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ANÁLISE COMBINATÓRIA BELO HORIZONTE / MG ANÁLISE COMBINATÓRIA 2 Sumário 1 A TRAJETÓRIA DA CONTAGEM: DOS POVOS ANTIGOS ÀS ESCOLAS MODERNAS ............................................................................................................... 3 1.1 Um breve histórico do nascimento da Análise Combinatória ............................ 3 1.2 O ensino da Análise Combinatória no ensino Médio. ............................................ 9 2 O ENSINO E A APRENDIZAGEM DE ANÁLISE COMBINATÓRIA ................... 13 2.1 Tipos de problemas ......................................................................................... 13 2.2 Estratégias de Resolução ................................................................................ 16 2.3 O Raciocínio Combinatório e a Resolução de problemas ............................... 19 2.4 Os principais obstáculos .................................................................................. 20 2.5 Alternativas para o ensino da Análise Combinatória ....................................... 22 3 COMBINAÇÕES E PERMUTAÇÕES: DA PRÁTICA AOS CONCEITOS ........... 24 3.1 Permutações ................................................................................................... 24 4 PRINCÍPIO DE INCLUSÃO-EXCLUSÃO ............................................................ 29 5 BINÔMIO DE NEWTON ..................................................................................... 41 5.1 Fórmula do Binômio de Newton ...................................................................... 42 5.2 Termo Geral do Binômio de Newton ............................................................... 43 5.3 Binômio de Newton e Triângulo de Pascal ...................................................... 44 6 NOÇÕES DE PROBABILIDADE: ESPAÇO AMOSTRAL E EVENTO ................ 45 6.1 Espaço Amostral (S) ........................................................................................ 46 7 PROBABILIDADE CONDICIONAL ..................................................................... 47 8 FÓRMULA DA PROBABILIDADE CONDICIONAL ............................................. 48 9 DISTRIBUIÇÃO BINOMIAL ................................................................................ 50 10 VARIÁVEIS ALEATÓRIAS .............................................................................. 52 11 ESPERANÇA, VARIÂNCIA E MOMENTOS .................................................... 58 12 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ................................................................................. 64 ANÁLISE COMBINATÓRIA 3 1 A TRAJETÓRIA DA CONTAGEM: DOS POVOS ANTIGOS ÀS ESCOLAS MODERNAS1 Um breve tratamento histórico é feito, discutindo o caminho da Análise Combinatória no decorrer do tempo, assim como as motivações do seu estudo e sua contribuição para o desenvolvimento humano. No presente, fatos interessantes que ocorreram na história da matemática são levantados, e grandes personalidades que contribuíram para o desenvolvimento desta disciplina são mencionadas. Ainda assim, é apresentado como essa importante área da matemática vem sendo trabalhado nas escolas no ensino médio, com foco nas escolas públicas. Fonte: www.uel.br 1.1 Um breve histórico do nascimento da Análise Combinatória É difícil saber ao certo qual foi o primeiro problema que levou ao surgimento da Análise Combinatória. De acordo com Morgado et al. (2006, p. 02), o desenvolvimento do binômio (1+x) n está entre os primeiros problemas estudados ligados ao tema. O caso n = 2 pode ser encontrado nos Elementos de Euclides, em torno de 300 a.C. Os demais casos estão intimamente ligados ao triângulo de Pascal, que por sua vez, já era conhecido por Shih-Chieh, na China, (em torno de 1300) e antes disso pelos hindus e árabes. Sabe-se que o matemático hindu Báskhara (1114 − 1185?), àquele da 1 Texto extraído: http://uenf.br/posgraduacao/matematica/wp- content/uploads/sites/14/2017/09/16092015Carlos-Alberto-Lopes-dos-Santos-de-Oliveira.pdf ANÁLISE COMBINATÓRIA 4 conhecida "fórmula de Baskhara", sabia calcular o número de permutações, de combinações e de arranjos de n objetos. No entanto, segundo Wieleitner (1928, p. 183-184), o problema mais antigo relacionado à teoria dos números e a Análise Combinatória, é o da formação dos quadrados mágicos. Conhecemos como quadrados mágicos (de ordem n) um grupo ordenado de números 1, 2, 3, ..., n2 dispostos em um quadrado n x n de forma que cada linha, coluna ou diagonal deste quadrado possua a mesma soma. Tais quadrados aparecem na história com diversos significados e certamente os apresentamos aos nossos alunos algum dia (Pelo menos o caso n = 3 que é o mais conhecido). A Figura 1 mostra tal quadrado: O primeiro quadrado mágico conhecido é o Lo Shu e é usado como talismã pelo povo Chinês. Segundo Needham (1959, p. 58) data de aproximadamente do século I d.C., mas que pode ser tão antigo a ponto de ter sido escrito por volta de 2000 a.C. (BERGE, 1971, p. 1-11). Aliás é dessa época, na História da China, uma lenda que diz que uma nobre tartaruga apareceu no lendário rio Lo carregando nas suas costas nove números ordenados em uma grelha. Os nove números estão posicionados de tal maneira que, quando somados na horizontal, na vertical ou na diagonal, o resultado é sempre 15, que é o número de dias que a Lua Nova leva a tornar-se Lua Cheia. Os chineses sempre acreditaram que o universo é baseado em princípios matemáticos e números. Eles são a chave para as forças invisíveis que governam o céu e a terra. A representação do Lo Shu pode ser vista na figura 2 abaixo: ANÁLISE COMBINATÓRIA 5 Fonte: (VAZQUEZ, 2011) O diagrama de Lo Shu está associado às nove salas do palácio mítico de Ming Thang. Segundo Vazquez (2011), este quadrado foi uma inovação da época, pois, nela a produção de qualquer aritmética simples era motivo de euforia. Acredita-se que a ideia dos quadrados mágicos chegou até os árabes pelos chineses, e que estes fizeram grandes contribuições e construíram quadrados mágicos de ordem 3, 4, 5 e 6. Além de criar os quadrados de ordem superior ao Lo Shu, os árabes criaram regras para a construção de quadrados de uma determinada ordem. Regras para a construção de quadrados das demais ordens também foram apresentados durante a história. Os quadrados mágicos não foram admirados apenas pelas suas atribuições místicas e misteriosas. Muitos foram os matemáticos que se admiraram com as combinações numéricas e se empenharam na busca de procedimentos que levassem a construção destes maravilhosos objetos. Um grande avanço aconteceu no desenvolvimento dos quadrados mágicos nos séculos X e XI, chegando a ter métodos de construção por volta do século XII. Nesse período, os estudiosos usavam técnicas que, entre outras, partiam de um quadrado mágico original para posteriormente criar outros de mesma ordem. Contudo, mais tarde chegaram a métodos para criar quadrados mágicos sem a necessidade do original. (VAZQUEZ; NOGUTI, 2004). ANÁLISE COMBINATÓRIA 6 Fonte: galleryhip.com Mas o que tem os quadrados mágicos com a Combinatória? Não é difícil perceber que estes trazem exemplos bem antigos de um importante ramo da Análise Combinatória que é fixar condições para contagem dos arranjos (modos em que se pode colocar os números). Outra ocorrência da aplicação da Combinatória na China antiga pode ser observada no sistema “I Ching” (Yi Jing) (1182−1135 a.C.), um dos trabalhos mais antigos dos chineses. Este pode ser compreendido e estudado tanto como um oráculo quanto como um livro de sabedoria. Na própria China, é alvo do estudo diferenciado realizado por religiosos, eruditos e praticantes da filosofia de vida taoísta. Este sistema baseia-se em 2 símbolos: • Yang (linhas inteiras) • Yin (linhaspartidas) Estes são combinados em Trigramas (conjunto de três símbolos), ou Hexagramas (conjunto de seis símbolos). (Figura 4 e 5) ANÁLISE COMBINATÓRIA 7 Fonte: www.uenf.br A cada um destes símbolos é atribuído um significado. Os chineses sabiam que existiam 8 trigramas e 64 hexagramas diferentes. Junto a esses, outros problemas antigos carregavam de forma implícita o raciocínio da contagem. Vejamos: • O velho problema do lobo, da cabra e do repolho (cerca de 775 d.C.) que é atribuído a Alcuíno de York1 e hoje é estudado na teoria dos Grafos. Tal problema diz: "Um certo homem tinha que transportar para o outro lado de um rio, um lobo, uma cabra e um repolho. O único barco que encontrou podia carregar somente duas coisas de cada vez. Por esta razão ele procurou por um plano que pudesse levar todos para o outro lado totalmente ilesos. Diga a ele, quem é o competente, como pode ser possível transportá-los seguramente" (VAZQUEZ; NOGUTI, 2004) apud (EVES, 1997) • A poesia infantil abaixo de tempos remotos, com autor desconhecido, carrega traços de um problema de combinatória: "Quando eu estava indo para St. Ives, eu encontrei um homem com sete mulheres, cada mulher tem sete sacos, cada saco tem sete gatos, cada gato tem sete caixas, Caixas, gatos, sacos e mulheres, quantos estavam indo para St. Ives?" (BIGGS, 1979) • O problema 79 do Papiro Egípcio de Rhind (cerca de 1650 a.C) é semelhante ao proposto com o poema anterior: Há sete casas, cada uma com sete gatos, cada gato mata sete ratos, cada rato teria comido sete safras de trigo, cada qual teria produzido sete hekat2 de grãos; quantos itens têm ao todo?"