Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TECNOLOGIA DE GELEIA, GELEIADA E DOCES EM MASSA 1. INTRODUÇÃO Como já vimos, as frutas são importantes componentes para nossa dieta alimentar, ricos em vitaminas, minerais e carboidratos. No entanto, as frutas são consideradas produtos perecíveis porque apresentam atividades metabólicas elevadas, o que conduz rapidamente à deterioração de suas propriedades. A origem das conservas de frutas, compotas, geleias, doces em massa, frutas cristalizadas é muito antiga e é creditada aos árabes, mais exatamente aos mesopotâmios que, entretanto, a utilizavam com fins medicinais. Na verdade, geleias, compotas, frutas cristalizadas e o açúcar são bases de medicamentos importantes da farmacopeia árabe e da medicina medieval europeia. Foram os árabes os introdutores do açúcar tanto na farmacopeia quanto na cozinha. A arte de conservar frutas foi introduzida na Europa pelas cruzadas. O método tradicional de preparação dessas iguarias não se alterou por séculos, continuando a ser simples e rápido. O odor das frutas misturado com açúcar continua seduzindo e reconfortando a humanidade até hoje. A conservação de alimentos pela adição de açúcar ocorre pela redução da disponibilidade de água (atividade de água) para o crescimento microbiano (deteriorantes), em função do aumento da pressão osmótica no interior do produto criando uma condição desfavorável para o crescimento da maioria dos micro- organismos. Quando aliado a um tratamento térmico, o açúcar é um bom agente de conservação para diversos alimentos, principalmente os produtos derivados de frutas. 2. DOCE EM MASSA Doce em massa ou pasta, é o produto resultante do processamento adequado das partes comestíveis desintegradas de vegetais com açúcares, com ou sem adição de água, pectina, ajustador de pH e outros ingredientes e aditivos permitidos pela legislação (revogada) até uma consistência apropriada, sendo finalmente, acondicionado de forma a assegurar sua perfeita conservação. Quanto a legislação relacionadas a esses produtos, não existe nenhuma que defina ou especifique os padrões de identidade e qualidade (PIC) dos mesmos por parte dos órgãos competentes, sendo revogada a única que definia e conceituava esses produtos de frutas. No entanto, existe uma legislação que trata da permissão e adição de aditivos na elaboração desses produtos. Resolução Normativa nº 9, de 1978 (revogada) - ANVISA Resolução-RDC Nº 272, de 22 de setembro de 2005 – ANVISA Mesmo com a revogação da legislação que tratava desses produtos de frutas, algumas características ainda podem ser “utilizadas” para entender os tipos e as características desses derivados de frutas no âmbito de seu processamento. 2.1. Classificação Os doces em pasta classificam-se em: a) Quanto ao vegetal empregado: Simples – quando preparado com uma única espécie. Misto – quando preparado com uma mistura de mais de uma espécie. b) Quanto à consistência: Cremoso – quando a pasta é homogênea e de consistência mole, não devendo oferecer resistência, nem possibilidade de corte. A concentração de sólidos solúveis não deve ser inferior a 55 °Brix. Em massa – quando a pasta é homogênea e que possibilite o corte, não devendo oferecer resistência, nem possibilidade de corte. A concentração final não deve ser inferior a 65 °Brix, sendo o ideal entre 70 e 80 °Brix. 2.2. Designação Doce em pasta: “Doce” seguido do nome da espécie vegetal ou das espécies empregadas. Doce em massa: nome da fruta com o sufixo “ada”. Ex. goiabada, marmelada, bananada. Os doces em massa que contenham pedaços de frutas devem ter a designação acrescida das palavras "com pedaços" ou "cascão". 2.3. Composição Os doces cremosos ou em pasta devem estar compostos por frutas, por agentes adoçantes e demais ingredientes previstos na legislação. a) Ingredientes obrigatórios Partes comestíveis de vegetais. Entendem-se como "partes comestíveis de vegetais", para efeitos destes padrões, aqueles provenientes de vegetais frescos, congelado, desidratados, em conserva, ou por outros meios preservados no seu estado natural ou desintegrados por processos tecnológicos adequados. Isoladamente ou em combinação adequada: sacarose, glicose, açúcar invertido e seus xaropes. b) Ingredientes opcionais: Suco de frutas. Mel de abelha. Ervas e especiarias, ou seus princípios ativos, em quantidades suficientes para uma boa elaboração do produto. 