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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÃNCIA CURSO DE PEDAGOGIA A DISTÂNCIA CÉLIA PEREIRA EDUCAÇÃO INCLUSIVA E O ENFRENTAMENTO AO CAPACITISMO: O RESPEITO À DIFERENÇA NA ESCOLA E NA SOCIEDADE NATAL 2021 CÉLIA PEREIRA EDUCAÇÃO INCLUSIVA E O ENFRENTAMENTO AO CAPACITISMO: O RESPEITO À DIFERENÇA NA ESCOLA E NA SOCIEDADE Artigo apresentado ao Curso de Pedagogia como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciada em Pedagogia. Orientadora: Profa. Dra. Gabriela Bon NATAL 2021 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Moacyr de Góes - CE Pereira, Célia. Educação inclusiva e o enfrentamento ao capacitismo: o respeito à diferença na escola e na sociedade / Célia Pereira. - Natal: UFRN, 2021. 27 f. Artigo Cientifico (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Educação, Secretaria de Educação a Distância, Curso de Pedagogia a Distância. Licenciatura em Pedagogia. Orientador: Dra. Gabriela Bon. 1. Educação Inclusiva - TCC. 2. Capacitismo - TCC. 3. Anticapacitismo - TCC. I. Bon, Gabriela. II. Título. RN/UF/BSIQ CDU 376 Elaborado por FERNANDO CARDOSO DA SILVA - CRB-759/15 CÉLIA PEREIRA EDUCAÇÃO INCLUSIVA E O ENFRENTAMENTO AO CAPACITISMO: O RESPEITO À DIFERENÇA NA ESCOLA E NA SOCIEDADE Artigo apresentado ao Curso de Pedagogia como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciada em Pedagogia. Aprovada em: 15/09/2021 BANCA EXAMINADORA ______________________________________ Profa. Dra. Gabriela Bon Orientadora UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ______________________________________ Prof. Dr. Alan Ricardo Costa UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ______________________________________ Profa. Dra. Adriana Aparecida de Souza UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE Dedico este trabalho à minha irmã Cláudia Pereira (in memorian) que foi minha inspiração para realização desse projeto. Aos meus familiares, em especial, à minha sobrinha Adma Enmilly que foi minha maior motivação para pesquisar sobre a Educação Inclusiva. Aos professores e colaboradores desse curso. E dedico, principalmente, a Deus, por ter sempre me conduzido por caminhos corretos, me fazendo entender que tudo é possível quando acreditamos e que os princípios são eternos. AGRADECIMENTOS Minha gratidão a Deus pela vida e proteção. O que seria de nós sem a fé que temos Nele? À minha irmã Cláudia Pereira (in memoriam), que é minha grande inspiração e espelho, onde tenho como objetivo dar continuidade ao grande legado que deixou. Agradeço à minha irmã Cleide Pereira por acreditar e me incentivar na busca e concretização desse novo sonho, que se iniciou através delas e passou a ser “Nosso”. À minha mãe, à minha filha, aos meus irmãos e ao meu esposo, os quais entenderam minhas ausências e, com muito carinho e apoio, não mediram esforços para que eu chegasse a esta etapa da minha vida. À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, por me auxiliar na busca por conhecimentos acadêmicos. Em especial, a todos os professores e funcionários desta instituição. Aos professores e tutores, por seu apoio, dedicação, auxílio, compreensão e por servirem de inspiração na busca por conhecimentos e conceitos os quais nos levaram à execução e à conclusão deste projeto. Aos alunos que pude acompanhar durante os estágios e que muito me motivaram a buscar competências e habilidades no desenvolvimento de práticas pedagógicas na perspectiva inclusiva. Aos amigos e colegas, em especial, Maria Rosa (Secretária de Educação do Município de Cruzeta), José Tadeu (Diretor da EMAAM e EEJJM), Josinete Medeiros (Diretora da CMEI ) e às professoras (Cleide Pereira, Eneide Jeane e Ivone de Lima), que me acompanharam e me orientaram durante os estágios, me dando incentivo e apoio constantes. Para não correr o risco da injustiça, agradeço de antemão a todos que de alguma forma passaram pela minha vida e contribuíram para a construção de quem sou hoje e pela concretização desse sonho. Você só será um educador, quando não escolher quem quer educar, O Bom educador transforma a vida de todo aquele que passa por sua vida. Anita Brito RESUMO A Educação Inclusiva no Brasil ganhou importante destaque a partir da década de 90, quando foi instituída a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1996, em que era reivindicado na forma de lei o direito da inclusão de pessoas com deficiência dentro do âmbito escolar. Desde então, diversos autores como Poker, Fernandes e Colantonio (2016), Gesser, Mello e Block (2020), Mendes (2006), dentre outros, teorizam sobre a Educação Especial em uma perspectiva inclusiva, e também acerca de como o capacitismo afeta no reforço de estereótipos de exclusão social de pessoas com deficiência. Dito isso, o objetivo deste trabalho, e indo ao encontro às teorizações dos autores mencionados, é compreender as implicações do capacitismo enquanto um sistema opressor, e, além disso, averiguar se os professores da Educação Básica têm conhecimento sobre os perigos que permeiam a perpetuação do capacitismo. Para alcançar tal objetivo, foi realizado um estudo bibliográfico seguido da aplicação de um questionário para três professores da rede básica de ensino. A pesquisa se deu como resultado da prática de estágio dos autores, a escolha das professoras, deu-se devido às mesmas serem as supervisoras dos autores durante os referidos estágios, e os questionamentos norteiam essa discussão. Como resultado, podemos perceber a falta de compreensão e entendimento acerca do que seria o capacitismo por parte dos professores, além de atitudes que reforçam esse sistema, demonstrando a importância de ater olhos aos perigos do capacitismo e a necessidade urgente de uma educação pautada no anticapacitismo. Palavras-chave: capacitismo; anticapacitismo; Educação Inclusiva. