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Definição A lombalgia é definida como dor e desconforto localizados entre a margem costal e a prega glútea inferior, com ou sem dor na perna; Em 60% dos casos pode haver dor irradiada para o membro inferior, e esse quadro é chamado de lombociatalgia, que pode ser de origem radicular (exemplo: compressão por hérnia de disco) ou referida (exemplo: dor miofascial); A dor lombar é a causa mais frequente de limitação das atividades da vida diária nos adultos jovens; É a segunda maior causa de consultas médicas e de ausência no trabalho, apenas superada pelas queixas do trato respiratório superior; Sua prevalência nos países industrializados varia de 10 a 50%; Em alguma fase da vida, cerca de 70 a 80% das pessoas terão dor lombar; A metade dos episódios agudos melhora em uma semana; Após oito semanas, cerca de 90% dos casos evoluem para a cura, apesar de uma alta taxa de recidiva; Em relação à e1iologia, elas podem ser inespecíficas ou específicas; As inespecíficas são muito mais comuns, totalizando 80% das lombalgias; As específicas, responsáveis por 20% dos casos, incluem hérnias discais, espondilolistese, instabilidade segmentar, estenose de canal, tumor; São considerados fatores de risco para se desenvolver dor lombar: idade superior a 55 anos, tabagismo, dirigir por tempo prolongado, trabalhos que envolvem levantamento de peso superior à capacidade física do operário, ou em posições especiais, estresse emocional; Quanto ao aspecto psicológico, a histeria, a neurose e quadros conversivos são causas frequentes de DLB, enquanto que a depressão é uma complicação frequente das lombalgias crônicas; O nervo ciático é formado pelas raízes nervosas dos segmentos L4, L5, S1, S2 e S3 da coluna lombo-sacra; Após seu trajeto na pelve, passa pela musculatura glútea próximo ao quadril e percorre a parte posterior da coxa, dividindo-se na parte inferior da coxa em nervo tibial e fibular comum; Ciática ou ciatalgia é a dor ao longo do trajeto do nervo ciático, geralmente resultado do comprometimento da raiz nervosa na coluna, mas também pode ser por compressão ou inflamação do próprio nervo; Quando além da dor no trajeto do nervo o paciente apresentar dor lombar, usa-se o termo “lombociatalgia”; Fisiopatologia O disco intervertebral é considerado uma das principais fontes de dor na lombalgia; A degeneração discal é o início de diversas alterações na coluna; Em decorrência da sobrecarga, de alterações genéticas nos discos dos adultos jovens e pelo processo degenerativo do envelhecimento, começam a ocorrer alterações no volume do disco, na forma e no seu conteúdo; Gradualmente, o núcleo pulposo (gel semifluido) vai se tornando menos hidratado e, em torno da terceira década de vida; Iniciam-se uma diminuição do número de células e a perda de proteoglicanos (ptns características de ossos e cartilagens); As camadas mais internas do ânulo fibroso (parte externa e mais rígida do disco) e do núcleo pulposo tornam-se indistinguíveis e formam um material fibrocartilaginoso indiferenciado; Com a evolução, os vasos periféricos e os canais da placa terminal diminuem prejudicando a nutrição do disco; Ocorre um desequilíbrio na hidratação e. com a pressão, a transferência de carga física desigual, causa danos no disco invertebral; Desenvolvem-se fissuras e rachaduras ao longo das camadas estabelecendo canais de comunicação entre a periferia do ânulo fibroso e o núcleo pulposo; O tecido discal pode herniar por esses canais; O local mais comum da ruptura do ânulo fibroso, por onde ocorre a hérnia, é na sua Lombociatalgia inserção com o corpo vertebral, principalmente com o movimento de flexão e rotação do tronco; Essas alterações discais alteram o alinhamento da coluna e a resistência à carga; Isso pode influenciar ligamentos, articulações e musculatura lombar, sendo a causa de dor lombar; Quando ocorre o contato mecânico entre o material do disco herniado, com estruturas nervosas, inicia-se a dor irradiada; A liberação dos mediadores inflamató r ios estimulados pelo núcleo pulposo exacerba ainda mais os sintomas; Dois estudiosos dividiram o processo degenerativo em três fases: disfunção, instabilidade e estabilização; Após a disfunção, causada pela doença discai, ocorre " instabilidade do seguimento envolvido; A faceta articular e os ligamentos hipertrofiam na tentativa de restabilizar a articulação, contribuindo, então, para outras doenças, como estenose de canal e escolioses degenerativas; Dor neuropática A dor neuropática é aquela provocada por algum problema relacionado com o sistema neurológico; Quando os nervos periféricos são afetados por lesão ou doença, isso pode resultar em distúrbios sensoriais