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PSICOLOGIA EXISTENCIAL HUMANISTA ARA1102 Profa. Bete Shineidr Conteúdo Programático Unidade 1 - A FENOMENOLOGIA • 1.1. Influências antecedentes: Brentano e Dilthey; • 1.2. Edmund Husserl e a Fenomenologia: intencionalidade, intuição eidética; • 1.4. O método fenomenológico; • 1.5. Husserl e as críticas ao Positivismo: a “crítica ao psicologismo” e a “crise das ciências européias”; Unidade 2 - O EXISTENCIALISMO • 2.1 Introdução ao Existencialismo • 2.2 As Influências de Kierkegaard E Heidegger • 2.3 O Existencialismo de Sartre Unidade 3 - O GESTALTISMO • 3.1 Introdução a Psicologia Da Gestalt • 3.2 As Teorias de Wertheimer, Koffka, Köhler E Lewin • 3.3 A Gestalt-terapia de Fritz Perls Unidade 4 - A PSICOLOGIA HUMANISTA • 4.1. Fundamentação teórica e o pensamento Humanista. • 4.2. Objeto e Métodos de investigação científica. • 4.3. Teorias de Maslow e Rogers. • 4.4. Influências de Rogers no Aconselhamento, na Psicoterapia, na Educação e no trabalho com grupos. • 4.5. Contribuições e análise crítica. Unidade 5 - A PSICOLOGIA EXISTENCIAL 5.1 Fundamentação Teórica e Relação com o Existencialismo 5.2 Karl Jaspers e A Psicopatologia Fenomenológica 5.3 Expoentes da Psicologia Existencial Bibliografia Básica • NOGARE, P. D.; Humanismos e Anti-humanismos. Vozes, 13ª edição, 1994, Petrópolis. • PENNA, A. Introdução à psicologia fenomenológica. Rio de Janeiro: Imago, 2003. • SCHULTZ, D. P., SCHULTZ, S. E.; História da psicologia moderna. Cultrix, 11º. ed., São Paulo, 1999. • Antes de estudarmos nossos autores, vamos revisitar alguns eventos e fatos históricos que possibilitaram o aparecimento da psicologia moderna, a partir de um recorte que envolve a sociologia, a filosofia e a história. O século XIX e o nascimento da Psicologia Acontecimentos importantes no século XIX: a política - Revolução Industrial (1760 – 1840) • Transição da manufatura para o trabalho industrializado; Acontecimentos importantes no século XIX: a ciência - O período de 1804 a 1884 foi marcado pelo desenvolvimento de inúmeras tecnologias pelas mãos da ciência. Estas tecnologias tornaram a vida na cidade possível. - A sociedade se rende aos encantos da ciência e suas promessas de felicidade e de progresso Acontecimentos importantes no século XIX: a cultura - A ciência influencia a vida nas grandes cidades. - Paris torna-se a “Capital Cultural do Mundo”, com o alargamento de suas ruas, a criação das galerias e as grandes exposições universais; Indivíduo X Sociedade -Se em momentos anteriores da história a relação entre sujeito e sociedade era mediada por uma figura transcendental, no século XIX essa relação passa a ser creditada pela crença na ciência, no progresso e na política. Século XIX : surgimento da Psicologia - É em meio a esse turbilhão de acontecimentos que em 1873 na Alemanha é publicado por Wilhelm Wundt o livro Princípios de Psicologia Fisiológica. - Vê-se, portanto, que a psicologia nasce como ciência reivindicado seu lugar no campo epistemológico tendo como base as contribuições da física, da química e da biologia. Primeiras correntes da Psicologia e seus objetos de estudo Estruturalismo: O objeto de estudo era o funcionamento da “estrutura” consciente da mente e do comportamento, sobretudo as sensações. Titchener, discípulo de Wundt e divulgador de seus trabalhos nos E.U.A. trabalhava com a Introspecção , um tipo de método que procurava saber como o sujeito reagia a certos estímulos ou experiências sensoriais. Funcionalismo: Corrente psicológica que enxergava a mente como um constante fluxo que deveria abarcar a vontade, os valores e também as experiências religiosas e místicas. Por ser uma episteme marcada profundamente pelas ciências naturais, a Psicologia do século XIX estava fortemente relacionada ao Positivismo. O positivismo caracteriza-se como um saber que compreende a ciência como uma reguladora