(VAZQUEZ, 2011) • Mesmo Arquimedes de Siracusa (287 a.C. – 212 a.C.), um dos maiores matemáticos de toda a antiguidade, publicou entre todos os trabalhos uma ANÁLISE COMBINATÓRIA 8 espécie de "quebra-cabeça “que intrigou matemáticos e historiadores. Conhecido como Stomachion (pronuncia-se: sto-mock-yon), aparentemente um jogo, semelhante ao conhecido Tangran, é um arranjo de quatorze peças que formam um quadrado (Figura 6). O objetivo consistia em mover tais peças formando o quadrado. De certo, Arquimedes deveria saber que de várias formas isso poderia ser feito. Fonte: mathwolfram.com A Análise Combinatória se enraizou realmente na matemática por volta do século XV II. Novamente, de acordo com Wieleitner (1928, p. 184), o estudo da teoria da Combinatória só apareceu separado da teoria dos números, no final desse século juntamente com o cálculo de probabilidades. Nessa época, surgiu em um curto espaço de tempo, três publicações: Traité du triangle arithmétique (escrito em 1654 e publicado em 1665) de Pascal, Dissertatio de arte combinatória (1666) de Leibniz e Ars magna sciendi sive combinatoria (1669) de Athanasius Kircher. Além disso, veio a ser divulgado trabalhos de Wallis (1673), Frénicle de Bessy (1693), J. Bernoulli (1713) e De Moivre em seu Doctrine of chances (Londres,1718) que tinham um caráter análogo. Os resultados mais importantes proporcionados pela teoria combinatória foram fórmulas para a transformação de séries e as fórmulas de Lagrange para as funções estudadas por Rothe em 1795 e por Juan Federico Ptaff em 1797. (WIELEITNER, 1928, p. 188) Segundo Vazquez (2011), em 1666, Leibniz descreveu a Combinatória como sendo “o estudo da colocação, ordenação e escolha de objetos”, enquanto Nicholson, em 1818, definiu-a como “o ramo da matemática que nos ensina a averiguar e expor todas as possíveis formas através das quais um dado número de objetos pode ser associado e misturado entre si”. Segundo Morgado et al. (2006), podemos dizer que a ANÁLISE COMBINATÓRIA 9 Análise Combinatória é a parte da Matemática que analisa estruturas e relações discretas. Até os dias atuais, a Análise Combinatória tem ganhado muita importância. Tal fato deve-se ao advento da Matemática Discreta na segunda metade do século XX. Alguns autores defendem que a Matemática Discreta seja a Matemática para o nosso tempo e seu crescimento deve-se principalmente às muitas aplicações de seus princípios em negócios e para seus vínculos próximo à ciência da computação, tais como: algoritmos de computador, linguagens de programação, criptografia e desenvolvimento de softwares. Fonte:www.mundoeducacao.bol.uol.com.br 1.2 O ensino da Análise Combinatória no ensino Médio. Diante do cenário atual, entre as competências e habilidades que são exigidas de nossos alunos, envolvido nos seus processos de formação, figura o ensino da Análise Combinatória. O conteúdo aparece nos currículos geralmente no 2º ou 3º o ano do ensino médio e tem como objetivo o desenvolvimento do raciocínio combinatório e recursivo necessário para o exercício da cidadania dentro do mundo em que vivem. Batanero, Godino e Navarro-Pelayo (1997) apud (KAPUR, 1970) descrevem as principais razões a favor ao ensino da Combinatória no ensino básico: • Uma vez que não depende do Cálculo, permite considerar problemas adequados para diferentes níveis, podendo ser discutidos com alunos problemas ainda não resolvidos, de modo que descubram a necessidade de criar novas matemáticas. ANÁLISE COMBINATÓRIA 10 • Pode ser usado para treinar os alunos na enumeração, a realização de conjecturas, a generalização, otimização e sistemas de pensamento. • Pode ajudar a desenvolver diversos conceitos, tais como a aplicação, a ordem e as relações de equivalência, função, programa, conjunto, subconjunto, produto cartesiano, . . . Pode haver muitas aplicações em diferentes campos, tais como Química, Biologia, Física, Comunicação, Probabilidade, Teoria dos números, gráficos. Além de suas várias aplicações, a Análise Combinatória, desenvolve no aluno um espírito crítico e responsável, possibilitando-o a adquirir condições para progredir com segurança no trabalho ou em estudos superiores. Por isso, o estudo da Combinatória merece atenção especial no ensino médio. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que auxiliam as equipes escolares na execução de seus trabalhos, é justificado um aprofundamento da Análise Combinatória nos seguintes trechos: "Estatística e Probabilidade lidam com dados e informações em conjuntos finitos e utilizam procedimentos que permitem controlar com certa segurança a incerteza e mobilidade desses dados. Por isso, a Contagem ou análise combinatória é apenas parte instrumental desse tema. A Contagem, ao mesmo tempo que possibilita uma abordagem mais completa da probabilidade por si só, permite também o desenvolvimento de uma nova forma de pensar em Matemática denominada raciocínio combinatório. Ou seja, decidir sobre a forma mais adequada de organizar números ou informações para poder contar os casos possíveis não deve ser aprendido como uma lista de fórmulas, mas como um processo que exige a construção de um modelo simplificado e explicativo da situação "(BRASIL, 2000, p. 126) "As habilidades de descrever e analisar um grande número de dados, realizar inferências e fazer predições com base numa amostra de população, aplicar as ideias de probabilidade e combinatória a fenômenos naturais e do cotidiano são aplicações da Matemática em questões do mundo real que tiveram um crescimento muito grande e se tornaram bastante complexas. Técnicas e raciocínios estatísticos e probabilísticos são, sem dúvida, instrumentos tanto das Ciências da Natureza quanto das Ciências Humanas. Isto mostra como será importante uma cuidadosa abordagem dos conteúdos de contagem, estatística e probabilidade no Ensino Médio, ampliando a interface entre o aprendizado da Matemática e das demais ciências e áreas."(BRASIL, 2000, p. 44-45) Percebe-se no segundo trecho do documento apresentado, uma reafirmação do que foi exposto no referencial históricosobre a dimensão que hoje admite as ideias de Probabilidade e Combinatória. Ainda, expõe-se imprescindível a compreensão dessas ciências para a interdisciplinaridade entre as faces do conhecimento. No final, atenta- se para o cuidado de abordar tais conceitos para o desenvolvimento do aluno. ANÁLISE COMBINATÓRIA 11 Para o ensino fundamental, em outro documento, também é possível ver a preocupação com o Ensino da Combinatória ainda nos anos iniciais incorporado ao item Tratamento de Informação: "Relativamente à combinatória, o objetivo é levar o aluno a lidar com situações-problema que envolvam combinações, arranjos, permutações e, especialmente, o princípio multiplicativo da contagem."(BRASIL, 1997, p. 40) Se de um lado os parâmetros apresentados dizem o que deve ser feito, por outro, o como ser feito geralmente figura um obstáculo para professores. No estudo dessas competências, alunos do Ensino Médio e também do Superior apresentam muitas dificuldades; tomam a Análise Combinatória um dos temas mais difíceis da Matemática, e mesmo professores evitam a todo custo lecionar o conteúdo. Se o fazem, muitos agem com insegurança e não conseguem com o aluno, uma aprendizagem significativa do assunto. Em uma matéria da revista Cálculo (setembro de 2013) sobre os tópicos de Matemática que não gostam de ensinar, professores experientes montaram uma espécie de ranking onde a Análise Combinatória ficava com a medalha de prata, abaixo do binômio de Newton e acima dos polinômios. ". . .. Assim como o estudante não gosta de algumas disciplinas, ou de alguns assuntos de certa disciplina, muitos professores não gostam de ensinar certos tópicos. . .. Ao perguntar para três professores experientes quais tópicos não gostam de ensinar, surge uma lista com o binômio de Newton bem no topo, juntinho da análise combinatória."(VIANA, 2013) Ainda, um dos professores ressalta: ". . . (Eu) não gostava de ensinar análise combinatória, probabilidade e binômio de newton, porque, no ensino médio, os alunos têm dificuldade em acompanhar o conteúdo que vão acabar vendo de novo na faculdade, nas aulas de estatística." Ao que parece, a aversão em ensinar algum conteúdo, com foco na combinatória, constitui-se em proporção considerável com o despreparo e desconhecimento do professor. Seja esse na forma de transmitir o que sabe ou mesmo na falta de pré-requisitos para lecionar a disciplina. Nesse sentido, é de se levar em conta que em um curso de licenciatura de matemática, em geral, a Análise Combinatória e a Probabilidade têm um tímido espaço no currículo. Disciplinas que abordam tais tópicos costumam figurar entre uma ou duas que compõe a grade obrigatória em um curso de licenciatura e ainda nessa consistência, não se tem uma abordagem em como o raciocínio discreto deve ser ANÁLISE COMBINATÓRIA 12 desenvolvido na prática com os alunos. Com isso, professores recorrem a livros de outros autores, cursos de aperfeiçoamento e oficinas específicas na área. Resultante ou não desse contexto, a metodologia que costuma ser utilizada na maioria das aulas e livros didáticos, acaba resumindo-se na aplicação de fórmulas, tentando "encaixar” os problemas, de modo que os alunos acabam por decorando alguns formatos e, na maioria dos casos, não conseguem entender o uso de tais e nem mesmo o porquê de as estarem utilizando. De acordo com Schliemann, Carraher e Carraher (2010), ao realizar observações não sistemáticas de aulas sobre análise combinatória, verifica-se que o ensino escolar se limita quase sempre ao treinamento no uso de fórmulas e