inusitados, que muitas vezes não podem ser tratados; As características observáveis que apontam para processos neuropáticos como causa de dor incluem dor generalizada que não pode ser explicada de outra maneira e sinais de déficit sensorial (p. ex., dormência, parestesia); As causas da dor neuropática são classificadas de acordo com o grau de envolvimento de nervos periféricos. Condições que podem levar a dor por provocar danos aos nervos periféricos em uma única área incluem compressão nervosa, compressão do nervo por massa tumoral e diversas neuralgias (p. ex., neuralgia do trigêmeo, pós-herpética e pós-traumática); A dor neuropática varia de acordo com a extensão e a localização da doença ou da lesão. Pode haver alodinia ou sensação dolorosa como se o indivíduo estivesse sendo esfaqueado, perfurado, queimado ou alvejado; A dor pode ser persistente ou intermitente; O diagnóstico depende do modo de manifestação, da distribuição das sensações anormais, da qualidade da dor e de outras condições clínicas relevantes; Manifestações clínicas e diagnóstico As lombalgias podem ser classificadas em agudas (início súbito e duração inferior a seis semanas), subaguda (duração de 6 a 12 semanas) ou crônicas (perdurando mais que 12 semanas); A dor aguda geralmente ocorre após a prática de atividades físicas; Quanto à evolução podem ser persistentes, episódicas ou recorrentes; As lombalgias são situações multifatoriais; A anamnese inclui a pesquisa dos seguintes itens: 1) Raça, idade e sexo: as diferentes patologias da coluna incidem preferencialmente em diferentes grupos populacionais; 2) Início da dor: quadro súbito e intenso sugere uma hérnia discal, enquanto que sintomatologia insidiosa sugere patologias degenerativas. A presença de fatores desencadeantes esportivos, profissionais e traumáticos pode levar ao diagnóstico correto; 3) Localização da dor: difusa ou localizada em algum segmento específico da coluna; 4) Irradiação da dor: com ou sem trajeto radicular específico. A dor irradiada abaixo do joelho geralmente é radicular. Dor irradiada apenas até o joelho pode estar relacionada com estruturas próprias da coluna (articulações posteriores, músculos e ligamentos); 5) Ritmo da dor: a dor que piora ao repouso e melhora com o movimento sugere patologia inflamatória como as espondiloartropatias. A dor que piora aos movimentos e melhora pelo menos parcialmente ao repouso sugere patologia mecânico-degenerativa. A dor fixa de intensidade crescente, sem fatores de melhora, sugere patologia infecciosa ou tumoral; 6) Características da dor: a dor radicular (compressão de nervos/ raízes nervosas) costuma ser lancinante, acompanhada de parestesias. Já a dor psicogênica costuma ser descrita em termos de sofrimento ou punição e não segue um trajeto dermatomérico específico, a dor da lombalgia mecânica costuma ser descrita como uma dor “surda”, profunda e mal delimitada; 7) Presença de febre e perda de peso: são sinaisde alerta para a pesquisa de infecção e tumores; 8) Apreciar o envolvimento psico-afetivo; 9) Avaliação da situação sócio-profissiona l com suas possíveis consequências no diagnóstico e tratamento; 10) Avaliação dos antecedentes pessoais e familiares que possam orientar um diagnóstico etiológico; A lombalgia e lombociatalgia mecânica é aliviada ao deitar-se e não apresenta piora à noite; A ciatalgia se irradia para os membros inferiores e pode estar associada a parestesias, perda sensitiva, fraqueza motora ou diminuição dos reflexos; portanto a distribuição da dor e os sintomas associados podem ajudar na identificação da raiz nervosa acometida; O período do dia que a dor é mais intensa deve ser investigado, pois, nas hérnias discais e nas lombalgias inflamatórias, a dor é normalmente mais intensa no período da manhã; Outros sintomas que frequentemente ajudam no diagnóstico da dor lombar é a piora da dor com tosse, espirro ou manobra de Valsalva, o que sugere herniação discal na maioria dos casos; EXAME FÍSICO O exame físico deve sempre incluir um exame geral procurando alterações nos diversos órgãos e sistemas, como pele, sistema respiratório, cardiovascular e outros; A seguir, o exame da coluna deve ser realizado de forma metódica e organizada para diminuir o tempo e o desconforto do exame; O paciente deve sempre estar desnudo para que o médico possa observar a presença de lesões cutâneas, deformidades, contraturas musculares etc; O exame inicia-se com o paciente em ortostase; Na inspeção, observam-se atitudes antálgicas, escoliose e alteração da lordose fisiológica; Na palpação, procuram-se não somente por pontos dolorosos, mas também espasmo muscular ou atrofias que, muitas vezes, são sinais inespecíficos, mas podem ocorrer