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Objetivos 1. Revisar a anatomia das mamas 2. Identificar a etiologia, epidemiologia e os fatores de risco do CA de mama 3. Compreender a fisiopatologia do CA de mama, suas manifestações e complicações 4. Discorrer acerca dos critérios diagnósticos e condutas terapêuticas do CA de mama Anatomia A glândula mamária é secretória e está inserida no tórax, tendo como principal função a produção do leite. A glândula fica naturalmente repousando sobre o tórax, no quinto/sexto espaço intercostal. Dependendo da mama, pode haver um deslocamento do mamilo. Para saber se ela está bem inserida no contexto, normalmente se passa uma linha vertical da fúrcula esternal até o mamilo, a qual deve ser em torno de 20 a 21 cm; já a distância da borda esternal até a aréola deve ser de 8 cm, e ao centro do complexo areolomamilar (CAM). em torno de 10 cm. Estruturas anatômica e microscópica • Epiderme do mamilo e aréola: pigmentada, coberta por epitélio escamoso estratificado. A pigmentação da aréola depende da cor da paciente, assim como dos hormônios sexuais. • Profundamente à aréola e mamilo: feixes de fibras musculares lisas. Esses músculos, durante a amamentação, se contraem e, a partir disso, se dá a ejeção do leite. • Glândulas sebáceas sudoríparas • Glândulas areolares acessórias (Montgomery) A pele que recobre a papila mamária e a aréola apresenta uma superfície enrugada, contendo glândulas sudoríparas e sebáceas - glândulas superficiais da aréola, as quais são secretoras e têm um alto-relevo. Essas pequenas elevações são denominadas tubérculos areolares. As glândulas sebáceas que se abrem nesses tubérculos são um tipo especializado de glândula que atua facilitando a apreensão da papila mamária pelo recém-nascido, além disso, age sendo um lubrificante protetor Anatomia da mama • Forma cônica e tamanho variável. • Peso médio: 275 g Localização • Superiormente: 2ª ou 3ª costela; • Inferiormente: 6ª e 7ª costela; • Lateralmente: linha axilar média ou borda anterior do m. grande dorsal; • Medialmente: borda do osso esterno; • Profundamente: repousa sobre o m. peitoral maior, denteado anterior, oblíquo do abdome e extensão superior da bainha do reto. Sistema Ductal A porção glandular da mama é composta por 12 a 15 sistemas de ductos independentes, sendo que cada um drena 40 lóbulos, cada um deles é formado por 10-100 ácinos produtores de leite que drenam em pequenos ductos terminais, que convergem entre si formando ductos de maior calibre, que se alargam no seio lactifero abaixo do mamilo. Há 6 a 8 papilas visíveis na superfície do mamilo, que drenam sistemas de canais dominantes, que são responsáveis por 80% do volume glandular da mama, ductos menores terminam abaixo da superfície do mamilo ou se abrem na Câncer de mama aréola perto da base do mamilo, e a aréola contém numerosas glândulas sebáceas lubrificantes (glândulas de Montgomery). A mama é composta de estroma colágeno e gordura, cuja distribuição e concentração são responsáveis pela consistência da mama quando palpada e por características externas. Drenagem linfática Realizada pelos sistemas dérmico, subdérmico, interlobar e pré-peitoral, visto como uma treliça de canais destituídos de valvas que se interconectam e drenam para 1-2 linfonodos axilares (linfonodos sentinelas), assim, a mama drena como uma unidade, e uma injeção de coloide corante na da mama, resultará no acúmulo do corante em 1 ou 2 linfonodos axilares sentinelas. • Linfonodos axilares recebem a maior parte da drenagem linfática da mama, por isso são os mais envolvidos nas metástases de câncer de mama. • Há vias alternativas, que não estão interconectadas com outras redes, que drenam diretamente nas bacias internas de linfonodos mamários, subclávios, axilares contralaterais ou abdominais. Figura 1. anatomia ductal da mama Figura 2. histologia de um lóbulo normal Fisiologia e Desenvolvimento No desenvolvimento fetal, a mama primordial surge da camada basal da epiderme; antes da puberdade, é um botão rudimentar com poucos ramos de ductos cobertos por botões alveolares/terminais ou lóbulos pequenos; na puberdade (10-13 anos), estrogênio e progesterona ovarianos cooperam no direcionamento da comunicação entre células epiteliais e mesenquimais, resultando em ramificação extensa do sistema ductal e desenvolvimento de lóbulos; sua diferenciação final é mediada pela progesterona e prolactina, e não é concluída até a primeira gravidez completa. Durante os anos reprodutivos, os ductos terminais próximos