algoritmos para encontrar o número de arranjo, combinações ou permutações sem proporcionar que os alunos derivem as referidas fórmulas pelo uso da manipulação dos elementos. Ainda mais, além dessa importância exagerada ao uso dessas fórmulas, os alunos pouco são apresentados a situações reais que motivem o estudo do assunto. Situações de aplicação na vida real, como exemplo, geração de placas de automóveis, números de telefones (celular e fixo), CPF, número de contas, etc. são algumas ideias que poderiam contextualizar problemas de combinatória. A importância da Combinatória, com aplicações crescentes, implica que seja repensado o seu lugar na escola. Com o quadro apresentado, justifica-se pensar em como amenizá-lo e contribuir para que a formação dos alunos se aproxime do que se espera com os Parâmetros Curriculares. Assim, a seguinte pesquisa sugere trabalhar a combinatória dando ênfase à resolução de problemas, assim como foi motivado a sua origem, com foco no raciocínio recursivo e espera-se que assim tais problemas sejam, no mínimo, atenuados. ANÁLISE COMBINATÓRIA 13 Fonte:www.todamateria.com.br 2 O ENSINO E A APRENDIZAGEM DE ANÁLISE COMBINATÓRIA Objetiva-se neste capítulo, entender um pouco como funciona o ensino e a aprendizagem da Análise Combinatória. Neste, são abordados os tipos comuns de problemas, procedimentos básicos de resolução, principais dificuldades encontradas por alunos e alternativas para favorecer um melhor ensino de combinatória. 2.1 Tipos de problemas Segundo Batanero, Godino e Navarro-Pelayo (1997), problemas combinatórios simples podem ser divididos, sistematicamente, em três tipos: • De partição, • De colocação, • De seleção. Os problemas de partição envolvem dividir grupos em subgrupos, dentro das condições especificadas, verificando também a existência destes. Em Oliveira e Fernández (2010, p. 172), bom livro com diversos exercícios, encontramos: Exemplo: Em Maceió entraram em cartaz 4 filmes distintos e 2 peças de teatro. Se agora o Pedro Vítor tem dinheiro para assistir exatamente a um filme e uma peça de teatro, diga quantos são os possíveis programas que Pedro Vítor pode fazer. ANÁLISE COMBINATÓRIA 14 A divisão dos grupos pode ser pensada da seguinte maneira: Do grupo dado, contendo 4 filmes e 2 peças de teatro, formaremos dois subgrupos. Um deles e composto de 1 filme e 1 peça de teatro, que ele possivelmente pode assistir, e outro grupo contendo 3 filmes e 1 peça de teatro que ele não assistir. Denotando por f1, f2, f3 e f4 os quatro filmes que estão em cartaz e por t1 e t2 as peças de teatro, um aluno iniciante no curso de combinatória poderia listar as seguintes possibilidades (Tabela 1): Observe que ao escolher o grupo que contém o filme e a peça que ele assiste, automaticamente é determinado o subgrupo contendo as opções que ele não assiste. Os problemas de colocação trazem situações nas quais n elementos, diferentes ou não, devem ocupar m lugares. Para este tipo, devemos considerar as peculiaridades de cada problema que influenciarão no resultado final, como, por exemplo, se os elementos são iguais ou não, se os lugares possuem ordenação, se existe ordem para que os elementos sejam colocados ou mesmo se algum lugar fica vazio. Vejamos este outro problema na página seguinte do mesmo livro: Exemplo: De quantas maneiras 2 pessoas podem estacionar seus carros numa garagem de 10 vagas? Temos 2 elementos (carros) para 10 vagas (lugares). A primeira pessoa a entrar no estacionamento encontra 10 vagas vazias e estaciona em alguma delas (digamos na mais próxima da entrada), a segunda pessoa entra e se vê diante de 9 vagas. Para em alguma delas. Com o mesmo procedimento anterior, se o aluno pudesse chamar as vagas de v1, v2, v3, . . ., v10 e listasse todas as possibilidades, veria que independentemente da vaga que o primeiro carro estaciona, o segundo teria 9 opções de escolha. Com um pouco mais de atenção, veria que é diferente ter o primeiro carro próximo da entrada e o segundo na vaga do fundão e o contrário (primeiro carro na ANÁLISE COMBINATÓRIA 15 vaga do fundão e o segundo próximo à entrada). Para a ilustração dos casos, pode-se imaginar o par ordenado (vi, vj) com {i,j} {1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10}, de modo que a primeira coordenada representasse a vaga escolhida pelo primeiro carro e a segunda vaga pelo segundo. Assim, a tabela 2 mostra os possíveis casos: Concluiria, assim, que há 90 maneiras de se realizar a situação descrita. Por último, temos os problemas de seleção. Geralmente, no Ensino Médio, são os que mais se abordam. Os problemas de seleção estão relacionados à ideia de amostras que podem configurar agrupamentos ordenados ou não, com repetição ou não de elementos. Exemplo: Quer se eleger uma comissão formada por três membros: presidente, vice-presidente e secretário entre 8 pessoas que compõe o conselho pedagógico de uma escola. Quantos são os possíveis comitês que podem ser formados? Listar todos os possíveis casos neste problema pode ser uma alternativa, mas acontece que ao começar a desenvolver tal esquema, os alunos geralmente percebem o padrão que se apresenta. Ao dizer que Sílvio é o presidente, por exemplo, sabe que agora são sete as opções para vice, e escolhido o vice, são seis as opções para secretário. Para cada candidato selecionado como presidente dispomos de sete opções para vice, visto que o mesmo não poderá ocupar dois cargos distintos. Desta forma, temos 56 possibilidades de formação de um agrupamento contendo um presidente e um vice. Seguindo o mesmo raciocínio, para cada um destes agrupamentos, são seis as opções do secretário. Assim, temos 336 maneiras (8 · 7 · 6) diferentes de formar a comissão. É preciso salientar que apesar de mencionar que os problemas podem ser divididos em tipos, não exatamente para cada tipo há uma forma, e somente uma, de resolução. A intenção de dividir os problemas se configura mais em uma estratégia de análise dos problemas, entendendo sua natureza, do que em uma estratégia de ANÁLISE COMBINATÓRIA 16 resolução. Inclusive, há problemas que podem ser encaixados em mais de um tipo dos que foram listados, sem prejuízo na estratégia utilizada na sua resolução. Aos poucos, os próprios alunos, cada um a seu tempo, aprendendo com seus acertos e erros, começam a substituir a construção de tabelas e esquemas, completamente ou parcialmente, por soluções aritméticas. Todavia, esta prática deve partir do aluno. A transição entre essas fases possibilita que ele, em seguida, seja apresentado ao Princípio Multiplicativo de forma natural, compreendendo o sentido que o produto entre as opções representa. Adiante, permite pensar em problemas um pouco mais elaborados, empregando sentido aos métodos que deverá utilizar. 2.2 Estratégias de Resolução Muitos são os procedimentos sugeridos por diversos autores como estratégia na resolução de problemas de Análise Combinatória. Não cabe aqui, portanto, procedimentos infalíveis que resolveriam qualquer problema. Em pesquisa, foram consultados dois textos que servem de base para discorrer sobre tais estratégias. Em sua pesquisa, Fernandes e Correia (2007), identificaram quatro tipos de estratégias utilizadas pelos alunos, em uma amostragem que fizeram, de forma isolada ou concomitantemente, para resolver os problemas de combinatória: • A enumeração, • O diagrama de árvore, • O uso de fórmulas, • “Operação” numérica A enumeração, como o próprio nome sugere, consiste em enumerar as possibilidades e os casos do que o problema refere, tentando contar todas os diferentes agrupamentos ou mesmo perceber um padrão entre os primeiros listados que ajude a resolver o problema. Penso que é o método ao qual o principiante recorre, sem culpa, tentando organizar o pensamento. O diagrama de árvore (ou de possibilidades) é a representação dos agrupamentos possíveis através de um esquema, que em geral, lembra galhos de árvore. É uma forma de enumeração com maior ganho pois os “riscos” que ligam os elementos mostram como estes podem se agrupar. Com melhor organização, a contagem é facilitada e também propicia o pensamento recorrente (recursivo) sem que seja preciso completar todo o diagrama. ANÁLISE COMBINATÓRIA 17 Cabe nessa hora dizer que as duas estratégias são fundamentais e necessárias no desenvolvimento do raciocínio combinatório e que elas devem ser utilizadas por qualquer aluno que se inicia pelo estudo da Combinatória. A enumeração e o diagrama de possibilidades permitem ao aluno “enxergar” o que acontece na formação dos agrupamentos e também perceber algum tipo de regularidade (se for o caso). Porém, sabemos que nem sempre é possível listar todos os casos. Faz se, então, necessário evoluir de um esquema enumerativo à contagem dos casos por um raciocínio combinatório. O uso de fórmulas é um dos objetos de discussão deste trabalho. Muitos alunos, ao tentar resolver um problema de combinatória, recorrem à estas como ferramenta única e almejam, substituindo alguns valores, encontrar à solução. Não há problema nenhum com o uso de fórmulas pelos alunos, isso constitui-se em uma forma organizada e prática de resolução, mas se estes às usam desconhecendo seu significado, aplicando-as vagamente, a aprendizagem é lesada e o que fica é falsa impressão de que os problemas são resolvidos com uma receita que sempre funciona. Tal questão poderia ser estendida em outras várias áreas da Matemática, onde o professor mesmo às vezes sem querer, acaba reproduzindo no aluno só a aplicação de fórmulas. Nestes muitos casos, o aluno