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ABDOME AGUDO INTRODUÇÃO Refere-se a uma afecção/síndrome, não traumá- tica, que ocorre de modo súbito nas vísceras ab- dominais, perdurando por mais de 6 horas e sendo necessária decisão urgente (relacionada a neces- sidade ou não de operação). Os passos para diagnóstico de um quadro de abdome agudo envolvem: 1) reconhecer a sín- drome de abdome agudo; 2) identificar se é um quadro operatório ou não. LAPAROSCOPIA Na laparoscopia realiza-se uma exploração da cavidade abdominal de forma sistemática (ou seja, faz em todos os pacientes) e sistematizada (seguindo um roteiro). O roteiro é o seguinte: re- gião hepática → cúpulas diafragmáticas → região esplênica → flanco esquerdo → pelve → flanco direito → íleo terminal. - RECOMENDAÇÕES PARA REALIZAÇÃO: Pacien- tes estáveis hemodinamicamente; Pacientes com ausência de distensão abdominal; Ausência de distúrbios de coagulação;Cirurgias abdominais prévias (a não ser que o paciente tenha uma grande aderencia que prejudique a visualização na laparoscopia) não contraindica laparoscopia. Nota: O compromisso é com o paciente e não com o método (se via laparoscópica não for segu- ra converter para via aberta). - CONTRAINDICAÇÕES: Pacientes instáveis he- modinamicamente – mas também contraindica laparotomia; Distensão abdominal significativa – (prejudica o campo de trabalho e risco de perfu- ração de víscera oca) é a maior dificuldade para tratar paciente com abdome agudo por laparos- copia, pois nesse caso não há espaço para traba- lhar, devendo-se realizar laparotomia. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DOR VISCERAL X DOR PARIETAL • Dor Visceral: essa é uma dor mal localizada, na linha mediana do abdome. É determinada pelo sistema nervoso autônomo, especialmente o simpático, e é causada por distensão, infama- ção e isquemia. A dor visceral possui um início gradual, de longa duração, tipo cólica, perium- bilical. • Dor Parietal: nesses tipo de dor é possível locali- zar o ponto doloroso e isso é possível pois, nesse momento, o processo infamatório atingiu o pe- ritônio da víscera e, ao fazê-lo, a dor se localiza no local correspondente ao processo infamató- rio. Assim, essa dor ocorre quando o peritônio da víscera é machucado, seja por isquemia, infa- mação ou perfuração. A dor parietal é conduzi- da pelos últimos seis nervos somáticos e se mani- festa por estímulo das raízes nervosas de T6 a L1, se localizando nos quadrantes do abdome. De- corre de edema e congestão vascular e essa dor é acompanhada dos sinais de irritação peri- toneal → quando passa por um quebra-molas a dor piora!!! “Sinal do Buraco ou Sinal do que- bramola” SINAIS DE IRRITAÇÃO PERITONEAL: DOR, DEFESA, CONTRATURA E DESCOMPRESSÃO BRUSCA DOLO- ROSA POSITIVA. Esses são os “sinais comemorativos de abdome agudo cirúrgico” e, portanto, autori- zam o médico a intervir cirurgicamente no pacien- te na impossibilidade de maiores investigações, pois esses sinais indicam acometimento peritoneal. No ponto de McBurney (fossa ilíaca direita) é chamado de Blumberg; no ponto cístico (hipo- condrio direito) chama-se Murphy. É importante saber que a peritonite localizada: pega apenas um quadrante enquanto a peritoni- te difusa pega todo o abdome. OBS: Peritonismo: Um paciente com abdome agudo clínico, não operatório, também pode apresentar os sinais de irritação peritoneal (dor, defesa, contratura e descompressão brusca e do- lorosa). Contudo, nesses casos não se tem peritoni- te e sim peritonismo. Ou seja, não há, de fato, uma inflamação no peritônio. ANATOMIA TOPOGRÁFICA Exemplos: • Paciente com 4 filhos, 40 anos, obesa. Dor e sinais de irritação peritoneal no hipocôn- drio direito. Murphy positivo → colicistite