curta, provavelmente pela distribuição mais uniforme da droga ao longo do espaço intraventricular. Desvantagens. Requer punção lombar ou implantação cirúrgica de um cateter de Ommaya (dispositivo em forma de cúpula, colocado cirurgicamente sob o couro cabeludo, para acesso aos ventrículos cerebrais através de um cateter) para administração da droga. A punção lombar também apresenta risco na administração de quimioterápicos fora do espaço intratecal, podendo causar danos teciduais e neurológicos. Contraindicação absoluta. Realização da punção lombar é totalmente contraindicada em casos de lesão de massa intracraniana, aumento da pressão intracraniana ou presença de alterações locais, tais como infecção de pele ou osso na região lombar, aumentando o risco de o micro-organismo responsável pela infecção ser levado para o SNC durante o procedimento. Contraindicação relativa. Malformações arteriovenosas da medula espinal, desordens da coagulação ou presença de trombocitopenia. 30 | Assistência de enfermagem na administração de antineoplásicos parenterais DEScRIÇÃo Do PRocEDIMENTo – QT IT A administração de antineoplásicos por via intratecal é um procedimento médico e altamente especializado, que poderá ser feito por punção lombar ou através de um cateter de Ommaya. A liberação da aplicação só deverá ocorrer após avaliação do paciente, de exames laboratoriais, inspeção do local de punção e assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE). No local da punção lombar, poderá ser usada pomada anestésica, pelo menos 40 min antes do procedimento, para diminuir desconforto local causado pela agulha. Antes da administração de QT IT, habitualmente, o médico que realiza a punção colhe amostra de LCR para controle de citologia oncótica ou descarta o LCR no volume igual ao do antineoplásico a ser administrado. Esse cuidado manterá a mesma pressão liquórica que o paciente tinha antes da administração QT IT, diminuindo muito a ocorrência de efeitos colaterais, como cefaleia. Materiais Com punção lombar e coleta de LCR: – Gorro (opcional). – Máscara. – Avental impermeável (estéril é opcional). – Luva estéril. – Campo estéril – fenestrado e não fenestrado (opcional). – Gazes e curativos estéreis. – Clorexidina 0,5% ou antisséptico preconizado pela própria instituição. – Creme anestésico tópico (opcional). – Tubos estéreis transparentes para análise. – Agulha spinal para punção. Com punção do cateter de Ommaya e coleta de LCR: – Gorro (opcional). – Máscara. – Avental impermeável (estéril é opcional). – Luva estéril. – Campo estéril – fenestrado e não fenestrado (opcional). – Gazes e curativos estéreis. – Clorexidina 0,5% ou antisséptico preconizado pela própria instituição. Cuidados na administração de antineoplásicos intratecais | 31 – Creme anestésico (opcional). – Tubos estéreis transparentes para análise. – Scalp 25. TécNIcA Punção lombar – Higienizar as mãos. – Vestir EPIs de acordo com o preconizado pela instituição, sendo pelo menos máscara e luva estéril. – Posicionar o paciente em decúbito lateral com as pernas fletidas e flexão cervical. – Realizar duplo check da droga a ser administrada com o paciente, pulseira de identificação (nome e data de nascimento), prescrição médica e diretamente com o médico que realizará a administração. – Selecionar o local de punção. – Fazer antissepsia da pele no local da punção. – Fazer a punção lombar. – Depois de retirada a agulha, comprimir o local da punção por 2 min e ocluir com curativo local. – Identificar os tubos colhidos com etiqueta com nome completo do paciente ou com a etiqueta de código de barra. Punção por cateter Ommaya – Higienizar as mãos. – Vestir EPIs de acordo com o preconizado pela instituição, sendo pelo menos máscara e luva estéril. – Posicionar o paciente em decúbito dorsal ou semi-Fowler (30°). – Realizar duplo check da droga a ser administrada com o paciente, pulseira de identificação (nome e data de nascimento), prescrição médica e diretamente com o médico que realizará a administração. – Selecionar o local de punção. – Utilizando gaze estéril, fazer pressão sobre o reservatório e bombear o reservatório pelo menos duas vezes antes da punção para verificar o adequado funcionamento do cateter. – Fazer antissepsia da pele no local da punção. – Puncionar o reservatório do cateter com scalp 25 G adaptado a uma seringa de 3 a 5 mL com o êmbolo tracionado. 32 | Assistência de enfermagem na administração de antineoplásicos parenterais – Colher liquor, para análise ou controle, no volume igual ao de antineoplásico a ser administrado. – Quando não houver necessidade de coleta de liquor para análise, descartar volume igual ao que será infundido para manter a mesma pressão liquórica anterior e diminuir os efeitos colaterais, como cefaleia. – Identificar os tubos colhidos com nome completo do paciente ou com a etiqueta de código de barra. Nota. Quando não há necessidade de coleta de liquor para análise, habitualmente se descarta volume igual ao que será infundido para manter a mesma pressão liquórica anterior e diminuir efeitos colaterais, como cefaleia. Alguns casos pediátricos ou de paciente muito agitado podem demandar sedação. Alguns médicos preferem fazê-la com botão anestésico. coMPLIcAÇÕES Frequentes Efeitos colaterais e complicações do procedimento: – Cefaleia pós-punção. – Acidente de punção que prejudica a análise do liquor. – Insucesso da coleta com punção seca. – Dor irradiada para membros inferiores devido à punção de raiz nervosa. Menos frequentes – Hematoma intracraniano secundário à hipotensão do LCR. – Hérnia transitorial. – Glaucoma. – Infecção do cateter de Ommaya e oclusão de ponta de cateter. – Mucosite e mielossupressão causada pelo metotrexato (necessária a administração sistêmica de ácido fólico). – Náusea, vômito e alterações de estado mental. – Aumento da pressão intracraniana. INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM – Orientar o paciente quanto à técnica e ao material que serão utilizados na administração de QT IT. Cuidados na administração de antineoplásicos intratecais | 33 – Orientar e ajudar o paciente a manter-se na posição recomendada durante o procedimento. – Orientar o paciente quanto à necessidade de repouso absoluto em decúbito zero por 1 h após o procedimento e repouso relativo por 24 h depois dele. – Inspecionar o local a ser puncionado, bem como conferir os materiais necessários e a droga a ser administrada com a prescrição médica e a identificação do paciente. – Realizar o duplo check da droga a ser administrada (médico/ enfermeiro). – Verificar SSVV antes e depois do procedimento. – Monitorizar sinais e sintomas de hematoma, sangramento, edema ou outras alterações no local da punção e, se necessário, comunicar equipe médica. – Preparar e dispor o material para antissepsia da pele e material de punção para o médico que realizará a punção. – Realizar duplo check da droga a ser administrada com a prescrição
Compartilhar