2.3. Fatores essenciais de qualidade Os fatores essenciais de qualidade são requisitos básicos para o controle de qualidade para doces cremosos ou em massa, sendo eles: a) Cor – a cor deve ser própria dos produtos, conforme ingredientes e a tecnologia de elaboração. b) Sabor e odor – Próprio dos ingredientes, devendo o produto ser isento de sabores e odores estranhos à sua composição. c) Consistência – apropriada para cada tipo de produto. d) Ausência de defeitos – o produto deve estar praticamente isento de defeitos, tais como: matérias estranhas inócuas, fragmentos vegetais não comestíveis ou outros, apresentados, conforme o tipo do produto. e) Acondicionamento – o produto deve ser acondicionado de modo a assegurar a sua proteção, não devendo o material empregado interferir desfavoravelmente nas características de sua qualidade. 2.4. Aditivos intencionais a) Antioxidantes – limite máximo ácido I – ascórbico 500 mg/kg. b) Conservadores – benzoato de sódio (ácido benzoico) 2000 mg/kg isola- damente, ou ácido sórbico 2000 mg/kg em combinação com sorbato de potássio, cálcio ou sódio até 2000 mg/kg. 3. GELEIA DE FRUTA É o produto obtido pela cocção de frutas inteiras ou em pedaços, ou polpa, ou suco de frutas com açúcar e água, e concentrado até consistência gelatinosa. São sucos de frutas livres de sólidos em suspensão, que graças à presença de pectina, à acidez e ao açúcar adicionado se gelificam. A geleia é clara, brilhante e transparente com características de translúcidas, devendo conservar o gosto e aroma da fruta original. Quando retirada do recipiente, deve tremer sem escorrer. Poderá sofrer a adição de glicose ou açúcar invertido, não poderá ser colorida nem aromatizada artificialmente e será tolerada a adição de acidulantes e de pectina, para compensar qualquer deficiência do conteúdo natural de pectina ou de acidez da fruta. 3.1. Características organolépticas As geleias devem se apresentar sob o aspecto de base gelatinosa, com consistência tal, que quando extraída de seu recipiente, seja capaz de se manter no estado semissólido. Geleias transparentes que não contiverem em sua massa pedaços de frutas devem, ainda, apresentar elasticidade ao toque, retornando à sua forma primitiva após ligeira pressão. A cor e o cheiro devem ser próprios da fruta de origem. O sabor deve ser doce, acidez leve, de acordo com a fruta de origem. 3.2. Designação O produto será designado genericamente “Geleia” seguido do nome da fruta. a) Geleiada - É a geleia que contém suspensas frutas inteiras (quando pequenas como morangos, framboesas) ou em pedaços, ou mesmo desintegradas. 3.3. Classificação da geleia Conforme a Legislação Brasileira classifica as geleias, em relação as quantidades de fruta fresca e açúcar utilizadas na formulação, conforme apresentada na Tabela 1. Tabela 1. Classificação de geleia de fruta 3.4. Características físicas e químicas As geleias de frutas devem apresentar as seguintes características físicas e químicas: Umidade, máximo 38 %. Sólidos solúveis totais no mínimo 62 %. Pectina adicionada, máximo 2 %. 3.5. Características microbiológicas Os padrões microbiológicos para geleias de frutas são os seguintes: Bactérias do grupo coliformes: máximo 102/g. Bactérias do grupo coliforme de origem fecal, ausência em 1 g. Salmonelas:ausência em 25 g. Bolores e leveduras: máximo, 103/g. Deverão ser efetuadas determinações de outros microrganismos e/ou de substâncias tóxicas de origem microbiana, sempre que se tornar necessária à obtenção de dados adicionais sobre o estado higiênico-sanitário desse alimento, ou quando ocorrerem toxinfecções alimentares. 3.6. Características microscópicas As características microscópicas para geleias são: ausência de sujidades, para- sitas e larvas. 