aguda (como tem irritação peritoneal signi- fica que o processo infamatório atingiu a Amanda Viol parede da vesícula). Deve-se, portanto, pe- dir USG. • Paciente com quadro sugestivo de obstru- ção intestinal. Ao exame clínico apresenta uma hérnia inguinal. Diagnóstico: quadro obstrutivo por hérnia inguinal. • Menino, 15 anos, dor periumbilical que evo- luiu com caráter migratório para a fossa ilía- ca direita, onde se estabeleceram os sinais de irritação peritoneal (dor, defesa, contra- tura, descompressão brusca dolorosa (Blumberg) → apendicite. Nota: Pode-se pensar em apendicite também quando a dor está no quadrante superior direito, pois pode ser que o paciente tenha um ceco de inserção alta. • Mulher, 15 anos, com sinais de irritação pe- ritoneal no quadrante inferior. Deve-se então pensar em diversas possibilidades: cisto de ovário roto, ovulação dolorosa, infecção pélvica. Ou seja, é necessário a realização de exames complementares nessa mulher – pelo menos um USG e B-HCG quantitativo. • Senhor, 70 anos, iniciou com dor abdominal atípica e 12 horas depois com migração da dor para fossa ilíaca esquerda, onde se es- tabeleceram os sinais de irritação peritoneal → diverticulite. DIAGNÓSTICO HISTÓRIA + EXAMES LABORATORIAIS Laboratório: PCR, leucogarama, EAS, glicemia, ureia, amilase, lipase (essa última se altera na pancreatite, sendo o diagnóstico feito por altera- ções nessa enzima). Se estiver tudo normal com os exames, deve-se fazer um tratamento específico de acordo com a clínica apresentada → ex: garoto de 15 anos com sinais de irritação peritoneal em FID + Blumberg positivo + exames laboratoriais normais → realizar apendicectomia. NA DÚVIDA: realizar um USG abdominal e, a partir dele, decidir se há necessidade de optar por exames mais complexos – como a TC e RNM (RNM não possui vantagem em relação a TC, só sendo indicada em gestante devido não possuir radia- ção). Contudo, se a dúvida ainda persistir, deve-se fazer laparoscopia. Nota: Mulher grávida não faz TC e sim RNM. ABDOME AGUDO PERFURATIVO Ë caracterizada por uma peritonite difusa (“queimadura peritônio”), pois alguma víscera abdominal se rompeu e liberou seu conteúdo, ge- rando um sofrimento agudo e difuso no abdome. EXEMPLOS: a) úlcera duodenal perfurada, pois o suco gás- trico de pH extremamente ácido (2) é liberado para a cavidade abdominal difusamente, queimando o peritônio e gerando dor difusa e aguda, defesa, contratura e descompressão brusca dolorosa positivo nos quatro quadrantes → clássico abdome em tábua; b) outros: apendicite perfurada, alça intestinal perfurada, etc. É importante ter em mente: a) abdome agudo perfurativo em criança → pro- vavelmente apendicite perfurada; b) em idoso → provavelmente um tumor de cólon perfura- do. Associado a esses sinais de irritação peritoneal tem-se ainda: – Distensão abdominal → causa o íleo adinâmico (acúmulo de líquido na cavidade intestinal), pois quando o intestino está machucado ele reduz sua motilidade e isso leva a um acúmulo do conteúdo entérico dentro da alça, distendendo-a e disten- dendo ainda mais o abdome. – Pneumoperitôneo: pois há um escape de gás que causa um pneumoperitoneo, originando dois sinais: a) radiológico; b) clínico – denominado Sinal de Joubert, em que some a macicez hepática, pois fica um ar entre o fígado e a parede do ab- dome). – Sinais sistêmicos, devido a queimadura do pe- ritônio: a) dificuldade para realizar movimentos (andar, respiração superficial, dificuldade para deitar → pois tudo provoca dor); b) sofrimento agudo e difuso. • EXAME DE IMAGEM: radiografa simples de ab- dome, em busca do pneumoperitoneo, que é definido como a presença de um menisco aé- reo infradiafragmático. Nota: Mulher em período menstrual, pelo