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APS 1 - DEONTOLOGIA JURIDICA

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UNISUAM
APS 1
Deontologia Jurídica
Victor Hugo P. do Nascimento
Rio de Janeiro 
2022
A lei 8.906/94 estabelece o estatuto da advocacia no país e entre os dispositivos apresenta as prerrogativas do advogado e da advogada. Nesse trabalho abordaremos o disposto no art. 7º, II que prevê “a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia.” 
 A inviolabilidade é prevista no art. 7.o, II da Lei 8.906/1994, e protege o escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia. Assim, qualquer comunicação entre advogado e cliente é inviolável, seja por correio, telefone, email, Facebook, Whatsapp ou qualquer outro meio similar. A inviolabilidade é mais abrangente que o sigilo porque não se refere apenas àquele que recebe a informação e tem o dever de guardá-la, mas também a resguarda contra terceiros, como autoridades públicas, que não podem acessar dados ou documentos em posse ou dirigidos ao advogado, nem mesmo por ordem judicial. Assim, cautelares de busca e apreensão ou de quebra de sigilo telefônico ou telemático devem excluir as comunicações com o advogado, ou os documentos entregues a este. Quando tal condição não é conhecida com antecedência, deverão ser excluídas dos autos tais provas tão logo o juiz perceba a natureza inviolável dos elementos juntados. Evidente que tal prerrogativa não subsiste quando o advogado concorre para o crime, como instigador, colaborador ou coautor. Nessas hipóteses, "presentes indícios de autoria e materialidade da prática de crime por parte de advogado, a autoridade judiciária competente poderá decretar a quebra da inviolabilidade" (Lei 8.906/1994, art. 7o, § 6.o). Mesmo aqui, será necessário (i) que o advogado seja investigado; e (ii) que o sigilo relativo a dados de outros clientes - que não aquele envolvido nos fatos - seja preservado.
É importante observar que os princípios se interligam, nesse sentido, considerando que o advogado é indispensável à administração da Justiça (art. 133 da CF), a prerrogativa da inviolabilidade do seu ambiente de trabalho existe, isto sim, para assegurar ao cidadão, inocente ou culpado, o direito à ampla defesa.
É por isso que a Constituição Federal estabeleceu como regra a inviolabilidade da intimidade e do domicílio (art. 5º, X e XI, respectivamente), sendo as bancas advocatícias equiparadas ao domicílio por serem locais não abertos ao público onde se exerce profissão (art. 150, • 4º, III, do Código Penal), ainda que esses locais possuam cômodo aberto ao público em geral, como a sala de recepção, por exemplo.
Conforme mencionado a inviolabilidade é a regra na advocacia, mas existem exceções a essa regra e como esse princípio restringe direitos fundamentais a ordem de busca e apreensão deve ser fundamentada pelo juiz em pressupostos e requisitos sem os quais se torna ilegal, ilícita e abusiva.
Os pressupostos são: 1) Formal – a legalidade (previsão normativa) e 2) Material – a justificação teleológica (a restrição deve estar amparada em fins legítimos, socialmente relevantes e com respaldo constitucional).
Os requisitos para a expedição da ordem são: 1) Extrínsecos – judicialidade (reserva jurisdicional quanto à decretação da medida) e a motivação da decisão; 2) Intrínsecos - a idoneidade (adequação da medida ao fim colimado, independentemente de haver ou não outras medidas mais eficazes do que a escolhida), a necessidade (dentre várias medidas igualmente aptas à consecução do resultado almejado, deve ser eleita a que menos afeta os direitos fundamentais, otimizando-se estes últimos) e a proporcionalidade em sentido estrito (relação de razoabilidade entre o sacrifício do direito fundamental e a importância do interesse estatal que se almeja tutelar através da medida).
Não se trata de medida cautelar, mas meio de prova previsto em lei (arts. 240 a 250 do CPP). Por isso, a busca e apreensão no escritório do advogado é medida coercitiva só justificável se existirem fundadas razões que autorizem dizer que o advogado está praticando ou concorre para a prática de algum delito (artigo 240, • 1º, do CPP).