4. FORMAÇÃO DO GEL NO SISTEMA PECTÍNICO Na elaboração das geleias, a geleificação ocorre devido à presença de água, açúcar, ácido e pectina. A formação do gel ou a geleificação é um fenômeno coloidal dependente da concentração e tipo de pectina, do teor de íons hidrogênio (pH) e da quantidade de açúcar. São considerados elementos básicos para elaboração de uma geleia, os componentes: fruta, pectina, ácido, açúcar e água. Uma combinação adequada deles, tanto na quantidade como na ordem de colocação durante o processamento, irá definir a qualidade do produto. Em meio ácido, a pectina está carregada negativamente. A adição de açúcar afeta o equilíbrio pectina/água, desestabilizando conglomerados de pectina e formando uma rede de fibras que compõem o gel, cuja estrutura é capaz de suportar líquidos. A flexibilidade das fibras no sistema é controlada pela acidez do substrato. O ácido enrijece as fibras da rede, mas a alta acidez afeta a elasticidade, deixando-a muito dura ou, por outro lado, muito fraca devido à hidrólise da pectina. Verificou-se que o gel se forma em torno de pH igual a 3,0. Um pH acima de 3,4 não ocorre geleificação. Os ácidos geralmente utilizados para a formação do gel são os ácidos orgânicos constituintes naturais das frutas, tais como os ácidos cítrico, tartárico e málico. Quando o ácido não está presente na fruta ou encontra-se em quantidades insuficientes, poderá ser adicionado, obedecendo aos limites permitidos pela legislação vigente. O ácido cítrico é o mais comumente utilizado pelo seu sabor agradável e percepção imediata. Como a formação do gel depende do pH do suco ou da polpa da fruta, e não de sua acidez titulável, algumas frutas mesmo consideradas ácidas necessitam da adição de acidulantes para que o gel possa ser formado. Assim, a adição de acidulantes têm por finalidade abaixar o pH para a geleificação adequada e realçar o aroma natural da fruta. A concentração ótima de açúcar é em torno de 67,5%, porém é possível fazer geleia de fruta com menos de 60% de açúcar, desde que essa fruta seja rica em pectina. O açúcar empregado com maior freqüência na fabricação de geleia de fruta é a sacarose, proveniente da cana-de-açúcar. A adição do açúcar também promove melhoria da aparência, do sabor e do rendimento do produto. A determinação da quantidade a ser adicionada para a fabricação da geleia é muito importante, pois assegura o teor de sólidos solúveis necessários para a formação do gel. A quantidade de pectina a ser adicionada, para formar o gel depende muito da qualidade da pectina, sendo que geralmente 1% é o suficiente para produzir uma geleia firme. Sendo usada para dar textura às geleias, melhorar o "flavor" e minimizar a sinérese. Durante as manufaturas das geléias, a pectina deve assegurar a distribuição uniforme das partículas de frutas, isto é, ela deve gelificar rapidamente após o enchimento. Em frutas muito maduras haverá transformação da pectina em ácido péctico, não ocorrendo uma perfeita geleificação. Frutas imaturas, ou seja, aquelas que ainda não houve a transformação da protopectina, também ocorre alteração do gel. Já as frutas com maturação adequada têm-se concentração máxima de pectina, cor, aroma e sabor. Muitas frutas são ricas em pectina e ácido, essas são as mais indicadas para geleias e doces em massa. Outras são ricas em pectina ou em ácido ou deficiente em ambos. De acordo com os teores de ácido e pectina, as frutas para a fabricação de geleias e doces devem ser frescas, mas não excessivamente maduras e podem ser agrupadas em diferentes classes. Quadro 1. Classificação de frutas em relação ao teor de pectina e acidez A acidez, o valor de pH e a quantidade de pectina devem ser cuidadosamente determinados, para que sejam feitas as correções necessárias ao teor de ácidos e à quantidade de pectina. É necessário um certo tempo para que a solução açúcar/pectina alcance o equilíbrio e, consequentemente, o gel tenha força máxima. Industrialmente, são utilizados a maçã e os frutos cítricos como principais fontes (matéria-prima) de obtenção da pectina, sendo apresentados na forma de pó. Podem, também ser apresentadas sob forma de concentrados, sendo que desta forma podem sofrer degradação, pois apresentam uma umidade mais elevada, chegando a perder atividade durante o armazenamento, além de ficarem suscetíveis à fermentação. Esta é a forma usualmente utilizada quando a pectina é feita de forma caseira. O fluxograma da Figura 1 mostra de maneira resumida a influência de cada componente na formação da geleia. Figura 1 - Diagrama de Rauch (1970) para