orifício do colo uterino pode entrar ar e determinar a presença de um pneumoperitonio na imagem. Ou seja, se houver um menisco aéreo infradia- fragmático em paciente normal, sem clínica, pensar em Pneumoperitoneo Catamenial. • TRATAMENTO: o paciente está completamente desidratado, pois perdeu líquido para dentro da cavidade abdominal e para dentro das alças intestinais (em decorrência do líquido adinâmi- co), causando desidratação intensa. Por isso, deve-se:a) adotar medidas clínicas de ressusci- tação (pelo menos 3 litros em 8 horas); b) elimi- Amanda Viol nar a causa da contaminação; c) reduzir inóculo bacteriano, impedindo sepse persistente. ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO Essa é restrita a apenas um quadrante abdomi- nal, ou seja, é uma peritonite localizada e não di- fusa. EXEMPLOS: a) apendicite aguda: dor visceral que migra para FID após 6-8 horas. Esse caráter migratório é chamado de “refexo peritoneal de Morley”, fa- zendo com que a dor se localize na FID e iniciem os sintomas de irritação peritoneal (dor, defesa, contratura e descompressão brusca e dolorosa no ponto de McBurney → Blumberg). É uma dor restri- ta apenas em um quadrante, os demais estão li- vres!!!); b) outros colecistite aguda, diverticulite, pancreatite, infarto do omento; c) pancreatite aguda: a principal causa são os microcálculos bi- liares, que migram para o colédoco e impactam transitoriamente a papila duodenal, ativando pró- enzimas em enzimas autolíticas, que são autodes- trutivas do pâncreas, gerando uma síndrome in- famatória no mesogástrio; d) Apendagite: proces- so infamatório do apêndice epiploico. Nesse caso, além dos sinais de peritonite locali- zados, o paciente apresenta um sofrimento menos intenso do que na perfurativa, pois é um processo localizado. Contudo, há: – Uma piora acentuada da dor aos movimentos bruscos “Sinal do Quebra-molas”. – Um íleo adinâmico local (que é denominado de “alça sentinela”, ocorrendo adinamia apenas nas alças intestinais ao redor do processo inflama- tório → radiografia de abdome evidencia níveis hidroaéreos no quadrante acometido). Pode evo- luir para síndrome perfurativa. Nota: Necrose de intestino delgado sem peritoni- te difusa: obstrução intestinal que evoluiu com ne- crose e estabeleceu sinais de peritonite (dor, defe- sa, contratura e descompressão brusca e doloro- sa) na região médica abdominal. Ou seja, o paci- ente teve síndrome infamatória por uma obstru- ção intestinal em que a alça evoluiu para necrose → síndrome obstrutiva que evoluiu para infamató- ria. Nota: Tumor inflamatório: omento migra para a região inflamada acometida, a fim de “encapar” a região para evitar extravasamento de conteúdo em casos de perfuração. Nota: as suspeitas de acordo com o tipo de ab- dome agudo inflamatório varia de acordo com a idade. Ex: idoso com DBD em FIE deve-se pensar em diverticulite (e não apendicite). • EXAME DE IMAGEM: USG. Contudo, caso haja dúvida, o próximo exame é a tomografia. No entanto, em casos de suspeita de colecistite o radiografia é mais indicado devido a maior parte dos cálculos serem radiopacos. - Pancreatite aguda: é uma síndrome inflamató- ria que tem como principal etiologia a presença de microcálculos existentes na vesícula que mi- gram para o colédoco, impactam transitoriamen- te a papila duodenal, aumentando as expressões ductais no ducto de Wirsung ou ducto pancreáti- co e ativam pró-enzimas e enzimas citolíticas e auto destrutivas do pâncreas, gerando uma sín- drome inflamatória no mesogástrio. - Apendangite: processo inflamatório do apêndi- ce epiploico, uma necrose asséptica dos apêndi- ces epiploides (orelhinhas de gordura do ceco). - Infarto do omento: o omento infarta pela artéria omental