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Desenvolvimento Humano I Aula 2: O estudo do desenvolvimento humano - conceitos e perspectivas teóricas Apresentação Abordaremos conceitos e perspectivas sobre o desenvolvimento humano que trouxeram referências importantes para nossas práticas. A investigação cientí�ca desses estudos é relativamente nova, datando do início do século XIX. Vamos falar de Paul Baltes, psicólogo alemão que considerou que, entre mudanças e estabilidades cognitivas e psicossociais, o desenvolvimento do indivíduo ocorre durante toda a vida. Objetivos Esclarecer os conceitos e as perspectivas do desenvolvimento humano; Reconhecer as contribuições de Paul Baltes para o desenvolvimento humano. Desenvolvimento Humano Quando falamos em desenvolvimento humano, podemos considerar que cada um de nós tem direito a oportunidades e possibilidades para se desenvolver e viver a vida com qualidade. Porém, é preciso que estudos sejam realizados continuamente com o objetivo de avaliar as mudanças ocorridas ao longo dos tempos e que podem impactar em nosso desenvolvimento. Muito se fala em qualidade de vida, na necessidade de compreender quais os fatores que interferem na forma como as pessoas vivem, se conseguem harmonizar suas demandas físicas, sociais, emocionais, econômicas e espirituais. Para isso, é preciso uma articulação entre os diversos saberes, na qual há a necessidade da delimitação da atuação de cada um, sem que com isso se perca o olhar integral sobre o indivíduo. No campo da Psicologia também existem di�culdades nas delimitações, já que envolve diversas áreas, como a psicologia social, cognitiva e educacional por exemplo. O foco está na compreensão da construção da identidade do indivíduo, dos fatores que produzem seu comportamento e o quanto contribuirá para o equilíbrio das dimensões biopsicossociais. Outra forma de medir e avaliar a qualidade de vida das pessoas, em diferentes sociedades, é o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, que analisa a saúde, a educação e a renda da população. Esse índice foi criado em 1990 pela Organização das Nações Unidas, considerando que eles são requisitos básicos para que uma pessoa possa manter uma vida com qualidade. Comentário O interessante quando pesquisamos sobre o assunto é encontrar culturas como a do Butão, país localizado no alto do Himalaia entre a China e a Índia, que tem uma preocupação diferenciada com a qualidade de vida de seus cidadãos. O país tem um ministro o�cial da felicidade, pois acreditam que o FIB – Felicidade Interna Bruta é tão importante quanto o PIB – Produto Interno Bruto. Em 2015 realizaram uma pesquisa cujo resultado apontou que 91% das pessoas se consideravam felizes e 43% eram extremamente ou profundamente felizes. Eles entendem qualidade de vida como o equilíbrio entre a saúde �nanceira e a saúde mental. Buscando respostas para o que pode contribuir para o desenvolvimento, o bem-estar e uma vida satisfatória para as pessoas, pesquisadores desenvolveram estudos sobre o desenvolvimento humano. Seus resultados embasam ações para prevenção e promoção de saúde e, por meio de ferramentas e estratégias, contribuem para o aprendizado de formas de harmonização das dimensões biológicas, cognitivas, afetivas, sociais e espirituais do indivíduo. Precisamos cuidar de todas as fases do nosso desenvolvimento, como também desenvolver recursos para lidar com nosso processo de envelhecimento. Leitura A Dr.ª Ana Claudia Quintana usa em suas palestras a metáfora da viagem ao deserto: ela pede que as pessoas presentes se imaginem com 40 anos. Então ela diz: estou deixando com vocês uma passagem para o deserto do Saara e nós nos veremos daqui a 20 anos. Vocês não terão escolha, irão comigo para o deserto, até lá! Agora imaginem que esses 20 anos se passaram e eu cheguei para buscá-los; alguns de vocês me dirão, ah! Não vou não, e eu direi, tem que ir. Então, entramos no avião e chegamos no deserto, uns sentem sede, outros fome, alguns frio e eu pergunto a vocês: por que não se prepararam? Eu avisei que voltaria em 20 anos e nós viríamos para o deserto. Assim é o envelhecer, sabemos que vai acontecer, é um processo que, se não nos preparamos, ele nos pega de surpresa. Conceitos Vejamos alguns fatores que se relacionam com o desenvolvimento humano: Clique nos botões para ver as informações. Quando falamos em mudanças elas podem ser: Quantitativas - relacionada às mudanças percebidas em números e quantidades, por exemplo: perda e ganho de peso, crescimento do bebê, aumento ou diminuição das interações