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NUTRIÇÃO APLICADA À ESTÉTICA Lina Sant Anna Nutrientes, obesidade e proeminência abdominal Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer os alimentos funcionais utilizados no controle da obesidade. � Explicar o papel das fibras e dos alimentos termogênicos no excesso de peso. � Especificar os fatores nutricionais e sua correlação com a proeminência abdominal. Introdução O aumento da prevalência da obesidade tornou-se um grande problema de saúde em todo o mundo, tanto em adultos quanto em crianças e adolescentes. Além disso, as adiposidades total e abdominal durante a adolescência estão associadas a doenças na idade adulta, como a aterosclerose. O acúmulo de gordura abdominal também está associado à maior resistência à insulina, ao passo que a obesidade está associada a uma grande diminuição na expectativa de vida (ENGIN, 2017; QASIM et al., 2017). Fatores como genética, condições ambientais, sociais e fatores bioló- gicos também podem ter relação com o aumento da obesidade. Outros fatores que influenciam na obesidade são o sedentarismo e a alimentação não saudável com padrões que determinam preferências alimentares por carboidratos simples e açúcares, frituras, alta ingestão de ácidos graxos saturados e, consequentemente, baixo consumo de alimentos ricos em fibras, vitaminas e minerais. Neste capítulo, você estudará as propriedades dos alimentos fun- cionais capazes de influenciar alvos fisiológicos específicos que podem ser úteis para a prevenção e o controle do excesso de peso. Além disso, estudará sobre as fibras alimentares solúveis e insolúveis e os alimentos termogênicos, bem como conhecerá suas fontes alimentares e funções no controle do peso. Por fim, verá exemplos de dietas hipercalóricas, flatulência, gordura dos alimentos e alimentos com alto índice glicêmico no desenvolvimento de proeminência abdominal. 1 Alimentos funcionais utilizados no controle da obesidade A obesidade é definida pela massa corporal desproporcional à altura com acúmulo excessivo de tecido adiposo, sendo geralmente acompanhada por inflamação sistêmica crônica de baixo grau. Nos últimos anos, ela vem sendo reconhecida como uma doença crônica que está associada ao desenvolvimento de outras condições clínicas, como diabetes melito tipo 2, doenças cardio- vasculares, alguns tipos de câncer, distúrbios osteomusculares, entre outras (TAYLOR, 2019). A obesidade é resultante do desequilíbrio entre a ingestão de energia e o gasto calórico, ou seja, um consumo de calorias acima da necessidade do indivíduo. Por ser uma doença metabólica complexa e multifatorial, com vários fatores que contribuem para o seu aumento, a obesidade é um fator de risco para morbidade e mortalidade prematura. O aumento do peso corporal desencadeia uma inflamação sistêmica em que, devido a uma resposta imune celular alterada, os adipócitos acabam alterando a expressão de leptina, angiotensina e adipocitocinas, causando fatores como fator de necrose tumoral α (TNF-α), fator nuclear kappa B (NF-κB), proteína C-reativa de alta sensibilidade (PCR-as) e resistina em expressão reduzida de adiponectina. Esses fatores inflamatórios desencadeiam uma gama de distúrbios metabólicos, como hipertensão, hiperlipidemia, resistência à insulina (hiperglicemia), hipercoagulação, bem como várias síndromes metabólicas, como doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e câncer. A leptina é um hormônio secretado pelos adipócitos (células de gordura), e sua concentração varia conforme a quantidade de tecido adiposo. Em indivíduos obesos, ocorre uma diminuição da sensibilidade à leptina, o que resulta na incapacidade de detectar a sensação de saciedade, mesmo com altos níveis de leptina (FARR; GAVRIELI; MANTZOROS, 2015). Nutrientes, obesidade e proeminência abdominal2 O sistema renina-angiotensina é um sistema hormonal endógeno envol- vido no controle da pressão sanguínea e do volume de líquidos corporais. A desregulação desse sistema causa doenças cardiovasculares por meio do de- senvolvimento da hipertensão. Entre os vários componentes-chave do sistema, os peptídeos da angiotensina, que variam em comprimento de aminoácidos e função biológica, têm papéis importantes na prevenção ou promoção de hipertensão, doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral (AVC) e remodelação vascular. Os peptídeos são gerados pelo metabolismo do angiotensinogênio inativo ou de seus derivados — angiotensina II, angiotensina (1-12), angiotensina A e angiotensina III — e se ligam principalmente ao receptor da angiotensina II tipo 1, causando vasoconstrição e acúmulo de marcadores inflamatórios na região subendotelial dos vasos sanguíneos e ativando a proliferação celular de músculo liso. No entanto, quando ligados ao receptor da angiotensina II tipo 2, a angiotensina II funciona como peptídeo cardioprotetor e interrompe os sinais celulares patológicos, auxiliando na proteção contra doenças cardiovasculares (HUSSAIN; AWAN, 2017). As adipocinas medeiam a interferência entre o tecido adiposo e outros órgãos metabólicos importantes, principalmente fígado, músculo e pâncreas, bem