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1 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 OBJETIVOS 1. DEFINIR a IRA. 2. CORRELACIONAR os mecanismos de instalação com os fatores de risco da IRA; 3. ANALISAR a fisiopatologia da IRA e relacioná-la aos aspectos de classificação clínica, quadro clínico e diagnóstico; 4. PROPOR o tratamento da IRA. REFERÊNCIAS MARTINS, Mílton de A.; CARRILHO, Flair J.; ALVES, Venâncio Avancini F.; CASTILHO, Euclides. Clínica Médica, Volume 3: Doenças Hematológicas, Oncologia, Doenças Renais. Barueri, SP: Manole, 2016. VELASCO, Irineu T.; NETO, Rodrigo Antonio B.; SOUZA, Heraldo Possolo D.; et al. Medicina de emergência: abordagem prática. 16ª. ed. Santana de Parnaíba [SP]: Manole, 2022. DEFINIÇÃO A insuficiência renal aguda (IRA) ou lesão renal aguda é definida como uma redução abrupta da filtração glomerular, levando ao acúmulo de escórias nitrogenadas (uréia e creatinina), distúrbios do equilíbrio ácido-base e alterações hidroeletrolíticas, tendo evolução rápida, ao longo de horas ou dias. Aumento da creatinina e diminuição da diurese Com o objetivo de padronizar e uniformizar a definição e classificação da IRA, o grupo Acute Dialysis Quality Initiative (ADQI) propôs critérios com o acrônimo de RIFLE, avaliando a progressão de gravidade (risco, injury ou lesão, falência) e de desfecho (perda de função ou loss, doença renal estágio final ou end-stage renal disease). Os primeiros três estágios utilizam os níveis séricos de creatinina e o débito urinário, enquanto os dois últimos, relativos ao desfecho, remetem à duração da perda de função renal. A classificação AKIN (Acute Kidney Injury Network) associou a piora de creatinina acima de 0,3mg/dL em 48 horas como definição de IRA. RIFLE AKIN Risco ↑ na Cr > 1,5x o basal ↓ na TFG > 25% Estágio 1 ↑ na Cr ≥ 0,3 mg/dL ↑ na Cr > 1,5 – 2x o basal Lesão ↑ na Cr > 2x o basal ↓ na TFG > 50% Estágio 2 ↑ na Cr > 2 – 3x o basal Falência ↑ na Cr > 3x o basal Cr > 4 mg/dL com ↑ aguda > 0,5 mg/dL ou ↓ na TFG > 25% Estágio 3 ↑ na Cr > 3x o basal Cr > 4 mg/dL com ↑ aguda > 0,5 mg/dL TSR Perda de função Perda completa de função renal por mais que 4 semanas Doença renal estágio terminal (ESRD) ESRD por mais de 3 meses Recentemente foram introduzidos os critérios de estadiamento do KDIGO (Kidney Disease: Improving Global Outcomes), que consideram uma elevação da creatinina sérica dentro de 48 horas ou um declínio na TFG ao longo de 7 dias. Os critérios KDIGO incluem: Insuficiência Renal Aguda Problema 08 2 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 EPIDEMIOLOGIA A incidência de IRA varia em torno de 10 a 15% em pacientes internados, e alcança 60% em pacientes internados em unidade de terapia intensiva (UTI). A IRA possui mortalidade geral de 33% e mortalidade de 50% em pacientes internados em UTI. Em pacientes com choque séptico especificamente a mortalidade é 3 a 5 vezes maior em pacientes com lesão renal aguda. ETIOLOGIA A injúria renal aguda pode ser causada por três mecanismos básicos: AZOTEMIA PRÉ-RENAL Corresponde a cerca de 55-60% dos casos de IRA; Consiste na elevação das “escórias nitrogenadas” causada pela redução do fluxo sanguíneo renal. Caracteriza-se clinicamente pela reversibilidade, uma vez restaurado o fluxo renal. AZOTEMIA RENAL INTRÍNSECA É a disfunção renal aguda causada por lesão no próprio parênquima renal. É responsável por 35-40% dos casos de injúria renal aguda. Pode cursar com oligúria (necrose tubular aguda isquêmica, rabdomiólise, glomerulonefrites ou nefropatias microvasculares), anúria (necrose cortical aguda, algumas glomerulonefrites) ou não oligúria/poliúria (necrose tubular aguda por aminoglicosídeos). A injúria renal aguda por lesão renal intrínseca é uma entidade comum entre os pacientes com patologias graves internados em CTI. Nessas circunstâncias, está associada a uma alta leta lidade (até 80%), mas não por causa da insuficiência renal propriamente dita, e sim devido à gravidade da doença de base (ex.: sepse com falência orgânica múltipla). O tipo mais comum de IRA intrínseca é a Necrose Tubular Aguda (NTA) que responde por cerca de 90% dos casos. AZOTEMIA PÓS-RENAL A azotemia pós-renal, ou injúria pós-renal, é uma disfunção renal causada por obstrução aguda do sistema uroexcretor. 