nem imagina por que as usa e muito menos por que funciona. Acontece, porém, que é preciso maturidade para enxergar o que esconde uma fórmula ou expressão matemática. O professor poderia argumentar então, que seus alunos não entenderiam tal demonstração ou mesmo não ser importante para o que ele objetiva, mas certamente o aluno que compreende o significado de uma fórmula e consegue compreender por que ela tem êxito, se enche de uma aprendizagem muito mais significativa e percebe na Matemática muito mais do que um jogo de fórmulas complicadas. No âmbito da Combinatória, as tais fórmulas usadas nem seriam tão difíceis de perceber. É possível que consigamos chegar nestas sem esforço algum, partindo da resolução de problemas, e esse é o objetivo central do trabalho. No capítulo seguinte é visto como é possível. Por último, a estratégia “operação” numérica compreende um raciocínio direto que envolve operações aritméticas básicas, envolvendo os dados fornecidos pelo problema. Penso eu que este seria o passo intermediário entre as estratégias iniciais de enumeração e construção do diagrama de árvore e da aplicação de fórmulas. Eu poderia ilustrar com um exemplo: ANÁLISE COMBINATÓRIA 18 Novamente, em Oliveira e Fernández (2010, p. 172) encontramos o problema: Exemplo: Se numa loja de doces existem 9 tipos distintos de balas e 5 tipos de chiclete, diga quantas escolhas podemos fazer para comprar somente uma bala e um chiclete. O aluno iniciante poderia começar organizando seu pensamento enumerando quais escolhas poderia fazer. Denotando por b1, b2, b3, b4, b5, b6, b7, b8 e b9 os noves tipos distintos de balas e por c1, c2, c3, c4 e c5 os cinco tipos distintos de chicletes, o aluno poderia pensar: A bala b1 poderia ser escolhida junto o chiclete c1, ou com o chiclete c2, ainda com c3, c4 ou c5. Por sua vez a bala b2 também poderia com cada um dos chicletes. E assim com cada uma das outras balas. A enumeração poderia evoluir para um diagrama de possibilidades (Figura 7): Fonte: www.uenf.br Não seria preciso completar o diagrama para que o aluno percebesse o que acontece. Talvez só nas primeiras vezes. Com pouco tempo perceberia que se para cada bala tem-se um chiclete como escolha, logo basta fazer 9 · 5. Em um próximo problema semelhante, esse recorreria à operação numérica da multiplicação e talvez substituísse seu diagrama, uma vez que compreendeu como estes grupos se formam. Aliás, quantomais problemas os alunos resolvem, cada problema com sua dificuldade, melhor é para que estes façam conexão entre os diferentes tipos de problemas. O livro Lima et al. (2010, p. 90) traz alguns princípios básicos que servem como estratégia para resolver problemas de combinatória. Tais recomendações são conhecidas carinhosamente como “axiomas de Morgado2”. ANÁLISE COMBINATÓRIA 19 Postura: Devemos sempre nos colocar no papel da pessoa que deve fazer a ação solicitada pelo problema e ver que decisões devemos tomar A intenção deste comportamento é que a pessoa trate tal problema como se fosse seu e se imagine no lugar de quem resolve o problema. Tal medida ajuda a compreender e tomar os melhores caminhos para atacar o problema. Divisão: Devemos sempre que possível, dividir as decisões a serem tomadas em decisões mais simples. Deste modo, podemos enxergar melhor o problema caminhando em passos. Se a questão é formar um casal, uma boa divisão seria em escolher o homem e depois a mulher. Se o problema é de quantos modos pode se colorir uma bandeira, é razoável pensarmos em como colorir cada listra, e assim em diante. Não adiar dificuldades: Pequenas dificuldades adiadas costumam se transformar em imensas dificuldades. Se uma das decisões a serem tomadas for mais restrita que as demais, essa é a decisão que deve ser tomada em primeiro lugar. É comum em problemas de combinatória haver restrições sobre os grupos ou subgrupos formados. Este princípio nos diz que tais decisões devem ser primeiramente observadas. 2.3 O Raciocínio Combinatório e a Resolução de problemas O raciocínio combinatório pode ser entendido como um tipo de pensamento ligado à contagem que segue além da enumeração de elementos de um conjunto e se estende à contagem de grupos de objetos, ou seja, de subconjuntos, tendo o raciocínio multiplicativo como base. Para distanciarmos da prática do ensino da Combinatória através de fórmulas sem sentido e aplicadas de forma mecânica, é necessária uma abordagem que proporcione ao aluno entender os procedimentos adotados, tendo estes significados, partindo de conhecimentos prévios tantos inerentes à escola ou não. A pesquisa sugere que através da resolução de problemas, o conhecimento matemático ganha sentido quando os alunos se deparam com situações desafiadoras e são motivados para encontrar diferentes estratégias de resolução, produzindo conhecimentos e desenvolvendo habilidades. O foco dado à resolução de Problemas ANÁLISE COMBINATÓRIA 20 de contagem, de modo específico, pode levar ao aluno a uma abordagem que priorize o desenvolvimento do pensamento combinatório, ao contrário da ênfase dada nas fórmulas para resolução, proporcionando que os conteúdos sejam aprendidos de forma natural à medida que este resolve exercícios. Segundo encontrado em Morgado et al. (2006): . . . “à solução de um problema combinatório exige a quase que sempre a engenhosidade e a compreensão plena da situação descrita, sendo esses um dos encantos dessa parte da Matemática, em que problemas fáceis de enunciar revela-se por vezes difíceis, exigindo uma alta dose de criatividade e compreensão para sua solução” A resolução de um problema não pode limitar-se ao simples encontro de sua solução. Não há segurança de que o conhecimento envolvido seja absorvido. É necessário desenvolver habilidades que permitam estudar resultados e comparar diferentes soluções. A prática voltada à resolução de problemas, quando de forma investigativa, ajuda a proporcionar que estas habilidades sejam melhores desenvolvidas. Estimular o aluno a questionar e analisar o problema e sua resposta, a formular novo problema a partir de determinadas informações, propicia o desenvolvimento do ensino- aprendizagem para a construção do conhecimento significativo. 2.4 Os principais obstáculos Muitos são as dúvidas e os problemas encontrados quando se trabalha a Análise Combinatória com os alunos. É comum vê-los perguntando sobre o tipo de agrupamento envolvido em cada situação ou mesmo com dificuldades de estabelecer padrões e generalizar soluções em problemas onde a contagem direta é muito trabalhosa. Têm se ainda, a dificuldade em estar certo sobre a solução encontrada, ou mesmo de desconfiar se esta está incorreta. Feito a pesquisa, verifica-se que em Batanero, Godino e Navarro-Pelayo (1997) e Fernandes e Correia (2007) é possível encontrar, de acordo com os autores, os principais deslizes apresentados pelos alunos ao resolver questões envolvendo o raciocínio combinatório: • Interpretação incorreta do enunciado A má interpretação do enunciado faz com que o aluno não resolva a questão proposta como deveria, principalmente em questões de combinatória. Entender o problema, ANÁLISE COMBINATÓRIA 21 compreender as restrições, conscientizar sobre as decisões que podem ou não ser tomadas, é de fundamental importância para o desenvolvimento da questão. Talvez seja o erro mais frequente cometido pelos alunos. • Cálculo aritmético incorreto Entender o enunciado, montar a expressão que calcula o problema e fazer um cálculo aritmético errado, seja usando fórmula ou não, é também um deslize que os alunos cometem. Certamente menor do que não compreender o enunciado. Tal questão deve ser observada com cuidado pelo professor e pelo aluno. • Utilização incorreta da estratégia escolhida Utilizar-se de estratégias de forma incorreta é um problema. Se o aluno, por exemplo, ignora uma restrição de um problema e a deixa pra depois, certamente está se tornará um problema mais tarde. Em cima é visto, nas recomendações do Mestre Morgado, para não adiar dificuldades. Um obstáculo comum em um problema de Combinatória é quando ao contar o número de maneiras de se fazer algo depara-se com um “depende”. Esse impasse acontece porque possivelmente o problema é atacado com a estratégia errada. Vejamos um exemplo: Exemplo: Quantos são os números pares de dois dígitos distintos? Um aluno poderia pensar: Um número é par quando termina com 0, 2, 4, 6 ou 8. Sendo assim, há 5 escolhas possíveis para os algarismos das unidades. Para as dezenas, o número de possibilidade de escolha fica em “depende”. Observando bem, o número de maneiras de se escolher os algarismos das dezenas está totalmente dependendo de qual número foi escolhido para as unidades, pois o primeiro algarismo não pode ser zero. Se 2, 4, 6, ou 8, figuram a última casa, uma vez que não se pode repetir os dígitos, tem-se 8 possibilidades de números para as dezenas (Todos de 1 até 9, menos aquele que será usado nas unidades). Contudo, se 0 figura a última casa, 9 é o número de possibilidades para as dezenas. Problemas assim, precisam ser divididos em casos ou mesmo serem atacados de outra maneira. Quando se percebe um bom número de “dependes” nas decisões a serem tomadas, és uma boa hora para tentar trocar a estratégia. Quanto mais ANÁLISE COMBINATÓRIA 22 problemas o aluno resolver, mais se arma de diferentes ferramentas para solucionar um problema. • Escolha de uma estratégia pouco eficaz ou ineficaz Os mesmos comentários anteriores são válidos. • Deixar de considerar alguns agrupamentos possíveis Deixar de