como o sistema nervoso central. A ocorrência de disfunções nas vias metabólicas das adipocinas leva ao comprometimento de funções em vários tecidos, gerando doenças. O TNF-α, uma citocina pró-inflamatória geral- mente produzida por células imunes, também é secretado no tecido adiposo em obesos. O TNF-α derivado de adipócitos desempenha um papel direto na resistência à insulina induzida pela obesidade. É importante ressaltar que algumas adipocinas também exibem características de citocinas ou regulam as respostas inflamatórias, e, portanto, esses dois grupos de fatores derivados do tecido adiposo são frequentemente referidos coletivamente como “adipo- citocinas” (CAO, 2014). O NF-κB é um regulador-chave de desenvolvimento imune, respostas imunes, inflamação e câncer, o qual está envolvido em respostas celulares geradas por estímulos como estresse, radicais livres, oxidação de LDL, entre outros. Quando ocorre uma regulação incorreta, o NF-κB é relacionado a doenças inflamatórias e autoimunes, uma vez que os nutrientes podem induzir respostas inflamatórias, levando à inflamação crônica ou mesmo ao equilí- brio desses processos tóxicos, dependendo do tipo e do grau de inflamação. A inflamação é um fator etiopatogênico essencial no desenvolvimento de obesidade, diabetes tipo 2, aterosclerose, entre outras doenças. Em conjunto, 3Nutrientes, obesidade e proeminência abdominal essas condições metabólicas e doenças associadas são resultantes de super- nutrição (TORNATORE et al., 2012). A proteína C-reativa (PCR) é um marcador crítico de inflamação e um preditor de mortalidade geral. A inflamação de baixo grau é uma caracterís- tica essencial da obesidade. Tem sido relatada uma forte associação entre a elevação da PCR e a obesidade abdominal (PARK et al., 2018). A obesidade é considerada como um processo inflamatório crônico de baixo grau que, além de causar danos em diversos órgãos, principalmente o fígado, e tecidos, como o adiposo e o muscular, causa danos também no sistema nervoso central. Diversos compostos têm sido indicados para a melhora dos processos inflamatórios em obesos, pois vários nutrientes desempenham um importante papel na mediação da inflamação e das alterações relacionadas. Os alimentos possuem fundamental importância nesse processo tanto para o aumento de peso como para a redução e o controle do peso. Nos últimos anos, os alimentos funcionais vêm conquistando o mercado, pois são considerados importantes para o controle de peso e da obesidade, além de terem propriedades benéficas. Eles possuem a capacidade de regular o consumo alimentar, atuando no eixo intestino-cérebro, no gasto de energia, por meio da homeostasia energética-termogênese, no metabolismo de lipídios, por meio inibição da lipase, e no ciclo de vidados adipócitos, por meio de um mecanismo epigenético ou genético. No Brasil, para que um alimento ou nutriente seja considerado como funcio- nal, deve ter suas propriedades aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo a Anvisa, a “Alegação de propriedade funcional é aquela relativa ao papel metabólico ou fisiológico que o nutriente ou não nutriente tem no crescimento, desenvolvimento, manutenção e outras funções normais do organismo humano […]” (BRASIL, 2013, documento on-line). Um alimento ou nutriente funcional é, portanto, aquele que tem a capacidade de promover saúde e bem-estar, reduzindo o risco do desenvolvimento de doenças. Os alimentos funcionais podem atuar no controle da ingestão alimentar, proporcionando a sensação de fome/saciedade, regulando os mediadores inflamatórios e o aumento do gasto energético, entre outras atribuições. É importante destacar que um alimento/nutriente funcional deve ser seguro para consumo, ou seja, não pode causar danos à saúde. Nutrientes, obesidade e proeminência abdominal4 Ácidos graxos poli-insaturados/ácidos graxos ômega 3 Os ácidos graxos ômega 3 são vitais para o funcionamento do corpo, por isso, também são conhecidos como ácidos graxos essenciais. Os principais ácidos graxos poli-insaturados (AGPI) são o ácido α-linolênico (ALA) ou araquidônico (18 carbonos, 3 ligações duplas), o ácido eicosapentaenoico EPA (20 carbonos, 5 ligações duplas) e o ácido docosaexaenoico (DHA; 22 carbonos, 6 ligações duplas). Esses ácidos graxos essenciais desempenham um papel importante na estrutura das membranas celulares e nos processos metabólicos. No entanto, como o organismo não consegue sintetizar o ômega 3, eles precisam ser ingeridos pela alimentação. As principais fontes alimentares de ALA são os alimentos de origem vegetal, como linhaça, soja, chia, nozes, entre outros. Já as principais fontes de EPA e DHA são produtos de origem marinha, como sardinha, salmão, atum, arenque e cavala. Os ácidos graxos ômega 3 estão presentes nas membranas celulares, parti- cularmente na bicamada lipídica da membrana plasmática, e, dependendo da proporção em que se encontram nessas membranas, podem sofrer alterações na sua fluidez e, portanto, em suas funções. O DHA é um dos mais abun- dantes componentes lipídicos da estrutura do cérebro, sendo considerado um componente-chave das membranas neuronais nos locais