3 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 É responsável por apenas 5-10% dos casos de injúria renal aguda, embora, no subgrupo dos idosos, esta proporção se torne um pouco maior devido à elevada prevalência de doença prostática. FISIOPATOLOGIA PRÉ-RENAL ↓ perfusão renal Depleção de volume intravascular (hemorragia grave, desidratação grave); ↓ vol. circulante efetivo e/ou vasodilatação (choque anafilático, sepse); ↓ DC (ICC) e perda da autorregulação renal MECANISMO DE AUTORREGULAÇÃO RENAL: Reflexo miogênico – liberação de prostaglandinas (vasodilatação da arteríola aferente – leva sangue p/ o glomérulo) = facilita a passagem de sangue e ↑ pressão hidrostática dentro do glomérulo e favorecer a filtração • AINES alteram esse mecanismo pois inibem a liberação de prostaglandinas ↑ SN Simpático (liberação de catecolaminas na corrente sanguínea) = vasoconstrição periférica e ↑ ADH (vasopressina) = vasoconstrição + reabsorção de sódio água p/ manter a perfusão sanguinea SNAA (vasoconstrição da eferente e reabsorção de sódio) Isquemia Renal → NTA Urina hiperconcentrada, com baixa FE Na (<1%) e concentração de urinária de sódio baixa (devido absorção de sódio e água p/ manter perfusão) Oligúrica RENAL OU INTRÍNSECA Necrose Tubular Aguda (NTA) = Isquemia prolongada ou por insulto das toxinas endógenas e exógenas Hipoperfusão mantida → ↓ do ATP intracelular (se não tem sangue chegando, não tem O2 e consequentemente não há formação de ATP) → despolarização da célula tubular → deslocamento dos canais de sódio (não realizam a reabsorção de sódio adequadamente pois são dependentes de ATP) Desorganização do citoesqueleto Morte celular → obstrução dos túbulos (torna-se um mecanismo a mais p/ essa disfunção) Perda de sódio → estímulo à macula densa (reduzir a filtração glomerular p/ evitar a perda de sódio) Inibição do Sistema Renina Angiotensina Aldosterona e ↑ adenosina (fecha a arteríola aferente = reduz o sangue no glomérulo) Feedback túbulo-glomerular = ↓ TFG ' Urina diluída, com alta FE Na (>1%) e concentração urinária de sódio alta PÓS RENAL OU OBSTRUTIVA Obstrução do fluxo do filtrado glomerular (hiperplasia prostática benigna) ↑ a pressão hidrostática da VU → túbulos e capsula de Bowman → ↓da TFG 4 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 QUADRO CLÍNICO Em geral, os sinais e sintomas são devidos à condição clínica causal, como hipovolemia, insuficiência cardíaca, sepse, síndrome nefrítica etc., e não à injúria renal em si. Nas azotemias mais graves aparecem sinais e sintomas de insuficiência renal, que juntos com- põem a chamada síndrome urêmica aguda ou uremia aguda. Os sinais e sintomas que definem a síndrome urêmica são provocados pelo acúmulo no organismo de grande quantidade de “escórias nitrogenadas”, que são substâncias tóxicas, contendo nitrogênio, derivadas do metabolismo proteico. Para se desenvolver essa síndrome, geralmente a creatinina está acima de 4,0 mg/dl e a ureia acima de 120 mg/dl. MANIFESTAÇÕES CARDIOPULMONARES: A insuficiência renal aguda oligúrica ou anúrica pode causar retenção importante de líquidos e sódio, aumentando a volemia. Os sinais e sintomas de hipervolemia aguda são: (1) Hipertensão ArterialSistêmica (HAS); (2) Edema Agudo de Pulmão (EAP) (3) edema periférico. MANIFESTAÇÕES HEMATOLÓGICAS: Anemia é um achado muito frequente em pacientes graves e pode ser consequente à infecção, perda sanguínea, hemodiluição, hemólise etc. A uremia aguda cursa com