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1 Laís Kist de Almeida ATM 2024/2 NEFROPATIA DIABÉTICA (ND) Doença Renal do Diabetes (DKD) Introdução • A nefropatia diabética (ND) é uma síndrome clínica caracterizada por: o Albuminúria persistente (confirmada em 2 testes com intervalo de 4- 6 meses) ▪ Ou proteinúria: dependendo do estágio. Nas fases iniciais, há uma albuminúria seletiva, depois há uma proteinúria persistente. o Queda progressiva da TFG: pode levar anos, relação com predisposição genética, controle glicêmico.. o Pressão arterial elevada • É uma complicação crônica microvascular que leva a glomeruloesclerose o O diabetes por si só é uma doença vascular – retinopatia, pé diabético... • Em 1930 por Kimmelstiele Wilson descreveram a glomeruloesclerose nodular o Não se biopsia pacientes com nefropatia diabética, mas caso for biopsiado pensando em outra patologia, o achado é a glomeruloesclerose nodular ou nódulos de Kimmelstiele Wilson. • Está associada tanto ao DM1 como DM2, mas muito mais comum em DM2 pelo maior número de pessoas, porém é na DM1 que é mais fácil de acontecer • Evolução progressiva de perda de função renal não é regra! Varia com o tempo de duração da doença, controle glicêmico e genética • Não se faz biopsia na nefropatia diabética Epidemiologia • O DM é uma patologia de elevada morbimortalidade – importante que um médico coordene o cuidado, já que o paciente vai em muitos médicos especialistas que acabam não cuidando por um todo (coordenação do cuidado) • Estimativas globais indicam que 382 milhões de pessoas tem DM e esse número poderá chegar a 592 milhões em 2035. • Aproximadamente 50% dos diabéticos desconhecem que têm a doença. • DM1 é mais rápido, já a DM2 é mais demorado para mostrar sintomas o As manifestações clínicas do diabetes tipo 2 são insidiosas – importante rastreio, atendimento precoce. • Estima-se que 5,1 milhões de pessoas morreram em decorrência do diabetes em 2013. • Até 2030, o DM pode saltar de nona para sétima causa mais importante de morte em todo o mundo. • A prevalência do DM no Brasil é de 7,6%. No RS a prevalência é maior que a brasileira. • Em 2013, o Brasil ocupou a quarta posição entre os países com maior número de pessoas diabéticas; 11,9 milhões de casos entre adultos. • O envelhecimento da população, a crescente prevalência da obesidade e do sedentarismo são considerados os principais fatores responsáveis pelo aumento da incidência e prevalência do DM em todo o mundo. • O DM correspondeu a 12% das hospitalizações e 15,4% dos custos hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro no período de 2008 a 2010. • A ND afeta tanto homens quanto mulheres • A ND raramente se desenvolve antes de 10 anos de evolução do DM1 • A média de idade dos pacientes que evoluem para DRC terminal é 60 anos • Maior incidência em negros: 3 - 6x maior Etiologia • A etiologia ainda não é muito clara – é multifatorial. • Hipóteses: o Hiperglicemia o Hiperfiltração glomerular → aumento da perfusão renal → alterações hemodinâmicas: 2 Laís Kist de Almeida ATM 2024/2 ▪ Em decorrência da ação de mediadores vasoativos (IGF-1 [insulin like growth factor], Óxido Nítrico, prostaglandinas, VEGF [fator de crescimento endotelial vascular] – espessamento da membrana basal glomerular e proliferação mesangial) o AGES (produtos finais da glicação) → proteínas ou outros elementos, hemoglobina glicada → são caminhos alternativos para metabolização da glicose pela falta de insulina, os produtos desses caminhos são tóxicos→ essas toxinas se depositam na membrana basal glomerular. Proteínas que sofrem transformações na sua conformação molecular através da metabolização alternativa da glicemia. Isso acaba produzindo substâncias tóxicas que estimulam a proliferação celular dentro do glomérulo. o Ativação de citocinas (inflamação) • Doença autoimune → Toll-like receptor (TLR, receptor de membrana) e células T reguladoras o Induzem a formação de citocinas inflamatórias e espécies reativas de oxigênio que contribuem para a piora do DM2 o A expressão do TLR tem correlação com a obesidade e níveis elevados de glicose o Contribui com a disfunção pancreática o Patógenos ativam o TLR: processo infeccioso como desencadeador do DM2 o A insulina suprime a expressão do TLR o Novas drogas no tratamento do DM voltadas para o bloqueio do TLR o *Muitas vezes pensamos apenas na hiperglicemia, mas há outras áreas em estudo que podem explicar o desenvolvimento da nefropatia diabética. • Genética (polimorfismos de gene da ECA; alelo D do gene da ECA) Fisiopatologia • São 3 as alterações histológicas mais importantes na ND: o Expansão mesangial → induzida pela hiperglicemia. A metabolização alternativa da glicose faz com que produzam-se substâncias que estimulam a proliferação celular no mesângio. Com a expansão do mesângio, empurro os capilares glomerulares, diminuindo a taxa de filtração glomerular. o Espessamento da membrana basal glomerular (MBG) → proteínas glicadas o Esclerose glomerular pela hipertensão intraglomerular → dilatação da arteríola aferente • Os glomérulos e os rins têm tamanho normal ou aumentado e o rim também aumenta de tamanho → Diagnóstico Diferencial de outras patologias renais onde os rins têm tamanho reduzido → Exceção para amiloidose e rins policísticos que possuem rins de tamanho normal ou aumentado. • Fase de hiperfiltração: a nefropatia diabética tem um aumento na taxa de filtração para depois reduzir com o tempo. • A hipertensão tem papel deletério na evolução da ND → controlar hipertensão, glicemia. • Metabolização da glicose por via alternativa: 3 Laís Kist de Almeida ATM 2024/2 Fisiopatologia → De todas as hipófises relacionadas ao metabolismo alternativo da glicose. Se não tenho insulina de forma crônica (como é a diabetes), toda a glicose/hiperglicemia irá ser resolvida, irei metabolizar a glicose. Posso ter várias vias, tudo são vias alternativas que irei metabolizar a glicose. Pela metabolização da glicose de uma maneira alternativa, começo a produzir substâncias que contribuem de uma certa forma para fazer com que o paciente evolua na nefropatia diabética. Terei neovascularização, síntese do colágeno, altera pH intracelular (quando tenho pH alterado, o metabolismo celular muda), produção de citocinas inflamatórias que prejudica a evolução do paciente do potno de vista de função renal. Acumulam-se metabólitos nos tecidos renais, nos vasos... proliferação das células mesangiais, síntese da matriz extracelular e esclerose nodular. Ou seja, metabolizar a glicose de uma forma diferente/alternativa gera esses processos degenerativos crônicos da função renal no diabético. Prognóstico • A proteinúria é um preditor de morbimortalidade. • Microalbuminúria está associada a doença coronariana e vascular periférica. • Pacientes com proteinúria, se comparados aos pacientes sem proteinúria, tem risco 40x maior de morte • Doença cardiovascular é a principal causa de morte → relação com níveis de glicose e de glicose pós-prandial • 50% dos pacientes com DM1, após 10 anos do início da proteinúria, estão em diálise. Nos pacientes com DM2, 11%. Exemplo: Na fase inicial que os pacientes desenvolvem nefropatia diabética, TFG ~100ml/min, depois passa por fase de microalbuminúria (estágio II, depois do hemodinâmico) e depois quando evolui com macroproteinúria, começa a perder taxa de filtração. **10 anos após proteinúria → por esse motivo, lutamos para o paciente não evoluir do estágio de microalbuminúria para macroproteinúria, pois quando isso acontece é como se ligamos um relógio de 10 anos para necessitar de diálise. O marco é o estágio de macroproteinúria. Mortalidade CV Quanto maior a glicemia pós prandial, maior o risco CV. TFG 60 ml/min → perde 0,5 ml/mês → 6 ml/ano → 10 anos para necessitar de hemodiálise,praticamente zera a taxa de filtração glomerular. 