de transdução de sinal, o que indica que sua ação é vital para a função cerebral. A incorporação de EPA e DHA na dieta de um indivíduo pode influenciar não somente na composição lipídica e as estruturas celulares, mas também nas respostas fisiológicas relacionadas às membranas celulares, como os mecanismos de sinalização celular. Além disso, são considerados neuroprote- tores, visto que melhoram distúrbios neurológicos, como declínios cognitivos, demência, depressão, entre outros. Desse modo, o EPA e o DHA atuam como importantes agentes anti- -inflamatórios, pois exercem efeitos importantes nas vias inflamatórias, su- primindo a produção de citocinas e diminuindo a produção de eicosanoides pró-inflamatórios. Uma dieta enriquecida com ômega 3 é capaz de inibir a neuroinflamação, além de retardar o estresse oxidativo (DE MELLO et al., 2018). No tratamento da obesidade, o ômega 3 atenua o ganho de peso e reduz a gordura corporal, principalmente a gordura da região abdominal, por me- lhorar o quadro inflamatório e reduzir o estresse oxidativo. Além disso, tem a capacidade de inibir a atividade do NF-kB. 5Nutrientes, obesidade e proeminência abdominal Quercetina A quercetina é um flavonoide encontrado em frutas e vegetais, como cebola, uvas, maçã, entre outros. Ela possui ação antioxidante, anti-inflamatória, anti-hiperlipidêmica, anti-hipertensiva, anticâncer, antidiabética, bem como propriedades cardioprotetoras, neuroprotetoras e hepatoprotetoras. Na obesidade, a quercetina atua reduzindo o estresse oxidativo e a inflama- ção via NFkB, bem como melhora o nível de adiponectina, inibe a adipogênese e induz o metabolismo dos carboidratos. Resveratrol É um composto polifenólico que pertence à superfamília da fitoalexina. As principais fontes alimentares de resveratrol são uvas vermelhas (vinho tinto), frutas vermelhas e romãs. Ele possui ação antioxidante, anti-inflamatória e hipolipidêmica, atuando de maneira positiva em doenças cardiovasculares e câncer. Além de retardar o esvaziamento gástrico, o resveratrol inibe a adipogênese e a expressão de várias moléculas de sinalização, como a leptina e a resistina. Cúrcuma A cúrcuma longa ou açafrão é um tempero tropical popularmente utilizado como corante amarelo, além de aromatizar preparações, principalmente na culinária indiana. Ela possui propriedades antiestresse, antioxidantes, anti- -inflamatórias, antiapoptóticas, anti-hiperlipidêmicas, antiobesidade, antia- teroscleróticas, anticâncer e atividades antidiabéticas, além de estimular a lipólise e suprimir a lipogênese. Probióticos e prebióticos Os probióticos são bactérias vivas que residem no intestino humano e de- sempenham um papel vital no sistema de saúde. São considerados bactérias benéficas, principalmente Bifidobacterium e Lactobacillus spp. Já os prebióticos são os componentes não digestivos que ajudam no crescimento de probióticos, resultando em uma flora intestinal mais saudável. São exemplos de prebióticos: inulina, frutanos, frutose, galacto-oligossacarídeos e ingredientes alimentares. Nutrientes, obesidade e proeminência abdominal6 O uso combinado de pré e probióticos é chamado de simbiótico e, portanto, auxilia na melhoria da saúde do hospedeiro. Os probióticos possuem diversas propriedades, agindo como anti-inflamatórios, antioxidantes, imunomodula- dores, anticâncer, anti-hiperlipidêmicos e antiobesidade. Na obesidade, os probióticos auxiliam na absorção do colesterol, pois pos- suem bile-hidrolase ácida. Além disso, auxiliam na interrupção da lipogênese e melhoram a sensibilidade à insulina, auxiliando na redução de peso. 2 Fibras e alimentos termogênicos no excesso de peso O termo “fibra alimentar” foi descrito pela primeira vez em 1953, no entanto, seus benefícios para a saúde como um alimento rico em fibras são relatados há muito tempo. No ano de 430 a.C., Hipócrates descreveu os efeitos laxantes do trigo grosso em comparação com o trigo refinado, e, na década de 1920, Kellogg fez grandes publicações sobre as funções do farelo, alegando que ele aumentava o peso das fezes, promovia o laxamento e prevenia doenças. No entanto, na década de 1970, Denis Burkitt repopularizou a ideia do consumo de fibras como alimentos benéficos e protetores contra diversas doenças, como diabetes, doenças cardiovasculares, câncer de cólon e obesidade (SLAVIN, 2013). As fibras eram definidas como componentes químicos, como celulose, hemicelulose, pectina e lignina. No ano de 2001, o Institute of Medicine (IOM) desenvolveu o seguinte conjunto de definições para fibras no suprimento de alimentos: � a fibra alimentar consiste em carboidratos não digeríveis e lignina, intrínsecos e intactos nas plantas; � a fibra funcional consiste em carboidratos isolados e não digeríveis que têm efeitos fisiológicos benéficos em seres humanos. Essas definições incluem fontes vegetais, animais e de fibras manufaturadas que possuem efeitos fisiológicos benéficos em seres humanos. Em geral, as fibras eram classificadas conforme a sua solubilidade — solú- veis ou insolúveis—, sendo essa classificação ainda utilizada para rotulagens nutricionais, com recomendação de 25 g de fibras ao