da sociedade através das normas e das leis; O positivismo valoriza aspectos que envolvem a ordem e o progresso na sociedade, na política, na cultura e na ciência; Figueiredo (1996), no livro “Psicologia uma (nova) introdução” defende a tese que toda a matriz psicológica possui uma concepção específica de sujeito e de mundo. A partir dessa constatação pode-se realizar o seguinte questionamento: Qual a concepção de sujeito e de mundo desse modelo de Psicologia? A concepção de sujeito e de mundo presente no positivismo, prioriza a busca pela ordem natural das coisas e o compromisso com a verdade que só pode ser elucidada a partir de evidências e constatações empíricas. Desta maneira, pode-se verificar que os projetos do Estruturalismo e do Funcionalismo solidificam suas crenças na realidade independente do sujeito que a conhece. Por exemplo, vejamos essa frase de Claude Bernard a respeito do papel do cientista no século XIX: O observador deve ser o fotógrafo do fenômeno, sua observação deve representar exatamente a natureza. Deve observar sem qualquer ideia preconcebida; a mente do observador deve ficar passiva, ou seja, deve calar-se; ele escuta a natureza e escreve o que esta lhe dita. Qual o problema dessa visão? Em primeiro lugar, pode-se dizer que ela enfatiza uma visão técnica de mundo e de sujeito, sem espaço para uma leitura analítica sobre o ser, o tempo, a experiência e o pensamento. Neste sentido, opondo-se a essa visão é que surgirá ainda no século XIX, um segundo grupo de matrizes psicológicas que irá reivindicar a independência da Psicologia diante dos demais saberes privilegiando a experiência subjetiva antes de qualquer racionalização e objetivação. A teoria de Freud • Freud foi influenciado pela perspectiva mecanicista e positivista que impregnou a ciência do século XIX. • No final do século, novas disciplinas ofereciam novas maneiras de conceber a natureza humana que iam além dos quadros biológicos e físicos.... • A antropologia, a sociologia e a psicologia social ofereciam evidencias de que os seres humanos são produto das forças e instituições sociais! • Sugerindo, assim, que eles deveriam ser estudados como seres sociais e não como seres estritamente biológicos. • O espírito intelectual do tempo, o Zeitgeist, estava pedindo uma revisão da concepção da natureza humana, mas Freud, para consternação de alguns Seguidores, estava apegado à sua ênfase nos determinantes biológicos da personalidade. • Analistas mais jovens foram se afastando da posição ortodoxa e começam a remoldar a teoria freudiana a partir da orientação das ciências sociais. • A ideia de que a personalidade é mais um produto do ambiente do que da biologia estava em acordo com a cultura e o pensamento americanos e apresentava uma imagem da natureza humana mais OTIMISTA do que a posição determinista de Freud. • Surgem, assim, os dissidentes com suas próprias teorias chamadas SOCIOPSICOLÓGICAS : Adler e Karen Horney. Dissidentes • Considerado o 1º proponente da forma sociopsicológica de psicanálise. Rompeu com Freud em 1911 e desenvolveu sua teoria de interesse social, que ele denominou psicologia individual tendo muitos seguidores. • Ele acreditava que o comportamento não é determinado por forças biológicas, mas por forças sociais. • Que esse interesse social seria um potencial inato para coorperar com os outros a fim de alcançar seu alvo. Ele se desenvolve na infância por meio das experiências de aprendizagem. • Outra divergência de Freud era sobre a consciência: para Adler, os seres humanos eram cônscios de suas motivações. Alfred Adler • Acreditava que a luta pela superioridade, pelo aprimoramento do eu é inata. E é responsável por todos os progressos e realizações humanas. • Discordou de Freud quanto a base primária da motivação ser o sexo. Ele acreditava que um sentimento de inferioridade era a força determinante de um comportamento: uma