sociais, aumento do vocabulário; Qualitativas - diz respeito ao tipo, à estrutura e à organização, exemplo: a criança que não é verbal e passa a ser verbal; que falava palavras soltas e agora constrói frases; a conquista de uma nova habilidade. A estabilidade indica que algumas características se manterão ao longo do desenvolvimento, apesar dos processos de mudança. Mudança e Estabilidade O indivíduo, no estudo do desenvolvimento humano, é compreendido a partir de três dimensões que, apesar de serem estudadas separadamente, estão interligadas e se afetam durante todo o desenvolvimento humano: Física - está relacionada ao desenvolvimento do corpo, do cérebro; Cognitiva - trata das funções mentais, como atenção, percepção, aprendizagem, memória, linguagem; Psicossocial - está associada às questões psicológicas, emocionais e sociais do indivíduo. Durante nosso desenvolvimento temos mudança e estabilidade nesses domínios. Dimensões: física – cognitiva – psicossocial De acordo com cada cultura, são seus códigos e percepções compartilhadas que de�nem como o ciclo de vida será dividido. Por exemplo, a ideia de adolescente surge por volta do século XX, quando por questões econômicas se torna necessário criar um tempo entre a criança e o adulto. Nas culturas ocidentais, temos ciclos que se dividem em oito fases, onde são estudadas a mudança e estabilidade das dimensões física, cognitiva e psicossocial dos períodos divididos em: Período pré-natal (concepção ao nascimento); Primeira infância (nascimento aos 3 anos); Segunda infância (3 a 6 anos); Terceira infância (6 a 11 anos); Adolescência (11 aos 20 mais ou menos); Início da vida adulta (20 aos 40 anos); Vida adulta intermediária (40 a 65 anos) Vida adulta tardia (65 em diante). Pensando na mudança e estabilidade, nas dimensões e no ciclo da vida, vamos a um exemplo: A adolescência - um momento do ciclo vital de mudanças nas dimensões física, cognitiva e psicossocial. Na dimensão física seu corpo em transformação; na dimensão cognitiva, aumento de informação a nível escolar; psicossocial o luto da perda do corpo infantil, as exigências sociais com relação a postura, “você não é mais criança”, “você ainda não é adulto”, “a�nal, qual é o meu lugar?”. Ciclo de vida In�uências no desenvolvimento Dando continuidade aos impactos que o nosso desenvolvimento pode sofrer, falaremos das in�uências: Hereditárias e ambientais Dizem respeito a nossa herança genética, como nossas características herdadas de nossos pais, e às ambientais que estão relacionadas à vida intrauterina e ao ambiente que a criança se insere após ao nascimento. Durante muito tempo a discussão era qual delas era mais determinante no desenvolvimento, a hereditária ou a ambiental. Atualmente, aponta-se para uma direção mais interacionista; Familiares Lugar de grande importância no desenvolvimento humano, já que é nesse contexto que o indivíduo recebe seus primeiros cuidados, inicia suas relações, estabelece seus primeiros vínculos e começa a construção da sua identidade; Socioeconômicas, culturais e do contexto histórico O contexto socioeconômico, cultural e histórico do qual esse indivíduo faz parte também terá importância nessa construção, pois o afeta e será afetado por ele; Normativas Dividem-se em, as esperadas de acordo com a idade, ou seja, em um determinado momento do ciclo vital elas devem acontecer, como porexemplo, na dimensão física a primeira menarca, e na dimensão social o signi�cado para as meninas dos 15 anos e para os meninos dos 18. E as históricas, na qual um grupo de pessoas viverá situações signi�cativas que afetarão seus comportamentos a partir de um fato, por exemplo, o con�ito na Venezuela, as mortes, a doença, a escassez de alimentos, toda essa falta afetará o comportamento dessa população nesse momento da história do país; Não normativas São aquelas que impactam fortemente de maneira individual e não são comuns ou esperadas que aconteçam como uma gravidez na adolescência, a morte de um �lho, quando se é esperado que os pais morram antes ou um abuso sexual na infância, por exemplo. O assunto sobre desenvolvimento humano não se esgota, os estudos são contínuos, pois estamos sempre em um processo de transformação tanto de forma individual como coletiva. Com novos resultados os pro�ssionais terão a possibilidade de planejar suas ações com base em dados atualizados de acordo com as novas demandas e expectativas dessa tão diversi�cada população. Os princípios de Paul Baltes Paul Baltes, psicólogo alemão nascido em 1939, desenvolveu durante sua trajetória pro�ssional estudos relacionados