por compressão de uma raiz motora ou doe nas neurológicas; Nas patologias discais, geralmente, ocorre uma piora da dor na flexão da coluna lombar por causa do aumento da pressão discal; O exame da marcha permite observar atitudes viciosas, bem como alterações das demais estruturas do membro inferior; A lesão da raiz S1 dificulta a marcha na ponta dos pés. Já a lesão da raiz L5 dificulta a marcha nos calcanhares; EXAME OSTEOARTICULAR Permite diferenciar problemas oriundos da coluna lombar daqueles provenientes de outras estruturas articulares; Especial atenção deve ser dada ao exame do quadril e das articulações sacroilíacas; A medida do comprimento dos membros permite identificar, ainda, uma diferença que poderia justificar uma sobrecarga mecânica; EXAME NEUROLÓGICO O exame motor, da sensibilidade e dos reflexos permite estabelecer uma topografia radicular típica; As raízes acometidas com mais frequência são as raízes L4, L5 e S1; A força de flexão da coxa é papel da raiz L4, enquanto que a dorsiflexão do pé é função da L5. A função motora da S1 pode ser examinada pela marcha nas pontas dos pés; A sensibilidade deve ser examinada ao longo dos membros inferiores; TESTES ESPECÍFICOS Sinal de Lesègue: Com o paciente em decúbito dorsal, eleva-se o membro, mantendo o joelho estendido. O teste é positivo quando houver dor entre 30 e 70 graus de extensão, indicando compressão radicular L5 ou S1; Teste do estiramento femoral: Com o paciente em decúbito ventral e o joelho fletido, a coxa é elevada acima da cama. A presença de dor na região anterior da coxa sugere compressão radicular L2 ou L3 e a dor na face medial da perna sugere envolvimento da raiz L4; Teste de Patrick: realizado também com o paciente em decúbito dorsal e com um membro inferior fletido, abduzido e em rotação externa. Com uma das mãos o examinador exerce uma pressão para baixo sobre o joelho ipsilateral e com a outra exerce uma força contra a espinha ilíaca ântero-superior da pelve, no lado contralateral. É muito importante e geralmente positivo se existe alguma doença do quadril ou da articulação sacro-ilíaca, o que é muitas vezes confundido com a compressão do nervo ciático; Teste de Babinski: É essencial ainda a diferenciação de compressão radicular, que ocorre principalmente nas hérnias discais, e quadros de neuropatia periférica ou de compressões tronculares; EXAMES DE IMAGEM Radiografia: O raio X simples constitui a primeira etapa da investigação radiológica. Uma radiografia de face com incidênc ia posterior centrada sobre o disco L4-L5, face centrada em L5-S1 e uma incidência de perfil são suficientes; Apesar do seu baixo custo e auxílio no diagnóstico de patologias vertebrais e discais, possui baixa sensibilidade e especificidade. O RX pode ser totalmente normal em pacientes com lombalgia; Ainda assim, o RX é útil como exame inic ia l, para estabelecer se há alterações da arquitetura da coluna e, particularmente, no diagnóstico de lesões vertebrais tumorais e fraturas; Tomografia Computadorizada (TC): A principal vantagem desse exame é a definição dos contornos ósseos, sendo, nesse aspecto, superior à ressonância magnética (RM); Pode ser solicitada nas lombalgias agudas, com evolução atípica, ou se houver evolução insatisfatória sem de1erminação da causa após quatro semanas de tratamento clínico; Ressonância Magnética (RM): Permite amplo campo de visão, demonstrando anatomicamente estruturas não-ósseas, como disco intervertebral, medula espinhal e raízes nervosas, ligamentos e estruturas paravertebrais; É o exame de escolha para visibilizar hérnias discais e processos degenerativos discais precocemente. É importante para avaliar o comprometimento de processos neoplásicos; Cintilografia óssea: Não é um exame solicitado na rotina. Nos casos de suspeita de espondilólise e lesões tumorais, pode ser solicitado por causa da alta sensibilidade; Mielografia: É um método invasivo com injeção de contraste, com indicações restritas, como avaliação de instabilidades e compressões durante o exame dinâmico; Sua maior utilidade está na possibilidade de avaliação dinâmica e na possibilidade de exame acoplado à TC; Suas principais indicações são o estudo topográfico pré-operatório de conflitos disco- radiculares, os casos de síndrome da cauda equina e o diagnóstico etiológico de radiculalgias atípicas; Hérnia discal É definida como o deslocamento do núcleo pulposo além dos limites do anel fibroso; Mais de 90% das hérnias lombares ocorrem no quarto e no quinto espaço intervertebra l lombar; Em cada espaço discal, dois níveis de raízes podem ser comprometidos; Por exemplo, hérnias póstero-laterais no espaço L4-L5 comprimem a raiz L5. Uma hérnia de localização extremo-lateral