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Direito administrativo - Regime Jurídico Administrativo - Princípios da Administração Pública
Princípios da Administração Pública
Em relação ao tema aqui tratado, parece-me relevante destacar, antes de mais nada, que o presente trabalho não ambiciona esgotar o estudo do assunto “princípios da Administração Pública”, e sim oferecer aos alunos um conteúdo mínimo capaz de subsidiar o acompanhamento das aulas.
Faz-se essa ressalva, uma vez que, dependendo da obra doutrinária a ser consultada, haverá menção a outros princípios, aqui não comentados. A opção, respeitados os objetivos dessa apostila, é por tratar dos princípios constitucionais expressos (aqueles referidos no art. 37, caput, da Constituição/88), dada a sua preponderância natural, e também de outros dois princípios extremamente relevantes, quais sejam: o princípio da supremacia do interesse público (sobre o privado) e o princípio da indisponibilidade do interesse público, os quais, juntos, formam o que se denomina de regime jurídico administrativo.
Refira-se, ainda, que, ao longo das demais aulas, ao serem abordados determinados assuntos, serão feitas referências a outros princípios de grande importância, os quais se relacionam, contudo, a temas específicos do Direito Administrativo[1].
Princípios: noção
Antes de se analisar, propriamente, os princípios de maior importância para o Direito Administrativo, parece conveniente estabelecer o que se deve entender por princípio.
Seguem-se, abaixo, duas passagens doutrinárias, as quais se propõem a apresentar o núcleo fundamental desse conceito.
Confiram-se:
“Os princípios são ideias centrais de um sistema, estabelecendo suas diretrizes e conferindo a ele um sentido lógico, harmonioso e racional, o que possibilita uma adequada compreensão de sua estrutura. Os princípios determinam o alcance e o sentido das regras de um dado subsistema do ordenamento jurídico, balizando a interpretação e a própria produção normativa.” (MARCELO ALEXANDRINO e VICENTE PAULO)
“Princípios são proposições básicas, fundamentais, típicas, que condicionam todas as estruturas e institutos subsequentes de uma disciplina. São os alicerces, os fundamentos da ciência e surgem como parâmetros para a interpretação das demais normas jurídicas.” (FERNANDA MARINELA)
Princípio da Supremacia do Interesse Público (sobre o privado)
Trata-se de princípio implícito, uma vez que não está radicado em algum dispositivo da CRFB/88.
Noção básica: determina a existência de um patamar de superioridade do interesse público sobre o particular; em havendo pontos de tensão, ou mesmo genuíno confronto direto entre tais interesses, deve-se atribuir, em regra, prevalência ao interesse público.
Como ensina CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, trata-se de princípio inerente ao próprio convívio social, à própria noção de sociedade, como condição de sua existência.
Limites: respeito aos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos, observância do princípio da legalidade, do devido processo legal, do contraditório, da ampla defesa, entre outros. Não tem, portanto, caráter absoluto.
Também não está presente em toda e qualquer atuação da Administração Pública, e sim, tão só, naquelas em que o Estado atua de forma imperativa, ou seja, valendo-se do atributo da imperatividade de seus atos, manifestando o chamado “poder de império”. Vale dizer: a Administração Pública cria, unilateralmente, obrigações aos particulares, condicionando, restringindo, disciplinando o exercício de direitos e atividades privadas.
Exemplos de manifestação concreta desse princípio: modalidades de intervenção do Estado na propriedade privada (desapropriação, tombamento, requisição administrativa, ocupação temporária, servidão e limitação administrativa), exercício do poder de polícia, presunção de legitimidade dos atos administrativos, cláusulas exorbitantes dos contratos administrativos, entre outros.
Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público
É a outra face em que se desdobra o regime jurídico administrativo. Se, de um lado, o Estado possui uma série de prerrogativas próprias, de privilégios assegurados pelo Direito, por outro, também sofre diversas limitações, restrições no seu proceder.
Referidas restrições derivam, basicamente, da imperiosa observância do princípio da legalidade – só é lícito à Administração Pública agir se houver expressa autorização legal –, bem como da ideia de que os agentes públicos são meros gestores da coisa pública, e não genuínos “donos”, proprietários (daí a impossibilidade de disporem dos bens e interesses públicos).
Também deriva desse princípio a necessidade da existência de mecanismos de controle dos atos da Administração Pública, seja de forma direta, pelo povo, seja, ainda, por meio de órgãos e entidades institucionalmente destinadas a tanto (ex: Controladoria-Geral da União, Tribunais de Contas, Ministérios Públicos, etc).
À luz do princípio da indisponibilidade, é vedado aos agentes públicos renunciar a direitos atribuíveis aos entes públicos, salvo se houver expressa autorização legal (ex: isenções fiscais, anistias, “perdões” de dívidas, etc.), uma vez que, nesse caso, presume-se que a própria sociedade, através de seus representantes legitimamente eleitos, consentiu com tal renúncia.
É válido acentuar que o princípio ora analisado está presente em toda e qualquer atuação da Administração Pública, seja nos casos em que houver incidência exclusiva ou predominante de normas de ordem pública (regime jurídico de Direito Público), seja nas hipóteses em que o Estado agir desprovido de suas prerrogativas especiais (regime jurídico predominantemente de Direito Privado).
[1] Exemplo: ao se abordar o ponto “serviços públicos”, será comentado o princípio da continuidade dos serviços públicos, o qual tem grande importância nesse tópico do programa.

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