criança que gagueja pode, por meiode terapia da fala, tornar-se um grande orador. Crianças com membros fracos pode, com muito exercício, alcançar a excelência como atleta... • Para ele, a pequenez, impotência e a total dependência da criança diante de seu ambiente produzem o sentimento de inferioridade que todos vivem. Consciente de sua inferioridade e com necessidade de superá-la, a criança é impelida para a luta pela superioridade e perfeição. • Tal sentimento segue para a vida toda, impulsionando a pessoa a realizações cada vez maiores. • Mais tarde ampliou seu conceito e incluiu quaisquer deficiência físicas, mentais ou sociais, reais ou imaginárias. • A influencia de Adler sobre a psicanálise pós-freudiana foi substancial. • Os psicólogos do ego seguiram as ideias de Adler. • Sua ênfase na ação das forças sociais sobre a personalidade são vistas em Karen Horney, em Alport e Maslow. • Até hoje suas concepções influenciam psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais e educadores. • Para Horney (1945): “O pessimismo de Freud no que se refere a neuroses e ao seu tratamento veio das profundezas de sua descrença na bondade humana e no desenvolvimento humano. O homem, postulou ele, está fadado a sofrer ou a destruir.... Minha convicção pessoal é a de que o homem tem tanto a capacidade como o desejo de desenvolver suas POTENCIALIDADES e vir a ser um ser humano decente.... Acredito que o homem possa MUDAR e continuar mudando enquanto viver.” • O otimismo de Horney quanto à possibilidade de se evitarem conflitos neuróticos foi bem recebido por psicólogos e psiquiatras como um alívio para o pessimismo de Freud. Karen Horney • A teoria psicanalítica de Freud foi sofrendo alterações por neofreudianos leais, como Carl Jung e pelos teóricos sociopsicológicos que, embora tais abordagens difiram entre si, possuem uma herança comum: devem sua origem aos esforços de Freud. • Freud serviu, do lado psicanalítico da história da psicologia, ao mesmo propósito que Wilhelm Wundt serviu do lado experimental: como fonte de inspiração e como força a que se opor. Eles forneceram o alicerce para os demais (Schultz, 1981). • Como exemplos da evolução da teoria da personalidade desde a época de Freud, 3 descendentes são muito relevantes: Gordon Alport, Henry Murray e Erick Erickson. • Alport tornou o estudo da personalidade uma parte academicamente respeitável da psicologia. • Suspeitou que a psicanálise se concentrava demais no incs, negligenciando os MOTIVOS conscientes e começou a formular sua teoria. Minimizou o papel do incs em adultos normais, alegando que eles funcionam em termos mais racionais e conscientes. • Discordou quanto ao impacto das experiências infantis sobre os conflitos da idade adulta, insistindo que somos mais influenciados pelas experiências presentes e por nossas esperanças em relação ao futuro mais do que pelo passado. Gordon Alport Descendentes • Entendia que, para compreender a personalidade, deveríamos estudar os adultos normais e não os neuróticos. • Para ele, o cerne de qualquer teoria da personalidade é o tratamento da motivação. • Sua teoria, chamada PERSONOLOGIA teve como base a teoria de Freud, mas também preferiu estudar os sujeitos normais. • No seu sistema, o EGO possui um papel mais ativo na determinação do comportamento, não sendo apenas um servo do ID e sim um organizador do comportamento. Henry Murray • A MOTIVAÇÃO ocupa lugar central na sua teoria. Sua classificação das necessidades para explicar a motivação é a sua grande contribuição. • As necessidades envolvem uma força química no cérebro que organiza o funcionamento intelectual e perceptivo. Elas despertam níveis de tensão no interior do organismo que só podem ser reduzidos pela satisfação das necessidades. • Assim, as necessidades ativam o comportamento, dirigindo-o de todas as maneiras para trazer a satisfação e a redução da tensão. Ele