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 8 Educação Inclusiva: uma realidade possível? ...................................................... 9 Entendendo o Capacitismo e suas implicações .................................................. 12 2 METODOLOGIA E ANÁLISE ............................................................................. 17 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 23 4 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 25 8 1 INTRODUÇÃO Neste trabalho, pretendemos abordar a inclusão dentro do ambiente escolar, por meio da exploração das implicações do capacitismo na escola e das formas como ele afeta o desenvolvimento de uma educação diversa, com respeito às diferenças e longe de amarras sociais de opressão em detrimento de uma deficiência. Após várias pesquisas bibliográficas, podemos dizer que a noção mais comum de Educação Inclusiva é a de que basta se inserir a pessoa com deficiência em um determinado espaço físico, sem que sejam tomadas outras providências. Porém a Educação Inclusiva é aquela que engloba o respeito proporcionando a todos uma educação íntegra e consistente, dando início desde as entradas das escolas atéo processo de ensino e aprendizagem, onde todos se sintam iguais, fazendo com que o estudante com deficiência tenha o sentimento de pertencimento naquele ambiente e/ou espaço. Para isso, buscaremos refletir como o espaço da escola acaba por contribuir com o capacitismo, seja por sua infraestrutura ou reprodução de discursos em atitudes cotidianas, estabelecendo, portanto, uma necessária atenção não somente ao papel do professor e gestor escolar, mais dos funcionários e toda sociedade em geral. O capacitismo tem ganhado bastante atenção por educadores e pesquisadores da Educação por ser um tipo de sistema de opressão que interfere diretamente na prática pedagógica adotada por professores e gestores escolares, às vezes, até, de forma involuntária. Daí a importância do presente estudo, por desenvolver argumentações e perspectivas sobre o capacitismo dentro do espaço escolar em busca da promoção de uma Educação realmente Inclusiva, que respeite às diferenças e promova, de fato, uma educação para todas as pessoas. As problematizações desse trabalho acerca da Inclusão das Pessoas com deficiência em ambientes escolares, surgiram por meio dos estágios realizados em três diferentes momentos. O primeiro estágio foi um estágio curricular do Curso de Pedagogia a Distância da UFRN, ocorreu no segundo semestre de 2019, durante o 5° período do curso, no mês de outubro, de forma presencial. Seu objetivo foi observar a organização e a Gestão dos processos educativos em uma escola de Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino de Jovens e Adultos (EJA), que atende alunos do 6° ao 9° ano. O segundo estágio curricular, também parte do mesmo 9 curso de licenciatura, ocorreu no primeiro semestre de 2021, durante o 7° período, no mês de março, de forma remota. Em uma escola de Ensino Fundamental, que atende alunos do 1° ao 5° ano, o objetivo deste segundo estágio foi observar e auxiliar a professora em sua prática pedagógica em uma turma do 4° ano do ensino fundamental, composta por 26 alunos com idades entre 9 e 10 anos para adquirir conhecimentos práticos necessários à futura carreira docente. Já o terceiro estágio, ainda parte integrante do mesmo curso de licenciatura, ocorreu no segundo semestre de 2021, durante o 8° período, no mês de julho, também de forma remota. Em uma escola do Ensino Infantil, o objetivo deste último estágio foi observar e auxiliar a professora em sua prática pedagógica, desta vez em uma turma do 5° nível, para compreender como se dava o trabalho com crianças de 5 anos. Cabe destacar que todos os estágios citados foram realizados no município de Cruzeta, no estado do Rio Grande do Norte. Durante os referidos estágios, foi possível perceber que ocorria algum tipo de discriminação em relação aos estudantes com deficiência, mesmo que de forma discreta e involuntária. No entanto, durante os estágios, o conceito de capacitismo não era trabalhado na prática dos educadores e tampouco teoricamente na universidade. Durante as discussões de orientação e pesquisa para a concretização deste Trabalho de Conclusão de Curso, tomamos conhecimento deste novo conceito que impulsionou a necessidade de aprofundar nossas reflexões acerca do capacitismo na escola. Para tanto, foi construído um questionário a ser aplicado aos professores da Educação Básica das referidas escolas onde ocorreram os estágios, com o objetivo de perceber a compreensão e domínio dos docentes acerca do capacitismo. Além disso, também desejávamos perceber como se dava a prática pedagógica destes profissionais em relação ao respeito às diferenças no ambiente escolar, bem como ao reforço dos estereótipos capacitistas. Educação Inclusiva: uma realidade possível? Em primeiro lugar, precisamos entender o que é considerado Educação Inclusiva no Brasil. A Educação Inclusiva nem sempre foi uma realidade em nosso país. Partindo de um âmbito mundial, apenas na década de 1970 é que este cenário atual começou a se delinear. Segundo Mendes: houve uma mudança, e as escolas comuns passaram a aceitar crianças ou adolescentes deficientes em classes comuns, ou, pelo 10 menos, em classes especiais. Essa filosofia foi amplamente difundida ao longo da década de 1980 no panorama mundial (MENDES, 2006, p. 390). Cabe destacar que, como afirma a autora, este panorama se manteve ao longo da década seguinte. A mudança de pensamento, e uma consequente tentativa de enfrentamento da segregação de pessoas com deficiência, só veio a ter visibilidade significativa com a Declaração de Salamanca. Este