dia. 7Nutrientes, obesidade e proeminência abdominal O Quadro 1, a seguir, apresenta uma classificação das fibras conforme as suas características de solubilidade, viscosidade e fermentabilidade. Fibra Classificação Fontes Fibra alimentar Lignina Partes mais endurecidas da cenoura, brócolis e sementes Celulose Frutas com casca, grãos integrais, farelos e sementesβ-Glucano Aveia, farelos, quinoa, cevada, centeio, cogumelos Pectina e hemicelulose Frutas cítricas, como laranja e limão, maçã e legumes Amido resistente Farinha de banana verde Fibras solúveis β-Glucano Aveia, farelos, quinoa, cevada, centeio, cogumelos Dextrina de trigo Trigo, milho Psyllium Semente da erva Plantago ovata Pectina Frutas cítricas, como laranja e limão, maçã e legumes Inulina Cebola, alho, chicória, trigo e bardana Fibras fermentáveis Dextrina de trigo Trigo, milho Pectina Frutas cítricas, como laranja e limão, maçã e legumes β-Glucano Aveia, farelos, quinoa, cevada, centeio, cogumelos Goma guar Farelo de aveia, farinha de aveia, farelo de cevada Inulina Cebola, alho, chicória, trigo e bardana Quadro 1. Classificação das fibras conforme propriedades físicas e químicas, como solu- bilidade, viscosidade, fermentabilidade e funcionalidade (Continua) Nutrientes, obesidade e proeminência abdominal8 Fonte: Adaptado de Slavin (2013). Fibra Classificação Fontes Fibras viscosas Pectina Frutas cítricas como laranja, limão, maçã e legumes β-Glucano Aveia, farelos, quinoa, cevada, centeio, cogumelos Goma guar Farelo de aveia, farinha de aveia, farelo de cevada Psyllium Semente da erva Plantago ovata Fibras funcionais Dextrinas resistentes Obtida a partir da hidrólise ácida do amido Psyllium Semente da erva Plantago ovata Fruto- oligossacarídeos Cebola, banana, alcachofra, alho, chicória e batata yacon Polidextrose Frutas e leguminosas Amido resistente Farinha de banana verde Fibras insolúveis Celulose Frutas com casca, grãos integrais, farelos e sementes Lignina Partes mais endurecidas da cenoura, brócolis e sementes Algumas pectinas Frutas cítricas, como laranja e limão, maçã e legumes Algumas hemiceluloses Grãos de cereais, farelo de trigo, soja e centeio Fibras não fermentáveis Celulose Frutas com casca, grãos integrais, farelos e sementes Lignina Partes mais endurecidas da cenoura, brócolis e sementes Fibras não viscosas Polidextrose Frutas e leguminosas Inulina Cebola, alho, chicória, trigo e bardana Quadro 1. Classificação das fibras conforme propriedades físicas e químicas, como solu- bilidade, viscosidade, fermentabilidade e funcionalidade (Continuação) 9Nutrientes, obesidade e proeminência abdominal Fibras viscosas são aquelas que possuem propriedades para formar gel no trato intestinal, ao passo que as fibras fermentáveis são aquelas que podem ser metabolizadas por bactérias intestinais. De modo geral, as fibras solúveis também são fermentáveis e possuem alta viscosidade quando comparadas às fibras insolúveis. Todavia, nem todas as fibras solúveis são viscosas, assim como algumas fibras insolúveis são também fermentáveis. As fibras possuem diversas funções benéficas ao organismo, sendo as principais listadas a seguir. � Laxação: o consumo regular de fibras aumenta o peso das fezes e sua maciez, devido à capacidade das fibras de reter água e ao aumento da massa bacteriana de fermentação. Um volume maior de fezes mais macias facilita a defecação, auxiliando na melhora de quadros de consti- pação intestinal. O farelo de trigo é considerado como “padrão-ouro” no aumento do volume fecal. Já a inulina não tem a capacidade de aumentar o volume fecal, mas é uma fibra altamente fermentável. � Controle do apetite: alimentos ricos em fibras precisam ser mastigados por um tempo maior, o que promove maior saciedade. Algumas fibras solúveis ou viscosas que se ligam à água podem aumentar a distensão gástrica. Além disso, acredita-se que a distensão do estômago desenca- deie sinais vagais aferentes de plenitude, o que provavelmente contribui para saciar a fome durante as refeições e proporciona maior sensação de saciedade no período pós-refeição. � Controle do peso corporal: a ingestão regular de fibras está associada a fatores como estilo de vida, maior ingestão de frutas e verduras e, consequentemente, menor consumo de alimentos com alto teor calórico, como as frituras. Assim, indivíduos com maior consumo de fibras tendem a ter menor peso corporal (THOMPSON et al., 2017). � Proteção contra doenças cardiovasculares: a ingestão adequada de fibras reduz o risco de doenças cardiovasculares e coronarianas, devido à redução nos níveis de lipoproteínas de baixa densidade (LDL, do inglês low-density lipoprotein). As fibras solúveis em água (princi- palmente β-glucano, psyllium, pectina e goma guar) são mais eficazes na redução das concentrações séricas de colesterol LDL, sem afetar as concentrações de lipoproteína de alta densidade (HDL, do inglês high-density lipoprotein). Para a redução de lipídios no sangue, são utilizadas a aveia, a cevada e a psyllium, além das fibras solúveis, como os glucanos e as pectinas. Nutrientes, obesidade e proeminência abdominal10 � Diabetes tipo II e controle glicêmico: o