4 Laís Kist de Almeida ATM 2024/2 Evolução • Fase I → fase de hiperfiltração, sem danos estruturais, apenas aumento do tamanho dos glomérulos e do rim. o Taxa de filtração mais rápida, não houve alteração significativa para que o paciente tenha microalbuminúria, é mais hemodinâmico. • Fase II → presença de microalbuminúria. o Proteína seletiva. o Lesão pequena na barreira. Ainda é possível reduzir, voltar para o estágio anterior, controlando a diabetes, a pressão, usar IECA, usar DIU poupador de potássio... • Fase III → presença de macroalbuminúria (macroproteinúria) o Começa a perder função renal e então tenho proteinúria → posso ter gama globulinas, Ig, albumina.. acúmulo de proteínas → perco a seletividade da membrana. A lesão da membrana é tão grande que deixa de ser uma proteína seletiva, passam muitas proteínas e não só a albumina. o Não é mais reversível. • Fase IV → DRC • Consegue retomar da fase 2 para a 1, porém quando entra na fase 3 não tem mais retorno Albuminúria • Existem basicamente três métodos diferentes de rastreamento para detectar aumentos na excreção urinária de albumina: 1. Medida da relação entre albumina e creatinina em amostra isolada de urina; 2. Medida da albuminúria em quantidade de urina obtida dentro de um período determinado (p. ex. 12 horas noturnas ou diurnas); 3. Determinação da quantidade de albumina excretada nas 24 horas, considerada como padrão ouro de determinação da albuminúria • Mais de 300 já está na fase 3 que não tem retorno 5 Laís Kist de Almeida ATM 2024/2 Estágios da ND • Estágio I: Hiperfiltração por vasodilatação arteriolar aferente → ↑ TFG e normoalbuminúria, rins e glomérulos com aumento de volume bilateral • Estágio II: Microalbuminúria → 30-300mg/24h • Estágio III: Proteinúria (macroproteinúria) → albuminúria acima de 300mg/24h, queda progressiva da TFG • Estágio IV: Nefropatia terminal → IRC pré-dialítica ou dialítica Rastreio • Dosagem de microalbuminúria • Presença de microalbuminúria em 2 de 3 amostras com intervalos de 3 a 4 meses o Confirmo diagnóstico de nefropatia diabética • Quando dosar microalbuminúria / quando começar a investigar: o DM tipo 1: após 5 anos → antes se adolescentes o DM tipo 2: no diagnóstico, pois nunca sei quando o diabetes começou mesmo • Anualmente se negativo Diagnóstico de ND • Clínico e laboratorial • Histórico de controle glicêmico insatisfatório e prolongado • Sinais de lesão diabética em outros órgãos-alvo → retinopatia é sinal de risco! • Ausência de outros sintomas ou sinais que sugiram outra etiologia para a doença renal • A TFG e a excreção de albumina urinária são os dados laboratoriais mais importantes Manifestações clínicas • São tardias, quando as possibilidades de intervenção são limitadas Diagnóstico histopatológico *Mais para curiosidade → pois não se biopsia. Nódulos glomerulares • Nódulos de KIMMELSTIEL-WILSON → patognomônico de nefropatia diabética 6 Laís Kist de Almeida ATM 2024/2 Biópsia Somente em casos de suspeita diagnóstica, principalmente com outras glomerulopatias: • DM1 com proteinúria e sem retinopatia • DM1 com início de proteinúria abrupto e rápida evolução → <5 anos • Diabéticos com rápida perda de função renal → perda 0,5 – 1 mL/mês o Se creatinina começa a alterar muito rápido → pode ter outra doença sobreposta. • Diabéticos com sedimento urinário alterado – glomerulopatia sobreposta? Tratamento e prevenção • Controle glicêmico rigoroso • Controle de PA → bloqueio do sistema renina-angiotensina-aldosterona • Tratamento da dislipidemia • Modificações no estilo de vida – atividade física • Estímulo à cessação tabágica e do uso do álcool