aos ácinos e ácinos ficam mais sensíveis aos hormônios ovarianos e à prolactina, assim, as células epiteliais mamárias proliferam na fase lútea do ciclo menstrual, quando os níveis de estrogênio e progesterona estão aumentados, e na fase da morte celular programada ao final da fase lútea, quando seus níveis declinam efeito mediado pela sinalização parácrina, induzida pela ativação do receptor de estrogênio e está associado ao aumento no conteúdo de água da matriz extracelular (maior volume e sensiblidade da mama). Na menopausa, quando a produção de estrogênio ovariano cessa, os lóbulos mamários atrofiam, e o estroma colágeno é substituído por gordura, visto que há aumento na expressão do receptor de estrogênio após a menopausa. Apesar do declínio na produção de estrogênio ovariano, na pós- menopausa continuam a produzi-lo por ação da aromatase (presente na gordura, músculos e tecido mamário), que converte androgênios suprarrenais em estrogênio. Definição O CA mais frequente entre mulheres no mundo, depois dos de pele (não melanomas). 1% de todos os casos de CA de mama ocorrem nos homens. É raro antes dos 35 anos, quando então a incidência passa a aumentar progressivamente, sobretudo após os 50 anos. Epidemiologia • Segundo tipo de tumor maligno mais frequente no Brasil e no mundo, perde somente para o câncer de pele. • Nas mulheres corresponde a primeira causa de morte por câncer, no Brasil. • O risco aumenta com a idade. Era incomum o desenvolvimento de CA de mama em mulheres abaixo de 30 anos, entretanto atualmente se observa um aumento do número de casos. • Tem-se aumento da incidência (taxa de 1% a 2%) em países desenvolvidos e industrializados. • O câncer de mama também afeta homens, correspondendo cerca de 1% de todos os casos. • Constitui um grave problema de saúde pública e requer grandes investimento em pesquisa, diagnóstico precoce e tratamento. Fatores de risco • Idade > 35 anos • Raça branca • Antecedente pessoal de câncer de mama • História familiar: primeiro, segundo e terceiro graus. Principalmente antes dos 50 anos. • Nuliparidade e primiparidade idosa • Menarca precoce (< 12 anos) e menopausa tardia (> 55 anos) • Antecedente pessoal de outros tipos de câncer – principalmente endométrio, ovário ou cólon • Radioterapia mediastinal prévia (linf. de Hodgkin) • Lesões histológicas de risco • Hiperplasia ductal ou lobular (> se atipia). • Carcinoma ductal e lobular in situ. • Uso de ACOs: parece aumentar um pouco, principalmente se início precoce e uso prolongado. • Terapia hormonal: risco é maior principalmente quando o uso é superior a 10 anos. • Consumo de álcool • Exposição a radiação ionizante • Dieta rica em gordura • Sedentarismo • Genética: genes BRCA1 e BRCA2 • A Doença de Bowden (pólipos hamartomatosos) • Tabagismo (incerto) • História familiar de CA de mama em homens • História familiar de CA de ovário • Aumento da densidade mamária na MMG após 40 anos: significa que tem mais tecido mamário (+ chance de câncer). • Obesidade: transformação de androstenediona em estradiol na gordura. • Álcool age como agente mitogênico e pode 1E. • Uso de contraceptivos é controverso. Geralmente com uso precoce e de longo tempo. • TRH: reposição transdérmica tem menor risco. Estradiol é melhor que sintéticos. Os dois fatoresde risco mais importantes são idade e sexo. Fatores de proteção Cuidar do peso, atividade física, amamentação (inibição da função ovariana). Menarca precoce e menopausa tardia Nuliparidade TH Obesidade Sexo feminino Idade > 35 anos Genes supressores tumorais: BRCA1 e BRCA2 O gene BRCA1 está no braço longo do cromossomo 17 e o BRCA2 está no braço curto do cromossomo 13 > 60 a 85% de risco de ter CA de mama ao longo da vida. Se presença, o melhor exame para acompanhamento é a RNM. • BRCA1: mais relacionado ao câncer de ovário. • BRCA2: relacionado ao câncer masculino. Fisiopatologia A primeira célula maligna aparece no epitélio ductal susceptível, ativada por fatores genéticos ou ambientais. O epitélio inicia a proliferação (hiperplasia típica) motivado por estímulos hormonais. Em algumas situações, pode evoluir com hiperplasia atípica, por estímulo tumoral. As hiperplasias atípicas evoluem para os carcinomas. História natural do câncer de mama: Epitélio Normal → Hiperplasia Epitelial Típica → Hiperplasia Epitelial Atípica → Carcinoma Intraductal ou Intralobular (*) → Carcinoma Invasor A princípio, a disseminação é loco-regional, para os linfonodos regionais: axilares, supra e infraclaviculares e da mamária interna. Qualquer