consumo regular de fibra diminui a absorção de glicose, impedindo o ganho de peso e prevenindo o diabetes. � Efeitos prebióticos: os prebióticos são substâncias não digeríveis que fornecem um efeito fisiológico benéfico ao hospedeiro, estimulando seletivamente o crescimento ou a atividade favorável de um número limitado de bactérias intestinais. Os benefícios dos prebióticos in- cluem melhoria na função da barreira intestinal, imunidade, redução de subpopulações de bactérias potencialmente patogênicas e aumento da produção de bactérias benéficas, como as bifidobactérias e os lac- tobacilos. Os principais benefícios dos prebióticos à saúde são: ■ reduz a prevalência e a duração da diarreia infecciosa associada a antibióticos; ■ reduz a inflamação e os sintomas associados à doença inflamatória intestinal; ■ exerce efeitos protetores para prevenir o câncer de cólon; ■ melhora a biodisponibilidade e a absorção de minerais, incluindo cálcio, magnésio e, possivelmente, ferro; ■ diminui alguns fatores de risco para doenças cardiovasculares; ■ promove a saciedade e a perda de peso, além de prevenir a obesidade. Alimentos termogênicos A termogênese é um processo de conversão de calorias proveniente dos nu- trientes em energia térmica essencial para a homeostasia corporal, sendo responsável pela termorregulação, a manutenção do metabolismo saudável e o controle do peso corporal. O gasto total de energia de um indivíduo inclui a energia necessária para desempenhar as funções celulares e orgânicas, o gasto de energia induzido pela dieta, ou, em algumas situações, a exposição ao frio, e o gasto de energia induzido pela atividade física. O gasto energético de 24 horas é a soma do gasto energético em repouso, que inclui o trabalho cardiorrespiratório e o trabalho de manter os gradientes de íons transmembranares em repouso, atividades que correspondem a aproxi- madamente 60% do gasto energético total. Já o efeito térmico do alimento que envolve o trabalho de digestão equivale a aproximadamente 5 a 10% do gasto energético. Por fim, o gasto energético fora de repouso equivale à energia gasta em atividade física acima do repouso, o que corresponde a aproximadamente 30 a 40% do gasto energético total. 11Nutrientes, obesidade e proeminência abdominal Termogênese adaptativa é o termo usado quando ocorrem alterações no gasto energético devido à dieta ou à exposição ao frio. A obesidade indica defeitos nesse processo de termogênese adaptativa, bem como no mecanismo de manutenção da composição corporal e do peso saudáveis. A termogênese adaptativa pode ser modificada por alimentos e suplementos alimentares. Portanto, alimentos que estimulam a termogênese ou estimulam o sistema nervoso central são conhecidos como termogênicos. Catequinas As catequinas são fitonutrientes da família dos polifenóis, as quais possuem forte ação antioxidante e anti-inflamatória, atuando diretamente no estresse oxidativo. As principais fontes de catequinas são: chá verde, cerejas, amoras, framboesas, mirtilo, uva roxa e vinho tinto. Chá verde Obtido de folhas secas da plantaCamellia sinensis, o chá verde é preparado por meio da infusão das folhas secas em água quente. Durante esse processo, a polifenol-oxidase é inativada, e os polifenóis são preservados. As catequinas presentes no chá verde possuem ação antiobesidade, devido à inibição da diferenciação de pré-adipócitos, na diminuição da proliferação de adipócitos, na indução de apoptose de adipócitos, na supressão da lipogênese e na pro- moção da lipólise e da β-oxidação de ácidos graxos. As catequinas regulam positivamente a lipólise e a termogênese, diminuindo a gordura corporal, os lipídeos totais, o colesterol e os triacilgliceróis, bem como reduzem a peroxi- dação lipídica e melhoram a homeostasia da glicose. O chá verde possui cerca de 35% de sua massa total constituída de polifenóis. Uma preparação com 1 grama de chá verde em 100 mL de água sob fervura por 3 minutos contém cerca de 35 a 45 mg de catequinas, sendo a mais abundante a epigalocatecina-3- -galato, correspondendo a cerca de 68% das catequinas presentes no chá verde. O chá verde pode ser tomado até 3 vezes ao dia, porém o consumo de dois copos por dia é suficiente para obter todos os benefícios das catequinas. Nutrientes, obesidade e proeminência abdominal12 Cafeína A cafeína, um alcaloide que ocorre naturalmente, é encontrada em quantidades variadas nas folhas e nos frutos de mais de 60 plantas. Algumas fontes comuns de cafeína são o cacau, a erva-mate e o guaraná, mas as principais fontes são o café e o chá verde (Camellia sinensis). A cafeína é um composto lipossolúvel, portanto consegue atravessar a barreira hematoencefálica, afetando a função neural e aumentando a excitabilidade do sistema nervoso simpático, o que suprime a fome e aumenta a saciedade. É também conhecida por seus efeitos no balanço energético. No entanto, é importante ressaltar que, em indivíduos obesos, ocorrem modificações no fluxo sanguíneo, portanto o resultado no consumo de alimentos termogênicos não é igual em indivíduos com diferentes massas corporais (HARPAZ et al., 2017). Pimenta-caiena ou Capsicum (capsaicina/capsinoide) Capsicum ou pimenta-caiena é um tempero utilizado na culinária de diversos países, conferindo sabor picante à comida, além de várias propriedades funcio- nais. Destaca-se como analgésico, anti-inflamatório, antioxidante, anticâncer, antiobesidade, além de ser um importante composto para o tratamento de rinite, artrite reumatoide e doença neurodegenerativa. A Capsicum atua como termogênico, melhorando o gasto energético, e inibe a adipogênese, regulando a diferenciação dos adipócitos. Gengibre ou Zingiber officinale O rizoma ou raiz chamado de gengibre é uma planta pertencente à família Zingiberaceae. O gengibre é um tempero popular, tanto fresco como seco, utilizado comumente para dar sabor aos alimentos. Ele possui propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, antieméticas, anti-hiperlipidêmicas, antio- besidade, anticâncer e hipoglicêmicas; portanto, é considerado um alimento funcional. O gengibre atua suprimindo a lipogênese e a adipogênese, além de aumentar a termogênese, a captação de serotonina e dopamina e a saciedade. Além disso, ele inibe a absorção de gordura e colesterol intestinal e altera o metabolismo de carboidratos. 13Nutrientes, obesidade e proeminência abdominal Carotenoides São pigmentos com atividade antioxidante e com potencial de conversão em vitamina A. Os carotenos incluem o β-caroteno, α-caroteno, β-criptoxantina e γ-caroteno, que, além de serem compostos antioxidantes, também podem ser convertidos em vitamina A no corpo. As xantofilas incluem luteína, astaxantina, zeaxantina e fucoxantina, as quais desempenham importantes funções como antioxidantes. Elas possuem a capacidade de aumentar o gasto energético em repouso e, devido ao seu potencial antioxidante, atuam diretamente nas células do tecido adiposo, auxiliando na redução de peso. Flavonoides Os flavonoides são pigmentos polifenólicos de plantas que possuem um papel biológico versátil como mensageiros químicos, reguladores fisiológicos e inibidores do ciclo celular. São classificados em flavonoides ou bioflavonoi- des, isoflavonoides e neoflavonoides. Os flavonoides são promissores agentes terapêuticos no tratamento da desregulação metabólica, visto que diminuem a resposta inflamatória no fígado e no tecido adiposo, prevenindo, assim, a obesidade (STOHS; BADMAEV, 2016). Canela A canela contém um óleo essencial, conhecido como cinamaldeído, que pode reduzir o ganho de peso e melhorar a homeostasia da glicose. A ingestão diária de cinamaldeído leva à proteção metabólica, aumentando o gasto energético e a oxidação pós-prandial da gordura (JIANG et al., 2017). Diversos estudos vêm sendo realizados para identificar compostos nu- tricionais com importância metabólica para a ativação e a estimulação da termogênese corporal, com o objetivo de reduzir a obesidade e melhorar a qualidade de vida das pessoas. Nutrientes, obesidade e proeminência abdominal14 3 Fatores nutricionais e sua correlação com a proeminência abdominal A obesidade, especificamente a adiposidade visceral, vem aumentando devido a mudanças na adiposidade total em indivíduos de todas as classes socioe- conômicas e políticas. Esse aumento implica um maior fator de risco para o desenvolvimento de diversas doenças, entre elas o aumento dos ácidos graxos livres na circulação, levando a lipotoxicidade para outros órgãos, como o fígado e os músculos, além de causar dislipidemias, como o aumento de LDL, a redução de HDL, o desenvolvimento de aterosclerose e, consequentemente, doenças cardiovasculares. A obesidade abdominal é o fator mais robusto no diagnóstico da síndrome metabólica, daí a importância de se medir a circunferência da cintura para classificar o paciente e determinar seu risco cardiovascular. O tecido adiposo abdominal pode levar ao aumento da resistência à insulina, dos níveis séricos de lipídeos e dos índices de inflamação (PCR, interleucina e selectinas), o que diminui a concentração de proteínas que agem positivamente no sistema circulatório, contribuindo, assim, para o desenvolvimento de doenças cardio- vasculares, diabetes melito 2, doenças hormonais e tumores. A circunferência da cintura é uma medida fácil e que representa o conte- údo de gordura visceral. A gordura visceral é um órgão endócrino que libera citocinas e adipocinas, favorece a resistência à insulina, aumenta os níveis de angiotensina II e, portanto, favorece a hipertensão arterial. Ela está relacionada ao aumento de processos trombóticos e inflamatórios, além de ao aumento do colesterol e, portanto, do risco cardiovascular (BUENDIA et al., 2019). A nutrição é essencial à vida, pois exerce a função de produção de energia, crescimento, desenvolvimento, reprodução e manutenção da vida. Os nutrientes incluem os macro e os micronutrientes, sendo os macronutrientes os carboidratos, proteínas e lipídios, e os micronutrientes, as vitaminas e minerais, além dos compostos antioxidantes. A mudança nos parâmetros nutricionais da população levou a um aumento expressivo no consumo de alimentos ultraprocessados em detrimento dos alimentos in natura ou minimamente processados. Aliado a isso, o crescimento do sedentarismo facilitou o aumento do índice de obesidade. Essa mudança acarretou uma modificação metabólica, levando à obesidade e ao aumento da adiposidade abdominal. 