perceber alguns agrupamentos levará a contagem incompleta de todos os casos. • Não ser capaz de observar padrões e generalizar soluções Quase sempre não será possível ao aluno que resolve problemas de combinatória listar todos os casos para poder contá-los. Se ele não for capaz de observar padrões e generalizar soluções através de um diagrama ou esquema, pouco produzirá com a maioria dos problemas que incorporam essas habilidades. Faz-se necessário aos professores compreender e estar cientes de como acontecem os erros mais frequentes dos alunos, a fim de buscarem melhores estratégias para tentar minimizá-losou mesmo evitá-los. 2.5 Alternativas para o ensino da Análise Combinatória Para que a aprendizagem ocorra de forma significativa, é preciso que o aluno construa sentido entre os objetos de estudo. Batanero, Godino e Navarro-Pelayo (1997) afirmam, que para ensinar Análise Combinatória, deve-se levar em conta o raciocínio recursivo e os procedimentos sistemáticos de enumeração, ao invés de focar em aspectos algorítmicos e em definições combinatórias. Como alternativas para o ensino da Análise Combinatória, tomando como base os principais obstáculos citados na seção anterior, podem-se citar: • Tomar o problema como ponto de partida, único, como objeto de indagação desafiante. O problema deve ser o início. Ler e refletir o questionamento buscando sua solução, faz com que o aluno crie hipóteses, formule conjecturas, e estabeleça resultados de acordo com seu conhecimento prévio. A resolução de problemas motivou o desenvolvimento de quase todas as áreas da Matemática, dentro do seu contexto. O aluno precisa se sentir desafiado a resolver a questão. • Incentivar a investigação e a estruturação do pensamento ANÁLISE COMBINATÓRIA 23 Dentro de sua curiosidade e interesse, o professor deve aguçar no aluno o desejo de investigação e de buscar alternativas para a solução de problemas. Ainda, o aluno precisa aprender a organizar este raciocínio. Problemas de combinatória, no geral, são tidos como difíceis, pois requerem do aluno a capacidade de pensar e fazer suposições, ao contrário de reproduzir passos “ensaiados”. • Utilização de materiais manipulativos Grande é o ganho que o discente pode ter, se aliado à teoria que estuda, puder ter o contato com um objeto concreto, tocável, onde ele possa fazer uma associação com o modelo estudado. No capítulo seguinte, a utilização de tais materiais para o ensino da Análise Combinatória é melhor discutido. • Valorização das diferentes estratégias e formas de registro Com o acerto e o erro, o aluno aprende a melhor forma de resolver os problemas. Assim, é preciso que o professor valorize todo o tipo de estratégia que o aluno utiliza e as pondere de modo a orientar por que uma funcionou e a outra não, dentro do contexto de cada problema. Dizer ao aluno que deste ou outro jeito de resolver está errado e que o modo certo é outro, exclui a possibilidade de discutir o porquê de uma maneira funcionar e a outra não, deixando de lado maior ganho com o debate coletivo. • Formação de um ambiente propício à aprendizagem A importância da formação de um ambiente propício à aprendizagem é uma das peças fundamentais para uma aprendizagem significativa. Os alunos precisam estar motivados e comprometidos com a atividade, para que alcance seu objetivo. Para isso, o professor precisa se certificar que o ambiente colabora, não apresentando distrações ou empecilhos para a aplicação do plano de aula. • Atividades que tragam questões envolvendo situações com as quais o aluno está familiarizado. Trazer questões com os quais o aluno está familiarizado ajuda a despertar o interesse pela resolução do problema. A contextualização de um problema que usa situações que o aluno vivencia, permite mostrá-lo a relação estreita que há entre o que se estuda e o que se vive, e isso ajuda no despertar do seu interesse. O professor pode utilizarse de situações de aplicação na vida real, como exemplo, geração de placas de automóveis, números de telefones (celular e fixo), CPF, número de contas, etc. ANÁLISE COMBINATÓRIA 24 3 COMBINAÇÕES E PERMUTAÇÕES: DA PRÁTICA AOS CONCEITOS2 Se existe um conteúdo da Matemática que precisa ser reformulado na Educação Básica é o relacionado a “análise combinatória” (combinações e permutações), a começar pelo próprio nome, pela abordagem de ensino e pelo timing. A análise combinatória é parte um grupo de competências que inclui, mas não se limita a lógica, teoria de conjuntos, funções, relações, métodos de contagem, sequências, teoria de números, probabilidade, grafos e criptologia. Matemática Discreta ou Matemática Finita seriam denominações mais apropriadas para esse conjunto de conteúdo. Não obstante o invólucro da disciplina, a abordagem de parte dos livros didáticos, em especial dos mais antigos, é intimidadora e confusa, tanto para o professor que tem a imposição de tentar ensinar sob o programa vigente, quanto para o aluno que termina por tentar a memorização de fórmulas e padrões sem, contudo, compreender a razão da aplicação dessas fórmulas. Não é incomum livros ou capítulos sobre esse tema iniciarem secamente pelas definições e receitas dos casos concretos: para filas, aplique a fórmula A, para pódios, use o caso B, e assim sucessivamente. Seria muito mais didático se colocássemos de lado um pouco os conceitos e focássemos no ensino da Matemática e nos mecanismos cognitivos que devemos desenvolver para resolução dos problemas em sala de aula e para vida. Para agravar esse cenário, o ensino dessas competências é apresentado tardiamente somente aos alunos do ensino médio. Em se tratando dos princípios aditivo e multiplicativo, o aluno deveria ter contado com eles durante o ensino fundamental para desmistificar sua complexidade e aumentar a familiaridade com a natureza dos problemas e das soluções. 3.1 Permutações Em permutações a ordem importa, o que significa que os arranjamentos 1-2-3 e 3-2-1 são diferentes ainda que contenham os mesmos elementos. Essa é a noção mais 2 Texto extraído: https://conrado.mat.br/metodos-de-contagem/combinacoes-e-permutacoes-parte-i/ ANÁLISE COMBINATÓRIA 25 importante que você precisa ter em mente quando o assunto é permutação. A seguir analisaremos algumas situações. Exemplo 1. O cadeado abaixo abre com três combinações de números variando de 0 a 39. O primeiro número à direita, o segundo girando à esquerda e o terceiro à direita novamente. Quantos segredos possíveis esse cadeado possui? Primeiramente, vamos assumir “segredos” como permutações com repetição*. Nesse caso teremos 40 possibilidades para o primeiro giro, 40 para o segundo, e 40 para o último giro. Portanto, há 40 × 40 × 40 = 403 = 64.000 possibilidades. Essa solução considera que não exista nenhuma restrição quanto à escolha dos números, mas pode haver restrição de um fabricante para outro. Há modelos que não suportam combinações de números repetidos (por exemplo, 10-21-10 seria uma combinação válida, mas 10–10-21 não). Nesse caso teríamos 40 × 39 × 39 possibilidades. Alguns autores denominam esse caso particular como arranjo. Exemplo 2. No padrão de cores RGB uma cor é representada por meio de notação hexadecimal, indo de 00 (mais escuro) até FF (mais claro) para o valor de cada uma das cores. Esse código tem seis caracteres e cada caractere pode ser uma letra de A F ou um número de 0 a 9. Quantos códigos de cores hexadecimais são possíveis? ANÁLISE COMBINATÓRIA 26 Muito provavelmente você já viu na web um código com esse aspecto: #FF99CC. Esse é o código hexadecimal de uma cor, onde o tom de vermelho (Red) é FF, o de verde (Green) 99 e o de azul (Blue) CC. Como cada caractere assume os valores A. F e 0.9, há 16 possibilidades. Portanto, como são 6 caracteres e cada um assume até 16 valores, teremos 16 × 16 × 16 × 16 × 16 × 16 = 166 = 16.777.216 cores hexadecimais. Exemplo 3. Paula e Henrique cuidam dos gatos Brutus, Zaratustra, Zoroastra e Zuleica. De quantos modos diferentes eles podem organizá-los em quatro comedores? Paula pode iniciar pegando qualquer um dos quatro gatos para colocar no primeiro comedor. Depois disso pode pegar qualquer um dos três gatos restantes para colocar no próximo comedor, e assim pegar um dos outros dois gatos para colocar no terceiro comedor. Por fim, resta ao último gato o quarto comedor. Portanto, há4 × 3 × 2 × 1 = 4! Modos diferentes de organizar os quatro gatos nos comedores, isto é, 24 modos. Repare que a descrição acima refere-se aos modos possíveis para arranjar os quatro gatos e que a ordem deles não importa. Por exemplo, o arranjo BrutusZaratustra – Zoroastra - Zuleica é diferente de Zaratustra – Zoroastra – Zuleica Brutus. Mediante isso podemos definir uma permutação de uma lista como qualquer rearranjo dessa lista. As palavras-chave para entender a permutação são arranjamentos, arranjo, reorganização. O exemplo 3 ilustra bem o que o denominamos Princípio Multiplicativo, que pode ser enunciado basicamente como: se existem x maneiras de fazer algo e y maneiras de fazer outra coisa, então existem x × y maneiras diferentes de realizar ambas as ações. Exemplo 4. Nádia possui seis livros: um de Sociologia, Fisiologia Humana, Físicoquímica, Anatomia Humana e dois de Farmacologia. Quantas são as maneiras de arranjar esses livros por disciplina em um aparador de livros? Essa situação é diferente do exemplo 3, pois há dois livros da mesma disciplina e permutações desses livros são equivalentes (redundantes). Se todos os seis livros fossem de disciplinas distintas, teríamos 6! Modos de arranjá-los, mas