acometimento de outro linfonodo que não os citados, é considerado metástase. Depois, surge a metástase à distância: osso (principal, exceto no triplo negativo, que é para cérebro e vísceras), pulmão/pleura, fígado, cérebro. Quadro clinico • Assintomática (alteração na MMG/USG). • Nódulos palpáveis queixa mais comum. A maioria dos CAs de mama se manifesta por nódulo. O tumor maligno geralmente tem crescimento insidioso e se localiza no quadrante superior externo ou no centro. É endurecido ou pétreo, firme e indolor. • Linfadenomegalia axilar somente. • Hiperemia de pele da mama. • Descarga mamilar espontânea em água de rocha ou sanguinolenta (a sanguinolenta é principalmente decorrente de papiloma). Geralmente é uniductal, espontânea e intermitente. É muito difícil um CA de mama se manifestar com derrame papilar. • Ulceração da pele da mama. • Lesão eczematosa do complexo aréolo-mamilar. Com áreas de abaulamento ou retração com inversão papilar. • Retração papilar Casos avançados: trações da pele, ulcerações da pele ou da papila, abaulamentos. Tipos histológicos Os principais tumores de mama são os epiteliais, dentre eles os carcinomas. O tipo histológico mais comum é o carcinoma ductal. Depois, o lobular. Carcinoma Ductal O carcinoma Ductal pode ser dividido em in situ (intraductal) ou invasor. O in situ é o carcinoma que ainda não passou a membrana basal, portanto, sem capacidade de causar metástase. O carcinoma ductal invasor /infiltrante é o que ultrapassou a membrana basal (pode causar metástase). • Carcinoma ductal in situ → precursor do invasor. • A maior parte dos CAs de mama é carcinoma ductal invasor. Carcinoma lobular Estruturas que produzem o leite sofrem transformação neoplásica. • In situ: não é considerada uma lesão precursora do carcinoma lobular invasor. É um marcador de risco, não é considerado um câncer de mama, inclusive na outra mama. • Invasor: não tem lesão precursora. Tem mais tendência de ser multifocal e maior poder de ser bilateral. Rastreamento MS: mamografia bienal a partir dos 50 até 69 anos. FEBRASGO: mamografia anual a partir dos 40 até 74 anos. ALTO RISCO: iniciar antes, 10 anos antes do caso índice ou a partir de 30 anos e anual. HF de CA de mama < 50 anos (1° grau) HF de CA de mama bilateral (1° grau) HF de CA de mama em homem Mutação do BRCA, PTEN, p53 Diagnostico • USG: mama densa. • Mamografia: pacientes de alto risco, mama menos densa. • RNM. • Estereotaxia guiada por MMG ou USG: para identificar lesões subclínicas (impalpáveis). Malignidade na USG: ovo em pé, espiculações, microcalcificações, sombra acústica posterior, margens irregulares, textura heterogênea. Pensando em CA a biópsia deve ser histológica (agulha grossa, core, mamotomia), não citológica. Anamnese e Exame físico • O primeiro ponto é dar importância as queixas da paciente, com relação aos sintomas e história familiar. • O exame físico será realizado de forma didática em três partes: Inspeção estática - paciente sentada com os braços abaixados, observa-se há alguma alteração na pele e coloração da mama. Inspeção dinâmica - paciente coloca os braços acima da cabeça e observa-se há retração das mamas e aréolas. Ainda na inspeção dinâmica, pede a paciente para coloca as mãos na coxa, pressionando-as, isso faz com que os músculos peitorais se contraiam, o que pode evidenciar tumoração. Palpação - deve ser feita com a paciente deitada e com as mãos sobre a cabeça. Isso favorece a percepção de alguns nódulos ou espessamentos. - As neoplasias malignas geralmente apresentam nódulos endurecidos e de pouca mobilidade. o Nesse momento é importante palpar também as axilas as fossas supra-claviculares na procura de linfonodos de tamanho aumentado. Tratamento Na grande maioria dos casos, a primeira abordagem é cirúrgica. Mastectomia Radical: retirada de toda a mama com linfáticos axilares. É indicada nos tumores infiltrantes. Simples: retirada da mama. A principal indicação é nos tumores multicêntricos ou intraductais extensos. • Tumores muito grandes. Skin sparing mastectomy: com preservação da pele. Nipple sparing mastectomy: com preservação da aréola e mamilo. Conservadora: retirada de parte da mama (seto-rectomia). Cura o câncer de mama, desde que se faça radioterapia depois (evita recidiva). • Quadrantectomia, setorectomia, tumorectomia. Critérios para cirurgia conservadora Tumor primário único: até 3,5 cm. Capacidade de ressecção com margens livres. Estágios iniciais. Acesso à radioterapia complementar. Tumor <1/5 da mama. Contraindicações à Cx