identificou 20 necessidades: realização, afiliação, autonomia.... Criou o Thematic Apperception Test (TAT). • Aluno de Anna Freud, ampliou os estágios de desenvolvimento, afirmando que a personalidade continua a se desenvolver ao longo da vida e reconheceu o impacto das forças sociais, históricas e culturais sobre a personalidade. • Ampliou a visão dos estágios de desenvolvimento, afirmando que a mesma se desenvolve ao longo da vida e reconheceu o impacto das forças sociais, históricas e culturais sobre a personalidade. • Cada um dos estágios é tão carregado de tensão que foi considerado “crise”: a pessoa ve-se diante de uma escolha entre 2 modos de lidar com a crise, um modo ADAPTATIVO e um modo DESADAPTATIVO. Erik Erikson Confiança X Desconfiança Aut.X vergonha Iniciativa X Culpa Domínio X Inferior. • Somente quando a crise é resolvida, tendo a personalidade se modificado, a pessoa tem FORÇA suficiente para enfrentar o próximo estágio. Se a pessoa fracassar e ficar com uma forma desajustada de reagir pode corrigir isso por meio da adaptação bem-sucedida num estágio ulterior. • Há, pois, esperança para o futuro em todos os estágios do desenvolvimento. • Ele acreditava que podemos influenciar e dirigir conscientemente nosso desenvolvimento (contrastando com Freud). Mas, reconhecia a importância das experiências infantis que podem ser traumáticas. • Mas, ele acreditava que as experiências ulteriores podem se contrapor às experiências infantis negativas e superá-las, contribuindo para a nossa meta última: o estabelecimento de uma identidade de ego positiva. Além das Escolas de Pensamento • Cada escola de pensamento foi bem-sucedida à sua própria maneira. Cada uma contribuiu significativamente para a evolução da psicologia; • O Estruturalisamo, apesar de ter deixado poucas marcas, foi a partir dele (Wundt) que a psicologia se libertou da filosofia; • O Funcionalismo, que também não perdurou como escola de pensamento. Enquanto atitude ou ponto de vista ainda permeia o pensamento psi americano contemporâneo: a ideia FUNCIONAL, utilitária, mudou a natureza da psicologia. • A Gestalt também realizou sua missão, seu interesse contínuo pela consciência influenciaram as áreas clínica, aprendizagem, percepção, pensamento e social. • Por mais que tenham sido notáveis as realizações do estruturalismo, do funcionalismo e da psi da Gestalt, cumpre colocá-las em segundo plano diante das influências fenomenais do comportamentalismo e da psicanálise. • Ambas se partiram em várias posições desde seus fundadores Watson e Freud. • Comportamentalistas e psicanalistas continuam com grandes divergências, apesar dos esforços em busca de boas relações. As subescolas também criaram diversidades internas. Surge a Terceira Força: Psicologia Humanista Psicologia Humanista: A Terceira Força • Nasce no início dos anos 60 desenvolveu-se na psicologia americana. • Seus pontos essenciais: • Ênfase na experiência consciente; • Crença na integralidade da natureza e da conduta do ser humano; • O estudo de tudo o que tenha relevância para a condição humana. • Definição do Dicionário de Psicologia (Stratton, 2002, p. 189): • Psicologia Humanista • “Uma abordagem na psicologia que enfatiza a pessoa toda e seu escopo para a mudança. Os psicólogos humanistas rejeitam a abordagem reducionista de muitos pesquisadores, a qual vê a ação humana simplesmente como coleções de mecanismos separados, bem como se posicionam contra a desumanização e ‘objetificação’ do comportamento humano, produzidas por investigações triviais em laboratório e atitudes behavioristas na psicologia. Ao contrário, eles defendem a tese de que os psicólogos devem atentar mais para a pessoa toda, englobando as atitudes, valores e respostas a situações sociais, inclusive os experimentos. Segundo eles, o esforço de estudar as pessoas de uma forma fragmentada consiste em ignorar a essência do que é ser humano. Há