como dois são da mesma disciplina, existe uma permutação 2! Causando uma multiplicidade indesejável. Para sanar essa situação, precisamos eliminar essa multiplicidade ANÁLISE COMBINATÓRIA 27 dividindo 6! Por 2! Portanto, a número de maneiras de arranjar os livros por disciplina é 6! /2! = 360. Exemplo 5. Quantos são os anagramas da palavra BRASIL? Os anagramas dessa palavra nada mais são que as reordenações de B-R-A-S- I-L. Desse modo o número de anagramas de BRASIL é 6! = 720. Exemplo 6. Quantos são os anagramas da palavra BRASIL que iniciam por vogal? Nesse caso os anagramas devem iniciar por A ou I, duas possibilidades. Os demais caracteres podem assumir 5! Possibilidades. Portanto, 2 × 5! = 240 é o número de anagramas de BRASIL que iniciam por vogal. Exemplo 7. Na Ginástica, 8 finalistas alternam intensamente suas colocações ponto a ponto a cada apresentação. Nesse contexto, quantos arranjamentos ou permutações são possíveis? Quantos pódios diferentes podem existir nessa situação? A resposta à primeira questão é muito parecida com o exemplo 3, mas ao invés de comedores, temos colocações. A quantidade de permutações é dada pelo produto 8 × 7 × 6 × 5 × 4 × 3 × 2 × 1 = 40.320. Por outro lado, a segunda questão é uma restrição da primeira. Como apenas 3 ginastas sobem ao pódio, teremos 8 × 7 × 6 = 336 possibilidades. Comparando as duas respostas perceba que a segunda é um caso especial da primeira. A primeira dispunha de 8 objetos (ginastas) para arranjá-los em 8 posições (8 escolhe 8), enquanto a segunda dispunha dos mesmos 8 objetos, mas para arranjálos em 3 posições (8 escolhe 3). Repare também que 8 × 7 × 6 = 8 × 7 × 6 × 5! /5! = 8! / (8-3)! Isso não é uma coincidência, como veremos mais adiante. Exemplo 8. Quantas equipes de 4 pessoas podem ser formadas por um grupo de 23 pessoas? Uma permutação de 4 pessoas escolhidas em 23 é igual a 23! / (23-4)! = 212.520, porém é preciso observar um ponto. A equipe Cadu-Ana-Bi-Na é equivalente a equipe Ana-Cadu-Bi-Na? Sim, a ordem não importa. Entretanto a repetição importa, não podemos escolher a mesma pessoa múltiplas vezes para a mesma equipe. ANÁLISE COMBINATÓRIA 28 Para resolvermos essa questão precisamos retirar as pessoas contadas devido a ordem, ou seja, dividir a contagem por 4! Desse modo, a quantidade de equipes de 4 pessoas tomadas em 23 é igual a 23! / (23-4)!4! = 8.855. Resumo Onde: Uma permutação é uma lista ordenada de itens; Repetição refere-se a um item da lista pode se repetir ou não; n é o número possível de itens selecionáveis; k é o número de itens selecionados; Fonte:www.descomplica.com.br ANÁLISE COMBINATÓRIA 29 4 PRINCÍPIO DE INCLUSÃO-EXCLUSÃO Apresentamos aqui o Princípio de Inclusão-Exclusão, que é uma generalização da Regra da Soma, usado para contagem via separação em casos não disjuntos. Comecemos com um caso simples. Proposição 3.1.1. Sejam A e B conjuntos finitos, não necessariamente disjuntos. Então |A B| = |A| + |B| − |A ∩ B|. A intuição é a seguinte: quando fazemos |A| + |B|, estamos contando os elementos da intersecção duas vezes. Logo, precisamos retirá-los uma vez para obter |A B|, veja a Figura 3.1. Uma demonstração seria: Demonstração. Temos que |A B| = |A (B − A) | = |A| + |B − A|, (3.1) Onde na última igualdade usamos a Regra da Soma, pois A e B − A são disjuntos. Novamente pela Regra da Soma, |B − A| = |B| − |B ∩ A|. Substituindo isto na igualdade (3.1), concluímos que |A B| = |A| + |B| − |A ∩ B|. Para três conjuntos, a intuição é parecida: queremos calcular |A B C|. Na soma |A|+|B|+|C| as interseções dois a dois aparecem repetidas, então bastaria subtraí- las? Quase isso. Em |A|+|B|+|C|−|A∩B|−|A∩C|−|B∩C| a intersecção |A ∩ B ∩ C| dos três conjuntos foi somada três vezes e subtraída três vezes. Logo, ainda falta adicioná- la, veja a fórmula (3.2). Proposição 3.1.2. Sejam A, B e C conjuntos finitos, não necessariamente disjuntos. Então |A B C| = |A| + |B| + |C| − |A ∩ B| − |A ∩ C| − |B ∩ C| + |A ∩ B ∩ C|. (3.2) ANÁLISE COMBINATÓRIA 30 Demonstração. Decompondo cada um dos conjuntos A B e C nas regiões hachuradas/pintadas da Figura 3.2, a verificação da igualdade (3.2) se torna fácil. Deixamos isso a cargo do leitor. Exemplo 3.1.3. Quantos são os números entre 1 e 1000 (incluindo 1 e 1000) que são múltiplos de 2, 5 ou 7? Sejam A = {2, 4, 6, . . . , 1000} o conjunto dos múltiplos de 2 menores ou iguais a 1000, B = {5, 10, 15, . . . , 1000} o conjunto dos múltiplos de 5 menores ou iguais a 1000, e C = {7, 14, 21, . . . , 994} o conjunto dos múltiplos de 7 menores ou iguais a 1000. Nosso objetivo é calcular |A B C|. Como os conjuntos A B e C não são disjuntos, não podemos usar a Regra da Soma. Usaremos, portanto, a Proposição 3.1.2. Começamos afirmando que o número de múltiplos de um número k de 1 a 1000 é igual a b 1000 k c, onde b·c é a função piso, ou seja, bxc é o maior inteiro menor ANÁLISE COMBINATÓRIA 31 A seguir, o caso geral: Proposição 3.1.4. Sejam A1, . . . , An conjuntos finitos. Então Demonstração. Indução no número de conjuntos. Uma forma muito elegante e sucinta de se escrever a fórmula de Inclusão Exclusão é dada por: Verifique que a expressão acima coincide com a fórmula (3.3). A seguir, veremos algumas aplicações do Princípio de Inclusão-Exclusão. Outras aplicações, também clássicas, serão deixadas para os exercícios. Uma permutação dos números {1, . . ., n} é dita caótica se todos os números estão fora de suas posições originais. Por exemplo, para n = 4, a permutação 2413 é caótica, mas a permutação 2431 não é, pois, o número 3 está na terceira posição. Proposição 3.1.5. O número de permutações caóticas dos números {1, . . ., n} é dado por ANÁLISE COMBINATÓRIA 32 Demonstração. Seja Ai o número de permutações que têm o número i em sua posição original e note que estes conjuntos não são disjuntos. Usando o Princípio de Inclusão-Exclusão, contaremos que é o número de permutações não caóticas. Depois calcularemos o número de permutações caóticas subtraindo este número do total de permutações. Se uma permutação está em Ai, então o i-ésimo número está em sua posição original. Para os demais, temos (n − 1)! escolhas. Logo, |Aí | = (n − 1)! Sejam Se uma permutação está em Ai ∩ Aj , então os números i e j estão em suas posições originais, e os demais em quaisquer posições. Logo, |Ai ∩ Aj | = (n − 2)! e assim pordiante. Calculemos cada um dos somatórios que aparecem na fórmula (3.3). O primeiro é: Aplicando o Princípio de Inclusão-Exclusão (Proposição 3.1.4), temos que Como o total de permutações é n! Temos que o número de permutações caóticas é dado por ANÁLISE COMBINATÓRIA 33 Concluindo a demonstração: Os Números de Stirling de segunda ordem, denotados por S (n, k), são definidos como o número de maneiras de distribuir n objetos distinguíveis (numerados, por exemplo, ou pessoas) em k urnas indistinguíveis de tal modo que não haja urnas vazias. Note que S (n, k) = 0 para k > n, pois, ao distribuir os objetos, necessariamente alguma urna ficaria vazia. Proposição 3.1.6. O Números de Stirling de segunda ordem são dados por Demonstração. Sejam A e B conjuntos tais que |A| = n e |B| = k. Afirmamos que o número de funções sobrejetoras f: A → B é igual a Denote por Ei o conjunto de todas as funções que não têm o i-ésimo elemento de B em sua imagem. Logo, |Ei | = (k − 1) n, |Ei ∩ Ej | = (k − 2) n para i 6= j, e assim por diante. Pelo Princípio de Inclusão-Exclusão, temos que ANÁLISE COMBINATÓRIA 34 Que nos leva a concluir que Terminando a prova da afirmação. O Número de Stirling de segunda ordem é o número de maneiras para distribuir n objetos distinguíveis em k urnas indistinguíveis, de maneira que nenhuma urna esteja vazia. Bem, se a urnas fossem numeradas (distinguíveis), o número de maneiras seria exatamente o número de funções sobretivas f : A → B, onde |A| = n e |B| = k. Para ver isto, basta pensar que cada objeto a é um elemento do conjunto A, e f(a) nos diz para qual urna este objeto deve ir, ou seja, B é o conjunto das urnas (numeradas). Entretanto, as urnas são indistinguíveis. O que fazer? Usaremos a técnica de relação de equivalência, que já foi aplicada repetidas vezes no Capítulo 2. ANÁLISE COMBINATÓRIA 35 Consideremos, por enquanto, que as urnas sejam numeradas. Seja X o conjunto das maneiras de se distribuir os n objetos nas k urnas numeradas. Neste caso, temos que: Pela afirmação anterior. Definamos agora uma relação de equivalência em X. Dois elementos em X, ou seja, uas distribuições de objetos nas urnas, serão ditos equivalentes se for possível obter uma configuração a partir da outra trocando-se os números das urnas. Por exemplo, considere 4 bolas e 3 urnas. A Figura 3.3 mostra três configurações. A primeira é equivalente à segunda, mas não à terceira. Considerando esta relação de equivalência, cada classe de equivalência em X corresponde a uma maneira de distribuir os n objetos distinguíveis nas k urnas indistinguíveis. De maneiras de permutar as urnas, ou seja, k! Assim, o número de classes de ANÁLISE COMBINATÓRIA 36 Os Números de Bell, denotados por Bn, são definidos como o número de maneiras de particionar um conjunto com n elementos em subconjuntos não vazios. Por exemplo, o conjunto {1, 2, 3} pode ser particionado das seguintes maneiras: Portanto, B3 = 5. Como corolário do resultado anterior, temos que Corolário 3.1.7. Os Números de Stirling de segunda ordem e os Números de Bell são relacionados por Demonstração. Basta notar que o número de urnas k no Número de Stirling de segunda ordem corresponde à cardinalidade da partição. Uma