a consistência de geléias 4.1. As pectinas Pectina é definida como um polissacarídeo de alto peso molecular constituído quimicamente principalmente do metil éster de ácido poligalacturônico e seus sais de sódio, potássio e amônio. A quantidade e tipo de pectina a ser usada nas geleias dependem da consistência desejada, da quantidade de polpa ou suco adicionado, conteúdo de pectina ou de cálcio na fruta utilizada, sólidos solúveis, tratamento térmico e tamanho das embalagens. De uma forma geral, os tipos de pectinas utilizados no processamento de geleia e de doces em massa, estão relacionadas com o Grau de metoxilação da pectina, que é uma medida da proporção de grupos carboxílicos que estão presentes na forma esterificada. Assim sendo o DM (grau de metoxilação) de 0,60 indica 60% de esterificação. Pectinas de alto grau de metoxilação são aquelas com DM maior que 0,50 e as de baixa metoxilação, com DM abaixo de 0,50. As pectinas presentes nas frutas são geralmente de alta metoxilação. Geleias convencionais com concentração de sólidos solúveis entre 65% e 70% são geralmente elaboradas utilizando-se pectinas de alto teor de metoxilação, sendo que os principais tipos comerciais podem ser: a) Pectinas de geleificação rápida ("rapid set"): temperatura de formação do gel 75-80° C, pH de 3,1 a 3,3, e utilizadas para obtenção de geléias de envase rápido em embalagens pequenas ou com pedaços de frutas. b) Pectina de geleificação semi-rápida: temperatura de formação do gel 55-75°C, pH de 2,8 a 3,0, e utilizadas em processos contínuos e para produtos resistentes a altas temperaturas (panificação). c) Pectinas de geleificação lenta: temperatura de formação do gel 45-60°C, pH de 2,9 a 3,1 e utilizadas para obtenção de geléias de envase lento ou em embalagens grandes. O Grau da pectina, é definido como o número de gramas de açúcar que um grama de pectina é capaz de transformar em gel de consistência padronizada, sob condições padronizadas de acidez e sólidos solúveis. Exemplo: 150 SAG, 1g de pectina é capaz de gelificar 150g de açúcar. 5. ETAPAS DO PROCESSAMENTO DE GELÉIA E DOCE EM MASSA As etapas dos processamentos de geleia e doce em massa estão apresentados no fluxograma da Figura 2. Ao formular-se uma geleia ou doce em massa, deve-se considerar que o melhor resultado é sempre obtido quando as matérias-primas são combinadas de modo a se obter o menor tempo de concentração possível. 5.1. Recepção da matéria-prima As frutas ao chegaram na indústria são pesadas e pré-selecionadas. Na pré- seleção as frutas estragadas, atacadas por insetos e fungos, germinadas e as que encontram-se maduras demais ou verdes demais são separadas. As frutas deverão passar por um tratamentotérmico adequado prévio para melhorar a textura e no caso de frutas frescas, pelas operações de lavagem, seleção, descascamento, descaroçamento e trituração. Não se deve adicionar água às frutas para o processamento de doce em massa, e salvo no preparo do suco para a geleia, ou exceto nos casos em que se necessite de um cozimento prévio das frutas ou para facilitar a dissolução do açúcar, sendo que muitas frutas, não requerem adição de água, pois são ricas em suco, só precisando ser esmagadas e aquecidas durante dois a três minutos até o ponto de ebulição. Se necessário, a quantidade de água não deve exceder a 20 %, para evitar tempo excessivo de concentração, que causaria escurecimento e perda de sabor e aroma do produto. Uma diluição excessiva da pectina exigirá longas horas de concentração, o que irá reduzir a força do gel. Figura 2. Fluxograma de obtenção de geléia e doce em massa 5.2. Lavagem A lavagem permite remover sujidades e contaminantes que se encontram junto com as frutas. Pode ser efetuada mecanicamente ou por processo manual. O método mais utilizado consiste na imersão das frutas com água limpa e clorada. A lavagem pode ser feita também por agitação em água ou aspersão, sendo este muito recomendado. 5.3. Seleção e Classificação São consideradas operações de separação. É esencial para a obtenção de uma matéria-prima de qualidade, proporcionando uma maior uniformidade ao produto final. A seleção é realizada por exame visual, onde as frutas podres, defeituosas, não percebidas na operação de pré-seleção são separadas. Na etapa de classificação as frutas são classificadas de acordo com o grau de maturação, cor, rendimento (peso) e tamanho. 