um distúrbio da hemostasia, devido à disfunção plaquetária. As plaquetas no paciente urêmico têm menor capacidade de adesão e agregação. O Tempo de Sangramento (TS) está caracteristicamente prolongado. MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS: de confusão mental, agitação psicomotora, associado à mioclonia (abalos musculares repetitivos), asterixis, hiper-reflexia tendinosa e sinal de Babinski bilateral. O quadro pode evoluir para crise convulsiva tônico-clônica, torpor, coma e óbito por edema cerebral grave. MANIFESTAÇÕES GASTROINTESTINAIS: uremia provoca inflamação nas mucosas e disfunção na motilidade. Surgem então sintomas como: anorexia, náuseas e vômitos (como consequência à gastroparesia), diarreia ou íleo metabólico. DISTÚRBIOS HIDROELETROLÍTICOS E ACIDOBÁSICOS Na forma oligúrica ou anúrica, os principais são: (1) hipercalemia: redução da excreção renal de potássio, A causa de IRA que mais eleva o potássio sérico é a rabdomiólise, pela liberação maciça deste eletrólito a partir do músculo lesado. (2) hiponatremia: retenção de água livre maior do que a retenção de sódio. (3) acidose metabólica: retenção dos ácidos produzidos pelo metabolismo proteico, principalmente o ácido sulfúrico (H2SO4) (4) hiperfosfatemia: fosfato precisa do rim para ser eliminado, havendo hiperfosfatemia (P > 4,5 mg/dl) quando a TFG está abaixo de 20 ml/min. (5) hipocalcemia: geralmente acompanha a hiperfosfatemia. DIAGNÓSTICO PRÉ RENAL A elevação de ureia e creatinina sugere muito o diagnóstico de IRA pré-renal, particularmente quando a relação ureia/creatinina plasmática for maior que 40. EXAME DO SEDIMENTO URINÁRIO (EAS): ausência de proteinúria ou hematúria, contendo apenas cilindros hialinos em quantidades variadas. 5 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 BIOQUÍMICA URINÁRIA ▪ sódio urinário baixo (Nau< 20mEq/L) ▪ osmolaridade urinária alta (> 500 mOsm/L), ▪ densidade urinária alta (> 1.020), ▪ relação de creatinina alta (Crurinária/Crsérica >40) ▪ fração excretória de sódio baixa (FENa < 1%) ▪ fração excretória de ureia baixa (< 35% PÓS-RENAL Devemos suspeitar de obstrução urinária em todo paciente agudamente anúrico, ou que experimente flutuação do débito urinário (anúria x poliúria). Como a causa mais frequente é a hipertrofia pros- tática, é comum encontrarmos ao exame físico uma bexiga distendida palpável no hipogastro – o “bexigoma” – associada a um aumento da prós- tata no toque retal Nos casos duvidosos, o exame inicial é a ultrassonografia de rins e vias urinárias EXAME DO SEDIMENTO URINÁRIO (EAS): pode apresentar hematúria e/ou piúria, porém, a presença de cilindros celulares não é esperada. Em casos tardios de uropatia obstrutiva (onde já se desenvolveu lesão tubular), é comum encontrarmos um padrão de NTA na bioquímica urinária (isto é, FENa > 1%). RENAL INTRÍNSECA A suspeita de azotemia renal intrínseca é inevitável uma vez excluídos os outros dois mecanismos de IRA (pré-renal e pós-renal). TRATAMENTO REPOSIÇÃO VOLÊMICA: A reposição de cristaloides é o tratamento inicial de escolha para os estados hipovolêmicos CORREÇÃO DE DISTÚRBIOS ELETROLÍTICOS E ACIDOBÁSICOS Uma obstrução uretral por hiperplasia prostática pode ser prontamente tratada pela inserção do CATETER DE FOLEY. Se não for possível ultrapassar a obstrução uretral com o cateter, deve-se proceder à CISTOSTOMIA. A lesão renal por rabdomiólise pode ser prevenida com hidratação salina vigorosa, objetivando um débito urinário ≥ 3 ml/kg/h (200 ml/h em média) para “lavar a mioglobina dos túbulos”. Vasopressores são frequentemente considerados prejudiciais à perfusão orgânica!! Diuréticos de alça: Estudos pequenos, unicêntricos, que avaliaram o uso de diuréticos para prevenir IRA, falharam em demonstrar benefício. 6 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2
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