à psicologia do desenvolvimento e à psicologia do envelhecimento. Junto com outros pesquisadores do desenvolvimento humano, estruturou 7 princípios norteadores na abordagem do desenvolvimento humano do ciclo da vida: Clique nos botões para ver as informações. Estamos em constante desenvolvimento. Mantemos nossa capacidade para mudança, adaptação às situações escolhidas ou impostas pelo contexto em qualquer fase do ciclo da vida, onde cada período é importante e é afetado pelo anterior. Enquanto há vida, existe a possibilidade de mudança e de aprendizado, seja emocional ou intelectual. Os pro�ssionais que trabalham com cuidados paliativos conhecem bem essa realidade; O desenvolvimento é vitalício Ele acontece em diferentes dimensões (biológica, psicológica e social) que interagem, mas podendo, cada uma delas, acontecer em ritmos diferentes, dependendo da maturação para aquela aquisição; O desenvolvimento é multidimensional Pode acontecer em mais de uma direção, através de perdas e ganhos, por exemplo: os adolescentes ganham direitos em uma área, mas terão responsabilidades em outra; O desenvolvimento é multidirecional Baltes observou, no processo de envelhecimento, que as questões culturais, as relações e os ambientes amigáveis poderiam compensar as perdas biológicas que a idade impõe, como força, coordenação muscular, acuidade sensorial; A in�uência relativa a mudanças biológicas e culturais sobre o ciclo da vida Para o nosso desenvolvimento, utilizamos alguns recursos como: tempo, energia, talento, dinheiro e apoio social. Eles são usados para o nosso crescimento, para a manutenção ou recuperação e para lidar com as perdas. A maneira como o indivíduo aloca seus recursos depende do momento em que se encontra no ciclo da vida. Por exemplo, na infância os recursos são destinados para o crescimento. Na meia idade, o foco está na manutenção ou recuperação do que foi adquirido. Na velhice os recursos podem ser utilizados para lidar com as perdas; O desenvolvimento envolve mudança na alocação de recursos Nas pesquisas, Baltes identi�cou a plasticidade e que muitas capacidades como a memória, a força física e a resistência por exemplo podem ser desenvolvidas por meio de exercícios e prática, mesmo em uma idade em que é esperada perda em tais capacidades. Mas também é de conhecimento que a plasticidade tem limites até mesmo em crianças. O desa�o é descobrir até que ponto somos capazes de desenvolver novas capacidades e de manter as que temos, independentemente do momento em que nos encontramos no ciclo vital; O desenvolvimento revela plasticidade Compartilhamos espaços e experiências através de vivências em comum, ou experiências transmitidas por um conjunto de atitudes valores, crenças e comportamentos de um grupo. Portanto, temos uma grande responsabilidade ao desempenhar nosso papel como pro�ssional, ao buscar compreender o indivíduo através do seu ciclo vital, de suas dimensões, seus contextos e in�uências, considerando que o desenvolvimento é um processo que só �nda com a morte. O desenvolvimento é in�uenciado pelo contexto histórico e cultural Atividade 1. Descreva as dimensões que são estudadas pelos pesquisadores do desenvolvimento humano. 2. De acordo com seus estudos, diferencie as in�uências normativas das não normativas. 3. Qual a sua compreensão do conceito proposto por Paul Baltes sobre desenvolvimento vitalício? Notas Título modal 1 Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográ�ca e de impressos. Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográ�ca e de impressos. Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográ�ca e de impressos. Título modal 1 Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográ�ca e de impressos. Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográ�ca e de impressos. Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográ�ca e de impressos. Referências NERI, A. L. O legado de Paul B. Baltes à Psicologia do Desenvolvimento e do Envelhecimento. In: Temas psicol., v. 14, n. 1, p. 17- 34, Ribeirão Preto, jun. 2006. Disponível em: //pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 389X2006000100005&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 25 nov. 2019. PAPALIA, D. E; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano. Tradução Carla Filomena M. P. Vercesi. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. Próxima aula O olhar psicanalítico para o desenvolvimento humano Explore mais Leia o texto abaixo: Educação e envelhecimento: contribuições da perspectiva Life-Span javascript:void(0); javascript:void(0);