média e necrosa. Também é diagnóstico diferencial de apendicite aguda. - Perfuração com peritonite bloqueada por palito (corpo estranho). ABDOME AGUDO OBSTRUTIVO Os adultos ativos não tem gás no intestino del- gado, mas tem no intestino grosso, diferentemente das crianças e os idosos acamados, que tem gás no delgado. Dessa forma, o padrão normal do radiografia do abdome é: ausência de gás no delgado e presença de gás no intestino grosso (se esse padrão inverte→ indicativo de anormalida- de). O exemplo clássico da síndrome oclusiva é a obstrução intestinal por aderência, que é a causa mais comum de obstrução de delgado → 70% dos casos de obstrução ocorrem por aderências. Essa síndrome se apresenta com dor visceral em cólica, distensão abdominal (pois acumula gás acima da obstrução) vômitos e cicatriz abdominal prévia. Pode ainda haver: – Distensão de alças do delgado (níveis hidroaé- reos, indicando padrões de anormalidade no ra- diografia); – Abdome timpânico; – Peristaltismo de luta – alça se contraindo ten- tando vencer a obstrução e é identificado ao exame físico. O paciente apresenta-se inquieto, em grande sofrimento e contorcido (curva tronco e abdome). Amanda Viol RESUMO Síndrome Perfurativa = Peritonite Difusa = DBD nos 4 quadrantes. O que diferencia esse paciente das outras síndro- mes é que nas outras síndromes os pacientes de- ambulam muito devagar e não se contorcem, pois há uma irritação peritoneal e a qualquer mo- vimento há piora da dor. A história é muito típica: paciente que há, geral- mente, 2 anos, foi submetido a laparotomia. Há a formação de uma cicatriz na cavidade abdomi- nal, que é a aderência. Essas aderências podem se formar de qualquer jeito dentro da cavidade e acabar determinando uma obstrução intestinal, ao ligar duas alças. Isso pode acontecer após se- manas ou anos de cirurgia. O paciente irá apre- sentar toque retal com ausência de fezes. Essa obstrução por aderências é muito rara em intestino grosso, pois ele é uma estrutura fixa e não móvel como o delgado. Contudo, se a obstrução por aderências é a principal causa no delgado, no intestino grosso as causas importantes de obs- trução são: megacólon com torção ou volvo, tu- mor e hérnia → obstrução colonica pode causar constipação!!!! Se o paciente tiver dor, defesa, contratura e des- compressão brusca e dolorosa + leucocitose deve-se pensar que a obstrução foi tão grave a ponto de causar necrose de alça, evoluindo para síndrome perfurativa. A necrose vai acontecer quando a obstrução for completa (ou seja, o que determina a evolução para necrose é o grau de obstrução). Dessa forma, um quadro de síndrome obstrutiva pode evoluir para síndrome perfurativa. • EXAME DE IMAGEM: Radiografa simples de ab- dome com o paciente em pé e deitado. -> “al- ças de Kerckring”, parecendo moedas empilha- das com excesso de gases. Na síndrome oclusiva em que se pode observar os empilhamentos de moeda no centro do abdome (intestino delga- do) e na periferia visualiza-se o intestino grosso (despovoamento de gases). Ou seja, nesse caso há uma total inversão do padrão normal de dis- tribuição dos gases – muito no delgado e pouco no grosso. Isso mostra que existe um ponto de obstrução muito intenso na transição “delgado- grosso” ou próximo a ela, deixando passar pou- co gás para o grosso. A descrição da imagem é então “colar de pérolas”. OBSTRUÇÃO DO INTESTINO DELGADO: Normal- mente, a clínica de um paciente com obstrução de delgado é: paciente submetido a intervenção operatória abdominal há um tempo atrás e apre- sentando náuseas + vômitos + distensão abdomi- nal + parada de eliminação de gases e fezes + cicatriz abdominal → tudo isso caracteriza uma “síndrome oclusiva do intestino delgado” e, medi- ante a