documento foi o resultado da Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais: acesso e qualidade, que aconteceu na cidade de Salamanca, na Espanha em 1994. Apesar de ser um documento já bastante antigo ele foi um marco e hoje ainda é considerada “como o mais importante marco mundial na difusão da filosofia da Educação Inclusiva”. A partir de então, ganham terreno as teorias e práticas inclusivas em muitos países, inclusive no Brasil (MENDES, 2006, p. 395). Assim, podemos destacar que o contexto nacional e mundial levou muitas décadas pensando e discutindo o assunto. Ainda segundo a mesma autora: No contexto mundial, o princípio da inclusão passa então a ser defendido como uma proposta da aplicação prática ao campo da educação de um movimento mundial, denominado inclusão social, que implicaria a construção de um processo bilateral no qual as pessoas excluídas e a sociedade buscam, em parceria, efetivar a equiparação de oportunidades para todos, construindo uma sociedade democrática na qual todos conquistariam sua cidadania, na qual a diversidade seria respeitada e haveria aceitação e reconhecimento político das diferenças (MENDES, 2006, p. 395). A partir desta ideia de respeito à diversidade e de legitimação da diversidade como parte do exercício da cidadania, todo cidadão passa a ter um direito real à educação, pois pode exigir ter a mesma oportunidade, incluindo-se os cidadãos que possuem alguma deficiência. Além disso, passa a ser dever do Estado respeitar as habilidades, necessidades e interesses que se modificam de pessoa por pessoa. Assim, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394, em 1996, a Educação Especial ganhou visibilidade no suporte e atendimento aos educandos com deficiência, bem como especificou quais seriam estes direitos dentro do sistema de ensino. Dentre os direitos garantidos em Lei por esse grupo social, podemos destacar o artigo 59 que diz que deverão ser assegurados: 11 I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades; II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; IV – educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; V – acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular. (BRASIL, 1996, p. 19) Apesar dos muitos direitos assegurados já em 1996 pela LDB, destacamos que foi apenas no decorrer dos anos 2000 que foi implantada uma política denominada como “Educação Inclusiva” em nosso país. Esta mudança na terminologia foi muito significativa,pois denota também uma alteração nos princípios norteadores das políticas públicas nacionais. Nesse sentido, podemos dizer que os documentos anteriores traziam o conceito de Educação Especial, a qual estava centrada na ideia de que se deveria ter escolas em separado para as pessoas com deficiência e, nos documentos seguintes, esta ideia era substituída pelo conceito de Educação Inclusiva que temos hoje. Desde então, houve o que chamamos de democratização do ensino onde os alunos com deficiência passaram a frequentar as salas regulares de ensino. Segundo Alonso: A Educação inclusiva compreende a Educação especial dentro da escola regular e transforma a escola em um espaço para todos. Ela favorece a diversidade na medida em que considera que todos os alunos podem ter necessidades especiais em algum momento de sua vida escolar (ALONSO, 2013, online). A autora nos afirma ainda que: Até o início do século 21, o sistema educacional brasileiro abrigava dois tipos de serviços: a escola regular e a escola especial - ou o aluno frequentava uma, ou a outra. Na última década, nosso sistema escolar modificou-se com a proposta inclusiva e um único tipo de escola foi adotado: a regular, que acolhe todos os alunos, apresenta meios e recursos adequados e oferece apoio àqueles que encontram barreiras para a aprendizagem (ALONSO, 2013, online). 12 Podemos dizer que atualmente a Educação Especial é um direito institucionalizado dentro das salas comuns de ensino, que pode ser estendido à atendimentos especializados de acordo com as necessidades dos alunos. Essa associação entre Educação Inclusiva e Educação Especial dentro da legislação brasileira nos faz notar a preocupação da inclusão e integração das pessoas com deficiência dentro do ambiente escolar. Dito isso, falar de Educação Inclusiva é estar constantemente voltando olhares para o capacitismo, seus ideais, problemáticas, e daí a necessidade de estarmos sempre atentos e preocupados com a sua perpetuação social, por ser um sistema de opressão que reforça um estereótipo de inferiorização e marginalização de um determinado grupo social. Entendendo o Capacitismo e suas implicações Para entendermos o que significa capacitismo e quais são as suas implicações na Educação, em primeiro lugar, precisamos dizer que ele consiste em duvidar constantemente da capacidade da pessoa com deficiência de fazer qualquer coisa, ou ainda de exercer um papel ativo e autônomo na sociedade. Nesse sentido, é como se estivéssemos constantemente negando à pessoa com deficiência a possibilidade de ser protagonista da sua própria história de vida. Esta negação, costuma ocorrer ao longo de toda a sua vida e se manifesta através de atos discriminatórios cotidianos que inferiorizam a pessoa sem ao menos indagar quais são as suas reais condições e negam totalmente suas potencialidades. Tendo em vista que a pessoa com deficiência pode ser o que ela quiser, e que todo cidadão deve ter voz em um sistema democrático, este tipo de discriminação é uma forma de silenciamento, o qual transfere para outra pessoa o direito do cidadão por considerá- lo totalmente incapaz. Sabemos que diante de tantos preconceitos as pessoas com deficiência acabam não tendo as mesmas oportunidades que as pessoas consideradas “normais”. Isso se aplica não somente à Educação