conservadora: impossibilidade de Rt complementar, relação tumor mama desfavorável, persistência de margens comprometidas após ampliação, Rt prévia sobre a mama ou tórax. • Gestante no 1° ou 2° trimestre: não pode Rt. Pode fazer setorectomia no 3° trimestre, e aí faz Rt depois do nascimento. • Doenças do colágeno, como esclerodermia, • Tumores multicêntricos (mais de um foco de câncer na mesma mama). • Radioterapia prévia na mama. Mesmo que o tumor seja pequeno, vai ter que fazer radioterapia, e radioterapia não pode ser repetida. Axila Abordagem axilar é indicada quando o tumor for infiltrante. Pode ser total, parcial ou linfonodo sentinela. Se axila comprometida clinicamente → esvaziamento axilar. Se axila não comprometida clinicamente → linfonodo sentinela (o 1º linfonodo que recebe a drenagem linfática da mama). Na cirurgia, o patologista já olha o linfonodo sentinela e diz se tem ou não metástase. Se tiver, faz linfadenectomia axilar. Radioterapia A principal indicação é no controle locorregional da doença. Pode ser feita em alguns casos pré-operatorios para reduzir o volume tumoral. Indicações de Rt adjuvante • Após cirurgias conservadoras da mama (sempre). • Tumores → 4 cm. • 4 ou mais linfonodos axilares acometidos. • Se limites comprometidos Quimioterapia Auxilia no tratamento locorregional e controla o surgimento de metástases à distância. Pode ser neoadjuvante para diminuir o tamanho e talvez permitir uma setorectomia (se ficar < 1/5 da mama). • Indicada para tumores volumosos. • Drogas utilizadas: antraciclinas e taxanos. Hormonioterapia Tamoxifeno: se a imunohistoquímica mostrar que há receptores de estrogênio e progesterona. • 5 anos. • Bloqueia o receptor de E e P na mama, diminuindo as taxas de recidiva local e sistêmica. Trastuzumab: bloqueia o HER-2, diminuindo a multiplicação tumoral. Faz-se por 1 ano. Imunohistoquímica Diz se há receptores de estrogênio e progesterona na peça. Se existe,diz-se que é um tumor hormônio dependente (melhor prognóstico) → pode ser tratado com tamoxifeno. Também se vê se há Ki-67, um índice de proliferação tumoral. Quanto mais alto (> 14%), maior a chance de recidiva. Faz-se também a pesquisa do HER2, uma proteína de membrana que indica índice de proliferação do tumor. Se alto, pior prognóstico. Tipos especiais de CA de mama Carcinoma inflamatório: faz êmbolos tumorais na derme da paciente. Tem aspecto de mastite (sinais flogísticos). O diferencial é que não melhora com ATB. Tem prognóstico ruim. Tratamento com Q neoadjuvante e mastectomia. Doença/carcinoma de paget: é uma desordem do mamilo e aréola caracterizada por eczema com erosão e descamação. A destruição da papila é a principal característica da doença de Paget. Prevenção Mulheres com alto risco para CA de mama têm 3 opções: (1) acompanhamento assíduo (exame clínico a cada 6 meses, alternando mamografia com RM da mama ou ultrassonografia de rastreamento, iniciado 10 anos antes da menor idade de diagnóstico de câncer de mama na família), (2) quimioprevenção ou (3) cirurgia profilática. - Fatores de risco modificáveis: obesidade e vida sedentária devem ser abordados com mulheres com alto e baixo risco, prática dietética saudável e atividade física regular estão associadas à redução do risco de CA de mama. - Quimioprevenção: uso de tamoxifeno por 5 anos está associado à redução de 49% na incidência de CA de mama, mas está associado a aumento na incidência de CA endometrial em mulheres pós-menopáusicas e a aumento no risco de doença tromboembólica. • raloxifeno é outro modulador seletivo do receptor de estrogênio que reduz a incidência de CA de mama invasivo, mas não de CDIS, além de menor risco de CA endometrial e complicações tromboembólicas. - Cirurgia profilática: reservada para mulheres com risco muito elevado de CA de mama (mulheres com mutações hereditárias nos genes de predisposição ao CA de mama e algumas com CLIS). • Ooforectomia bilateral profilática em mulheres na pré- menopausa com mutações no gene BRCA, reduz o risco de CA de mama em 50% e o risco de CA de ovário em mais de 90%. • Menopausa cirúrgica precoce é acompanhada por sintomas de abstinência de estrogênio, que podem causar impacto na qualidade de vida. • Mastectomia bilateral profilática é realizada com preservação de pele e reconstrução imediata, reduz o risco de câncer de mama em > 90%. • Cânceres de mama podem se desenvolver após mastectomia profilática se houver tecido mamário residual (no QSE ou no prolongamento axilar).
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