muitos psicólogos humanistas, dos quais Carl Rogers é talvez o mais famoso. A psicologia humanista acha-se também intimamenteligada à abordagem fenomenológica, no campo da psicologia.” Unidade 1 - A FENOMENOLOGIA “Fenômeno”: aquilo que se mostra, não somente • aquilo que se aparece ou parece. Tudo o que se manifesta, se desvela, se mostra à consciência do sujeito que o questiona. Aquilo que é imediatamente dado em si mesmo à consciência do homem. “Logia”: deriva da palavra logos, que para os gregos significava palavra, pensamento. • Para Husserl, a fenomenologia - ciência dos fenômenos - assume, principalmente, o papel de um método ou modo de ver a essência do mundo e de tudo quanto nele existe • É uma ciência rigorosa, mas não exata, uma ciência eidética (que busca a compreensão da essência) que procede por descrição e não por dedução. • Ocupa-se da análise e interpretação dos fenômenos, mas com uma atitude totalmente diferente das ciências empíricas e exatas. Máxima da fenomenologia: • Toda consciência é consciência de algo (Intencionalidade da consciência) Está direcionada para um determinado objeto em análise. • Por sua vez, o objeto também é sempre objeto-para-um-sujeito. • Por intermédio da ideia de intencionalidade, a fenomenologia busca a superação das tendências empiristas e racionalistas, visando eliminar a dicotomia experiência-razão, no processo de elaboração do conhecimento. • Procura abordar diretamente o fenômeno, aquilo que se manifesta por si mesmo, de modo que não o parcializa ou o explica a partir de conceitos prévios, de crenças ou de afirmações sobre o mesmo, enfim, de um referencial teórico. • Antes, interroga-o, tentando descrevê-lo e procurando captar sua essência. • Noema: O algo de que a consciência tem consciência, o objeto do pensamento. • Noese: a visada da consciência, o ato mesmo de pensar. • Os dois termos são inseparáveis. Se a consciência é sempre consciência de alguma coisa, então a consciência é intencionalidade e não há noese sem noema • Mediante o método fenomenológico, opera-se uma série de reduções até alcançar o resíduo das coisas, as essências, as coisas mesmas, ou eidos (idéias). • Não existe um único método fenomenológico, mas sim uma atitude do ser humano diante de cada fenômeno. • a ser analisado e compreendido. • Esta atitude, é de abertura do sujeito para apreender o que de fato se mostra no estudo do fenômeno, procurando estar livre de conceitos ou pré- definições. EPOCHÉ Interrupção, suspensão de juízo • O mundo, por meio da atitude natural, é como uma “moldura constituída” . • Epoché significa suspender, diante do fenômeno, as crenças referentes ao mundo natural, eliminando as “molduras”. • Significa que o pesquisador deve deixar de olhar o fenômeno de uma forma comum, abandonando os preconceitos e pressupostos em relação àquilo que está interrogando. • Na epoché, o pesquisador deve assumir uma atitude neutra, não no sentido de negar o mundo ou as experiências, mas sim, de refleti-los e questioná-los da maneira própria. • Isso possibilita o emergir do sentido de fatos que não tinham sido antes adequadamente observados e analisados. • ...“Por conseguinte todas as ciências que se referem a esse mundo natural – qualquer que seja sua solidez... , – eu as ponho fora de ação, não faço absolutamente nenhum uso de sua validez; não faço minha nenhuma das proposições que daí resultam, que sejam elas de uma evidência perfeita; não acolho nenhuma delas, nenhuma me dá fundamento.” (Husserl) Influências antecedentes: Brentano e Dilthey • Franz Brentano(1838-1917) • Ex-sacerdote católico e filósofo alemão, geralmente considerado o fundador do intencionalismo, que se ocupa dos processos mentais mais que com o conteúdo da mente, e da psicologia que hoje é chamada psicologia existencial. Seu livro mais famoso e influente foi "A Psicologia de um ponto de vista empírico", de 1874, no qual