escolar, pois também pode ser visto no cotidiano de empresas, restaurantes, entre tantos outros lugares que subjugam a capacidade da pessoa com deficiência no dia a dia. Segundo Vendramin, o “Capacitismo é a leitura que se faz a respeito de pessoas com deficiência, assumindo que a condição corporal destas é algo que, naturalmente, as define como menos capazes” (VENDRAMIN, 2019, p.17). A mesma autora ainda nos traduz a visão de Campbell, o qual ressalta que o capacitismo já é 13 algo que está dentro de nós sem que tenhamos consciência dele e que “deflagra uma dificuldade social em interrogar-se pela diferença, e resulta em perceber pessoas com deficiência como seres menos humanos (CAMPBELL, 2008, citado por VENDRAMIN, 2019, p.17). Ou seja, o capacitismo é uma forma de discriminação na qual pessoas com deficiência são taxadas como incapazes de exercer determinada ação, subestimando suas capacidades e negando suas potencialidades a partir de uma visão generalista de sua condição. Nem sempre percebemos quando praticamos o capacitismo, e geralmente o fazemos de forma não intencional. Muitas vezes não pretendemos causar desconforto ou constranger a pessoa com deficiência. Porém, a inferiorização ocorre, mesmo quando não temos consciência dela. Para Vendramim, o capacistismo pode ser algo imperceptível: Muitas vezes o capacitismo está presente em situações sutis e subliminares, acionado pela repetição de um senso comum que imediatamente liga a imagem da pessoa com deficiência a alguma das variações dos estigmas construídos socialmente, aos quais se está habituado e, por isso, tendem a não serem percebidos e questionados. Porém, quando o capacitismo é óbvio e visível, ele declara uma outra coisa, ele mostra o quanto esse preconceito ainda é naturalizado como se fosse aceitável ou inevitável. A recorrência dessas experiências é frequente, em variados graus, na vida de diferentes pessoas com deficiência. (VENDRAMIN, 2019, p.18). A naturalização da discriminação não a transforma em algo aceitável. Por mais que o preconceito seja recorrente e esteja por todas as partes, é importante ressaltar que qualquer diferenciação baseada na condição de uma pessoa continuará sendo algo equivocado e pode, dependendo da situação, configurar-se como crime. Segundo a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, discriminação por motivo de deficiência é: Qualquer diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, com o propósito ou efeito de impedir ou impossibilitar o reconhecimento, o desfrute ou o exercício, em igualdade de oportuni- dades com as demais pessoas, de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais nos âmbitos político, econômico, social, cultural, civil ou qualquer outro. Abrange todas as formas de discrimi- nação, inclusive a recusa de adaptação razoável (BRASIL, 2009, online). O preconceito é um problema sociocultural e que, geralmente, é determinado por padrões de comportamento tolerados por grande parte da 14 sociedade. Quando o padrão de normalidade corporal pactuado em determinado grupo é quebrado por qualquer condição, muitas pessoas reagem de forma preconceituosa buscando inferiorizar as qualidades da pessoa que não faz parte do grupo considerado normal. Ressaltamos, porém, que o padrão de normalidade não se aplica à maioria das pessoas, e, quando se trata daquelas com deficiência, surge um preconceito ainda maior. Muitas vezes, este pode ocorrer por falta de conhecimento ou por nunca ter tido contato próximo com alguém com deficiência. A prática do capacitismo ocorre de diferentes formas: ao dificultar o acesso ao meio físico e a criação de barreiras, para que exerçam atividades independentemente; além da imposição de limites socioemocionais, quando essas pessoas são tratadas como coitadinhos, doentes, incapazes, dependentes, quando lhe são tirados o direito de exprimir suas necessidades, desejos e emoções. Ainda tem a forma pela qual a pessoa é tratada como super-herói. Aquele que vai ser usado como exemplo de superação por uma sociedade que ao invés de impor uma série de obstáculos romantizam a exclusão através do modelo de superação de barreiras físicas ou atitudinais através da meritocracia. Segundo Dias, ao traduzir as ideias de Clogston: As pessoas com deficiência não são estimuladas, e muitas vezes são francamente desanimadas, de expor acerca de suas deficiências. A ideia é que o mundo do trabalho espera dela que "superarem" sua deficiência em um mundo "normal" o que tem sido duramente criticadono campo de estudos sobre deficiência (CLOGSTON, 1994, citado por DIAS, 2013, online). A autora ainda segue dizendo que: A idéia de superação, tenta criar um especialismo, para motivar as pessoas com deficiência a se imaginarem como super-heróis para os outros seguirem. Some-se a isso a dívida imediatamente construída: obriga-se a todas as PcDs a serem profundamente gratas com as imensa oportunidades dadas a elas por seus patrões, empregos e cotas, alienando-as da noção de que elas tem direito ao trabalho a autonomia (DIAS, 2013, online). Lamentavelmente, muitos profissionais da educação não têm a devida orientação e/ou conhecimento e acabam praticando o capacitismo. Na maioria das vezes esses desconhecem esse termo e acreditam que a Educação Inclusiva consiste apenas na inserção de pessoas com deficiência no espaço escolar, ignorando que a mesma tem o dever de reconhecer e respeitar as diversidades e 15 principalmente, proporcionar a todos uma educação democrática em que não seja enxergada a deficiência em si, como se esta fosse um rótulo, que desumanamente, anula os potenciais e os torna incapacitados, lhes negando o direito de exercer a cidadania, uma vez que o mesmo é enxergado pela sua deficiência e não por sua condição humana. Por ser algo