5.4. Descascamento Esta operação consiste na remoção da casca das frutas, extremidades e partes danificadas. Pode ser realizado de forma manual ou mecânica. O descasque manual é realizado com o auxílio de facas inox totalmente higienizadas. Já o descascamento mecânico pode ser realizado por corte da pele ou da casca, ou por raspagem da pele ou da casca por abrasivos. Antes do descascamento as frutas podem passar por processos físico ou químico para abrandar a casca e facilitar o descasque, tais como aplicação de vapor, calor seco ou pelo frio. 5.4. Corte / Despolpamento O corte, realizado com o auxílio de facas inox, é mais comum para frutas que serão conservadas em pedaços. Porém, o processo de desintegração das frutas para polpa é o mais empregado. Os desintegradores podem funcionar a temperatura ambiente, ou a quente com temperaturas de até 90 °C. O aquecimento favorece o amolecimento das frutas auxiliando a trituração, além de inibir o escurecimento enzimático. O despolpamento é realizado utilizando despolpadeiras objetivando a separação da polpa de caroços ou sementes e algumas vezes da casca. A polpa obtida pode ser direcionada para a linha de processo ou passar por uma prévia prensagem e classificação. 5.5. Formulação Varia com o tipo de matéria-prima. Com mencionado anteriormente, doce em massa nada mais é que um produto obtido do cozimento da polpa da fruta com açúcar até alcançar uma consistência ou ponto tal que, ao esfriar, gelatinize. A matéria-prima para a elaboração do doce deve conter suficiente pectina e ácido para formar um bom gel. A acidez, o valor do pH e o conteúdo de pectina devem ser determinados por análise, e as correlações de pectina e ácido devem ser feitas quando necessárias. O açúcar é adicionado sob forma sólida ou em xarope, sempre proporcional à riqueza da pectina na fruta. 5.5.1. Adição da Pectina É uma fase muito importante, pois é necessário dissolver toda a pectina a fim de se obter o efeito desejado, e aproveitar toda a sua capacidade geleificante. A pectina poderá ser adicionada tanto na forma sólida como na forma líquida. Deve-se misturar a água e a glicose, aquecer um pouco, sem deixar ferver e juntar a pectina. Se a pectina utilizada for a pó, deve ser misturada ao açúcar, facilitando sua dissolução, evitando a formação de grumos. Recomenda-se que a quantidade de açúcar deve ser cerca de 5 a 10 vezes a quantidade de pectina e esteja devidamente homogeneizada. 5.5.2. Adição do Açúcar Parte da sacarose (5 a 10%) pode ser substituída por glicose de milho, o que proporciona melhor brilho do produto, retarda a cristalização, evita a sinérese e o sabor doce fica menos intenso. Durante a concentração parte da sacarose adicionada é convertida em açúcar invertido, o que também diminui a possibilidade de cristalização. Recomenda-se que a adição do açúcar seja realiza aos poucos para não baixar bruscamente a temperatura da cocção que poderia provocar a geleificação preliminar, resultando numa geleia granulada e evitar caramelização nas bordas do tacho e que o açúcar fique aderido no agitador. 5.5.3. Adição do Ácido Conforme a acidez da matéria prima, que depende do tipo de fruta e o teor de açúcar adicionado, deve-se fazer a correção. O pH deve estar na faixa de 3,0 a 3,4 e a acidez deve estar entre 5,5 a 8,3 g de ácido cítrico por quilo de açúcar adicionado, o que corresponderá a uma acidez entre 0,50 a 0,70 %. Geralmente, é utilizada a quantidade de 0,2 % a 0,5 % sobre o açúcar total. O ácido, sendo o cítrico o mais utilizado, deve ser adicionado no final do processo, e se possível, imediatamente antes do enchimento das embalagens, principalmente no processamento à pressão atmosférica. No caso de geleia processada a vácuo, o ácido poderá ser adicionado em qualquer etapa do processo. Nesse caso, a temperatura de trabalho é mais baixa, não ocorrendo o problema de hidrólise da pectina. 