Para que isto aconteça é imprescindível que haja um inquérito policial instaurado contra o advogado, e não contra o seu cliente, seja porque no processo penal não se admite medida cautelar preparatória de ação principal, como acontece no processo civil, seja porque não é concebível o início de uma investigação criminal através de um mandado de busca, que só pode ser autorizado diante de fatos concretos, comprobatórios da necessidade da diligência, ou seja, "fundadas razões", que não se confundem com meras suspeitas por parte da autoridade policial ou judicial competente.
A violação do escritório fora da única hipótese prevista no ordenamento jurídico gera graves consequências não apenas ao membro do Judiciário que dá a ordem, mas ao agente público que cumpre uma determinação ilegal.
O desrespeito a garantia constitucional da inviolabilidade de que tratamos aqui, torna ilícita a prova arregimentada através deste meio (art. 5º, LVI, da CF), sujeita as autoridades públicas, que ordena e que cumpre o ato, passíveis de responderem pelo crime de abuso de autoridade (Lei 4.898/65, artigo 3º, "b" e "j") e/ou de violação de sigilo funcional (Código Penal, artigo 325), conforme o caso, e gera dano moral indenizável pelo Estado com direito regressivo.
Infelizmente nos últimos anos, sob pretextos inquisitoriais, vinha se verificando uma crescente violação a essa prerrogativa dos advogados, expondo o profissional, injustamente, a situações vexatórias e constrangedoras, de tal modo, até mesmo, a prejudicar o exercício da sua atividade.
Por vezes esse tema é levado inclusive para os tribunais, conforme podemos observar nas jurisprudências colecionadas: 
PJe - PROCESSUAL PENAL. MANDADO DE SEGURANÇA. BUSCA E APREENSÃO. FRAUDE A LICITAÇÕES. DOCUMENTOS COMUNICAÇÕES RELATIVOS À DEFESA ADMINISTRATIVA ELABORADA POR ADVOGADOS. INVIOLABILIDADE DOS DOCUMENTOS. ART. ART. 7º, II, DA LEI 8.906/94. IMPOSSIBILIDADE. PRERROGATIVA DO ADVOGADO; DAS DEPENDÊNCIAS; E DOS DOCUMENTOS RELATIVOS AS CAUSAS PATROCINADAS. INAPLICABILIDADE AOS DOCUMENTOS EM PODER DO CLIENTE. SEGURANÇA DENEGADA. 1. A prerrogativa da inviolabilidade do sigilo, prevista no art. 7º, II, da Lei 8.906/94, é exclusiva, ex vi legis, do advogado, do seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia, não se aplicando a documentos que estão em posse do seu cliente. 2. A legitimidade para invocar a inviolabilidade da prerrogativa prevista no art. 7º, II, da Lei 8.906/94 é exclusiva do advogado, carecendo o cliente de legitimidade para invocação da apontada prerrogativa. 3. Segurança denegada.
(TRF-1 - MS: 10293485120184010000, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL MONICA JACQUELINE SIFUENTES, Data de Julgamento: 27/11/2019, SEGUNDA SEÇÃO, Data de Publicação: 03/12/2019)
EMENTA: PROCESSO CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO DE DOCUMENTOS EM ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA - MEDIDA EXCEPCIONALÍSSIMA - ADVOGADO - LOCAL DE TRABALHO - PRINCÍPIO DA INVIOLABILIDADE - PEDIDO LIMINAR - INDEFERIMENTO - AUSÊNCIA DO FUMUS BONI JURIS. A aparência do bom direito é um dos requisitos indispensáveis para que se alcance uma providência de natureza cautelar. Na concessão de medida cautelar há necessidade de se demonstrar, ab initio, o interesse na preservação da situação de fato, enquanto não advém a solução de mérito, o que corresponde ao fumus boni juris. Já o periculum in mora se refere à possibilidade objetiva de iminente lesão ao pretenso direito da parte ou à própria eficácia de um processo futuro ou já em tramitação. A busca e apreensão de documentos em escritório deadvogado é medida excepcionalíssima em razão do princípio da inviolabilidade do seu local de trabalho, positivado no incido II do art. 7º da Lei 8.906/1994 - Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, sendo admitida apenas em determinadas situações expressas, como no caso da presença de indícios de autoria e materialidade da prática de crime por parte do advogado, nos termos do § 6º do referido artigo. Inexistente a plausibilidade de direito da parte autora, impõe-se o indeferimento da liminar.