já tão internalizado e, de certa forma, aceito pela maioria das pessoas, o capacitismo é invisibilizado. Além disso, ele gera uma resistência de aceitação de qualquer tipo de diferença, como se só houvesse uma forma correta de ser e que as pessoas fora do padrão ideal devessem ser tratadas sempre com condescendência por serem supostamente imperfeitas. Segundo Dias: Esta resistência ao outro resulta numa consideração da vida ontologicamente periférica como uma forma distintas menos humano produzindo uma desvalorização acentuada das pessoas com deficiência. Pode-se até conceder-lhe os direitos da piedade, mas nunca equipará-los à normalidade (DIAS, 2013, online). Nas relações familiares também pode ocorrer o capacitismo, que se manifesta muitas vezes de forma implícita, quando os familiares de maneira protecionista consideram como incapazes as pessoas com deficiência, desenvolvendo falas e ações que frustram o desenvolvimento de sua autonomia e desrespeitam seus desejos e emoções, por muitas vezes lhe tirando o direito de responder sobre seus desejos e anseios, como se não tivesse vontade própria, sem voz e nem vez para resolver determinadas situações da sua vida. É nesse contexto que pode surgir uma escola excludente e segregacionista, que ao invés de estimular os potenciais e criar meios de equidade entre todos, aplica um tratamento preconceituoso de desigualdade, por meio do qual a pessoa com deficiência é tratada com inferioridade e muitas vezes é julgada como incapaz ou anormal. São os “diferentes”, que ficam em ambiente isolado, acentuando a discriminação, a distância e desigualdade de direitos. Por isso é importante que mesmo com dificuldades e necessidades diferenciadas dentro da escola ou qualquer ambiente, a pessoa com deficiência tenha apoio, condições de desenvolvimento iguais a partir de suporte específico, porém ficando claro a todos que não está perdendo seu poder de autonomia. Por isso é urgente a necessidade de incorporar na formação de todos os profissionais da comunidade escolar o conceito de Educação Anticapacitista, que segundo Lima, Ferreira e Lopes é "a valorização das habilidades e potencialidades, daquilo que se pode criar ao se apropriar da cultura e 16 do currículo que permite cada um ser o que é" (LIMA; FERREIRA; LOPES, 2020, p. 182). Ainda, de acordo com os mesmos autores, no que tange aos marcos legais: (...) as leis atuais asseguram a possibilidade de mudança, rompendo com as barreiras pragmáticas que obstaculizam novas performances institucionais que absorvam o corpo incomparável e a liberdade de experienciar uma vida passível de ser vivida (LIMA; FERREIRA; LOPES, 2020, p. 182). Segundo os autores, podemos dizer que os avanços jurídicos atuais nos permitem lutar contra o capacitismo e que uma escola anticapacitista não só é possível, como também é o que preconiza nossa legislação. Em sentido inverso, pensar na inclusão sem dar voz e visibilidade àqueles que sofrem as implicações do capacitismo é reforçar o conhecimento rudimentar daqueles que veem na deficiência um problema a ser superado ou algo a ser consertado. Logo, é importante ressaltar, segundo Ávila, que: Incorporar o capacitismo aos estudos interseccionais significa reconhecer a deficiência como um componente constitutivo primordial das lutas antirracistas, decoloniais, feministas (...) – sem falar nas lutas contra opressões ainda menos nomeadas [...].(ÁVILA, 2014, p. 134). Ainda sobre o capacitismo, Gesser, Böck e Lopes (2020) nos dizem que o preconceito aumenta as vulnerabilidades a causa seria que: (...) os diferentes contextos sociais têm sido organizados com base em normas capacitistas que, ao estabelecerem determinados padrões relacionados aos corpos, tornam determinadas vidas ininteligíveis, contribuindo para a produção de uma condição de precariedade da vida e produzindo relações ancoradas em concepções caritativas/assistencialistas e/ou patologizantes dos corpos (GESSER; BÖCK; LOPES, 2020, online) Após a leitura da obra “Estudos da deficiência: anticapacitismo e emancipação” (GESSER; BÖCK; LOPES, 2020, online) e da assistência dos vídeos “Deficiência Visual e Capacitismo”, de Camila Araújo Alves (ALVES, 2019, online); “O futuro anti-capacitista: curar preconceitos e celebrar diversidades”, de Lau Patron (PATRON, 2020, online); e “Capacitismo”, de Tauani Vieira (VIEIRA, 2020, online), podemos dizer que o capacitismo possui uma relação com o sexismo e com o racismo. Embora estes outros preconceitos estejam dirigidos a outros grupos, a base de comportamento inferiorizante é a mesma. Nessa direção, Camila Araújo, no 17 vídeo “Deficiência Visual e Capacitismo”, faz um paralelo entre diferentes tipos de discriminação e nos diz que: O capacitismo está para a deficiência como o racismo, está para as pessoas negras, como a homofobia está para as pessoas homossexuais, como a transfobia está para as pessoas trans, como o machismo opera na discursões de gêneros. O capacitismo é o termo usado para nomear a violência sofrida cotidianamente por ser uma pessoa deficiente. Uma violência que é acionada toda vez que se avalia um determinado funcionamento corporal pela sua capacidade ou incapacidade (ALVES, 2019, online [Transcrição de vídeo nossa]) Nesse sentido, Gesser, Böck e Lopes (2020, online) afirmam que muitas populações por não se enquadrarem em “ideais corponormativos” instituídos socialmente, “deficientizam” corpos que se diferenciam do que se convencionou como ideal de corpo humano, reforçando, portanto, o capacitismo. Então, podemos inferir que o anticapacitismo deve ser uma prática coletiva, em que no seio da família deve ser iniciada, assim como na educação escolar, de maneira que haja um atendimento acolhedor, justo e ético que repercuta na sociedade, a partir de seus alunos como multiplicadores desse conhecimento que rompe com essa prática opressora e naturalizada. 