5.6. Concentração / Tratamento térmico É um dos passos mais importantes na elaboração de doces. A concentração do doce até o °Brix desejado é feita através da cocção, que também tem a finalidade da dissolução do açúcar no suco e a sua união com a pectina e o ácido para formar o gel. Durante a cocção são também destruídos os micro-organismos e as enzimas presentes, dando melhores condições de conservação ao produto. Outros compostos orgânicos presentes na mistura são coagulados durante a fervura, devendo ser retirados com o auxílio de uma escumadeira no final da concentração, não sendo necessário removê-los continuamente. A duração da cocção é variável, dependendo do tipo e tamanho do tacho, do tipo de aquecimento, do volume da mistura e, principalmente, da temperatura. De qualquer forma, deve-se adequar os parâmetros acima como o tipo de doce que está sendo processado, de forma que o tempo de fervura seja o mínimo possível, visto que o aquecimento prolongado pode causar alterações sensoriais (sabor e cor), inversão excessiva da sacarose e hidrólise da pectina, dificultando ou mesmo impedindo que o gel seja formado. Em geral, a fervura da polpa ou suco deve ser lenta antes da adição do açúcar e muito rápida depois, a fim de se obter um doce de boa qualidade. Recomenda-se que o período total de cocção não ultrapasse 20 minutos. Quando a concentração é à pressão atmosférica, convém usar tachos pequenos. Uma concentração excessivamente curta pode ser causa de pouca ou nenhuma inversão de sacarose e de incompleta absorção do açúcar pela fruta, dando lugar, durante o armazenamento, a processos osmóticos, que podem destruir o gel e baixar a concentração final de sólidos solúveis. A concentração pode ser efetuada em tachos abertos ou a vácuo. Durante o processamento do doce em massa em tachos a vácuo deve-se lembrar que devido à baixa temperatura de cocção, o grau de inversão da sacarose é pequeno, sendo necessário substituir uma parte da mesma por açúcar invertido ou glicose. Outro procedimento usual consiste em adicionar uma pequena quantidade de ácido cítrico no açúcar, a fim de invertê-lo parcialmente antes de adicioná-lo ao suco oupolpa. A concentração a vácuo fornece uma geleia bem superior (aspecto, aroma, valor nutritivo) àquela feita na pressão atmosférica (tachos abertos). 5.7. Determinação do ponto final O índice de refração, que indica a concentração de sólidos solúveis do produto, pode ser medido por refratômetros manuais ou automáticos, acoplados ao equipamento de concentração e que vão registrando durante o processo, o BRIX do produto. O final do processo também pode ser indicado pelo controle da temperatura de ebulição à pressão atmosférica. Estas temperaturas são tabeladas em função da concentração de sólidos solúveis e do grau de inversão da sacarose. O índice de refração deve ser lido corretamente, usando-se uma amostra respectiva do lote e sempre à temperatura de 20ºC para evitar variações. Durante a cocção, deve-se controlar o teor de sólidos solúveis, sendo esperada a concentração final de aproximadamente 68 °Brix. Quando atingir o ponto final, desliga- se a fonte de calor e adiciona-se o ácido dissolvido em um pouquinho de água. O ácido é adicionado o mais tarde possível para evitar a hidrólise da pectina devido à alta temperatura de cocção (perderia ação geleificante). Após a adição e homogeneização do ácido deve-se proceder imediatamente o envase a quente, evitando o endurecimento do gel que proporcionaria a quebra deste durante o envase. A determinação desse ponto final é realizada por meio de um aparelho denominado de refratômetro. O refratômetro é um instrumento simples que pode ser usado para medir concentrações de soluções aquosas, consumindo apenas umas poucas gotas da solução. Sua aplicação estende-se pelas áreas de alimentos, agricultura e química. Já o Grau Brix (°Brix), é uma escala numérica que mede a quantidade de sólidos solúveis em uma solução, um doce, suco, entre outros produtos. A escala Brix é utilizada na indústria de alimentos para medir a quantidade aproximada de açúcares em sucos de fruta, vinhos, e na indústria de açúcar entre outros. A escala de Brix, foi criada por Adolf F. Brix (1798 – 1870). 