tenta apresentar uma psicologia sistemática que seria a ciência da alma. • O objeto de estudo: os atos e processos psíquicos. • Ao filósofo caberia estudar as diversas maneiras pelas quais a mente estabelece contato com os objetos. • Ele reviveu e modernizou a teoria escolástica da "existência intencional" ou, como ele chamou, "objetividade imanente". Segundo ele, no fenômeno psíquico, já existe uma "direção da mente para um objeto", a pessoa "vê alguma coisa". Ele sugeriu que, fundamentalmente, a mente pode referir-se aos objetos de três maneiras: 1) por percepção e idealização, incluindo sensação e imagem. 2) por julgamento, incluindo atos de reconhecimento, rejeição, e recordação; e 3) por amor ou ódio, o que leva em conta desejos, intenções, vontade e sentimentos. Isto é: Brentano distingue três mecanismos fundamentais: a percepção, julgamento e aprovação ou desaprovação. A Influência das Ideias de Brentano na Psicologia Fenomenológico-Existencial • A sistematização das ideias de Brentano vai exercer fortes influências em diferentes áreas de estudo, tais como a filosofia fenomenológica de Husserl, Max Sheler e Martin Heidegger (Ana Maria Feijoó); • Ao negar a possibilidade de se levar para o laboratório o psiquismo, propôs que este fenômeno fosse abordado de forma empírica, mas não experimental, e mais, que se abandonasse a introspecção, como método, já que esta implicava em uma observação interna, e aos fenômenos psicológicos cabia a percepção interna. • Esta proposta fica claramente descrita em seu livro A psicologia do ponto de vista empírico, no seguinte trecho: • “Tal como as ciências da natureza, a psicologia repousa sobre a percepção e a experiência. Mas seu recurso essencial é a percepção interna de nossos próprios fenômenos psíquicos, consistindo em uma representação, um julgamento, o que é prazer e dor, desejo e aversão, esperança e inquietação, coragem e desencorajamento, decisão e intenção voluntária, nunca o saberíamos se a percepção interna de nossos próprios fenômenos não nos lho ensinasse.” • Brentano retomou a alma como objeto de estudo da psicologia, porém referiu-se a esta como um substrato substancial de representações, de sensações, de imagem, de lembranças, de esperanças. • Denominou a todas estas vivências de fenômenos psíquicos, e como tais são intencionados. • São atos que se referem a objetos exteriores e os objetos são imanentes aos atos mentais. • A consciência intencional constitui-se numa atividade, na qual os fatos físicos vão diferir dos fatos psicológicos, que vão ser denominados fenômenos. • Os fenômenos psíquicos constituem-se de experiências intencionais, ocorrem como representações, juízos e fenômenos emocionais. • Possuem as seguintes propriedades: • de intencionalidade, • de se constituírem como objetos de percepção interna: portanto evidentes, de existir efetivamente, de se mostrarem como unidade, de se apresentarem como atos de representação. • Suas ideias vão dar início a uma psicologia que irá buscar as propriedades da consciência através da experiência interna. • A partir da sistematização de sua teoria vão surgir a psicologia da gestalt, a teoria de Lewin, a psicologia fenomenológica, enfim toda a psicologia cuja ênfase recaia sobre a consciência com sua característica essencial: a intencionalidade. • A intencionalidade distingue a propriedade do fenômeno mental: ser necessariamente dirigido para um objeto, seja real ou imaginário. • As nossas crenças, pensamentos, anseios, desejos, são sempre acerca de alguma coisa. • Do mesmo modo, as palavras que usamos para exprimir essas crenças e outros estados mentais são acerca de coisas. • O problema da intencionalidade consiste na compreensão da relação que se verifica entre um estado mental, ou a sua expressão, e as coisas acerca das quais esse estado mental se constitui como tal.
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