Controle glicêmico • O controle glicêmico deve ser rigoroso (atenção com idade e fragilidade do paciente), por meio do emprego de medidas farmacológicas e não farmacológicas. • Hemoglobina Glicosilada (HbAc1) menor ou igual a 7%. o Idosos: é possível aceitar 7,5 ou 8,0. • O controle glicêmico está associado a uma redução de 33% do risco relativo de evolução da albuminúria em 12 anos. • A diminuição de 1 ponto da HbA1c está associada à redução de 24% no risco de evolução para doença renal terminal. Medicamentos para controle glicêmico • Vão além do controle da glicemia • Inibidores da SGLT2 (Forxiga, Xigduo XR, Jardiance®) → reduzem a perda da TFG, reduzem o hiperfluxo glomerular (reduzem a dilatação arteria aferente) • Inibidores da DPP-4 (Linagliptina®) → redução complicações microvasculares, reduz as AGES e estresse oxidativo. O problema é o custo – medicações caras • Pioglitazona → tem efeito protetor aos podócitos pela sua ação supressora da inflamação o Podócitos são a principal barreira de retenção de albumina. São afetados pela nefropatia diabética. Quanto mais podócitos encontro na urina, maior a lesão na membrana. • Agonistas da GLP-1 (Victoza®) → tem efeito antioxidante • Metformina → inibe a via mTOR, menor espessamento MBG, expansão mesangial e apoptose células tubulares. Diminui a questão inflamatória. 7 Laís Kist de Almeida ATM 2024/2 Inibidores da SGLT2 • Estudo SONAR o O uso dessa classe reduz o risco em 30% de: ▪ Doença renal em estágio terminal ▪ Perder taxa de função renal ▪ Dobrar o valor da creatinina ▪ Mortalidade cardiovascular *Deixa o paciente mais suscetível a infecções urinárias. • Dependendo do estágio da doença existe limitações no seu uso, por conta da perda da função renal Inibidores da SGLT2 8 Laís Kist de Almeida ATM 2024/2 Controle da pressão arterial • Alvo da PA ≤130/80mmHg • IECA/BRA possuem efeito nefroprotetor e antiproteinúrico nas fases iniciais (medicação de escolha) o No entanto, podem acelerar a progressão da perda de função renal em pacientes com DRC avançada ou em idosos. ▪ A descontinuação destas medicações em estágios mais avançados retardou a evolução para diálise nesses pacientes. • O efeito antiproteinúrico e nefroprotetor dos IECA e dos BRA é potencializado pela espironolactona (duplo bloqueio) o Não fazer duplo bloqueio (IECA + BRA) pois aumenta o risco de hipotensão e hipercalemia. • IECA/BRA tem ações hemodinâmicas glomerulares, antifibróticas (remodelamento) e potencialização da ação da nefrina (proteína de ancoragem dos podócitos nos capilares glomerulares) no podócito o Dá estabilidade ao podócito. Além do controle da PA. • Bloqueadores de canais de cálcio. • Hidroclorotiazida pode ser usada se TFG > 30 mL/min. • Restrição de sódio na dieta 5 a 6 g/dia. Quando confirmado no rastreio (2 amostras de 3) já inicio IECA ou BRA. Em estágios avançados (IV ou V), essa medicações comprometem a função renal, inclusive acelerar a perda de função renal. Solução pode ser b-bloqueador ou BCC. Dieta pobre em proteínas • Nos estágios 1 e 2 da DRC → 0,8 g/kg/d • Nos estágios 3 e 4 da DRC → 0,6 – 0,8 g/kg/d *Na prática não é feito → desnutrição ao paciente. 1g/kg é aceitável. Alopurinol • Efeito favorável na redução do declínio da TFG • Manter ácido úrico abaixo de 6 mg/dL. “Controlando ácido úrico, reduzo a taxa de perda de filtração” • *Há uma metanálise mas não está claro. Antagonistas da endotelina • Ação antifibrótica, antiinflamatória e antiproteinúrica • Avosentan® • Administrado em combinação com IECA/BRA Prevenção do diabetes O que funciona mesmo é mudança no estilo de vida!!! 9 Laís Kist de Almeida ATM 2024/2 Resumo Avaliação precoce no diagnóstico. Começando com microalbinuria → controlar com IECA/BRA, podendo associar DIU. Controle da PA < 130/80
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