isso, deve-se solicitar radiografa simples de abdome em pé e deitado. Pela presença dos ní- veis hidroaéreos pode-se sugerir que o paciente está de pé (esses níveis decorrem do fato dos ga- ses subirem e os líquidos descerem fornecendo esse aspecto na radiografia). Esses níveis ocupam o centro do abdome. A presença desses predito- res na radiografa é sugestivo de diagnóstico de obstrução intestinal de delgado e a conduta ime- diata não é cirurgia, visto que 80% das obstruções por aderencias melhoram com tratamento não operatório. EXEMPLOS: No 3° caso ao lado a história clínica é uma paciente jovem, sem cirurgia prévia, que ini- ciou com quadros recorrentes de dor e distensão abdominal. Ao realizar TC foi demonstrada intus- suscepção, ou seja, que uma alça de delgado entrou na outra, causando obstrução intestinal. Isso normalmente ocorre por tumores/pólipos que levam a uma hiperatividade de uma alça cau- sandosua entrada na alça subsequente. A con- duta nesse caso é ressecção oncológica. No 4° caso à esquerda há uma obstrução intesti- nal COMPLETA por hérnia inguinal estrangulada. Na radiografa o que se ve é uma obstrução com- pleta, com muitos níveis hidroaéreos nas alças do delgado e sem ar no intestino grosso (inversão do padrão normal). Lembrar de avaliar região ingui- nal no exame físico. É um fator de risco para evo- lução com necrose de alça. Conduta: tratamento operatório imediato. Quando a obstrução é incompleta há também os níveis hidroaéreos no delgado e distensão de alças, porém, ainda há ar no intestino grosso, ca- racterizando uma síndrome semioclusiva. Desse modo, pode-se optar pelo tratamento clínico, pois se tratar cirurgicamente um paciente com ade- rências, há maior chance de desenvolver outras aderências no futuro, pelo ato cirúrgico. Nesses casos, a medida mais efetiva é a passagem de um cateter nasogástrico, que irá comprimir o pon- to de obstrução e estimular o peristaltismo a retor- nar – em 60% dos casos a obstrução reverte. Nota: A radiografa nesses casos de obstrução deve pegar a raiz dos membros inferiores, pois a hérnia mais comum de estrangular em mulheres é a femoral. E, no geral, a inguinal é a mais frequen- te. OBSTRUÇÃO DO INTESTINO GROSSO: NA causa mais comum de obstrução de intestino grosso é o CA, cuja primeira manifestação é a oclusão intes- tinal (em 20% dos casos). Essas oclusões ocorrem, em sua maioria, no sigmoide, pois o diâmetro des- se cólon sigmoide é menor que o diâmetro cecal. Geralmente na clínica o que se tem é uma paci- ente de 70 anos, com cólica intestinal intensa, movimentos peristálticos visíveis na parede abdo- minal, pouco vomito (pois a obstrução de cólon é muito baixa), timpanismo intenso e distensão aé- rea → tudo isso associado à constipação e, as ve- zes, sangramento. Mediante a isso deve-se pensar em tumor de intestino grosso. Contudo, além dos tumores, outra causa de obs- trução intestinal grossa são os fecalomas – que ocorrem principalmente em pacientes acamados e/ou demenciados, que fazem uso de anticolinér- gicos. No fecaloma há a formação de um bolo fecal grande e tão endurecido que o paciente não consegue eliminar. Sua sintomatologia envol- Amanda Viol ve: dor abdominal em cólica, peristaltismo de luta e timpanismo. O diagnóstico é feito pelo toque retal, pelo qual é possível sentir as fezes endureci- das. O tratamento é cirúrgico. Nota: Diante de uma obstrução de intestino gros- so 4 hipóteses diagnósticas devem ser excluídas: • Fecaloma (a radiografia tem-se “imagem em papel picado”); • Tumor de cólon; • Síndrome de Ogilvié: distensão aguda do colón, principalmente direito → quando o ceco atinge 11 cm está prestes a isquemiar. É uma síndrome funcional cujo tratamento inicial é medicamentoso. • Volvo