no mesmo espaço irá comprimir a raiz L4; A maioria dos pacientes com quadros de hérnia discal relata vários episódios de lombalgia aguda que se iniciaram ao redor da segunda década de vida; Estes ataques são normalmente precipitados por levantamento de peso ou outra atividade física importante; A radiculalgia costuma aparecer cerca de 10 anos após os primeiros episódios de lombalgia; Os pacientes se queixam de dor intensa e aguda que piora em ortostase, longos períodos em posição sentada, aos movimentos e à tosse. A dor melhora parcialmente com o repouso; Ao exame físico, observa-se uma atitude antálgica, com contratura paravertebral importante do lado da hérnia e mesmo diminuição da lordose lombar fisiológica; Os movimentos da coluna estão limitados. O sinal de Lasègue é positivo. O exame neurológico pode ser normal ou demonstrar alterações menores, principalmente sensitivas; Às vezes, um déficit no reflexo aquíleo ou uma paresia motora relacionada às raízes L5 ou S1; Tratamento O tratamento das lombalgias e lombociatalgias deve ser individualizado, dependendo da etiologia e do tempo de evolução; O repouso é eficaz tanto naslombalgias, como nas lombociatalgias e ciáticas, mas ele não pode ser prolongado, pois a inatividade tem ação deletéria sobre o aparelho locomotor; O paciente deve ser estimulado a retornar às suas atividades habituais, o mais rapidamente possível. Preconiza-se entre 3-4 dias o tempo de repouso e, no máximo, 5-6 dias; Existem várias classes de medicações u1ilizadas para a lomba lgia e a lombociatalgia, como analgésicos comuns, antiinflamató r ios não-hormonais, relaxantes musculares, antidepressivos tricíclicos e corticosteroides; O tratamento medicamen1oso deve ser iniciado de forma gradativa, iniciando-se com drogas menos potentes; Esse fator é importante para medir a resposta do paciente e possibilitar o uso de drogas mais potentes de acordo com o quadro clínico; Recomenda-se a analgesia da lombociata lgia aguda com Paracetamol, na dose de 500mg a 1g de 4 a 6 vezes ao dia, podendo-se associar antiinflamatórios não hormonais (AINHs) e também relaxantes musculares a curto prazo; Os antiinflamatórios, não-hormonais têm boa eficácia por causa do seu efeito antiinflamatório e analgésico, utilizado na dor aguda e na crônica agudizada; Porém deve-se evitar usá-los cronicameme, pois eles podem provocar complicações gastrointes1inais, cardiovasculares e, em alguns casos, renais; Os relaxantes musculares possuem eficácia comprovada nas crises de contraturas musculares; Os corricosteróides são indicados, principalmente, nos casos de lombociatalgias com infiltração ou inflamação das raízes nervosas; Os antidepressivos apresentam efeito ana lgésico e são utilizados principalmente, nos casos de dor neuropática; Os efeitos analgésicos iniciam-se, geralmen1e, en1re o quarto e quinto dia; O tratamento da dor crônica deve ser multidisciplinar, envolvendo a combinação do cuidado pessoal, analgesia, fisioterapia e, em alguns casos, injeções de glicocorticoides e procedimentos cirúrgicos; Os opioides têm sido cada vez mais utilizados na lombalgia crônica, mas o uso prolongado deve ser restrito a pacientes que demonstram melhora funcional com o uso do opioide, que apresentam baixo risco de usá-los indevidamente e que podem ser monitorados de perto; Na hérnia discal, a utilização de corticoides pode oferecer vantagens adicionais, uma vez que a inibição do processo inflamatório é mais completa e eficaz do que com AINHs; O tratamento é primariamente conservador, sendo a avaliação cirúrgica de urgência recomendada para os pacientes com fraqueza motora progressiva ou severa ou pacientes com evidências de síndrome da cauda equina; Caso contrário, a cirurgia deve ser considerada como tratamento eletivo para pacientes com radiculopatia e estenose de canal que têm sintomas incapacitantes crônicos e que não responderam apropriadamente à terapia não- cirúrgica; A imensa maioria das hérnias evolui bem com o tratamento conservador; Caso não haja melhora da dor após 4 a 6 semanas, uma investigação radiológica para documentar a alteração anatômica associada aos sintomas é indicada; Dependendo de cada caso, ressonância magnética, TC ou mielografia podem ser utilizados; Uma vez confirmada a causa da compressão, a injeção de corticosteróides por via epidural é indicada; A reabilitação fisioterápica é essencial na correção de hábitos e posturas, bem como no fortalecimento de musculatura e alongamento; Pacientes que não melhoram após 6 a 8 semanas devem ser encorajados a reinic iar atividades físicas, tomando o cuidado de limitar as atividades que aumentem a pressão intra- discal, como o levantamento de peso ou a posição sentada prolongada;