15Nutrientes, obesidade e proeminência abdominal Desse modo, mudanças no estilo de vida e nos hábitos alimentares são fatores importantes para reduzir a obesidade abdominal. Nesse processo, é importante levar em consideração os compostos metabolicamente ativos que tenham me- canismos de ação para atuar no desequilíbrio energético para o controle da obesidade, seja por meio do aumento da termogênese ou modulação da lipólise. Atualmente, muitos compostos alimentares estão sendo relatados para o controle da obesidade. Em geral, esses compostos atuam metabolicamenteno aumento do gasto de energia, aumento da oxidação da gordura, diminuição da absorção de gordura e aumento da saciedade, por meio da regulação de vias de sinalização relacionadas e alvos moleculares específicos, principalmente no tecido adiposo e no fígado. É importante ressaltar que a obesidade abdominal está associada a baixos níveis de magnésio, zinco e vitaminas C e E. A seguir, são apresentadas as funções dos principais nutrientes necessários no processo de redução da obesidade abdominal. Magnésio O magnésio é um mineral essencial ao organismo, e, como macroelemento, é um dos quatro mais importantes cátions (sódio, potássio, cálcio e magnésio) e o segundo mais importante depois do potássio. É um elemento intracelular necessário para a vida. O magnésio é encontrado em várias fontes alimentares, incluindo grãos integrais, vegetais de folhas verdes, legumes e nozes. O magnésio é um cofator para centenas de reações corporais, incluindo o efeito estabilizador no DNA. Ele participa do transporte e da oxidação da gli- cose e de reações envolvendo fosforilação e troca de energia, além possuir uma importante ação no metabolismo da insulina. A deficiência de magnésio causa distúrbios cardiovasculares, resistência à insulina, distúrbios da menstruação, incluindo abortos espontâneos, partos prematuros e eclampsia puerperal. Está associado com maior suscetibilidade a infecções e reações alérgicas, incluindo urticária e bronquite. A deficiência de magnésio também está associada ao desenvolvimento da síndrome metabólica, e baixos níveis de magnésio estão associados fortemente ao aumento do estresse inflamatório e oxidativo. Pacientes com obesidade apresentam normalmente baixos níveis de mag- nésio, o que pode ser atribuído ao aumento do estresse, que leva à ativação das vias inflamatórias. A adiposidade visceral é conhecida por predispor as pessoas à redução da sensibilidade à insulina, o que, por sua vez, pode piorar o status do magnésio. A maior resistência à ação da insulina pode explicar a forte associação entre a circunferência abdominal e a hipomagnesemia (KOKOT et al., 2019). Nutrientes, obesidade e proeminência abdominal16 Fibras As fibras exercem um papel fundamental no processo de redução do tecido adiposo abdominal, uma vez que aumentam a capacidade do intestino delgado de absorver os ácidos biliares, o que aumenta a quantidade de ácidos biliares que são eliminados pelas fezes. Para compensar a perda de ácidos biliares, o fígado aumenta sua atividade na conversão do colesterol armazenado em ácidos biliares, diminuindo, assim, os níveis de colesterol. Dessa forma, a fibra se liga a vários nutrientes e enzimas essenciais no sistema digestório e, portanto, retarda os efeitos digestivos nos intestinos. O consumo regular de fibras está associado à redução de doenças, como as gastrintestinais, doenças cardíacas, diabetes tipo 2, hipertensão arterial, câncer e redução do peso, além de reduzir o tecido adiposo abdominal. Verifica-se uma relação positiva entre o aumento no consumo de fibras e a redução do tecido adiposo abdominal, sendo que fibras provenientes de fontes de cereais possuem melhor efeito sobre a redução da adiposidade abdominal. O consumo regular de fibras auxilia na redução da gordura, porém deve estar associado ao consumo de água (KIM, 2019). Azeite O azeite de oliva tem sido indicado como um excelente componente alimen- tar para a redução de processos inflamatórios e danos oxidativos no tecido adiposo e no transporte de lipoproteínas corporais. A lipotoxicidade é uma síndrome comum em que os ácidos graxos de cadeia longa não oxidados (p. ex., triacilglicerol) são armazenados no tecido adiposo do corpo. A redução da lipotoxicidade, como resultado de uma maior ingestão de azeite, diminui as células B no interior do tecido adiposo, o que, por sua vez, leva a uma diminuição dos ácidos graxos de cadeia longa. Isso desencadeia uma redução do armazenamento global de células lipídicas, reduzindo, consequentemente, o índice de massa corporal (IMC) de um indivíduo obeso. 