partição de um conjunto com n elementos pode ter cardinalidade de 1 até n., ou seja, equivalência será dado por , que é igual a ANÁLISE COMBINATÓRIA 37 Observação: Alguns livros escrevem 𝐵𝑛 = ∑ 𝑆(𝑛, 𝑘) 𝑛 𝑘=0 o que não muda nada, pois S (n; 0) = 0 para n > 1. Começar de k = 0 no somatório se deve à convenção (útil para certos fins) que S (0; 0) = 1 e B0 = 1. Princípio das Casas dos Pombos Nesta seção estudaremos o Princípio das Casas dos Pombos (PCP), também chamado de Princípio das Gavetas ou Princípio de Dirichlet.3 Teorema 4.1.1 (PCP). Se n + 1 pombos estão em n casas, então há pelo menos uma casa com pelo menos dois pombos. Note que o enunciado acima é simplesmente a versão intuitiva de “Sejam A e B conjuntos finitos tais que IAI > IBI. Então não existe nenhuma função injetiva Apesar de um tanto informal, o enunciado do Teorema é mais fácil de memorizar e ajuda muito a organizar as ideias na resolução de problemas, e por isso é apresentado desta maneira. A seguir, vejamos o chamado Princípio das Casas dos Pombos Generalizado. Teorema 4.1.2 (PCP Generalizado). Sejam pombos estão em n casas, então há pelo menos uma casa com pelo menos k + 1 pombos. Note que o PCP generalizado acima implica o Princípio das Casas dos Pombos anterior: basta escolher k = r = 1. Demonstração. Suponha que o enunciado fosse falso, isto é, para algum n e algum k > 1, pudéssemos distribuir kn + r pombos em n casas sem que nenhuma casa tivesse mais do que k pombos. Neste caso, como são n casas, cada uma contendo no máximo k pombos, pela Regra da Soma teríamos no máximo nk pombos, contradição. Problema 4.1.3. Escolhem-se cinco pontos quaisquer dentro de um quadrado de lado 2. Mostre que dentre estes cinco pontos, há dois pontos cuja distância entre eles é menor ou igual a 3 Texto extraído de: http://w3.impa.br/~tertu/archives/Princ_Comb_Prob.pdf ANÁLISE COMBINATÓRIA 38 Solução: A maior distância em um quadrado é a sua diagonal. Pelo Teorema de Pitágoras, para um quadrado de lado 2, a sua diagonal é veja a Figura 4.1. Como são cinco pontos e quatro subquadrados de lado 1, pelo Princípio das Casas dos Pombos, em algum dos subquadrados haverá pelo menos dois pontos. Como a diagonal de um subquadrado é distância entre estes dois pontos que estão num mesmo subquadrado será menor ou igual a concluindo a solução. Um roteiro que clarifica bastante os passos a serem feitos é o seguinte: Por exemplo, no problema anterior, os pombos eram os pontos. Como eram cinco “pombos”, o número de casas deveria ser no máximo quatro. Por fim, cada subquadrado correspondeu a uma “casa de pombo”. Note que a segunda pergunta do ANÁLISE COMBINATÓRIA 39 roteiro se refere à quantidade de casas! Apenas no final nos perguntamos quem são as casas. Este último passo é o que geralmente demanda um pouco de criatividade. É bom enfatizar que o roteiro acima é apenas um método para organizar as ideias, não um método de prova. Na hora de escrever a solução, tal roteiro não deve ser incluído. Vejamos mais um problema com sua respectiva solução. Problema 4.1.4. Prove que em qualquer conjunto R de 17 inteiros há um subconjunto S de 5 elementos com a seguinte propriedade: para qualquer par de elementos em S, a soma ou diferença deles é divisível por 7. Primeiro vamos seguir o roteiro apresentado para organizar os passos, e só depois escreveremos a prova. A primeira pergunta do roteiro é “Quem são os pombos? ”. Os pombos serão os 17 números inteiros do conjunto R, que queremos mostrar quem satisfazem a uma certa propriedade. A segunda pergunta do roteiro é “Quantas são as casas? ”. Bem, se queremos mostrar que 5 elementos de R satisfazem a uma certa propriedade, precisamos que sempre haja pelo menos 5 pombos em uma mesma casa. Para que isso aconteça, quantas devem ser as casas? Para calcular o número de casas, fazemos a divisão de 17 por 5, que nos dá 17 = 5 _ 3 + 2. O número de casas deve ter então o quociente mais um, que é 3 + 1 = 4. A terceira pergunta do roteiro é “Quem são as casas? ”. Esta é a parte que envolve imaginação, arte, engenhosidade. É necessário definir as casas de modo que, se 5 pombos caiam numa mesma casa, então a propriedade pedida no enunciado acontecerá. A propriedade que deveacontecer é “a soma ou diferença deles é divisível por 7”. Pensemos nos restos na divisão por 7, os quais são 0, 1, 2, 3, 4,5 e 6. Sejam x e y dois números inteiros quaisquer e estudemos o é necessário para que sua soma ou diferença seja divisível por 7. Olhemos para a divisão de x e y por 7. Temos que Como o leitor pode checar, para que diferença X - Y seja divisível por 7, é preciso que os restos sejam iguais, e para que a soma X + Y seja divisível por 7, é preciso que os restos somem 7 ou sejam ambos iguais a 0. Isso nos sugere criar as ANÁLISE COMBINATÓRIA 40 casas de pombo de acordo com o resto na divisão por 7. As casas estão ilustradas de maneira pitoresca na Figura 4.2. Vejamos: quando dois números x e y caem na mesma casa, sua soma ou diferença será divisível por 7. De fato, se os dois números caem na casa de resto zero, ambos são divisíveis por 7, e tanto X-Y quanto X+Y serão divisíveis por 7. Se os dois números caem na casa de restos 1 ou 6, então há três possibilidades. Se os dois deixam resto 1, então 7 X-Y. Se os dois deixam resto 6, então 7 X-Y. se um tem deixa resto 1, e o outro deixa resto 6, então 7jx+y. A análise das demais casas é a mesma. Note que todo número inteiro necessariamente cairá em alguma caixa, pois os restos na divisão por 7 são 0, 1, 2, 3, 4, 5 e 6. Estamos prontos para escrever uma solução do problema. Para facilitar, usaremos a notação x r mod 7 para dizer que x deixa resto r na divisão por 7. Solução do Problema 4.1.4: Considere os conjuntos ANÁLISE COMBINATÓRIA 41 Como são 4 conjuntos, S tem 17 inteiros que pertencem à união destes conjuntos, e 17 = 4 x 4 + 1, pelo Princípio das Casas do Pombos Generalizado, há pelo menos 5 inteiros de S num mesmo conjunto Ri. Ou seja, há pelo menos 5 elementos de S tais que qualquer dois deles têm a soma ou diferença divisíveis por 7. Para finalizar a seção, uma curiosidade a respeito da origem do nome “Princípio das Casas dos Pombos”. Este vem de “Pigeonhole Principle” no inglês britânico, onde “pigeonhole” é comumente usado para designar um pequeno compartimento ou cubículo (apesar de sua tradução literal ser “caixa de pombo” ou “buraco de pombo”). Ou seja, o nome original é mais próximo de “Princípio das Gavetas” ou “Princípio das Caixas”, e foi criado com referência a distribuir objetos em caixas. E faz até mais sentido do que pombos, os quais têm vontades próprias. Entretanto, nos Estados Unidos, o termo “pigeonhole” é pouco usado no sentido britânico, e remete de fato a pombos. Esta ambiguidade na tradução fez com que o nome “Princípio das Casas do Pombos” se mantivesse ao longo do tempo. 5 BINÔMIO DE NEWTON O Binômio de Newton refere-se a potência na forma (x + y) n , onde x e y são números reais e n é um número natural.4 O desenvolvimento do binômio de Newton em alguns casos é bastante simples. Podendo ser feita multiplicando-se diretamente todos os termos. Contudo, nem sempre é conveniente utilizar esse método, pois de acordo com o expoente, os cálculos ficarão extremamente trabalhosos. 4 Texto extraído: https://www.todamateria.com.br/binomio-de-newton/ ANÁLISE COMBINATÓRIA 42 Exemplo Represente a forma expandida do binômio (4 + y)3: Como o expoente do binômio é 3, vamos multiplicar os termos da seguinte forma: (4 + y). (4 + y). (4 + y) = (16 + 8y + y2). (4 + y) = 64 + 48y + 12y2 + y3 Fonte: www.brasilescola.uol.com.br 5.1 Fórmula do Binômio de Newton O binômio de Newton é um método simples que permite determinar a enésima potência de um binômio. Esse método foi desenvolvido pelo inglês Isaac Newton (1643-1727) e é aplicado em cálculos de probabilidades e estatísticas. A fórmula do binômio de Newton podendo ser escrita como: (x + y)n = Cn0 y0 xn + Cn1 y1 xn - 1+ Cn2 y2 xn - 2 +... + Cnn yn x0 Ou Sendo, Cnp : número de combinações de n elementos tomados p a p. n!: fatorial de n. É calculado como n = n (n - 1)(n - 2) . ... . 3 . 2 . 1 p!: fatorial de p (n - p)!: fatorial de (n - p) Exemplo Primeiro escrevemos a fórmula do binômio de Newton https://www.todamateria.com.br/isaac-newton/ https://www.todamateria.com.br/isaac-newton/ https://www.todamateria.com.br/isaac-newton/ ANÁLISE COMBINATÓRIA 43 Agora, devemos calcular os números binomiais para encontrar o coeficiente de todos os termos. Considera-se que 0! = 1 Assim, o desenvolvimento do binômio é dado por: (x + y)5 = x5 + 5x4y + 10 x3y2 + 10x2y3 + 5xy4 + y5 5.2 Termo Geral do Binômio de Newton O termo geral do binômio de Newton é dado por: Exemplo: Qual é o 5º termo do desenvolvimento de (x + 2)5, de acordo com as potências decrescentes de x? Como queremos T5 (5º termo), então 5 = k +1 k = 4. Substituindo os valores no temos geral, temos: ANÁLISE COMBINATÓRIA 44 5.3 Binômio de Newton e Triângulo de Pascal O triângulo de Pascal é um triângulo numérico infinito, formado por números binomiais. O triângulo é construído colocando-se 1 nos lados. Os demais números são encontrados somando os dois números imediatamente acima deles. Os coeficientes do desenvolvimento de um binômio de Newton podem ser definidos utilizando o triângulo de Pascal. Desta maneira evita-se os cálculos repetitivos dos números binomiais. Exemplo: Determine o desenvolvimento do binômio (x + 2)6. Primeiro é necessário identificar qual linha iremos usar para o binômio dado. A primeira linha corresponde ao binômio do tipo (x + y)0, desta forma, usaremos a 7ª linha do triângulo de Pascal para o binômio de expoente 6. (x + 2)6 = 1x6 + 6x5.21 + 15x4.22 + 20x3.23 + 15x2.24 + 6x1.25 + 1x0.26 Assim, o desenvolvimento do binômio ficará: (x + 2)6= x6 + 12x5 + 60x4 + 160x3 + 240x2 + 192x + 64 ANÁLISE COMBINATÓRIA 45 6 NOÇÕES DE PROBABILIDADE: ESPAÇO AMOSTRAL E EVENTO O estudo da probabilidade começou na Itália, quando o matemático e médico Giloramo Cordano (1501 – 1576) relacionou noções elementares de probabilidade com jogos de azar. 5 Atualmente, grande quantidade de jogos são oferecidos, entre os quais citamos, por exemplo: a loteria federal, a sena, a megasena, a loteca. É natural que se pense nas chances de ganhar um prêmio antes de decidir em qual deles jogar. Muitas vezes, ao acordarmos, perguntamos para nós mesmos: será que vai chover? De um modo ou de outro atribuímos um valor à chance de chover, e, então, decidimos o tipo de roupa que usaremos e se levaremos ou não o guarda-chuva. Sendo assim, as probabilidades estão associadas a eventos. Fonte:www.portaleducacao.com.br Experimento Aleatório São experimentos cujos resultados ocorrem ao acaso. Mesmo que repetidos várias vezes sob condições semelhantes, apresentam resultados imprevisíveis. 