(TJ-MG - AI: 10701150058389001 MG, Relator: Otávio Portes, Data de Julgamento: 17/02/2016, Data de Publicação: 26/02/2016)
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. ESTELIONATO, QUADRIALHA, FALSIDADE E USO DE DOCUMENTO FALSO. BUSCA E APREENSÃO AUTORIZADA NA RESIDÊNCIA DOS INVESTIGADOS. AUSÊNCIA DE REPRESENTANTE DA OAB NO ACOMPANHAMENTO DAS DILIGÊNCIAS. DOMICÍLIO QUE NÃO ERA EXTENSÃO DO LOCAL DE TRABALHO. PREMISSA FÁTICA FIRMADA PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. IMPOSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO EM SEDE MANDAMENTAL. 1. A teor do art. 7º, II, do Estatuto da Advocacia, é direito do advogado a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia. No entanto, presentes indícios de autoria e materialidade da prática de crime por parte de advogado a autoridade judiciária competente poderá decretar a quebra da inviolabilidade, em decisão motivada, expedindo mandado de busca e apreensão, específico e pormenorizado, a ser cumprido na presença de representante da OAB (§ 6º do art. 7º do mesmo diploma legal). 2. No caso, as instâncias ordinárias afirmaram que a residência dos investigados não seria extensão do local de trabalho, o que impediria a aplicação do dispositivo legal em exame. Por outro lado, modificar a premissa fática estabelecida na origem de que o local onde foram executados os mandados de busca e apreensão e, consequentemente, apreendidos documentos (residência dos pacientes), não era escritório ou local de trabalho, demandaria o revolvimento do material fático/probatório dos autos, o que é inviável em sede do remédio constitucional. 3. Agravo regimental improvido.
(STJ - AgRg no HC: 349811 MG 2016/0047757-8, Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, Data de Julgamento: 27/11/2018, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 10/12/2018)
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 8.906, DE 4 DE JULHO DE 1994. ESTATUTO DA ADVOCACIA E A ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. DISPOSITIVOS IMPUGNADOS PELA AMB. PREJUDICADO O PEDIDO QUANTO À EXPRESSÃO "JUIZADOS ESPECIAIS", EM RAZÃO DA SUPERVENIÊNCIA DA LEI 9.099/1995. AÇÃO DIRETA CONHECIDA EM PARTE E, NESSA PARTE, JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE. I - O advogado é indispensável à administração da Justiça. Sua presença, contudo, pode ser dispensada em certos atos jurisdicionais. II - A imunidade profissional é indispensável para que o advogado possa exercer condigna e amplamente seu múnus público. III - A inviolabilidade do escritório ou do local de trabalho é consectário da inviolabilidade assegurada ao advogado no exercício profissional. IV - A presença de representante da OAB em caso de prisão em flagrante de advogado constitui garantia da inviolabilidade da atuação profissional. A cominação de nulidade da prisão, caso não se faça a comunicação, configura sanção para tornar efetiva a norma. V - A prisão do advogado em sala de Estado Maior é garantia suficiente para que fique provisoriamente detido em condições compatíveis com o seu múnus público. VI - A administração de estabelecimentos prisionais e congêneres constitui uma prerrogativa indelegável do Estado. VII - A sustentação oral pelo advogado, após o voto do Relator, afronta o devido processo legal, além de poder causar tumulto processual, uma vez que o contraditório se estabelece entre as partes. VIII - A imunidade profissional do advogado não compreende o desacato, pois conflita com a autoridade do magistrado na condução da atividade jurisdicional. IX - O múnus constitucional exercido pelo advogado justifica a garantia de somente ser preso em flagrante e na hipótese de crime inafiançável. X - O controle das salas especiais para advogados é prerrogativa da Administração forense. XI - A incompatibilidade com o exercício da advocacia não alcança os juízes eleitorais e seus suplentes, em face da composição da Justiça eleitoral estabelecida na Constituição. XII - A requisição de cópias de peças e documentos a qualquer tribunal, magistrado, cartório ou órgão da Administração Pública direta, indireta ou fundacional pelos Presidentes do Conselho da OAB e das Subseções deve ser motivada, compatível com as finalidades da lei e precedida, ainda, do recolhimento dos respectivos custos, não sendo possível a requisição de documentos cobertos pelo sigilo. XIII - Ação direta de inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente.
(STF - ADI: 1127 DF, Relator: MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 17/05/2006, Tribunal Pleno, Data de Publicação: 11/06/2010)

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