2 METODOLOGIA E ANÁLISE Nesta seção, buscaremos resumir as etapas metodológicas que percorremos a fim de obter material para análise nesta pesquisa qualitativa. Cabe lembrar que nossa investigação se iniciou a partir da observação da práxis nos estágios anteriormente mencionados e que, somente a partir da necessidade de escrita deste texto, tomaram forma e as inquietações prévias foram organizadas de forma a dar visibilidade e coerência às questões da pesquisa. Desta forma, iniciaremos com nossas considerações pessoais sobre as escolas observadas durante os estágios mencionados. O que mais se destacou em um primeiro momento foram as estruturas físicas dos prédios escolares,que não possuíam banheiros adaptados, comunicação alternativa, rampas, placas em Braille ou outras estruturas que permitiriam o acesso com autonomia de pessoas com deficiência. Outro fator de destaque é a ausência de profissionais capacitados para atender as necessidades dos alunos com deficiência. Esta carência pode ser ainda 18 mais significativa que a falta de estrutura física, pois sabemos que as barreiras atitudinais e metodológicas interferem diretamente no processo de ensino aprendizagem, o que faz com que esse grupo de alunos seja incessantemente lembrado que ele é na verdade esquecido pelo planejamento escolar. Nas instituições de ensino nas quais tivemos contato, através das experiências de estágio, pudemos observar barreiras atitudinais, por parte de alguns professores. Presenciamos, inclusive práticas capacitistas que ignoravam os déficits de aprendizagem de alguns alunos e prestigiavam aquele aluno que se destacava por suas capacidades. Nota-se que a convivência em sala de aula com os alunos não deficientes e professores, empáticos ou preconceituosos, pode dificultar ou não, a trajetória inclusiva do educando com deficiência, fazendo oscilar, portanto, a autoestima dele. Assim, com vistas a buscar entender melhor alguns dos déficits na formação acadêmica que se tornam visíveis na prática pedagógica de docentes no ensino regular relacionados ao ensino de alunos com deficiência, realizamos uma pesquisa com professores de ensino fundamental I e da educação infantil. Para este estudo, foram questionadas, através do google forms três professoras (participantes da pesquisa) aqui citadas como professoras A, B e C, sendo duas formadas em pedagogia. A professora A atua na educação infantil; a professora B, no ensino fundamental, ambas das redes municipais de ensino. Já a professora C, que é Geógrafa, atua no ensino Fundamental II e Médio da rede estadual de ensino. Todas as escolas pesquisadas estão localizadas no município de Cruzeta, no Rio Grande do Norte. A escolha das participantes da pesquisa ocorreu por meio da vivência no estágio supervisionado do curso de Pedagogia EaD, nas referidas escolas em que as professoras atuam e nas quais já havíamos percebido anteriormente a necessidade de se aprofundar os conhecimentos sobre o capacitismo e sobre a Educação Inclusiva. Todas participaram de forma espontânea e forneceram suas contribuições a partir de suas práticas docentes. As respostas levaram à novas inquietações para que se buscasse um maior aprofundamento para a constituição do presente estudo. O questionário (instrumento de coleta de dados do estudo) foi feito por meio do Google Forms e as respostas foram coletadas no mês agosto de 2020, conforme a imagem abaixo: 19 Figura 1: imagem do questionário no Google Forms elaborado para esta pesquisa O questionário foi composto por 11 perguntas que foram enviadas às professoras supervisoras de nossos 3 estágios. As perguntas formuladas tiveram o intuito de identificar as dificuldades e necessidades das escolas pesquisadas, no intuito de estimular e criar experiências, contribuindo para construção de conhecimentos sobre o capacitismo. A seguir, listamos as perguntas feitas às professoras: 1. Em que ano você concluiu o curso de pedagogia? 2. Em sua formação acadêmica teve acesso a disciplina de educação inclusiva? 3. Você tem dificuldade de trabalhar com alunos com deficiência? 4. Já fez algum curso de aperfeiçoamento/especialização na área de Educação Inclusiva/Especial? 5. Você sabe o que é capacitismo/ou já ouviu falar? 6. Em uma palavra resuma o que lembra quando falamos de “DEFICIÊNCIA”. 7. Você faz adaptações de atividade para alunos com deficiência? 8. A escola dispõe de um professor de AEE? 20 9. O que é preciso levar em conta no planejamento das atividades para os estudantes com deficiência? 10. O que você sugere para que as escolas/professores/ equipe pedagógica/família não reforce a deficiência em detrimento da pessoa com deficiência? 11. O que você pensa sobre a inclusão de pessoas com deficiência em escolas de ensino regular? A partir das respostas das professoras, vamos descrever as dificuldades e barreiras observadas em relação à acessibilidade em geral e, em especial, ao capacitismo. Também tentaremos fazer comentários que incluam a relação do capacitismo e a legislação que ampara o acesso de pessoas com deficiência na educação brasileira. Ainda nesse contexto, buscaremos ressaltar os desafios encontrados, tendo em vista que o processo de inclusão de estudantes com deficiência apresenta barreiras significativas. Respondendo às quatro primeiras perguntas: Em que ano você concluiu o curso de pedagogia?, Em sua formação acadêmica teve acesso a disciplina de Educação Inclusiva?, Você tem dificuldade de trabalhar com alunos com deficiência?, Já fez algum curso de aperfeiçoamento/especialização na área de Educação Inclusiva/Especial?, obtivemos, respectivamente, as seguintes respostas: ano de 2005, 2006 e 2011, e todas as professoras pontuaram, na