5.8. Acondicionamento O doce em massa ao atingir o ponto final é embalado em recipientes apropriados para a sua comercialização. Esta etapa é geralmente executada manualmente e apenas nas grandes indústrias é automática. Prefere-se para a embalagem dos doces em massa latas estanhadas revestidas de verniz e potes de polipropileno, e para as geleias potes de vidros. O enchimento de recipientes pequenos deve ser feito a alta temperatura (acima de 85 °C) e o resfriamento o mais rápido possível. O enchimento a quente permite o fechamento hermético da embalagem, recomenda-se a inversão das embalagens para a esterilização também das tampas. Para os grandes recipientes, é conveniente usar pectina de geleificação lenta, para que o enchimento seja feito após o resfriamento, em torno de 45-50 ºC, assim tem- se garantido o tratamento térmico. Se a geleia for formulada com pectina de geleificação rápida e o recipiente enchido quente, irá ocorrer a formação incorreta do gel na superfície e escurecimento do produto e degradação da pectina na parte central. 5.9. Resfriamento A etapa de resfriamento deve ser efetuada logo após o tratamento térmico. O resfriamento é uma etapa complementar ao tratamento térmico e permite a não continuidade do cozimento do produto que pode promover o escurecimento, o cozimento demasiado do produto, além de tornar-se susceptível ao desenvolvimento de bactérias esporulantes e termofílicas que causam fermentação não gasosa e torna o produto azedo. A temperatura final de resfriamento deverá ser entre 35 e 40 °C. O resfriamento pode ser realizado por jatos de água, neste caso, a água deve conter de 1 a 2 ppm de cloro ou através do mesmo sistema utilizado para o tratamento térmico. 5.10. Armazenamento Os doces completamente resfriados e secos são rotulados e acondicionados em caixas próprias. O ambiente de armazenamento deve ser fresco, seco, ao abrigo da luz e bem ventilado para que não ocorra corrosão das embalagens, danos nos rótulos e amolecimento das caixas de papelão (embalagem secundária para facilitar o transporte). 6. DEFEITOS DO PROCESSAMENTO DE DOCE EM MASSA O processamento realizado de forma inadequada pode promover o desenvolvimento de defeitos no produto final, tais como gel pouco firme, gel muito duro, cristalização, sinérese, entre outros. Dentre os prinicipais defeitos relacionado ao processamento de doces em massa e geleias de frutas, podemos citar: a) Gel pouco firme → Pode ocorre devido a quantidade insuficiente de pectina na fruta, a acidez excessiva ou pouca acidez, a adição de açúcar em excesso, entre outros. b) Gel muito duro → Ocorre quando há pectina em excesso promovendo a prematura geleificação, alto teor de sólidos solúveis devido a concentração em excesso ou pela baixa acidez. c) Cristalização → A cristalização é um processo que pode ocorrer pela excessiva ou pouca inversão do açúcar formando cristais de glicose e sacarose, respectivamente, durante o armazenamento. A excessiva inversão do açúcar ocorre pela alta acidez, prolongado tempo de cocção, enquanto que a pouca inversão ocorre devido a baixa acidez, e curto tempo de cocção. d) Sinérese → Este tipo de defeito é consequência da acidez excessiva, da deficiência de pectina, do excesso de açúcar invertido, e baixo teor de sólidos solúveis. BIBLIOGRAFIA AMARO, A. A. Aspectos mercadológicos de frutas industrializadas. IBRAF Acontece, v.3, n.16, 1997. BOBBIO, P.A.; BOBBIO, F.O. Química do processamento de alimentos. 3. ed. São Paulo, Livraria Varela, 143p., 2001. CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B. Pós-clheita de frutas e hortaliças: fisiologia e manuseio. 2. ed. rev. e ampl. Lavras, UFLA, 785p., 2005. CRUESS, W. V. Produtos industrializados de frutas e hortaliças. São Paulo, Edgard Blucher Ltda, v.1, 1973. JACKIX, M. H. Geleias e doces em massa, In: Industrialização de frutas em caldas e cristalizadas, geleias e doces em massa. p. 107-210 (Série Tecnologia Agroindustrial; Secretaria do Estado da Indústria, Comércio e Tecnologia, Governo do Estado de São Paulo, 19) – São Paulo: UNICAMP, 1988. KROLOW, A.C.R. Preparo artesanal de geleias e geleadas. Documentos 138. Embrapa, 2005. MORETTO, E. Manual de processamento e controle de qualidade para produtos derivados de frutas, 49p., 1986. RAUCH, G. H. Fabricacion de Mermeladas, trad. LORENZO, L.L. Editorial ACRIBIA, Zaragoza, 199 p., 1981. SOLER, M. P. Industrialização de Frutas, Manual nº8, Ed. ITAL, Campinas, 206p., 1991.
Compartilhar