de sigmoide: é a torção do sigmoide ao redor do seu ponto de fixação, causan- do obstrução intestinal. CASO 1: Obstrução de grosso: Observar as haus- trações. Essa imagem evidencia uma obstrução em alça fechada, ou seja, obstrução em dois pon- tos: no tumor e na papila ileal (que quando com- petente impede o refluxo do conteúdo do grosso para o delgado → cirurgia de emergência, pois haverá uma pressão ainda maior dentro da alça, piorando as chances de necrose). Característica provável desse paciente: Idoso, constipação, sangramentos junto com as fazes → fazer toque retal (50% dos tumores estão ao al- cance do dedo) → nesse caso é tumor de sigmoi- de. CASO 2: Paciente institucionalizada, residente de uma região com alta prevalência de doença de Chagas, acamada, fez constipação intestinal e distensão abdominal de repetição → foi ao hospi- tal para fazer quebra mecânica de um fecaloma. Contudo, iniciou com intensa dor abdominal, dis- tensão, timpanismo, sem vomito, sem comprome- timento do estado geral → radiografa: “imagem em grão de café” (imagem clássica de volvo) → diagnóstico de volvo de sigmoide → obstrução em dois pontos do intestino grosso (obstrução em alça fechada)→ fator de predição de necrose, não cabendo tratamento clínico, necessitando de cirurgia imediata (chamada de operação de Hartman). Volvo de sigmoide não é tão raro e cos- tuma ocorrer nesse perfil de paciente: instituicio- nalizados, constipados crônicos e com fecaloma de repetição. GROSSO X DELGADO – Grosso: Idoso, sangramento retal, emagreci- mento, constipação, sem cicatriz, mais distensão que na de delgado, mas menos vomito, timpa- nismo. – Delgado: jovem, muito vomito, náuseas, cicatriz abdominal prévia e principal causa: aderência. Radiografa: 2 níveis hidroaéreos, distando 0,5 cm um do outro. Conduta: internação, hidratação, dieta 0, antiespasmótico e antibiótico → 70% dos pacientes irão melhorar sem cirurgia. ABDOME AGUDO HEMORRÁGICO A síndrome hemorrágica não faz diagnóstico di- ferencial com outras síndromes de abdome agu- do, devido o paciente estar chocado por anemia aguda. O exemplo de síndrome hemorrágica mais comum é a gravidez tubária rota, mas há ainda ruptura espontânea de baço (pensar nisso em paciente vindo de área endêmica de malária, pacientes com dengue), adenoma hepático (sangra para a cavidade), aneurisma de aorta roto, cisto de ovário hemorrágico. A clínica desses pacientes envolve um sofrimento menos intenso e com pouca reação peritoneal, ou seja, dor, defesa e DBD menos intensos. Contu- do, esses pacientes apresentam sinais de hipovo- lemia, hipotensão postural, anemia aguda (pali- dez, sincope, taquicardia). Ademais, há queda da hemoglobina e distensão abdominal (distensão de alças do delgado e grosso, provocando níveis hi- droaéreos). OU SEJA: queda de hemoglobina, sinais de ane- mia, sinais de hipovolemia e com sinais de irritação peritoneal menos intensos. Nota: Na suspeita clínica de síndrome hemorrá- gica em mulher sempre pedir USG e B-HCG quanti- tativo. Aneurisma de Aorta Roto: Causa uma síndrome hemorrágica em que 50% dos pacientes morrem no local e 50% dos que são operados, 30-50% morrem no pós-operatório ime- diato. Por isso um paciente com aneurisma deve ser acompanhado – se maior que 5cm: deve ir direta para a cirurgia, pois há grande risco de rup- tura. Assim, em todas as consultas deve-se fazer uma palpação detalhada do abdome, de forma a identificar um possível aneurisma. Fatores de risco para ruptura de aneurisma de aorta: – Diâmetro maior que 5 cm; – Morfologia do aneurisma (aneurisma sacular é pior que o longitudinal); – Hipertensão arterial; – DPOC. Conduta: ausculta de sopro → USG → se presen- te aneurisma → Angio-TC (se não escrever ANGIO esta