resposta da pergunta posterior, que, durante a formação acadêmica, a disciplina de Educação Inclusiva esteve presente na constituição curricular do curso. Além disso, todas as professoras disseram ter dificuldade para trabalhar com alunos com algum tipo de deficiência, embora 2 das 3 professoras já tenha feito algum tipo de curso de especialização na área da Educação Inclusiva. Nesse sentido, destacamos que é importante a formação continuada, tendo em vista, que para profissão de docente, se faz necessária uma constante atualização nessa área. Somente assim, essas dificuldades em trabalhar com alunos com deficiência podem ser reduzidas cada vez mais, tendo em vista que os professores são parte importante da luta pela construção de uma sociedade mais justa e inclusiva, lutando contra o preconceito da sociedade para que as pessoas não sejam julgadas e taxadas por suas deficiências, mas pelo que elas realmente são. 21 Ao serem abordadas com a questão 5: Você sabe o que é capacitismo/ou já ouviu falar? e ao refletir a questão 6: Em uma palavra resuma o que lembra quando falamos de “DEFICIÊNCIA". Percebemos em suas respostas que: sobre o capacitismo, todas as professoras informaram não conhecer, ou nunca terem ouvido falar sobre o termo. Apesar de ser uma estimativa bastante preocupante, ainda mais quando na questão seguinte, as respostas das professoras foram: "limitação", "incapacidade" e "desafios", todas as respostas trouxeram inseguranças acerca das pessoas com deficiência, ou seja, uma possível ideia capacitista sobre essas pessoas. Essa associação entre pessoas com deficiência e adjetivos como "limitação", "desafios" ou "incapacidade", mostra como o capacitismo "é o elemento constituinte de todos os elementos que obstaculizam a participação desse grupo social, à medida que situa as pessoas com deficiência como hierarquicamente menos capazes”, e isso acaba por colaborar “com a manutenção de espaços que não acolhem a diversidade humana" (PAIVA; SILVEIRA; LUZ, 2020, p. 103). Isso nos remonta ao fato de que, mesmo tendo a disciplina de Educação Especial e Educação Inclusiva no currículo dos cursos, a mentalidade social e capacitista acerca da pessoa com deficiência ainda permanece. Diante do exposto, nota-se que é urgente um novo olhar sobre a pessoa com deficiência, uma vez que a maioria das pessoas consegue visualizar a deficiência como problema e não percebem que ali está um ser humano que independente de sua condição, também possui talentos a serem explorados e capacidades a serem desenvolvidas. Ressaltamos ainda que apesar dos estudos sobre o capacitismo serem recentes, é de suma importância que os professores procurem sempre participar de capacitações e formações, tendo em vista que esse tipo de comportamento podegerar grandes problemas nos alunos com deficiência, como frustações, atraso em seus desenvolvimentos e dificuldades em suas capacidades de autonomia. Quando questionadas sobre as questões 7, 8 e 9, respectivamente, Você faz adaptações de atividade para alunos com deficiência?, A escola dispõe de um professor de AEE?, O que é preciso levar em conta no planejamento das atividades para os estudantes com deficiência? As professoras responderam que adaptam determinadas atividades em virtude das dificuldades de estudantes com deficiência. Sobre a presença de professores que trabalham com o atendimento educacional especializado, temos como resposta, que não há esse profissional em apenas uma 22 das escolas, e em relação a última pergunta, responderam "empatia", "conhecer a criança e depois as especificidades da necessidade educacional dela", e "as necessidades de cada aluno". Percebemos que as docentes se preocupam em ensinar e acolher, de maneira satisfatória e inclusiva, aos seus alunos quando se preocupam em atendê-los conforme suas necessidades e particularidades. Ao responderem à questão 10 O que você sugere para que as escolas / professores / equipe pedagógica / família não reforcem a deficiência em detrimento da pessoa com deficiência? As respostas obtidas foram: sempre incluir a pessoa com deficiência nas atividades desenvolvidas adaptando de modo que ela se sinta igual aos demais, formação continuada em serviço com a temática inclusão, e procurar conhecer, entender e se aprofundar na causa/necessidade, como forma de buscar possibilidades e condições para atender de forma justa e igualitária as necessidades de cada um. Logo, ao analisar essas respostas podemos concluir que as professoras mesmo não conhecendo o capacitismo, tem a pretensão de romper com discursos preconceituosos, excludentes e taxativos. Entendemos que, com os discursos das referidas professoras, enxergamos um importante passo contra o capacitismo, pois reconhecem a necessidade de mudanças de atitudes na busca por uma adequação na sua prática pedagógica, de maneira que impulsione uma educação anticapacitista; observamos também, que existe a carência da oferta de cursos de formação continuada que contribuam para sua docência. Por fim, quando questionadas sobre a inclusão de pessoas com deficiência em escolas de ensino regular (questão 11), as professoras pesquisadas se mostraram acessíveis: acho importante e necessário, um direito legal, delas em frequentar o ensino regular em espaços escolares e é de fundamental importância, porém, a maioria das escolas ainda estão muito longe de oferecer um ensino que atenda às especificidades dos alunos com deficiência. Com base nas respostas, compreendemos o quanto nós, enquanto sociedade, precisamos internalizar que a pessoa com deficiência tem os mesmos direitos que qualquer cidadão, logo é imprescindível um atendimento integral, considerando suas especificidades, garantindo um tratamento digno e com equanimidade. Como vimos na análise do questionário, o desconhecimento sobre o tema capacitismo foi diagnosticado, nos revelando o quanto é fundamental a busca contínua por formação continuada e capacitações que contribuam para uma Educação Inclusiva, reflexiva e libertadora. Para isso, os governos não podem ser 23 indiferentes, é preciso investir em políticas públicas e na sua efetivação, incentivando a qualificação dos profissionais de educação para que estes junto as famílias e sociedade compartilhem essa responsabilidade de inclusão escolar e social, além de enfrentamento ao capacitismo. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Embora muitos avanços tenham ocorrido no campo da educação inclusiva, sobretudo quanto a seus ideais de integração social de pessoas com algum tipo de deficiência e práticas pedagógicas que levem em consideração as pessoas com deficiência, o presente trabalho mostrou que é necessário alertar sobre os riscos que o capacitismo apresenta enquanto um sistema de opressão que reforça estigmas e estereótipos. Pudemos observar que existem diferentes concepções sobre deficiência, e que existe ainda uma visão marginalizada de uma pessoa com deficiência, nos levando a compreender que o capacitismo é um preconceito social. Percebemos ainda, que os discursos e falas ainda se fazem distantes das práticas pedagógicas, pois, ao mesmo tempo, as professoras que participaram desta pesquisa reconhecem os direitos do aluno portador de deficiência, assim como, as necessidades de adaptar as metodologias de modo que o acesso à educação ocorra de modo democrático, mas isso não se reflete totalmente em suas práticas. Outro fator importante é a falta ambientes totalmente acessíveis, de atividades que atendam às múltiplas deficiências, a falta de empatia por parte de muitos educadores que justificam a sua prática capacitista pelo negligencialismo dos governantes em não oferecer cursos de capacitações aos docentes. Podemos perceber que o capacitismo é apresentado como uma discriminação para uma pessoa com deficiência, por isso, as práticas capacitistas devem ser repensadas, principalmente quando essas práticas se encontram no ambiente escolar. Concluímos, portanto, que lutar em favor de uma educação inclusiva, é estar alinhado com o respeito à cidadania e aos direitos das pessoas com deficiência. Que precisamos acabar com o estigma de que ter uma deficiência é sinônimo de incapacidade e que deficiência é uma condição específica, para além da lesão do corpo. Percebemos ainda que esta luta consiste muito mais no enfrentamento das 24 barreiras socioculturais e historicamente construídas, do que na eliminação das barreiras arquitetônicas. Além disso, os questionários também reforçaram a necessidade da execução de direitos previstos em lei: a formação continuada, enquanto direito social, não esteve tão presente quanto gostaríamos nas respostas das professoras que responderam a pesquisa, demonstrando, com isso, uma possível falha do sistema educacional, uma vez que, momentos de formação, poderiam ser utilizadas para a explanação teórica sobre o capacitismo. Desta forma, podemos dizer que a maioria das escolas ainda estão longe de oferecer um ensino que atenda às especificidades dos alunos com deficiência, porém nós, enquanto sociedade, precisamos agir constantemente para a garantia desse direito social. Consideramos que na escola inclusiva deve-se ter uma equipe especializada e preparada, e somente professores e gestores capacitados. É importante que toda equipe domine ou tenha conhecimento sobre a prática do capacitismo. Faz-se necessários espaços adaptados e preparados à disposição de todos os alunos da escola, que também se integram ao corpo docente, que dividam dos mesmos procedimentos didáticos que se fazem necessários. Dessa forma, a escola só tem a ganhar, sendo vista como uma escola de maior qualidade e inclusão. Para além disso, o capacitismo e seus pressupostos vão em uma onda contrária a tudo que é perpassado e relacionado à uma educação realmente inclusiva, a começar pelo desconhecimento sobre o que significa “capacitismo”, também por parte de número significativo dos profissionais da educação. É imprescindível que os discursos anticapacitistas ultrapassem os muros das escolas, tendo em vista que o capacitismo na maioria das vezes se origina no âmbito familiar, ganhando força na educação escolar. Por isso a necessidade de incorporar, dentro do corpo acadêmico, uma educação anticapacitista, para que esta chegue, através dos alunos, até as famílias. Por fim, acreditamos, que é necessário que a escola tenha medidas e práticas realmente inclusivas; que se baseie em políticas públicas que barrem o capacitismo na sala de aula, para que possamos ter futuramente uma educação anticapacitista. Só assim teremos uma educação desvinculada dos ideais excludentes que ainda persistem emnosso sistema. 25 4 REFERÊNCIAS ALONSO, Daniela. Os desafios da Educação inclusiva: foco nas redes de apoio. Infoescola. Nova Escola. Publicado em 01 fev./2013. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/554/os-desafios-da-educacao-inclusiva-foco-nas- redes-de-apoio. Acesso em: ago./2021 ALVES, Camila Araújo. Deficiência Visual e Capacitismo. 1 vídeo (1h 46min 22s). Publicado pelo canal Pesquisar COM em 16 out./2019. Disponível em: https://youtu.be/9xCsekzo39U. Acesso em: 08 jul./2021. ÁVILA, Eliana S. Capacitismo como queerfobia. In: FUNCK, S. B.; MINELLA, L. S.; ASSIS, G. O. (Orgs.). Linguagens e narrativas: desafios feministas, v. 1.Tubarão: Ed. Copiart. 2014. BRASIL. Lei n.13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação – PNE e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF., 26 jun 2014. Disponível em: Agosto 2021 BRASIL. Presidência da República. 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