17Nutrientes, obesidade e proeminência abdominal A dieta mediterrânea inclui um nível moderado a alto de consumo de azeite de oliva (entre outros alimentos saudáveis), o que tem sido correlacionado com o aumento da longevidade e a diminuição da incidência de doenças crônicas importantes, como a obesidade. O azeite tem demonstrado possuir ações antioxidantes e componentes anti- -inflamatórios que, quando consumidos regularmente, demonstram benefícios significativos para a saúde. Os compostos anti-inflamatórios presentes no azeite beneficiam positivamente o corpo por meio da mediação da quantidade de células lipídicas. Assim, uma dieta rica em azeite pode melhorar o estresse oxidativo e a inflamação no corpo. Esse tipo de dieta também permite a dimi- nuição da inflamação crônica, que contribui para o metabolismo e distúrbios endócrinos, como a obesidade. O azeite possui compostos fenólicos que diminuem os processos de lipoto- xicidade, tornando as células lipídicas anti-inflamatórias e, metabolicamente, menos complicadas. Isso tem um efeito significativo no peso corporal e no tamanho das células adiposas, que, mais tarde, se transformam em gordura visceral (BELL, 2019). Antocianinas São flavonoides encontrados em grandes concentrações em chás, vinhos, frutas, vegetais, nozes, azeite, cacau e cereais, os quais apresentam uma cor vívida, de vermelho a azul. Atualmente, as antocianinas são reconhecidas como um importante fator alimentar, com função fisiológica significativa para a saúde, incluindo as ações anti-inflamatórias, antioxidantes, antiobesidade e antidiabéticas. As antocianinas têm a capacidade de melhorar a secreção de adipocitocinas, como a leptina e a adiponectina, regulando a expressão gênica específica dos adipócitos. Alimentos como mirtilo, uva, framboesa e amora são excelentes fontes de antocianinas, pois têm demonstrado ação de diminuição da pro- liferação e viabilidade de células pré-adipócitas, regulando a expressão da adipogênese e reduzindo a expressão de adipocitocinas pró-inflamatórias. Outra função das antocianinas é a de redução dos triacilgliceróis. Além disso, Nutrientes, obesidade e proeminência abdominal18 uma das principais funções da ação das antocianinas na redução da adiposidade abdominal é a conversão do tecido adiposo branco pelo tecido adiposo marrom em uma ação chamada de efeito de escurecimento (KANG; LEE; LEE, 2019). Carotenoides Os carotenoides pertencem à família dos tetraterpenos, sendo encontrados principalmente em plantas, algas, bactérias fotossintéticas e animais. São os pigmentos mais importantes na determinação de várias cores de plantas e animais. Carotenoides como o β-caroteno e a β-criptoxantina são bem conhe- cidos como carotenoides pró-vitamina A. Também existem os carotenoides não pró-vitamina A, os quais desempenham um papel na prevenção de doenças crônicas, como doenças cardiovasculares, degeneração macular relacionada à idade e câncer. Além disso, estudos epidemiológicos estabeleceram uma cor- relação positiva entre o consumo de carotenoides e a redução do risco câncer, uma vez que eles diminuem o risco de doenças e distúrbios, devido ao poder de reduzir o estresse oxidativo nos tecidos. Por exemplo, a astaxantina tem efeitos protetores no LDL e nas células endoteliais contra lesões oxidativas. O carotenoide fucoxantina, por sua vez, tem efeito antiobesidade, agindo na redução da gordura abdominal, por meio da diminuição da expressão de adipocitocinas pró-inflamatórias e indutoras de resistência à insulina. Ele age também na diferenciação e na adipogênese do tecido adiposo, evitando o acúmulo lipídico intercelular (MIYASHITA; HOSOKAWA, 2019). Outros compostos alimentares também são muito estudados em virtude de seu efeito no aumento do metabolismo energético (função termogênica), com efeitos benéficos na redução do peso e da gordura abdominal. Algunsexem- plos são: ácidos graxos, ácido all-trans-retinoico, isotiocianato da mostarda, capsaicina e capsiar de pimentas, paradol de gengibre, cafeína, oleuropeína de azeitona e antocianinas. Atualmente, a indústria de alimentos oferece à população uma alimenta- ção rica em calorias, gorduras, açúcares, entre outros componentes tóxicos ao corpo, o que leva a acúmulos de toxinas e gorduras. Essa mudança na qualidade dos alimentos e o excesso de alguns nutrientes estão diretamente relacionados com depósitos de gordura visceral mais elevados e aumento do risco de desenvolvimento de obesidade e outras doenças metabólicas. Portanto, a qualidade e a quantidade do consumo diário de nutrientes é responsável pela manutenção da homeostasia celular e tecidual. 19Nutrientes, obesidade e proeminência abdominal BELL, S. The positive effects of olive oil toward lipotoxicity and obesity. In: WATSON, R. (ed.). Nutrition in the prevention and treatment of abdominal obesity. [S. l.]: Elsevier, 2019. p. 431–435. BRASIL. ANVISA. Guia para comprovação da segurança de alimentos e ingredientes. 2013. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/395734/Guia+para+Co mprova%C3%A7%C3%A3o+da+Seguran%C3%A7a+de+Alimentos+e+Ingredientes/ f3429948-03db-4c02-ae9c-ee60a593ad9c. Acesso em: 14 jan. 2020. BUENDIA, R. et al. Waist circumference: measures and applications to obesity. In: WAT- SON, R. (ed.). Nutrition in the prevention and treatment of abdominal obesity. [S. l.]: Elsevier, 2019. p. 73–79. CAO, H. Adipocytokines in obesity and metabolic disease. Journal of Endocrinology, [s. l.], v. 220, n. 2, p. 47–59, 2014. 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