5 Texto extraído: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/administracao/nocoes- deprobabilidade-espaco-amostral-e-evento/30550 ANÁLISE COMBINATÓRIA 46 Exemplo: a afirmação “é provável que eu vença o jogo de xadrez hoje” pode resultar: a) Que, apesar do favoritismo, eu perca; b) Que, como pensei, eu vença; c) Que haja um empate. Como vimos, o resultado final depende do acaso (acontecimento imprevisto, fato repentino, sorte). 6.1 Espaço Amostral (S) Cada experimento corresponde, em geral, a vários resultados possíveis. Assim, ao lançarmos uma moeda, há dois resultados possíveis: ocorrer cara ou ocorrer coroa. Já ao lançarmos um dado há seis resultados possíveis: 1; 2; 3; 4; 5 ou 6. Ou seja: a) Lançamos a moeda e observamos o resultado da face superior: S = {cara, coroa} b) Ao lançarmos um dado vamos observar o resultadona face superior: S = {1; 2; 3; 4; 5; 6} c) Lançamos duas moedas diferentes e observamos o resultado na face de cada moeda: d) S = {(cara, cara); (cara, coroa); (coroa, cara); (coroa, coroa)} Exemplo: No lançamento de um dado onde S = {1; 2; 3; 4; 5; 6}, temos: A = {2; 4; 6} está contido em S; logo, A é um evento de S. G = {1; 2; 3; 4; 5; 6} está contido em S; logo, G é um evento de S. L = 7 está contido em S; logo, L é um evento impossível de S. Um evento é sempre definido por uma sentença. Assim, os eventos acima podem ser definidos pelas sentenças: “Obter um número par na face superior” “Obter um número menor ou igual a 6 na face superior” “Obter um número maior que 6 na face superior” ANÁLISE COMBINATÓRIA 47 7 PROBABILIDADE CONDICIONAL Probabilidade condicional refere-se à probabilidade de um evento ocorrer com base em um evento anterior. Evidentemente, esses dois eventos precisam ser conjuntos não vazios pertencentes a um espaço amostral finito. Em um lançamento simultâneo de dois dados, por exemplo, obtêm-se números em suas faces superiores. Qual é a probabilidade de que a soma desses números seja 8, desde que ambos os resultados sejam ímpares? Veja que a probabilidade de a soma desses números ser 8 está condicionada a resultados ímpares nos dois dados. Logo, lançamentos que apresentam um ou dois números pares na face superior podem ser descartados e, por isso, há uma redução no espaço amostral. Fonte: www.mundoeducacao.bol.uol.com.br O novo espaço amostral é composto pelos pares:6 {1,1}; {1,3}; {1,5}; {3,1}; {3,3}; {3,5}; {5,1}; {5,3} e {5,5} Desses, apenas {3,5} e {5,3} possuem soma 8. Logo, a probabilidade de que se obtenha soma 8 no lançamento de dois dados, dado que os resultados obtidos são ambos ímpares, é de: 6 Texto extraído de: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/matematica/probabilidade-condicional.htm https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/matematica/uniao-dois-eventos.htm https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/matematica/uniao-dois-eventos.htm https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/matematica/uniao-dois-eventos.htm https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/matematica/experimento-aleatorio-espaco-amostral.htm https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/matematica/experimento-aleatorio-espaco-amostral.htm https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/matematica/experimento-aleatorio-espaco-amostral.htm https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/matematica/experimento-aleatorio-espaco-amostral.htm https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/matematica/experimento-aleatorio-espaco-amostral.htm ANÁLISE COMBINATÓRIA 48 8 FÓRMULA DA PROBABILIDADE CONDICIONAL Seja K um espaço amostral que contém os eventos A e B não vazios. A probabilidade de A acontecer, dado que B já aconteceu, é representada por P(A|B) e é calculada pela seguinte expressão: Caso seja necessário calcular a probabilidade da intersecção entre dois eventos, pode-se utilizar a seguinte expressão: Exemplos Calcule a probabilidade de obter soma 8 no lançamento de dois dados em que o resultado do lançamento foi dois números ímpares. Solução: Seja A = Obter soma 8 e B = Obter dois números ímpares. P (A∩B) é a probabilidade de se obter apenas números ímpares que somam 8 no lançamento de dois dados. As únicas combinações das 36 possíveis são: Já P (B) é a probabilidade de obter somente números ímpares no lançamento de dois dados. As únicas combinações dentro das 36 possíveis são: {1,1}; {1,3}; {1,5}; {3,1}; {3,3}; {3,5}; {5,1}; {5,3} e {5,5} Logo, Utilizando a fórmula para probabilidade condicional, teremos: ANÁLISE COMBINATÓRIA 49 Qual é a probabilidade de extrair uma carta de um baralho comum de 52 cartas e obter um Ás, sabendo que ela é uma carta de copas? Solução: A = Obter um Ás B = Obter uma carta de copas Como só existe um ás de copas no baralho: P(A∩B) = 1 52 A probabilidade de se obter uma carta de copas é: P(B) = 13 52 Então, a probabilidade de se obter um às de copas é: P(A|B) = P(A∩B) P(B) 1 P(A|B) = 52 13 52 P(A|B) = 1 · 52 52 13 P(A|B) = 1 13 ANÁLISE COMBINATÓRIA 50 9 DISTRIBUIÇÃO BINOMIAL7 A cada lançamento a probabilidade de cair o número 4 é de 1 possibilidade em 6, ou seja, 1/6 é a probabilidade de obtermos o número 4 em cada lançamento. Quando lançamos o dado e obtemos um 4, temos um sucesso no lançamento, pois este é o resultado que pretendemos obter, no entanto quando obtemos um outro resultado qualquer, estamos diante de um fracasso. Note que só há duas possibilidades: Sucesso quando dá o número 4, ou fracasso quando dá qualquer outro. Observe que cada lançamento não interfere na probabilidade de qualquer outro lançamento, eles são independentes. Note também que a probabilidade de sucesso ou fracasso é sempre a mesma em cada lançamento. Nestas condições a probabilidade de obtermos k sucessos e n - k fracassos em n tentativas, é obtida pelo termo geral do Binômio de Newton: 𝑃 = ( 𝑛 𝑘 ) 𝑝𝑘 ∙ 𝑔(𝑛−𝑘) Lê-se (𝑛 𝑘 ) como número binomial de numerador n e denominador k, ou então como número binomial n sobre k. Na equação acima P representa a probabilidade procurada. n o total de tentativas, k o número de tentativas que resultam em sucesso, p a probabilidade de obtermos um sucesso e q representa a probabilidade de obtermos um fracasso. Note que n - k representa o número de tentativas que resultam em fracasso, assim como q é igual a 1 - p, ou seja, sendo p a probabilidade de sucesso, q é a probabilidade de fracasso que a complementa, pois só podemos obter um sucesso ou um fracasso, não há uma outra possibilidade. Sendo n ≥ k, o número binomial é dado por: ( 𝑛 𝑘 ) = 𝑐𝑛,𝑘 → ( 𝑛 𝑘 ) = 𝑛! 𝑘! (𝑚 − 𝑘)! 7 Texto extraído de: http://www.matematicadidatica.com.br/ProbabilidadeDistribuicaoBinomial.aspx ANÁLISE COMBINATÓRIA 51 Para vermos a utilização da fórmula, vamos resolver o problema do início deste tópico. Exemplo: Qual é a probabilidade de obtermos 4 vezes o número 3 ao lançarmos um dado 7 vezes? O espaço amostral do lançamento de um dado é: S = { 1, 2, 3, 4, 5, 6 } Como estamos interessados apenas nos resultados iguais a 3, representamos tal evento por: E = { 3 } Em relação ao número de elementos temos que n(E) = 1 e n(S) = 6, portanto a probabilidade da ocorrência de um 3 em um lançamento é: p é a probabilidade de sucesso em um lançamento, a probabilidade de fracasso é dada por q = 1 - p, portanto q = 5/6. n é o número total lançamentos, então n = 7. k é o número de sucessos, logo k = 4. Antes de utilizarmos a fórmula , vamos calcular o número binomial : Agora sim temos todos os dados para podermos aplicar na fórmula. Vejamos: ANÁLISE COMBINATÓRIA 52 A probabilidade 4375/279936 também pode ser representada na sua forma decimal, bastando realizarmos a divisão de 4375por 279936, que resulta em aproximadamente 0,0156 e também na forma de porcentagem, bastando multiplicarmos 0,0156por 100% que dá 1,56%. Portanto: A probabilidade é 4375/279936, ou aproximadamente 0,0156, ou ainda 1,56%. 10 VARIÁVEIS ALEATÓRIAS Definição e Exemplos De maneira intuitiva, podemos descrever uma variável aleatória (v.a.) como uma função cujo domínio é o espaço amostral de algum espaço de probabilidade. Em palavras, uma variável aleatória é um número real associado ao resultado (aleatório). Vejamos sua definição rigorosa: seja um espaço de probabilidade.
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