errado) → encaminhamento para angiologis- ta. Nota: Ruptura de baço espontânea: malária, dengue e mononucleose → síndrome hemorrági- ca. Contudo, se o baço sofrer ruptura por trauma, não se considerada um abdome agudo!!!! Nota: Ordem de agressão ao abdome do menor para o maior: sangue nas primeiras horas → urina → fezes → suco gástrico (esse causa mais irritação peritoneal). Amanda Viol ABDOME AGUDO VASCULAR Corresponde as isquemias mesentéricas, não ocorrendo sangramento (o que diferencia da sín- drome hemorrágica que sangra). Acomete pacientes portadores de aterosclerose difusa, cardiopatas (especialmente portadores de FA), passado de trombose, submetido a revascula- rizações, trombofílicos e aqueles com sepse grave. Exemplo do quadro típico: trombose de artéria mesentéria superior → paciente cardiopata em uso de anticoagulantes para tentar diluir um coá- gulo que, em um determinado momento, pode-se desprender e obstruir a artéria mesentérica superi- or, causando isquemia abdominal. Contudo, o in- testino só tolera 12 horas de isquemia e depois dis- so fica muito difícil preservar a viabilidade da alça. Causa um quadro de gravíssimo de dor abdomi- nal súbita e um quadro séptico desproporcional ao tempo de evolução da doença (imagine os produtos tóxicos que um intestino isquêmico der- rama na circulação). Existem 4 tiposde síndromes vasculares: 1) Embolia: exemplo dado acima, em que há um coágulo no átrio que se desprende e, normalmen- te, obstrui artéria mesentérica superior (irriga todo o intestino delgado até a metade do cólon). 2) Placa de aterosclerose na artéria mesentérica superior; 3) Trombose da veia mesentérica superior – tratar com anticoagulante; 4) Síndrome não oclusiva → NOMI (Non-occlusive mesenteric ischemia): é o paciente que está sép- tica e faz tanta vasoconstrição que isquemia o território esplênico. Nesses casos de síndrome vascular há um sofri- mento intenso e de rápida instalação, com inten- sa reação peritoneal difusa (dor, defesa, contratu- ra e DBD nos quatro quadrantes) e íleo adinâmico difuso. É um quadro com alta necessidade de ação rá- pida, devendo na suspeita solicitar o exame de imagem de eleição nessa síndrome, que é a angi- otomografa com contaste. Mesmo que seja um paciente com problema renal deve-se realizar o exame, pois se não tratar esse quadro de síndro- me vascular as consequências serão piores. Con- tudo, para tentar evitar a insuficiência renal por contraste deve-se fazer uma hidratação vigorosa. Após diagnóstico: hemodinâmica para realizar revascularização por cateterismo, a fim de tentar revascularizar precocemente a artéria mesentéri- ca superior utilizando a radiologia intervencionista (cateterismo com injeção de trombolítico), dei- xando as ressecções intestinais como resgaste do procedimento que não obteve completa revascu- larização (ou seja, o cateterismo permitiu, invés de ressecar todo o intestino, ressecar só o segmento necrosado). Nota: radiologia intervencionista esta permitindo vislumbrar uma possibilidade de redução da alta mortalidade da isquemia mesentérica. Nota: artéria mesentérica superior: irriga todo o intestino delgado até a metade do cólon. O pri- meiro ramo da artéria aorta abdominal é o tronco celíaco e o segundo é a artéria mesentérica supe- rior. A mesentérica inferior irriga a metade esquer- da do cólon até o reto. Obs: nunca falar Rx, sempre falar radiografia. Obs2: na síndrome perfurativa, é indicada a reali- zação da radiografia em busca de pneumope- ritôneo. Obs3: síndrome obstrutiva - procurar níveis hidro- aéreos na radiografia. Obs4: na suspeita clínica de síndrome hemorrági- ca, sempre pedir USG e ßHCG quantitativo em mulher. Amanda Viol
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